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Desenvolvimento Endógeno e Arranjos Produtivos Locais

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XIII SIMPEP – Bauru, SP, Brasil, 6 a 8 de Novembro de 2006 
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Arranjo produtivo local e desenvolvimento endógeno: uma 
apresentação do APL de turismo no litoral norte do estado de Alagoas 
Renata Reis Barreto (UFPE) rrbarreto@hotmail.com 
Emanuelle de Sales Oliveira (UFPE) sales_emanuelle@hotmail.com 
Abraham Benzaquen Sicsú (UFPE) sicsu@fundaj.gov.br 
Resumo:::: Com base nas profundas e crescentes transformações trazidas pelo processo de 
globalização, assim como o declínio de regiões altamente industrializadas, o surgimento de 
regiões com novos paradigmas industriais, a abertura das economias nacionais e as 
mudanças significativas no modo de produção e organização industrial; o presente estudo se 
propõe a discutir sobre os novos mecanismos capazes de atender aos desafios propostos pela 
nova teoria de crescimento econômico. A substituição do desenvolvimento exógeno pelo 
desenvolvimento endógeno, preocupado com a questão das potencialidades locais, resultou 
na necessidade de abordar novas maneiras para que grupos de empresas e outras instituições 
possam alavancar o desenvolvimento regional. Nesse sentido, os aglomerados de empresa, 
em especial os arranjos produtivos locais, aparecem como grandes alternativas para o 
desenvolvimento endógeno. Apenas para demonstrar como os arranjos produtivos 
localizados podem contribuir para o desenvolvimento regional e endógeno, foi apresentado o 
caso do APL Costa dos Corais (arranjo produtivo do turismo no litoral norte do estado de 
Alagoas). Esse arranjo surgiu a partir das potencialidades locais, através do envolvimento de 
diversos atores de instituições públicas e privadas e em quase dois anos de existência já 
apresenta bons resultado. 
Palavras-chave:::: Desenvolvimento Regional; Desenvolvimento Endógeno; Arranjo Produtivo 
Local; Turismo. 
1. Introdução 
O processo de globalização trouxe crescentes e profundas transformações no cenário 
socioeconômico dos países. Mudanças importantes no sistema produtivo mundial revelaram a 
necessidade de tratar a questão regional, mais especificamente, o desenvolvimento de regiões 
periféricas e a mobilização da economia local. 
O que se pode observar é o surgimento de novos paradigmas no que se refere à 
questão do desenvolvimento regional. Antes esse desenvolvimento era pensado de cima para 
baixo onde se introduziam grandes projetos estruturantes em regiões desfavorecidas, a 
exemplo dos pólos de desenvolvimento e os complexos industriais. Agora, com a perspectiva 
de desenvolvimento endógeno, o novo modelo de desenvolvimento é realizado de baixo para 
cima, ou seja, parte das potencialidades dos próprios atores locais. (AMARAL FILHO, 1996) 
Segundo Sicsú e Lima (2000) o desenvolvimento de regiões periféricas tem sido 
discutido por muitos estudiosos os quais tentam teorizar sobre processos (mecanismos) que 
podem de alguma maneira não somente explicar, mas estimular o crescimento de regiões com 
baixo grau de dinamismo. 
Ao se questionar sobre esses mecanismos, os aglomerados de empresas aparecem 
como uma alternativa de promoção do desenvolvimento regional e endógeno. Dentre os 
diversos tipos de aglomerados estão os distritos industriais, clusters e arranjos produtivos 
locais. Estas abordagens apresentam características próprias e heterogêneas, mas de modo 
geral enfocam grupos de empresas em torno de atividades afins dentro de um mesmo espaço 
geográfico. 
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Nesse sentido, o presente artigo pretende discutir como os aglomerados de empresas, 
em especial os arranjos produtivos locais, podem contribuir para o desenvolvimento de 
regiões menos favorecidas a partir de fatores endógenos. Em um último momento, será 
apresentado o arranjo produtivo de turismo no litoral norte de Alagoas. O turismo nesse 
estado é considerado como uma atividade de grande potencial econômico e o arranjo, 
denominado como APL Costa dos Corais, é visto como uma alternativa para o 
desenvolvimento endógeno da região marcada por grandes diferenças sociais. 
 
2. Desenvolvimento regional e endógeno 
Muito se tem discutido em torno do tema desenvolvimento regional. Segundo Costa e 
Garcia (2005) essas discussões surgiram a partir da busca de eqüidade entre as regiões e 
ocorrem tanto em países periféricos como em países centrais. Além da eqüidade, Costa e 
Cunha (2002) acrescentam a preocupação com a preservação do meio-ambiente, a 
participação da população, a melhoria da qualidade de vida e a democratização como os 
fatores que contemplam o novo modelo de desenvolvimento. 
Este novo modelo parte das potencialidades socioeconômicas do local e realiza o 
desenvolvimento de baixo para cima o que se contrapõem às formulações tradicionais onde o 
desenvolvimento era pensado em termos nacionais partindo de cima para baixo e 
desconsiderando os interesses de grupos políticos regionais ou locais. Pela ótica da teoria 
macroeconômica do desenvolvimento a teoria tradicional do crescimento considerava apenas 
fatores exógenos na determinação do crescimento onde o volume de produção era 
determinado por dois fatores: capital e trabalho. Na nova teoria do crescimento são 
considerados fatores endógenos como: conhecimento, informação, capital humano, pesquisa e 
desenvolvimento, etc. (AMARAL FILHO, 1996) 
O declínio de regiões altamente industrializadas juntamente com o surgimento de 
regiões com novos paradigmas industriais, a globalização, a abertura das economias nacionais 
e as mudanças significativas no modo de produção e organização industrial são alguns dos 
fatores que contribuíram para as transformações das teorias de desenvolvimento regional. 
Para Amaral Filho (2001) a economia regional deixou de exercer um papel secundário na 
ciência econômica e passou a representar um papel ativo tanto no que se refere às decisões 
tomadas em relação ao seu destino como a utilização de seus próprios recursos. 
Dessa forma, um dos principais desafios desse novo contexto é a incorporação dos 
atores locais no processo de desenvolvimento regional sem, ao mesmo tempo, negligenciar o 
importante papel dos governos centrais. Torna-se necessário superar a forma centralizadora de 
tomada de decisões e estabelecer sistemas de cooperação que considerem tanto as diferenças 
entre as regiões como as preferências dos grupos sociais envolvidos. Essas preocupações são 
fundamentais para o alcance da eficiência, eficácia e efetividade de qualquer projeto de 
desenvolvimento local. (COSTA e CUNHA, 2002) 
Falar em desenvolvimento regional significa estar atento ao desenvolvimento 
endógeno de determinada localização, valorizando o cenário e as potencialidades locais para 
que se possa investir em atividades de base local. 
Amaral Filho (2001, p.265) define desenvolvimento endógeno da seguinte maneira: 
“...desenvolvimento endógeno pode ser entendido como um processo de 
crescimento econômico que implica uma contínua ampliação da capacidade 
de agregação de valor sobre a produção, bem como da capacidade de absorção 
da região, cujo desdobramento é a retenção do excedente econômico gerado 
na economia local e/ou a atração de excedentes provenientes de outras 
regiões. Esse processo tem como resultado a ampliação do emprego, do 
produto e da renda do local ou da região.” 
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Nessa mesma linha de raciocínio Haddad (1989) descreve que a concepção e a 
implementação do processo de desenvolvimento endógeno parte da capacidade de mobilização 
social e política de determinada comunidade de uma localidade ou região. O mesmo autor 
também apresenta as etapas a serem percorridas para o processo de desenvolvimento endógeno, a 
saber: 
1ª etapa: Estruturação do inconformismo 
Consiste na estruturação do inconformismo em relação aos problemas socioeconômicos e 
às potencialidades não mobilizadas. 
2ª etapa: Processo de diagnose 
Levantamento de informações técnicas e políticas quanto às razões e causas dosproblemas destacados na primeira etapa, por meio de fórum de debates. O objetivo é sensibilizar e 
conscientizar as comunidades locais quanto ao que deve ser feito, além de identificar o conjunto 
de oportunidades, ameaças e riscos envolvidos no aglomerado. 
3ª etapa: Construção da agenda de mudanças 
Através de instrumentos disponíveis e consultas às lideranças é possível elaborar um 
plano de trabalho de mudanças, objeto da próxima etapa. 
4ª etapa: Elaboração do plano de mudanças 
No plano de mudanças deve conter toda a consistência técnica envolvida e o processo de 
negociação. 
5ª etapa: Processo de implementação 
Essa última etapa engloba um comitê gestor do cluster e o conselho consultivo do cluster. 
 Apesar de existirem diversas abordagens importantes que envolvem a questão do 
desenvolvimento regional e endógeno, a intenção deste trabalho não está voltada para a 
discussão sobre esse tema em si, mas para os mecanismos que podem de alguma maneira 
alavancar o desenvolvimento de uma região aumentando a competitividade e a capacidade de 
organização das empresas de determinado local. 
Nesse sentido, Sicsú e Lima (2000) defendem que os pólos econômicos de base local, 
caracterizados por atividades econômicas já existentes há um tempo em determinada região, 
podem ser considerados como uma alternativa criativa para a promoção do desenvolvimento 
local em estados menos favorecidos em relação a orçamentos e externalidades. 
 
3. Aglomerados de empresas 
 Os estudos sobre aglomerados de empresa deram um grande salto a partir dos 
trabalhos desenvolvidos por Michael Porter (1999). Ao buscar desenvolver uma teoria sobre 
competitividade nacional, estadual e local; em seu trabalho chamado ‘A vantagem 
competitiva das nações’, o conceito de aglomerados ganhou um papel de destaque como meio 
de obter vantagem competitividade. Para o autor o conceito de aglomerado se traduz da 
seguinte forma: 
“Um aglomerado é um agrupamento geograficamente concentrado de 
empresas inter-relacionadas e instituições correlatas numa determinada área, 
vinculadas por elementos comuns e complementares.” (PORTER, 1999, 
p.211) 
 O mesmo autor ao definir o termo ainda relaciona a busca da competitividade com o 
conceito de sinergia quando afirma que a inter-relação entre as empresas e instituições 
componentes do sistema resulta em um todo que é maior que a soma das partes. 
Dessa forma, pode-se afirmar que a competitividade está associada à idéia de 
aglomerações de empresas dentro de um determinado espaço geográfico. Podem ser 
apontados como exemplos de sucessos em relação ao ganho de competitividade a partir de 
aglomerações o Vale do Silício e a Terceira Itália. Apesar desses exemplos representarem 
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experiências de países desenvolvidos, a abordagem de aglomerados para elevar a 
competitividade das empresas também tem sido difundida nos países em desenvolvimento. 
(CASSIOLATO e SZAPIRO, 2003). Entretanto, Porter (1999) argumenta que os aglomerados 
nas economias avançadas possuem uma profundidade e amplitude maior, o que os tornam 
mais visíveis em comparação aos aglomerados de economias menos favorecidas. O mesmo 
autor defende que um dos passos para que haja evolução econômica nos países em 
desenvolvimento é o desenvolvimento de aglomerados que funcionem bem nessas regiões. 
A partir das definições de aglomerados fica claro que o foco de análise em empresas 
individuais não é mais o suficiente para entender os fatores que aumentam o desempenho 
competitivo das empresas. É necessário investigar as relações tanto entre as firmas como entre 
estas e as demais instituições dentro de uma determinada região. (CASSIOLATO e 
SZAPIRO, 2002). De acordo com Correia e Lins (2003) as empresas integrantes do cluster 
possuem como vantagem sobre as empresas que atuam isoladas a alta capacidade de 
desenvolver habilidades, eficiência coletiva e competitividade. Esses pensamentos 
corroboram com Porter (1999) ao discutir que os aglomerados nas economias estão 
predominando no lugar de empresas e setores isolados. 
De fato, os aglomerados são tomados como objeto de estudo ao tentar explicar o 
processo de desenvolvimento de uma região bem como meio de obter vantagem competitiva 
no novo cenário econômico resultado das mudanças trazidas pela globalização. Os 
aglomerados são representados por clusters, distritos industriais e arranjos produtivos locais. 
Este último foi definido pela Redesist (2005) como aglomerações territoriais de empresas e 
instituições públicas e privadas voltadas para um conjunto específico de atividades 
econômicas afins, mesmo que esse vínculo seja ainda que incipiente. 
 
3.1 Arranjos produtivos como meio de desenvolvimento endógeno 
Nas décadas de 70 e 80 o desenvolvimento de regiões menos favorecidas era baseado 
em grandes projetos de investimentos a exemplo dos pólos de desenvolvimento de Perroux e 
os complexos industriais. Acreditava-se que com a implantação de grandes empreendimentos, 
os quais seriam atraídos pela concessão de variados e custosos benefícios fiscais, as empresas 
âncoras iriam arrastar as outras empresas ao redor em direção ao desenvolvimento. (SICSÚ, 
LIMA e SILVA, 2006). Esse efeito promovido pelos pólos de desenvolvimento é denominado 
por Haddad (1989) como “efeitos de arrasto” onde as empresas motrizes e dinâmicas desse 
pólo são capazes de introduzir transformações na sua área. Além disso, os pólos de 
desenvolvimento estão associados a projetos que envolvem grandes investimentos em uma 
determinada localização geográfica, além de apresentar fortes vínculos políticos, sociais, 
econômicos e institucionais dentro da sua área de influência. 
A experiência de pólos de desenvolvimento no Brasil deu-se por volta dos anos 50 até 
os anos 70, como estratégias de promover o desenvolvimento de regiões periféricas, por meio 
do Plano de Metas e do II Plano Nacional de Desenvolvimento. Sicsú, Lima e Silva (2006) 
acrescentam ainda a política de desenvolvimento regional nas regiões Norte e Nordeste 
promovida pela Sudam e Sudene respectivamente. Pode-se apontar como grandes projetos de 
pólos de desenvolvimento e complexos industriais implantados ou em fase de consolidação no 
nordeste brasileiro: o complexo petroquímico de Camaçari na Bahia; o pólo cloroquímico de 
Alagoas; o complexo químico-metalúrgico do Rio Grande do Norte; o complexo industrial 
integrado de base do Sergipe, entre outros. 
Segundo Sicsú, Lima e Silva (2006) tais projetos trouxeram alguns resultados 
concretos, a exemplo da ampliação da estrutura produtiva, mas por outro lado, questões 
sociais e até mesmo econômicas ficaram a desejar, além dos altos custos que eram exigidos 
para a implantação e manutenção desses projetos. Haddad (1989) aponta os impactos 
regionais e locais negativos como motivo de críticas ao sistema de pólos de desenvolvimento. 
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 Diante disso, tornou-se necessário o desenvolvimento de mecanismos mais articulados 
com a base econômica local e preocupados com questões sociais e locais como a melhor 
distribuição de renda, controle dos impactos ambientais gerados pelas atividades econômicas 
do aglomerado e maior participação do setor privado. Ou seja, as estratégias dos pólos de 
desenvolvimento não conseguem atender ao novo paradigma do desenvolvimento econômico. 
Nesse sentido, Lastres e Cassiolato (2003) destacam os arranjos produtivos como os 
mecanismos ideais para satisfazer as necessidades do novo modelo de desenvolvimento. Para 
os autores arranjos produtivos são sistemas produtivos e inovativos locais detentores de 
fatores como interação, cooperação e aprendizagem. Esses fatores quando bem articulados são 
capazes de potencializar a capacidade inovativa endógena, gerando competitividade e 
desenvolvimento local. 
 
4. APL de turismo no litoral norte do estado de Alagoas 
 
4.1 Caracterização do setor de turismo no Brasil e em AlagoasO turismo é uma das atividades que mais cresce no país e que assume um papel de 
grande importância para o desenvolvimento do mesmo. Em uma tentativa de definir o termo 
Cooper et al. (2001) argumentam que é difícil encontrar uma base de coerência conceitual 
devido à complexidade que envolve o turismo, além da imaturidade que apresenta como 
campo de estudo. Mesmo assim, esses autores afirmam que o turismo pode ser pensado como 
a combinação de um conjunto amplo de entidades – indivíduos, organizações, empresas e 
lugares – que realizam uma experiência de viagem. 
Atividade econômica do setor de serviços, o turismo, segundo dados da Setur (2006) e 
da Embratur (2001), apresentou em termos internacionais um crescimento médio anual de 
4,4% no período de 1975 a 2000, enquanto o crescimento mundial médio no mesmo período, 
medido pelo PIB, foi de 3,5% ao ano. No período de 1995 a 2005 as chegadas internacionais 
em todo mundo apresentou um crescimento de 50%, enquanto no Brasil estes números 
cresceram em uma ordem de 170%. Com relação à geração de empregos, em torno de 6 a 8% 
do total de empregos gerados no mundo dependem do turismo. 
Conhecida por suas belezas naturais, Alagoas têm o turismo como uma das atividades 
potenciais do Estado. De acordo com dados da Secretaria Executiva de Turismo (2006) a taxa 
de ocupação hoteleira no estado foi de 82,2% no primeiro trimestre de 2006 contra 76,4% em 
2005, o que representa um acréscimo de 7,59%. 
Ao observar os números que envolvem o turismo fica claro a importância econômica 
da indústria turística e seus impactos significativos sobre o setor terciário, a população e os 
ambientes. Para Cooper et al. (2001) o turismo representa uma atividade econômica, que se 
bem gerenciada, pode ser considerada uma alternativa para a realização dos objetivos de 
desenvolvimento que tem como preocupações a sustentabilidade ambiental, redução das 
desigualdades regionais e sociais, além da criação de postos de trabalho e a geração e 
distribuição de renda. Todos esses fatores possibilitam a efetiva descentralização do país no 
que se refere ao desenvolvimento. 
 
4.2 Contextualização do APL Costa dos Corais 
Diante do que foi exposto pode-se pensar o turismo como uma atividade potencial 
para o desenvolvimento regional de forma endógena. No caso de Alagoas, a concepção de 
arranjos produtivos locais foi o mecanismo adotado como alternativa para esse tipo de 
desenvolvimento no setor de turismo. Nesse sentido, foram concebidos dois arranjos 
produtivos locais no segmento turístico: APL das Lagoas e o APL Costa dos Corais, arranjos 
preocupados com o desenvolvimento da atividade nos litorais sul e norte do estado 
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respectivamente. Vale ressaltar que o presente artigo irá abordar apenas o arranjo que envolve 
o litoral norte. 
Constituído por oito municípios – Paripueira, Barra de Santo Antonio, Passo de 
Camaragibe, São Miguel dos Milagres, Porto de Pedras, Japaratinga, Maragogi e Porto Calvo 
- o litoral norte de Alagoas apresenta uma realidade não muito distante dos demais municípios 
do estado. A região é marcada por grandes problemas econômicos e sociais, a exemplo do 
baixo índice de desenvolvimento humano (IDH) como mostra o Quadro 1 logo abaixo. 
QUADRO 1 – Descrição da área, população, IDH médio e principais atividades referentes aos oito municípios 
Municípios Área População IDH 
médio 
Principais atividades 
Paripueira 
93km2 8.049 0,617 
Apicultura, Laticínio, 
Ovinocaprinocultura e Turismo 
Barra de Santo 
Antonio 
138km2 11.351 0,594 
Mandioca, Laticínio e Turismo 
Passo de 
Camaragibe 187km2 13.755 0,563 
Apicultura, Mandioca, 
Laticínio, Ovinocaprinocultura 
e Turismo 
São Miguel dos 
Milagres 
65km2 5.860 0,621 
Mandioca e Turismo 
Porto de Pedras 
266km2 10.238 0,499 
Mandioca, Ovinocaprinocultura 
e Turismo 
Japaratinga 
85km2 6.868 0,613 
Apicultura, Mandioca, 
Ovinocaprinocultura e Turismo 
Maragogi 
334km2 21.832 0,619 
Apicultura, Mandioca, 
Ovinocaprinocultura e Turismo 
Porto Calvo 
260km2 23.951 0,599 
Apicultura, Mandioca, 
Ovinocaprinocultura e Turismo 
Fonte: IBGE (Censo 2000) e Sebrae/AL (2006) 
Como pode ser observado o Índice de Desenvolvimento Humano da região é baixo e 
gera em torno de 0,590. Esse valor é mais baixo do que o do próprio estado que é de 0,633 o 
qual representa o menor índice de IDH do país segundo dados do censo IBGE (2000). As 
principais atividades entre os municípios desenvolvem-se, em geral, dentro de um mesmo 
contexto onde o turismo aparece como atividade principal em todos os municípios. Isso se 
deve ao fato da região abranger uma área litorânea de aproximadamente 1430km2 
caracterizada por belas praias com seus recifes de coral e piscinas naturais. 
 O APL de turismo Costa dos Corais é resultado do Programa de Mobilização para o 
Desenvolvimento dos Arranjos e Territórios Produtivos Locais do Estado de Alagoas (PAPL) 
implantado em agosto de 2004 pelo governo do Estado, por meio da Secretaria Executiva de 
Planejamento e Orçamento (Seplan), e pelo Sebrae local, juntamente com parceria de 
instituições públicas e privadas. O principal objetivo do programa é mobilizar ações coletivas 
no sentido de estimular processos locais de desenvolvimento, gerando renda e emprego na 
região e, ao mesmo tempo, garantir competitividade e sustentabilidade aos micro e pequenos 
negócios. (SEBRAE/AL, 2006) 
 O programa atua em dez Apl’s distribuídos em três segmentos, agronegócios, 
indústria e serviços. São 62 municípios envolvidos e mais de 27 mil produtores. Contas ainda 
com a parceria de 60 instituições, dentre elas estão os agentes financeiros como o Banco do 
Brasil, a Caixa Econômica Federal e o Banco do Nordeste. 
 De acordo com o Plano de Ação do APL elaborado pela Seplan (2004), as 
potencialidades locais estão representadas não só pelos belos recursos naturais como também 
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pelas hospedagens oferecidas (com o maior resort do estado), gastronomia variada (mais de 
60 estabelecimentos entre bares e restaurantes) e cultura (grandes artesãos). No entanto, o 
plano também apresenta os muitos problemas identificados na região no que se refere à 
tecnologia, capacitação, gestão, promoção e marketing, financeiro e infra-estrutura 
(especializada e pública). Paralelamente são apresentadas as ações a serem aplicadas em cada 
situação. 
 Para uma melhor compreensão do caso aqui apresentado, o Quadro 2 demonstra de 
forma resumida as principais variáveis abordadas no plano de ação do APL Costa dos Corais. 
Quadro 2: Resumo das variáveis abordadas no Plano de Ação do APL Costa dos Corais 
Público Alvo: Micros e pequenos empresários e empreendedores, formais e 
informais que atuam no setor Turístico da Região. 
Serão beneficiados 300 empresários ligados às atividades turísticas e 150 
artesãos. 
Objetivo: Transformar a região do Litoral Norte de Alagoas em um destino 
turístico consolidado e sustentável. 
Foco Estratégico: Preservação dos meios naturais; expansão e melhoria no 
meio artificial (sistema viário, hospedagem, alimentação, comunicação, 
serviços públicos, etc...); formação profissional; sensibilização da 
comunidade para a importância do turismo; estratégias de marketing, 
(seleção do mercado, posicionamento, linhas de produto). 
Premissas: Observância das diretrizes do Plano Nacional de Turismo; 
observância das diretrizes do Plano Estadual de Turismo; correta aplicação 
da legislação ambiental; busca da sinergia entre o poder público, a iniciativa 
privada e as entidades de classe. 
Identificação dos principais problemas e desenvolvimento de ações nas 
seguintes áreas: Tecnologia, marketing, infra-estrutura, financeira, 
capacitação e gestão. 
Atores envolvidos: proprietários de pousadas, hotéis, bares, 
restaurantes e comércios locais; associação dos artesãos; Projeto 
Integrado Ação e Cidadania; ASSAMAL; SEBRAE-AL; Associação 
comercial de PortoCalvo; Secretaria Executiva de Turismo; Secretaria de 
Meio Ambiente; Secretaria Executiva de Agricultura; Centro de ensino 
superior de Maceió; Prefeitura dos municípios; Projetos Recifes Costeiros; 
Propriedade rural; Caixa Econômica Federal; Secretaria de Planejamento e 
Orçamento. 
Fonte: Plano de Ação do APL Costa dos Corais (2004), adaptado pelos autores. 
 
4.2.1 Principais resultados alcançados 
 Em quase dois anos de existência, o Arranjo Produtivo Local Costa dos Corais já 
apresentou resultados significativos. O ano de 2005 foi marcado pelo alto volume de ações 
desenvolvidas e pela presença de todos os parceiros segundo o Serviço Brasileiro de apoio a 
micro e pequenas empresas de Alagoas (SEBRAE/AL, 2006). 
Segue abaixo as principais ações e resultados alcançados pelo APL até o momento, 
segundo o Sebrae/Al (2006): 
- O arranjo conseguiu envolver 643 empreendedores, 8 municípios, uma associação 
de empresários com 51 associados e cinco associações de artesãos. 
- Promoção e participação em um total de 68 eventos os quais envolveram 2.516 
participantes. Esse fator foi fundamental para a divulgação do turismo desenvolvido no 
litoral norte, além de promover o artesanato ali desenvolvido. 
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- Criação do centro de informações turísticas no município de Maragogi, 
apresentando as atrações e os passeios oferecidos na região. 
- Projeto Funcred por meio do apoio do Banco Cidadão para o artesanato local. 
- Desenvolvimento e promoção de roteiros integrados nos oito municípios que 
compõem o arranjo. 
- Início do processo de negociação para licenciamento ambiental. 
- Realização de pesquisa de mercado em sete estados brasileiros (Alagoas, 
Pernambuco, Sergipe, São Paulo, Rio de Janeiro, Distrito Federal e Goiás) 
- Participação dos empresários na BNTM (Brazil National Tourism Mart). 
Considerada uma das mais importantes bolsas de negócios de turismo do país, a BTM é 
promovida pela Fundação Comissão de Turismo Integrado do Nordeste. Seu principal 
objetivo é estimular o turismo internacional no Brasil, em especial no nordeste. Esse evento 
possibilitou a apresentação dos diversos destinos turísticos do litoral norte, bem como os 
produtos e serviços oferecidos. 
- Participação no II Salão Brasileiro de Turismo 
- Melhoria da qualidade do artesanato 
- Fortalecimento das associações de artesãos. 
Também pode ser observado um maior desenvolvimento quanto à qualificação dos 
profissionais e empresários da região. Nesse sentido, a parceria desenvolvida com o Senac 
Alagoas foi de fundamental importância para a capacitação de mão-de-obra. Por meio da 
unidade móvel foi possível desenvolver, no município de Maragogi, cursos de garçom, 
governança hoteleira, serviços de atendimento em bares e restaurantes, cozinheiro auxiliar de 
restaurante, informante turístico e reciclagem de resíduos sólidos. No total foram mais de 200 
beneficiados em toda região. 
 
5. Conclusões 
 O presente artigo representou uma tentativa de discutir como os aglomerados de 
empresas, em especial os arranjos produtivos locais, podem ser considerados como 
mecanismos capazes de promover o desenvolvimento regional e endógeno de regiões com 
baixo dinamismo. 
 Para isso, em primeiro lugar foi discutido sobre as mudanças do paradigma de 
desenvolvimento trazidas pelo processo de globalização da economia. Até a década de 80 o 
desenvolvimento de uma região era pensado de forma exógena, ou melhor, eram considerados 
apenas fatores de natureza externa totalmente fora do controle local. Nesse contexto, os pólos 
de desenvolvimento foram os mecanismos adotados para alavancar o desenvolvimento de 
regiões menos favorecidas por meio de grandes projetos de investimentos. No Brasil esse 
mecanismo está representado pelo Plano de Metas, pelo II Plano Nacional de 
Desenvolvimento, além das políticas de desenvolvimento regional nas regiões Norte e 
Nordeste. Embora os pólos de desenvolvimento tenham trazidos alguns benefícios, o que se 
pôde verificar foi uma oposição às exigências e desafios trazidos pelo novo modelo de 
desenvolvimento: o desenvolvimento regional e endógeno. 
 Esse novo modelo parte das potencialidades socioeconômicas do local (movimento de 
baixo para cima) e considera fatores como conhecimento, informação, capital humano, 
pesquisa e desenvolvimento, fundamentais no processo de desenvolvimento regional. Surge 
então, a necessidade de abordar mecanismos contrários aos conceitos de pólos de 
desenvolvimento. Nesse sentido, os aglomerados de empresas aparecem como os 
mecanismos mais adequados para atender aos desafios proposto pelo novo contexto de 
desenvolvimento regional nos quais os arranjos produtivos locais podem ser considerados 
como um tipo de aglomerado capaz de promover o desenvolvimento endógeno, já que 
constituem em um conjunto de empresas e instituições dentro de um determinado espaço com 
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o objetivo de aumentar a participação e desenvolvimento da região a partir das 
potencialidades locais e da articulação de diversos atores. 
 Em relação ao caso aqui apresentado pode-se afirmar que o Arranjo Produtivo de 
Turismo Costa dos Corais no litoral norte do estado de Alagoas pode ser considerado um 
aglomerado com todo o potencial necessário para alavancar a economia daquela região de 
maneira endógena. Com a participação de diversos atores tanto de setores públicos como 
privados, o arranjo parte da potencialidade do local traduzida pela atividade turística e tem 
como preocupações a redução das diferenças sociais e a promoção do desenvolvimento local. 
 Diante do exposto se reconhece que o arranjo produtivo local do segmento turístico no 
litoral norte de Alagoas, APL Costa dos Corais, pode ser abordado como objeto de estudos 
futuros que englobem a questão do aglomerado como uma maneira nova e complementar de 
compreender o novo modelo de desenvolvimento regional baseado em fatores endógenos. 
 
6. Referências Bibliográficas 
AMARAL FILHO, J. Desenvolvimento regional endógeno em um ambiente federalista. Planejamento e 
Políticas Públicas. n. 14, p. 35-70, dez. 1996. 
AMARAL FILHO, J. A endogeneização no desenvolvimento econômico regional e local. Planejamento e 
Políticas Públicas. n. 23, p. 261-286, jun. 2001. 
BRASIL. Instituto brasileiro de geografia e estatística. Censo 2000. Brasília: IBGE, 2000. Disponível em: 
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