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ENTEROBACTÉRIAS Infecções do TGI → existem barreiras naturais para evitar a disseminação dos patógenos → Na cavidade oral tem barreiras físicas e quimicas que constituem um obstáculo para que esses patógenos não constituam um processo infeccioso → Boca: Lisozima, Microbiota bacteriana da cavidade oral, fluxo de líquidos → Esofago : fluxo de liquidos, peristaltismo → estômago: pH ácido → IgA secretada evita que os patógenos acessem o epitélio e camadas mais internas. → Intestino delgado: muco bile, igA, microbiota normal, sais biliares, peristaltismo, tecido linfóide, eliminação e substituição do epitélio. → Intestino grosso: microbiota normal, peristaltismo Fontes de infecção: → Ingestão de água e alimentos contaminados, fômites contaminados, mãos contaminadas, contato com fezes. ● Alimentos, fluidos e mãos contaminadas → ingere microorganismo ou toxinas→ acesso ao intestino → dois quadros podem ocorrer: 1. Os organismos se multiplicam e as toxinas são produzidas, mas as infecções permanecem localizadas no TGI, causando diarreia, onde os patógenos serão excretados nas fezes. 2. Os organismos invadem ou as toxinas são absorvidas, causando disseminação e sintomas de infecção sistêmica (febre, mialgia, icterícia) ● Efeitos destrutivos resultantes da infecção do TGI: 1. Ação farmacológica de toxinas bacterianas 2. Inflamação localizada 3. Invasão acentuada para o sangue ou linfáticos, disseminação para outros locais do corpo 4. Perfuração de epitélio das mucosas após infecção, cirurgia ou trauma acidental Obs: As infecções do trato gastrointestinal podem ser agrupadas naquelas que permanecem localizadas no intestino e naquelas que se disseminam, causando infecções em outros locais do corpo. Para disseminação em um novo hospedeiro, os patógenos devem ser excretados em grandes quantidades nas fezes e sobreviver no ambiente por tempo suficiente para infectar uma outra pessoa direta ou indiretamente através de alimentos ou líquidos contaminados. Sinais e sintomas gerais das infecções do TGI 1. Gastroenterite: síndrome caracterizada por sintomas gastrointestinais, incluindo náusea, vômito, diarreia e desconforto abdominal 2. Diarréia: eliminação de fezes anormal caracterizada por defecação frequente e/ou fluida; usualmente resultando de doença no intestino delgado e envolvendo aumento de fluido e perda de eletrólitos; sem sangue → ENTEROTOXINA (Geralmente ocorre a nível de intestino delgado, alguma doença nesse local) 3. Disenteria: distúrbio inflamatório do trato gastrointestinal frequentemente associado a sangue e pus nas fezes e acompanhado de sintomas como dor, febre, cãibras abdominais; usualmente resulta em doença no intestino grosso → INFECÇÃO INVASIVA ( Disenteria tem lesão tecidual ativa) 4. Enterocolite: inflamação envolvendo a mucosa dos intestinos delgado e grosso Infecções de origem alimentar: o alimento pode simplesmente agir como um veículo para o patógeno (p. ex., Campylobacter) ou fornecer condições nas quais o patógeno pode se multiplicar em quantidades suficientemente grandes para provocar doença (p. ex., Salmonella). Epidemiologia 1. Infecções do TGI são uma importante causa de ↑ níveis de mortalidade infantil em países em desenvolvimento - Global Enteric Multi-Center Study (Sul da Ásia e África Subsaariana): E. coli e Shigella dentre as 4 principais causas de morte por diarreia moderada e grave em crianças. 2. Não é de notificação compulsória (subnotificada) 3. Idosos são grupo de risco Caracteristicas principais das enterobactérias: ● Ordem Enterobacterales → Família Enterobacteriaceae ● Amplo e heterogêneo grupo de bacilos gram-negativos - + 60 gêneros, centenas de espécies e subespécies - Classificação baseada em propriedades bioquímicas, estrutura antigênica, análise moleculares e genômicas - Maioria das infecções em humanos: poucos gêneros e espécies (25-30) ● Ubíquos (solo, água e vegetais), membros da microbiota do TGI animal com potencial oportunista (ex.: E. coli, Proteus mirabilis), patógenos verdadeiros de humanos (ex. Salmonella spp., Shigella spp. e Yersinia pestis) ● Bastonetes gram-negativos (cocobacilos – Enterobacter spp.) ● Não formadores de esporos ● Móveis com flagelos peritríqueos ou não móveis ● Crescimento em meios seletivos e não-seletivos na ausência de NaCl ou outros suplementos ● Aeróbios ou anaeróbios facultativos ● Fermentadores da glicose e outros carboidratos ● Catalase-positivo, oxidase-negativo e redutores de NO3- → NO2 (nitrito a nitrato) Obs: Fermentação da lactose: propriedade bioquímica empregada para distinção de espécies de Enterobacteriaceae Ágar MacConkey ● Meio seletivo e diferencial para o isolamento de enterobactérias ● Sais biliares e cristal violeta: inibidores do crescimento de bactérias gram-positivas (onde está a seletividade dele) ● Fermentação da lactose → produção de ácidos → viragem do indicador de pH (vermelho neutro) - Colônias vermelhas/róseas = lac + - Colônias incolores ou da cor do meio = lac - Estrutura antigênica das enterobacteriaceae Principal antígeno de parede celular LPS ou endotoxina - Lipídeo A: manifestações sistêmicas o Febre o Ativação do complemento o ↑ liberação de citocinas o Leucocitose e trombocitopenia o Coagulação intravascular disseminada o ↓ Circulação Periférica ● Choque → morte Antígeno comum → Classificação como membros de enterobacteriaceae (presente em todas as bactérias) Classificação epidemiológica de estirpes de uma espécie ● associação com uma doença específica - E. coli com ≠ antígenos O à diarreia ou ITU ● Cada gênero = antígeno O específico - Possibilidade de reação cruzada entre gêneros - 1 estirpe = ≠ antígenos O ● Parte + externa do LPS ● Resistentes a álcool e calor ● Detectáveis por reações de aglutinação (IgM) à rastreio Flagelo (antígeno h) → Termolábeis e sensíveis ao tratamento com álcool - Proteínas flagelares (ex. flagelina) - Em 1 ou 2 formas (variação antigênica) à evasão dos anticorpos - Aglutinação com anticorpos anti-IgG - Podem interferir na aglutinação com anticorpos anti-O Cápsula (antígeno k ou vi) ● Termolábeis ● Natureza polissacarídica ou proteica ● Sem importância epidemiológica, mas podem interferir na reação de detecção do antígeno O ● Klebsiella: cápsulas com antígenos K protegendo os demais à evasão da fagocitose e reconhecimento de anticorpos ● Alguns associados com virulência - E. coli com antígeno K1 → meningite neonatal - o ≠ antígenos K de E. coli → adesão ao epitélio da mucosa antes da invasão do TGI ou trato urinário Fatores de virulência comuns em Enterobacteriaceae 1. Sistemas de secreção do tipo 3 (para entregar fatores de virulência específicos para modular a célula hospedeira. É um Complexo estrutural de 20 ≠ proteínas à entrega de fatores de virulência para o interior da célula do hospedeiro) 2. Fímbrias (Adesinas → associação ao epitélio da mucosa) 3. Exotoxinas ( Envolvidos na origem do processo diarreico plasmidiais) 4. Proteínas ligantes de ferro (Sideróforos à captura de Fe (fator de crescimento limitante) 5. Hemolisinas (Liberação de Fe e outros nutrientes dos eritrócitos e outras células do hospedeiro) Escherichia ● Escherichia coli → + comum e + importante membro do gênero ● Presente em ↑ proporções no TGI de humanos e mamíferos - Camada mucosa do colón - Comportamento (menor) oportunista no TGI: perfuração intestinal e passagem da bactéria pelo peritônio A) Principais doenças clínicas: 1. Gastroenterites: importância em países em desenvolvimento 2. Infecções do trato urinário (ITUs): > 80% das adquiridas na comunidade 3. Meningite neonatal: junto com estreptococos do grupo B, patógeno bacteriano + comum 4. Sepse: bacilo gram-negativo + comumente isolado ● Sorotipos específicos associados à virulência: E. coli O157 causa + comum de colite hemorrágica ● Maioria das infecções endógenas, com exceção das gastroenterites e meningite -Imunocomprometimento/ sitio de entrada que permite a bacteria atingir outro local que ela não é encontrada no organismo Classificaçãoda escherichia em: → Patotipos: um grupo de estirpes que causam doença e/ou síndrome clínica pelo compartilhamento de um conjunto de fatores de virulência → Classificação das estirpes diarreiogênicas de E. coli em 6 patotipos: 1. EPEC: Enteropatogênica ID→ diarreia secretora 2. ETEC: Enterotoxigênica ID→ diarreia secretora 3. EAEC: Enteroagregativa ID → diarreia secretora 4. EHEC: Enterohemorrágica IG → diarreia sanguinolento 5. EIEC: Enteroinvasiva IG → diarreia sanguinolenta 6. DAEC: de adesão difusa ID 1. EPEC ● Crianças (<5 anos) → países em desenvolvimento ● Diarreia aquosa e profusa, seguida de febre e vômito ● Humanos como único reservatório - Transmissão fecal-oral, pessoa-pessoa ● Locus of enterocyte effacement (LEE), ou local de destruição de enterócitos: ilha de patogenicidade cromossomal com > 40 genes dos fatores de virulência - Cepas típicas ● Plasmídeo de E. coli do fator de aderência (EAF) - Cepas atípicas ● Destruição das microvilosidades intestinais pela lesão AE - “attachment/effacement” (adesão/aplainamento) PATOGÊNESE – EPEC ● Pili formadoras de feixes (BFP): adesão inicial as células do epitélio do intestino delgado seguida de destruição das microvilosidades; de origem plasmidial ● T3SS: inserção de proteínas efetoras na célula epitelial; codificado pelo LEE ● Receptor translocado de intimina (Tir): uma das proteínas translocadas pelo T3SS; inserida na membrana do epitélio intestinal à ligante da intimina ● Intimina: adesina de membrana externa da EPEC; ligação com a Tir leva a polimerização dos filamentos de actina e destruição da integridade celular epitelial e morte celular (formação de “pedestais”) 2. ETEC ● Parece cólera mas não é sanguinolenta ● Crianças em países em desenvolvimento e diarreia dos “viajantes” ● Humanos, animais como reservatórios (suinocultura) - Transmissão fecal-oral via ingestão de água e alimentos contaminados; não há transmissão pessoa-pessoa ● Diarreia secretória após 1 a 2 dias de incubação, com potencial duração por 3 a 5 dias - Sintomas semelhantes ao da cólera (diarreia aquosa, não sanguinolenta, dores abdominais, cólicas, vômitos, febre baixa) - ↑ mortalidade em indivíduos mal nutridos e com doenças de base (crianças e idosos) ● Fatores de colonização (CFs) → ADESÃO (glicoproteínas especificas do hospedeiro) - Adesina flagelar EtpA + adesinas de membrana externa (Tia e Tib) ● Enterotoxinas termolábeis (LT) e termorresistentes (ST) → AGRESSÃO PATOGÊNESE – ETEC - STa (enterotoxina termoresistente): + envolvida na doença humana; peptídeo monomérico pequeno se liga ao receptor transmembrana da guanilato ciclase → ↑ secreção de cGMP → hipersecreção de fluidos e inibição da absorção de fluidos (por isso que tem diarreia aquosa intensa) - LT-1: + envolvida na doença humana e similar a proteína colérica; exotoxina do tipo A-B que induz ↑ [cAMP] via ativação da adenilato ciclase → ↑ secreção de Cl e ↓ absorção de Na e Cl → diarreia aquosa secreção de PGs (prostaglandinas) e produção de citocinas pró- inflamatórias → perda de fluido 3. EAEC ● Diarreia infantil em países subdesenvolvidos, diarreia dos “viajantes”, diarreia aquosa persistente (imunocomprometidos) com vômito, desidratação e febre baixa, diarreia crônica (>14 dias) e crescimento retardado em crianças ● Alimentos, ocasionalmente carreadores humanos - Transmissão pela via fecal-oral e principalmente por ingestão de alimentos e água ● Autoagregação na superfície do epitélio do intestino delgado e, eventualmente, colón com formação de biofilme - “Tijolos empilhados” ● Grupo muito heterogêneo de estirpes com potencias toxinas semelhantes a ST, enterotoxinas codificadas por plasmídeos e até hemolisinas PATOGÊNESE – EAEC - Fímbria de aderência agregativa (AAF/I, AAF/II, AAF/III): adesinas similares ao pili BFP e responsáveis por geração via indução de IL-8 microcolônias de EPEC com consequente aglutinação das células bacterianas em um arranjo de “tijolos empilhados” - Toxina termoestável enteroagregativa (EAST): induz secreção de fluidos e antigenicamente relacionada → toxina termoestável de ETEC - Toxina codificada pelo plasmídeo (PET): iserina- protease que tem como alvo a ⍺-fodrina → disrrupção das filamentos de actina do citoesqueleto à exfoliação → secreção de fluidos 4. EHEC ● STEC: E. coli produtora da toxina Shiga (tipo AB) ● Diarreia aquosa inicial aguda seguida de diarreia sanguinolenta (colite hemorrágica); com cólicas abdominais, pouca ou nenhuma febre, pode progredir para síndrome urêmica hemolítica (SHU) - SHU: desordem caracterizada por falha renal aguda, trombocitopenia e anemia hemolítica microangiopática, é uma complicação que ocorre em 5% a 10% das crianças com > de 10 anos infectadas por EHEC. Na maioria dos pacientes não tratados, os sintomas desaparecem entre 4 e 10 dias. Óbito em até 5% dos pacientes e sequelas graves em até 30% ● Humanos e animais como reservatórios, água e alimentos como fontes - Transmissão devido ao consumo de carne malcozida ou outros produtos derivados de carne, água, leite não pasteurizado, suco de frutas, vegetais mal-cozidos, com possibilidade de transmissão pessoa-pessoa - Dose infecciosa ↓ ↓ ↓ = <100 bactérias! ● E. coli O157:H7: estirpe mais conhecida ● Associação com a lesão A/E = estirpes + patogênicas ● Surtos nos EUAs nos anos 1980 associado ao consumo de hambúrgueres com carne mal cozida à vigilância epidemiológica (CDC, EUA) - E. coli O157:H7 (mais conhecida) - Temperatura inadequada do cozimento ● Surtos em outros locais (Canadá, Japão e Europa nas décadas seguintes PATOGÊNESE – EHEC - BFP, intimina: adesinas para associação com o epitélio do colón - Toxina Shiga (Stx): codificadas por fago lisogênico; citotóxicas que inibem a síntese de proteínas; lesões A/E com destruição de microvilosidades intestinais, resultando em diminuição de absorção o Stx-1: idêntica a de Shigella dysenteriae o Stx-2: 60% de homologia; destruição de células endoteliais glomerulares → associação com a SHU o Toxina tipo AB com globotriaosilceramida, GB3 como glicolipídio receptor específico na célula hospedeira (vilosidades intestinais e células endoteliais renais) → após internalização, subunidade A da toxina clivada se liga ao 28S rRNA → bloqueio da síntese proteica → MORTE CELULAR à microtrombos 5. EIEC ● Raro em países em desenvolvimento e desenvolvidos ● Muito relacionada à Shigella devido às características fenotípicas e patogênicas ● Diarreia aquosa, com uma minoria evoluindo para a forma disentérica (com febre, cólicas abdominais, sangue nas fezes) ● Genes do plasmídeo pInv: mediação da invasão do epitélio do colón ● Mecanismo de invasão e dispersão no colón semelhante ao de Shigella e Listeria ● Sorotipos O:O124; O143; 0164 PATOGÊNESE – EIEC - Invasão do epitélio do colón (ulceração) - Escape do vacúolo fagocítico - Passagem célula-célula pela formação de “caudas” de actina 6. DAEC ● Definida pela existência de um padrão de aderência difuso ● Diarreia, principalmente em crianças com > 1 ano ● Adesina fimbrial F1845 (ligante da glicoproteína de superfície DAF), ⍺-hemolisina e fator necrosante citotóxico-1 ● Efeito citopático característico à longas extensões nas microvilosidades que envolvem a bactérias Diagnóstico ● Isolamento e identificação bioquímica/molecular de E. coli nas fezes do paciente (coprocultura) ● Distinção dos ≠ patotipos: detecção molecular (PCR) dos genes de virulência específicos, imunoensaios e infecção em culturas celulares (centros/laboratórios de referência) -EPEC: PCR dos genes da região LEE e confirmação da ausência da toxina Shiga - ETEC: PCR dos genes das enterotoxinas LT e ST; anticorpos anti-LT - EAEC: PCR dos genes plasmidiais de virulência; ensaios de adesão a culturas de células HEp-2/HeLa - EHEC: meio seletivo ágar MacConkey sorbitol (O157:H7); PCR dos genes stx; anticorpos anti-LPS ou anti-St Tratamento ● Hidratação, reposição de fluidos e eletrólitos,repouso ● Diarréias crônicas, persistentes e casos severos: antibioticoterapia (encurtamento doquadro) - Importância do conhecimento do perfil de suscetibilidade aos antimicrobianos anteriormente ao tratamento ● Evitar uso de antidiarreicos! Controle ● Saneamento básico ● Práticas de higiene na cadeia de produção de alimentos ● Cuidado no manejo e descarte de dejetos animais ● Boas práticas de higiene no contato com animais ● Evitar ingestão de produtos não pasteurizados e especialmente de carnes cruas ou mal cozi
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