Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
LIANA KALCZUK LAMEIRAS ESTUDO COMPARATIVO ENTRE IMAGENS DA ATM POR PLANIGRAFIA CONVENCIONAL, PLANIGRAFIA DIGITAL E RESSONÂNCIA MAGNÉTICA EM PACIENTES COM DISFUNÇÃO TEMPOROMANDIBULAR Tese apresentada à Faculdade de Odontologia de São José dos Campos, Universidade Estadual Paulista, como parte dos requisitos para a obtenção do título de DOUTOR, pelo Programa de Pós-Graduação em Biopatologia Bucal, Área Biopatologia Bucal Orientador Prof Dr. Luiz Antonio Guimarães Cabral São José dos Campos 2004 t: D~:l3 \ ~8h J__ Apresentação gráfica e normalização de acordo com: BELLINI, AB.; SILVA, EA Manual para elaboração de monografias: estrutura do trabalho científico. São José dos Campos: FOSJC/UNESP, 2002. 82p. LAMEIRAS, L.K. Estudo comparativo entre imagens da ATM por planigrafia convencional, planigrafia digital e ressonância magnética em pacientes com disfunção temporomandibular. 2004. 1741. Tese (Doutorado em Biopatologia Bucal, Área Biopatologia Bucal) - Faculdade de Odontologia de São José dos Campos, Universidade Estadual Paulista. São José dos Campos. Dedico carinhosamente este trabalho ao meu marido, Fábio Lameiras, aos meus familiares e aos companheiros de jornada que, direta ou indiretamente, auxiliaram a realização do mesmo. AGRADECIMENTOS Ao- mew ~ ovLe.n1:cuior, Pvof; Vv. L~ Ant"on.Lo- G~<i<w CO!hv<NL, pcl.o- cçwi.Y\.ho- eotw qwv I'VU?/ Ú'"~U.V .!-U<OWOYLe.n1:~ À qwwidcv equipe- d.cv PLANI · V~~ M~ pov I~ cl.e- Séi.o- J<n,& clo1,- Ccvwq>=, ~cujo a.poi.o-e!>t".vtycMnNlJto- nã-o-"ter@ :.Uio-p<mWek Aoy pv~ d.cv R~ v~c;U; d.cv veféyidcv c~ civ. Ri.<:<Nvcio- FcUc<w:; .101'\hovew Ne4ow R~ cl.e- fvOIA'I.Ci.{,cO- e- 13cwvoy e- A nt"on.Lo- Coi.m.br-<N J v., qwv t"CNY\.t"o-1'10;1-'Cijud<u-""""' Aoy pv~ à.cv R~ /vi~LCCN: AU.UV 1{~ /v!cwi.cL- Ne-<MW cl.e-13cwvoy 130W, Pcw.l.o-RciOO.-to- cl.e-S~, Sa.rtdrw, civ. Cl.cíM.cUo- PUjJO; e- CtO- qwwid.o- ~ve civ. AvíkowJ O!,& clo1Y S<Nnt"oy Ccwv~ Aoy comp~oy d.cv T~~- R~e /v!CNVCU%; V~ R~ e- A~ e- CtO- ~IM1.<Mio pvofrw.,or civ. J 0!.& Lu-4-CIM'I.dol.o: À ~"" cl.e-.Me~ Mi.vY\.Cl/ F~ R~ cl.e.- OLWe-úw PetY~ e- CtO- I'I'WI-t"e.má:t'u;o- Mcwco- Avtt6r\.io- p~ V~ ~ cio- IEAv-CTA, qwv pCLCi.e-ttt"~e- t"OYYUM"<M111 p<miJveJv CN ut:'~ é/,o- PVOffVcNWLCVAet"~1.0 ~e-e.muio: Ao- qwwid.o- T erll. ·Cek -Vent". J O!.& Ne4ow Mon:tei.vo- Rüe.cker pcl.o- ~elv ~wo- e- apoio- """" ~ e!>t"~ Ao- Mcy'.-Ven.t: ]0!.& L~ Ví.l.la.ç<;<- Av~ pe«:w bocw~~~e-peloy~oyt"v~..d.<n: Ao-Pvof. Iv<MV13~ piUov ~ e-~>t"ct:té«LCCN ~"' CvCLbi:Uho: AGRAVfCIMfNTtDS À F~de.-<'Jdontnl.o~ de.- 5ãoJà!.& ~ Crunp~ rwv p~ do- Vú-et"ov Pvof Vv. PCM.-Clo- V~ 5<M'1ÁoY Jl'"., pel.uv ~ fonnação· rwv g-r-cuiuaçã,o-"' rwv pór- g-r-cu;W.ação; A c~ m- c:Loce.nrcw do- cu.rw- de.-'Biopat"~ 13uccU/, e.w eqJec<.a:t à- Pvofr;v. Aji/., YCI.M1Úf't.' Rodavt:"' Ccwvcúho; ao Pvof VI'". L<A.Vy Ecl.t.u:wdo- 13l.u.tne.Y R01WV, á- Pvofr:v. Vv<N. R~ Fer~ cl,a, Rocl1.a, à- Pvofr;v. A~ Vv"-' J~ Via# Al.m.e«:kv"' à- Jecretliritv Síl»itv Scavpel., pel.uv ~aO<\'~ dM.-CM'lÁ"'t"odo- o- CW"lO; Ao- Prof IvCVYV 13cUd.ucc-v, pel.uv ~ "'pel.uv e.1.cr.bova.Q;'í.o-cl,a, ~at"ia"'u:a-- de.1,t""' tvahcUho: À bi.:&Uoeec<iritvÂ~de.-131'"ft"0'13~ pel.uv vevWio'~tJrahcUho: À.!' ~et"ci.ria# do- pvog-r-CNfYI,CI/ de.- Pór- Gvcul.uação; Fv<WUl/Níc~fl~cv, R~a.-y de.-Fári.W!<V 5~"' Ma.-í<V Apa.-e<.:-idvv C~ de.- 5~ pel.uv ~am-aLuvt.oy. Am-~ do-cu.rW; peloye<.letvcw ~m vwid.m-j~. F ao Cl'"í.ador, pel.uv opovt~ de.- apv~ "A fé é o firme fundamento das coisas que se esperam e a prova das coisas que não se vêem." Hebreus: 11 SUMÁRIO LISTA DE FIGURAS............ ................................. . ................ . LISTA DE QUADROS .... ...... . ... .. .. .... .... .......... ... .... .. ........... . LISTA DE TABELAS................................... .. ..... LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS .............. . RESUMO ................................................................................ . 1 INTRODUÇÃO ....................... . 2 REVISÃO DA LITERATURA....................... ........ .. .......... . 2.1 Articulação temporomandibular ................................................. . 2.2 Biomecânica da ATM ................................................................. . 2.3 Disfunções Temporomandibulares (DTM) ................................ .. 2.4 Diagnóstico por imagens das ATMs ........................................ . 2.4.1 Tomografia convencional. ........................... .. 2.4.2 Ressonância magnética ......... ......... . 2.4.3 Ressonância magnética da ATM ...................... . 2.4.4 Radiografias e tomografias digitais ........ .. 3 PROPOSIÇÃO. ... ... . ........... . ............. . 4 MATERIAL E MÉTODOS ........................................................... . 4.1 Índice temporomandibular, seus subíndices e ex.clínico ........... . 4.1.1 Subíndice função ............................................................. . 4.1.2 Subíndice muscular ....................................... .. 8 11 12 14 16 17 21 21 25 27 37 41 53 60 82 90 91 94 95 96 4.1.3 Subíndice articular .................................................... . 4.2 Grupo 1... ............................................................................ .. 4.2.1 Metodologia de obtenção das imagens de planigrafra convencional das ATMs................ . .............................. .. 4.3 Grupo 2 ............................................................................... . 4.3.1 Metodologia de obtenção das imagens de planigrafia digital das ATMs... ............... .. . ................... ................... . .......... . 4.4 Grupo 3 ................................................................................. . 4.4.1 Metodologia de obtenção das imagens de IRM das ATMs ...... 4.5 Comparação entre os grupos 1, 2 e 3 .................................... . 4.5.1 Boca fechada ............................................................... . 4.5.2 Boca aberta ........................................ .. 4.6 Comparação entre as imagens de planigrafia vencional através do programa 1.0 ... ··············· .. ········ ............................. . 5 RESULTADOS ........................... . digital e com Aeroimagem 5.1 Análise estatística entre os grupos 1, 2 e 3 ............................. . 5.2 Análise das imagens dos grupos 1 e 2 ...................................... . 6 DISCUSSÃO ............................................................................... . 7 CONCLUSÃO ..................................................................... . 8 REFERÊNCIAS ................................................................. . APÊNDICE ..................................................................................... . ABSTRACT .................................................................................. . ANEXO .................................................................... · ..... · ..... · · · · ·· · · .... . 96 98 99 100 101 103 104 106 107 111 113 118 118 133 150 151 152 168 171 172 Figura 1 - Figura 2- Figura 3- Figura 4- Figura 5- Figura 6- LISTA DE FIGURAS Desenho em corte sagital componentes da representando os articulação temporomandibular. ........................................ . 22 Fórmula da equação de Larmor, que calcula a 56 frequência de precessão .............. .............. . Representação da ATM ilustrando: a) o aumento do espaço articular anterior; b) condição de normalidade do espaço articular anterior; c) redução do espaço articular anterior................................. . . . . . . .. . . .. . . . ..... .. . . . . . 1 08 Representação da ATM ilustrando: a) aspecto normal da cabeça da mandíbula; b)erosão da cabeça da mand; c) osteófito na cabeça da mandíbula; d) erosão e osteófito na cabeça damandíbula....................................... . . . . . . . . .... ........... 1 09 Representação ilustrando: a) aspecto de normalidade da ATM quanto à em1nencía articular; b) erosão da eminência articular; c) aplainamento da eminência articular................................... . . . . . . ... .. . . . . . . . . . . . . . .. ... 11 O Representação da ATM ilustrando: a) aspecto de normalidade da posição da cabeça da mandíbula; b) posição anteriorizada da cabeça da mandíbula; c) posição posteriorizada da cabeça da mandíbula............ . . .. . . . .... ... . . . ..... ..... . . . . . . ..... ... . . . . . 111 Figura 7- Representação da ATM ilustrando: a) movimento da cabeça da mandíbula em condição de normalidade (a linha azul mostra a cabeça alcançando a em~nencia articular); b) hipermobilidade da cabeça mandibular, ultrapassando a em1nenc1a articular; c) hipomobilidade da cabeça mandibular, com a cabeça não alcançando a eminência........... 112 Figura 8- Esquema representando os três grupos de estudo e seus tópicos de comparação........................... 117 Figura 9- Gráfico ilustrando a faixa etária dos pacientes do grupo 1 (submetidos à planigrafia convencional das ATMs): 80% deles situaram-se na faixa de 22 a 51 anos de idade, 16% na faixa de até 21 anos e quatro porcento na de mais de 52 anos ....................................................................... 118 Figura 1 O - Gráfico ilustrando a faixa etária dos pacientes do grupo 2 (submetidos à planigrafia digital das ATMs): 80% deles situaram-se na faixa de 22 a 51 anos de idade, 16% na faixa de até 21 anos e quatro porcento na de mais de 52 anos ...................................................................... . Figura 11 - Gráfico ilustrando a faixa etária dos pacientes do grupo 3 (submetidos à ressonância magnética das ATMs): 84% deles situaram-se na faixa de 22 a 51 anos de idade, 12% na faixa de até 21 anos e quatro porcento na de mais de 52 anos ........................................ ............................. . Figura 12 - Gráfico ilustrando a distribuição dos pacientes dos grupos 1 (PC), 2(PD) e 3(1RM) de acordo com o sexo ................................................................... . Figura 13 - Exemplos de planigrafia convencional, digital e 119 120 121 IRM............................................................... 132 Figura 14 - Exemplos de histogramas de planigrafias digitais e convencionais .............. ...................................... . Figura 15- Exemplos de planigrafias digitais e convencionais que tiveram seus tons de cinza coloridos pelo 135 Aeroimagem 1.0. .............. ............... 137 LISTA DE QUADROS Quadro 1 - Resultados percentuais do item espaço articular anterior para cada grupo bilateralmente............... 168 Quadro 2 - Resultados percentuais do item cabeça da mandíbula para cada grupo bilateralmente........... 168 Quadro 3 - Resultados percentuais do item eminência articular para cada grupo bilateralmente ............ . 169 Quadro 4 - Resultados percentuais do item eminência articular para cada grupo bilateralmente . . . . . 169 Quadro 5- Resultados percentuais do item movimento da cabeça mandibular em cada grupo bilateralmente ........................... . 170 Tabela 1- Tabela 2- Tabela 3- Tabela 4- Tabela 5- Tabela 6- Tabela 7- Tabela 8- LISTA DE TABELAS Valores médios dos Índices temporomandibulares (ITM) e dos subíndices de três grupos de pacientes portadores de DTM e de um grupo de indivíduos assintomáticos ............ ............ ........... 93 Número de casos normais e não normais nos grupos 1,2 e 3 para o item espaço articular anterior do lado direito .. Número de casos normais e não normais nos grupos 1,2 e 3 para o item espaço articular anterior do lado direito. Número de casos normais e não normais nos grupos 1, 2 e 3 para o item cabeça da mandíbula, lado direito. Número de casos normais e não normais nos grupos 1, 2 e 3 para o item cabeça da mandíbula, 125 126 126 lado esquerdo....................... .. .. .. .. ..... .. .... .. .... . . 126 Número de casos normais e nao normais para os grupos 1, 2 e 3 no item eminência articular do lado direito....... .. .. .... .. .. .... ...... . . .... .. .. . 127 Número de casos normais e não normais nos grupos 1, 2 e 3 para o item eminência articular, lado esquerdo .......................... --······-- . Número de casos normais e não normais nos grupos 1, 2 e 3 para o item movimento condilar, 127 lado direito.. .. .. ...... .. .. ... .. .. . .. .. ........... .. .. ...... ......... 128 Tabela 9- Tabela 10- Tabela11- Tabela 12- Número de casos normais e não normais nos grupos 1, 2 e 3 para o item movimento condilar do lado esquerdo .............................. . Número de casos normais e não normais nos grupos 1, 2 e 3 para o item posição condilar, lado direito ... Número de casos normais e não normais nos grupos 1, 2 e 3 para o item posição condilar, lado esquerdo ............................................................... . Número de casos normais encontrados nos cinco itens analisados para os grupos 1, 2 e 3 .............. . 128 128 129 130 LISTA DE ABREVIATURAS ATM: articulação temporomandibular BO: força do campo magnético externo DDCR: deslocamento de disco com redução DDSR: deslocamento de disco sem redução DTM: disfunção temporomandibular FOV: campo de visão Hz/MHz: herz/ megaherz IRM: imagem de ressonância magnética RF: radiofrequência RM: ressonância magnética T (Tesla): unidade de medida de densidade de fluxo magnético T1: tempo de relaxamento T1, tempo necessário ao desaparecimento da magnetização longitudinal T2: tempo de relaxamento T2, tempo necessário ao desaparecimento da magnetização transversal T2 FFE: tempo de relaxamento T2 com supressão de gordura Wo: frequência de precessão Y: taxa giromagnética %: porcentagem mm: milímetros h: hora ITM: índice temporomandibular RD: radiologia digital CCD-based systems: dispositivos acoplados por carga O/COM: imagem e comunicação digital em medicina y}: teste Chi-quadrado a= aumento do espaço articular anterior ou anteriorização (para o item cabeça da mandíbula) r::: redução do espaço articular anterior p= posteriorização e= erosão o= osteófito eo= erosão e osteófito n= caso normal 16 LAME\RAS, LK Estudo comparativo entre imagens de planigrafia convencional, planigrafia digital e ressonância magnética das ATMs de pacientes com disfunção temporomandibular. 2004. 174f. Dissertação (Doutorado em Biopatologia Bucal, Área de Concentração em Biopato\ogia Bucal) - Faculdade de Odontologia de São José dos Campos, Universidade Estadual Paulista. São José dos Campos. RESUMO A proposta deste trabalho foi analisar as alterações ósseas das ATMs de 75 pacientes com desordens temporomandibulares através de imagens de planigrafia convencional, planigrafia digital e ressonância magnética. O índice temporomandibular (Pehling et al., 2002) foi usado para selecionar os pacientes com alterações intra-articulares, excluindo- se aqueles com somente alterações musculares. Os pacientes foram divididos em três grupos de 25 pacientes cada, sendo que o grupo 1 foi submetido à planigrafia convencional, o grupo 2 à planigrafia digital e o grupo 3 à ressonância magnética. O teste x2 foi usado na análise estatística para se comparar o número de alterações ósseas da ATM visto nos três grupos, divididos em cinco aspectos: espaço articular anterior, cabeça da mandíbula, eminência articular, movimento e posição da cabeça da mandíbula. A planigrafia convencional e a digital tiveram a qualidade de suas imagens analisada pelo programa Aeroimagem 1.0. O grupo 2 mostrou mais alterações ósseas da ATM que os grupos 1 (p=.0,012) e 3 (p=O,OO). Os grupos 1 e 3 não diferiram significativamenteentre si (p=0,018). As imagens de planigrafia digital mostraram maior número e melhor distribuição dos níveis de cinza que as de planigrafia convencional pelo programa Aeroimagem 1.0. Somente o grupo 3 apresentou significativamente mais casos normais que os grupos 1 e 2 no item posição da cabeça da mandíbula. A planigrafia digital mostrou maior nUmero de alterações ósseas da ATM que a p/anigrafia convencional e a ressonância magnética. A planigrafia convencional e a ressonância não diferiram entre si neste aspecto. A planigrafia digital ofereceu maior quantidade de informações e qualidade de imagem que a convencional. Palavras-chave: articulação temporomandibular, disfunção temporomandibular, ressonância magnética, planigrafia, tomografia linear, radiologia digital. 1 INTRODUÇÃO Dores e ruídos ligados à articulação temporomandibular (ATM), bem como a dificuldade de movimentação da mandibula durante as funções de mastigação, abertura e fechamento da boca têm chamado a atenção de pesquisadores e profissionais da saúde desde o século XIX, sendo os sinais e sintomas mais comuns de um grupo de alterações conhecidas como disfunção temporomandibular (DTM). Na literatura descrevem-se causas etiológicas múltiplas para as OTM, como o excesso de carga funcional, a falta de lubrificação da ATM, o bruxismo (ou briquismo), fatores oclusais, musculares e psicológicos, traumas físicos relacionados à articulação temporomandibular, entre outros. Atualmente há vários tratamentos propostos, incluindo placas e ajustes oclusais, tratamento ortodôntico, reabilitação oclusal, terapias medicamentosas e psicológicas, fisioterapia e cirurgia. Os obstáculos em se identificar uma etiologia precisa e em se instituir modalidades de tratamento adequadas a cada caso, provêm principalmente das dificuldades em se diagnosticar as alterações de uma articulação tão pequena, e de localização peculiar, como a ATM. Essas dificuldades se traduziram, ao longo dos anos, na busca por técnicas de imagem que, juntamente com o exame clínico, auxiliassem à identificação IX dessas alterações de forma menos invasiva passivei (OKESON80 , 1992; XU-CHEN129, 2003; KOBAYASHI 58, 2003). Assim surgiram as radiografias panorâmicas e transcranianas as quais permitem observar as estruturas ôsseas da ATM. Ainda que prejudicadas pela sobreposição das estruturas adjacentes, foram as primeiras técnicas de imagem para ATM, sendo até hoje usadas como recurso diagnóstico (DELFINO & EPPLEY22, 1986). O estudo da ATM teve um grande avanço a partir da década de 50 com o desenvolvimento da artrografia, uma técnica dolorosa e de difícil execução, hoje já superada, mas que permitia a visualização indireta das alterações de posição do disco articular da ATM (TRUMPY et a\. 119 1997). Assim, com a identificação dos deslocamentos de disco, transportou-se da ortopedia médica para a odontologia o conceito de Qesarranjo interno, onde um obstáculo mecânico, neste caso o disco articular, seria o responsável pelo mau funcionamento da articulação (WESTESSON & KATZBERG124, 1996). Na década de 70 a tomografia ou planigrafia linear passou a ser usada na investigação das disfunções de ATM, apresentando vantagens em relação às radiografias , pois eliminava o problema da sobreposição das estruturas adJacentes e produzia múltiplos cortes finos da região de interesse (BROOKS et al13, 1997). Em meados da década de 80, a imagem por ressonância magnética ( IRM) começou a ser utilizada no estudo da ATM e apresentou- 19 se como uma técnica promissora, não-invasiva, indolor e não-ionizante, que permite a visualização do disco, das partes moles e ósseas da ATM num mesmo exame, sendo ela atualmente considerada o go/d-standart (padrão ouro) dos exames por imagem da articulação temporomandibular. (KATZBERG et ai. 54, 1985). Apesar de todos estes benefícios, o alto custo do exame IRM não permite que a mesma seJa rotineiramente solicitada aos pacientes com DTM, dentro da atual estrutura sócio-econômica brasileira. No final de 1999 entretanto, surgiu no mercado mundial uma nova tecnologia que abriu outras possibilidades aos recursos radiológicos disponíveis até então: a radiologia digital (RD). Esta nova tecnologia é compatível com recursos já disponíveis na radiologia convencional, já que emprega os mesmos aparelhos de raios-X e tomógrafos usados nas clínicas aluais, o que contribui para sua rápida implantação no mercado. A RD permite uma releitura e o aprimoramento das tradicionais técnicas radiográficas, bem como das tomográficas lineares de uso na medicina, estando neste contexto sua aplicação na ATM. Com a RD, os métodos convencionais de sensibilização do filme radiográfico pelos raios-X e de revelação úmida estão sendo substituídos por placas de armazenamento de fósforo, que armazenam a informação recebida pela passagem dos raios-X e permitem ao operador manipular aS imagens nelas contidas antes da impressão final das 20 imagens, evitando-se repetições e novas exposições ao paciente. Esta nova técnica tem-se mostrado promissora em qualidade de imagem, redução da dose de radiação e redução de custos operacionais, quando comparadas às técnicas convencionais (KODAK EASTMAN COMPANY59, 2004). Apesar da pouca literatura disponível sobre o tema, ainda bastante restrita às publicações das próprias empresas fabricantes dos aparelhos, foi proposta a aplicação da tomografia linear (ou planigrafia) digital à ATM, como uma ferramenta de diagnóstico por imagem de menor custo, baixa dose de radiação e que possa beneficiar um maior número de pacientes, considerando-se suas possibilidades sócio-econômicas. Por estes motivos, a proposta deste trabalho foi estudar as vantagens e desvantagens da tecnologia digital para a ATM, comparando- se imagens de planigrafia digital com planigrafia convencional e ressonância magnética de um grupo de pacientes que apresentavam sinais e sintomas clínicos de disfunção temporomandibular. 2 REVISÃO DA LITERATURA 2.1 Articulação temporomandibular A articulação temporomandibular (ATM) é uma das articulações mais complexas do organismo humano pela sua localização particular, por ser bilateral e, principalmente, pela sua admirável engenharia anatómica e funcional. É chamada por alguns autores de articulação craniomandibular pois se constitui na articulação da mandíbula com a base do crânio (SICHER & DUBRUL105,1991). A ATM é classificada como uma articulação sinovial porque suas superfícies ósseas são recobertas por cartilagem e tecido sinovial, permitindo amplos movimentos da mandíbula ao redor de um osso fixo, e como articulação ginglemoartroidal, ou seJa, aquela que permite movimentos de rotação e translação (OKESON80, 1992). A oclusão dentária está associada à ATM, já que esta última pode ser considerada uma articulação de terceiro gênero ou interpotente, onde o fulcro seria a própria ATM, com apoio na dentição. Assim, uma oclusão dentária desequilibrada pode não fornecer o suporte adequado para o trabalho fisiológico da ATM, resultando em excesso de carga funcional da mesma (OLIVEIRA81 , 2003). De acordo com Di Paolo 22 et al 25 (2000) a perda de dimensão vertical posterior (perda de molares) leva a um excesso de carga funcional o que está diretamente relacionado às alterações nas ATMs. A articulação temporomandibular está localizada entre a porção escamosa do osso temporal e a cabeça da mandíbula, constituindo-se da fossa mandibular, eminência articular, cabeça da mandíbula, disco articular, ligamentos e cápsula articular (Figura 1 ). I compartimento articular superior ' i eminência articular ,cápsula articular\ I ~ ~~ ..... ,. • ' disco articular .- ' ,\, meato acUst1co externo .. • I coonp<•rthner•toarticUI<or í!lfetíor I cabeça da ma.;d.fbula I FIGURA 1 -Desenho em corte sagital representando os componentes daarticulação temporomandibular*. *AVERY. J.K. Oral development and oral histology. Nova York: Thieme, 1994.p.215. ,, -' A fossa mandibular e a cabeça da mandíbula são formadas por ossos esponjosos revestidos de osso compacto. Ambas não são revestidas por cartilagem hialina, como seria esperado numa articulação sinovial, mas sim por um tecido conjuntivo denso avascular, ou por uma fibrocartllagem, já que células cartilaginosas podem ser aí encontradas (MJOR & FEJERSKOV74, 1990). Esta fibrocartílagem regulariza as superfícies ósseas discordantes da ATM, facilitando o deslizamento das porções articulares. Sobre esta fibrocartilagem existe uma membrana sinovial, responsável pela produção do liquido sinovial, que tem a função de nutrição, absorção de pressões e lubrificação da articulação. Na região anterior a fossa mandibular é delimitada por uma protuberância óssea robusta, chamada de eminência articular e é basicamente com ela que se articula a cabeça da mandíbula. Na região mais profunda da fossa há maior proximidade das estruturas articulares com o encéfalo, pois o tecido ósseo ali presente é de pouca espessura. Posteriormente a fossa é delimitada pela cisura petro-timpânica (SICHER & DUBRUL105, 1995). A cabeça da mandíbula apresenta seu maior eixo no sentido látero-medial e o seu pólo medial é mais proeminente que o lateral. O disco articular é constituído por um tecido conjuntivo fibroso denso não homogêneo, constituído por colágeno tipo I, tipo 11, fibras elásticas e glicosaminoglicanas, sem vascularização e com pouca inervação (STOLLER & JACOBSON111 , 1997). Estudos sobre engenharia tecidual do disco articular mostram que suas fibras elásticas, de modo geral, situam-se ao redor das fibras colágenas e servem para restaurar e reter a forma discai após a compressão. A resistência do disco às forças compressivas parece ser maior em sua zona intermediária (DETAMORE & ATHANASIOU24, 2003). O disco se prende firmemente à cabeça da mandíbula em seus pólos lateral e medial, acompanhando a mesma em seus movimentos (OLIVEIRA 51 2003). Ele divide a ATM em um compartimento superior e outro inferior. Seu formato assemelha-se ao de uma sela, ou ao de uma gravata borboleta, apresentando dimensões médias de 20 por 22mm (STOLLER & JACOBSON 111 , 1997), sendo que suas porções anterior e posterior são mais espessas e a porção intermediária é mais delgada. A porção intermediária articula-se simultâneamente com o osso temporal e a cabeça da mandíbula e a posterior encontra-se normalmente na posição de 11 a 12h sobre esta última. O disco insere-se posteriormente num tecido conjuntívo frouxo, chamado zona bilaminar, com fibras colãgenas e elãsticas, ricamente inervado e vascularizado. Quase toda a periferia do disco está ligada à cápsula articular, representada por tecido conjuntivo bastante fibroso que envolve toda a articulação, permitindo porém seus movimentos. Ela se prende superiormente nos limites da face articular do osso temporal e inferiormente no colo da mandíbula, sendo inervada e vascularizada. 25 Existem ainda fibras do feixe superior do músculo pterigóideo lateral que se inserem, via cápsula, na porção anterior do disco articular (SICHER & DUBRUL105, 1991). Os ligamentos presentes na ATM não são elásticos, funcionando como limitadores de seus movimentos, agindo passivamente. O ligamento temporomandibular, considerado por Oliveira81 (1998) como o único verdadeiro ligamento da ATM, recobre quase toda a superfície lateral da cápsula articular. Tem a função de ligamento suspensório da mandíbula e evita movimentos retrusivos da mesma, que possa lesar a região retrodiscal. São descritos ainda dois outros ligamentos da ATM, chamados de ligamentos acessórios, o ligamento estilomandibular e o esfenomandibular, cujas funções não são ainda bem compreendidas. 2.2 Biomecânica da ATM As articulações temporomandibulares podem ser consideradas como entidade única, visto que o funcionamento de uma acaba sempre influênciando o da outra (OLIVEIRA 81 , 2003). Durante os movimentos de abertura e fechamento bucal, a cabeça da mandíbula executa basicamente movimentos de rotação e translação. Os componentes musculares associados à ATM têm um papel fundamental 26 em sua dinâmica, promovendo movimentos de abertura, fechamento, retrusão, protrusão e lateralidade. No movimento de abertura bucal, enquanto os músculos infra-hioideos (esternohioideo, tireoideo e omohioideo) se contraem, estabilizando e abaixando o osso hióide e os músculos supra-hioideos agem no abaixamento da mandíbula, o conjunto disco-cabeça da mandíbula sofre um movimento de rotação em seu próprio eixo na primeira etapa da abertura bucal (PALÁCIOS et al.86, 1990). A seguir, o conjunto é transladado anteriormente pelo feixe inferior do músculo pterigóideo lateral, até alcançar a eminência articular e atingir a posição de máxima abertura bucal. Nessa condição, a porção intermediária do disco deve estar protegendo mutuamente a porção articular do osso temporal e da cabeça da mandíbula. Há ainda uma distensão das fibras da zona bilaminar, que se tornam bastante tensas à medida que se abre a boca. Já no fechamento bucal, os músculos elevadores da mandíbula (masseter, temporal e pterigóideo medial) vão trazendo a mandíbula à sua posição de repouso e o feixe superior do músculo pterigóideo lateral trabalha enquanto o feixe inferior permanece inatívo. A função do feixe superior é equilibrar a ação das fibras da zona bilaminar que, estando tensionadas, tenderiam a levar bruscamente para posterior o conjunto disco-cabeça da mandíbula. Assim, o disco recupera sua posição inicial, mantendo a zona intermediária entre as superfícies 27 articulares e a zona posterior na posição entre 11 e 12h (MONGIN177, 1998). 2.3 Disfunções temporomandibulares (DTM) As alterações e queixas dolorosas ligadas a articulação temporomandibular são há muito conhecidas pelos profissionais de saúde. Desta forma, as dores nas articulações temporomandibulares e nos músculos da mastigação, os sons articulares variados, as dificuldades na abertura da boca, os zumbidos, a sensação de ouvido tapado, as dores de cabeça e dores cervicais entre outros sinais e sintomas, têm desafiado esses profissionais, especialmente os da área odontológica, a conhecerem suas causas e proporem algum tipo de tratamento e alívio aos pacientes que os portam. Com o auxílio das técnicas de imagem da ATM, de sua exploração cirúrgica e de constantes pesquisas nesse campo, as alterações da ATM associadas aos sinais e sintomas acima relatados foram agrupadas em uma síndrome, que recebeu nomes variados: síndrome da dor-disfunção-temporomandibular, dor-disfunção-miofacial, disfunção crânio-mandibular, disfunção temporomandibular ou desordens temporomandibulares (DTM) (BRAND10, 1993). 28 Alguns autores, como Garcia33 (1997), consideram que o termo disfunção temporomandibular diz respeito às alterações que podem ocorrer no sistema mastigador, sendo que suas causas podem residir na musculatura ou em estruturas correlatas e que o termo desordem temporomandibular compreende os desarranjos ocorridos no complexo disco-cabeça da mandíbula e osso temporal. Para Bell3 (1990), desordem temporomandibular é um termo coletívo que abrange várias alterações clínicas envolvendo a musculatura mastigatória, a ATM e suas estruturas anexas, sendo considerada a maior causa de dor de origem não dentária na região orofacial. Nesta pesquisa, usamos o termo disfunção temporomandibular, já que abordamos particularmente os aspectos intra- articulares da ATM. A DTM é bastante comum, atingindo mais de 20% da população, segundo Yuasa et al' 30 (2003), em estudos envolvendo a Grã- Bretanha e o Japão. Segundo Styles & Whyte110 (2002), mais de 86% dos indivíduos apresentam algum sinal ou sintoma clínicoda disfunção. Ela é mais encontrada em mulheres, numa faixa etária que vai da adolescência até os 55 anos de idade. Sua prevalência é pequena em crianças e quando ocorre, a intensidade dos sintomas é baixa (EGERMARK et al26, 2001 ). 29 Esta disfunção afeta negativamente a qualidade de vida dos pacientes, segundo estudo realizado por Segu et al104 (2003), na Itália. Os autores mediram o impacto psico-social da disfunção em 124 pacientes e 61 indivíduos saudáveis do ponto de vista da ATM. 83% da amostra de pacientes era constituída de indivíduos do sexo feminino. A perda na qualidade de vida foi identificada na dificuldade de mastigação, na preocupação com a dor, em dificuldades de relaxamento, em períodos de tristeza e perda de disposição devido à dor, em dificuldade nas relações sociais e na insatisfação com a vida. Em um estudo longitudinal conduzido por Egermark et al28 (2001 ), verificou-se uma grande variação nos tipos e intensidades de sinais e sintomas clínicos encontrados numa amostra de trezentos individuas ao longo de vinte anos. Comparando-se os sinais e sintomas obtidos no exame clínico inicial com os encontrados vinte anos depois, a remissão total ou o severo agravamento dos mesmos foram raros, mas os seus diversos tipos possíveis (dores de cabeça, estalidos, limitação de abertura bucal, dores faciais, dores nas ATMs) tiveram grande variação num mesmo indivíduo. Solberg 106 (1986) estudou os testes clínicos que poderiam ser úteis no diagnóstico da DTM. Segundo o autor, a DTM apresenta uma combinação característica de fatores somáticos e psicológicos e a dor envolvida está sempre ligada à função da ATM. Ele fazia medições da extensão dos movimentos mandibulares, considerando 10 limitada a abertura bucal inter-incísal que fosse menor que 40mm. Depois, palpava a ATM e a musculatura associada a ela (masseteres. temporais, pterigóideos laterais e mediais) para identificar a fonte da dor e a seguir anestesiava a área para confirmá-la. Além disso, auscultava os sons articulares e fazia testes de resistência muscular para a identificação do lado sintomático. Heloe & Heloe48 (1975) estudaram 406 pacientes com sinais e sintomas de disfunções temporomandibulares em Oslo, Noruega, através de questionários e exames clínicos. A maioria deles era mulheres (proporção 4:1 ). A idade média era de 27 anos para os homens e 33 anos para as mulheres. Pertenciam às classes sociais alta e média e o estado da dentição tendia a ser melhor que o da média da população norueguesa da época. Oitenta e dois porcento dos individuas foram classificados como portadores da DTM (dor na ATM, clique articular, limitação do movimento mandibular, instabilidade mandibular, porém com ausência de sinais radiográficos de osteoartrose}, 11% tinham osteoartrose (características clínicas semelhantes ao grupo DTM, mas com crepitação ao invés de clique articular e imagens radiográficas degenerativas) e 7% apresentavam condições traumáticas ou reumáticas. Eggleston29 (1980) observou que, no sexo feminino, a contração muscular anormal dos músculos da mastigação (bruxismo) é acompanhada por uma deficiência de circulação nos músculos contraídos, ocasionando dor. Esta deficiência circulatória está relacionada a fatores endócrinas e não ocorre no sexo masculino, podendo explicar o maior número de mulheres com queixas de DTM. A etiologia das dores orofaciais, que respondem por 25% de todas as queixas dolorosas (LOE65, 1993) é bastante variada e as hipóteses diagnóstlcas devem incluir outras causas além das DTMs, como por exemplo: desordens congénitas e de desenvolvimento, desordens pós-traumáticas, doenças degenerativas e inflamatórias, desordens musculares e neoplasias (MOCK75 , 1999), além de problemas dentários e intra-bucais (que respondem pela maioria das causas de dores orofaciais), dos seios maxilares e frontais, dos ouvidos, do nariz, cervicais e sistêmícos, neuralgias, desordens dolorosas neurológicas ou lesões do sistema nervoso central. Atualmente a DTM é considerada uma família de desordens com sinais e sintomas múltiplos, que são divididos em duas partes: a) desordens musculares, deslocamentos de disco e condições degenerativas; b) condições psicológicas e sintomas físicos não especificas (LOE65, 1993). As causas da DTM são múltiplas e um tanto obscuras. Sugere-se que o trauma, a hiperatividade do músculo pterigóideo lateral, o bruxismo, o excesso de carga funcional, a má-oclusão, a hipereslasticidade articular e o estresse psicológico sejam seus fatores etiológicos (NITZAN79, 2001 ). Contudo, estudos na área da psicologia não conseguiram delinear um perfil comportamental comum aos pacientes com DTM (MARBACH71 , 1992), nem se conseguiu associar injúrias 32 traumáticas na ATM (especialmente acidentes com veículos automotivos) com uma maior incidência de DTM (McKAY & CHRISTENSEN72 1998). A má-oclusão e o bruxismo ainda são considerados fatores etiológicos controversos (BINDERMAN & SINGER7 , 1997). Goddard & Karibe35(2002) estudaram a prevalência da DTM em populações nativas norte-americanas vivendo em áreas urbanas e áreas rurais. Os autores observaram que além da DTM ter sido mais prevalecente entre os indivíduos que viviam em áreas urbanas, a dor relacionada à ATM, medida numa escala de zero a 10, foi estatisticamente maior nas pessoas que viviam em áreas urbanas do que a encontrada naquelas que habitavam área rurais. Em 2001 Nitzan79 introduziu o conceito de fricção articular como fator etiológico para os desarranjos internos da ATM: o colapso do sistema de lubrificação da ATM, devido ao excesso de carga funcional, teria um papel fundamental na cadeia de eventos que levam ao deslocamento do disco. Com o excesso de carga, há uma hipóxia dos tecidos articulares. Nessa falta de oxigênio, há a liberação de radicais livres (ânions superóxidos e hidroxila), que, por serem muito reativos, destróem o ácido hialurônico e inibem a produção do mesmo. Este ácido é responsável pela viscosidade do líquido sinovial. Com a redução da viscosidade, há um aumento da fricção, havendo danos às superfícies articulares e ao funcionamento da articulação, como o deslocamento do disco. 33 O conceito de fricção articular foi evidenciado experimentalmente por dei Pozo et al23 (2003) através da análise computacional do elemento finito. Os autores reproduziram tridimensionalmente a ATM com o uso do computador e verificaram que o aumento da fricção entre o disco articular, a fossa mandibular e a cabeça da mandíbula produziu um aumento do stress intra-articular e da frequência de deslocamento do disco. Com o desenvolvimento das modalidades de imagem da ATM, observou-se que, em muitos casos, havia uma falta de coordenação do movimento da cabeça da mandíbula com o do disco articular. Esse normalmente se apresentava deslocado em relação à sua posição habitual, perturbando a dinâmica da ATM. Essa condição foi denominada desarranjo interno e é responsabilizada por vários autores como sendo um importante fator etiológico da DTM (KATZBERG et ai. 54, 1985; LUNDH & WESTESSON66, 1991; TASAKI et al. 116 , 1996). Em ortopedia. como já mencionado anteriormente, o termo desarranjo interno se refere a um impedimento mecânico que atrapalha o funcionamento normal da articulação. Alguns autores entretanto, não concordam com que o deslocamento de disco seja colocado como sinônimo de desarranjo articular, pois muitas vezes a posição alterada do disco não traz nenhuma sintomatologia dolorosa ao paciente (TENENBAUM et a L 118 , 1999). Stegenga et aL 109 (1993) estudaram as características da dor articular em 88 pacientes com DTM e classificaram-na em aguda, que pode ser 34 recorrente ou não (46,6%), persistente não severa (36,4%), persistente forte (7,9%) e persistente incapacitante (7,9%). A diferença básica foi entreos níveis de dor em cada grupo, mas não em sua duração. Para os autores, a dor aguda é o elemento novo na vida cotidiana do paciente; já a crônlca é uma condição relativamente constante que se transforma num elemento estável na vida do paciente. Vários estudos epidemiológicos pesquisaram a incidência de sinais e sintomas clínicos de DTM em populações paciente e não-paciente. Lundh & Westesson66 (1991) examinaram 403 pessoas, não-pacientes, quanto à freqüência de sinais clínicos de desarranjos internos da ATM (dores na ATM, na musculatura mastigatória, sons articulares e limitação de abertura bucal) e concluíram que os sinais clínicos estavam presentes em um quinto da população analisada. O clique articular foi interpretado como deslocamento de disco com redução e o desaparecimento do clique como deslocamento de disco sem redução. Bates Júnior et al.2 (1994) estudaram 1279 pacientes de OTM através de questionários e exames clinicos. A relação mulher- homem foi de 6:1, sendo que a idade média das mulheres era de quarenta anos. Os sintomas mais comuns foram a dor na ATM (61% das mulheres e 38% dos homens), cefaléia {42% nas mulheres e 22% nos homens), clique {30% nas mulheres e 16% nos homens), limitação de 35 abertura bucal (12% nas mulheres e 0% nos homens) e crepitação (2,9% nas mulheres e 0% nos homens). Setenta pacientes com clique articular recíproco foram acompanhados por três anos (LUNDH et al.67, 1987) para se verificar a evolução desse sinal clínico. Após esse período, o clique articular não se alterou em 71% dos casos, desapareceu em 29% deles e evoluiu para deslocamento de disco sem redução (DDSR) em 9%. Os autores concluíram que nem sempre o clique recíproco progride para o DDSR e que essa progressão ocorre freqüentemente nos pacientes com dor articular, abrasão dentária e perda de suporte dentário posterior. Molina & Santos et al.76 (1999) estudaram a incidência das disfunções da ATM em 130 pacientes bruxistas com DTM, 66 pacientes não-bruxistas com DTM e 130 pacientes-controle, através de questionário, exame clínico e exames de IRM da ATM. Concluíram que a dor foi o sintoma mais comumente encontrado entre os pacientes com DTM, além de falta de coordenação dos movimentos mandibulares, sons articulares, dor muscular e articular à palpação e limitação de abertura bucal. Observaram ainda que as condições inflamatórias da ATM, como a capsulite (inflamação da cápsula fibrosa da ATM, com dor e leve edema sobre a articulação) e a sinovite (inflamação intra-articular que atinge a junção do disco com a zona bilaminar) foram predominantes no grupo de pacientes com bruxismo e DTM. Concluiram que a dor da ATM residia nas regiões Inervadas da articulação, como a zona bilaminar, a cápsula, 36 as conexões discais e a região de transição do disco com o músculo pterigóideo lateral. Solberg et aL 107 (1979) verificaram a incidência de DTM em 739 adultos jovens através de questionários e exames clínicos. Os sinais e sintomas pesquisados foram: dor nas ATMs, dor muscular; sons durante a função da ATM, limitação de abertura bucal, brux1smo e cefalêia. Observaram que 76% dos indivíduos tinham sina1s subclinicos, mas somente 26% deles apresentavam sintomas. Dos que apresentavam sintomas, grande parte era de mulheres (6:4) na faixa etária de vinte a quarenta anos. Os sintomas mais freqüentes foram dor no músculo pterigóideo lateral e sons articulares ; os indivíduos com bruxismo tiveram maior incidência no músculo masseter e limitação da abertura bucal. Tampouco o tratamento das DTMs é padronizado entre os clínicos. A literatura é rica em modalidades de tratamento para DTM, encontrando-se a prescrição de fármacos, placas miorrelaxantes, acunpuntura, ajuste oclusal, ortodontia, fisioterapia, apoio psicológico, cirurgia da ATM, entre outros. Entretanto, não há uma única modalidade de tratamento aceita em unanimidade pelos especialistas (YUASA et al130 2003). Segundo Styles & Whyte 110 (2002), os sinais e sintomas da DTM regridem espontaneamente em 80% dos pacíentes. Por isso, as modalidades de tratamento conservador ou menos invasivos são as mais indicadas. 37 Um estudo comparando o nível de DTM encontrado em pacientes que receberam tratamento e os que se recusaram a recebê-lo foi conduzido em 2003 por Yuasa et al130. Os autores observaram que os pacientes não tratados tiveram maior nível de dor e mais interferências da disfunção em sua vida cotidiana que os pacientes tratados. Entretanto, a condição de deslocamento de disco sem redução mostrou regressão espontânea da dor em dois terços dos casos não tratados. 2.4 Diagnóstico por imagens das ATMs Desde que se começou a estudar as ATMs de pacientes que relatavam sintomatologia dolorosa, sons articulares e limitação de abertura bucal, esbarrou-se nas dificuldades técnicas de se observar as estruturas moles (principalmente o disco articular) de pequenas dimensões, envolvidas por estruturas ósseas, que formam a complexa articulação temporomandibular (ANNANDALE·, 1887, citado por LEWIS63,1987). Era difícil diagnosticar corretamente as alterações intra- articulares somente com as radiografias panorâmicas e transcranianas, • ANNANDALE,T. Displaccmcnt orthc interarticular cartilagc ofthc lowcr jaw and ils !reHtmcnl by opcruüon. Lancct, v .l, p.4ll, 1887. 38 classicamente eleitas como as de melhor visualização dos tecidos duros da ATM até meados da década de 40 (CHRISTIANSEN & THOMPSON17, 1990). Essas técnicas radiográficas e suas variações permitem a observação do contorno ósseo da cabeça da mandíbula e da fossa mandibular, a posição da cabeça em relação à eminência articular, o espaço articular, a hipermobilidade da cabeça da mandíbula e anormalidades ósseas grosseiras (BRONSTEIN et al. 11 , 1981). Contudo, a sobreposição das estruturas ósseas adjacentes e a distorção das estruturas anatômicas tornam estas técnicas pouco satisfatórias (DELFINO & EPPLEY22 , 1986). As radiografias panorâmicas costumam trazer menos informações do que as radiografias transcranianas, pois são realizadas com a boca em uma posição semi-aberta, existindo ainda um bom grau de distorção da imagem radiográfica (SUAREZ et al. 112, 1980). As radiografias transcranianas, segundo Westesson & Paesani125 (1993), apresentam boa visualização das estruturas anatômicas da ATM quando são realizadas em duas tomadas radiográficas distintas: uma em posição submento-vértex, que serve para a localização das cabeças mandibulares e para a mensuração de seu ângulo com a horizontal, e a outra transcraniana propriamente dita, personalizada, aplicando-se o feixe de raios-x paralelamente ao maior eixo da cabeça da mandíbula e levando-se em conta a sua angulação com o plano horizontal (que pode variar de 5o a 50°, com média de 20°). Em 1972, Weinberg 121 defendia a radiografia transcraniana para a avaliação da ATM e de seus estados alterados. Ele mediu nas radiografias os espaços anterior e posterior entre a fossa mandibular e a cabeça da mandíbula para determinar a posição desta última (em retrusão ou protrusão) e conseguiu relacionar a assimetria e a redução dos espaços articulares (também chamada pinça menta) com a dor articular e a anteriorização do disco. A relação entre os achados radiográficos das ATMs e os sinais e sintomas clínicos de DTM a curto e longo prazo foram estudadas por Mejersjo & Hollender73 (1984). Foram realizados exames clínicos e radiografias da ATM (submentovértex e transcranianas) de 104 pacientes, sendo que o processo foi repetido sete anos depois. Verificou-se que a crepitação estava associada a alterações de forma do côndilo e que o clique estava associado ao deslocamento posterior do mesmo. Os autores observam que a avaliação radiológica foi menos importante do que o exame clínico na avaliação inicial, mas serviu para excluir outrascondiçOes patológicas. As radiografias do crânio também foram empregadas na visualização das estruturas da ATM, como as cefalométricas laterais e a incidência transfaringeana, onde o feixe de raios-x é projetado para a ATM através da chanfradura sigmóide do lado oposto, sendo útil na 40 visualização do colo do côndilo, especialmente no caso de fraturas. A tomada submento-vértex revela a base do crânio tendo o feixe de raios-x projetado através do menta paralelamente ao bordo posterior do ramo ascendente. É frequentemente usada como referência para a angulação das cabeças da mandíbula prévia à realização de outras técnicas de imagem (BROOKS et a112, 1992). Santos et al99 (2003) usaram a radiografia transcraniana da ATM na técnica de UpdeGrave para medir o espaço articular. A técnica de UpdeGrave prevê a utilização de um aparelho de raios-x periapical e de um posicionador que mantenha a cabeça do paciente num ângulo de 15° com relação ao solo. O espaço articular foi medido traçando-se uma longitudinal ao ponto médio do colo do côndilo e medindo-se a distância da cabeça da mandíbula até o osso temporal em 45° à direita e 45° à esquerda desta linha. Os autores propuseram a técnica descrita como um método de diagnóstico por imagem de baixo custo e fácil execução. Lewis63 (1987) tentou relacionar a anatomia das ATMs de 11 cadáveres com o deslocamento do disco articular, injetando contraste no compartimento inferior das articulações e radiografando-as" Contudo, concluiu que esse método não foi satisfatório na determinação da posição discai em função da superposição das estruturas ósseas adjacentes. 41 2.4.1 Tomografia convencional Em 1930, surgiu uma técnica para se obter uma imagem diagnóstica de uma camada especifica de tecido ou objeto, que esteja superposta por outros tecidos: é a chamada tomografia linear (BONTRAGER8, 1999). Ela também é conhecida como radiografia de uma secção do corpo ou planigrafia. Esta técnica é obtida utilizando-se um equipamento que permite ao tubo de raios-x e ao filme moverem-se ao redor de um ponto (fulcro) durante a exposição do filme (MAHL & SILVEIRA69, 2002). No inicio da década de 70 contudo, surgiram as tomografias hipocicloidais (também pluridirecionais), onde a unidade produtora de raios-x e o chassi com o filme descrevem complexos movimentos ao redor do fulcro ou região de interesse, produzindo imagens de qualidade superior às tomografias lineares (BROOKS et al12 , 1992). Assim, há cinco tipos básicos de trajetórias para movimento do tubo em tomografia dita convencional: linear (unidirecional), que representa o tipo mais simples de equipamento de tomografia, onde o tubo de raios-x movimenta-se paralelamente à mesa do aparelho e ainda elíptica, circular, espiral e hipocicloidal (multidirecionais), onde o tubo de raios-x descreve movimentos de complexidade crescente em relação à mesa. 42 Dentre os cinco tipos de tomografia, a linear é a que usa o tipo menos complexo de equipamento. Usa-se uma mesa de raios-x com bandeja Bucky e tubo conectado por um braço ou haste metálica. Esta haste atravessa uma fixação de nível de fulcro ajustável. Esta fixação é usada para ajustar manual ou eletricamente a altura do nível do fulcro. A bandeja de Bucky tem a função de conter o filme e criar uma distância entre ele e o paciente que possibilite o trabalho de uma grade de alumínio. Durante a função do tomógrafo, esta grade ajuda a minimizar os efeitos da radiação secundária na imagem. O fulcro é o ponto pivô em torno do qual o tubo e o filme de raios-x se movem. Este ponto pivô é importante porque todas as estruturas localizadas em seu plano (plano Objetivo) e paralelas à trajetória do tubo permanecem nítidas e em foco porque estão na mesma posição (estruturas não se movem) sobre o filme durante a exposição. Inversamente, todos os objetos localizados fora do plano objetivo, seja acima ou abaixo, são projetados de um ponto sobre o filme para outro. A quantidade de movimento destas estruturas é determinada pela distância entre o objeto e o fulcro. Consequentemente, os objetos que permanecem fixos (que não se movem) parecem bem definidos (nítidos) na tomografia, enquanto aqueles acima e abaixo do fulcro movem-se e, portanto, aparecem borrados. Isso é denominado princípio do barramento tomográfico. 43 O nível de fulcro é usado para determinar o nível ou a estrutura anatômicos de interesse a serem estudados. O movimento do tubo é feito por um motor fixado à unidade, com o mesmo se movendo ao longo do eixo longitudinal da mesa. A tomografia convencional tem sido extensivamente usada para avaliar os componentes ósseos da ATM, geralmente numa norma lateral mas algumas vezes em combinação com vistas frontais. As distorções da imagem da ATM podem ser minimizadas posicionando-se o longo eixo da cabeça da mandíbula perpendicularmente ao chassi, como determinado a partir da angulação da cabeça vista numa radiografia submento-vertex pré-tomada. Contudo, a maior desvantagem da tomografia da ATM é a não visualização dos tecidos moles da ATM, da mesma forma como ocorre nas radiografias da ATM. Quando comparada às várias técnicas radiográficas da ATM, a tomografia convencional revela um número de alterações estruturais bem maior do que esta (BERRETT5, 1983). Berrett5 (1983), neste mesmo trabalho, descreve várias aplicações da tomografia convencional ou planigrafia no estudo das alterações da ATM, como a avaliação de detalhes anatômicos das estruturas ósseas da fossa mandibular (se lisa, regular ou não), da cabeça da mandíbula (sua forma e regularidade), da eminência articular e 44 estruturas vizinhas; da relação cabeça da mandíbula com a fossa (neoplasias ou fraturas), do comprometimento da ATM frente a doenças degenerativas como a artrite reumatóide e a osteoartrite, da ATM no pós- operatório de cirurgias da ATM, do planejamento de reabilitações dentárias extensas e da ATM pós-tratamento. Knoernschild et al57 (1991) usaram a radiografia transcraniana e a planigrafia convencional para medir o espaço articular da ATM e compará-lo com a anatomia da mesma no crânio seco. Observaram que apenas a planigrafia da ATM trouxe resultados semelhantes aos encontrados na peça anatômíca. Gomes & Piva36 (2003) avaliaram a posição condilar antes e depois do uso de placas miorrelaxantes, através da medição dos espaços articulares anterior, médio e posterior em planígrafias convencionais das ATMs de 40 pacientes. Segundos os autores, dezenove destes pacientes tiveram suas cabeças da mandíbula melhor centralizadas dentro da fossa articular após o tratamento. Gynther et al39 (1996) compararam as alterações ósseas das ATMs em vinte pacientes com osteoartrite generalizada e vinte pacientes com artrite reumatóide através de planlgrafias laterais e frontais. Foram observadas alterações ósseas como osteófitos, aplainamentos da cabeça da mandíbula e da eminência articular e redução do espaço articular (pinçamento). Os autores observaram que- as 45 tomografias dos pacientes com osteoartrite generalizada apresentaram alterações semelhantes às dos pacientes com artrite reumatóide e que as tomografias lineares frontais forneceram informações adicionais às laterais. Constataram ainda que a tomografia convencional é o método mais indicado para a detecção de alterações ósseas da ATM, quando se compara seu custo com o da tomografia computadorizada e da IRM. Dahlstrõm & Lindvall20 (1996) compararam as radiografias panorâmicas com as planigrafias das ATMs de cinquenta pacientes com DTM. Concluíram que houve especificidade e sensitividade entre as duas técnicas empregadas com relação às alterações condilares, mas baixa sensitividade com relação ao osso temporal. Os autores indicam a planigrafia quando anormalidades ósseas são suspeitadas mas a panorâmica dá resultadonegativo. Kamelchuk et al51 (1997) fizeram uma análise comparativa da planigrafia e da ressonância magnética das ATMs de 41 adolescentes assintomáticos. A ressonância magnética foi tomada como padrão--ouro no estudo dos desarranjos internos (má posição do disco) da articulação. Neste sentido, a planigrafia apresentou uma sensibilidade de 0,43 e uma especificidade de 0,80 e foi considerada inapropriada como exame de diagnóstico da posição do disco articular. Os autores definiram sensltividade como a capacidade de um teste em identificar corretamente o parâmetro de uma doença, responder se a doença está presente ou não e qual é a sua frequência. Já a especificidade é definida como a capacidade de um teste em identificar a ausência de uma doença e responder a quantas vezes o teste dá negativo uma vez que a doença não está presente. Wiberg & wanman120 (1998) pesquisaram os sinais de osteoartrose da ATM em 131 jovens pacientes com DTM. As idades dos pacientes variaram de 12 a trinta anos e a planigrafia foi utilizada neste estudo. Os autores encontraram uma alta prevalência de osteoartrose (87%) nas planigrafias da amostra, compreendendo aplainamento, erosão e osteófíto nas estruturas ósseas da ATM. Entretanto, os autores não se julgaram em condições de tirar conclusões a respeito destes dados, ressaltando a importância de mais pesquisas sobre o tema. Mongini77 (1998), através de seus estudos, demonstrou que a erosão e alterações hipertróficas da porção óssea da ATM podem ocorrer antes que a maioria dos indivíduos com artrite demonstre desconforto em qualquer outro osso do corpo. Ele mostrou que muitos pacientes com DTM já trazem evidências radiográficas de alterações condilares e que com a progressão dessas alterações, o resultado dos tratamentos para a disfunção torna-se bastante reduzido, Assim, a detecção precoce de alterações ósseas da ATM através de planigrafias e radiografias poderia favorecer uma intervenção precoce e um melhor prognóstico para o paciente. Pullinger & Seligman91 (2001) analisaram o tamanho do espaço articular superior, a profundidade da fossa mandibular e o formato 47 da eminência articular em 84 planigrafias de pacientes com diagnóstico clínico de deslocamento de disco com redução e em 78 planigrafias de pacientes com deslocamento de disco sem redução. Todos os indivíduos eram do sexo feminino. Os autores observaram que um espaço articular superior aumentado, uma fossa mandibular rasa e uma eminência arredondada estiveram fortemente associados ao deslocamento de disco com redução. O inverso esteve associado ao deslocamento de disco sem redução. Major et ai 70 (2002) avaliaram por planigrafia convencional a superfície óssea articular da ATM de 175 indivíduos e compararam os achados com as relações espaciais associadas ao deslocamento de disco e comprimento discai vistas pela IRM destes mesmos indivíduos. O objetivo do estudo foi determinar se existem relações entre as alterações ósseas da ATM e o seu desarranjo interno (posição discai e alteração de forma e sinal do disco). Houve associações entre deslocamento de disco e pinçamento anterior, aumento do espaço posterior, aumento do espaço anterior e redução da convexidade da eminência articular. O estudo demonstrou que o desarranjo interno da ATM está associado à adaptação óssea funcional da mesma. Com o advento da artrografia (NORGAARD', 1944, citado por TRUMPY et al. 119, 1997), o diagnóstico dos desarranjos * NORGAARD. F. Arthrogmphy ofthc mandibular joint. Acta Radio!, v.25, p.679-85,1944 48 internos da ATM teve uma grande evolução, pois essa técnica permitiu a visualização e o diagnóstico das alterações da ATM, tornando possível estabelecer planos de tratamento mais racionais e adequados (BRONSTEIN et al. 11 , 1981). A técnica artrográfica consiste em injetar um meio de contraste líquido, em geral a base de iodo, no compartimento inferior da articulação, fazendo-se antes o bloqueio anestésico do nervo aurícula-temporal. A seguir, radiografa-se a articulação em posições de boca fechada, semi-aberta e aberta (DONLON & MOON26, 1987). Geralmente contava-se com a ajuda de um fluoroscópio para a obtenção das imagens radiográficas. O fluoroscópio é um anteparo fluorescente, com tungstato de cálcio, que permite a visualização de estruturas profundas pelo raios-x (DORLAND", 2001; HOUAISS ... , 1994). Durante várias décadas a artrografia foi amplamente estudada e utilizada em pacientes e muito contribuiu para o entendimento das patologias da ATM pois, até há pouco tempo, era o único meio disponível de observar seu interior. Por isso ela foi responsável pela introdução do conceito de desarranjo interno da ATM (DELFINO & EPPLEY22 1986). Segundo Westesson & Katzberg124 (1996), desarranjo interno é um termo ortopédico que define uma alteração mecânica que impede o funcionamento normal de uma articulação. Mais adiante esse assunto será abordado em mais detalhes. '"*DORLAND, W.A.N. Dorlanll's illustmtcll medical dictionary 2RcJ. St.Louís: Saunders, 1994.p.518. ***I-IOUAISS, A. Didomlrin Houaiss da língua portuguesa. Rio de Jnneíro:Objctiva, 200\.p.\361. 49 As vantagens da artrografia estavam ligadas à visualização do disco articular em sua posição (anteriorizado ou não e com ou sem recaptura, durante a abertura bucal), o que não era possível com as radiografias transcranianas ou panorâmicas, e em sua morfologia (particularmente na detecção de perfurações discais). Contudo, a técnica difícil e dolorosa, a invasividade, a possibilidade de reações alérgicas devidas ao uso de contraste iodado e a alta dose de radiação são apontadas como desvantagens da artrografia (DONLON & MOON26, 1987}. Com o passar dos anos surgiram modificações na técnica artrográfica e foram incorporadas novas tecnologias, especialmente após o desenvolvimento da tomografia computadorizada (TC} e de sua aplicação no estudo da ATM. A tomografia computadorizada, desenvolvida em 1973 por Cormack, permitiu pela primeira vez a visualização das estruturas ósseas da ATM sem distorções ou sobreposições de estruturas ósseas adjacentes (ROTHMAN96, 1998). Suarez et al. 112 (1980) realizaram um estudo pioneiro sobre o assunto, onde, além de delimitar as estruturas ósseas anatômicas da articulação, fizeram estudos tridimensionais de ATMs de cadáveres em cortes sagitais, axiais e coronais. Aproveitando os subsídios desse trabalho, Katzberg et al. 53 (1981) sugeriram o uso combinado da artrografia e da tomografia computadorizada. Eles aplicaram a técnica artrográfica, já descrita 50 anteriormente, em pacientes com suspeitas de desarranjos internos da ATM e, posteriormente, submeteram-nos à tomografia computadorizada. Concluíram que o deslocamento anterior do disco era o achado mais prevalente nos pacientes com dor e limitação de abertura bucal unilaterais e que a artrografia, aliada à TC, tinha sido uma ferramenta fundamental no diagnóstico dos casos estudados. Mais tarde, Delfina & Eppley?' (1986) estudaram 287 pacientes com disfunção das ATMs, comparando os seus exames artrográficos e tomográficos com achados cirúrgicos. Observaram que a artrografia teve alto grau de correlação com as reais alterações patológicas do disco articular, embora apresentando 15% de falsos positivos na detecção das perfurações discais, enquanto a TC mostrou alto grau de correlação com as alterações ósseas das ATMs estudadas. Aproveitando esses subsídios, Greenwood37 (1989) comparou a artrografia e a tomografia computadorizada na avaliação pré- cirúrgica das ATMs de 1 06 pacientes com dores, sons articulares e limitação de abertura bucal. Concluiu que a artrografia teve uma grande correlação com o grau de anteriorização do disco articular e a TC com as alterações ósseas da articulação. Em 1985 Cohen et ai. 18 propuseram um maior aproveitamento dos recursosde imagem disponíveis na TC para o estudo da ATM, através do sistema blink mode ou janela para tomografia, que é um recurso computacional que permite ao operador evidenciar uma faixa 51 de densidade tecidual. Assim, os autores submeteram alguns pacientes com sinais e sintomas de desarranjos da ATM aos exames de TC em planos sagitais, coronais e axiais. Para facilitar a observação do disco articular, a faixa de densidade do tomógrafo era trabalhada, ficando concentrada na densidade do tecido fibroso do disco articular e desta forma evidenciando-o. Em função das dificuldades de interpretação, Heffez et al. 46 (1988) contestaram o uso das janelas de densidade do tomógrafo para a evidenciação do disco articular. Como a densidade do disco é muito próxima à dos tecidos moles adjacentes, ficava muito difícil determinar a correta posição do disco, especialmente se o mesmo tinha espessura fina ou normal. Além disso, a técnica não fornecia informações sobre a morfologia do disco em todos os casos. Com base nesses argumentos, estes autores propuseram uma nova técnica, a artrografia por TC com o uso de duplo contraste. O compartimento inferior da ATM recebia uma injeção de meio de contraste iodado, seguindo o protocolo da artrografia clássica. Em sequência, injetava-se ar no compartimento superior da ATM e com a ajuda da fluoroscopia e da tomografia computadorizada, realizavam-se cortes tomográficos sagitais, axiais e coronais. A visualização do disco em sua posição e morfologia era muito precisa com essa técnica. Mas os próprios autores ressaltam a necessidade de pessoal treinado, a invasividade e a dificuldade de realização da artrografia por duplo contraste. 52 Tanimoto et al. 115 (1989) compararam a tomografia computadorizada com janela para o disco articular com a artrotomografia com contraste único em ATMs de cadáveres. Concluíram que a artrotomografia foi superior à TC, sendo que a primeira mostrou 76% de acerto na detecção da posição do disco e 60% na sua morfologia. Já a tomografia computadorizada mostrou tendência a falsos negativos, obtendo 40% de acerto na determinação da posição do disco e 26% na descrição de sua morfologia. Assim, apesar da artrotomografia ser uma técnica mais dificil e invasiva que a TC, ela apresentou malar eficácia. Macmahon68 (1993) defendeu a artroscopia, técnica cirúrgica onde a ATM é visualizada por meio de micro-câmeras de televisão, como meio de diagnóstico e tratamento das patologias da ATM. Segundo este autor, essa técnica propicia a interpretação dos estados normais e alterados da articulação e ainda alivia dores articulares com a lavagem da ATM. Porém, Christiansen & Thompson17 (1990) alertaram que a exploração artroscópica é um procedimento invasivo com riscos ao paciente, modificando irreversivelmente o funcionamento da ATM. Com o surgimento da tecnologia da imagem por ressonância magnética (IRM) e da sua utilização no estudo dos desarranjos das ATMs, introduzida por Helms em 1984, Trumpy et al. 119 (1997) fizeram um estudo comparativo entre IRMs das ATMs, artrografia e achados cirúrgicos de 65 articulações. Observaram que a artrografia tendia a superestimar o diagnóstico de patologias articulares, mostrando 53 uma precisão de 88% na detecção da posição discai e de 53% quanto à perfuração de disco. Já a JRM mostrou uma precisão de 80 a 90% na detecção da posição discai e mostrou ser tão eficaz quanto a artrografia na determinação do deslocamento do disco (DONLON & MOON26, 1987). A artrografia somente supera a IRM na determinação das perfurações discais, segundo Donton & Moon26 (1987), que também realizaram um estudo comparativo semelhante. A IRM apresenta vantagens em comparação à artrografia, pois não oferece riscos ao paciente, não usa radiação ionizante e permite uma excelente visualização do disco e das estruturas da ATM. Frente a esses dados, Donlon & Moon26 (1987) e Trumpy et al. 119 (1997) recomendam a substituição da técnica artrográfica pela ressonância magnética. 2.4.2 Ressonância magnética A ressonância magnética (RM) é uma técnica de imagem não-invasiva, usada na Medicina para produzir imagens de alta resolução do interior do corpo humano (HORMACK49 , 2002). Ela é baseada nos princípios da ressonância nuclear magnética, uma técnica usada pelos cientistas para se obter informações microscópicas, químicas e físicas sobre moléculas. Hoje prefere-se somente o termo ressonância magnética, ao invés de ressonância nuclear magnética, em virtude das 54 associações negativas com a energia nuclear no final dos anos 70. Foi descoberta em 1946 por Felix Block e Edward Purcel, vencedores do Prêmio Nobel de Fisica de 1952. No período de 1950 a 1970 a imagem por ressonância magnética foi usada em análises físicas e químicas. Em 1975 Ernst propôs um código de fase e freqüêncla para o uso da ressonância magnética em Medicina, o que muito expandiu seu campo de aplicação. Foi o inicio da IRM atual (COSTA19 , 1999). A IRM é uma imagem essencialmente tomográfica, isto é, produz imagens de uma fina fatia através do corpo humano. Cada uma dessas fatias é composta por diversas unidades volumétricas, chamadas voxels (o volume de cada voxel é de 3mm'). A imagem por ressonância magnética é produzida pela ação de um potente magneto sobre o corpo humano, aliada à ação de ondas de radiofreqüência. Ressonância quer dizer Junção de duas ou mais freqüências (HOUAISS.,2001) mas a explicação do modo de produção dessa imagem envolve profundos conhecimentos de física. Faremos aqui uma explanação sucinta de como a IRM é obtida, sem contudo nos atermos propriamente à matemática envolvida. O magneto é uma estrutura semelhante a um tubo, onde um campo magnético muito forte, de cerca de 30 mil vezes o da Terra, é gerado por uma grossa bobina de fio resfriada com hélio liquido até próximo do zero absoluto (KATZBERG & WESTESSON52, 1994). • IIOUAlSS, A Diciun{lrio Houaiss da língm1 pnrrugucsu. Rio de Janeiro: Objdtva, 200 Lp.l36 L 55 Para melhor entendermos este processo precisamos recordar que um átomo é constituído basicamente por um núcleo e uma camada de elétrons. No núcleo, além de outras partículas, existem os prótons, que têm carga elétrfca positiva. Os prótons podem ser comparados a pequenos planetas. Como a Terra, eles estão constantemente rotacionando e essa rotação é denominada spin. A carga elétrica do próton gira Junto com ele; é pois, uma carga elétrica em movimento: uma corrente elétrica. Sabemos que uma corrente elétrica induz uma força magnética, formando um campo magnético. Desta forma, o próton tem um campo magnético ao redor de si, como um pequeno ímã, com pólos norte e sul. Quando colocado sob a ação de um campo magnético externo (magneto do aparelho de ressonância magnética), o próton se alinha a esse campo. Existe, porém, uma diferença entre os prótons e os ímãs: enquanto os ímãs só se alinham em uma única direção, os prótons podem se alinhar na direção norte ou sul com o campo magnético externo, ou seja, paralelamente ou anti-paralelamente a ele (SCHILD103 , 1990). Os prótons alinhados paralelamente ao campo magnético estão num nível de energia mais baixo e constituem a maioria dos prótons, enquanto os prótons alinhados anti-paralelamente ao campo magnético externo estão num nível de energia mais alto. 56 Alinhados ao campo magnético, os prótons continuam a girar numa freqüêncía própria, chamada de freqüência de precessão (Wo), que nos diz quantas vezes por segundo o próton gira. A equação de Larmor calcula essa freqüência pela seguinte fórmula: Wo= y.Bo FIGURA 2- Fórmula da equação de Larmor, que calcula a frequência de precessão. Wo é a freqüência de precessão, medida em Hz ou MHz, Bo é a força do campo magnético externo, medida em T esla (1T=10.000 Gauss) e y é a taxa giromagnética, uma constante para cadaelemento da tabela periódica. Assim, o Wo para o próton hidrogénio (H) é de cerca de 42 MHz num campo magnético (Bo) de 1 Tesla. Os aparelhos de RM têm magnetos que variam de 0,3 a 3,0T (para uso em pesquisas), sendo que os mais potentes são mais velozes e produzem imagens melhores (FOLKERS & BOESIGER32 , 2001 ). Um aparelho de RM de uso clínico atual tem entre 1 e 1 ,5T. A IRM é baseada no comportamento do próton de hidrogénio, já que o mesmo é abundante no organismo humano. O corpo 57 humano é constituído, em grande parte, por gordura e água, e essas substâncias contêm muito hidrogênio. Quando colocamos o paciente no aparelho de ressonância magnética, ele próprio se torna um magneto: é a chamada magnetização natural. Os prótons de hidrogênio do nosso organismo se alinham com o campo magnético do aparelho, alguns de maneira paralela e outros antiparalelamente. Como a maioria dos prôtons se alinha paralelamente ao campo magnético externo, num nível de baixa energia, a resultante do campo magnético do organismo será paralela ao campo magnético externo (Bo). Contudo, não conseguimos medir essa magnetização, visto que a mesma está alinhada ao campo magnético externo. Por isso, enviamos ao paciente ondas de radiofreqüência (RF, ondas eletromagnéticas na freqüência do rádio), que irão perturbar os prótons. Mas nem todas as ondas de radiofreqüência atrapalham o movimento dos prótons, somente aquelas que estiverem na mesma freqüência destes. Esta freqüência é calculada pela equação de Larmor, descrita anteriormente. Assim, aquelas ondas de RF que atingem os prôtons trocam energia com eles, num fenômeno chamado ressonância. Recebendo energia, alguns prótons passam do estado de baixa para alta energia, diminuindo assim a resultante inicial do campo magnético do paciente, que estava alinhada paralelamente ao campo magnético do aparelho. Além disso, a onda de radiofreqüência faz com que todos os prótons passem a girar em fase, sincronizados e apontados 58 para uma direção transversal. Esta é a chamada magnetização transversal, que induz uma corrente e!étrica que pode ser medida e captada pela antena do aparelho de RM como um sinal (SCHILD103, 1990). Quando desligamos a onda de radiofreqüência, os prótons tendem a devolver a energia que lhes foi dada. Assim, a magnetização transversal tende a desaparecer e a longitudinal tende a ser como inicialmente, num processo conhecido como relaxamento. O tempo necessário para se retornar à magnetização longitudinal, ou melhor, a 63% dela, é o relaxamento T1, e é constante para cada tipo de tecido. Já o tempo que leva para a magnetização transversal desaparecer, na verdade para desaparecer 37% dela, é o chamado relaxamento T2, sendo também constante para cada tipo de tecido (BROWN et al. 14, 1998). Para efeitos práticos, T1 e T2 são imagens de ressonância magnética distintas, onde a água e os fluidos são escuros em T1 e claros em T2. Existem ainda sequências de ondas de RF que produzem uma magnetização de 90° em relação à magnetização longitudinal. A seguir é lançada uma outra onda de RF que promove uma magnetização a 180" sobre a de 90". Produz-se então um forte sinal de RM, o spin-echo. 59 Em geral T1 e T2 são sequências demoradas e o tempo de permanência do paciente dentro do magneto pode contribuir para que os seus movimentos tragam artefatos na imagem. Por isso foram desenvolvidas sequências mais rápidas, como FLASH (Fast Low Angle Shot) e GRASS (Gradient Recal/ed Acquisition on a Steady State), que são compostas por complicadas sequências de ondas de RF, obtendo-se a imagem desejada mais rapidamente (SCHELLHAS101 , 1988). Também se utilizam bobinas de radiofreqüências para a obtenção de imagens de RM, especialmente para o estudo das articulações temporomandibulares. O seu uso diminui sensivelmente o tempo do exame (KATZBERG & WESTESSON52 , 1994) registrando o sinal emitido pelo tecido após a emissão da RF (COSTA", 1999). Algumas vezes, especialmente em casos de suspeita de patologias mais complexas, utilizam-se meios de contraste para a ressonância magnética, os chamados meios de contraste paramagnéticos. São substâncias que têm pequenos campos magnéticos próprios e que diminuem o tempo de relaxamento dos prótons circundantes, e cujos efeitos são potencializados quando submetidos a um campo magnético externo. O alumínio, o ar e o paládio são exemplos de materiais paramagnéticos na natureza (KRAUS60, 1984). O nosso organismo naturalmente apresenta algumas substâncias paramagnéticas, como os produtos de degradação da hemoglobina, encontrados nos hematomas. Na lRM, o Gadolinium®, uma terra rara, é o contraste paramagnético mais utilizado (SCHILD103, 1990). Existem poucas e relativas contra-indicações do exame de RM para as ATMs. Algumas reações claustrofóbicas, quando ocorrem, podem ser aliviadas por meio de sedação do paciente (HARMS & WILK"', 1997). Aparelhos ortodônticos e restaurações raramente prejudicam as imagens. Contudo, o magneto do aparelho de ressonância magnética pode acelerar e puxar objetos ferromagnéticos próximos a ele ou ainda que estejam dentro do próprio paciente. Em virtude desse fato, pacientes portadores de marcapassos, clipes aneurismáticos cerebrais e outros objetos metálicos ferromagnéticos não devem ser submetidos a exames de RM (COSTA19, 1999). 2.4.3 Ressonância magnética da ATM A IRM da ATM é uma técnica não-invasiva e não- ionizante que permite a visualização dos tecidos moles (disco articular, ligamentos, músculos, cartilagem articular e zona bilaminar} e duros da ATM (superfícies articulares da cabeça da mandíbula e da fossa mandibular), em estudos estáticos (paciente com a boca fechada) e dinâmicos (paciente com a boca semi-aberta e aberta, nos planos axial, 61 sagital e coronal), segundo Cholitgul et al. 15(1997), Kirk Júnior". (1989) e Santler et al.98 (1993). A IRM é hoje considerada o exame padrão-ouro para estudos da ATM. E o único exame por imagem que de forma não-invasiva consegue mostrar alterações de forma do disco articular e demais tecidos moles da ATM, embora se saiba que as alterações ósseas desta articulação, exceção da visualização do edema e da necrose condilar, sejam melhor observadas em exames radiográficos (STYLES & WHYTE110 , 2002). Dentre as vantagens da lRM, segundo Katzberg & Westesson52(1994), está a não utilização de radiação ionizante (o que é especialmente importante, já que a maioria dos pacientes é jovem e do sexo feminino) e a obtenção de imagens da anatomia e dos processos patológicos em alta resolução, com grande diferenciação entre os tecidos moles, em vários planos, sem que haJa necessidade de mudança de posição do paciente. Como a lRM é baseada em gradações de cinza, sendo que cada tipo de tecido emite um sinal de ressonância específico, dizemos que um tecido mostra hipersinal quando aparece em cinza muito claro ou branco, sinal intermediário quando aparece cinza médio, e hiposinal quando a imagem é em cinza escuro ou preto. 62 Assim, cada estrutura da ATM mostra um sinal de ressonância específico em sua anatomia normal e outro quando sua morfologia está alterada. No exame de ressonância magnética das ATMs, o paciente é posicionado em decúbito dorsal na mesa do aparelho, já com a bobina específica para o exame acoplada. A seguir, é necessária a inserção de alguns parâmetros no aparelho. Estes parâmetros para o exame costumam variar ligeiramente de uma clínica de diagnóstico por imagem para outra, mas são basicamente os seguintes: Planos de imagem: a) axial: perpendicular à altura do paciente. É usado para a localização das cabeças da mandíbula e para a programação dos cortes subsequentes; b) sagital: paralelo à sutura sagital do crânio. É o plano de corte padrão. Na realidade, utiliza-se um plano sagital oblíquo para compensar
Compartilhar