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6
Rev. Bras. Pl. Med., Botucatu, v.9, n.3, p.6-22, 2007.
Recebido para publicação em 24/05/2005
Aceito para publicação em 10/05/2006
Estudo etnobotânico junto à Unidade Saúde da Família Nossa Senhora dos
Navegantes: subsídios para o estabelecimento de programa de fitoterápicos na Rede
Básica de Saúde do Município de Cascavel (Paraná)
NEGRELLE, R.R.B.
1
*; TOMAZZONI, M.I.
2
; CECCON, M.F.
1
; VALENTE, T.P.
1
1
Laboratório OIKOS, Dep. Botânica, Universidade Federal do Paraná. Cx. P. 19023. Curitiba, PR. CEP 81531-970
2
Curso de Farmácia, Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE. R. Carlos de Carvalho, 3496.
Cascavel, Paraná. CEP 85801 – 130. *negrelle@ufpr.br (autor p/ correspondência)
RESUMO: Realizou-se estudo etnobotânico visando gerar subsídios para o estabelecimento de
programa de uso de fitoterápicos na Rede Básica de Saúde do Município de Cascavel/PR.
Aplicaram-se entrevistas semi-estruturadas a 50 famílias pertencentes a área de abrangência da
Unidade Saúde da Família Nossa Senhora dos Navegantes. Durante as entrevistas, além de
informações sobre condições sócio-econômicas dos entrevistados, foram registradas as seguintes
informacões sobre as plantas utilizadas: nome comum, parte usada, modo de preparo e
administração. Adicionalmente, efetuou-se análise comparativa dos dados obtidos nas entrevistas
com os constantes na literatura pertinente, de modo a identificar incongruências e informações
complementares. Dentre as famílias entrevistadas, 96% indicaram fazer uso de plantas medicinais
em função de conhecimento herdado de antepassados. Um total de 271 citações etnobotânicas
foram registradas, englobando 75 morfoespécies, sendo 63 identificadas em nível específico, 7
em nível genérico e 5 não foram associadas a um taxon específico. As espécies citadas em
maior número de entrevistas foram Mentha sp. (37 entrevistas) e Cymbopogon citratus (DC) Stapf
(30); Rosmarinus officinalis L. (26), Plectranthus neochillus Schlechter (24), Artemisia absinthium
L. (22), Foeniculum vulgare Mill (22) e Tanacetum vulgare L. (22). A maioria dos entrevistados
relatou não buscar orientação médica para o uso de plantas medicinais. Isto representa um fator
de preocupação que deve ser considerado pelos atores sociais do setor de saúde bem como por
aqueles envolvidos na educação comunitária, dado que 80% do total das espécies registradas
neste estudo apresentam registro de toxicidade e contra-indicações de uso conforme literatura
consultada. Apresentam-se recomendações para diferentes atores envolvidos nesta problemática.
Palavras-chave : plantas medicinais, atenção primária à saúde, plantas tóxicas
ABSTRACT: Ethnobotanical study near by the Family Health Care Unit of Nossa Senhora
dos Navegantes: subsidies for the establishment of the program of phytotherapics in the
Public Health System of the municipality Cascavel, Parana State, Brazil. An ethnobotanical
survey was carried out aiming to provide basis for the establishment of a phytotherapy program
within the Health Care System at Cascavel Municipality (Parana State, Southern Brazil). Semi-
structured interviews with 50 families that were registered at the Nossa Senhora Navegantes
Family Health Care Unit were performed. During the interview, besides the general information
about socio-economic conditions of the interviewee, the following information about the plants
used was recorded: vernacular name, part used, preparation and mode of administration. Additionally,
a comparative analysis of the interview and literature data was performed, searching inconsistency
and complementary information. Ninety six percent the interviewed families reported the phytoterapic
usage as a heritage/ familiar knowledge. Two hundred seventy one ethnobotany references were
recorded. Seventy five morphospecies were reported, being 63 identified in specific level, 7 in
generic level, and 5 that were not associated to a specific taxon. Mentha sp. (37 interviews) and
Cymbopogon citratus (DC.) Stapf (30); Rosmarinus officinalis L. (26), Plectranthus neochillus
Schlechter (24), Artemisia absinthium L. (22), Foeniculum vulgare Mill (22) and Tanacetum vulgare
L. (22) were the most cited species. The majority of the interviewees indicated that they do not
seek medical orientation for the use of medicinal plants. Eighty percent of the recorded species
have been reported by the scientific literature as toxic or with usage restrictions. This represents
7
Rev. Bras. Pl. Med., Botucatu, v.9, n.3, p.6-22, 2007.
a factor of risk that should be considered by the Health System and by those involved in the
community health education. Recommendations for the different social actors in this scenary are
presented.
Key words : medicinal plants, primary health attention, toxic plants
INTRODUÇÃO
A medicina tradicional - conceituada como
práticas baseadas em crenças, sendo parte da
tradição de cada país, onde passa de uma geração a
outra - tem sido difundida pela Organização Mundial
de Saúde (OMS) como um pilar essencial nos
cuidados primários de saúde (vide World Health
Assembly (WHA) Res. 29.72 -1976; WHA Res. 30.49-
1977 e WHA Res. 44.34, 1991). A partir desta base,
estabeleceu-se um programa mundial com a finalidade
de utilizar e avaliar os métodos da chamada “medicina
tradicional” (Akerele, 1988). Adicionalmente, na
Conferência Internacional de Cuidados Primários em
Saúde, sob o tema “Saúde para todos no ano 2000”,
foi incentivada a valorização das terapias tradicionais,
entre elas a fitoterapia, sendo estas reconhecidas
como recursos possíveis para a viabilização do objetivo
proposto, como uma forma mais fácil e economicamente
viável de aumentar a cobertura de atenção primária à
saúde nos países onde a estrutura de serviços é
insuficiente (OMS/UNICEF, 1979). A Conferência
Internacional sobre Conservação de Plantas
Medicinais adotou a Declaração de Chiang Mai
“Salvem as Plantas que Salvam Vidas”, colocando as
plantas medicinais, o seu uso racional e sustentável e
sua conservação no cenário político e de interesse
da saúde pública (Akerele, 1988).
No Brasil este tema tem sido discutido em
diversas oportunidades desde a 8a Conferência
Nacional de Saúde, quando foi recomendada a
introdução das práticas tradicionais de cura popular
no atendimento público de saúde (Conferência
Nacional de Saúde, 1986). Seguindo esta orientação,
na 10a Conferência Nacional de Saúde, ocorrida em
Brasília em 1996, deliberou-se incorporar as terapias
alternativas e práticas populares no Sistema Único
de Saúde (SUS). Nesta mesma oportunidade,
incentivou-se a introdução da fitoterapia e da
homeopatia na assistência farmacêutica pública,
propondo-se o emprego de normas para sua utilização
após ampla discussão com os profissionais de saúde
e especialistas (Eldin & Dunford, 2001).
A partir destas recomendações, gerou-se um
crescente interesse de gestores municipais de saúde
na implantação de programas de fitoterapia em
unidades de saúde como alternativa medicamentosa
de vários municipios brasileiros, como por exemplo,
Vitória (ES), Curitiba (PR); Londrina (PR), Campinas
(SP) e João Pessoa (PE); entre outros. Para a quase
totalidade destes Municípios, os resultados da
implantação do programa são avaliados como
satisfatórios tanto para os profissionais como para
os usuários do Sistema Público de Saúde. No
Município de Vitória, chegou-se a obter uma economia
em torno de 300% na produção própria de
medicamentos fitoterápicos cientificamente
comprovados (Espírito Santo, 2003). Em Curitiba,
81,90% das unidades de saúde já faziam a utilização
da fitoterapia como opção terapêutica em
2001(Curitiba, 2003).
Entretanto, como apontado por Leite (2000),
o interesse por parte de gestores municipais na
implantação de programas de uso de fitoterápicos na
atenção primária à saúde, muitas vezes aparece
associado apenas à concepção de que esta é uma
opção para suprir a falta de medicamentos na
impossibilidade de disponibilização destes, já que na
maioria das vezes contabilizam-se os ganhos em
custos gerados pelautilização dos fitoterápicos. Para
esta autora, além da viabilidade econômica e da ação
terapêutica que tem sido comprovada para muitas
das plantas utilizadas popularmente, a fitoterapia
representa parte importante da cultura de um povo
que não pode ser desconsiderada. Assim, a utilização
de plantas medicinais tem sido muitas vezes
considerada como um fato desvinculado da
assistência à saúde como um todo e vista como
simples medicação. No entanto, segundo Hufford
(1997), sistema de saúde que adota a fitoterapia deve
incorporar um conjunto de atitudes, valores e crenças
que constituem uma filosofia de vida e não meramente
uma porção de remédios.
Neste contexto, o saber popular poderia ser
utilizado como base para a pesquisa científica sobre
plantas medicinais, contribuindo com os profissionais
da área de saúde no sentido de buscar subsídios
para a introdução de espécies em programas de
fitoterapia na rede de atendimento básico de saúde.
Poderia ainda contribuir para o sistema local de saúde
e ajudar a desenvolver o potencial econômico inerente
às plantas de valor medicinal (Akerele, 1988).
Assim como as plantas podem representar
remédios poderosos e eficazes, o risco de intoxicação
causada pelo uso indevido das mesmas, deve ser
sempre levado em consideração. A observância às
dosagens prescritas e o cuidado na identificação
precisa do material utilizado pode evitar uma série de
acidentes (Lorenzi & Matos, 2002). Desta forma, a
8
Rev. Bras. Pl. Med., Botucatu, v.9, n.3, p.6-22, 2007.
identificação das plantas utilizadas pela população,
a fonte de obtenção destas e indicações de uso,
poderiam revelar possíveis problemas existentes
nesse processo, ao mesmo tempo poderiam indicar
a potencialidade existente nas comunidades para
produzir localmente plantas medicinais a serem
utilizadas na rede municipal de saúde.
O uso de ervas medicinais, muitas delas
cultivadas no próprio quintal, é uma prática secular
baseada no conhecimento popular e transmitida
oralmente, na maior parte das situações. Numa
população com baixo acesso a medicamentos,
agregar garantias científicas a essa prática
terapêutica poderia trazer diversas vantagens. Desta
forma, a implantação de um programa de produção,
cultivo, elaboração e distribuição de plantas
medicinais na atenção básica à saúde poderia garantir
à população o acesso a medicamentos, diminuindo
custos e valorizando o saber popular.
Especificamente para o Município de
Cascavel, o modelo de atenção à saúde desenvolvido
prioritariamente caracteriza-se pelo atendimento
clínico medicamentoso, centrado no tratamento/cura
de doenças. Em virtude deste modelo apresentar
sérias limitações, buscou-se alterá-lo de forma a
incorporar a esse a prática de vigilância à saúde
baseado no perfil epidemiológico da população local.
Para tanto, como uma das estratégias para o alcance
desse objetivo, o município aderiu à implantação do
Programa de Agentes Comunitários de Saúde e do
Programa Saúde da Família, os quais se caracterizam
pela identificação precoce das condições de risco
nas quais as famílias estão inseridas, dando ênfase
na prevenção de doenças (Tomazzoni, 2004).
 Desde então, a equipe de saúde local vem
interagindo com a comunidade nos cuidados básicos
e educação para a conquista da saúde. Suas ações
estão direcionadas ao núcleo familiar com especial
atenção aos grupos de maior risco de adoecer ou
morrer, dentro de uma base territorial definida. As
ações a serem realizadas pela equipe de saúde
baseiam-se nos problemas e potencialidades de
saúde identificados nos territórios, contribuindo para
a construção e a consolidação de um modelo
assistencial em saúde que atenda as necessidades
dos indivíduos de forma integral. Neste contexto, a
inserção de um programa de uso fitoterápicos na Rede
Básica de Saúde do Município tem sido visualizada
como uma alternativa bastante atrativa e promissora
tanto para o gestor quanto para para os profissionais
e usuários do Sistema Público de Saúde, como
apontado em Tomazzoni (2004).
Nesta perspectiva, o presente estudo teve
como objetivo ampliar o conhecimento sobre a relação
da comunidade de Cascavel com o uso de plantas
medicinais, visando gerar subsídios para o
planejamento e introdução do uso de fitoterápicos na
Rede Básica de Saúde do Município de Cascavel/
PR. Especificamente, visou-se realizar estudo
etnobotânico de modo a identificar a utilização de
plantas medicinais na realidade da população da área
de abrangência do projeto, contemplando: a)
Identificação de espécies ainda não citadas na
literatura como medicinais ampliando o escopo das
possibilidades fitoterapêuticas; b) Comparação do
emprego de plantas medicinais pela população
estudada com o descrito na literatura, de modo a
identificar incongruências e riscos de utilização
inapropriada; c) a partir da análise dos dados obtidos,
apresentar recomendações a distintos atores sociais
visando subsidiar o planejamento e introdução do uso
de fitoterápicos na Rede Básica de Saúde do
Município de Cascavel/ PR.
MATERIAL E MÉTODO
Local do estudo
O estudo foi desenvolvido em Cascavel,
município localizado no Terceiro Planalto, na região
extrema do Oeste Paranaense (24º 58' Sul; 53º e 26'
Oeste). Este Município conta com 266.604 mil
habitantes (IBGE, 2004), sendo a maioria deste
concentrado na área urbana. Cerca de 93% deste
contingente populacional é constituído basicamente
por migrantes gaúchos e catarinenses, predominando
a cultura italiana, alemã, polonesa e portuguesa.
Em Cascavel, a rede pública de saúde que
oferece serviços na atenção primária é composta por
31 Unidades de Saúde, sendo 23 na área urbana e 8
na área rural. Dentre estas, para o desenvolvimento
desta pesquisa, selecionou-se a Unidade de Saúde
da Família (USF) Nossa Senhora dos Navegantes,
localizada no Distrito de São João, distante
aproximadamente 15 Km do perímetro urbano. Esta
Unidade de Saúde foi implantada em junho de 2002,
com o objetivo de oferecer serviços de saúde 8 horas
por dia, dentro da lógica do Programa Saúde da Família
que consiste no desenvolvimento de estratégia que
busca atribuir maior capacidade de resposta às
necessidades básicas de saúde da população de sua
área de abrangência. Adicionalmente, busca gerar
novas políticas setoriais, afirmando a
indissociabilidade entre os trabalhos clínicos e a
promoção da saúde conforme apontado em Brasil
(2001).
A escolha desta USF para a realização desta
pesquisa deveu-se a esta comunidade de usuários
possuir residência fixa e apresentar interesse pelo
tema “fitoterapia”, demonstrado por lideranças
comunitárias no desenvolvimento de trabalhos
anteriores em prol do resgate e valorização da cultura
daquela população, conforme Tomazzoni (2004).
A área de abrangência da USF Nossa
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Senhora de Navegantes, corresponde a 12
comunidades rurais denominadas: Alto Bom Retiro;
Jangadinha; Cerro Verde; Nossa Senhora dos
Navegantes; Rio Diamante; Peroba; Gramadinho; Rio
Quarenta e Sete; Jangada; Rio Saltinho; Jangada
Taborda e São Mateus. No total, esta USF presta
atendimento a 1550 habitantes, distribuídos em 452
famílias. A densidade populacional entre as
comunidades é bastante diversificada sendo
Gramadinho o maior núcleo populacional com 71
familias e Rio Saltinho o menor (8 famílias). A maior
parte da população atendida pela USF é representada
por indivíduos adultos (> 21 e < 60 anos) (59,74%). O
restante dessa população está configurado por
10,77% de bebês (< 1 ano), 22,33% de criança,
adolescentes e jovens (1 até 21 anos) e 7,16% de
indivíduos idosos (> 60 anos).
Durante o desenvolvimento dessa pesquisa,
a USF contava com a seguinte equipe de profissionais:
1 médico clínico geral; 1 enfermeiro; 1 assistente
social; 1 cirurgião dentista; 2 auxiliares de
enfermagem; 1 técnico em higiene bucal; 1 auxiliar
de cirurgião dentista; 6 agentes comunitários de
saúde; 1 motorista e 1 zeladora.
População amostral
O universo amostral correspondeu a 50
famílias que foram identificadas como usuárias da
USF Nossa Senhorade Navegantes e selecionadas
pela técnica de amostragem estratificada proporcional
conforme Costa Neto (1977). Nesta técnica a
determinação do tamanho da amostra é definida pela
proporção do número de famílias da população versus
a quantidade de famílias em cada estrato (cada
comunidade). Desta forma, de um total de 452 famílias,
selecionou-se 50 distribuidas proporcionalmente em
relação ao número de famílias registradas por
comunidade da área de abrangência desta USF. No
âmbito de cada comunidade, estas famílias foram
selecionadas aleatóriamente, por meio de sorteio
simples. A entrevista foi realizada com o membro da
família que estava presente e se disponibilizava para
tal atividade.
No total, a amostra populacional englobou
indivíduos entre 19 e mais de 70 anos, sendo 82 %
destes do sexo feminino (Tabela 1). Com relação à
escolaridade, apenas 2% dos entrevistados referiram
ter concluído o ensino médio, 2% não eram
alfabetizados e 10% informaram apenas saber ler e
escrever. No que diz respeito à religião, 92%
informaram ser católicos. Quanto à procedência, 94%
indicaram ser da região Sul, sendo que destes, 50%
do estado do Paraná. Quanto ao tempo de
permanência na comunidade, 62% dos indivíduos
amostrados explicitaram residir há mais de 10 anos
na mesma localidade e 18% informaram residir há
mais de 30 anos. Quando perguntados sobre a
profissão, 58% declararam serem agricultores e 30%
eram donas de casa (“do lar”).
TABELA 1. Incidência de indivíduos representativos
de diferentes faixas etárias em levantamento
etnobotânico realizado junto aos usuários da Unidade
de Saúde da Família Na Sra dos Navegantes, Cascavel-
PR (dez. 2003 a fev. 2004).
Coleta de dados
Para descrição das características da
amostra populacional, assim como para coleta de
informações sobre as espécies vegetais utilizadas
na terapêutica popular, executou-se pesquisa
exploratório-descritiva envolvendo levantamento
bibliográfico e levantamento junto às comunidades
alvo. A coleta de dados foi realizada no período de
dezembro 2003 a fevereiro de 2004.
 A abordagem feita aos entrevistados foi em
forma de diálogo seguindo um roteiro básico que foi
previamente avaliado por meio de pré-teste, em dois
aspectos fundamentais: a validade e a confiabilidade.
Além da informação sobre a identificação pessoal
(nome completo, endereço, idade, sexo, escolaridade),
durante o diálogo foram anotados dados etnobotânicos
(plantas medicinais utilizadas, modo de uso, finalidade
e fonte de obtenção deste conhecimento). A coleta
destes dados se deu de modo informal, possibilitando
uma maior flexibilidade no contato entre entrevistador
e entrevistado.
Após apresentação e explanação inicial
acerca do objetivo da pesquisa, e desde que tivesse
havido concordância em participar do estudo proposto,
a entrevista era iniciada. No decorrer da entrevista
quando se fez necessário foram feitas algumas
intervenções pertinentes a fim de solicitar
esclarecimento de aspectos importantes relacionados
ao objetivo da pesquisa. Finalizada a entrevista, foi
procedido relato da comunicação verbal de todas as
questões abordadas pelo entrevistado. A opção por
esta forma de registro teve como objetivo evitar o
constrangimento do entrevistado frente ao uso de
10
Rev. Bras. Pl. Med., Botucatu, v.9, n.3, p.6-22, 2007.
gravador, que poderia contribuir para a omissão de
informações importantes.
Para facilitar a aproximação e por entender
que o entrevistado se sentiria mais seguro com a
presença de uma pessoa que já lhe fosse familiar, foi
solicitado, durante a entrevista, o acompanhamento
do Agente Comunitário de Saúde responsável pela
visita domiciliar mensal àquela família. Isto possibilitou
estabelecer um vínculo de confiança entre o
entrevistador e o entrevistado o que foi fundamental
para o aprofundamento dos aspectos pesquisados.
A duração de cada entrevista variou de acordo
com cada entrevistado, dependendo da sua
disponibilidade e número de citações apresentadas,
chegando ao máximo de 2 horas e mínimo de 40
minutos.
Realizou-se adicionalmente a coleta e
herborização das plantas citadas. O material coletado,
a partir da citação do nome vulgar, foi agrupado em
morfoespécies com base em semelhanças
morfológicas as quais foram identificadas em nível de
espécie, sempre que possível. A identificação do
material coletado seguiu os padrões da taxonomia
clássica, feita com base em caracteres morfológicos
florais e utilizando-se, quando possível, vários
exemplares. As determinações foram efetuadas pelos
autores através de chaves analíticas e comparações
com materiais depositados no Herbário UPCB do
Departamento de Botânica da Universidade Federal
do Paraná.
Análise de dados
As indicações de uso popular foram
substituídas por têrmos técnicos correspondentes,
como por exemplo, para “contra febre” utilizou-se
“antipirético”; “para dor de dente” utilizou-se
“odontálgico”; “para pedra nos rins” utilizou-se
“litolítico”. No caso da indicação ser “ serve para tudo”
utilizou-se o têrmo “genérico”.
As informações etnobotânicas coletadas
foram analisadas comparativamente ao exposto em
distintas fontes impressas e eletrônicas, no sentido
de identificar incongruências quanto à indicações de
usos e também riscos de utilização inapropriada.
Entre as fontes consultadas, cita-se: USFDA (2005);
PLANTAMED (2005); HERBMED (2005); Martins et
al. (2000); Conceição (1987); Teske & Trentini (1997);
Almeida (1993); Albuquerque (1990) e Corrêa (1984).
RESULTADO E DISCUSSÃO
A quase totalidade (96%) dos indivíduos
entrevistados (n = 50), independentemente de sexo
ou idade, indicou fazer uso de plantas medicinais,
eventual (54%) ou freqüentemente (46%), quando
utilizam remédios caseiros. 86% dos entrevistados
indicaram o cultivo doméstico de plantas medicinais
que utiliza. Além desta fonte de obtenção, também
foram indicados o comércio (farmácia - 6%), amigos
(42%) e a Pastoral da Saúde (6%).
Nenhum entrevistado indicou a utilização de
plantas medicinais sob orientação médica. Referenciaram
o uso como advindo de indicação de amigos e parentes
(92%), livros especializados (2%), autoconhecimento
(8%), muitas vezes reunindo todas estas alternativas.
Um padrão de respostas semelhante foi obtido com
relação à dosagem, evidenciando-se que a maioria
segue recomendações de amigos e parentes (54%).
Dentre os entrevistados, 10% relataram não se
importar com a dosagem “uma vez que planta não
faz mal à saúde”. A totalidade dos entrevistados não
apresentou registro de casos de envenenamento ou
intoxicação por plantas na família. Isto tanto pode
ser devido à real falta de ocorrência destes processos
no âmbito da comunidade pesquisada como pode
representar não relação, por parte destes entrevistados,
entre causa e efeito durante um episódio indesejável
ocorrido no passado .
Um total de 271 citações etnobotânicas foram
registradas junto aos entrevistados, englobando 75
morfoespécies, sendo 63 identificadas em nível
específico, 7 em nível genérico, 5 não foram associadas
a um taxon específico (Tabela 2). A maioria dos
entrevistados citou mais de uma espécie da qual faz
uso medicinal. A média de citações de plantas
medicinais por questionário foi de 6,36 (valor máximo =
22, valor mínimo = 0, moda = 4).
A família Asteraceae foi a que englobou maior
número de espécies citadas (16 spp), seguida por
Labiateae (14 spp), Amaranthaceae (4 spp),
Verbenaceae (3 spp) e Apiaceae, Juglandaceae,
Malvaceae, Rutaceae e Zingiberaceae (2 spp). As
demais famílias tiveram apenas citação de uma
espécie cada, integralizando 30,6% do total
amostrado.
As espécies citadas em maior número de
entrevistas foram Mentha sp. (37 entrevistas) e
Cymbopogon citratus (DC) Stapf. – capim limão (30).
Outras espécies citadas em relativamente expressivo
número de questionários foram: Rosmarinus officinalis
L. (26), Plectranthus neochillus Schltr. (24), Artemisia
absinthium L. (22), Foeniculum vulgare Mill (22) e
Tanacetum vulgare L. (22) (Tabela 2).
Foram registradas 40 propriedades
terapêuticas distintas relacionadas ao uso domésticodas espécies citadas, ressaltando-se que muitos
entrevistados mencionaram buscar assistência
médica em casos de enfermidades consideradas mais
graves. As propriedades terapêuticas mais freqüentemente
citadas foram: digestiva (76%), calmante (43%),
antigripal (37%), analgésica (30%), antibiótica (22%),
diurética (20%) e hipotensora (20%). A grande maioria
das espécies (35) estava associada a apenas uma
indicação de uso. As demais foram associadas desde
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Rev. Bras. Pl. Med., Botucatu, v.9, n.3, p.6-22, 2007.
2 até 7 distintas utilidades terapêuticas. As espécies
com maior número de indicações terapêuticas (7)
foram Mentha sp., Rosmarinus officinalis e Tanacetum
vulgare (Tabela 2).
Para a quase totalidade das espécies
citadas, o chá foi a forma de uso referenciada pelos
entrevistados. Para apenas 2 espécies – Mentha
viridis (L.) L. e Solidago chinensis Meyen- indicou-se
a tintura como única forma de emprego e, nestes
casos, associado a atividade analgésica e/ou
emoliente para tratamento externo de machucaduras.
Em poucos outros casos, citou-se adicionalmente
ao emprego do chá o uso da mesma planta para
emplastro (p.ex. Aloe vera L.) ou como erva-
desidratada misturada ao chimarrão (p.ex. Lavandula
sp.). A dose administrada variou de acordo com a
indicação, desde uma dose diária até várias ingestões
ou aplicações por dia.
Na maior parte das citações (96%), indicou-
se exclusivamente a folha como parte utilizada no
preparo do chá ou outra forma de uso. A folha
juntamente com o caule assim como casca, flor, seiva,
semente e raiz configuram-se entre outras partes
menos freqüentemente citadas como utilizadas pelos
entrevistados (Tabela 2). Com relação ao uso das
plantas, mesmo estas sendo cultivadas pelos
entrevistados, verificou-se que nem sempre estes
souberam informar com precisão sobre sua indicação
terapêutica, informando que “ouviram falar que fazia
bem para esta ou aquela doença”. Muitos tinham a
planta na horta ou quintal, mas não tinham certeza
da sua indicação.
A partir da bibliografia consultada, pode-se
averiguar que aproximadamente 80% das plantas,
citadas como de uso terapêutico pela população,
apresenta algum tipo de toxicidade ou contra-
indicação de uso (Tabela 2). Vale salientar que esta
porcentagem pode estar subestimada em virtude de
não haver informação disponível para várias das
espécies citadas. A ausência de informação não
necessariamente significa ausência de toxicidade ou
contra-indicação, mas pode estar associada à falta
de estudos a esse respeito. Considere-se também,
que dada à insuficiência de estudos farmacológicos
e toxicológicos específicos para grande parte destas
espécies, a indicação de toxicidade pode estar sendo
superestimada por ser advinda apenas de indicação
empírica. De qualquer modo, evidencia-se a carência
de estudos específicos a esse respeito assim como
a necessidade de alertar potenciais usuários sobre
essa possibilidade de toxicidade e efeitos colaterais.
Dentre as espécies com indicação de
toxicidade ou contra-indicação de uso, ressalta-se
que aproximadamente 26% constam na literatura
como abortivas e/ou não recomendadas durante a
gravidez ou lactação (p.ex. Foeniculum vulgare Mill;
Rosmarinus officinalis L.). Cerca de 20 espécies
citadas pelos usuários são indutoras de reação
alérgica e/ou fotossensibilização dérmica (p.ex.
Artemisa vulgaris L.; Salvia officinalis L.). Várias
outras espécies são referenciadas na literatura como
promotoras de hepatotoxicidade aguda (p.ex.
Chelidonium majus L.- indutora de hepatite aguda,
conforme Pittler & Ernst, 2003); degeneração do
sistema nervoso, alucinações e convulsões (p.ex.
Artemisia absinthium L.), forte ação depressora do
sistema nervoso central (p.ex. Mentha suaveolens
Ehrl, segundo Moreno et al., 2002) e de formação de
tumores malígnos na bexiga e fígado (p.ex.
Symphytum officinale, conforme Sousa et al., 1991).
A ingestão do chá desta última espécie, e também
de Tanacetum vulgare L., de Passiflora (folha) e de
Petiveria alliacea, é totalmente desaconselhada face
à alta toxicidade destas (Conceição, 1987; Martins
et al.; 2000; UFSDA, 2005).
Também, registraram-se algumas discrepâncias
entre as indicações de uso, forma de preparo e
dosagem registrados junto à comunidade estudada
e os citados na bibliografia consultada (Tabela 2).
Neste aspecto, salientam-se aquelas cuja indicação
de uso e/ou parte usada difere da registrada na
literatura consultada, como por exemplo, Artemisia
alba Turra (com várias indicações de uso, exceto
“calmante”); Celosia cristata (extrato alcoólico das
sementes referenciado como com atividade anti-
glicêmica em Vetrichelvan et al., 2002); Pfaffia
glomerata (Spreng.) Pederson ( o extrato aquoso da
raiz é citado por Freitas et al. (2004) como
potencialmente protetor da mucosa gástrica entre
outras e, segundo Sanches et al. (2001), o extrato
metanólico da raíz apresenta atividade anti-
hiperglicemiante).
As indicações discrepantes tanto podem ser
novas e corretas formas de uso quanto podem
representar erros frequentemente cometidos quando
da identificação de determinada espécie. Este erro
de identificação pode estar associado ao uso do
nome vulgar dado que este não é um indicador seguro
da correta identificação de uma espécie. Várias
espécies botânicas, muitas vezes de gêneros e/ou
famílias distintas, são referenciadas por um mesmo
nome vulgar sem no entanto terem os mesmos
princípios ativos, como por exemplo “erva cidreira” –
nome vulgar referenciado tanto para Cymbopogon
citratus (DC) Stapf (Poaceae) quanto para Lippia alba
(Mill) N.Br. (Verbenaceae) e Melissa officinalis L.
(Labiateae).
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TABELA 2. Espécies vegetais referenciadas como medicinais em levantamento etnobotânico realizado junto a usuários da USF Na Sra Navegantes (Cascavel,
Paraná / dez.2003 a fev.2004), ordenadas alfabeticamente por família botânica, sendo FA = frequência absoluta (n= 50 entrevistas). Indicação de toxicidade, se
não citada a fonte, provém de USFDA (2005), sendo nc= nada consta nas fontes consultadas. Indicação de uso medicinal em negrito = não referenciada nas
fontes consultadas. Nomes científicos conforme Missouri Botanical Garden (2005).
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TABELA 2 . Espécies vegetais referenciadas como medicinais em levantamento etnobotânico realizado junto a usuários da USF Na Sra Navegantes (Cascavel,
Paraná / dez.2003 a fev.2004), ordenadas alfabeticamente por família botânica, sendo FA = frequência absoluta (n= 50 entrevistas). Indicação de toxicidade, se
não citada a fonte, provém de USFDA (2005), sendo nc= nada consta nas fontes consultadas. Indicação de uso medicinal em negrito = não referenciada nas
fontes consultadas. Nomes científicos conforme Missouri Botanical Garden (2005). (cont.)
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TABELA 2 . Espécies vegetais referenciadas como medicinais em levantamento etnobotânico realizado junto a usuários da USF Na Sra Navegantes (Cascavel,
Paraná / dez.2003 a fev.2004), ordenadas alfabeticamente por família botânica, sendo FA = frequência absoluta (n= 50 entrevistas). Indicação de toxicidade, se
não citada a fonte, provém de USFDA (2005), sendo nc= nada consta nas fontes consultadas. Indicação de uso medicinal em negrito = não referenciada nas
fontes consultadas. Nomes científicos conforme Missouri Botanical Garden (2005). (cont.)
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TABELA 2 . Espécies vegetais referenciadas como medicinais em levantamento etnobotânico realizado junto a usuários da USF Na Sra Navegantes (Cascavel,
Paraná / dez.2003 a fev.2004), ordenadas alfabeticamente por família botânica, sendo FA = frequência absoluta (n= 50 entrevistas). Indicação de toxicidade, se
não citada a fonte, provém de USFDA (2005), sendo nc= nada consta nas fontes consultadas. Indicação de uso medicinal em negrito = não referenciada nas
fontes consultadas. Nomes científicosconforme Missouri Botanical Garden (2005). (cont.)
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TABELA 2 . Espécies vegetais referenciadas como medicinais em levantamento etnobotânico realizado junto a usuários da USF Na Sra Navegantes (Cascavel,
Paraná / dez.2003 a fev.2004), ordenadas alfabeticamente por família botânica, sendo FA = frequência absoluta (n= 50 entrevistas). Indicação de toxicidade, se
não citada a fonte, provém de USFDA (2005), sendo nc= nada consta nas fontes consultadas. Indicação de uso medicinal em negrito = não referenciada nas
fontes consultadas. Nomes científicos conforme Missouri Botanical Garden (2005). (cont.)
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TABELA 2 . Espécies vegetais referenciadas como medicinais em levantamento etnobotânico realizado junto a usuários da USF Na Sra Navegantes (Cascavel,
Paraná / dez.2003 a fev.2004), ordenadas alfabeticamente por família botânica, sendo FA = frequência absoluta (n= 50 entrevistas). Indicação de toxicidade, se
não citada a fonte, provém de USFDA (2005), sendo nc= nada consta nas fontes consultadas. Indicação de uso medicinal em negrito = não referenciada nas
fontes consultadas. Nomes científicos conforme Missouri Botanical Garden (2005). (cont.)
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Paraná / dez.2003 a fev.2004), ordenadas alfabeticamente por família botânica, sendo FA = frequência absoluta (n= 50 entrevistas). Indicação de toxicidade, se
não citada a fonte, provém de USFDA (2005), sendo nc= nada consta nas fontes consultadas. Indicação de uso medicinal em negrito = não referenciada nas
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TABELA 2 . Espécies vegetais referenciadas como medicinais em levantamento etnobotânico realizado junto a usuários da USF Na Sra Navegantes (Cascavel,
Paraná / dez.2003 a fev.2004), ordenadas alfabeticamente por família botânica, sendo FA = frequência absoluta (n= 50 entrevistas). Indicação de toxicidade, se
não citada a fonte, provém de USFDA (2005), sendo nc= nada consta nas fontes consultadas. Indicação de uso medicinal em negrito = não referenciada nas
fontes consultadas. Nomes científicos conforme Missouri Botanical Garden (2005). (cont.)
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Rev. Bras. Pl. Med., Botucatu, v.9, n.3, p.6-22, 2007.
Adicionalmente, ao analisar-se a relação
nome vulgar versus espécie identificada observa-se
que os entrevistados podem estar utilizando de
maneira inadvertida determinadas espécies que são
morfologicamente semelhantes a outras corretamente
indicadas como medicinais. Ao avaliar-se as
indicações de usos das espécies citadas, isto parece
estar acontecendo com várias espécies, como por
exemplo, Artemisia alba Turra (em lugar de A.
absinthium L.), Plectranthus neochilus Schltr.(em
lugar de Plectranthus barbatus Andrews).
Por outro lado, várias espécies citadas
apresentam indicação científica de usos importantes
que não foram mencionados pela população
entrevistada, como por exemplo Ficus carica L.
(aitividade imunoestimulante registrada por Dai et al.,
2000; atividade anti-cancerígena, identificada por Yin
& Chen, 1997 e Meng et al., 1996); Juglans regia L.
(segundo Erdemoglu et al., 2003, o extrato etanólico
da folha apresentou atividade antinflamatória em
estudos pré-clínicos; extrato aquoso potencialmente
hipoglicemiante, conforme Sachdewa et al., 2003) e
Hibiscus rosasinensis L. (anticarcinogênico, segundo
Sharma et al., 2004 e Sharma & Sarvat, 2004; tônico capilar,
conforme Adhirajan et al., 2003; anticolesteremiante e
hipoglicemiante, de acordo com Sachdewa &
Khemani, 2003 e Sachdewa et al., 2003).
No transcorrer do presente estudo, percebeu-
se que a utilização de plantas na terapia popular, pela
comunidade de usuários da USF Na Sra dos
Navegantes é bastante difundida e presente. A
transferência do conhecimento botânico nesta
comunidade, aparentemente, segue os padrões de
comunidades tradicionais, não havendo indicativos de
bloqueios ou rupturas neste processo na população
avaliada. Entretanto, o uso sem orientação médica
apropriada é um fator de preocupação que deve ser
considerado pelos atores sociais do setor de saúde
bem como por aqueles envolvidos na educação
comunitária, dada a incidência de espécies com
registro de toxicidade e contra-indicações de uso.
Assim como as plantas podem representar remédios
poderosos e eficazes, o risco de intoxicação causada
pelo uso indevido das mesmas, deve ser sempre
levado em consideração. A observância às dosagens
prescritas e o cuidado na identificação precisa do
material utilizado pode evitar uma série de acidentes
como apontado por Lorenzi & Matos (2002).
A falsa idéia de que tudo que é “natural é
bom”, ou mais especificamente como indicado pelos
entrevistados de que “planta não faz mal à saúde”,
deve ser esclarecida junto à comunidade de usuários
da USF assim com de outros locais. Estudos
epidemiológicos em várias partes do mundo têm
demonstrado que certos produtos naturais podem
representar, cumulativamente, risco carcinogênico
aos humanos (Falk, 2000). Alguns ésteres presentes
em muitas das Euphorbiaceae que são utilizadas
como medicinais são potentes mitogênicos que foram
detectados como agentes causadores de câncer
nasofaringeal e câncer esofágico (USFDA, 2005).
Toxinas pirrolozidínicas mutagênicas, encontradas no
chá de confrei e em várias outras ervas medicinais,
foram detectadas como hepatocarcinogênicas em
ratos e causadoras de cirrose hepática e outras
patologias em humanos (Schoental, 1968; Ames et
al., 1990). Várias espécies medicinais estão
associadas a grave hepatoxicidade, como explicitado
em Pittler & Ernst (2003).
A não consonância das indicações de uso,
forma de preparo e dosagem registrados junto à
comunidade estudada em relação àquelas citadas
na bibliografia consultada, deve servir também de
referencial para estudos adicionais no sentido de
ampliar as possibilidades de uso das espécies
indicadas ou mesmo comprovar a ineficácia ou
impropriedade da citada utilização.
Recomendações
Considera-se relevante para o Serviço
Público de Saúde do município de Cascavel, a adoção
do uso de plantas medicinais como uma solução
prática para os problemas básicos de saúde. A
implantação desta prática, além de promover melhoria
da qualidade de saúde integral da população envolvida,
valoriza o saber popular, reforçando laços sociais e
culturais. Um projeto desta natureza poderia ser
implantado de forma gradativa, em uma perspectiva
interdisciplinar e com participação comunitária,
seguindo as diretrizes do documento elaborado em
2001 pelo Ministério da Saúde, que autoriza a prática
de uso de fitoterápicos no sistema público de saúde.
Nesta perspectiva e frente aos resultados
obtidos, apresenta-se um conjunto de recomendações
a distintos atores sociais relacionados ao Sistema
Público de Saúde e uso de plantas medicinais do
Município de Cascavel:
- Gestor Municipal de Saúde
a) Discutir a problemática associada ao uso
de fitoterápicos junto ao Conselho Municipal de
Saúde.
b) Promover cursos de capacitação para
adequada utilização de fitoterápicos pelos profissionais
de saúde envolvidos na atenção básica à saúde.
c) Gerar programas de divulgação sobre uso
adequado e indevido de plantas medicinais.
d) Elaborar material informativo que possa
ser distribuído à população.
e) Elaborar estratégias de intervenção
pertinentes ao problema diagnosticado.
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RRev. Bras. Pl. Med., Botucatu, v.9, n.3, p.6-22, 2007.
- Profissionais de Saúde
a) Buscar capacitação para promover
adequada orientação sobre plantas medicinais
principalmente em relação a dosagens, interações,
formas de preparo.
b) Buscar conhecer contra-indicações e
reações adversas das plantas usualmente
empregadas pelos usuários.c) Realizar atividades educativas junto aos
grupos organizados das comunidades de abrangência
da USF onde atuam.
d) Promover discussões relativas ao tema
com a equipe interdisciplinar da USF e com o
Conselho Local de Saúde.
e) Valorizar o saber popular e a cultura local.
- Usuários
a) Evitar o uso de plantas somente com base
no nome vulgar.
b) Buscar a correta identificação botânica e
informações sobre uso das plantas.
c) Usar plantas medicinais sob orientação
de um profissional de saúde.
d) Cultivar as plantas medicinais em locais
apropriados para o consumo.
e) Buscar informações sobre contra-
indicações e toxicidade das plantas.
f) Participar dos grupos de atividades
educativas da USF, sobre o uso de fitoterápicos.
- Pesquisadores
a) Realizar pesquisas no sentido de
preencher as lacunas de conhecimento existentes em
relação às plantas aqui relatadas e outras de uso
popular comum e corrente.
b) Divulgar informações cientificas sobre uso
adequado, toxicologia e contra- indicações de uso de
plantas medicinais em veículos de fácil entendimento
pela população em geral.
c) Desenvolver projetos de extensão
relacionados ao uso de fitoterápicos em parceria com
a Secretaria de Saúde Municipal.
AGRADECIMENTO
Os autores agradecem a comunidade usuária
da USF Na Sra dos Navegantes, localizada no Distrito
de São João em Cascavel (Paraná), pela
disponibilidade em participar desta pesquisa.
Agradecem também a Dra Maria de Lourdes Centa,
Dra Solange Ribas Zaniolo; Dra Lia Rieck; Dra Vanilde
Citadini-Zanette e aos revisores anônimos pela leitura
crítica e valiosas sugestões apresentadas.
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