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1 CONSERVAÇÃO DE FORRAGENS: FENAÇÃO Henrique José Urzedo Costa - Zootecnista Mestrando em Produção Animal Sustentável Instituto de Zootecnia INTRODUÇÃO • Necessidade de conservar. • Finalidade do processo de conservação. • Objetivo do processo de conservação. • Métodos de conservação. •Escolha do método • Estratégias de produção. • Vantagens. Porque Conservar? • Estacionalidade de produção das forrageiras tropicais Excesso de produção no verão e escassez no inverno. • Alimento de melhor qualidade durante todo o ano. • Manejo da tx de lotação ou conservar • Diminuição do tempo de abate. Finalidade da Fenação Conservar ao máximo o valor nutritivo da planta que lhe deu origem, através da paralisação da respiração celular das plantas e da atividade dos microrganismos. Objetivo da fenação Objetivo: Preservar um alimento de bom valor nutritivo, com o mínimo de perdas e com um custo de produção economicamente viável. 2 Métodos de Conservação de Forragens: • Capineiras • Pasto diferido • Fenos • Silagens Qual Método Utilizar? O melhor método é aquele que se adapta as condições da propriedade e da região, levando-se em conta a realidade dos produtores. Fenação • É uma prática milenar de conservação de forragens através da secagem ou desidratação. • Opção para o aproveitamento do excesso de alimento produzido na estação chuvosa. • Envolve ceifa, desidratação e armazenamento da forragem • Reduz umidade de 65 a 80% para níveis de 10 a 15% Feno • Alimento conservado através da secagem da forragem verde, • 10 - 15% de umidade, • conservando seus nutrientes, maciez, aroma e cor. 3 Estratégias de produção • Exclusivo para fenação • Produção de feno e pastejo (Gramíneas) • Produção de feno em áreas de lavouras (Cobertura do solo – Sul e Sudeste) Vantagens do Uso do Feno: • Ser armazenado por longos períodos, com pequenas alterações no VN; • Utilização de varias forrageiras; • Ser produzido e utilizado em grande e pequena escala; • Ser colhido, armazenado e fornecido aos animais manualmente ou num processo inteiramente mecanizado; • Atender ao requerimento nutricional de diferentes categorias. Operações Envolvidas no Processo de Fenação • Escolha da forrageira • Implantação da cultura • Plantio • Adubação e fertilidade do solo • Corte da planta • Revolvimento da forragem (viragem) • Enleiramento • Enfardamento • Recolhimento e armazenamento dos fardos Escolha da Forrageira Características desejáveis: • Valor Nutritivo; • Boa relação folha/colmo; • Facilidade de corte; • Facilidade de desidratação • Capacidade de rebrota. Valor Nutritivo (VN) • Definição mais adequada de qualidade da forragem: relaciona desempenhoconsumo de energia digestível • Leva em consideração: – composição química da forragem – digestibilidade – natureza dos produtos de digestão. 4 Valor Nutritivo do FENO • É avaliado, normalmente : Teores de proteína bruta = PB, fibra em detergente neutro = FDN e fibra em detergente ácido = FDA, minerais (ex, fósforo e cálcio); Digestibilidade da matéria seca; Consumo da matéria seca. Relação Folha/Colmo O maior VN da forrageira → Maior relação folha/colmo No colmo → verifica-se teores elevados de fibra e baixo teor de PB A relação folha/colmo varia em função da idade da planta e espécie forrageira, especialmente entre as gramíneas. Facilidade de Corte As plantas forrageiras possuem características morfofisiológicas que demandam diferentes alturas de corte. Plantas cespitosas, quando comparadas as estoloníferas e decumbentes são mais fáceis de cortar, no entanto os capins cespitosos não apresentam persistência quando cortados rente ao solo. Capacidade de Rebrota Termo relacionado com a permanência ou sobrevivência dos "pontos-de-crescimento" ou "meristemas apicais“, após o corte da planta. Gramíneas com meristemas apicais elevados, acima do solo, terão recuperação ou rebrota comprometida devido à eliminação desses pontos-de-crescimento com o corte. Facilidade de Desidratação Após o corte a atividade enzimática continuam e nutrientes são perdidos, então quanto mais rápido ocorrer a secagem e morte das células menor será o prejuízo do valor nutritivo. Espécie Forrageira • As leguminosas são ricas em teores de PB. Desvantagens: • Fragilidade de suas folhas • Necessita de irrigação e solos férteis . • As gramíneas possuem maior potencial para produção de matéria seca. 5 Coast cross Tifton- 85 Estrela africana Aruana Massai Buffel Alfafa Tifton 85 Fenação: Exemplos Forrageira Ton/ha/ano Feno N° médio de cortes/ano Estrela 18 3-4 Jaraguá 10 3 Colonião 3 1 Elefante 12 2-3 Gordura 5 2-3 Alfafa 12 3-4 Soja Perene 1 3 Implantação da Cultura • Histórico climático da região. • Analise físico-química do solo. • Levantamento das espécies de plantas invasoras e respectiva freqüência. Plantio • A quantidade de semente a ser utilizada está em função do valor cultural (VC) das mesmas e de uma constante (K), de acordo com a espécie forrageira a ser plantada. • Plantio: – Sulco – Superficial – Covas • Quantidade de mudas Plantio • Os sulcos são feitos manualmente com enxadas ou com sulcadores de tração mecânica ou animal. – Profundidade de 15 a 20 cm, com espaçamento de 50 cm. • Plantio superficial: Distribuição das mudas sobre a superfície do solo, com imediata incorporação, por meio de uma leve gradagem. – Prático Maior quantidade de mudas 6 Plantio • No plantio em covas mudas são distribuídas com espaçamento de 40 a 50 cm, e levemente cobertas com terra. – A quantidade de mudas depende do sistema de plantio adotado: plantio em sulcos 2,5 t/ha; plantio superficial 4,5 t/ha; plantio em covas 3,0 t/ha. • Evitar o corte das mudas em local onde existam plantas invasoras, para impedir infestações Adubação • Adubos fosfatados 100% no plantio (geralmente usado como veículo para sementes pequenas). • Adubos potássicos 100% no plantio ou 50% no plantio e o restante em cobertura, • Adubos nitrogenados em cobertura. • Adubação de manutenção – Retirada elevada de nutrientes – Não reposição compromete os próximos cortes Etapas do Processo de Fenação CORTE Corte Idade da planta: • Com o a desenvolvimento da planta → ocorre queda no VN, ou seja, diminuição nos teores de PB, DMS. • Baixa DMS e baixo teor de PB → baixo consumo da forragem pelos animais. – Diminuição da relação folha/colmo, pelo alongamento do caule. – Aumento de folhas mortas em conseqüência do volume produzido. Corte • As plantas forrageiras têm características morfofisiológicas que demandam diferentes alturas de corte. • Plantas de crescimento prostrado: (Brachiaria, Cynodon, Digitari) 10-15 cm de altura; • Plantas de crescimento ereto:(Aveia, Panicum) 20-30 cm; • Leguminosas como alfafa 8-10 cm do nível do solo (Preservação da coroa). Corte • No dia da fenação, deve-se esperar levantaro orvalho. • Após a forragem ceifada precisa ser revolvida diversas vezes, para facilitar a ação do sol e do vento na secagem da massa. • Ao final do dia, caso a forragem ainda não tenha atingido o ponto de feno, faz-se o enleiramento, desfazendo-se as leiras na manhã seguinte. • Se houver previsão de chuva → fazer também o enleiramento, evitando que a água da chuva lave a forragem cortada. 7 Equipamentos Utilizados para o Corte Segadeiras de barra Segadeiras de disco giratórios Segadeiras de tambores giratórios Segadeiras condicionadoras Roçadeiras Segadeiras de barras • Máquinas simples e baratas. • A desvantagem desse equipamento é que apresenta baixa velocidade de operação além de promover dilaceração do caule, o que prejudica a rebrota das plantas, reduzindo a persistência do ‘stand’. Segadeiras de Disco Giratório • Maior velocidade de operação • Desempenho limitado pela habilidade do operador • A desvantagem desta máquina é o seu alto custo de operação. – Trator mais potente deve ser utilizado e mais combustível pode ser consumido. 8 Segadeiras com Tambores Giratórios • Maior custo de operação pois requerem duas vezes mais potência comparada com as de disco. • Em decorrência do corte desuniforme, tem- se secagem heterogênea nas leiras. Segadeiras Condicionadoras • Promovem o esmagamento do caule acelera a taxa de secagem, pois aumenta a perda de água através do caule. • Reduz pela metade o tempo de secagem de plantas forrageiras devido ao aumento da perda de água via caule. Segadeira Condicionadora 9 Segadeira Condicionadora Segadeira Condicionadora Roçadeiras Não devem ser utilizadas no processo, pois além de dilacerarem o caule, dificultando o rebrote além de picar a forragem, o que dificulta o recolhimento, resultando em substancial perda de matéria seca. Etapas do Processo de Fenação ENLEIRAMENTO Enleiramento • Cortes em faixas com largura para incentivar a secagem. • Leiras estreitas e densas não secam rapidamente. • O aumento do rendimento das forrageiras por área, desencadeia maior tempo de secagem necessário, independentemente da largura da leira. 10 Estrutura da Leira LEIRA Etapas do processo de fenação DESIDRATAÇÃO Desidratação • Etapa mais importante para produção de feno de boa qualidade. • Dias quentes e com vento, o feno pode ser produzido em apenas um dia, ou pouco mais. • O produtor deve acompanhar as previsões meteorológicas divulgadas. Desidratação por etapas • 3 fases (duração; taxa de perda de água;desidratação) • Primeira fase: Evapotranspiração (2 horas) • Segunda fase: Evaporação cuticular (65% UR) • Terceira fase: Aumento de perda de umidade devido plasmólise e perda da permeabilidade seletiva da membrana plasmática (30% UR) Desidratação por etapas Forragem (75-80% umidade) 1 a 2h, estômatos abertos Etapa rápida (65% umidade) Saída água cutícula e epiderme Ancinho Etapa demorada e difícil (30% umidade) Etapa crítica de chuva Etapa rápida (15% umidade) FENO 11 Curva de secagem de plantas forrageiras em condições ambientais uniformes. (Rotz, 1995) • Fatores climáticos • Fatores inerentes à planta • Fatores de manejo Fatores que Interferem na Desidratação Fatores Climáticos • Radiação solar • Temperatura • Umidade do ar • Velocidade do vento • Potencial de evapotranspiração Fatores inerentes à planta • Conteúdo de umidade inicial da planta • Características físicas da forragem - Razão de peso de folha - Relação folha/caule - Comprimento e espessura do caule - Espessura da cutícula - Densidade de estômatos MAcDONALD e CLARK, 1987 Fatores de manejo • Viragem e revolvimento – Ancinhos • Modo de eficiência • Momento de utilização (66 a 50% UR-Segunda fase) • Taxa de aceleração de secagem – Leguminosas • Perda de folhas 12 Etapas do processo de fenação ENFARDAMENTO Ponto de Feno • “Ponto de Feno"→ 12-15% de umidade • Na prática, reconhece-se esse ponto torcendo um feixe da forragem: não deve verter água. • Ao cravar a unha nos nós dos talos, de onde saem as folhas: o nó deve apresentar consistência de farinha. Enfardamento • Métodos de enfardamento – Fardo de 15 kg – Fardo de 150 kg – Fardo de 500 kg • Tempo estimado para situação ótima de armazenagem 13 Etapas do processo de fenação ARMAZENAMENTO Perdas no Armazenamento • Atividade de microrganismos • Respiração celular • Elevação da temperatura Atividade de microrganismos Perdas no Armazenamento • O recolhimento dos fenos com umidade (>20%) reduz as perdas no campo : aumentar as perdas no armazenamento. • As principais causas de perdas de MS no armazenamentocontinuação da respiração celular e desenvolvimento de bactérias, fungos e leveduras. • Na respiração celular e no crescimento de microrganismos, tem-se a utilização de carboidratos solúveis, compostos nitrogenados, vitaminas e minerais. – Uso do conteúdo celular – Aumentando proporção de parede celular População de fungos em fenos de gramíneas enfardados com alta umidade (44%). Dias de armazenamento Grupos de Fungos 0 2 5 7 12 19 Aspergillus O -- D D D D Pennicillium O -- D D D D Scopulariopsis O -- -- -- -- -- Fusarium D D -- -- -- -- Cladosporium D D D D D -- D- Dominante, O-Ocorrência freqüente Fonte: HLODVERSSON e KASPERSSON, 1986. Concentrações totais de açúcares solúveis não redutores, redutores e nitrogênio insolúvel em detergente ácido (NIDA) conforme o tempo de estocagem em fenos de alfafa com alta (30%) e baixa umidade (20%) Fonte: Adaptado de COBLENTZ et al., 1997. 14 Sistemas de Armazenamento • Secagem final-Barracão ou no campo • Características do local de armazenagem (Ventilação e luminosidade) Qualidade Sanitária de Forragens Conservadas Normal Muito Aquecido Excessivamente Aquecido (%MS) Dig. (%MS) Dig. (%MS) Dig. FB 33,1 67,5 33,0 66,3 37,0 57,8 PB 10,1 53,7 10,4 26,2 9,98 Indig. ENN 47,4 65,4 47,2 57,7 43,9 48,9 PB (verdadeira) 9,0 51,1 8,9 17,1 8,4 Indig. Adaptado de Watson e Nash, 1960 Composição química e digestibilidade aparente de feno, após o armazenamento 15 MICROBIOLOGIA DE FORRAGENS CONSERVADAS ➢ As plantas forrageiras normalmente são contaminadas por microrganismos benéficos ou não e o desenvolvimento de cada espécie dependerá das condições encontradas no meio ambiente. Microrganismos Indesejáveis em Fenos ➢ Grupo contaminante mais comum: Actinomicetos – Fungos filamentosos (Reis et al., 1997) – Aspergillus, Penicillium, Absidia, etc. • Esporos alergênicos (A. flavus, A. fumigatus) – Febre do feno em humanos – Efeito no metabolismo de ruminantes – Intoxicações e abortos em bovinos (Coulombe Jr., 1993) ➢ Os requerimentos básicos para a colonização de forragens por parte de fungos toxigênicos incluem de forma generalizada: 1- utilização do substrato como fonte de energia e nutrientes; 2- teor mínimo de umidade do substrato entre 14 a 24%; 3- umidade relativa do ar maior que 70%; 4- presença de oxigênio; 5- ocorrência de temperaturas apropriadas, variáveis de acordocom a espécie Microrganismos Indesejáveis em Fenos Cheeke e Shull, 1985 , Arcuri et al. (2003) Aditivos para Preservação de Fenos Alteração do pH Utilização de Produtos Dessecantes • Produtos químicos que alteram a estrutura da epiderme (carbonato de K ou de sódio, herbicidas dessecantes, dinoseb, edonthal e diquat). • Maior taxa de secagem de plantas forrageiras. • Redução na resistência cuticular levam à perda de água. • Características desejáveis: - Baixa toxicidade para os mamíferos; - Efeito sobre fungos, actinomicetos e bactérias; - Facilidade de distribuição nos fardos; - Baixos níveis de perdas por volatilização; - Não ser excessivamente absorvido pelo feno; - Manuseio fácil e seguro; - Amplo espectro de ação; - Solúvel em água. BARON e GREER (1988) ; LACEY et al. (1981) 16 • MEISSER (2001) observou que o uso de propionato de amônio (equivalente a 64% de ácido propiônico) foi efetivo em preservar a qualidade de fenos. • A aplicação de ácido propiônico promoveu adequada conservação de fenos com 23% de umidade, porém não foi eficiente quando aplicado em fenos armazenados com 29% de umidade. Uso da amônia anidra • Alteração do pH • Alteração da síntese de DNA • Alteração na síntese de proteína Desenvolvimento de fungos em fenos de gramíneas tratados com amônia anidra. Umidade (%) NH3 (% MS) Nº de colônias /g de MS 0,0 1,1 x 106 9,5 x 105 20,0 a 25,0% 1,5 5,5 x 101 6,7 x 101 Fonte: 1.BONJARDIM et al., 1992; 2. REIS et al., 1993. População de microrganismos (No/g de amostra) do feno de capim green panic enfardado com alta umidade (40%) e tratado com uréia (3,5% da MS). Dias de armazenamento pH Fungos Leveduras 0 6,5 1,1 x 1010 2,5 x 1011 4 9,8 --- --- 20 7,8 1,5 x 101 5,5 x 108 Fonte: SILANIKOVE et al., 1988. Ocorrência de Aspergillus em fenos de Cynodon dactylon não tratado (umidade 12-15%) ou amonizados (umidade 20- 25%) avaliados em três períodos de pós tratamento. Ocorrência de Penicillium em fenos de Cynodon dactylon não tratado (umidade 12-15%) ou amonizados (umidade 20-25%) avaliados em três períodos de pós tratamento. 17 ROSA et al. (1998) observaram diminuição na incidência de Aspergillus no feno de Braquiária decumbens, enfardado com alta umidade e tratado com amônia anidra (1,0% na MS) ou com uréia (0,9; 1,8% na MS). FREITAS et al. (1997) observaram em fenos de alfafa com alta umidade: 15 gêneros de fungos (controle), 11 (amônia) e 12 (uréia). O gênero Paecilomyces foi o de maior ocorrência em todos os fenos. Os tratamentos com amônia ou com uréia foram eficientes em controlar os gêneros Aspergillus e Penicillium. OBRIGADO! É verdade que o gado come mais silagem do que feno? • Não. O consumo, em termos de MS, de uma forragem ensilada é inferior ao consumo dessa mesma forragem sob a forma de feno. Entretanto, comparadas na forma como são fornecidas ao gado, o consumo de silagem aparenta ser maior do que o de feno. A silagem tem alto teor de umidade (cerca de 70%) enquanto o feno tem apenas 13%. Um bovino que consome 20 kg de silagem ingere a mesma quantidade de MS (aproximadamente 6 kg) que um bovino que consome 7 kg de feno.