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[7270 - 20712]historia_da_filosofia_I

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Universidade do Sul de Santa Catarina
Palhoça
UnisulVirtual
2011
História da Filosofia I
Disciplina na modalidade a distância
Créditos
Universidade do Sul de Santa Catarina | Campus UnisulVirtual | Educação Superior a Distância
Reitor
Ailton Nazareno Soares
Vice-Reitor 
Sebastião Salésio Heerdt
Chefe de Gabinete da Reitoria 
Willian Corrêa Máximo
Pró-Reitor de Ensino e 
Pró-Reitor de Pesquisa, 
Pós-Graduação e Inovação
Mauri Luiz Heerdt
Pró-Reitora de Administração 
Acadêmica
Miriam de Fátima Bora Rosa
Pró-Reitor de Desenvolvimento 
e Inovação Institucional
Valter Alves Schmitz Neto
Diretora do Campus 
Universitário de Tubarão
Milene Pacheco Kindermann
Diretor do Campus Universitário 
da Grande Florianópolis
Hércules Nunes de Araújo
Secretária-Geral de Ensino
Solange Antunes de Souza
Diretora do Campus 
Universitário UnisulVirtual
Jucimara Roesler
Equipe UnisulVirtual 
Diretor Adjunto
Moacir Heerdt 
Secretaria Executiva e Cerimonial
Jackson Schuelter Wiggers (Coord.)
Marcelo Fraiberg Machado
Tenille Catarina
Assessoria de Assuntos 
Internacionais 
Murilo Matos Mendonça
Assessoria de Relação com Poder 
Público e Forças Armadas
Adenir Siqueira Viana
Walter Félix Cardoso Junior
Assessoria DAD - Disciplinas a 
Distância
Patrícia da Silva Meneghel (Coord.)
Carlos Alberto Areias
Cláudia Berh V. da Silva
Conceição Aparecida Kindermann
Luiz Fernando Meneghel
Renata Souza de A. Subtil
Assessoria de Inovação e 
Qualidade de EAD
Denia Falcão de Bittencourt (Coord.)
Andrea Ouriques Balbinot
Carmen Maria Cipriani Pandini
Assessoria de Tecnologia 
Osmar de Oliveira Braz Júnior (Coord.)
Felipe Fernandes
Felipe Jacson de Freitas
Jefferson Amorin Oliveira
Phelipe Luiz Winter da Silva
Priscila da Silva
Rodrigo Battistotti Pimpão
Tamara Bruna Ferreira da Silva
Coordenação Cursos
Coordenadores de UNA
Diva Marília Flemming
Marciel Evangelista Catâneo
Roberto Iunskovski
Auxiliares de Coordenação
Ana Denise Goularte de Souza
Camile Martinelli Silveira
Fabiana Lange Patricio
Tânia Regina Goularte Waltemann
Coordenadores Graduação
Aloísio José Rodrigues
Ana Luísa Mülbert
Ana Paula R.Pacheco
Artur Beck Neto
Bernardino José da Silva
Charles Odair Cesconetto da Silva
Dilsa Mondardo
Diva Marília Flemming
Horácio Dutra Mello
Itamar Pedro Bevilaqua
Jairo Afonso Henkes
Janaína Baeta Neves
Jorge Alexandre Nogared Cardoso
José Carlos da Silva Junior
José Gabriel da Silva
José Humberto Dias de Toledo
Joseane Borges de Miranda
Luiz G. Buchmann Figueiredo
Marciel Evangelista Catâneo
Maria Cristina Schweitzer Veit
Maria da Graça Poyer
Mauro Faccioni Filho
Moacir Fogaça
Nélio Herzmann
Onei Tadeu Dutra
Patrícia Fontanella
Roberto Iunskovski
Rose Clér Estivalete Beche
Vice-Coordenadores Graduação
Adriana Santos Rammê
Bernardino José da Silva
Catia Melissa Silveira Rodrigues
Horácio Dutra Mello
Jardel Mendes Vieira
Joel Irineu Lohn
José Carlos Noronha de Oliveira
José Gabriel da Silva
José Humberto Dias de Toledo
Luciana Manfroi
Rogério Santos da Costa
Rosa Beatriz Madruga Pinheiro
Sergio Sell
Tatiana Lee Marques
Valnei Carlos Denardin
Sâmia Mônica Fortunato (Adjunta)
Coordenadores Pós-Graduação
Aloísio José Rodrigues
Anelise Leal Vieira Cubas
Bernardino José da Silva
Carmen Maria Cipriani Pandini
Daniela Ernani Monteiro Will
Giovani de Paula
Karla Leonora Dayse Nunes
Letícia Cristina Bizarro Barbosa
Luiz Otávio Botelho Lento
Roberto Iunskovski
Rodrigo Nunes Lunardelli
Rogério Santos da Costa
Thiago Coelho Soares
Vera Rejane Niedersberg Schuhmacher
Gerência Administração
Acadêmica
Angelita Marçal Flores (Gerente)
Fernanda Farias
Secretaria de Ensino a Distância
Samara Josten Flores (Secretária de Ensino)
Giane dos Passos (Secretária Acadêmica)
Adenir Soares Júnior
Alessandro Alves da Silva
Andréa Luci Mandira
Cristina Mara Schauffert
Djeime Sammer Bortolotti
Douglas Silveira
Evilym Melo Livramento
Fabiano Silva Michels
Fabricio Botelho Espíndola
Felipe Wronski Henrique
Gisele Terezinha Cardoso Ferreira
Indyanara Ramos
Janaina Conceição
Jorge Luiz Vilhar Malaquias
Juliana Broering Martins
Luana Borges da Silva
Luana Tarsila Hellmann
Luíza Koing  Zumblick
Maria José Rossetti
Marilene de Fátima Capeleto
Patricia A. Pereira de Carvalho
Paulo Lisboa Cordeiro
Paulo Mauricio Silveira Bubalo
Rosângela Mara Siegel
Simone Torres de Oliveira
Vanessa Pereira Santos Metzker
Vanilda Liordina Heerdt
Gestão Documental
Lamuniê Souza (Coord.)
Clair Maria Cardoso
Daniel Lucas de Medeiros
Jaliza Thizon de Bona
Guilherme Henrique Koerich
Josiane Leal
Marília Locks Fernandes
Gerência Administrativa e 
Financeira
Renato André Luz (Gerente)
Ana Luise Wehrle
Anderson Zandré Prudêncio
Daniel Contessa Lisboa
Naiara Jeremias da Rocha
Rafael Bourdot Back 
Thais Helena Bonetti
Valmir Venício Inácio
Gerência de Ensino, Pesquisa e 
Extensão
Janaína Baeta Neves (Gerente)
Aracelli Araldi
Elaboração de Projeto
Carolina Hoeller da Silva Boing
Vanderlei Brasil
Francielle Arruda Rampelotte
Reconhecimento de Curso
Maria de Fátima Martins 
Extensão
Maria Cristina Veit (Coord.)
Pesquisa
Daniela E. M. Will (Coord. PUIP, PUIC, PIBIC)
Mauro Faccioni Filho (Coord. Nuvem)
Pós-Graduação
Anelise Leal Vieira Cubas (Coord.)
Biblioteca
Salete Cecília e Souza (Coord.)
Paula Sanhudo da Silva
Marília Ignacio de Espíndola
Renan Felipe Cascaes
Gestão Docente e Discente
Enzo de Oliveira Moreira (Coord.)
Capacitação e Assessoria ao 
Docente
Alessandra de Oliveira (Assessoria)
Adriana Silveira
Alexandre Wagner da Rocha
Elaine Cristiane Surian (Capacitação)
Elizete De Marco
Fabiana Pereira
Iris de Souza Barros
Juliana Cardoso Esmeraldino
Maria Lina Moratelli Prado
Simone Zigunovas
Tutoria e Suporte
Anderson da Silveira (Núcleo Comunicação)
Claudia N. Nascimento (Núcleo Norte-
Nordeste)
Maria Eugênia F. Celeghin (Núcleo Pólos)
Andreza Talles Cascais
Daniela Cassol Peres
Débora Cristina Silveira
Ednéia Araujo Alberto (Núcleo Sudeste)
Francine Cardoso da Silva
Janaina Conceição (Núcleo Sul)
Joice de Castro Peres
Karla F. Wisniewski Desengrini
Kelin Buss
Liana Ferreira
Luiz Antônio Pires
Maria Aparecida Teixeira
Mayara de Oliveira Bastos
Michael Mattar
Patrícia de Souza Amorim
Poliana Simao
Schenon Souza Preto
Gerência de Desenho e 
Desenvolvimento de Materiais 
Didáticos
Márcia Loch (Gerente)
Desenho Educacional
Cristina Klipp de Oliveira (Coord. Grad./DAD)
Roseli A. Rocha Moterle (Coord. Pós/Ext.)
Aline Cassol Daga
Aline Pimentel
Carmelita Schulze
Daniela Siqueira de Menezes
Delma Cristiane Morari
Eliete de Oliveira Costa
Eloísa Machado Seemann
Flavia Lumi Matuzawa
Geovania Japiassu Martins
Isabel Zoldan da Veiga Rambo
João Marcos de Souza Alves
Leandro Romanó Bamberg
Lygia Pereira
Lis Airê Fogolari
Luiz Henrique Milani Queriquelli
Marcelo Tavares de Souza Campos
Mariana Aparecida dos Santos
Marina Melhado Gomes da Silva
Marina Cabeda Egger Moellwald
Mirian Elizabet Hahmeyer Collares Elpo
Pâmella Rocha Flores da Silva
Rafael da Cunha Lara
Roberta de Fátima Martins
Roseli Aparecida Rocha Moterle
Sabrina Bleicher
Verônica Ribas Cúrcio
Acessibilidade 
Vanessa de Andrade Manoel (Coord.) 
Letícia Regiane Da Silva Tobal
Mariella Gloria Rodrigues
Vanesa Montagna
Avaliação da aprendizagem 
Claudia Gabriela Dreher
Jaqueline Cardozo Polla
Nágila Cristina Hinckel
Sabrina Paula Soares Scaranto
Thayanny Aparecida B. da Conceição
Gerência de Logística
Jeferson Cassiano A. da Costa (Gerente)
Logísitca de Materiais
Carlos Eduardo D. da Silva (Coord.)
Abraao do Nascimento Germano
Bruna Maciel
Fernando Sardão da Silva
Fylippy Margino dos Santos
Guilherme Lentz
Marlon Eliseu Pereira
Pablo Varela da Silveira
Rubens Amorim
Yslann David Melo Cordeiro
Avaliações Presenciais
Graciele M. Lindenmayr (Coord.)
Ana Paula de Andrade
Angelica Cristina Gollo
Cristilaine Medeiros
Daiana Cristina Bortolotti
Delano Pinheiro Gomes
Edson Martins Rosa Junior
Fernando Steimbach
Fernando Oliveira Santos
Lisdeise Nunes Felipe
Marcelo Ramos
Marcio Ventura
Osni Jose Seidler Junior
Thais Bortolotti
Gerência de Marketing
Eliza B. Dallanhol Locks (Gerente)
Relacionamento com o MercadoAlvaro José Souto
Relacionamento com Polos 
Presenciais
Alex Fabiano Wehrle (Coord.)
Jeferson Pandolfo
Karine Augusta Zanoni
Marcia Luz de Oliveira
Mayara Pereira Rosa
Luciana Tomadão Borguetti
Assuntos Jurídicos
Bruno Lucion Roso
Sheila Cristina Martins
Marketing Estratégico
Rafael Bavaresco Bongiolo
Portal e Comunicação
Catia Melissa Silveira Rodrigues
Andreia Drewes
Luiz Felipe Buchmann Figueiredo
Rafael Pessi
Gerência de Produção
Arthur Emmanuel F. Silveira (Gerente)
Francini Ferreira Dias
Design Visual
Pedro Paulo Alves Teixeira (Coord.)
Alberto Regis Elias
Alex Sandro Xavier
Anne Cristyne Pereira
Cristiano Neri Gonçalves Ribeiro
Daiana Ferreira Cassanego
Davi Pieper
Diogo Rafael da Silva
Edison Rodrigo Valim
Fernanda Fernandes
Frederico Trilha
Jordana Paula Schulka
Marcelo Neri da Silva
Nelson Rosa
Noemia Souza Mesquita
Oberdan Porto Leal Piantino
Multimídia
Sérgio Giron (Coord.)
Dandara Lemos Reynaldo
Cleber Magri
Fernando Gustav Soares Lima
Josué Lange
Conferência (e-OLA)
Carla Fabiana Feltrin Raimundo (Coord.)
Bruno Augusto Zunino 
Gabriel Barbosa
Produção Industrial
Marcelo Bittencourt (Coord.)
Gerência Serviço de Atenção 
Integral ao Acadêmico
Maria Isabel Aragon (Gerente)
Ana Paula Batista Detóni
André Luiz Portes 
Carolina Dias Damasceno
Cleide Inácio Goulart Seeman
Denise Fernandes
Francielle Fernandes
Holdrin Milet Brandão
Jenniffer Camargo
Jessica da Silva Bruchado
Jonatas Collaço de Souza
Juliana Cardoso da Silva
Juliana Elen Tizian
Kamilla Rosa
Mariana Souza
Marilene Fátima Capeleto
Maurício dos Santos Augusto
Maycon de Sousa Candido
Monique Napoli Ribeiro
Priscilla Geovana Pagani
Sabrina Mari Kawano Gonçalves
Scheila Cristina Martins
Taize Muller
Tatiane Crestani Trentin
Avenida dos Lagos, 41 – Cidade Universitária Pedra Branca | Palhoça – SC | 88137-900 | Fone/fax: (48) 3279-1242 e 3279-1271 | E-mail: cursovirtual@unisul.br | Site: www.unisul.br/unisulvirtual
Palhoça
UnisulVirtual
2011
Design instrucional
Leandro Kingeski Pacheco
1ª edição revista
História da Filosofia I
Livro didático
Sérgio Sell
Edição – Livro Didático
Professor Conteudista
Sérgio Sell
Design Instrucional
Leandro Kingeski Pacheco
Assistente Acadêmico
Roberta de Fátima Martins (1ª edição revista)
Projeto Gráfico e Capa
Equipe UnisulVirtual
Diagramação
Pedro Teixeira
Daiana Ferreira Cassanego (1ª edição revista)
Revisão
B2B
Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Universitária da Unisul
Copyright © UnisulVirtual 2011
Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida por qualquer meio sem a prévia autorização desta instituição.
109
S46 Sell, Sérgio
História da filosofia I : livro didático / Sérgio Sell ; design instrucional 
Leandro Kingeski Pacheco ; [assistente acadêmico Roberta de Fátima 
Martins]. – 1. ed. rev. – Palhoça : UnisulVirtual, 2011.
230 p. : il. ; 28 cm.
Inclui bibliografia.
1. Filosofia – História. I. Pacheco, Leandro Kingeski. II. Martins, 
Roberta de Fátima. III. Título.
Sumário
Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .7
Palavras do professor. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .9
Plano de estudo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
UNIDADE 1 - A origem da Filosofia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
UNIDADE 2 - A Filosofia pré‑socrática . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
UNIDADE 3 - Os sofistas e Sócrates . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
UNIDADE 4 - Platão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 105
UNIDADE 5 - Aristóteles . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 141
UNIDADE 6 - O período helenístico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 187
Para concluir o estudo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 211
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 213
Sobre o professor conteudista . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 217
Respostas e comentários das atividades de autoavaliação . . . . . . . . . . . . . 219
Biblioteca Virtual . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 229
7
Apresentação
Este livro didático corresponde à disciplina História da Filosofia I.
O material foi elaborado visando a uma aprendizagem autônoma 
e aborda conteúdos especialmente selecionados e relacionados 
à sua área de formação. Ao adotar uma linguagem didática 
e dialógica, objetivamos facilitar seu estudo a distância, 
proporcionando condições favoráveis às múltiplas interações e a 
um aprendizado contextualizado e eficaz.
Lembre‑se que sua caminhada, nesta disciplina, será 
acompanhada e monitorada constantemente pelo Sistema 
Tutorial da UnisulVirtual, por isso a “distância” fica caracterizada 
somente na modalidade de ensino que você optou para sua 
formação, pois na relação de aprendizagem professores e 
instituição estarão sempre conectados com você.
Então, sempre que sentir necessidade entre em contato; você tem 
à disposição diversas ferramentas e canais de acesso tais como: 
telefone, e‑mail e o Espaço Unisul Virtual de Aprendizagem, 
que é o canal mais recomendado, pois tudo o que for enviado e 
recebido fica registrado para seu maior controle e comodidade. 
Nossa equipe técnica e pedagógica terá o maior prazer em lhe 
atender, pois sua aprendizagem é o nosso principal objetivo.
Bom estudo e sucesso!
Equipe UnisulVirtual.
Palavras do professor
Caro(a) estudante, 
Você está iniciando o estudo da história da Filosofia Antiga. 
Ao conhecer os fatores que possibilitaram o surgimento e o 
desenvolvimento da Filosofia no mundo helênico, você estará 
formando a base conceitual que lhe permitirá realizar uma 
reflexão mais crítica, rigorosa e bem fundamentada da sua 
própria visão de mundo e de certos modelos interpretativos 
que nossa cultura nos oferece ou mesmo tenta nos impor.
Ao estudar a origem da Filosofia, você verá como está 
marcada por uma tentativa de explicar, de forma puramente 
racional, tudo que está à nossa volta, promovendo um 
“desencantamento” do mundo e uma ruptura com a 
mentalidade religiosa. 
Não que a Filosofia tenha algo contra a religião. A história 
está recheada de exemplos tanto de filósofos ateus quanto de 
filósofos crentes. A filosofia, no entanto, não é nem contra 
nem a favor da religião. Mas faz questão de ser diferente dela. 
Nesta disciplina, você verá como os primeiros filósofos 
realizaram esse processo de separação do pensamento racional 
em relação aos conhecimentos fundamentados na fé e na 
autoridade eclesiástica. Você poderá acompanhar as principais 
dificuldades enfrentadas nessa transformação de mentalidade.
Ao estudar a filosofia clássica, você terá a oportunidade 
de perceber a complexidade dos grandes sistemas de 
conhecimento construídos no auge da cultura grega. Sócrates, 
Platão e Aristóteles foram gênios que dedicaram suas vidas a 
formular sistemas teóricos consistentes e bem fundamentados, 
para orientar as escolhas humanas.
10
Universidade do Sul de Santa Catarina
Você também verá como a decadência de Atenas levou ao 
surgimento das filosofias helenísticas.
A complexidade do assunto não permitirá que nos 
aprofundemos em nenhum tópico específico, mas construir uma 
base sólida para a compreensão das outras disciplinas do curso já 
é uma meta satisfatória.
Espero que este livro seja útil para o seu amadurecimento intelectual.
Bom estudo!
Professor Sérgio Sell
Plano de estudo
O plano de estudos visa a orientá‑lo no desenvolvimento da 
disciplina. Ele possuielementos que o ajudarão a conhecer o 
contexto da disciplina e a organizar o seu tempo de estudos. 
O processo de ensino e aprendizagem na UnisulVirtual leva 
em conta instrumentos que se articulam e se complementam, 
portanto, a construção de competências se dá sobre a 
articulação de metodologias e por meio das diversas formas de 
ação/mediação.
São elementos desse processo:
 � o livro didático;
 � o Espaço UnisulVirtual de Aprendizagem (EVA);
 � as atividades de avaliação (a distância, presenciais e 
de autoavaliação); 
 � o Sistema Tutorial.
Ementa
História da Filosofia Antiga. A tradição Mítica: Homero 
e Hesíodo. A Pólis Grega. O nascimento da Filosofia. 
Os pensadores pré‑socráticos. O período clássico. O período 
helenístico.
12
Universidade do Sul de Santa Catarina
Objetivos da disciplina
Geral
Identificar um panorama dos principais períodos, escolas, filósofos 
e conceitos que marcaram os primeiros dez séculos da história 
da Filosofia, com destaque especial para a filosofia clássica e seus 
principais representantes: Sócrates, Platão e Aristóteles. 
Específicos
 � Identificar geográfica, histórica e culturalmente o 
nascimento e desenvolvimento inicial da Filosofia.
 � Identificar as noções fundamentais 
da mentalidade filosófica.
 � Compreender os avanços e limites de cada nova 
teoria proposta pelos filósofos antigos em suas 
tentativas de superar seus antecessores.
 � Desenvolver a formação de um 
vocabulário técnico de Filosofia.
 � Refletir sobre as origens do pensamento 
filosófico, observando a lenta, porém 
irreversível, superação da mentalidade mítica e 
a consolidação da mentalidade ocidental.
Carga horária
A carga horária total da disciplina é 60 horas‑aula.
13
História da Filosofia I
Conteúdo programático/objetivos
Veja, a seguir, as unidades que compõem o livro didático desta 
disciplina e os seus respectivos objetivos. Estes se referem aos 
resultados que você deverá alcançar ao final de uma etapa de 
estudo. Os objetivos de cada unidade definem o conjunto de 
conhecimentos que você deverá possuir para o desenvolvimento 
de habilidades e competências necessárias à sua formação. 
Unidades de estudo: 6 
Unidade 1 – A origem da Filosofia
O estudo desta unidade possibilita identificar os principais 
fatores históricos que permitiram o surgimento da Filosofia e a 
superação da mentalidade mítica pela mentalidade racional
Unidade 2 – A Filosofia pré‑socrática
Nesta unidade, você conhecerá as principais etapas do 
desenvolvimento da filosofia pré‑socrática e compreenderá 
os fatores históricos e políticos que condicionaram o 
desenvolvimento inicial da Filosofia.
Unidade 3 – Os sofistas e Sócrates
Aqui você estudará os acontecimentos que fizeram de Atenas o 
maior centro da cultura grega antiga. Você poderá acompanhar o 
surgimento de uma nova classe intelectual, os sofistas, bem como 
o surgimento da filosofia clássica com Sócrates.
Unidade 4 – Platão
Esta unidade lhe permitirá conhecer vários aspectos do 
pensamento de Platão, um dos filósofos mais influentes em toda a 
história da Filosofia.
14
Universidade do Sul de Santa Catarina
Unidade 5 – Aristóteles 
Nesta unidade, você encontrará os principais elementos teóricos 
que compõem o sistema aristotélico, o qual representa o auge da 
filosofia clássica grega.
Unidade 6 – O período helenístico
Finalizando nossos estudos, você encontrará nesta unidade 
um resumo das principais ideias defendidas pelos filósofos do 
helenismo. Aqui você poderá identificar os fatores da decadência 
de Atenas e acompanhar o surgimento e desenvolvimento das 
escolas cínica, cética, epicurista e estoica.
Agenda de atividades/Cronograma
 � Verifique com atenção o EVA, organize‑se para acessar 
periodicamente a sala da disciplina. O sucesso nos seus 
estudos depende da priorização do tempo para a leitura, 
da realização de análises e sínteses do conteúdo e da 
interação com os seus colegas e professor.
 � Não perca os prazos das atividades. Registre no espaço 
a seguir as datas com base no cronograma da disciplina 
disponibilizado no EVA.
 � Use o quadro para agendar e programar as atividades 
relativas ao desenvolvimento da disciplina.
15
História da Filosofia I
Atividades obrigatórias
Demais atividades (registro pessoal)
1UNIDADE 1A origem da Filosofia
Objetivos de aprendizagem
 � Identificar os principais fatores históricos que 
permitiram o surgimento da filosofia.
 � Comparar as narrativas de Homero e Hesíodo com o 
nascente discurso filosófico‑racional.
 � Compreender as principais diferenças entre o 
pensamento mítico e o pensamento filosófico.
 � Compreender as noções de physis, causalidade, 
arqué, cosmo, lógos e crítica.
Seções de estudo
Seção 1 O mito como forma de conhecimento
Seção 2 Apogeu e declínio da mitologia grega
Seção 3 A origem histórica da filosofia
Seção 4 Noções fundamentais da mentalidade filosófica
18
Universidade do Sul de Santa Catarina
Para início de estudo
Pensar é uma atividade que faz parte do ser humano. Tentar 
compreender nós mesmos e a realidade que nos cerca faz parte 
da nossa natureza. A necessidade de saber quem somos, de 
onde viemos, para onde vamos, buscar uma explicação para os 
acontecimentos e compreender o sentido da vida – tudo isso está 
presente em todas as civilizações, de forma às vezes mais, às 
vezes menos elaborada. 
Mas os gregos antigos inventaram uma forma original de lidar 
com essas questões.
Nesta unidade de estudo, você vai poder identificar quais 
foram as peculiaridades desse jeito grego de pensar: o jeito 
filosófico‑científico‑racional. 
A partir de agora, você é o nosso convidado nessa jornada às 
origens da filosofia.
Seção 1 – O mito como forma de conhecimento
Historicamente, cada civilização construiu suas próprias formas 
de compreender e explicar a realidade. Nos primórdios do 
processo civilizatório, a carência de informações sistematizadas, 
de métodos de investigação e de instrumentos de pesquisa faz 
com que a explicação dos fenômenos naturais seja simplista 
(às vezes, simplória), parcial e com uma forte tendência ao 
subjetivismo.
A vida em sociedade exige que se estabeleça um conjunto de 
verdades aceitas coletivamente. Sem essa base compartilhada 
de crenças, a convivência em grupo não seria viável. Mas como 
fazer com que todos os indivíduos de uma sociedade aceitem 
as mesmas explicações como sendo as verdadeiras? Uma saída 
simples e eficaz para esse problema é o mito.
19
História da Filosofia I
Unidade 1
O mito consiste numa narrativa passada de geração 
a geração, contendo, geralmente, elementos que 
podem ser utilizados na explicação de fenômenos 
naturais ou na prescrição de condutas morais. 
O mito não é apresentado como verdade absoluta, e sim como 
um conhecimento elaborado por antigos ancestrais ou indivíduos 
extraordinários que, por sua grande sabedoria ou até mesmo por 
poderes sobrenaturais, teriam compreendido a realidade de uma 
forma mais profunda.
Em cada cultura, os mitos mais fundamentais são 
os chamados “mitos de origem”, aqueles que 
narram a forma como o mundo foi criado e, mais 
especificamente, como o ser humano e o próprio 
grupo social foram criados. Esse tipo de mito tem 
sido encontrado nas raízes de todas as culturas que 
conhecemos atualmente.
Um bom exemplo de um mito de origem é a narrativa que 
encontramos no Gênesis, o primeiro livro da Bíblia Sagrada. 
Nessa narrativa, temos uma descrição da origem do mundo a 
partir da vontade de Deus. Segundo o Gênesis, o Deus único 
produz o universo a partir do nada e gera também um ser 
especial, o ser humano, para reinar sobre os outros seres. Essa 
narrativa descreve também a origem do bem (a vontade de Deus) 
e do mal (desobediência humana) e estabelece as bases da ação 
moral. Além disso, ela descreve o surgimento de diferentes povos 
e culturas e estabelece a ideia de “povo escolhido”.
O mito de origem serve para dar uma resposta àqueles 
questionamentos mais fundamentais que nos afligem quando 
buscamosencontrar um sentido para a nossa própria existência: a 
origem do mundo e do ser humano, a vida e a morte, o bem e o 
mal, a saúde e a doença, a guerra e a paz, etc. É uma explicação 
que serve de fundamento para todas as outras explicações.
Além dos mitos de origem, há também mitos mais específicos, 
que servem para explicar fenômenos particulares, como os 
ventos, por exemplo, ou mesmo um acontecimento particular 
20
Universidade do Sul de Santa Catarina
como, por exemplo, a guerra de Troia. Em todas as suas 
variedades, o conhecimento mítico é uma resposta para 
tudo aquilo que é inexplicável, quando se utilizam apenas as 
experiências já acumuladas.
O conhecimento mítico possui algumas características e limitações 
que o diferenciam de outros tipos de conhecimento mais 
elaborados, disponíveis atualmente. Vejamos essas características:
 � O mito é uma representação alegórica da realidade, uma 
fantasia. Enquanto conhecimento da realidade, o mito 
não possui a intenção de ser uma explicação exata. Ao 
contrário, ele possui apenas uma significação simbólica. 
Dessa forma, o mito é uma ficção que serve de analogia 
para que se possa compreender a realidade.
 � O mito utiliza elementos sobrenaturais para explicar 
os fenômenos naturais. Ele se torna útil justamente 
quando não conseguimos dar uma explicação racional 
para os fatos do cotidiano. Quando temos necessidade de 
superar um problema cognitivo, o mito surge como uma 
estratégia eficaz, que consiste em empurrar o problema 
para fora do alcance das nossas angústias mais ordinárias. 
Querer saber por que está ventando é uma pretensão 
cognitiva legítima. Mas, se não houver nenhuma 
resposta convincente para essa questão, uma boa saída é 
afirmar simplesmente que o deus do vento está fazendo 
ventar. Por outro lado, querer saber por que o deus do 
vento está fazendo ventar já extrapola os limites das 
nossas pretensões cognitivas legítimas. O recurso ao 
sobrenatural é a saída mais fácil e eficaz sempre que se 
esgotam as possibilidades da explicação racional.
 � O mito é maleável. Embora tenha uma estrutura que 
se mantém mais ou menos inalterada, certos detalhes 
podem ser deixados de lado ou suprimidos, ou, ao 
contrário, podem ser supervalorizados, dependendo de 
cada situação ou da intenção de quem faz a narrativa. 
Além disso, como vai passando de geração a geração, 
o mito vai‑se modificando ao longo do tempo e 
adaptando‑se a novas situações.
21
História da Filosofia I
Unidade 1
 � O mito envolve uma carga muito grande de 
subjetividade. Já na sua origem, o mito é uma 
representação subjetiva e arbitrária, dado que ele precisa 
ser criado por alguém. Todo mito tem um autor, alguém 
que contou a estória pela primeira vez. É claro que, ao 
ser contada novamente por outra pessoa, essa estória 
vai ganhar novas nuanças. Cada novo narrador torna‑se 
co‑autor do mito. Cada um dá a sua contribuição 
subjetiva à narração.
 � Embora envolva uma grande dose de subjetividade, o 
mito é sempre um fenômeno cultural. Trata‑se de uma 
narrativa de domínio público e funciona como uma 
representação da verdade que é aceita, de forma implícita, 
por cada um dos membros da coletividade. O próprio 
fato da aceitação de um mito por um determinado 
indivíduo pode ser tomado como critério para a sua 
inclusão, ou não, em um determinado grupo social. 
A aceitação geral do mito, sem questionamentos, serve 
como um elemento que reforça a unidade de um povo.
Para que o mito possa alcançar plenamente a sua finalidade, 
é comum o encontrarmos, no processo civilizatório, 
associado a mecanismos de imposição social. Cada 
indivíduo, como membro de um grupo marcado por 
uma identidade cultural, deve aceitar como adequadas as 
explicações dadas pela tradição, sem questioná‑las.
Além disso, o mito possui vários mecanismos de convencimento. 
O principal é a educação. Para garantir que os mitos não 
se percam com o passar do tempo, eles são incorporados na 
formação das novas gerações. Assim, as crianças precisam 
conviver, desde pequenas, com as narrativas míticas. 
O conhecimento dos mitos e a capacidade de narrá‑los de forma 
completa e detalhada passam a constituir um dos sinais de 
refinamento cultural. 
Mas só a educação não é suficiente para garantir a aceitação 
universal do mito. Por isso um segundo mecanismo de sua 
imposição social é a religião. É comum encontrarmos, nas 
sociedades mais antigas, a função de explicação dos fenômenos 
da realidade associada à função religiosa. Isso faz sentido 
na medida em que ambas fazem referência a elementos 
22
Universidade do Sul de Santa Catarina
sobrenaturais. Assim, traçar os limites entre mitologia e religião 
pode ser uma tarefa difícil ou mesmo impossível. 
Um terceiro mecanismo de imposição do mito é o poder 
político. Na maioria das civilizações, o poder político surge e 
se desenvolve intimamente associado ao poder religioso. Dessa 
forma, a aceitação geral e incondicional de certos mitos interessa 
ao Estado. Nesse sentido, o poder político se encarrega de 
estabelecer normas que obriguem a aceitação de certas versões de 
um mito em detrimento de outras versões e de outros mitos.
Atenção! 
Como você pode ver, o mito tem um papel 
fundamental no florescimento de uma cultura. Mas o 
conhecimento mítico tem muitas limitações também. 
Entre as limitações do conhecimento mítico, podemos destacar 
duas fundamentais: sua reduzida capacidade explicativa e sua 
restrita abrangência populacional.
A primeira grande limitação do mito é a falta de uma base 
concreta que sustente suas explicações. Como vimos, o 
conhecimento mítico é elaborado para suprir as carências 
do conhecimento empírico; trata‑se de uma explicação 
alegórica para aquilo que é inexplicável a partir dos dados 
da experiência. O mito é uma explicação forjada, sem 
compromisso com a verdade.
A outra grande limitação tem uma feição política. Todo mito é 
sempre fruto de uma cultura. E toda cultura tem seus mitos. Isso 
faz com que toda vez que ocorra um contato entre duas ou mais 
culturas, surja um conflito entre mitos. Quando o mito determina 
a compreensão da própria existência de um grupo social e da 
realidade que o cerca, um confronto entre mitos implica um 
conflito existencial para toda uma população. O choque entre 
mitos concorrentes coloca em risco a própria identidade cultural 
de um povo. Isso faz com que o diálogo intercultural torne‑se 
algo indesejável nas sociedades que se fundamentam sobre mitos, 
levando‑as ao fundamentalismo e à intolerância.
23
História da Filosofia I
Unidade 1
Atenção! 
Como você pode ver, o mito possui qualidades e 
vantagens que seduzem o ser humano. Mas também 
apresenta desvantagens e riscos que não podem 
deixar de ser levados em consideração. 
Na Antiguidade mais remota, todas as grandes civilizações 
cresceram sustentadas pelos mitos. Entretanto, por volta do 
séc. VI a.C., uma civilização emergente, que até então se 
desenvolvera alicerçada nos mitos, vislumbrou um caminho 
diferente. Era a civilização grega que, devido a uma confluência 
de fatores históricos, geográficos e culturais, tornou‑se o berço da 
democracia, da filosofia e da ciência. Eles não sabiam, mas esse 
novo caminho mudaria a história da humanidade. 
É essa nova proposta civilizatória que nós veremos a partir da 
próxima seção. 
Seção 2 – Apogeu e declínio da mitologia grega
A mitologia grega formou‑se a partir da tradição oral popular. 
Para facilitar a memorização, as narrativas mitológicas 
eram transformadas em poemas, que se decoravam e eram 
costumeiramente recitados como entretenimento. Com o 
passar do tempo, surge na Grécia uma classe artística composta 
de aedos (poetas que recitavam suas próprias composições) e 
rapsodos (artistas que recitavam poemas de outros autores ou 
mesmo poemas de domínio público). As comemorações religiosas 
e cívicas costumavam ser abrilhantadas pela participação de 
aedos e rapsodos, alguns dos quais se tornaram personalidades 
ilustres da história grega.24
Universidade do Sul de Santa Catarina
Homero
O mais famoso poeta grego foi Homero (séc. IX a.C.). 
Costuma‑se atribuir a ele a autoria de dois poemas épicos: 
a Ilíada e a Odisséia. Homero era cego e, talvez por isso, 
tenha desenvolvido a habilidade de memorização de forma 
tão extraordinária: a Ilíada é formada por 15.693 versos e a 
Odisséia, por 12.110. As apresentações de Homero consistiam 
em espetáculos que duravam vários dias e atraíam multidões. 
Homero tornou‑se um grande ídolo. Muitos poetas tentavam 
imitá‑lo. O público se esforçava em decorar pelo menos algumas 
dezenas de versos, para conferir se o poeta era capaz de repetir 
exatamente os mesmos versos em uma outra apresentação. 
Figura 1.1 - O poeta Homero 
Fonte: Portal dos professores, (2006).
O sucesso de Homero ajudou a difundir o dialeto que ele usava 
nos poemas, e isso foi decisivo para conferir certa unidade 
linguística à cultura grega. As histórias de deuses e heróis 
passaram a fazer parte do imaginário coletivo. A memorização 
dos versos mais famosos e a incorporação dos ideais neles 
contidos tornaram‑se a base da educação grega.
Mas qual era a concepção de mundo dos poemas 
de Homero?
25
História da Filosofia I
Unidade 1
Os poemas de Homero relatam os feitos dos grandes 
heróis, seres extraordinários, de sangue nobre, notáveis 
por suas virtudes (areté) e que deveriam ser vistos como 
modelo para a ação humana. As virtudes desses heróis são 
a coragem, a força física, a habilidade no uso de armas, o 
poder de persuasão através do discurso e, principalmente, a 
lealdade. Para o herói das epopeias homéricas, a honra vale 
mais que a própria vida. E, em busca dessa honra, o herói 
deve esforçar‑se para se sobressair e para que seu nome seja 
lembrado por incontáveis gerações. O herói homérico é 
aquele que luta continuamente para superar em qualidades 
todos que o cercam e também para superar a si mesmo.
A ação do herói, no entanto, é limitada pelo destino e sofre 
constantemente a interferência dos deuses. O destino, uma vez 
traçado, não pode mais ser alterado. Além disso, o herói precisa 
compreender que, sem a ajuda dos deuses, ele se torna incapaz de 
alcançar seus objetivos. A pior desgraça na vida humana, mesmo 
para um herói, é o ódio dos deuses. Portanto o complemento 
necessário das virtudes do herói é a piedade (a devoção e o 
respeito aos deuses).
Hesíodo
Outro poeta fundamental para o desenvolvimento da 
mitologia grega foi Hesíodo (séc. VIII a.C.). Como aedo, 
Hesíodo tornou‑se famoso e reverenciado por toda a 
cultura grega. 
Em sua obra Teogonia (do grego theos: deus, e gonia: 
origem), Hesíodo faz uma compilação bastante completa 
da origem e genealogia dos deuses. Hesíodo sistematizou 
os antigos mitos da criação e organizou as relações entre 
deuses e heróis numa sequência lógica. A genealogia 
é composta por três gerações: a de Urano (céu), a de 
Cronos (tempo) e a de Zeus. 
Numa outra obra, Os Trabalhos e os Dias, Hesíodo situa a origem da 
humanidade em uma etapa da sucessão de raças em decadência: à 
raça de ouro seguem‑se as raças de prata, de bronze, a dos heróis e, 
Figura 1.2 - O poeta Hesíodo 
Fonte: Universidade Federal de Minas 
Gerais, [20??].
26
Universidade do Sul de Santa Catarina
por fim, a raça de ferro, à qual nós próprios pertencemos. Assim, 
Hesíodo desqualifica a origem nobre como elemento fundamental 
da virtude. Se todos nós somos descendentes decaídos de raças 
mais elevadas, não é a origem familiar que nos torna melhores, ou 
piores. Dessa forma, Hesíodo nivela todos os seres humanos. Para 
ele, o que realmente nos diferencia é o esforço individual na busca 
da excelência. 
Em Hesíodo, a interferência dos deuses sobre a ação humana 
é minimizada. Embora os deuses tenham interferido nas 
ações das outras raças, inclusive nas ações dos heróis, nossa 
raça tornou‑se insignificante para eles e ficou entregue a 
si mesma. A busca da excelência (areté) através do esforço 
pessoal é a única forma de que o ser humano agora dispõe 
para fugir dos infortúnios da vida. Os deuses, embora 
existam e tenham poder para interferir na vida humana, 
distanciam‑se e passam a se preocupar consigo mesmos.
Essas duas inovações de Hesíodo, o nivelamento 
da espécie humana e o distanciamento dos deuses, 
formaram as bases ideológicas para o aparecimento 
da democracia e para a laicização da cultura grega. 
Seção 3 – A origem histórica da filosofia
A temática sobre as origens da filosofia é tão antiga 
como sua consolidação em forma de pensamento (tipo de 
conhecimento). Já, na Antiguidade, há o debate entre a tese 
orientalista e a ocidentalista.
A primeira defende que os gregos nada fizeram além de 
aperfeiçoar elementos do pensamento oriental. A segunda 
defende a tese do milagre grego, tomando a filosofia como uma 
criação puramente grega.
Laicização: processo de tornar 
laico ou de desvincular de 
conotações religiosas.
27
História da Filosofia I
Unidade 1
Esse debate perdurou até o final do século XIX, mudando com 
as novas descobertas arqueológicas do final do século XIX e 
início do século XX, com a confluência de novas pesquisas da 
linguística e da antropologia, particularmente quanto ao estudo 
da mentalidade primitiva ou arcaica.
Passa‑se, então, a procurar entender de que modo, num dado 
ambiente e em certas condições históricas, a mentalidade mítica 
foi dando lugar à mentalidade filosófico‑científica. Não se trata 
mais de pensar a filosofia como um milagre, no sentido religioso; 
tampouco pensá‑la como mero legado do Oriente. Certamente os 
gregos antigos desenvolveram o legado oriental e são devedores 
deste: a matemática e a astronomia constituem bons exemplos 
disso. Contudo muitos historiadores contemporâneos defendem 
que a filosofia, enquanto uma forma de pensamento, uma 
teorização, é uma invenção grega.
Jean‑Paul Vernant, um helenista, defende ter sido uma série 
de condições sociopolíticas que levaram a essa mudança de 
mentalidade. Marilena Chaui (2000a, p. 31‑32), em parte, 
fundamentando‑se neste helenista, resume essas condições:
Helenista: estudioso que 
se dedica a investigar a 
história e a cultura da 
Grécia antiga.
 � As viagens marítimas, que permitiram aos gregos descobrir 
que os locais que os mitos diziam habitados por deuses, 
titãs e heróis eram, na verdade, habitados por outros seres 
humanos; e que as regiões dos mares que os mitos diziam 
habitados por monstros e seres fabulosos não possuíam 
nem monstros nem seres fabulosos. As viagens produziram 
o desencantamento ou a desmistificação do mundo, que 
passou, assim, a exigir uma explicação sobre sua origem, 
explicação que o mito já não podia oferecer.
 � A invenção do calendário, que é uma forma de calcular 
o tempo segundo as estações do ano, as horas do dia, os 
fatos importantes que se repetem, revelando, com isso, 
uma capacidade de abstração nova, ou uma percepção 
do tempo como algo natural e não como um poder 
divino incompreensível.
 � A invenção da moeda, que permitiu uma forma de troca 
que não se realiza através das coisas concretas ou dos objetos 
concretos trocados por semelhança, mas uma troca abstrata, 
uma troca feita pelo cálculo do valor semelhante das coisas 
diferentes, revelando, portanto, uma nova capacidade de 
abstração e de generalização.
28
Universidade do Sul de Santa Catarina
 � O surgimento da vida urbana, com predomínio do comércio 
e do artesanato, dando desenvolvimento a técnicas de 
fabricação e de troca, e diminuindo o prestígio das famílias 
da aristocracia proprietária de terras, por quem e para 
quem os mitos foram criados; além disso, o surgimento de 
uma classe de comerciantes ricos, que precisava encontrar 
pontos de poder e de prestígio para suplantar o velho 
poderio da aristocracia de terras e de sangue (as linhagens 
constituídas pelas famílias), fez com que se procurasse o 
prestígio pelo patrocínio e estímulo às artes, às técnicas e aos 
conhecimentos, favorecendo um ambiente onde a Filosofia 
poderia surgir.
 �A invenção da escrita alfabética, que, como a do calendário 
e a da moeda, revela o crescimento da capacidade de 
abstração e de generalização, uma vez que a escrita alfabética 
ou fonética, diferentemente de outras escritas ‑‑ como por 
exemplo, os hieróglifos dos egípcios ou os ideogramas dos 
chineses ‑‑ , supõe que não se represente uma imagem da 
coisa que está sendo dita, mas a ideia dela, o que dela se 
pensa e se transcreve.
 � A invenção da política, que introduz três aspectos novos e 
decisivos para o nascimento da Filosofia:
1. A ideia da lei como expressão da vontade de uma 
coletividade humana que decide por si mesma o que 
é melhor para si e como ela definirá suas relações 
internas. O aspecto legislado e regulado da cidade – da 
pólis – servirá de modelo para a Filosofia propor o 
aspecto legislado, regulado e ordenado do mundo como 
um mundo racional.
2. O surgimento de um espaço público, que faz aparecer um 
novo tipo de palavra ou de discurso, diferente daquele 
que era proferido pelo mito. Nesse, um poeta‑vidente, 
que recebia das deusas ligadas à memória (a deusa 
Mnemosyne, mãe das Musas, que guiavam o poeta) uma 
iluminação misteriosa ou uma revelação sobrenatural, 
dizia aos homens quais eram as decisões dos deuses a 
que eles deveriam obedecer. Agora, com a pólis, isto 
é, a cidade política [cidade‑estado], surge a palavra 
como direito de cada cidadão de emitir em público sua 
opinião, discuti‑la com os outros, persuadi‑los a tomar 
uma decisão proposta por ele, de tal modo que surge o 
discurso político como a palavra humana compartilhada, 
como diálogo, discussão e deliberação humana, isto é, 
como decisão racional e exposição dos motivos ou das 
razões para fazer ou não fazer alguma coisa. A política, 
valorizando o humano, o pensamento, a discussão, a 
persuasão e a decisão racional, valorizou o pensamento 
racional e criou condições para que surgisse o discurso ou 
a palavra filosófica.
29
História da Filosofia I
Unidade 1
3. A política estimula um pensamento e um discurso 
que não procuram ser formulados por seitas secretas 
dos iniciados em mistérios sagrados, mas que 
procuram, ao contrário, ser públicos, ensinados, 
transmitidos, comunicados e discutidos. A ideia de 
um pensamento que todos podem compreender e 
discutir, que todos podem comunicar e transmitir, é 
fundamental para a Filosofia.
Fonte: Centro de Filosofia e Ciências Humanas, (2008).
Essa passagem de uma narrativa mítica (caracterizada por 
um discurso sacralizante, que busca dar conta das origens, 
não como produto de um ser humano transformador, mas 
de uma divindade [ou divindades], que traça [ou traçam] o 
destino dos seres humanos) para uma narrativa centrada na 
racionalidade – o lógos – não se deu repentinamente, e muitos 
elementos que encontramos nos primeiros filósofos – os 
pré‑socráticos – ainda carregam aspectos míticos. 
Seção 4 – Noções fundamentais da mentalidade 
filosófica 
De acordo com Danilo Marcondes (2001, p. 22‑27), algumas 
noções são fundamentais para entendermos a diferenciação entre 
o pensamento mítico e o filosófico‑científico. São elas: a physis, a 
causalidade, a arqué (ou arkhé), o cosmo, o lógos e o caráter crítico. 
Veja‑as em detalhes, na sequência. 
1 – A physis
Esta palavra grega pode ser traduzida por natureza, entendendo esta 
em, pelo menos, três sentidos, conforme Chaui (2000b, p. 257): 
30
Universidade do Sul de Santa Catarina
1) processo de nascimento, surgimento, crescimento 
(sentido derivado do verbo phýomai); 2) disposição 
espontânea e natureza própria de um ser; características 
naturais e essenciais de um ser; aquilo que constitui 
a natureza de um ser; 3) força originária criadora 
de todos os seres, responsável pelo surgimento, 
transformação e perecimento deles. Physis é o 
fundo inesgotável de onde vem o Kósmos; e é fundo 
perene para onde regressam todas as coisas, a 
realidade primeira e última de todas as coisas.
Assim, a physis é o mundo natural, a totalidade dos entes, a 
totalidade daquilo que é.
2 – A causalidade
Esta totalidade, reforça Marcondes (2001, p. 24‑25), é 
engendrada (produzida) por uma relação de causa e efeito. 
A característica central da explicação da natureza 
pelos primeiros filósofos é, portanto, o apelo à noção 
de causalidade, interpretada em termos puramente 
naturais. O estabelecimento de uma conexão causal 
entre determinados fenômenos naturais constitui assim 
a forma básica da explicação científica e é, em grande 
parte, por esse motivo que consideramos as primeiras 
tentativas de elaboração de teorias sobre o real como o 
início do pensamento científico. Explicar é relacionar um 
efeito a uma causa que o antecede e determina. Explicar 
é, portanto, reconstruir o nexo causal existente entre os 
fenômenos da natureza, é tomar um fenômeno como 
efeito de uma causa. É a existência desse nexo que torna a 
realidade inteligível e nos permite considerá‑la como tal. 
 
É importante, entretanto, que o nexo causal se dê entre 
fenômenos naturais. Isto porque podemos considerar 
que o pensamento mítico também estabelece explicações 
causais. Assim, na narrativa da guerra de Tróia na Ilíada 
de Homero, vemos os deuses tomar o partido dos gregos 
e dos troianos e influenciar os acontecimentos em favor 
destes ou daqueles, portanto, fenômenos humanos e 
naturais têm nesse caso causas sobrenaturais. Trata‑se de 
uma explicação causal, porém dada através da referência 
31
História da Filosofia I
Unidade 1
a causas sobrenaturais. É por isso que o que distingue a 
explicação filosófico‑cientí fica da mítica é a referência 
apenas a causas naturais. 
A explicação causal possui, entretanto, um caráter 
regressivo. Ou seja, explicamos sempre uma coisa por 
outra e há assim a possibilidade de se ir buscando uma 
causa anterior, mais básica, até o infinito. Cada fenômeno 
poderia ser tomado como efeito de uma nova causa, que 
por sua vez seria efeito de uma causa anterior, e assim 
sucessivamente, em um processo sem fim. Isso, contudo, 
invalidaria o próprio sentido da explicação, pois, mais 
uma vez a explicação levaria ao inexplicável, a um misté‑
rio, portanto, tal como no pensamento mítico.
Para evitar que isso aconteça, surge a necessidade de se 
estabelecer uma causa primeira, um primeiro princípio, ou 
conjunto de princípios, que sirva de ponto de partida para todo o 
processo racional. É aí que encontramos a noção de arqué.
3 – Arqué (ou arkhé)
A arqué é o princípio originário. Tem também o sentido de 
comando e, como aponta Marcondes (2001, p. 25‑26), serve para 
resolver o problema da causalidade ao infinito. 
A importância da noção de arqué está exatamente na 
tentativa por parte desses filósofos de apresentar uma 
explicação da realidade em um sentido mais profundo, 
estabelecendo um princípio básico que permeie toda a 
realidade, que de certa forma a unifique, e que ao mesmo 
tempo seja um elemento natural. Tal princípio daria 
precisamente o caráter geral a esse tipo de explicação, 
permitindo considerá‑la como inaugurando a ciência. 
Mais à frente você verá como a arkhé foi tratada por cada um dos 
filósofos originários – os pré‑socráticos.
32
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4 – O cosmo
Em grego, cosmo significa ordenado, ornado. Tendo presente 
essas acepções, podemos entender o cosmo como belo – logo, 
um princípio, também, estético –, pois o que é bem ordenado, 
harmônico, é belo e justo. Nesse sentido, diz Marcondes (2001, 
p. 26) que
O cosmo é assim o mundo natural, bem como o espaço 
celeste, enquanto realidade ordenada de acordo com 
certos princípios racionais. A idéia básica de cosmo é, 
portanto, a de uma ordenação racional, uma ordem 
hierárquica, em que certos elementos são mais básicos, 
e que se constitui de forma determinada, tendo a 
causalidade como lei principal. O cosmo, entendido 
assim como ordem, opõe‑se ao caos ( , que seria 
precisamente a falta de ordem, o estado da matéria 
anterior à sua organização. É importante notar que 
a ordem do cosmo é umaordem racional, “razão” 
significando aí exatamente a existência de princípios e leis 
que regem, organizam essa realidade. É a racionalidade 
deste mundo que o torna compreensível, por sua vez, ao 
entendimento humano. É porque há na concepção grega 
o pressuposto de uma correspondência entre a razão 
humana e a racionalidade do real – o cosmo – que este 
real pode ser compreendido, pode‑se fazer ciência, isto 
é, pode‑se tentar explicá‑lo teoricamente. Daí se origina 
o termo “cosmologia”, como explicação dos processos e 
fenômenos naturais e como teoria geral sobre a natureza 
e fundamento do universo.
5 – O lógos
Lógos, a principal noção filosófica, pode ser traduzida por 
palavra, discurso, “razão”. É a narrativa explicativa, a qual supõe 
encadeamento de juízos de forma coerente e o estabelecimento 
das relações de causa e efeito racionalmente. Nesse sentido, 
difere‑se de mythos – o discurso mítico, dos poetas, pois, neste, 
certos princípios lógicos não são necessários. Para reforçar tudo 
isso, tomemos Marcondes (2001, p. 26‑27) novamente:
No geral, para os gregos 
antigos, certos conceitos têm 
concomitantemente um sentido 
estético, ético, utilitário e 
ontológico. Mesmo assim, cabe 
salientar que, nos pensadores 
originários – os pré-socráticos 
-, a relação entre ética e estética 
ainda não está totalmente 
consolidada. É a partir de Sócrates, 
particularmente como a noção de 
kalokagathia – ser belo e bom – que 
isso se consolidará. Contudo esse 
aspecto em particular será tema 
de outra disciplina: a Estética.
33
História da Filosofia I
Unidade 1
O lógos é fundamentalmente uma explicação, em que 
razões são dadas. É nesse sentido que o discurso dos 
primeiros filósofos, que explica o real por meio de causas 
naturais, é um lógos. Essas razões são fruto não de uma 
inspiração ou de uma revelação, mas simplesmente 
do pensamento humano aplicado ao entendimento da 
natureza. O lógos. É, portanto, o discurso racional, 
argumentativo, em que as explicações são justificadas e 
estão sujeitas à crítica e à discussão (ver tópico seguinte). 
Daí deriva, por exemplo, o nosso termo “lógica”. Porém, 
o próprio Heráclito caracteriza a realidade como tendo 
um lógos, ou seja, uma racionalidade (ver o conceito de 
cosmo acima) que seria captada pela razão humana. 
Portanto um dos pressupostos básicos da visão dos 
primeiros filósofos é a correspondência entre a razão 
humana e a racionalidade do real, o que tornaria possível 
um discurso racional sobre o real.
6 – O caráter crítico
Essa é a verdadeira essência da atitude filosófica. Diferente das 
noções anteriores, que são teóricas, essa é uma noção prática, 
relacionada à atitude necessária para que se possa pensar 
filosoficamente. Baseado em Popper, Marcondes (2001, p. 27) 
descreve assim essa noção:
Um dos aspectos mais fundamentais do saber que 
se constitui nessas primeiras escolas de pensamento, 
sobretudo na escola jônica, é seu caráter crítico. Isto é, 
as teorias aí formuladas não o eram de forma dogmática, 
não eram apresentadas como verdades absolutas e 
definitivas, mas como passíveis de serem discutidas, de 
susci tarem divergências e discordâncias, de permitirem 
formulações e propostas alterna tivas. Como se trata de 
construções do pensamento humano, de idéias de um 
filósofo – e não de verdades reveladas, de caráter divino 
ou sobrenatural –, estão sempre abertas à discussão, 
à reformulação, a correções. O que pode ser ilustrado 
pelo fato de que, na escola de Mileto, os dois principais 
seguidores de Tales, Anaxímenes e Anaximandro, 
não aceitaram a idéia do mestre de que a água seria o 
elemento pri mordial, postulando outros elementos, 
respectivamente o ar e o apeiron, como tendo esta função. 
Isso pode ser tomado como sinal de que nessa escola 
34
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filosófica o debate, a divergência e a formulação de 
novas hipóteses eram estimulados. A única exigência era 
que as propostas divergentes pudessem ser justificadas, 
explicadas e fundamen tadas por seus autores, e que 
pudessem, por sua vez, ser submetidas à crítica.
Síntese
Entre os séculos X e VI a.C., os gregos antigos inventaram uma 
forma original de explicar a realidade. Essa nova forma de pensar 
se caracteriza por uma valorização do ser humano enquanto 
parâmetro para compreender o universo, e se opõe às explicações 
baseadas em decisões divinas e em forças sobrenaturais. 
Uma série de condições sociopolíticas contribuíram 
para o desenvolvimento dessa nova mentalidade. 
Entre elas, podemos destacar as viagens marítimas, o 
surgimento da vida urbana e a invenção do calendário, 
da moeda, da escrita alfabética e da política.
Essa passagem de uma mentalidade mítica para uma mentalidade 
centrada na racionalidade ocorreu de forma lenta e gradual. 
Mas, a partir do séc. VI a.C., já é possível identificar algumas 
noções fundamentais da mentalidade filosófica: a physis, a 
causalidade, a arqué, o cosmo, o lógos e o caráter crítico.
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História da Filosofia I
Unidade 1
Atividades de autoavaliação
Ao final de cada unidade, você realizará atividades de autoavaliação. 
O gabarito está disponível no final do livro didático. Mas se esforce para 
resolver as atividades sem ajuda do gabarito, pois, assim, você estará 
promovendo (estimulando) a sua aprendizagem.
1) Em relação às condições sociopolíticas que levaram ao declínio da 
mentalidade mítica e ao surgimento da mentalidade filosófica, numere 
a 2ª coluna de acordo com a 1ª (alguns números se repetem):
1. Viagens marítimas
2. Invenção do 
calendário
3. Invenção da moeda
4. Surgimento da vida 
urbana
5. Invenção da escrita 
alfabética
6. Invenção da política
a) ( ) Produz uma capacidade de abstração 
nova, tornando a percepção 
do tempo como algo natural, e 
não como um poder divino.
b) ( ) Estimula uma nova formulação das 
explicações, que seja acessível à 
compreensão de todos, e não mais 
apenas de uma minoria de iniciados.
c) ( ) Produz o desencantamento e a 
desmistificação do mundo.
d) ( ) Faz aparecer um novo tipo de 
discurso, fundado no diálogo, na 
discussão e na persuasão, diferente 
daquele que era proferido pelo 
mito e que pretendia ter sua origem 
em uma revelação sobrenatural.
e) ( ) Produz mudanças econômicas e sociais 
como a valorização do comércio e do 
artesanato e a diminuição do prestígio 
da aristocracia proprietária de terras, 
para quem os mitos foram criados.
f) ( ) Revela uma nova capacidade de 
abstração e de generalização, 
que permite comparar coisas 
totalmente diferentes.
g) ( ) Introduz a ideia de lei como 
expressão da vontade humana.
h) ( ) Revela o crescimento da 
capacidade de abstração e de 
generalização, uma vez que permite 
representar ideias abstratas.
36
Universidade do Sul de Santa Catarina
2) A invenção da filosofia na Grécia antiga representou o surgimento de 
uma nova forma de pensar. Isso não significa que as outras formas 
desapareceram totalmente. Ao contrário, até hoje encontramos formas 
de compreender e explicar a realidade que são amplamente difundidas 
e que não se enquadram nas exigências que caracterizam a filosofia. 
Um bom exemplo disso é a religião. O Livro Gênesis (1º livro da Bíblia), 
por exemplo, narra a origem do mundo e da humanidade, e o faz de 
uma forma totalmente diferente da forma filosófica. Propomos, então, 
que você identifique essa diferença, seguindo este roteiro:
a) identifique as noções fundamentais da mentalidade filosófica;
b) leia a parte inicial do Gênesis (Basta ler o capítulo 1. Caso você não 
tenha uma Bíblia, consulte o e‑book respectivo, disponível na Internet, 
e acessível por seu buscador e navegador preferido);
c) verifique, uma a uma, se as noções fundamentais da mentalidade 
filosófica estão contempladas no texto bíblico. 
Que resultado você encontrou?
37
História da Filosofia I
Unidade 1
3) Vamos aprender grego?
Escreva a palavra grega que corresponde a cada um dos vocábulos 
abaixo:
a) origem; elemento primordial: _______________
b)natureza: _______________
c) razão: _______________
d) cidade‑Estado: _______________
e) virtude/excelência: _______________
f) ordenado [aquilo que está em ordem]: _______________
g) desordenado: _______________
Saiba mais
Se você desejar, aprofunde os conteúdos estudados nesta unidade, 
consultando as seguintes referências:
MARCONDES, Danilo. Iniciação à história da filosofia: 
dos pré‑socráticos a Wittgenstein. 6. ed. Rio de Janeiro: Jorge 
Zahar, 2001. 
CHAUI, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 2000a.
CHAUI, Marilena. Introdução à história da filosofia. São 
Paulo: Companhia das Letras, 2000b.
2UNIDADE 2A Filosofia pré‑socrática 
Objetivos de aprendizagem
 � Identificar as principais etapas de desenvolvimento da 
filosofia pré‑socrática.
 � Diferenciar as principais escolas pré‑socráticas.
 � Identificar os principais representantes de cada escola 
e seus principais conceitos.
 � Compreender avanços e limites de cada teoria.
 � Identificar e compreender fatores históricos e 
políticos que condicionaram o desenvolvimento 
inicial da Filosofia.
 � Habituar‑se ao vocabulário da filosofia grega.
Seções de estudo
Seção 1 Contexto histórico e localização geográfica
Seção 2 A Escola Jônica
Seção 3 A Escola Pitagórica
Seção 4 Xenófanes e a Escola Eleática
Seção 5 Os filósofos pluralistas
Seção 6 A Escola Atomista
Seção 7 O sentido geral da Filosofia pré‑socrática
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Universidade do Sul de Santa Catarina
Para início de estudo
A partir do séc. VI a.C. ocorreu na Grécia uma gradativa 
laicização da cultura. Os poemas de Homero e Hesíodo, outrora 
considerados fonte de conhecimento da realidade, perderam 
a sua relevância explicativa pouco a pouco e foram passando 
à categoria de “cultura supérflua” e, sobre certas questões, até 
mesmo “danosa”.
A necessidade de compreender a natureza de forma racional 
implicou, então, buscar novas formas de explicar o que e como 
as coisas são e por que são como são. Nessa busca, os primeiros 
filósofos foram esbarrando em diversas dificuldades, mas também 
foram alcançando algumas vitórias e vencendo etapas importantes. 
É essa jornada que vamos acompanhar a partir de agora.
Seção 1 – Contexto histórico e localização geográfica
Antes de falar dos primeiros filósofos, é necessário fazer mais 
alguns esclarecimentos sobre o contexto em que surgiu a Filosofia. 
A Grécia antiga, o berço da Filosofia, não era um país. Era, 
de fato, um conjunto de dezenas de pequenos países, ou 
cidades‑Estado (pólis). O que ligava esses países era a sua 
cultura. O idioma grego, com pequenas variações, era falado 
em todas as poleis. Poetas e rapsodos iam de cidade em 
cidade, apresentando‑se em festivais e datas comemorativas, e 
disseminavam os mitos de Homero, Hesíodo e de outros autores. 
Essa unidade cultural teve origem em questões históricas (como 
a formação do próprio povo heleno através de uma sucessão de 
invasões do território grego por povos indo‑europeuo o Jônios, 
Eólios, Aqueus e Dórios), características geográficas (relevo 
acidentado, solo pouco fértil, proximidade do mar, grande 
número de ilhas, etc.) e militares (as cidades‑Estado eram 
Poleis é o plural de pólis.
41
História da Filosofia I
Unidade 2
incapazes de enfrentar sozinhas as nações mais poderosas, mas, 
quando unidas, eram consideradas invencíveis).
A principal atividade econômica dos gregos era o comércio 
marítimo. Para garantir seus interesses, os gregos fundaram 
diversas colônias encravadas em territórios de outros países, 
algumas delas implantadas através de guerras e invasões, outras 
estabelecidas através de acordos pacíficos com grandes reinos. Foi 
nessas colônias que a Filosofia surgiu e se desenvolveu ao longo 
de quase dois séculos, antes de chegar à pólis de Atenas, onde 
encontrou seu apogeu na cultura helênica. Veja na figura 2.1 
uma representação dos domínios helênicos.
Figura 2.1 - O mundo grego nos séculos V e IV a.C 
Fonte: Centro de Filosofia e Ciências Humanas, [20??].
Hoje, os filósofos dessa fase inicial da história da Filosofia 
costumam ser chamados de pré‑socráticos. Os pré‑socráticos 
foram os “criadores” da Filosofia. Infelizmente, todas as obras 
escritas por esses pensadores acabaram perdendo‑se ao longo 
dos milênios que historicamente nos separam deles. O pouco 
que nós conhecemos da filosofia dos pré‑socráticos nos chegou, 
principalmente, a partir de textos de autores clássicos os quais 
citam trechos das obras que se perderam ou fazem alguma 
referência clara ao conteúdo de tais obras.
Atualmente, temos dois tipos de fonte em que podemos nos 
basear para reconstruirmos como foi o pensamento dos primeiros 
filósofos: os fragmentos e a doxografia. 
Os gregos se 
autodenominavam 
helenos, e a Grécia, 
que não era um país, 
e sim um conjunto de 
cidades-Estado, era 
chamada de Hélade. 
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Universidade do Sul de Santa Catarina
Fragmento é uma parte de um texto que foi 
preservada, apesar de a obra completa ter‑se perdido. 
Muitas vezes são frases transcritas em obras de outros 
autores antigos. 
Doxografia são comentários, avaliações e explicações 
que outros autores antigos fizeram sobre as ideias 
defendidas por esses filósofos cujos textos se 
perderam. Às vezes são resumos que filósofos ou 
historiadores antigos fizeram das ideias defendidas 
por algum outro pensador.
Os pré‑socráticos podem ser classificados em cinco grupos: os 
jônios, os pitagóricos, os eleatas, os pluralistas e os atomistas. 
Para ampliar seus conhecimentos sobre a filosofia pré‑socrática, 
acompanhe explicações sobre cada um desses grupos. 
Seção 2 – A Escola Jônica
A partir do séc. XII a.C., os gregos estabeleceram diversas 
colônias nas ilhas do Mar Egeu e na costa oeste da Ásia Menor 
(território que hoje faz parte da Turquia). Nos séculos VII e 
VI a.C., essa região, na época chamada de Jônia, passou a ser 
o principal pólo de desenvolvimento econômico da Grécia 
devido à sua posição estratégica para o controle do comércio 
no Mediterrâneo. Na mais importante dessas colônias, a 
pólis de Mileto, nasceu a Filosofia. Mileto foi o primeiro centro 
intelectual da Filosofia. Sua influência durou até a destruição 
total da cidade pelos persas, no ano de 494 a.C. Além de 
Mileto, a pólis de Éfeso também se destacou como um centro de 
discussão filosófica na Jônia.
Numa tradição que remonta a Aristóteles, costuma‑se considerar 
Tales de Mileto (640 – 562 a.C.) como sendo o primeiro 
filósofo, seguido de Anaximandro (610 – 547 a.C.) e de 
Anaxímenes (585 – 524 a.C.), ambos também de Mileto, e de 
Heráclito de Éfeso (540 – 470 a.C.).
43
História da Filosofia I
Unidade 2
Por que Tales é considerado o primeiro filósofo? 
 
O que ele fez de diferente?
Caracterizou o trabalho de Tales e dos outros pensadores jônios 
a tentativa de compreender a realidade sem fazer referência 
a elementos sobrenaturais. O que eles procuravam eram 
explicações para os fenômenos naturais, baseadas exclusivamente 
na observação atenta e no raciocínio cuidadoso.
A Filosofia nasceu como uma tentativa de elaborar 
uma teoria sobre a natureza (physis), que explicasse os 
seus fenômenos sem falar em deuses, em magia ou 
em forças ocultas.
Mas surge aqui um primeiro problema conceitual: 
O que é a natureza? Como diferenciar o natural do sobrenatural?
Em Grego, em Latim e também em Português, a 
palavra natureza é formada a partir de um radical 
que indica nascimento. Natureza é o conjunto de tudo 
aquilo que é natu (nascido).
Na realidade concreta, no entanto, às vezes é difícil determinar 
quando ocorre o nascimento de algumas coisas. E, mais 
ainda: às vezes a morte de uma coisa é o nascimento de outra. 
Assim, a natureza passa a ser pensada como uma sucessão de 
transformações, como devir. Não é difícil perceber que essas 
transformações não são totalmente aleatórias; ao contrário, elas 
parecem seguir certa ordem (cosmos).
Os seres concretos, os objetos, não surgem do nada, nem por 
acaso. Também não podem ser totalmente destruídos. O processode geração e corrupção (produção e destruição) dos seres envolve 
a combinação ou separação de elementos materiais, que não são 
criados nem desaparecem totalmente nessa transformação.
44
Universidade do Sul de Santa Catarina
Uma semente, ao germinar, passa a absorver água, 
elementos do solo e do ar. Toda essa matéria é 
absorvida, transformada e reorganizada, vai ganhando 
aos poucos a forma de uma planta que cresce, vive 
durante certo tempo e morre, se decompõe e vira 
matéria‑prima para o surgimento de novos seres.
Toda a matéria que compõe a árvore foi retirada do 
solo e voltará a ser solo. A matéria‑prima já existia e 
continuará existindo mesmo após a destruição total 
da árvore.
Essa é uma forma nova de compreender a realidade. 
Veja que, aqui, não se fala em quem criou a árvore.
Essa nova forma de compreender a realidade esbarra em um 
problema: Qual é a matéria‑prima elementar de que é feita a 
natureza? Qual seria esse elemento primordial (arkhé), capaz de 
se transformar em barro, em madeira, em carne, em pedra ou em 
qualquer outra matéria? Esse é o problema que marca o início da 
Filosofia. É também o primeiro ponto de discordância entre os 
filósofos jônios. 
Para compreendermos as contribuições da chamada escola jônica, 
precisamos dividi‑la em duas fases. A primeira está centrada na 
pólis de Mileto; a segunda na pólis de Éfeso. 
A Física Milésia
Da contribuição original dos filósofos de Mileto, não restou 
nenhum documento escrito. Tudo o que conhecemos de Tales, 
Anaximandro e Anaxímenes nos chegou através de comentários 
(doxografia) feitos por filósofos e historiadores antigos, ou através 
de pequenos trechos (fragmentos) citados por autores antigos 
que, presumivelmente, tiveram acesso às obras originais. Uma 
das principais fontes de acesso às elaborações intelectuais dos 
pensadores milésios são as obras de Aristóteles. Em sua obra 
Metafísica, Aristóteles refere‑se a esses primeiros filósofos como 
fisiólogos (estudiosos da physis). 
45
História da Filosofia I
Unidade 2
Tales de Mileto (fim do séc. VI a.C.)
De Tales, o primeiro filósofo, sabemos hoje muito pouco. 
Além de não dispormos sequer de fragmentos de suas obras, 
até mesmo os testemunhos que nos chegam dele são precários. 
Mesmo assim, ele é a mais antiga referência histórica que 
temos de alguém que buscou unir, difundir e estimular duas 
tradições: a tentativa de determinar com precisão qual seria 
a matéria elementar de que é feita a natureza e a tentativa de 
aprimorar continuamente o conhecimento da natureza através 
da crítica racional das teorias já disponíveis.
Sabia mais sobre Tales de Mileto!
Além de filósofo, Tales se destacou na astronomia e na 
matemática e foi considerado um dos sete sábios da 
Grécia Antiga.
A partir de suas pesquisas, Tales identificou a água como sendo 
a arkhé, a substância primordial de que são feitas todas as outras 
substâncias. Para ele:
 � tudo é água; 
 � todas as substâncias materiais são obtidas ou por 
condensação ou por evaporação da água;
 � a Terra é um disco (achatado e circular) feito de água 
transformada em outros tipos de matéria;
 � esse disco flutua no universo, que é todo feito de água.
Se levarmos essas ideias de Tales ao po da letra, elas podem parecer 
tolices. Mas, na verdade, a contribuição de Tales foi revolucionária. 
Contando principalmente com a sua própria observação e com 
uma linguagem ainda não desenvolvida para a elaboração de 
teorias científicas, Tales precisou ainda utilizar‑se de metáforas 
para dar início à construção de uma descrição racional do cosmos. 
Ao dizer que tudo é água, ele não estava falando especificamente 
de H2O, mas sim da umidade. Talvez fosse mais exato traduzir a 
frase de Tales como: “Tudo vem do úmido”. 
Figura 2.2 - Tales de Mileto 
Fonte: Editora Moderna, [20??].
46
Universidade do Sul de Santa Catarina
Após ter identificado a forma como a água se transforma em 
todas as coisas (através da condensação e da evaporação), Tales 
precisava explicar por que ocorrem essas transformações. Mais 
uma vez, ele foi obrigado a recorrer a uma metáfora: Tudo é 
cheio de deuses. 
Atenção!
Certamente, o pai da Filosofia não estava usando 
a palavra “deuses” num sentido religioso. Tales se 
referia a certos fenômenos naturais observáveis, como 
a atração entre o ferro e o imã, ou como a gota de 
orvalho, que parece segurar‑se a uma folha de árvore 
instantes antes de cair. A matéria, mesmo os minerais, 
parece ser dotada de uma força intrínseca, capaz de 
interferir naquilo que está à sua volta. 
De acordo com o grau de condensação ou evaporação da matéria 
e, principalmente, em função das combinações de porções de 
matérias diferentes, essa força pode variar em intensidade e 
manifestar‑se de formas variadas. Por isso o grão de areia é 
inerte, o fogo é inquieto, o ar é inconstante; por isso é que vemos 
as diferenças entre os minerais, os vegetais, os animais e os 
humanos. Mas tudo na natureza pode ser explicado a partir da 
própria natureza.
Anaximandro de Mileto (fim do séc. VI a.C.)
Anaximandro foi discípulo e continuador do trabalho de Tales. 
Assim como o seu mestre, foi reconhecido como importante 
astrônomo e matemático. Foi geógrafo e político. Atribui‑se a 
ele a confecção de um mapa‑múndi, a introdução na Grécia do 
uso do Gnômon (relógio solar), a medição das distâncias entre as 
estrelas e a descoberta da obliquidade do zodíaco. 
Mas, assim como Tales, sua principal contribuição está na 
tentativa de identificar com precisão o elemento primordial 
do cosmos e as causas dos fenômenos naturais (astronômicos, 
meteorológicos, físicos, biológicos, etc.). 
Figura 2.3 - Anaximandro de Mileto 
Fonte: Anaximandro de Mileto, (2009).
47
História da Filosofia I
Unidade 2
No entanto, diferente de Tales, Anaximandro não 
identificou a arkhé a nenhuma substância conhecida. Paro 
ele, a substância primordial não poderia ser nada que fosse 
específico, nada que tivesse propriedades determinadas. 
Caso contrário, não seria possível explicar racionalmente o 
surgimento das propriedades contrárias. 
Se a arkhé fosse úmida, ela não poderia ser a origem 
do seco; se fosse clara, não seria possível a ela gerar o 
escuro, etc.
Deveria haver, portanto, uma substância primordial indefinida, 
eterna e indestrutível, da qual todos os elementos materiais se 
formavam e para a qual todos voltavam. A essa substância, ele 
deu o nome de ápeiron (ilimitado ou infinito). 
Anaximandro também propôs uma mudança na forma de se 
explicar a origem e as transformações das coisas materiais. Na busca 
de uma teoria cada vez mais racional, Anaximandro evitou o termo 
“deuses”, utilizado por seu antecessor, e propôs dois novos princípios 
explicativos para o devir: o movimento eterno e a diké (justiça).
De acordo com a teoria de Anaximandro, o ápeiron, por sua 
própria natureza, está em eterno movimento, em constante 
transformação. Essa transformação contínua não teve começo 
e nunca terá fim. É esse movimento implacável, em forma de 
turbilhão, que faz surgir o universo das coisas materiais. Ou 
melhor, é através desse fluxo ininterrupto que surgem vários 
universos. Cada um desses universos passa por incontáveis 
transformações e, mais cedo ou mais tarde, todos voltam a 
desaparecer no ápeiron. Dessa forma, a matéria que hoje compõe 
o nosso mundo, pode já ter feito parte de um outro universo, e 
poderá vir a formar diversos outros. 
No entanto esse movimento não é totalmente caótico. Ele segue 
um princípio geral inevitável: a diké (justiça). A justiça funciona 
como um princípio de compensação obrigatória que é arbitrada 
por um juiz: o tempo. O ápeiron tende a permanecer sempre 
indeterminado. Cada vez que o seu movimento intrínseco gera 
algo determinado, gera, como consequência, também o seu 
contrário. Ou seja, o surgimento da luz precisa ser compensado 
48
Universidade do Sul de Santa Catarina
com um período de escuridão; o aparecimento de matéria seca 
terá como consequência a geração de matériaumidade.
Assim, conforme Anaximandro, toda existência 
de algo materialmente determinado tem que ser 
compensada pela existência do seu contrário. 
Dessa forma, embora seja possível para nós identificar, em partes 
diferentes do mundo a nossa volta, o frio e o calor, o duro e o 
intangível, o leve e o pesado, a soma geral de tudo o que existe, 
já existiu ou virá a existir é sempre neutra, é indiferenciada, 
pois, ao se juntarem os contrários, eles anulam mutuamente suas 
diferenças, voltando a ser ápeiron. 
Acompanhe um fragmento atribuído a Anaximandro de Mileto:
Entre os que admitem um só princípio móvel e infinito, 
Anaximandro de Mileto, filho de Praxíades, sucessor 
e discípulo de Tales, disse que o princípio e elemento 
das coisas que existem era o ápeiron (indefinido), tendo 
sido ele o primeiro a introduzir este nome do princípio 
material. Diz ele que tal princípio não é nem a água 
nem qualquer outro dos chamados elementos, mas uma 
outra natureza indefinida, de que provêm todos os céus 
e os mundos neles contidos. E a fonte da geração das 
coisas que existem é aquela em que se verifica também a 
sua destruição segundo a necessidade; pois pagam castigo e 
retribuição umas às outras, pela sua injustiça, de acordo com 
o decreto do tempo. (SIMPLÍCIO apud KIRK; RAVEN; 
SCHOFIELD, 1994, p. 106‑107).
Anaxímenes de Mileto (?585 – 529 a.C.)
Com Anaxímenes, a filosofia milésia chega ao seu ápice. 
Seguidor de Tales e de Anaximandro, seu esforço estava 
voltado para a elaboração de uma teoria sobre a natureza 
cada vez mais abrangente e racionalizada. Anaxímenes 
aperfeiçoa a tese de Tales do elemento primordial único, 
ao mesmo tempo que incorpora algumas inovações 
propostas por Anaximandro. Por outro lado, ele também Figura 2.4 - Anaxímenes de Mileto Fonte: Filoxarxa, [20??].
49
História da Filosofia I
Unidade 2
propõe novas soluções teóricas que tornam a sua filosofia 
mais simples e consistente que a de seus antecessores.
Discordando de Tales, Anaxímenes defende a ideia de que tudo é 
feito de ar. No entanto, se o ar se transforma em água (liquefação) 
e a água pode transformar‑se em ar (evaporaçãoo o como já 
vimos ao falar de Taleo o a grande diferença entre esses dois 
filósofos está na representação do universo feita por Anaxímenes: 
para ele a Terra é um disco que flutua no ar.
Aqui também é preciso deixar claro que “ar” não 
corresponde exatamente ao que chamamos 
contemporaneamente de ar. Refere‑se mais 
propriamente a vapor.
Diferente de Anaximandro, Anaxímenes não propõe que a 
arkhé seja um elemento diferente daqueles que já conhecemos. 
Mas, se por um lado ele rejeita a solução de seu antecessor, 
não pode deixar de buscar uma solução para as dificuldades 
levantadas por Anaximandro contra a aceitação de que a 
substância fundamental do universo pudesse ser algum elemento 
com características determinadas.
A matéria primordial precisa, de fato, ser qualitativamente 
indefinida para ser capaz de originar os contrários. Mas o ar, 
segundo Anaxímenes, é capaz de atender a essa necessidade: ele 
pode tanto ser quente quanto pode ser frio; pode ser úmido, ou 
seco. O ar não tem uma forma definida. Ele está em toda parte 
e nele nada é determinado. Ou seja, o ar se parece muito com 
o ápeiron, mas com uma vantagem em termos de consistência 
teórica: embora possamos ter motivos racionais para crer que 
o ápeiron exista, não é possível confirmar empiricamente essa 
existência. Já o ar pode ser sentido e percebido através da 
experiência, e ninguém que estiver sendo razoável irá questionar 
a sua existência. Assim, a escolha de Anaxímenes tem a seu favor, 
em primeiro lugar, um grau maior de simplicidade em relação aos 
princípios fundamentais sobre os quais se apoia. Essa nova forma 
de conceber a arkhé exige menos da boa vontade daqueles que 
estiverem dispostos a avaliar a razoabilidade de uma explicação 
desmitificada da natureza.
50
Universidade do Sul de Santa Catarina
Como surgem todos os demais elementos materiais? 
Mais uma vez, Anaxímenes é minimalista: toda distinção é 
sempre quantitativa. A diferença entre uma pedra e a pluma é a 
quantidade de ar que cada uma contém. A diferença entre o calor 
e o frio também é explicada pela maior ou menor quantidade de 
ar. E o modo pelo qual o ar assume as mais diferentes formas 
materiais é a condensação e a rarefação. 
Mas a maior contribuição da filosofia de Anaxímenes foi ter 
proposto uma explicação para a origem da vida de uma forma 
totalmente desmistificada. Embora Tales já tivesse considerado 
que as leis que regem a natureza são as mesmas que regem 
os seres vivos (ao afirmar que “tudo está cheio de deuses”), 
Anaxímenes esmera‑se em formular essa mesma ideia sem 
recorrer a uma linguagem que contivesse referências, ainda que 
metafóricas, a elementos sobrenaturais. “O mundo respira” − essa 
é a solução encontrada por Anaxímenes.
Se tudo é feito de ar, é natural que, em maior ou menor 
velocidade e intensidade, tudo esteja, continuamente, ou 
absorvendo ou exalando ar. Tudo respira. Nos animais isso 
é facilmente perceptível. E, mesmo em certos fenômenos da 
natureza mineral, essa respiração é detectável. O fogo, por 
exemplo, necessita de ar para manter‑se aceso, ao mesmo tempo 
que libera um outro tipo de ar, misturado com cinza, que é 
chamado de fumaça.
Seguindo essa analogia, a evaporação da água e a chuva, o verão e 
o inverno, o nascer do sol e o ocaso, a vida e a morte nada mais são 
do que aspectos observáveis da respiração disseminada por todas 
as partes do universo; nada mais são do que fases do complexo e 
intrincado ciclo de compressões e descompressões de ar.
51
História da Filosofia I
Unidade 2
Tudo é, no fundo, a manifestação de um único 
princípio fundamental: o ar em movimento. Embora 
abstratamente possamos decompor este princípio 
único em dois – o ar e o movimento – , na realidade 
não há essa dualidade: tudo o que existe é ar, e o ar 
possui como característica essencial uma motilidade 
a qual, algumas vezes, o torna mais rarefeito, e, outras 
vezes, mais comprimido.
Acompanhe alguns fragmentos atribuídos a Anaxímenes de Mileto. 
Anaxímenes de Mileto, filho de Eurístrato, que foi 
companheiro de Anaximandro, diz também que 
a natureza subjacente é una e infinita, porém não 
indefinida, como afirmou Anaximandro, mas definida, 
pois a identifica com o ar; e que ela difere, na sua 
natureza substancial, pelo grau de rarefação e de 
densidade. Ao tornar‑se mais sutil, transforma‑se em 
fogo; ao tornar‑se mais densa, transforma‑se em vento, 
depois em nuvem, depois (quando ainda mais densa) 
em água, depois em terra, depois em pedra. E tudo o 
mais provém dessas substâncias. Ele admite também o 
movimento perpétuo através do qual ocorre a mudança. 
(SIMPLÍCIO apud KIRK; RAVEN; SCHOFIELD, 
1994, po 147). 
 
A matéria que é comprimida e condensada é fria, e a que 
é rarefeita e ‘frouxa’ é quente. (PLUTARCO, DE PRIM 
apud KIRK; RAVEN; SCHOFIELD, 1994, po 151). 
 
Como a nossa alma, que é ar, nos mantém unidos, assim 
também a respiração e o ar mantêm todo o cosmo. 
(AÉCIO apud KIRK; RAVEN; SCHOFIELD, 1994, 
po 161).
52
Universidade do Sul de Santa Catarina
Saiba mais sobre o sentido geral da filosofia 
milésia!
Será que a natureza foi criada? Será que um deus 
a criou? Tais questionamentos não interessam 
aos primeiros filósofos, pois qualquer explicação 
criacionista extrapolaria os limites da observação e do 
raciocínio, adentrando no campo da fé.
Essa é, de fato, a originalidade dos pensadores 
de Mileto que, ao invés de uma teogonia – uma 
explicação da criação do mundo – , buscam uma 
cosmologia ‑ uma explicação racional e científica dos 
fenômenos da natureza.
Heráclito de Éfeso (540 – 470 a.C.)
Nos séculos VII e VI a.C. a pólis de Mileto 
havia sido o principal centro econômico da 
Grécia. Mileto era aliada do poderoso reino 
da Lídia, em cujo território estava encravada. 
Quando a Lídia foi atacada pelos persas, Mileto 
se opôs à invasão. Após ter vencido os lídios,

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