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Filosofia Contemporânea Disciplina: História da Filosofia Pedagógico do Instituto Souza atendimento@institutosouza.com.br Modalidade de Curso Curso Livre de Capacitação Profissional Página 1 de 75 Caro (a) aluno (a), parabéns pela escolha! Começamos agora uma jornada de sucesso e muito aprendizado, lembrando que você já é um vencedor, pois o conhecimento é um bem que melhora nossa autoestima, nossa vida profissional e, principalmente, enriquece a nossa alma sem que ninguém possa tirá-lo de nós, ou seja, uma vez adquirido é um tesouro atemporal em nossa existência. Seu curso é composto de quatro disciplinas e uma avaliação de dez questões que pode abordar um resumo do conteúdo das quatro ou de uma delas por uma questão metodológica. Esteja atento (a) e leia as apostilas com muita atenção. Seja bem-vindo(a) e bons estudos! (Professora Mestre, Liliana Martino) História da Filosofia Caro aluno nessa disciplina você vai conhecer as origens da Filosofia, busque fazer as leituras e as reflexões propostas pelo material didático. Bons Estudos. 1 - Filósofo - Amigo da Sabedoria O termo “filósofo” significa “amigo do saber” ou “amante do saber”, aquele que busca a sabedoria, o conhecimento do mundo, da natureza ou da condição humana. A filosofia mudou de tempos em tempos, devido ao contexto histórico dos filósofos. Página 2 de 75 A filosofia é a tentativa de proporcionar um sentido pessoal ou social para a vida, que possa opor-se a certas ideias previamente estabelecidas. Portanto a filosofia não é uniforme, mas cheia de tendências distintas. Apesar do homem já se debruçar sobre tais questões desde o tempo das cavernas, foram os gregos que criaram o método daquilo que chamamos de filosofia, quando estabeleceram um conjunto de respostas para suas questões pessoais e sociais, apesar desta filosofia ser bastante mitológica. O auge da filosofia antiga está no período socrático (século IV a.C.), com Sócrates, Platão e Aristóteles. Mas é na mitologia e poesia mesopotâmica que podemos encontrar os primeiros traços filosóficos, já anteriores a 2000 a.C. Claro que para estes povos, assim como para os egípcios e persas, a filosofia era extremamente atrelada à religião e sem uma regra própria ou status próprio. Os hebreus, que assim como outros povos da antiguidade tiveram sua origem no crescente fértil, também possuem em seus textos sagrados, principalmente na Torá (atual Antigo Testamento das Bíblias cristãs) além de outras obras, muitas discussões filosóficas, principalmente sobre a origem do mundo, do mal, sobre a recompensa dos atos, etc. Já os gregos tiveram sua mitologia transcrita em muitas obras, mas principalmente nas obras de Homero, na qual se estabeleciam temas morais e religiosos, sem porém pretender-se tornar um texto sagrado-dogmático. Isto facilitou a reinterpretação e a discussão sobre tais conceitos por parte da emergente filosofia, sem que esta sofresse sérias restrições por parte de religiosos. Dos pensadores pré-socráticos não temos muitos documentos que sobreviveram ao tempo. Apenas citações em obras de socráticos ou minúsculos fragmentos. Estes se preocupavam com a organização dos astros e do mundo, se perguntavam sobre a Página 3 de 75 composição das coisas, sobre como o mundo se transformava, e já nesta fase buscavam hipóteses em respostas nem sempre teológicas. 2 - Mitologia grega É o estudo dos conjuntos de narrativas relacionadas com os mitos dos gregos antigos, dos seus significados, da relação entre gregos e cristãos — narrativas essas consideradas, com o advento do cristianismo, como meras ficções alegóricas.[1] Para muitos estudiosos modernos, entender os mitos gregos é o mesmo que lançar luz sobre a compreensão da sociedade grega antiga e seu comportamento, bem como suas práticas ritualísticas.[2] Os mitos gregos ilustram as origens do mundo, os modos de vida, as aventuras e desventuras de uma ampla variedade de deuses, deusas, heróis, heroínas e de outras criaturas mitológicas. Ao longo dos tempos esses mitos foram expressos através de uma extensa coleção de narrativas, que constituem a literatura grega e também na representação de outras artes, como a pintura da Grécia Antiga e a cerâmica de figuras vermelhas.[3] Inicialmente divulgados em tradição oral-poética,[4][5] atualmente esses mitos são tratados apenas como parte da literatura grega.[6] Essa literatura abrange as mais conhecidas fontes literárias da Grécia Antiga: os poemas épicos Ilíada e Odisseia (ambos atribuídos a Homero e que focam sobre os acontecimentos em torno da Guerra de Troia, destacando a influência de deuses e de outros seres), e também a Teogonia e Os Trabalhos e os Dias, ambos produzidos por Hesíodo.[7] Os mitos também estão preservados nos hinos homéricos, em fragmentos de poemas do Ciclo Épico, na poesia lírica, no âmbito dos trabalhos das tragédias do século V a.C., nos escritos de poetas e eruditos do período helenístico e em outros documentos de poetas do império Romano, como Plutarco e Pausânias. A principal fonte para a pesquisa de detalhes sobre a mitologia grega são as evidências arqueológicas que descobrem e descobriram decorações e outros https://pt.wikipedia.org/wiki/Mito https://pt.wikipedia.org/wiki/Gr%C3%A9cia_antiga https://pt.wikipedia.org/wiki/Gr%C3%A9cia_antiga https://pt.wikipedia.org/wiki/Cristianismo https://pt.wikipedia.org/wiki/Alegoria https://pt.wikipedia.org/wiki/Alegoria https://pt.wikipedia.org/wiki/Mitologia_grega#cite_note-sacconimitologia-1 https://pt.wikipedia.org/wiki/Ritual https://pt.wikipedia.org/wiki/Mitologia_grega#cite_note-2 https://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_de_criaturas_mitol%C3%B3gicas_gregas https://pt.wikipedia.org/wiki/Mito https://pt.wikipedia.org/wiki/Literatura_grega https://pt.wikipedia.org/wiki/Pintura_da_Gr%C3%A9cia_Antiga https://pt.wikipedia.org/wiki/Cer%C3%A2mica_de_figuras_vermelhas https://pt.wikipedia.org/wiki/Cer%C3%A2mica_de_figuras_vermelhas https://pt.wikipedia.org/wiki/Mitologia_grega#cite_note-3 https://pt.wikipedia.org/wiki/Tradi%C3%A7%C3%A3o_oral https://pt.wikipedia.org/wiki/Mitologia_grega#cite_note-4 https://pt.wikipedia.org/wiki/Mitologia_grega#cite_note-4 https://pt.wikipedia.org/wiki/Mitologia_grega#cite_note-6 https://pt.wikipedia.org/wiki/Poesia_%C3%A9pica https://pt.wikipedia.org/wiki/Poesia_%C3%A9pica https://pt.wikipedia.org/wiki/Il%C3%ADada https://pt.wikipedia.org/wiki/Odisseia https://pt.wikipedia.org/wiki/Homero https://pt.wikipedia.org/wiki/Guerra_de_Troia https://pt.wikipedia.org/wiki/Teogonia https://pt.wikipedia.org/wiki/Os_Trabalhos_e_os_Dias https://pt.wikipedia.org/wiki/Hes%C3%ADodo https://pt.wikipedia.org/wiki/Mitologia_grega#cite_note-BritanGrek-7 https://pt.wikipedia.org/wiki/Hinos_hom%C3%A9ricos https://pt.wikipedia.org/wiki/Ciclo_%C3%89pico https://pt.wikipedia.org/wiki/Poesia_l%C3%ADrica https://pt.wikipedia.org/wiki/Imp%C3%A9rio_Romano https://pt.wikipedia.org/wiki/Plutarco https://pt.wikipedia.org/wiki/Paus%C3%A2nias_(ge%C3%B3grafo) https://pt.wikipedia.org/wiki/Arqueologia https://pt.wikipedia.org/wiki/Decora%C3%A7%C3%A3o Página 4 de 75 artefatos, como desenhos geométricos em cerâmica, datados do século VIII a.C., que retratam cenas do ciclo troiano e das aventuras de Hércules. Sucedendo os períodos Arcaico, Clássico e helenístico, Homero e várias outras personalidades aparecem para completar as provas dessas existências literárias.[7] A mitologia grega tem exercido uma grande influência na cultura, nas artes e na literatura da civilização ocidental e permanece como parte da herança e da linguagem do Ocidente.[8] Poetas e artistas desde os tempos antigos até o presente têm se inspirado na mitologia grega e descoberto que os temas mitológicos lhes legam significado e relevância em seu contemporâneo.[9] Seu patrimônio também influina ciência, como no caso dos nomes dados aos planetas do Sistema Solar em estudos teóricos, acadêmicos, psicanalíticos, antropológicos e muitos outros,[10][11][12][13] além de nos dias de hoje tradições neo-pagãs como a Wicca serem influenciadas por ela e outras como o dianismo, a Stregheria e principalmente o dodecateísmo (ou neopaganismo helênico) tenham tentado resgatar suas crenças. Num contexto acadêmico, a palavra "mito" significa basicamente qualquer narrativa sacra e tradicional, seja verdadeira ou falsa.[14][15] O sufixo "-logia", derivado do radical grego "logo",[16][17] representa campo de estudo sobre um assunto em particular.[17] Com a junção de ambos os termos, "mitologia grega" seria, basicamente, o estudo dos mitos gregos, ou seja, os que fazem parte da cultura da Grécia.[1] Sendo assim, o termo não só alude ao estudo dos mitos como também aos próprios mitos. Como escreve o professor e escritor português Carlos Ceia, "termo de dupla significação, indica, por um lado, o conjunto dos mitos ou narrativas míticas relativas a seres sobrenaturais, fantásticos ou de valor super humano e, por outro lado, o estudo ou interpretação dos mitos."[18] https://pt.wikipedia.org/wiki/Cer%C3%A2mica https://pt.wikipedia.org/wiki/H%C3%A9rcules https://pt.wikipedia.org/wiki/Per%C3%ADodo_arcaico https://pt.wikipedia.org/wiki/Gr%C3%A9cia_antiga https://pt.wikipedia.org/wiki/Helenismo https://pt.wikipedia.org/wiki/Mitologia_grega#cite_note-BritanGrek-7 https://pt.wikipedia.org/wiki/Civiliza%C3%A7%C3%A3o_ocidental https://pt.wikipedia.org/wiki/Mundo_ocidental https://pt.wikipedia.org/wiki/Mitologia_grega#cite_note-UolEdGregOci-8 https://pt.wikipedia.org/wiki/Mitologia_grega#cite_note-9 https://pt.wikipedia.org/wiki/Ci%C3%AAncia https://pt.wikipedia.org/wiki/Planeta https://pt.wikipedia.org/wiki/Sistema_Solar https://pt.wikipedia.org/wiki/Teoria https://pt.wikipedia.org/wiki/Acad%C3%AAmico https://pt.wikipedia.org/wiki/Psican%C3%A1lise https://pt.wikipedia.org/wiki/Antropologia https://pt.wikipedia.org/wiki/Mitologia_grega#cite_note-madness-10 https://pt.wikipedia.org/wiki/Mitologia_grega#cite_note-madness-10 https://pt.wikipedia.org/wiki/Mitologia_grega#cite_note-12 https://pt.wikipedia.org/wiki/Mitologia_grega#cite_note-12 https://pt.wikipedia.org/wiki/Neopaganismo https://pt.wikipedia.org/wiki/Wicca https://pt.wikipedia.org/wiki/Dianismo https://pt.wikipedia.org/wiki/Stregheria https://pt.wikipedia.org/wiki/Dodecate%C3%ADsmo https://pt.wikipedia.org/wiki/Helenismo https://pt.wikipedia.org/wiki/Narrativa https://pt.wikipedia.org/wiki/Sagrado_(religi%C3%A3o) https://pt.wikipedia.org/wiki/Tradi%C3%A7%C3%A3o https://pt.wikipedia.org/wiki/Mitologia_grega#cite_note-14 https://pt.wikipedia.org/wiki/Mitologia_grega#cite_note-14 https://pt.wiktionary.org/wiki/-logia https://pt.wikipedia.org/wiki/Mitologia_grega#cite_note-16 https://pt.wikipedia.org/wiki/Mitologia_grega#cite_note-16 https://pt.wikipedia.org/wiki/Mitologia_grega#cite_note-TeraNicola209-17 https://pt.wikipedia.org/wiki/Mitologia_grega#cite_note-sacconimitologia-1 https://pt.wikipedia.org/wiki/Carlos_Ceia https://pt.wikipedia.org/wiki/Mitologia_grega#cite_note-Carlos_Ceia-18 Página 5 de 75 Hércules e Atena Cerâmica grega antiga, 480–470 a.C. As dafnefórias. Eram um festival dedicado a Apolo celebrado pelos gregos a cada nove anos, em Tebas,Beócia.[19]Óleo sobre tela de Frederic Leighton, 1876 É um termo crítico moderno e, portanto, os próprios gregos e romanos antigos não se referiam a suas crenças como "mitos" ou "mitologia", mas como religião (ver capítulo Interpretação), o que ainda hoje em dia ocorre com os neopaganistas helênicos, embora estes vivam um acontecimento moderno diferente de resgate e preservação e mesmo certos grupos de adeptos entendam o papel dos mitos como arquétipos ou símbolos (ver seção Neopaganismo e resgate).[1] Para mais informações sobre o histórico de interpretação dos mitos gregos, dirija-se até as sub-seções: Concepções greco-romanas einterpretações modernas. É importante ressaltar que, nesse artigo, as palavras "mitologia" e "mito" são usadas https://pt.wikipedia.org/wiki/H%C3%A9rcules https://pt.wikipedia.org/wiki/Atena https://pt.wikipedia.org/wiki/Apolo https://pt.wikipedia.org/wiki/Tebas_(Gr%C3%A9cia) https://pt.wikipedia.org/wiki/Be%C3%B3cia https://pt.wikipedia.org/wiki/Mitologia_grega#cite_note-19 https://pt.wikipedia.org/wiki/Frederic_Leighton https://pt.wikipedia.org/wiki/Mitologia_grega#Introdu.C3.A7.C3.A3o https://pt.wikipedia.org/wiki/Dodecate%C3%ADsmo https://pt.wikipedia.org/wiki/Dodecate%C3%ADsmo https://pt.wikipedia.org/wiki/Arqu%C3%A9tipo https://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%ADmbolo https://pt.wikipedia.org/wiki/Mitologia_grega#Influ.C3.AAncia.23Neopaganismo_e_resgate https://pt.wikipedia.org/wiki/Mitologia_grega#cite_note-sacconimitologia-1 https://pt.wikipedia.org/wiki/Mitologia_grega#Concep.C3.A7.C3.B5es_greco-romanas https://pt.wikipedia.org/wiki/Mitologia_grega#Interpreta.C3.A7.C3.B5es_modernas https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Athena_Herakles_Staatliche_Antikensammlungen_2648.jpg https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:1876_Frederic_Leighton_-_Daphnephoria.jpg Página 6 de 75 para as narrativas tradicionais e sagradas das culturas clássicas, sem qualquer implicação de que esta ou aquela seja verdadeira ou falsa.[1] 2.1 - Mito e sociedade A mitologia grega era assunto principal nas aprendizagens das crianças da Grécia Antiga, como meio de orientá-las no entendimento de fenômenos naturais e em outros acontecimentos que ocorriam sem o intermédio dos homens.[20] Os gregos antigos atribuíam a cada fenômeno natural uma criatura ou deus diferente.[21] Certos estudiosos modernos dizem que, quando passaram a inventar meios de calcular o tempo e quando criaram mecanismos de datação como o calendário, seus mitos declinaram (ver seção Declínio logo abaixo).[21] Os poetas atribuíam esses estados térmicos, como também as relações e as características humanas, aos deuses e a outras histórias lendárias, e elas serviram durante um bom tempo como cultos ritualísticos na sociedade da Grécia antiga.[20] Além das crianças serem educadas através dos mitos, as famílias aristocráticas da Grécia, assim como os reis, e também profissionais, como os médicos, possuíam a tradição de se ligarem genealogicamente a antepassados míticos, geralmente divinos, ou até mesmo heroicos.[20] Os comerciantes também cultuavam deuses, como Hermes, sempre em tentativa de deixá-lo satisfeito e assim conseguir bons resultados em suas vendas.[22] Além de serem habituados aos sacrifícios de animais e às orações, os gregos antigos adotavam um deus particular ou um grupo deles para sua cidade, e os cidadãos construíam templos e o(s) venerava(m). Essas cidades não possuíam qualquer organização religiosa oficial, mas honravam os deuses em lugares determinados, como Apolo exclusivamente em Delfos.[23] https://pt.wikipedia.org/wiki/Mitologia_grega#cite_note-sacconimitologia-1 https://pt.wikipedia.org/wiki/Mitologia_grega#cite_note-GregIntro-20 https://pt.wikipedia.org/wiki/Mitologia_grega#cite_note-Marilena200537-21 https://pt.wikipedia.org/wiki/Calend%C3%A1rio https://pt.wikipedia.org/wiki/Mitologia_grega#Decl.C3.ADnio https://pt.wikipedia.org/wiki/Mitologia_grega#cite_note-Marilena200537-21 https://pt.wikipedia.org/wiki/Mitologia_grega#cite_note-GregIntro-20 https://pt.wikipedia.org/wiki/Genealogia https://pt.wikipedia.org/wiki/Mitologia_grega#cite_note-GregIntro-20 https://pt.wikipedia.org/wiki/Hermes https://pt.wikipedia.org/wiki/Mitologia_grega#cite_note-22 https://pt.wikipedia.org/wiki/Sacrif%C3%ADcio https://pt.wikipedia.org/wiki/Ora%C3%A7%C3%A3o https://pt.wikipedia.org/wiki/Apolo https://pt.wikipedia.org/wiki/Delfos https://pt.wikipedia.org/wiki/Mitologia_grega#cite_note-MonteOlimpoAdoraCren-23 Página 7 de 75 Mulher ajoelhada diante de um altar. Cerâmica de figuras vermelhas,ca. 510-500 a.C. Antigo Museu Ágora de Atenas Muitos festivais religiosos eram realizados na Grécia antiga. Alguns eram especificadamente dedicados a uma deidade particular ou cidade-estado. A Lupercália, por exemplo, era comemorada na Arcádia e dedicada a Pã. Existiam também os jogos que eram realizados anualmente em locais diferentes, e que culminaram nos Jogos Olímpicos da Antiguidade, realizados a quatro anos e dedicados a Zeus. Os gregos, frequentemente, encontravam desígnios dos deuses em muitas características da natureza. Os adivinhos, por exemplo, acreditavam haver mensagens divinas contidas no voo das aves e nos sonhos. Nas cidades, os oráculos — locais sagrados — eram usados por um sacerdote que, tomado por êxtase ou loucura divina, servia de intermédio entre o diálogo de um fiel e seu deus de adoração.[24] Nas primeiras eras em que a recente filosofia vivia ao lado da tradicional mitologia, para o povo grego a sabedoria plena e completa pertencia aos deuses, mas os homens poderiam desejá-la e amá-la, tornando-se filósofos (philo= amizade, amor fraterno, respeito; sophia= sabedoria).[25] https://pt.wikipedia.org/wiki/Cer%C3%A2mica_de_figuras_vermelhas https://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%81gora_de_Atenas https://pt.wikipedia.org/wiki/Luperc%C3%A1lia https://pt.wikipedia.org/wiki/Arc%C3%A1dia https://pt.wikipedia.org/wiki/P%C3%A3 https://pt.wikipedia.org/wiki/Jogos_Ol%C3%ADmpicos_da_Antiguidade https://pt.wikipedia.org/wiki/Zeus https://pt.wikipedia.org/wiki/Or%C3%A1culo https://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%8Axtase https://pt.wikipedia.org/wiki/Mitologia_grega#cite_note-GregMitoReli-24 https://pt.wikipedia.org/wiki/Sabedoria https://pt.wikipedia.org/wiki/Fil%C3%B3sofo https://pt.wikipedia.org/wiki/Mitologia_grega#cite_note-OlhoMundoTrabalho-25 https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:AGMA_Kylix_femme_autel.jpg Página 8 de 75 2.2 - Mito e religião Cena de sacrifício grego Cerâmica de figuras vermelhas do século V a.C. Museu Arqueológico de Espanha. É preciso haver um esclarecimento acerca da diferença entre mito e religião. Hoje, todas as mitologias de todos os povos são entendidas como conjunto de crenças enraizadas em relatos modernamente tidos como fictícios e imaginados pelos poetas, enquanto a religião propõe-se a criar rituais ou práticas com a finalidade de estabelecer vínculos com a espiritualidade.[20] "Mitologia" é um termo indiscutivelmente técnico e moderno e nunca utilizado pelos próprios gregos ou romanos.[24] Seus cultos compreendiam uma religião politeísta da qual os especialistas de hoje agrupam no que se chama "mitologia grega", analisando as narrativas poéticas como legados da literatura antiga, ao passo que os próprios gregos, sobretudo antes da fama da filosofia, acreditavam serem reais. https://pt.wikipedia.org/wiki/Religi%C3%A3o_na_Gr%C3%A9cia_Antiga#Sacrif.C3.ADcio https://pt.wikipedia.org/wiki/Cer%C3%A2mica_de_figuras_vermelhas https://pt.wikipedia.org/wiki/Museu_Arqueol%C3%B3gico_de_Espanha https://pt.wikipedia.org/wiki/Museu_Arqueol%C3%B3gico_de_Espanha https://pt.wikipedia.org/wiki/Religi%C3%A3o https://pt.wikipedia.org/wiki/Espiritualidade https://pt.wikipedia.org/wiki/Mitologia_grega#cite_note-GregIntro-20 https://pt.wikipedia.org/wiki/Mitologia_grega#cite_note-GregMitoReli-24 https://pt.wikipedia.org/wiki/Polite%C3%ADsmo https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Bell-krater_sacrifice_scene_MAN_n2.jpg Página 9 de 75 Pode-se dizer que "mito" é todo o conjunto que nós compreendemos hoje o que em suas épocas os gregos chamavam "religião".[20] Para ficar mais claro, podemos dizer que os textos sacros dos gregos são o que chamamos agora de mitologia ou literatura da Grécia antiga. A Teogonia e Os Trabalhos e os Dias de Hesíodo, a Ilíada e a Odisseia de Homero e as Odes de Píndaro estão entre as obras que os gregos consideravam sacros. Estes são os principais textos que foram considerados inspirados pelos deuses e geralmente incluem no prólogo uma invocação às musas para que elas auxiliem o trabalho do poeta.[26] Os gregos faziam cultos os deuses do Olimpo, realizados em templos comuns ou em altares e, também, culto aos heróis históricos, realizados em suas respectivas tumbas.[24] Dedicados a um deus ou a um herói, os templos, decorados com esculturas (de deuses ou heróis) em relevo entre o teto e o topo das colunas, eram constituídos de pedras nobres como o mármore, usadas no alto da acrópole.[27] Os antigos teatros gregos, também, eram construídos para determinada figura mitológica, deuses ou heróis, como o teatro de Dioniso no Santuário de Apolo em Delfos.[28] Além da religião ter sido praticada através de festivais, nela se acreditava que os deuses interferiam diretamente nos assuntos humanos e que era necessário acalmá-los por meio de sacrifícios.[24] Estes rituais de sacrifício desempenharam um papel importante na formação da relação entre o homem e o divino.[29] Um dos conceitos mais importantes quanto a moral para os gregos era o medo de cometer húbris (arrogância), o que constitui muitas coisas, do estupro à profanação de um cadáver.[30][31] A mitologia grega é conhecida nos dias de hoje através da literatura grega e de expressões artísticas visuais como a cerâmica grega que datam do Período https://pt.wikipedia.org/wiki/Mitologia_grega#cite_note-GregIntro-20 https://pt.wikipedia.org/wiki/Texto_sagrado https://pt.wikipedia.org/wiki/Literatura_grega https://pt.wikipedia.org/wiki/Teogonia https://pt.wikipedia.org/wiki/Os_Trabalhos_e_os_Dias https://pt.wikipedia.org/wiki/Hes%C3%ADodo https://pt.wikipedia.org/wiki/Il%C3%ADada https://pt.wikipedia.org/wiki/Odisseia https://pt.wikipedia.org/wiki/Homero https://pt.wikipedia.org/wiki/Odes https://pt.wikipedia.org/wiki/P%C3%ADndaro https://pt.wikipedia.org/wiki/Musa https://pt.wikipedia.org/wiki/Mitologia_grega#cite_note-26 https://pt.wikipedia.org/wiki/Olimpo https://pt.wikipedia.org/wiki/Templo https://pt.wikipedia.org/wiki/Altar https://pt.wikipedia.org/wiki/Tumba https://pt.wikipedia.org/wiki/Mitologia_grega#cite_note-GregMitoReli-24 https://pt.wikipedia.org/wiki/Escultura https://pt.wikipedia.org/wiki/Coluna https://pt.wikipedia.org/wiki/M%C3%A1rmore https://pt.wikipedia.org/wiki/Acr%C3%B3pole https://pt.wikipedia.org/wiki/Mitologia_grega#cite_note-TemploArquitet-27 https://pt.wikipedia.org/wiki/Teatro_na_Gr%C3%A9cia_Antiga https://pt.wikipedia.org/wiki/Dioniso https://pt.wikipedia.org/wiki/Delfos https://pt.wikipedia.org/wiki/Mitologia_grega#cite_note-28 https://pt.wikipedia.org/wiki/Festival https://pt.wikipedia.org/wiki/Sacrif%C3%ADcio https://pt.wikipedia.org/wiki/Mitologia_grega#cite_note-GregMitoReli-24 https://pt.wikipedia.org/wiki/Mitologia_grega#cite_note-29 https://pt.wikipedia.org/wiki/Moral https://pt.wikipedia.org/wiki/H%C3%BAbris https://pt.wikipedia.org/wiki/Estupro https://pt.wikipedia.org/wiki/Mitologia_grega#cite_note-30 https://pt.wikipedia.org/wiki/Mitologia_grega#cite_note-30 https://pt.wikipedia.org/wiki/Literatura_grega https://pt.wikipedia.org/wiki/Cer%C3%A2mica_grega Página 10 de 75 Geométrico[nota 1]em diante. O objetivo deste capítulo é entender como nós, contemporâneos, tivemos a oportunidade de arrecadar hoje em dia informações tão antigas quanto são os mitos gregos.[32] 2.3 - Fontes literárias A narração mítica desempenhou um papel importante em quase todos os gêneros da literatura grega. No entanto, o único manual mitográfico que sobreviveu da Grécia Antiga foi a famosa Biblioteca Mitológica, do escritor denominado Pseudo- Apolodoro,[33] que tenta conciliar os contos contraditórios dos poetas e fornece um resumo da mitologia grega e suas lendas históricas.[34] O verdadeiro Apolodoro viveu entre c. 180-120 a.C., escreveu sobre muitos destes temas e seus escritos podem ter formado a base para a coleção dessa obra, porém a Biblioteca aborda eventos que ocorreram muito tempo após sua morte,daí o nome Pseudo-Apolodoro.[34] Ilíada Livro VIII, linhas 245-53, manuscrito grego, final do século V e começo do VI Entre as fontes literárias da primeira era, destacam-se os dois poemas épicos de Homero – Ilíada e Odisseia. Completando esse ciclo épico, temos escritas de poetas cujos documentos foram perdidos ao longo do tempo. Apesar da sua https://pt.wikipedia.org/wiki/Mitologia_grega#cite_note-32 https://pt.wikipedia.org/wiki/Mitologia_grega#cite_note-F.Graf-33 https://pt.wikipedia.org/wiki/Gr%C3%A9cia_Antiga https://pt.wikipedia.org/wiki/Gr%C3%A9cia_Antiga https://pt.wikipedia.org/wiki/Biblioteca_(obra_liter%C3%A1ria) https://pt.wikipedia.org/wiki/Pseudo-Apolodoro https://pt.wikipedia.org/wiki/Pseudo-Apolodoro https://pt.wikipedia.org/wiki/Mitologia_grega#cite_note-34 https://pt.wikipedia.org/wiki/Mitologia_grega#cite_note-HardRoutled-35 https://pt.wikipedia.org/wiki/Apolodoro_de_Atenas https://pt.wikipedia.org/wiki/Mitologia_grega#cite_note-HardRoutled-35 https://pt.wikipedia.org/wiki/Il%C3%ADada https://pt.wikipedia.org/wiki/Poema_%C3%A9pico https://pt.wikipedia.org/wiki/Poema_%C3%A9pico https://pt.wikipedia.org/wiki/Homero https://pt.wikipedia.org/wiki/Il%C3%ADada https://pt.wikipedia.org/wiki/Odisseia https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Iliad_VIII_245-253_in_cod_F205,_Milan,_Biblioteca_Ambrosiana,_late_5c_or_early_6c.jpg Página 11 de 75 denominação tradicional, os Hinos homéricos, hinos em coral da primeira fase da então-denominada poesia lírica,[35] não possuem relação alguma com Homero.[36] Hesíodo, possível contemporâneo de Homero, produziu Teogonia, o documento mais recente sobre mitos gregos, que elabora a genealogia dos deuses e explica a origem dos titãs e dos gigantes. Os Trabalhos e os Dias, também de Hesíodo, é um poema didático sobre a vida da agricultura que apresenta os mitos de Pandora e da era dos homens. O poeta dá conselhos sobre a melhor maneira de ter sucesso em um mundo perigoso tornado ainda mais arriscado por esses deuses.[7] Os Trabalhos e os Dias também apresenta o mito de Prometeu, que, mais tarde, constituiu na base de uma trilogia de tragédias, possivelmente iniciada por Ésquilo, que são: Prometeu Acorrentado, Prometeu Desacorrentado e Prometeu, o Condutor do Fogo.[nota 2] Os poetas líricos direcionaram por vezes seus temas aos mitos, todavia esse tratamento ficou cada vez menor, enquanto que suas alusões à narrativa cresceu. Os poetas líricos gregos, como Píndaro e Simónides de Ceos, e os poetas bucólicos, incluindo Teócrito, forneceram incidentes mitológicos individuais. Além disso, o mito foi tema central no drama Ateniense: os dramaturgos trágicos Eurípides, Sófocles e Ésquilo produziram seus enredos envolvendo a era heroica e a Guerra de Troia. Muitas das grandes históricas trágicas (ou seja, Agamenão e seus filhos, Édipo, Jasão e Medeia, etc.) Trouxeram em sua forma clássica estas peças trágicas.[37] https://pt.wikipedia.org/wiki/Hinos_hom%C3%A9ricos https://pt.wikipedia.org/wiki/Coral https://pt.wikipedia.org/wiki/Poesia_l%C3%ADrica https://pt.wikipedia.org/wiki/Mitologia_grega#cite_note-Miles-36 https://pt.wikipedia.org/wiki/Mitologia_grega#cite_note-greciaantigahinoshomericos-37 https://pt.wikipedia.org/wiki/Hes%C3%ADodo https://pt.wikipedia.org/wiki/Teogonia https://pt.wikipedia.org/wiki/Genealogia https://pt.wikipedia.org/wiki/Tit%C3%A3 https://pt.wikipedia.org/wiki/Gigantes_(mitologia_grega) https://pt.wikipedia.org/wiki/Os_Trabalhos_e_os_Dias https://pt.wikipedia.org/wiki/Pandora https://pt.wikipedia.org/wiki/Mitologia_grega#cite_note-BritanGrek-7 https://pt.wikipedia.org/wiki/Prometeu https://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%89squilo https://pt.wikipedia.org/wiki/Prometeu_Acorrentado https://pt.wikipedia.org/wiki/Mitologia_grega#cite_note-38 https://pt.wikipedia.org/wiki/P%C3%ADndaro https://pt.wikipedia.org/wiki/Sim%C3%B3nides_de_Ceos https://pt.wikipedia.org/wiki/Te%C3%B3crito https://pt.wikipedia.org/wiki/Drama https://pt.wikipedia.org/wiki/Atenas https://pt.wikipedia.org/wiki/Eur%C3%ADpides https://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%B3focles https://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%89squilo https://pt.wikipedia.org/wiki/Guerra_de_Troia https://pt.wikipedia.org/wiki/Agamen%C3%A3o https://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%89dipo https://pt.wikipedia.org/wiki/Jas%C3%A3o https://pt.wikipedia.org/wiki/Medeia https://pt.wikipedia.org/wiki/Mitologia_grega#cite_note-Klatt-39 Página 12 de 75 O poeta romano Virgílio, aqui retratado no manuscrito do século XV Vergilius Romanus, preservou muitos detalhes da mitologia grega em suas composições Os historiadores Heródoto e Diodoro Sículo, e os geógrafos Pausânias e Estrabão, que viajaram ao redor do mundo grego e anotaram as histórias que ouviram, forneceram numerosos mitos locais, apresentando diversas vezes versões alternativas pouco conhecidas dos mitos.[37] Heródoto, especialmente, procurou as várias tradições apresentando e encontrando as raízes históricas ou mitológicas no conflito entre a Grécia e o Oriente. Heródoto procurou conciliar as origens e a mistura de diferentes conceitos culturais.[38] A poesia das eras helenística e romana, que embora tenha sido composta mais como literatura do que um exercício de culto aos mitos, contém muitos detalhes importantes que de outra forma seriam perdidos. Essa categoria inclui: os poetas romanos Ovídio,Sêneca e Virgílio; os poetas gregos da Antiguidade tardia: Antonino Liberal e Quinto de Esmirna; os poetas gregos do período helenístico: Apolónio de Rodes, Calímaco, Eratóstenes e Partênio.[39] Em contrapartida com o gênero lírico, os escritores em prosa Apuleio, Petrônio, Longo e Heliodoro também fazem referências mitológicas em períodos semelhantes ao dos poetas citados acima.[40] Além disso, a Fábulas e https://pt.wikipedia.org/wiki/Virg%C3%ADlio https://pt.wikipedia.org/wiki/Vergilius_Romanus https://pt.wikipedia.org/wiki/Vergilius_Romanus https://pt.wikipedia.org/wiki/Her%C3%B3doto https://pt.wikipedia.org/wiki/Diodoro_S%C3%ADculo https://pt.wikipedia.org/wiki/Paus%C3%A2nias_(ge%C3%B3grafo) https://pt.wikipedia.org/wiki/Estrab%C3%A3o https://pt.wikipedia.org/wiki/Mitologia_grega#cite_note-Klatt-39 https://pt.wikipedia.org/wiki/Mitologia_grega#cite_note-40 https://pt.wikipedia.org/wiki/Roma_Antiga https://pt.wikipedia.org/wiki/Ov%C3%ADdio https://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%AAneca https://pt.wikipedia.org/wiki/Virg%C3%ADlio https://pt.wikipedia.org/wiki/Antiguidade_tardia https://pt.wikipedia.org/wiki/Antonino_Liberal https://pt.wikipedia.org/wiki/Antonino_Liberal https://pt.wikipedia.org/wiki/Quinto_de_Esmirna https://pt.wikipedia.org/wiki/Per%C3%ADodo_helen%C3%ADstico https://pt.wikipedia.org/wiki/Apol%C3%B3nio_de_Rodes https://pt.wikipedia.org/wiki/Apol%C3%B3nio_de_Rodes https://pt.wikipedia.org/wiki/Cal%C3%ADmaco https://pt.wikipedia.org/wiki/Erat%C3%B3stenes https://pt.wikipedia.org/wiki/Part%C3%AAnio https://pt.wikipedia.org/wiki/Mitologia_grega#cite_note-MitoFontes-41 https://pt.wikipedia.org/wiki/Apuleio https://pt.wikipedia.org/wiki/Petr%C3%B4nio https://pt.wikipedia.org/wiki/Longo https://pt.wikipedia.org/wiki/Heliodoro https://pt.wikipedia.org/wiki/Mitologia_grega#cite_note-42 https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:RomanVirgilFolio014rVergilPortrait.jpg Página 13 de 75 a Astronômica, ambas atribuídas ao escritor romano Higino, são duas composições não-poéticas importantes como fontes literárias.[39] As obras Imagens e descrições, de Filóstrato e Calístrato (respectivamente), também se mostram úteis para o estudo dos mitos gregos. Finalmente, vários autores bizantinos, como Arnóbio, João Tzetzes, Hesíquio de Alexandria, Eustácio de Tessalônica e o autor dasuda, providenciaram importantes detalhes dos mitos, derivados em grande parte de fontes gregas completamente perdidas. Importante notar, no entanto, que a atitude bizantina é a de frequentemente abordar os mitos sob uma perspectiva moral cristã. 2.4 - Fontesarqueológicas Aquiles (esq.) Mata um prisioneiro de Troia diante de Caronte Pintura-vermelha etrusca, realizada no fim do século IV e início do século III a.C. A descoberta da civilização micênica pelo arqueólogo amador alemão Heinrich Schliemann no século XIX, e a descoberta da Civilização Minoica em Creta pelo https://pt.wikipedia.org/wiki/Higino https://pt.wikipedia.org/wiki/Mitologia_grega#cite_note-MitoFontes-41 https://pt.wikipedia.org/wiki/Fil%C3%B3strato https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Cal%C3%ADstrato&action=edit&redlink=1 https://pt.wikipedia.org/wiki/Bizantino https://pt.wikipedia.org/wiki/Arn%C3%B3bio https://pt.wikipedia.org/wiki/Jo%C3%A3o_Tzetzes https://pt.wikipedia.org/wiki/Hes%C3%ADquio_de_Alexandria https://pt.wikipedia.org/wiki/Hes%C3%ADquio_de_Alexandria https://pt.wikipedia.org/wiki/Eust%C3%A1cio_de_Tessal%C3%B4nica https://pt.wikipedia.org/wiki/Suda https://pt.wikipedia.org/wiki/Aquiles https://pt.wikipedia.org/wiki/Troia https://pt.wikipedia.org/wiki/Caronte https://pt.wikipedia.org/wiki/Registro_de_pintura_vermelha_em_cer%C3%A2mica_grega https://pt.wikipedia.org/wiki/Etruscos https://pt.wikipedia.org/wiki/Micenas https://pt.wikipedia.org/wiki/Arque%C3%B3logo https://pt.wikipedia.org/wiki/Heinrich_Schliemann https://pt.wikipedia.org/wiki/Heinrich_Schliemann https://pt.wikipedia.org/wiki/Civiliza%C3%A7%C3%A3o_Minoica https://pt.wikipedia.org/wiki/Creta https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Akhilleus_Charun_Cdm_Paris_2783_full.jpg Página 14 de 75 arqueólogo britânico sir Arthur Evans no século XX, ajudaram a esclarecer muitas dúvidas a respeito dos épicos de Homero e outras questões da mitologia, como as crenças em deuses e em heróis. A evidência sobre os mitos e os rituais nos sítios arqueológicos das civilizações micênica e minoica é inteiramente monumental, uma vez que a linear B (método de escrita antigo, encontrado em Creta e na Grécia continental) era usada principalmente para o registro de inventários, embora os nomes de deuses e de heróis tenham sido dificilmente revelados.[7] Schliemann começou seu trabalho em 1870, com o intuito de averiguar se as histórias que ouvia de seu pai quando criança, a respeito dos épicos homéricos, eram verdadeiras; numa madrugada, juntamente com sua esposa, conseguiu encontrar dois diademas de ouro, 4 066 plaquetas, 16 estatuetas, 24 colares de ouro, anéis, agulhas, pérolas (total de 8 700 artefatos) e pesquisas posteriores deixaram certezas de que a mítica cidade de Troia existiu no local há milênios. Existem desenhos geométricos em cerâmica datados do século VIII a.C. Que retratam o Ciclo de Troia, como também as aventuras de Hércules.[7] Por dois motivos, essas representações visuais dos mitos possuem enorme importância: em primeiro lugar, muitos mitos gregos foram comprovados em desenhos de vaso antes do que na literatura escrita – das doze elaborações sobre Hércules, por exemplo, somente a aventura de Cérbero é apresentada pela primeira vez em um texto literário[46] – e, em segundo lugar, as fontes visuais muitas vezes fornecem cenas míticas que não são apresentadas em quaisquer fontes literárias existentes. Em alguns casos, a primeira representação conhecida de um mito na arte geométrica antecede, em questão de muitos anos e séculos, a sua primeira aparição conhecida na poesia arcaica.[32] Nos períodos arcaico (750–c. 500 a.C.), clássico (480–323 a.C.), e helenístico, Homero e várias outras personalidades surgem para completar as evidências literárias da existência da mitologia grega.[32] https://pt.wikipedia.org/wiki/Arthur_Evans https://pt.wikipedia.org/wiki/Arqueologia https://pt.wikipedia.org/wiki/Linear_B https://pt.wikipedia.org/wiki/Invent%C3%A1rio https://pt.wikipedia.org/wiki/Mitologia_grega#cite_note-BritanGrek-7 https://pt.wikipedia.org/wiki/Diadema https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Plaqueta_(arqueologia)&action=edit&redlink=1 https://pt.wikipedia.org/wiki/Estatueta https://pt.wikipedia.org/wiki/Colar https://pt.wikipedia.org/wiki/Anel_(ourivesaria) https://pt.wikipedia.org/wiki/Agulha https://pt.wikipedia.org/wiki/P%C3%A9rola https://pt.wikipedia.org/wiki/Troia https://pt.wikipedia.org/wiki/H%C3%A9rcules https://pt.wikipedia.org/wiki/Mitologia_grega#cite_note-BritanGrek-7 https://pt.wikipedia.org/wiki/Vaso_(objeto) https://pt.wikipedia.org/wiki/C%C3%A9rbero https://pt.wikipedia.org/wiki/Mitologia_grega#cite_note-48 https://pt.wikipedia.org/wiki/Mitologia_grega#cite_note-F.Graf-33 https://pt.wikipedia.org/wiki/Mitologia_grega#cite_note-F.Graf-33 Página 15 de 75 3 - Filosofia pré-socrática Vários foram os pré-socráticos e os estudiosos mas os separamos em escolas: 3.1 - Escola Jônica Tales de Mileto: Para este solteirão a água era o elemento principal de todas as coisas, e assim sua origem. Ele também, entre outras concepções, percebia em “Deus” a inteligência que regia todo o universo, para ele Deus é o “começo e o fim”. Anaxímandro de Mileto: Escreveu três livros sobre a natureza. Criou a ideias de um elemento indeterminado, que daria forma a tudo. Ele também produziu uma certa ideias de evolução entre as espécies. Anaxímenes de Mileto: Para ele o ar era o elemento principal. Tudo vinha do ar e no ar tudo se resolvia. 3.2 - Escola Jônica Nova Heráclito de Éfeso: para ele o fogo era o elemento de principal constituição de toda a natureza. Para ele “tudo flui e nada permanece”. Também afirmava que os homens e os deuses têm a mesma natureza, pois seriam sujeitos às mesmas regras cósmicas, que chamava de Lógus. Empédocles de Agrigento: Elegeu a água, o ar, o fogo e a terra como as “raízes” da natureza, às quais eram disputadas por duas forças opostas, o amor e o ódio. Tentou também atribuir lógica à idéia evolucionista ao aplicar certo pensamento de seleção do mais apto. Página 16 de 75 Anaxágoras de Clazomena: Para ele todos os corpos são compostos por partículas homogêneas que são ordenadas por uma partícula inteligente: o “nous”. Os astros são rochas incandescentes e não deuses. 3.3 - Escola Pitagórica Eram influenciados pelas religiões orientais. Pitágoras de Samos: junto de seus seguidores, principalmente de Filolau de Crotona, estabeleceram ideias sobre o movimento da Terra sobre o próprio eixo, sobre os números, sobre a vivência diária em comunidade, dentre outras coisas. Matemática, astronomia e as ciências de forma geral faziam parte da filosofia pitagórica. Para eles o mestre tinha um papel preponderante, como se fosse alguém “inspirado”. A matéria é má e o espírito é bom. O espírito se aperfeiçoa no contato com a matéria, que geraria sofrimento, castigo. Trazem certa ideia de reencarnação. 3.4 - Escola Eleática Xenófones: Para ele a natureza é ordenada pelo “Ser”, que para ele é Uno, Eterno, Imutável, Infinito, é Deus. Este Ser, porém não se parecia com os homens, ao contrário das ideias mitológicas, ele era na verdade “tudo”. Parmênides de Eléia: para ele o ser é objeto da inteligência, tal qual o sentir é objeto do sentido. O “ser” se opõe ao “nada”. Tudo teria origem no quente e no frio, que seriam fogo e terra. Zenão de Eléia: Era um sofista, para ele o “ser” era imutável. Assim como Parmênides, ele defendia o ser como objeto específico da inteligência. Página 17 de 75 3.5 - Escola Atomista Leocipo é o fundador, criou um profundo sistema de ideias. Demócrito: sua obra principal foi “Mega diacósmus”. Não são forças opostas que geram as coisas. Apenas existem os átomos, partículas imutáveis e indivisíveis, que movem-se no vazio formando todas as coisas. Existe apenas átomos e vazio. Este, porém, não é um materialismo propriamente mecanicista, pois não parte de uma explicação científica, e sim de uma especulação filosófica. 3.6 - Escola Sofista Eram chamados de “Filósofos céticos” e Sócrates oscriticava por receberem salários. Deram proeminência a temas como: - Conhecimento; - Lógica; - Linguagem; - Moral; - Política; Tiraram, assim o foco das especulações acerca da natureza. Protágoras: é um dos protagonistas da lógica. Para ele não existiam leis naturais para a vida e para a sociedade. São conveniências e poderes dos mais fortes que prevalecem. Gorgias: Era relativista e sensista. Acreditava na mutabilidade de tudo. Para ele “o ser não existe”. Antifon de Atenas: Para ele as leis humanas podem ser transgredidas, mas as leis naturais não. Página 18 de 75 Pródicos de Ceos: Falava de “virtude”, como pré-requisito para os bens da vida. Desmistificava os deuses. 4 - Período Socrático Morte de Sócrates, obrigado a beber cicuta, veneno letal. Sócrates: Era um homem simples de Atenas, foi soldado e político. Por fim foi condenado à morte por suas posturas contra ideias tradicionais. Nada escreveu, tudo que sabemos foi-nos passado por Xenofonte, Platão e Aristóteles. Para ele: - a inteligência era específica e não sensorial; - a alma era substancial, espiritual, preexistente e eterna; - Deus existia, mas não era como os homens, divergindo da mitologia; - O foco estava nas questões morais e não na natureza. Antes de mais nada o homem precisava conhecer-se; - Haviam ideias inatas que poderiam ser redescobertas através da maiêutica, método para ensinar através de perguntas; Página 19 de 75 - Ética é a arte de agir para o bem. Platão (discípulo de Sócrates) Imagem de Michelangelo, 1512. Ele era Intelectualista, racionalista radical, politicamente absolutista. Acreditava na dualidade alma-espírito e nas ideias inatas, que teriam origem em vidas passadas. Defendia o universalismo arquétipo e via a ciência como a redescoberta das ideias inatas por meio dos sentidos. Acreditava também na existência de um Deus infinito. Desenvolveu também uma trilogia a acerca da realidade. Acreditava que existia o campo das Ideias Arquétipas, o Demiurgo (Deus, o artista) e a matéria eterna. O artista divino projeta as coisas no campo das ideias arquétipas e as materializa na matéria eterna. Deus é quem põe para funcionar o motor do universo, gerando as primeiras ações que geraram todas as outras em cadeia. Politicamente Platão aceitava a desigualdade conforme a capacidade a não conforme o nascimento. Aristóteles de Pela - É o responsável pela formalização do pensamento lógico. Dividiu as operações mentais em três: Ideia, Juízo e Raciocínio. Desenvolveu Página 20 de 75 também a teoria da potência: “das coisas não existentes, algumas existem em potência, por não existirem em atos.” Politicamente tolerava a escravidão, argumentando que alguns indivíduos seriam destinados naturalmente para isto, devido a sua incapacidade para atividades intelectuais. 5 - Filosofia Helênico Romana Trata-se do período pós-socrático da filosofia da Idade Antiga. Foram muitas as mudanças que ocorreram com o crescimento do Império Romano. Este dominou praticamente todo o mundo da época, gerando um caldeirão de culturas e ideias. A cultura grega, porém, teve espaço especial no mundo romano que surgia. Desde o final de período da filosofia socrática (IV a.C.) até cerca de II d.C. desenvolveram-se de forma mais ou menos linear algumas escolas bastante inspiradas nas escolas pré-socráticas e socráticas. Epicurismo e estoicismo, ao lado do crescimento do cristianismo parecem as grandes novidades deste período. Haviam também os Cínicos, que seriam os anarquistas da antiguidade, pois eram contra qualquer forma de distinção pó sexo, raça, classe e ainda desacreditavam das instituições. Os epicureus eram chamados de “filósofos do jardim”, pois reuniam-se em um jardim que no portal de entrada tinha a seguinte inscrição: “forasteiro, aqui te sentirás bem, aqui o bem supremo é o prazer.” Esse era o foco do ensinamento dos epicureus: é possível afastar o sofrimento e o medo: aproveitar a vida, vivendo sem sofrer. Epícuro Também ensinava a “viver em reclusão”, ou seja, em meio a correria da sociedade dizia que as pessoas deveriam afastar-se de tudo e aproveitar a vida. Outro enfoque de seus ensinamentos era a ideia de não preocupar-se com os deuses, ou com os possíveis castigos dos mesmo, pois para ele a vida terminava por aqui mesmo, não estendendo-se ao pós-morte. Isso, ele justificava pela teoria do átomo, desenvolvida por Demócrito, pela qual o menor elemento fundamental de Página 21 de 75 todas as coisas é o átomo, que constituiria tudo. Segundo Epícuro, quando morremos o que ocorre na verdade é o desmonte de nossos átomos que espalham- se para dar origem a outras coisas. Inclusive, para ele, os átomos da alma também se espalham. Já os estóicos, acreditavam que cada pessoas era um mundo em miniatura, um mini-cosmos. Todos fazem parte de um todo harmônico (Kosmos), que se completa. Para eles o universo é um deus, que se ordena sozinho, e o homem, também divino, faz parte desse todo. Não há espírito, alma, matéria, tudo é uma coisa só, na concepção estóica. Para eles é preciso viver liberto do luxo, em harmonia com o universo, para poder se suportar em paz os sofrimentos, que seriam inevitáveis à vivência. Os estóicos buscavam da relação com o outro e com o todo, através de suas ações e sua ética, alcançar uma vida boa. Estas duas linha filosóficas já eram bastante conhecidas em todo território de domínio romano quando do surgimento do cristianismo. Talvez um dos primeiros encontros entre filósofos destas duas linhas e pregadores cristãos seja o que está relatado no Livro de Atos, na Bíblia, quando o apóstolo Paulo vai a Atenas e começa a ensinar em uma praça, sendo contrariado dos defensores destas duas linhas que ali debatiam entre si há tempos. 6 - Filosofia Cristã – Patricismo e Escolástica 6.1 - Santo Agostinho (354-430). O cristianismo estava consolidado nessa época: embora tivesse apenas quatrocentos anos, era considerado a verdade irrefutável. Apesar disso, Santo Agostinho, que nasceu no norte da África, numa cidade chamada Tagaste, nem sempre foi cristão. Fez os primeiros estudos na cidade natal e, com a ajuda de um amigo, foi para Cartago, aos dezesseis anos, completar os estudos superiores. Não Página 22 de 75 foi um bom aluno. Na juventude, detestava estudar grego. Interessou-se por filosofia ao ler uma obra de Cícero. Quando criança era cristão, mas depois passou por outras religiões, como a dos maniqueus, que formavam uma seita e dividiam o mundo entre o bem e o mal, trevas e luz, espírito e matéria. Acreditavam que com o seu espírito, o homem pode transcender a matéria. O maniqueísmo contém uma visão dualista radical, bem e mal são tomados como princípios absolutos. Posteriormente, Agostinho combateu essa doutrina, que foi criada por Manes. De início ele recusava a ler a Bíblia, por considerá-la vulgar. Teve um caso de amor, envolto em paixões mundanas, e nasceu um filho, que falecido ainda adolescente. Com vinte anos, perdeu o pai e ficou sendo o responsável pelo sustento de duas famílias. Foi professor de retórica em Cartago, mas depois mudou-se para Roma. Sua mãe foi contra a mudança e Agostinho teve de enganá-la na hora da viagem. De Roma foi para Milão, lecionar retórica. Muito influenciado pelos estóicos, por Platão e o neoplatonismo, também estava entre os adeptos do ceticismo. Abandonou o maniqueísmo, que critica. Converteu-se então à fé cristã, depois de conhecer a palavra do apóstolo Paulo, e batizou-se aos trinta e dois anos de idade. Desistiu do cargo de professor e voltou a Tagaste, onde fundou uma comunidade monástica, disposto a fundamentar racionalmente a fé, como foi comum na Idade Média. Mostrou que, sem a fé, a razão não é capaz de levar à felicidade.A razão, para Agostinho serve de auxiliar a fé, esclarecendo e tornando inteligível aquilo que intuímos. Ele tinha tomado contato com o pensamento neoplatônico onde a natureza humana contém parte da essência divina. Demonstrou que há limites para a racionalidade. Receberemos um saber que está além do natural. Com o cristianismo, uma luz inundou seu coração, sua alma encontrou a paz. Virou vigário aos trinta e seis anos, praticando a vida ascética. Santo Agostinho escreveu Contra os Acadêmicos, direcionado à filosofia cética e expôs a teoria de que os sentidos dizem algo verdadeiro. O erro provém do juízo que fazemos das sensações, e não delas próprias. A sensação não é falsa, o que é falso é querer ver nelas uma verdade externa ao próprio sujeito. Virou Bispo de http://www.consciencia.org/santo_agostinho.shtml http://www.consciencia.org/santo_agostinho.shtml http://www.consciencia.org/santo_agostinho.shtml http://www.consciencia.org/santo_agostinho.shtml http://www.consciencia.org/santo_agostinho.shtml Página 23 de 75 Hipona. Agostinho ficou conhecido por “cristianizar” Platão, fazendo vários paralelos entre a parte espiritualista dele (que diz existir um mundo transcendente) e as Sagradas Escrituras. Faz a distinção entre o corpo, sujeito à sorte do mundo, e a alma, que é atemporal, e com a qual se pode conhecer Deus. Antes de Deus ter criado o mundo a partir do nada as Ideias eternas já existiam na sua mente. Deus é a bondade pura. Ele já conhece o que uma pessoa vai viver antes dela viver. Assim, apesar da humanidade ter sido amaldiçoada depois do pecado original, alguns alcançarão a verdade divina, a salvação. Isso depende do uso que fazemos do livre arbítrio, a faculdade que o indivíduo tem de determinar de acordo com a sua própria consciência a sua conduta, livre da Divina Providência, enquanto está vivo. Seria o ato livre de decisão, de opção. Durante um diálogo, Agostinho chega a conclusão que o mal não provém de Deus, mas sim do mau uso do livre arbítrio. De fato, para ele não existe mal, apenas a ausência de Deus. (com isso ele refuta de vez a doutrina dos maniqueus). Essa teoria encontra-se no livro O livre arbítrio. Com uma vida errada, a alma fica presa ao corpo, porém a relação correta é a inversa. Os órgãos sensoriais sentem a ação dos elementos exteriores, a alma não. Deus é a fonte dos conhecimentos perfeitos e não o homem. A experiência mística leva à iluminação divina. Assim se chega às verdades eternas, e o intelecto então é capaz de pensar corretamente a ordem natural divina. A unidade divina é plena e viva, e guarda a multiplicidade. O amor de Deus é infinito. A graça e a liberdade complementam-se. Na obra a Cidade de Deus, Agostinho faz oposição entre sensível e inteligível, alma e corpo, espírito e matéria, bem e mal e ser e não ser. Acrescenta a história à filosofia, interpretando a história da humanidade como o conflito entre a Cidade de Deus, inspirada no amor à Deus e nos valores que Cristo pregou, presentes na Igreja, e a Cidade humana, baseada nos valores imediatos e mundanos. Essas cidades estariam presentes na alma humana, e no final a Cidade de Deus triunfaria. Página 24 de 75 Outra obra importante são as Confissões, que é autobiográfica. Essa obra faz dele um precursor de Descartes, Rousseau e o existencialismo. Acredita na verdade contida nos números, que fazem parte da natureza. 6.1.1 - Algumas obras de Santo Agostinho: Da Doutrina Cristã (397-426) Confissões (397-398) A Cidade de Deus (413-426) Da Trindade (400-416) Retratações De Magistro Conhecendo a si mesmo 6.1.2 - Frases e Pensamentos de Santo Agostinho "Se dois amigos pedirem para você julgar uma disputa, não aceite, pois você irá perder um amigo. Porém, se dois estranhos pedirem a mesma coisa, aceite, pois você irá ganhar um amigo." "Milagres não são contrários à natureza, mas apenas contrários ao que entendemos sobre a natureza." "Certamente estamos na mesma categoria das bestas; toda ação da vida animal diz respeito a buscar o prazer e evitar a dor." "Se você acredita no que lhe agrada nos evangelhos e rejeita o que não gosta, não é nos evangelhos que você crê, mas em você." "Ter fé é acreditar nas coisas que você não vê; a recompensa por essa fé é ver aquilo em que você acredita." Página 25 de 75 "A pessoa que tem caridade no coração tem sempre qualquer coisa para dar." "A confissão das más ações é o passo inicial para a prática de boas ações." "A verdadeira medida do amor é não ter medida." "Orgulho não é grandeza, mas inchaço. E o que está inchado parece grande, mas não é sadio." 6.2 - São Tomás de Aquino 6.2.1 - Primeiros anos Tomás de Aquino que foi chamado o mais sábio dos santos e o mais santo dos sábios. Nasceu em março de 1225 no castelo de Roca-Sica, perto da cidade de Aquino, no reino de Nápoles, na Itália. Com apenas cinco anos seu pai, conde de Landulfo d’Aquino, o internou no mosteiro de Monte Cassino. Aí iria ser educado pelos sábios monges beneditinos, ordem religiosa fundada por Bento de Núrsia exatamente naquele local. Tomás fez com raro brilhantismo os primeiros estudos. Mais tarde frequentou a Universidade de Nápoles. Conheceu então os frades dominicanos, seguidores de Domingos de Gusmão, fundador da ordem dita dos pregadores. Tinha dezoito anos e resolveu fazer-se dominicano. Seus pais e irmãos ficaram decepcionados, pois Tomás era genial e tinha uma carreira fulgurante pela frente. Não queriam que ele fosse um frade de uma ordem mendicante. Como a família o importunasse no Convento de Nápoles, Tomás foi transferido para Paris. À força foi de lá retirado e trazido de volta ao castelo paterno. Tudo fizeram para lhe tirar da cabeça a ideia de ser padre. Nada o convencia: nem rogos, nem promessas de uma existência com tudo que uma família rica pode oferecer. Página 26 de 75 6.2.2 - A tentação e a vitória Seus irmãos imaginaram armar-lhe uma cilada. Foi um plano realmente diabólico. Introduziram no seu quarto uma mulher bonita, charmosa, jovem, mas sem moral. Pensaram eles que Tomás não resistiria. Entregar-se-ia a ela. Desistiria de sua vocação eclesiástica. A provocação era de baixo nível. Grande a tentação. Ao entrar a moça no quarto, Tomás compreendeu que deveria agir sem demora. O perigo era iminente. Então ele que estava entregue a uma piedosa leitura, imediatamente se levantou. Arrancou um tição da lareira. Com ele na mão, como uma espada de fogo, pôs a mulher em fuga. A moça gritou e sumiu. Deve ter pensado que estava a lidar com um louco furioso agitando chamas, ameaçando, na aparência, deitar fogo à casa. Tomás, logo que ela saiu foi correndo até à porta, a fechou e a trancou. Num impulso natural esmurrou o tição incandescente na porta e traçou nela com o carvão um grande sinal da cruz. Jogou o que sobrou do carvão no fogo. Sentou-se de novo na sua cadeira e voltou a estudar. Após dois anos, sua mãe Teodora concordou em libertá-lo. Deixou-se seguir para o convento de Nápoles em 1245. Acompanhado pelo Superior Geral, João o Teotônico, Tomás partiu para Paris. Dali foi para Colônia na Alemanha. Foi discípulo de Santo Alberto Magno com o qual logo se afinou culturalmente. Os estudantes de Colônia eram ávidos de discussões filosóficas. Nelas Tomás tomava parte ativamente. Grande o proveito que tirou das sábias preleções de filosofia e teologia de Alberto Magno, cujos conhecimentos eram enciclopédicos. Com ele Tomás aprendeu que a verdadeira vida de um ser racional é fazer de sua inteligência uma ascensão contínua até chegar aos mais altos conhecimentos inteligíveis, atingindo a ciência da alma e a ciência de Deus. Ótimo discípulo, Tomás se distinguiu entre os colegas, obtendo fama pelo seu talento indiscutível. Página 27 de 75 6.2.3 - O boi mudo Tomás forados momentos de debates acadêmicos e das conversações atinentes a assuntos sérios, era calado, reservado. Além disto não apreciava perder tempo com conversas inúteis. Por isto um de seus colegas o chamou de “o boi mudo”. Este companheiro, certo dia, levou a Alberto Magno uns apontamentos de Tomás. Foi nesta ocasião que Alberto proferiu a frase que se tornou célebre, pois era uma profecia que se realizou: “Chamais Tomás de “o boi mudo”, mas vos asseguro que seus mugidos ouvir-se-ão por toda a terra”. De fato, até hoje são inúmeros os seguidores de Tomás de Aquino, chamados tomistas. Muito provavelmente foi porque deram a ele o apelido de “o boi mudo” que um dia os frades resolveram brincar com Tomás. Este estava, como sempre, andando no claustro, ou seja, no pátio interior do convento, meditando sobre profundos assuntos referentes a Deus. Alguém o chamou, dizendo: “Vem ver um boi voando”! Tomás, imediatamente, o acompanhou e se pôs a olhar para o alto ao som das gostosas gargalhadas de seus confrades. Estes então lhe perguntaram como, sendo tão inteligente, ele podia pensar que um boi estivesse voando. A resposta de Tomás foi uma lição maravilhosa: “Olhei porque deve ser mais fácil um boi voar do que um frade mentir”. Nunca mais brincaram com ele, respeitando seus instantes de funda reflexão. 6.2.4 - Seus famosos escritos Em 1252 Tomás em Paris ensinava como bacharel. Segundo o método da época, deste modo poderia alcançar o título de mestre e doutor. Escreveu neste período comentários ao livro de Sentenças de Pedro Lombardo, obra composta entre 1150 e 1152. Comentou também o Profeta Isaías e o Evangelho de São Mateus. Página 28 de 75 Passados quatro anos era doutor e escrevia a Suma contra os Gentios, na qual faz uma exposição da crença cristã para uso dos missionários. São quatro livros dos quais os três primeiros tratam de verdades acessíveis à razão e o quarto livro das verdades de fé propriamente ditas. Em 1268 iniciou a Suma Teológica, sua principal produção. Consta ela de três partes, subdivididas em questões e artigos. As duas primeiras partes datam dos anos de 1266 a 1272. A terceira, iniciada em 1272, ficou incompleta. Foi complementada pelo companheiro e amigo fiel de Tomás, Reginaldo de Piperno. Esta parte se chama Suplemento. Além destes trabalhos citados, Tomás escreveu inúmeras Questões como sobre a Verdade, a Alma, o Mal, a Beatitude e vários Opúsculos Filosóficos sobre assuntos diversos como O Ente a Essência, Sobre as Falácias. Deixou ainda comentários a respeito das obras de Aristóteles e outros escritos filosófico-sociais. 6.2.5 - Morte Imprevista Quando Tomás de Aquino tinha cinquenta e três anos, a 7 de março de 1274, foi surpreendido pela morte no mosteiro cisterciense de Fossanova. Estava a caminho de Lião onde, por ordem do Papa Gregório X, iria participar do Concílio de Lião. Ainda no leito de morte encontrou forças para falar aos monges sobre o livro da Bíblia denominado Cântico dos Cânticos. Após seu falecimento ele entrou para a História com o título de Doutor Angélico, dada a culminância espiritual que atingiu e a perfeição de sua existência. Conta-se que certa ocasião, diante de um Crucifixo, Tomás ouviu de Jesus estas palavras: “Bem escrevestes sobre mim, Tomás, que prêmio quereis”? Respondeu ele: “Nada senão a Ti mesmo, Senhor”. Prestes a morrer pronunciou estas palavras, após receber a Eucaristia: “De ti, Senhor, me veio o preço da redenção da minha alma! Todos os meus estudos, vigílias e trabalhos foram por teu amor”. Página 29 de 75 Conta-se que naquele dia 7 de março de 1274 Alberto Magno que se achava em Colônia, na Alemanha, com lágrimas nos olhos comunicou aos frades: “O irmão Tomás de Aquino, meu filho em Cristo, luz da Igreja, morreu. Deus acaba de me revelar isto”. Teve, portanto, a longa distância a percepção do falecimento de seu discípulo exemplar. O corpo de Tomás de Aquino repousa na Catedral de Tolosa, na França. Foi declarado Santo pelo Papa João XXII que o canonizou em 1323. Paulo V em 1567 o declarou Doutor da Igreja e Leão XIII o proclamou em 1879 padroeiro de todas as escolas católicas. Venera-se sua memória a 28 de janeiro, dia em que seu corpo foi transladado para Tolosa, em 1369. 6.2.6 - Ensinamentos de Tomás de Aquino Tomás de Aquino acentuou a diferença entre a Filosofia, que estuda todas as coisas pelas últimas causas através da luz da razão, e a Teologia, ciência de Deus à luz da revelação. Mostrou que o homem é o ponto de convergência de toda a criação e que nele se encerram, de certo modo, todas as coisas. Ensinou que há uma união substancial entre a alma e o corpo. Isto é o fundamento maior da dignidade da pessoa humana. Esta é um corpo que está enformado por uma alma ou uma alma a enformar um corpo. Defendeu o livre arbítrio, ou seja, a liberdade da vontade humana para aderir ao bem ou ao mal, donde a responsabilidade moral do homem. Daí a sanção da lei: prêmio para as boas ações e punição para os atos maus. Para ele a morte determina para sempre a alma humana quer na desordem e na infelicidade, quer na ordem e na felicidade, como está na Bíblia.O conhecimento, ensinava Tomás, tem a primazia sobre a ação, pois nada pode ser amado se não for conhecido primeiro. 6.2.7 - Os cinco caminhos Página 30 de 75 Por cinco vias Tomás prova magistralmente a existência de Deus. Com notável clareza expôs ele a prova tirada do movimento, partindo do pressuposto de que “tudo o que se move é movido por outro”. Raciocina então: “se aquilo pelo qual é movido por sua vez se move, é preciso que também ele seja movido por outra coisa e esta por outra. Mas não é possível continuar ao infinito; do contrário, não haveria primeiro motor e nem mesmo os outros motores moveriam como, por exemplo, o bastão não move se não é movido pela mão. Portanto, é preciso chegar a um primeiro motor que não seja movido por nenhum outro, e por este todos entendem Deus”1. A segunda via é a da causa primeira universal. Eis o texto de Tomás de Aquino na Suma Teológica: “Constatamos no mundo sensível a existência de causas eficientes. É, entretanto, impossível que uma coisa seja sua própria causa eficiente, porque, se assim fosse, esta coisa existiria antes de existir, o que não tem nenhum sentido. Ora, não é possível proceder até o infinito na série de causas eficientes, porque, em qualquer série de causas ordenadas, a primeira é causa intermediária e esta é causa da última, quer haja uma ou várias causas intermediárias. Com efeito, se suprimirdes a causa, fareis desaparecer o efeito: portanto, se não há causa primeira, não haverá nem última, nem intermediária. Ora, se fosse regredir até o infinito dentro da série de causas eficientes, não haveria causa primeira, e, assim, não haveria também nem efeito, nem causas intermediárias, o que é evidentemente falso. Portanto, é preciso, por necessidade, colocar uma causa primeira que todo o mundo chama Deus”2. Por este texto se percebe a clareza com que Tomás de Aquino expõe o seu raciocínio. Com rara habilidade intelectual ele procura o motivo da existência da causalidade no mundo. Assim se chega infalivelmente a uma causa que produz e não é produzida, ou seja, a causa eficiente primeira que é Deus. Página 31 de 75 Em terceiro lugar vem a prova da contingência. Em sentido amplo, contingência significa a possibilidade de um objeto qualquer de não ser, de não existir. É tudo aquilo que pode ser como não ser. É contingente o fato de cada um de nós existirmos. Poderíamos não ter existido. A contingência metafísica significa que contingente é todo ente ao qual a existência não é essencialmente necessária. Eis como Josef de Vries resume esta prova da existência de Deus proposta por Tomás de Aquino: “a prova cosmológica, baseando-se no nascimentoe desaparecimento das coisas, conclui a contingência das mesmas, e partindo da mutabilidade própria também dos elementos constitutivos fundamentais cuja origem não pode ser mostrada experimentalmente, infere sua natureza também contingente, provando dessa maneira que o mundo todo é causado por um Ser Supramundano”3. Este é o Ser Necessário que existe por sua própria natureza e não pode nunca deixar de existir. As criaturas nascem, crescem e morrem, são possíveis, não necessárias, ou seja, existem, mas não necessariamente. Se em algum tempo não tivesse havido nada de existente, teria sido impossível para qualquer coisa começar a existir, e, deste modo, também neste caso nada existiria o que seria um absurdo. Existe, portanto, um Ser Necessário que é Deus. A quarta via para provar a existência do Ser Supremo é tirada dos graus dos seres. Na Suma Teológica assim se expressa Tomás de Aquino: “Verificamos que alguns seres são mais ou menos verdadeiros, mais ou menos bons, etc. ora, diz-se o mais e o menos de coisas diversas segundo a sua aproximação diferente de um máximo. Existe, pois, alguma coisa que é o mais verdadeiro, o melhor, por conseguinte, o mais ser. Ora, o que é o máximo num gênero é a causa de tudo que pertence a este gênero. Existe, portanto, um ser que é http://www.consciencia.org/tag/metafisica Página 32 de 75 para todos os outros causa de ser, de bondade, de perfeição total, e este ser é Deus:”4. Deus possui o ser de modo absoluto, ao passo que as criaturas têm um grau diverso de ser. Isso significa que tal fato não lhes deriva em virtude de suas respectivas essências, caso em que seriam sumamente perfeitos e não em determinados graus. Ora, se não deriva de suas respectivas essências, isso, é lógico, significa que o receberam de um ser que concede tudo sem receber, que permite a participação sem ser ao mesmo tempo partícipe. Este ser é a fonte de tudo aquilo que existe de algum modo. Ele é a perfeição infinita, absoluta. É um ser perfeito sob todos os aspectos que se possam imaginar. Nele se realizam com perfeição suprema todas as possibilidades do ser. O quinto caminho apontado por Tomás de Aquino como prova da existência de Deus é o do finalismo, ou seja, do governo do mundo. Jolivet resume esta quinta via deste modo: “No conjunto das coisas naturais verificamos uma ordem regular e estável. Ora, toda ordem exige uma causa inteligente, que adapta os meios aos fins e os elementos ao bem do todo. Portanto, a ordem do mundo é obra de uma Inteligência ordenadora, transcendente a todo o universo”5. Esse Ordenador é Deus. De fato, quando se analisa o que ocorre no mundo se verifica que tudo age e opera como se tendesse a um fim. Não se trata de uma ideia mecanicista do universo, como se Deus interviesse juntando partes como acontece com o relojoeiro para constituir um relógio. Trata-se de se perceber a finalidade inata em algumas coisas, coisas que mostram em si mesmas um princípio de finalidade e total unidade. As exceções que se podem atribuir ao acaso não invalidam este raciocínio. O que se busca é a causa da regularidade, da ordem e da finalidade visíveis em alguns seres. Esta causa não pode ser identificada com os próprios seres em si. É preciso, pois, Página 33 de 75 remontar a um Ordenador que esteja em condições de dar ser aos seres e, na verdade, daquele modo específico no qual de fato eles operam. 6.2.8 - As leis segundo Tomás Segundo Tomás de Aquino, por ser racional, o homem conhece a lei natural, ou seja, está plenamente capacitado para saber que “se deve fazer o bem e evitar o mal”. Trata-se da participação da lei eterna pelo homem dotado de inteligência. A lei eterna outra coisa não é senão o plano racional de Deus, isto é, a ordem existente no universo todo. Por esta lei dirige tudo para o seu fim específico. Além desta lei eterna e da lei natural, Tomás fala da lei humana, ou seja, jurídica. São normas feitas pelos homens para impedir que se pratique o mal. É a ordem promulgada por quem tem a responsabilidade pela comunidade. Seguindo Aristóteles, Tomás de Aquino considera o Estado como uma necessidade natural. É que o homem é um ser social e precisa de orientações para viver em sociedade. Entretanto, Tomás de Aquino deixa claro que as leis humanas não podem contradizer a lei natural. Aliás, no pensamento dele as normas do direito positivo existem para que os que são propensos aos vícios e neles se obstinam sejam persuadidos, a bem da ordem pública, a evitar tais desvios. Insiste Tomás na função pedagógica das leis humanas e nas sanções que podem e devem incluir. O objetivo é a convivência pacífica entre os homens. 6.2.8 - Tomás de Aquino e a Filosofia Grega Tomás de Aquino repensou Aristóteles, o grande filósofo grego do século V antes de Cristo. Deu diretrizes novas ao pensamento de Platão, outro grande filósofo daquele século. Deus é para Tomás o Criador de tudo, noção não atingida pela filosofia Página 34 de 75 grega. O dualismo inexplicável entre o mundo ideal e o mundo fenomenal, entre Deus e a matéria foi inteiramente superado por Tomás de Aquino. A ética de Aristóteles é sem obrigação e sem sanção, mas não assim a moral exposta pelo Aquinate. Na lógica, parte da filosofia que trata da lei do raciocínio correto, Tomás de Aquino expôs e comentou os ensinamentos de Aristóteles, dado que a lógica aristotélica é perfeita. O filósofo grego foi o pioneiro que investigou cientificamente as leis do pensamento e as formulou com exatidão. Kant, filósofo alemão, afirmou que os filósofos posteriores nada acrescentaram ao que Aristóteles ensinou neste aspecto da filosofia6. Entretanto, a teodicéia de Aristóteles, ou seja, a parte que trata de Deus, é incomparavelmente inferior à de Tomás de Aquino. Como Aristóteles, porém, Tomás de Aquino na política, acertadamente, ensina que a bondade de um governo, sua eficiência, não dependem de sua forma, mas da honestidade, da competência com que se dedica ao bem comum, ao bem estar dos cidadãos. Seja monarquia, república ou outra forma qualquer, melhor será, concretamente, a que mais se ajustar às necessidades do povo. 6.2.9 - Leão XIII e Tomás de Aquino Leão XIII que foi considerado o papa dos operários escreveu uma encíclica7, isto é, uma carta circular, solene, sobre a filosofia, em 1879. Neste documento a figura de Tomás de Aquino é objeto de especiais considerações. Diz o texto que Tomás de Aquino foi quem com maior perfeição uniu a inteligência, a razão, à fé. Fala na excelência e perfeição da doutrina tomista. A confirmação desta importância é atestada pelo valor em si do que ele ensinou, pelos aplausos das Academias e Escolas e até pelos que não são católicos. Odilon Moura deste modo resumiu o plano da referida encíclica: “Há necessidade de se instaurar uma Filosofia que harmonize a razão com a fé, para implantação da ordem na sociedade (números 1-20); ora, a Filosofia de Tomás é a que melhor Página 35 de 75 atende aos requisitos para a harmonia entre a razão e a fé (números 21-27); logo, deve ser instaurada a Filosofia de Santo Tomás (números 28-37)”8. Um dos trechos mais expressivos da referida encíclica é este: “Entre todos os doutores escolásticos, brilha como astro fulgurante, e como príncipe e mestre de todos Tomás de Aquino, o qual, como observa o Cardeal Caetano, “por ter venerado profundamente os santos doutores que o precederam, herdou, de certo modo, a inteligência de todos”. O termo escolástica empregado acima significa filosofia ensinada nas escolas medievais do Ocidente Europeu. Diz ainda Leão XIII: “Tomás reuniu suas doutrinas, como membros dispersos de um mesmo corpo; reuniu-as, classificou-as com admirável ordem, e de tal modo as enriqueceu, que tem sido considerado, com razão, como o próprio defensor e a honra daIgreja”. Este trecho a seguir retrata admiravelmente quem foi Tomás de Aquino: “De espírito dócil e penetrante, de fácil e segura memória, de perfeita pureza de costumes, levado unicamente pelo amor da verdade, cheio de ciência divina e humana, justamente comparado com o sol, aqueceu a terra com a irradiação de suas virtudes e encheu-a com o resplendor de sua doutrina”. Sobre seu espírito filosófico Leão XIII atesta: “Não há ponto da filosofia que não tratasse com tanta penetração como solidez. As leis do raciocínio, Deus e as substâncias incorpóreas, o homem e as outras criaturas sensíveis, os atos humanos e seus princípios, são objeto das teses que defende, nas quais nada falta, nem a abundante colheita de investigações nem a harmoniosa coordenação das partes, nem o excelente método de proceder, nem a solidez dos princípios”. Quem se interessa por obter outras análises de Leão XIII sobre Tomás de Aquino encontra nesta encíclica inúmeras outras considerações que mostram o valor deste filósofo extraordinário. Página 36 de 75 6.2.10 - Tomás de Aquino hoje Os discípulos, os seguidores de Tomás de Aquino neste final do século XX são incontáveis. Filósofos talentosos das mais diversas nações encontram em Tomás de Aquino elementos valiosos para suas pesquisas. Sertillanges, Maritain, Gilson, Garrigou-Lagrange, De Finance, Caturelli são alguns entre muitos que manifestam a presença vigorosa do tomismo em nossos dias. No Brasil Fernando Arruda Câmara, notável filósofo brasileiro, lançou o livro “Tomismo Hoje”, no qual mostra o grande número de tomistas em nossa pátria, entre os quais, se destaquem Maurílio Teixeira Leite Penido, Leonardo Van Acker, Henrique Cláudio de Lima Vaz, Alexandre Correia. A reelaboração do tomismo efetuada pelos filósofos de nossos dias tem como característica um estudo direto dos textos de Tomás de Aquino. Além disto se nota uma fidelidade absoluta às teses fundamentais estabelecidas por ele. Percebe-se diálogo aberto com as outras correntes filosóficas atuais. Há ainda uma preocupação dos tomistas de hoje de investigar em profundidade a cultura moderna, contemporânea. Tais discípulos de Tomás de Aquino são chamados neotomistas que tentam responder às profundas perguntas que se colocam ao homem de hoje, cristãos ou não-cristãos. Há sobretudo um apelo à Verdade e ao Amor Criador que precisam penetrar no íntimo da realidade humana. À cultura moderna e contemporânea influenciada pela técnica e pela ciência, endeusadas erroneamente, o tomismo traz uma contribuição admirável. Leva o ser racional ao encontro de Deus e dos valores perenes, sem os quais é impossível a verdadeira felicidade. Trata-se de libertar o homem da escravidão do materialismo com todas as suas terríveis consequências. Chesterton, pensador inglês afirmou: “Neste momento atual, tão pouco esperançoso, não há homens tão esperançosos como aqueles que consideram agora Santo Tomás como guia em uma centena de perguntas angustiosas respeitante às artes, à Página 37 de 75 propriedade e à ética econômica. Há inegavelmente um tomismo esperançoso e criador em nossa época”9. É também deste autor esta frase luminosa: “Que o tomismo seja a filosofia do bom senso, o mesmo bom senso o proclama”10. O erro seria considerar o tomista como quem entende Tomás de Aquino de modo estático, medieval. Nada disto. Através de um estudo maduro, de uma reflexão atenta, o tomista procura pinçar o que está latente nos escritos de Tomás de Aquino. Como observou Dino Staffa: “Nenhuma das maravilhosas conquistas da ciência física são inconciliáveis com a doutrina tomista, senão que a integram e iluminam”11. Há, de fato, uma perfeita harmonia entre os ensinamentos de Tomás de Aquino e as descobertas científicas de hoje. Jean Ladrière recentemente declarou: “A atualidade do pensamento de Santo Tomás de Aquino é a presença contínua de uma força inspiradora capaz de assumir, em suas figuras cambiantes, o destino da razão, a consciência que ela tomou de suas conquistas como de seus limites, o pressentimento que ela traz consigo daquilo que lhe pode dar absolutamente seu sentido”12. Wolfgang Kluxen situou, com rara felicidade, a posição do tomismo ao escrever que este “não é a última palavra da razão e isto segundo seus próprios princípios. Basta, porém, que seja uma palavra real, séria, verdadeira; e, como tal, ele permanecerá sempre atual, contemporâneo a todas as épocas”13. O reencontro da juventude de hoje com Tomás de Aquino significa libertação e renovação cultural forte. Tomás de Aquino é um convite ao afastamento de tudo que degrada o ser humano. Ele inspira segurança para que se ande nos caminhos do bem e dos verdadeiros valores. Enche de esperança o coração juvenil. 6.2.11 - João Paulo II e Tomás de Aquino Realizou-se em Roma em 1990 o nono Congresso Tomista Internacional. João Paulo II, o atual papa, recebeu em audiência os participantes deste Congresso Página 38 de 75 promovido pela Pontifícia Academia de Santo Tomás. Na oportunidade falando aos tomistas ali reunidos o papa recordou que em 1880 havia chamado Tomás de Aquino de “Doutor da Humanidade”. Tal título era baseado no muito que Tomás de Aquino escreveu dignificando a natureza humana com suas colocações filosóficas e teológicas. Lembrou o papa os ensinamentos do Aquinate nas obras “Sobre Homem” e “Sobre Deus Criador” nas quais ele ensina que “enquanto o homem é obra das mãos de Deus, traz em si a imagem de Deus e tende, por natureza, a uma semelhança com Deus cada vez mais plena”14. Depois de outras profundas considerações João Paulo II assim se expressou: “Deve-se, portanto, desejar e favorecer de todos os modos o estudo constante e aprofundado da doutrina filosófica, ética e política que Santo Tomás deixou em herança às escolas católicas e que a Igreja não hesitou em fazer própria, de modo especial no que diz respeito à capacidade, à perfectibilidade, à vocação, à responsabilidade do homem quer na esfera pessoal quer na social…” Quanto à atualidade da doutrina tomista assim se expressou o papa: “Santo Tomás não podia certamente prever um mundo cultural e religioso tão vasto e complexo e articulado como nós hoje conhecemos. Nem podia, portanto, ditar soluções concretas para a grande quantidade de problemas específicos que nós hoje devemos enfrentar”. Prossegue, porém, o papa: “Mas dado que seu maior cuidado foi colocar-se e manter-se da parte da verdade universal, objetiva e transcendente [...] traçou um método de trabalho missionário que é hoje substancialmente válido também no plano das relações ecumênicas e inter-religiosas, assim como no confronto com todas as culturas antigas e novas”. Portanto, a doutrina de Tomás de Aquino é apta para a aproximação dos cristãos entre si e para o entendimento das culturas passadas e recentes. De fato, o amor à verdade que fulgiu, brilhou, em Tomás de Aquino conduz à sociabilidade é à solidariedade, à liberdade que, segundo João Paulo II, firmado no Aquinate, não pode ser real se não está fundamentada nesta verdade. A crise moral Página 39 de 75 do mundo de hoje lembra no seu discurso o papa “depende do enfraquecimento do sentido da verdade nas inteligências e nas consciências, que perderam a referência à fundação última da verdade mesma”. É aí, precisamente, que se deve ver a importância capital do contato com a doutrina de Tomás de Aquino. 6.2.12 - Tomás de Aquino e Francisco de Assis Dada a popularidade de Francisco de Assis, melhor se pode ter uma ideia de Tomás de Aquino, fazendo-se uma comparação entre ambos. Francisco de Assis era magro, de baixa estatura, vibrante, um corisco. Vivia atrás de seus pobres. Era um andarilho de Deus. Caminhava pelas estradas para ajudar os necessitados. Andava modestamente pelas ruas edificando a todos. Tomás de Aquino era corpulento,
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