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1 Khilver Doanne Sousa Soares Material restrito, favor não reproduzir nem distribuir sua posse!!! Nenhum serviço de impressão e xerox pode redistribuir este material a outros clientes!!! Maus Tratos Infantis O abuso físico infantil pode ser amplamente definido como lesão infligida a uma criança por um dos pais ou cuidador. Para ser considerado maus tratos deve haver dano físico, psicológico ou sexual – mesmo que haja consentimento da vítima, mas com indução ou sedução enganosa. Fatores de Risco Alguns fatores colocam uma criança em maior risco. Dificuldades de fala e linguagem, distúrbios de conduta e doenças mentais; Anomalia congênitas e/ou deficiência intelectual, etc.; TDAH; Gravidez / criança não planejada; Adolescente não aparentado ou cuidador adulto do sexo masculino na casa; Violência doméstica ou por parceiro íntimo no ambiente; Vivência na pobreza; Pais jovens ou solteiros; Pais com nível de escolaridade baixo; O cuidador foi abusado ou negligenciado quando criança; Abuso de substâncias ou uso de álcool pelo cuidador; Doença psiquiátrica no cuidador. Alguns pontos devem ser observados para que a detecção seja feita de forma precoce: Se alguma condição específica não tem explicação médica clara (nível de consciência alterado, vômito, dor, etc.), o trauma deve ser considerado; Quando o trauma é um componente ativo do diagnóstico diferencial: pesquisar história completa e investigar o ocorrido com detalhes – entrevistar os cuidadores separadamente; Se o trauma for o componente ativo do diagnóstico diferencial, um exame físico completo deve visualizar e palpar todas as superfícies acessíveis do corpo - Atenção especial deve ser dada à boca, pavilhões auriculares, couro cabeludo, nádegas e região anogenital e dobras corporais como o pescoço; Se realmente houver lesão identificada na avaliação inicial, observar: se a lesão possui forma ou padrão indicativo de abuso, se há hematoma subdural, fraturas de costela, fratura de fêmur em crianças que não andam, lesão pancreática e do intestino delgado proximal, queimadura por imersão e se a história do trauma é compatível com sua natureza, tempo de evolução dos sintomas e cura da lesão; IMPORTANTE ter uma equipe multidisciplinar com um especialista em abuso infantil para consultar ao considerar um caso; IMPORTANTE relatar todas as suspeitas de abuso físico infantil que persistem após a avaliação inicial ao conselho tutelar apropriadamente. + Características associadas ao abuso: Não há história ou relato de trauma, apesar da lesão grave; A história é implausível para o grau de lesão; As lesões indicam demora inexplicada ou excessiva na procura de atendimento; Lesão grave explicada como autoinfligida ou atribuída a outras crianças pequenas ou animais de estimação; História dos cuidadores entra em conflito com versões de outros observadores. 2 Khilver Doanne Sousa Soares Material restrito, favor não reproduzir nem distribuir sua posse!!! Nenhum serviço de impressão e xerox pode redistribuir este material a outros clientes!!! Padrões de Fratura As fraturas têm aspectos específicos na avaliação dos maus tratos infantis. Podem ser avaliadas através de radiografia. A idade da fratura: avaliar margens de fratura, densidades diferentes na estrutura óssea (cicatrizações de fraturas), diferentes fases de cicatrização presentes. Fraturas altamente sugestivas de lesão intencional: Fraturas de ossos longos em crianças que não andam ainda: os mais comumente feridos são fêmur, úmero e tíbia; Canto metafisário e fraturas em alça de balde: acredita-se que ocorram quando a extremidade é puxada ou torcida com força, ou a criança é sacudida; Fraturas de costela: são produzidas por golpes diretos no tórax ou compressão do tórax (por exemplo, quando o tronco é agarrado durante aperto ou agitação); Fraturas do esterno, escápula ou processos espinhosos; Múltiplas fraturas em vários estágios de cicatrização; Fraturas fisárias deslocadas, fraturas transfisárias distais do úmero: as fraturas em espiral dos ossos longos resultam de uma força de torção no membro, as fraturas transversais resultam de um golpe direto com a linha de força perpendicular à diáfise do osso; 3 Khilver Doanne Sousa Soares Material restrito, favor não reproduzir nem distribuir sua posse!!! Nenhum serviço de impressão e xerox pode redistribuir este material a outros clientes!!! Fraturas complexas de crânio. É importante entender que as fraturas seguem um raciocínio “lógico”: proeminências ósseas são mais sugestivas de lesão acidental; regiões como coxa, genitália e dorso do corpo são sugestivos de maus-tratos. Síndrome do Bebê Sacudido Consiste em lesão cerebral causada por sacudidas violentas do corpo da criança. O choque do tronco encefálico com a calota craniana pode causar diversos tipos de lesões. Hemorragia retiniana; Hematomas subdurais; Trauma raquimedular; Lesão axonal difusa. O diagnóstico é realizado através de anamnese + exame físico minucioso, exame de fundo de olho e tomografia computadorizada. Importante ressaltar que a síndrome do bebê sacudido se trata de uma série de alterações cerebrais internas, isso não exclui a possibilidade de presença de lesões externas (fraturas na calota craniana em si). TRÍADE DO BEBÊ SACUDIDO: encefalopatia, hematoma subdural e lesão de retina. ---------------------------------- Queimaduras em meia, luvas, genitálias ou coxas são sinais de maus-tratos. 4 Khilver Doanne Sousa Soares Material restrito, favor não reproduzir nem distribuir sua posse!!! Nenhum serviço de impressão e xerox pode redistribuir este material a outros clientes!!! A depender da força do trauma é importante avaliar sinais de lesão em órgãos internos: Sinal de Gray Turner; Sinal de Cullen. Esses sinais são indicativos de lesão abdominal aguda (laceração de pâncreas, fígado, hemorragia abdominal, etc.). Em crianças menores de 2 anos é importante pedir RX de todo o corpo, nos maiores de 2 anos faço radiografias localizadas. Lembrar de REPETIR OS EXAMES em 2 semanas (se o abuso persistir as lesões também persistem). Síndrome de Munchausen por Procuração A síndrome de Munchausen por procuração é um tipo de abuso infantil, em que um dos pais, geralmente a mãe, simula sinais e sintomas na criança, com a intenção de chamar atenção para si. Como consequência, a vítima é submetida a repetidas internações e exposição a exames e tratamentos potencialmente perigosos e desnecessários, gerando sequelas psicológicas e físicas, podendo levar à morte. Como identificar a síndrome? 1) A maioria dos casos são provocados pela mãe; 2) A mãe é afetuosa, cuidadosa e permanece quase todo tempo com a criança hospitalizada; 3) A mãe nega simular os sintomas nos filhos, mesmo quando confrontada; 4) A mãe apresenta tratamento psicoterápico prévio; 5) A aparente devoção da mãe sensibiliza e engana a equipe de saúde; 6) A mãe aprecia e estimula procedimentos médicos sofisticados, ainda que potencialmente perigosos; 7) A preocupação do perpetrador não parece proporcional à aparente gravidade da doença; 8) Várias visitas ao médico, estudos e internações hospitalares; 9) Doença da vítima é incomum e de difícil diagnóstico; 10) Várias recaídas da vítima e má resposta ao tratamento; 11) Elaboração de várias hipóteses diagnósticas inconsistentes; 12) Exames complementares não concordam com estado físico da criança. Notificação de Maus-tratos Contra a Criança e Adolescente A definição mais abrangente de notificação de maus-tratos contra a criança e adolescente é: 5 Khilver Doanne Sousa Soares Material restrito, favor não reproduzir nem distribuir sua posse!!! Nenhum serviço de impressão e xerox pode redistribuir este materiala outros clientes!!! Uma informação emitida pelo Setor Saúde ou por qualquer outro órgão ou pessoa, para o Conselho Tutelar, com a finalidade de promover cuidados sociossanitários voltados para a proteção da criança e do adolescente, vítimas de maus-tratos. O ato de notificar inicia um processo que visa a interromper as atitudes e comportamentos violentos no âmbito da família e por parte de qualquer agressor; Notificação não é e nem vale como denúncia policial! O profissional de saúde ou qualquer outra pessoa que informa uma situação de maus-tratos está dizendo ao Conselho Tutelar: “Esta criança ou este adolescente e sua família precisam de ajuda!” Ao Conselho Tutelar cabe receber a notificação, analisar a procedência de cada caso e chamar a família ou qualquer outro agressor para esclarecer, ou ir in loco verificar o ocorrido com a vítima. Os pais ou responsáveis (familiares ou institucionais), a não ser em casos excepcionais em que essa parceria se torne inconveniente, devem ser convidados a pensar juntamente com os conselheiros, a melhor maneira de encaminhar soluções, sempre a favor da criança ou o do adolescente. Apenas em casos mais graves que configurem crimes ou iminência de danos maiores à vítima, o Conselho Tutelar deverá levar a situação ao conhecimento da autoridade judiciária e ao Ministério Público ou, quando couber, solicitar a abertura de processo policial. Segundo o ECA em seu artigo 13, conforme já mencionado na introdução, os casos de suspeita ou confirmação de maus-tratos devem ser obrigatoriamente comunicados ao Conselho Tutelar da respectiva localidade de moradia da vítima. A notificação cabe a qualquer cidadão que é testemunha ou tome conhecimento e tenha provas de violações dos direitos de crianças e adolescentes. Ela pode ser feita até mesmo de forma anônima aos vários serviços de proteção da infância e da juventude mais próximos Abuso Sexual contra Crianças e Adolescentes Diversos autores descrevem o “abuso sexual” como a forma de violência que acontece dentro do ambiente doméstico ou fora dele, mas sem a conotação da compra de sexo, podendo o agressor ser pessoa conhecida ou desconhecida da vítima. O fenômeno consiste numa relação adultocêntrica, sendo marcado pela relação desigual de poder; o agressor (pais/ responsáveis legais/pessoas conhecidas ou desconhecidas) domina a criança e/ou adolescente, se apropriando e anulando suas vontades, tratando- os, não como sujeitos de direitos, mas sim como objetos que dão prazer e alívio sexual. 85% a 90% desses agressores sexuais são pessoas CONHECIDAS. É importante observar mudanças súbitas de comportamento, tendências suicidas, automutilação. E focar o exame físico nessas suspeitas nas regiões: genitais, boca, mamas, região perianal. Solicitação e Coleta de Exames Coleta vaginal: Exame bacterioscópico (Clamídia, Gonococo e Trichomonas). Cultura para gonococo, PCR para Clamídia se possível descrever se tem presença de espermatozoides no material. Sangue: Anti HIV; Hepatite B (HbsAG e anti Hbs); Hepatite C (anti HCV); Sífilis; Transaminases; Hemograma e b-HCG (para mulheres em idade fértil) - Para os exames de HIV, Hepatite B e Sífilis serão realizados testes rápidos. A anticoncepção de emergência (AE) está indicada para todas as mulheres e/ou adolescentes (que já apresentem sinais de puberdade e não estejam na menopausa) que tenham sofrido violência sexual, através de contato certo ou duvidoso com sêmen, 6 Khilver Doanne Sousa Soares Material restrito, favor não reproduzir nem distribuir sua posse!!! Nenhum serviço de impressão e xerox pode redistribuir este material a outros clientes!!! independente do período do ciclo menstrual em que se encontrem - A AE deve ser administrada o mais precocemente possível, dentro das primeiras 72 horas após o abuso. Levonorgestrel 0,75 mg - 02 comp. em dose única OU Levonorgestrel 1,5 mg – 01 comp. em dose única Na ocorrência de traumatismos físicos, principalmente quando há contaminação com terra das lesões durante a agressão ou no caso de lesões provocadas por objetos contendo poeira e ou terra deve-se considerar a necessidade de profilaxia do tétano, avaliando-se o status vacinal da mulher. Profilaxia para o tétano (quando realizar conforme quadro vacinal): Profilaxia para IST’s: Profilaxia HIV: Negligência Infantil Essa modalidade de maus-tratos aparece como sendo a que responde pela maior porcentagem das notificações segundo a literatura internacional e nacional. Uma definição abrangente sobre o conceito de negligência infantil é: “atos de omissão de cuidados e de proteção à criança contra agravos evitáveis, que incluem atitudes de não educar, não impor limites, não mandar uma criança à escola, não alimentá-la adequadamente, não 7 Khilver Doanne Sousa Soares Material restrito, favor não reproduzir nem distribuir sua posse!!! Nenhum serviço de impressão e xerox pode redistribuir este material a outros clientes!!! medicá-la quando necessário, não protegê-la de inclemências climáticas e não mantê-la com a mínima higiene.” Destaca-se que a negligência infantil ocorre independentemente da condição de pobreza, ela é resultado de déficits de habilidades/comportamentos parentais. E isso, explicaria, por exemplo, a ocorrência de muitas situações de negligência em famílias que não têm dificuldades econômicas. _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ Referências PASIAN, Mara Silvia. et al. Negligência infantil: a modalidade mais recorrente de maus-tratos. Pensando Famílias, v.17, n.2, p.61- 70, 2013. FERRÃO, Ana Carolina Fernandes; NEVES, Maria da Graça Camargo. Síndrome de Munchausen por Procuração: quando a mãe adoece o filho. Comunicação em Ciências da Saúde, v.24, n.2, p.179-86, 2013. BRASIL. Ministério da Saúde. Protocolo: Assistência às Mulheres e Meninas Vítimas de Violência Sexual. UFTM, SUS, 2021. BRASIL. Ministério da Saúde. Cartilha Maio Laranja. ABUSO SEXUAL CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES – ABORDAGEM DE CASOS CONCRETOS EM UMA PERSPECTIVA MULTIDISCIPLINAR E INTERINSTITUCIONAL. Brasília: Ministério da Saúde, 2021. HO, Christine A. Aspectos ortopédicos do abuso infantil. Up to Date. 2022. Disponível em: <https://www.uptodate.com/contents/orthope dic-aspects-of-child- abuse?search=maus%20tratos%20infantis& topicRef=6600&source=see_link#topicConte nt>. Acesso em: 14 jan. 2023. BOOS, Stephen C. Abuso físico infantil: Reconhecimento. Up to Date. 2022. Disponível em: <https://www.uptodate.com/contents/physica l-child-abuse- recognition?search=maus%20tratos%20infa ntis&source=search_result&selectedTitle=2~1 50&usage_type=default&display_rank=2#topi cContent>. Acesso em: 14 jan. 2023. https://www.uptodate.com/contents/orthopedic-aspects-of-child-abuse?search=maus%20tratos%20infantis&topicRef=6600&source=see_link#topicContenthttps://www.uptodate.com/contents/orthopedic-aspects-of-child-abuse?search=maus%20tratos%20infantis&topicRef=6600&source=see_link#topicContent https://www.uptodate.com/contents/orthopedic-aspects-of-child-abuse?search=maus%20tratos%20infantis&topicRef=6600&source=see_link#topicContent https://www.uptodate.com/contents/orthopedic-aspects-of-child-abuse?search=maus%20tratos%20infantis&topicRef=6600&source=see_link#topicContent https://www.uptodate.com/contents/orthopedic-aspects-of-child-abuse?search=maus%20tratos%20infantis&topicRef=6600&source=see_link#topicContent https://www.uptodate.com/contents/physical-child-abuse-recognition?search=maus%20tratos%20infantis&source=search_result&selectedTitle=2~150&usage_type=default&display_rank=2#topicContent https://www.uptodate.com/contents/physical-child-abuse-recognition?search=maus%20tratos%20infantis&source=search_result&selectedTitle=2~150&usage_type=default&display_rank=2#topicContent https://www.uptodate.com/contents/physical-child-abuse-recognition?search=maus%20tratos%20infantis&source=search_result&selectedTitle=2~150&usage_type=default&display_rank=2#topicContent https://www.uptodate.com/contents/physical-child-abuse-recognition?search=maus%20tratos%20infantis&source=search_result&selectedTitle=2~150&usage_type=default&display_rank=2#topicContent https://www.uptodate.com/contents/physical-child-abuse-recognition?search=maus%20tratos%20infantis&source=search_result&selectedTitle=2~150&usage_type=default&display_rank=2#topicContent https://www.uptodate.com/contents/physical-child-abuse-recognition?search=maus%20tratos%20infantis&source=search_result&selectedTitle=2~150&usage_type=default&display_rank=2#topicContent
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