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HAM III 3° PERÍODO Habilidades e atitudes médicas Pediatria ANAMNESE EM PEDIATRIA • A palavra anamnese é de origem grega -anámnesis- e significa relato dos padecimentos, feito pelos pais, responsáveis ou pelo próprio paciente aos médicos. • Quando bem-feita, facilita o diagnóstico correto, e uma anamnese malfeita pode induzir a um diagnóstico errado. • A anamnese se inicia pela Identificação e História Clínica. IDENTIFICAÇÃO • Nome: Devem ser anotados o nome completo e a data do nascimento (dia, mês, ano). - Observação: A idade é muito importante, pois sabemos da predominância de certos microrganismos e doenças em determinadas faixas etárias. • Cor: Importante na identificação de doenças mais prevalentes em certas tonalidades de pele. • Sexo: Ajuda-nos no diagnóstico de algumas doenças, como estenose hipertrófica do piloro e hemofilia, que são mais freqüentes no sexo masculino, enquanto a tireoidite de Hashimoto predomina no sexo feminino. • Naturalidade e nacionalidade: A descrição é importante, pois existem doenças correlacionadas com a origem do paciente, como, por exemplo, a betatalassemia, que é encontrada mais freqüentemente em crianças descendentes de italianos e gregos. • Endereço, procedência e telefone: É importante relatar desde o local do nascimento até a residência atual, pois certas doenças endêmicas predominam em determinadas regiões, tais como doença de Chagas, esquistossomose, bócio endêmico, giardíase, necatoríase, escabiose, dengue e outras. - Observação: No tipo de residência, se tem água encanada, esgoto, se o saneamento básico é precário, se é em favela, casa de cômodos, de barro, de madeira, de alvenaria, e quanto à disponibilidade ou não de luz elétrica. • Religião: Importante para a determinação de condutas médicas que não firam a crença do paciente. HISTÓRIA CLÍNICA Queixa Principal (QP} • O motivo da consulta deve ser escrito com as próprias palavras dos pais ou do informante. É, na verdade, o motivo que fez com que a família procurasse o médico. • Não deve ser o relato de muitas queixas, e sim da principal. Exemplo: "cocô mole ou diarréia”. História da Doença Atual (HDA} • Na HDA devem constar o início da doença, a época, a forma da evolução e medicações utilizadas, sendo referido quem as recomendou, assim como se houve melhora, além de serem acrescentadas outras manifestações que surgiram durante a doença. • O médico, nesse momento, não deve interferir nas informações, apenas colocá-las em ordem. - Observação 1: Tudo o que for relatado deve ser disposto de forma técnica, e não de forma leiga, e não devemos omitir informações por acharmos não ter valor naquele momento, pois poderão vir a ter mais tarde. - Observação 2: É importante ressaltar que, na hora de se comunicar, o médico deverá fazê-lo de forma clara e com linguagem sem termos técnicos, ao contrário do que irá descrever no prontuário ou ficha, valorizando todos os relatos. História Patológica Pregressa (HPP} • Nesse momento, temos de nos referir a todas as doenças e internações ocorridas anteriormente. • Devem ser relatadas as infecções na infância, desde as amigdalites, medicações utilizadas, sarampo, outras complicações, assim como pneumonia ou outra doença mais grave. • Devem ser descritos minuciosamente a ocorrência de cirurgias, quadros de alergia, como asma e rinite, assim como o uso habitual de medicamentos ou acidentes acontecidos, reações adversas, entre outras. História da Gestação, Parto e Nascimento • A idade e a saúde da mulher são fatores importantes na população em geral, pois a possibilidade de aparecimento da síndrome de Down varia de acordo com a idade. • O pediatra deve assinalar o estado de saúde da gestante durante a gravidez, grupo sangüíneo e Rh (incompatibilidade sangüínea - Rh - /ABO), se é diabética ou pré- diabética, se houve alguma intercorrência durante o parto (sangramento), se fez pré-natal, se existiam alterações nos exames complementares, se teve alguma doença durante a g r a v i d e z ( d o e n ç a s e x a n t e m á t i c a s , principalmente rubéola no primeiro trimestre), intoxicação alimentar, herpes, hipertensão arterial, toxemia, edema, se a mãe teve ou tem toxoplasmose, hepatite B durante a gravidez síndrome da imunodeficiência adquirida -AIDS e anemia falciforme ou outras hemoglobinopatias, hipercolesterolemia, a fim de que se possa tomar as possíveis precauções. Maria Vitória de Sousa Santos • Número de gestações, paridade, natimortos, partos prematuros também devem ser relatados, a l é m d e e s p e c i fi c a d o o m o t i v o d o s acontecimentos. - Observação: Se a gestante for diabética, o recém-nato pode apresentar, já nas primeiras horas de vida, alterações metabólicas (hipoglicemia). • Devem ser referidos a alimentação materna, o uso de medicamentos, cigarro, drogas, entre outros. Devem ser descritas a quantidade e a freqüência, pois pode acarretar no RN síndrome de abstinência. • Assinalar o tipo de parto e o local onde ocorreu. A época da rotura da bolsa. Observar a presença excessiva de líquido amniótico (poliidrâmnio), que está relacionada a alterações do aparelho digestivo, do sistema nervoso central, do diafragma e alterações genéticas (trissomia do 18, acondroplasia e outras). • Assinalar se o parto foi realizado por médico, parteira ou curiosa. Rápido ou demorado. Os partos muito rápidos ou muito demorados favorecem asfixia e hemorragias. • Deve ser descrita a época da última menstruação para que se possa calcular a idade gestacional. Considera-se RN pré-termo com menos de 37 semanas, pós-maturo com mais de 42 semanas e a termo após 37 semanas completas até 42 semanas incompletas. • No parto prematuro, teremos com maior freqüência asfixia, síndrome de desconforto respiratório tipo 1 (membrana hialina), hipoglicemia de mães diabéticas ou pré- diabéticas e hemorragia, e no pós-maturo, maior freqüência de asfixia, que pode acarretar atraso no desenvolvimento psicomotor, entre outras seqüelas. • Na avaliação da placenta, são importantes o tamanho, o peso, a existência de calcificações, que podem prejudicar a oxigenação do concepto, podendo levar a distúrbios respiratórios variáveis nas primeiras horas após o parto. • Verificar se houve infecção materna após o parto, assim como se o recém-nascido apresentou infecção. História Alimentar • Deve ser verificado se foi amamentado ao seio exclusivamente e até quando. Desmame precoce ou tardio? Por quê? • O início do complemento ocorreu em que idade, e quais foram os alimentos introduzidos e o motivo. • Se a criança for maior, verificar também a freqüência dos alimentos que contêm proteína e a qualidade da alimentação, assim como a alimentação atual e o número de refeições, discriminando-as. • Verificar a existência de intolerância ou alergia alimentar, refluxo fisiológico ou patológico. História do Desenvolvimento • Assinalar a época em que sorriu. Quando sustentou a cabeça? Sentou sem apoio, engatinhou, ficou de pé sozinho e quando andou? • No tocante ao desenvolvimento comportamental, verificar o sono, em seus aspectos qualitativos e quantitativos, os erros de orientação - dorme de dia, dorme na cama dos pais, se tem medo do escuro, se tem distúrbios que possam estar ligados a disr i tmia cerebral - terror noturno, sonambulismo. • Se tem apnéia durante o sono. • Quando começou a controlar os esfíncteres - vesical e anal -, se tem enurese noturna e/ou diurna. • Indagar sobre agressividade ou passividade. Presença de negativismo. Hiperatividade. • Na adaptação social , inquir ir sobre a emotividade, hábitos diários, relações com a família e com outras crianças. • Qual o seu desempenho escolar? Gosta e faz atividades físicas? • Se adolescente ou, às vezes, mesmo escolar, se fuma, se bebe, se usa ou usou tóxicos e, até mesmo, se já teve atividade sexual,se usa camisinha. História das Vacinações • Ve r i fi c a r q u a i s a s va c i n a s r e c e b i d a s , complicações, cicatriz do BCG, e sempre conferir Maria Vitória de Sousa Santos a cartela de vacinações, para ver se todas estão em dia. História Familiar (Ascendentes e Descendentes} • Indagar sobre a existência de determinadas doenças nos ascendentes, como miopia, hipertensão arterial, diabetes, asma, doenças men ta i s , anemia f a l c i fo r me ou ou t ra h e m o g l o b i n o p a t i a , a r t e r i o s c l e r o s e , hipercolesterolemia, AIDS, hepatite B e outras, a fim de que se possam tentar medidas preventivas. • Assim, da mesma forma, verificar doenças em irmãos, a idade e a saúde. Se falecidos, qual a causa do óbito. • Nesse momento, é importante associarmos as doenças na família, para verificar a possibilidade de a criança as ter recebido hereditariamente. História Social • A anamnese deve incluir informações sobre a estrutura familiar e o ambiente em que vive a criança, o que nos dará o perfil socioeconômico. • Devem ser registradas as condições de habitação. • Repetimos, se é zona rural ou urbana, apartamento, casa de alvenaria, favela, casa de cômodos, o número de cômodos, as condições de saneamento (água de rede, poço ou bica coletiva, número de pontos de água - bicas - , filtro, esgoto ligado à rede, fossa, poluição ambiental: fábricas, poluentes, vala negra), luz elétrica, quintal de terra. • Devem ser assinalados o número de pessoas que trabalham, o orçamento familiar e as profissões. • Nível de instrução dos pais. Escolaridade dos filhos. Tipo de união do casal. Verificar a presença de animais domésticos. • Se estiver na creche ou na escola, perguntar sobre o seu relacionamento com as outras crianças. Se já estuda, qual a facilidade de aprendizagem, classe atual, notas obtidas, conceito com os professores e colegas. • Se vê e ouve bem. • Verificar a utilização de cigarros, drogas, tóxicos e banho de rio. PECULIARIDADES Durante a obtenção da história clínica observar: As relações inter-familiares • Personalidade - comportamento dos pais (ex. mãe que embora ativa, sempre se volta a outra pessoa para complementar as informações, podendo esta ser a avó, a babá, etc.; mãe que inicia as informações, mas cala-se tão logo outro acompanhante interrompa; pai totalmente distante do que está ocorrendo e etc). • Relacionamento pais-criança e etc. Maria Vitória de Sousa Santos PECULIARIDADES NA ABORDAGEM À CRIANÇA - Que mundo é esse? - Quais as fases da infância? - Como abordarem cada fase? COMO ABORDAR A CRIANÇA EM CADA UMA DAS FASES DA INFÂNCIAS 1° ANO • Como abordar? - Formas de linguagem: • Olhar: Crianças começam a fazer contato visual no início do segundo mês de vida. • Sorriso • Vocalização • Choro (9 meses) • Acesso de fúria • Autoecolalia >reduplicação-) palavras-frase - Conforto • Saciedade • Frio/calor (ambiente, materiais- em consultas médicas sempre esquentar o estetoscópio antes de colocá-lo no paciente). • Postura: deitado - sentado Observação: A posição flexor é a posição normal para bebês. • Interação (pegar no estetoscópio, utilizar brinquedo enquanto examina, iniciar uma conversa com elas). • Persistência do objeto: (confiança básica) (ausculta). SEGUNDO ANO DE VIDA • Como abordar? • Independência motora. • Início da forma verbal de linguagem: linguagem receptiva/linguagem expressiva. • Usam os brinquedos com função simbólica. • Órbita ao redor dos pais. • Objeto transicional. • Vocabulário crescente. - Conforto: • Ambiente estimulante • Interação por meio de conversas, vídeos musicais infantis, músicas • Utilizar o objeto transicional • Confiança básica: abordagem nos braços do cuidador. PRÉ-ESCOLAR (2-5 ANOS) - Desenvolvimento motor - Independência motora • Anda • Sobe e desce obstáculos • Corre. • Limitações internas ( ideia que a própria criança tem de suas limitações - não posso) e externas (impostas pelos pais). • Acessos de fúria - Desenvolvimento cognitivo: • Função simbólica: linguagem, cognição e brincadeiras. • Forma de lidar com o mundo. - Linguagem: • Agrupam palavras e Criam linguagem • Agressividade. Observação Atraso na linguagem: • Maus-tratos - negligência infantis =› atraso na • linguagem: incapacidade de transmitir estados, emocionais. • A linguagem permite a expressão de sentimentos: crianças com atraso de linguagem maior o índice de acessos de fúria ou outros comportamentos de exteriorização. - Cognição: • Estágio pré-operacional de Piaget: características: pensamento mágico, egocentrismo, pensamento dominado pela percepção. • Pensamento mágico: con fusão de coincidência com casualidade, animismo e crença irreal sobre o poder dos desejos. - Brincadeiras: • Papel de agressor. • Amigos ou animais imaginários. • Superpoderes. • Criatividade: desenhos, pinturas e outras atividades artísticas refletem as questões emocionais mais importantes para elas. • Pensamento pré-operacional limita o modo de compreensão das experiências de doenças e tratamento: evitar explicações contraditórias, melhor presença de um dos genitores que a criança tenha mais confiança • Intensidade imaginativa + pensamento animista e mágico =› medo; apelar para o Maria Vitória de Sousa Santos pensamento mágico da criança; superpoderes dos pais. - Desenvolvimento emocional: • Questão central: incapacidade de controle do mundo externo =› perda de controle interno -› acessos de fúria. • Quando genitor cede: tornam-se estratégias para exercer o controle. • Acessos: surgem no final do 1° ano, com prevalência máxima entre 2 e 4 anos. - Sentimentos com relação aos pais: • Amor x ciúmes intensos. • Ressentimentos × medo que o sentimento de ódio possa levar ao abandono. Melhor abordagem • Olhe nos olhos • Converse com eles: • Linguagem não infantilizada • Atividade lúdica • Procure a porta de entrada para o mundo deles. • Lembre-se; você é o adulto, portanto a condução da conversa deve ser sua sem tirar a espontaneidade delas. • Mostre no ursinho ou bonecos, mas permita que a criança também interaja (interpretar as brincadeiras). • Explique o procedimento e dê alternativas para que ela possa extravasar seu medo e sua dor. ESCOLAR • Capacidade de autoavaliação e de perceber as avaliações dos outros. • Questão central: AUTOESTIMA • Erikson: crise de habilidade x inferioridade. • Os escolares são julgados pela capacidade de produzir resultados socialmente valorizados. • Críticas e elogios. • Crises de habilidade x inferioridade. • Sentimentos das crianças sobre seus atributos: orgulho, vergonha, aparente indiferença. • Necessidade de pertencimento em outro grupo que não o familiar • Vulnerabilidade ao bullying • Desenvolvimento saudável: crescente separação dos pais e capacidade de encontrar aceitação no grupo de pares e de negociar desafios no mundo exterior. • Estímulo às brincadeiras em grupo - Desenvolvimento social e emocional • Pais: aparência física da criança: • Minar a autoestima da crianca. • Incentivar a vaidade. • Observação de crianças maiores e adultos, propagandas de vitrine ou TV, expõem crianças ao materialismo, sexualidade, e violência dos adultos. impotência com relação ao mundo maior. •Fantasias compensatórias de PODER: super- heróis. • Equilíbrio entre fantasia e capacidade apropriada de negociar desafios do mundo real indica um desenvolvimento emocional sadio. • Pressão para que adotem comportamento adulto e atinjam sucesso acadêmico ou competitivos › pode levar à somatização ou alterações do comportamento (observar a linguagem não- verbal). Melhor abordagem • Olhar nos olhos • Dirigir-se a elas • Conversar com elas: • Buscar o que a criança tem de habilidade • Estimular jogos ou atividades onde haja interação • O segredo está em também elogiar o que faz de bom.Dar o exemplo. • Buscar ver a imagem corporal que elas têm de si. • Explicar o procedimento e o objetivo que culminará no benefício. • Respeitar o pudor! Maria Vitória de Sousa Santos PROTOCOLO SPIKES • Nos deparamos com a morte e com as enfermidades diversas vezes e precisamos saber como dar notícias ruins aos pacientes e aos familiares. Entretanto, nem sempre, falamos sobre esse assunto na faculdade e, por vezes, ficamos perdidos diante dessas situações. • Nesse contexto, embora não exista uma fórmula mágica, foi criado um protocolo para ajudar os médicos a lidar com essas situações. • O protocolo (SPIKES) consiste em seis etapas e a intenção é habilitar o médico a preencher os 4 objetivos mais importantes durante a transmissão de más notícias: 1. Recolher informações dos pacientes; 2. Transmitir as informações médicas; 3. Proporcionar suporte ao paciente; 4. I n d u z i r a s u a c o l a b o r a ç ã o n o desenvolvimento de uma estratégia ou plano de tratamento para o futuro. Etapa 1 – S (setting up the interview) S (setting up the interview): Planejar/ensaiar a conversa mentalmente já que é uma situação de estresse. Escolha um local que possibilite alguma privacidade; envolva pessoas importantes para o paciente, se for da sua escolha, como por exemplo os familiares; procure sentar-se (isso relaxa um pouco o paciente e demonstra que você não está com pressa) e mantenha contado com o paciente caso seja confortável para ele (contado visual, pegar no braço no paciente, como forma de acolhimento) Etapa 2 – P (Perception) P (Perception): Avaliar a percepção do paciente. Antes de falar sobre a doença, pergunte ao paciente o que já foi dito para ele sobre sua condição e quais as suas expectativas. Assim, você consegue entender o que se passa na cabeça do seu paciente, corrigir possíveis ideias incorretas e moldar a notícia para a compreensão do mesmo. Etapa 3 – I (Invitation) I (Invitation): Obtendo o convite do paciente. Quando o paciente explicita a vontade de saber sobre tudo, o médico recebe o cartão verde para falar sobre a verdadeira condição do paciente. Entretanto, quando o paciente não deixa clara a sua vontade de saber toda a informação ou não quer saber, é válido que o médico questione ao paciente o que ele quer saber sobre a sua doença e sobre o resultado dos seus exames. Se o paciente não quer saber dos detalhes, se ofereça para responder a qualquer pergunta no futuro ou para falar com um parente ou amigo. Etapa 4 – K (Knowledge) K (Knowledge): Dando Conhecimento e Informação ao Paciente. Avisar ao paciente que você tem más notícias pode diminuir o choque da transmissão dessas notícias e pode facilitar o processamento da informação. Informe ao paciente sua condição usando um vocabulário que facilite sua compressão e demonstre compaixão (evitar termos técnicos). Passe as informações aos poucos e vá avaliando o grau de entendimento do paciente. Etapa 5 – E (Emotions) E (Emotions): Abordar as Emoções dos Pacientes com Respostas Afetivas. Demonstre compaixão e responda as emoções do paciente. Quando os pacientes ouvem más notícias a reação emocional mais frequente é uma expressão de choque, isolamento e dor. Nesta situação o médico pode oferecer apoio e solidariedade com uma resposta afetiva. O objetivo é abordar as emoções que o paciente terá. 1. Nomear o que o paciente está sentindo. 2. Compreender a situação e a emoção, validar aquilo que já foi dito, então perguntar: “o que você entende sobre tudo isso?” 3. Demonstrar respeito ao que a pessoa está sentindo, não necessariamente verbalizar, mas demonstrar esse respeito. 4. Demonstrar apoio e conversar sobre estratégias de enfrentamento, quais podem ser os próximos passos. 5. Focar no que o receptor quer saber, se ele quer saber mais. Explorar o que fazer a seguir. Etapa 6 – S (Strategy e Summary) S (Strategy e Summary): Estratégia e Resumo. Caso o paciente queira e esteja preparado, apresente as opções de tratamento e compartilhe a responsabilidade das tomadas de decisões. Para dar más notícias, devemos sempre entender o paciente, demonstrar compaixão e usar uma comunicação acessível. Caso ele queira, seja claro ao falar do prognóstico, mas tenha em mente que sempre temos algo para fazer por ele, mesmo que não seja a cura. Maria Vitória de Sousa Santos PROTOCOLO SPIKES JÚNIOR 1. S (setting up): preparo 2. P (Perception): perceber o que o paciente sabe sobre o seu diagnóstico 3. I (Invitation): convite 4. K (knowledge): transmissão da notícia 5. E (emotion): trabalhar as emoções do paciente 6. S (Summary and strategies): sumarização e estratégias. S (SETTING UP) • Local; • Privacidade; • Conforto; • De preferência sem interrupções; • Evitar o uso de celulares; • Tempo disponibilidade e restrições; • Conteúdo: como explicar o que vai ser dito de acordo com o desenvolvimento do pensamento da criança. • Pessoas: receber a família. Interessante aplicar o SPIKES com as pessoas que darão suporte emocional à criança? Preparo emocional da equipe e verificar com quem o paciente criou vínculo. P (PERCEPTION) • “Antes de falar, pergunte!” • Perceber o que o paciente sabe sobre o seu diagnóstico; • Eleger recursos lúdicos para melhorar a compreensão da criança de acordo com sua idade (mundo mágico). I (INVITATION) • Saber dosar o que dizer para a criança; • Para os pais, no SPIKES aplicado anteriormente a eles, responder tudo o que eles perguntarem, geralmente mais detalhes; • Oferecer-se para responder as perguntas da criança. K (KNOWLEDGE) - Quem irá dar a notícia para a criança? • Família dará a notícia; • Profissional de saúde, na presença da família, falará com a criança; • Profissional de saúde, a pedido da família, dará a notícia; - Introduzir a notícia • Evitar termos técnicos, dúbios; • Utilizar técnicas lúdicas; • Evitar falar pormenores sobre os quais o paciente ainda não perguntou; • À medida que se vai dando a notícia, vai sondando o que a criança está compreendendo e quais as dúvidas; • O entendimento sobre prognós t i co e, principalmente sobre a morte é diferente no desenvolvimento do pensamento. Utilizar expressões como: • Tenho uma coisa chata a te dizer... • Nós estamos com um problema para resolver... • Você sabe porque está doente? E (EMOTION) • Expressão das emoções; • Observar a comunicação não verbal: olhar, gestos, desenhos, brincadeiras enquanto ouve; • Medo de esboçar suas emoçõesz; • Permitir que chore, fique triste ou com raiva sem preocupar em esconder suas emoções em esforçar-se para “proteger” seus pais da dor; • Respeitar o tempo de reflexão da criança; • Ajudar a criança a entender a emoção dos pais. • Expressão das emoções: Negação, raiva, barganha, depressão, aceitação, mudez. S (SUMMARY) • Resumir o que foi dito; • Verificar o que ficou retido, o que precisa ser corrigido e o que precisa ser reafirmado; • Discutir estratégias de tratamento curativo ou paliativo (dividir responsabilidade de decisões com os pais); • Desejos da criança; • Não mentir, nem subestimar a capacidade de crianças e adolescentes (não são coitados, nem bobos). COMPREENDENDO O CONCEITO DE MORTE • Irreversibilidade: compreensão de que o corpo físico não pode viver depois da morte. • Não funcionalidade: compreensão de que todas as funções definidoras da vida cessam com a morte • Universalidade: compreensão de que tudo que é vivo, morre. • Causalidade: compreensão do porque a morte ocorreu. COMO AS CRIANÇAS ENTENDEM A A MORTE 1- Período pré-operacional ou pré-escolar: até 5 anos: a criança não reconhece a irreversibilidade, a não-funcionalidade e a universalidade. • Mundo mágico • Animismo. 2- Período operacional: dos 5 aos 11 anos: 1. Operacional concreto: dos 5 aos 9 anos: a criança já distingue a irreversibilidade, a não- funcionalidade mas não a universalidade ou seja a inevitabilidadeda morte. 2. Operacional formal: até aos 11 anos: a morte vai tornando-se um fato natural, mas falta ainda a abstração, como quais as Maria Vitória de Sousa Santos • a consequências da morte para a criança e para as outras pessoas? O que há depois da morte? 3-Adolescência: desenvolvimento do pensamento abstrato: possibilidade de compreensão da morte. Maria Vitória de Sousa Santos PULSO E PRESSÃO ARTERIAL PULSO • A avaliação semiótica do pulso pode fornecer ao examinador muitas informações de grande importância. • Alguns pulsos devem ser examinados de rotina, outros, de maneira seletiva, de acordo com os sintomas apresentados. • Os pulsos arteriais devem ser avaliados pela palpação, inspeção e ausculta. - Observação: A palpação de rotina em crianças está centrada nos pulsos braquial e femoral. Em crianças maiores, o pulso carotídeo é de maior importância. • E m a l g u m a s c i r c u n s t â n c i a s , c o m o comprometimento da circulação nos membros inferiores, a palpação do pulso pedioso pode ser de grande interesse. • A ausculta está reservada para os casos suspeitos de fístula e para a avaliação rotineira do pulso de artéria subclávia, na região supraclavicular. • Nos casos suspeitos de coarctação da aorta, deve- se avaliar a ausculta na região interescapular sobre a coluna. • A inspeção dos pulsos tem, de modo geral, pouco valor prático em Pediatria. • Entretanto, em algumas situações, pode ser de utilidade, como na pulsação exaltada do pulso pedioso em RN e lactentes, com grandes shunts esquerda-direita portadores de persistência do canal arterial. • A palpação do pulso femoral em recém-nascidos é rotina obrigatória nos atendimentos na sala de parto e berçário. Sua ausência sugere o diagnóstico de coarctação da aorta. PRESSÃO ARTERIAL • Por muito tempo, a aferição da pressão arterial foi negligenciada na avaliação clínica de crianças. • Hoje é consenso que a pressão arterial deve ser verificada anualmente em todas as crianças maiores de 3 anos. • Entretanto, as crianças que apresentarem obes idade, d iabetes, ou façam uso de medicamentos que aumentem a pressão arterial e outras condições cardiovasculares, a verificação deverá ser feita a cada consulta. • Crianças menores de 3 anos devem ter sua pressão avaliada em circunstâncias especiais. • Com o desenvolvimento de extensas bases de dados sobre a pressão arterial durante a infância e a adolescência, nossa possibilidade de avaliar e identificar crianças hipertensas aumentou de forma significativa. • Com base na evidência atualmente disponível, há fortes indicações de que a hipertensão primária ocorre em crianças, de forma freqüente e detectável. MEDIÇÃO DA PRESSÃO ARTERIAL Cuidados importantes antes do procedimento de verificação da pressão arterial • O posicionamento da criança é extremamente importante. • Ela pode estar deitada ou sentada, com os pés apoiados e descruzados e o dorso recostado na cadeira. • A bexiga deverá estar vazia, e a criança deve estar tranquila por alguns minutos, sem ter realizado atividades de grande esforço na última hora. • A enfermeira deve solicitar à família para retirar p a r t e d a m a n g a d o l a d o d i r e i t o , preferencialmente, caso esteja garroteando o braço e deixá-lo livre e posicionado na altura do coração, apoiado sobre uma superfície e com a palma da mão virada para cima.. - Observação: O braço direito deve ser utilizado preferencialmente para permitir comparação consistente entre medidas, evitando ainda erros de leitura, nos casos de coarctação da aorta, quando utilizado o braço esquerdo. • Em recém-nascidos, é freqüente o uso de sensores de Doppler pela dificuldade em realizar a Maria Vitória de Sousa Santos ausculta em uma superfície tão pequena quanto o braço de um prematuro. A escolha do manguito • Diferentemente dos adultos, na pediatria existem muitas variações de tamanhos de manguitos. • O uso de um manguito de tamanho inadequado pode interferir diretamente no valor da pressão arterial e realização da técnica correta. • Um dos cuidados iniciais para selecionar o manguito ideal é medir a circunferência do braço. • Para isso, o profissional deverá medir a distância entre dois pontos: olécrano e acrômio e determinar o ponto médio dessa distância. • No ponto médio, identificar qual é a medida da circunferência do braço. • A partir dessa medida, é selecionado o tamanho do manguito. • O tamanho ideal é aquele que cobre 40% da largura e 80 a 100% do comprimento. Verificação da pressão arterial em crianças • Após selecionar o tamanho correto do manguito, o enfermeiro deve colocá-lo no braço da criança, posicionando o meio da parte compressiva sobre a artéria radial, em uma distância de 2 a 3 cm da fossa cubital. • Posterior a colocação do manguito sem folgas no braço da criança, deve-se palpar o pulso radial e estimar o nível de pressão arterial sistólica PAS. • Em seguida, a campânula do estetoscópio deve ser posicionada sobre a artéria braquial na fossa cubital, e insuflar até 20 a 30mmHg acima do nível de PAS estimado. • Com o ouvido muito atento, desinsuflar o manguito com velocidade de 2mmHg/ por segundo. • A pressão arterial sistólica é determinada pela identificação do primeiro som (fase I de Korotkoff) e pressão arterial diastólica pela medida em que os sons desaparecem (Fase V de Korotkoff). TABELAS DE PRESSÃO ARTERIAL • Em crianças e adolescentes, a variação normal da PA é influenciada pela idade e tamanho corporal. • As tabelas de referência de PA, com base em sexo, idade e altura, fornecem uma classificação precisa da PA, relativa ao tamanho do indivíduo. • Essa estratégia permite uma avaliação mais precisa, evitando uma classificação equivocada de crianças que são muito altas ou muito baixas. Como avaliar os valores encontrados de pressão arterial • A nova diretriz de classificação de Pressão Arterial pediátrica leva em consideração, além da pressão arterial, a estatura da criança. • Nesse contexto, primeiramente, deve-se considerar a idade da criança e avaliar a sua estatura. • Posteriormente, sinaliza-se na tabela a estatura mais próxima com a da criança, de acordo com a idade. - Exemplo: Vamos considerar um menino com 1 ano de idade e 78,5 cm de estatura. Ao aplicar a sua estatura na Tabela de Percentis de Pressão Arterial Sistêmica para Meninos por idade e Percentis de Estatura, identifica-se que a estatura mais próxima é de 78,3. Posteriormente, deve-se aferir a pressão arterial da criança ㅡ conforme a técnica orientada anteriormente ㅡ e identificar na coluna abaixo da estatura a pressão sistólica e a diastólica mais próximas a verificada na criança. Seguindo o exemplo, do menino citado anteriormente, deve-se identificar, tanto na pressão arterial sistólica, quanto na pressão arterial diastólica, os valores que estão embaixo da estatura marcada (78,3 cm) que se enquadrem aos valores identificados na verificação da pressão da criança. Nessa lógica, ao considerar que a criança citada possui pressão arterial igual a 101 x 52 mmHg, deve-se sinalizar na tabela o valor mais próximo da diastólica e da sistólica, a fim de identificar o percentil na pressão diastólica Maria Vitória de Sousa Santos e na pressão sistólica. Frente a essa realidade, a pressão diastólica mais próxima de 101 na coluna de estatura 78,3 cm é 102 e a pressão sistólica mais próxima de 52 é o próprio 52. Ao analisar os percentis referentes a ambos os valores, vemos que a pressão sistólica enquadra-se no percentil 95 e a diastólica no percentil 90. A classificação final, considera-se o maior percentil, que neste caso é 95 e aplica-se na Classificação de Pressão Arterial de acordo com a faixa etária. TABELAS Maria Vitória de Sousa Santos AVALIAÇÃO CARDIOVASCULAR/ SOPRO/INSUFICIÊNCIA CARDÍACA NA CRIANÇA ANATOMIA NORMAL DO CORAÇÃOINTRODUÇÃO •Anor mal idade na aval iação do s i s tema cardiovascular pode estar relacionada a doenças graves, presença de sopro cardíaco e etc. • S o p r o i n o c e n t e - m a i o r c a u s a d e encaminhamentos ao cardiologista pediátrico; ANAMNESE Presença de sintomatologia: 1. Lactentes: cansaço e sudorese do polo cefálico durante as mamadas, cianose, palidez e icterícia prolongada. 2. Crianças maiores: taquipnéia, intolerância ao exercício, síncope, dor torácica, palpitações, cefaléia, cianose e arritmia cardíaca. Antecedentes pessoais: 1. Fatores materno-gestacionais: diabetes gestacional, infecções, uso de drogas e álcool, uso de medicações com potencial teratogênico, prematuridade, baixo peso ao nascer; 2. Presença de malformações congênitas; 3. Doenças prévias: episódios recorrentes de sibilância e pneumonias. Antecedentes familiares: 1. Cardiopatia congênita; 2. Ocorrência de morte súbita inexplicável na família; 3. Lúpus eritematoso sistêmico e doenças do colágeno na mãe; - Observação: Após a obtenção da história clínica, um exame físico completo deve ser realizado, um exame normal prévio não garante ausência de cardiopatia, devendo ser realizado um exame cardiovascular completo a cada controle pediátrico. EXAME FISICO Ectoscopia: 1. Cianose: central x periférica; 2. Palidez; 3. Alterações da perfusão; 4. Circulação colateral; 5. Edema; 6. Estase jugular; 7. Baqueteamento digital; 8. Características fenotípicas sugestivas de síndromes. Inspeção 1. Abaulamentos a Retrações; 2. Cicatrizes; 3. Ictus cordis; 4. Pulsações precordial, epigástricas, fúrcula. Palpação 1. Bulhas; 2. Ictus cordis; 3. Frêmito; 4. Pulsações precordiais epigástricas, fúrcula. Ausculta 1. Bulhas cardíacas; 2. Cliques ou estalidos; 3. Sopros. Sinais vitais 1. Frequência Cardíaca; 2. Frequência Respiratória; 3. Pressão Arterial (4 membros). ÁREAS DE AUSCULTA CARDÍACA CARACTERIZAÇÃO DA AUSCULTA 1. Ritmo: Regular e irregular. Maria Vitória de Sousa Santos 2. Bulhas: Normais (B1 e B2) e acessórias (B3 e B4). 3. Intensidade das bulhas: Normofonese, Hiperfonese, Hipofonese. 4. Sopros 5. Ruídos acessório: Estalidos e clicks. B1 E B2 1. A primeira bulha (B1), um som grave e suave (TUM), está associada ao fechamento das valvas AV; 2. A segunda bulha (B2), um som mais alto (TÁ), está associada ao fechamento das valvas do tronco pulmonar e da aorta (duração menor que B1). - Observação: O som TUM marca o início da sístole, enquanto o som TÁ ocorre no início da diástole. B3 E B4 1. A presença da terceira bulha (B3) ocorre concomitantemente com a fase de enchimento rápido ventricular do ciclo cardíaco, durante a qual ocorre a maior parte do enchimento diastólico do ventrículo (aproximadamente 80%). 2. A presença da quarta bulha (B4) demonstra uma relação temporal evidente com a contração atrial, sendo tipicamente um som pré-sistólico. Seu mecanismo provável parece estar relacionado com vibrações da parede ventricular, secundárias à expansão volumétrica dessa cavidade produzida pela contração atrial SOPROS Sopros cardíacos são ruídos originados de um turbilhamento do fluxo sanguíneo em alguma estrutura cardiovascular. Contudo, este som pode ter uma causa funcional ou estrutural, ser fisiológico ou patológico. 1. Sopro Sistólico: acontece durante a sistole ventricular, podendo ser ejetivo (estenose aórt ica, es tenose pulmonar, CIV) ou regurgitativo (insuficiência mitral, insuficiência tricúspide). Entre a primeira e a segunda bulha. - Sopro sistólico de regurgitação = Ocorre na insuficiência das valvas atrioventriculares (mitral e tricúspide), sendo de intensidade constante, suave e associado a hipofonese de B1. - Sopro sistólico de ejeção = Geralmente com formato em diamante ou crescendo e decrescendo, rude, causado por turbulência na via de saída (estenose de válvula aórtica ou pulmonar) ou nos vasos da base durante a ejecão. 2. Sopro Diastólico: acontece durante a diástole ventricular (insuficiência aórtica, insuficiência pulmonar, estenose mitral, estenose tricuspide). Entre a segunda e a primeira bulha. - Sopro diastólico aspirativo= Ocorre pela regurgitação das valvas semilunares (insuficiência aórtica ou pulmonar) na diástole, iniciando-se logo após B2. - Sopro diastólico em ruflar= É característico da estenose das válvulas atrioventriculares (mitral e tricúspide), s endo g ranu lo so e ocor rendo na protodiástole. 3. Sopro Contínuo: acontece durante todo o ciclo cardiaco. Exemplos clássicos desses sopros são a persistência de canal arterial e as fistulas arteriovenosas em crianças maiores. - S o p r o s s i s t o d i a s t ó l i c o s ( e m maquinaria)= São contínuos, em vaivém, ocorrendo, por exemplo, na persistência do canal arterial. CARACTERÍSTICAS DOS SOPROS CARDÍACOS 1. Frequência: A frequência de um sopro, geralmente, tem relação direta com a velocidade do sangue no local onde o ruído é gerado. Sendo assim, são classificados em alto (agudo) e baixo (grave) fluxo 2. Configuração: A forma de um sopro representa a maneira pela qual a intensidade do som se distribui ao longo do tempo: c r e s c e n d o , d e c re s c e n d o , c r e s c e n d o - decrescendo, platô ou variável. 3. Timbre : A caracterização do timbre (qualidade) de um sopro depende do espectro de frequências (harmônicas) que o compõem: “suave”, “musical”, “ruflar”, “rude”, “em jato”, entre outros. 4. Duração: De acordo com a duração, desde o momento de início até o seu término: proto, meso, tele e holo. 5. Localização: O foco de ausculta com maior intensidade. 6. Irradiação: A ausculta não deve ser executada apenas nos focos auscultatórios clássicos. Ela deve incluir, além desses focos, o Maria Vitória de Sousa Santos mesocárdio, as bordas esternais esquerda e direita, a região subxifóide, e áreas de irradiação frequente de sopros, como a região axilar, região subclavicular, fúrcula e base do pescoço. Os sopros cardíacos são caracterizados de acordo com a intensidade em 6 graus, definidos como: 1. Grau I/6 = representa um sopro tão pouco intenso que só pode ser ouvido com muito esforço e concentração; 2. Grau II/6 = sopro de pequena intensidade mas que pode ser identificado rapidamente por um observador experiente; 3. Grau III/6 = sopro alto sem frêmito no foco de maior intensidade; 4. Grau IV/6 = sopro muito alto com frêmito; 5. Grau V/6 = sopro muito intenso, audível com o estetoscópio levemente encostado na pele do paciente; 6. Grau VI/6 = sopro tão intenso que pode ser audível mesmo quando o estetoscópio não está em contato direto com a parede do tórax. A partir dessa noção anatômica e fisiológica, podemos classificar os sopros durante a sístole e a diástole. Sístole: Insuficiência das valvas atrioventriculatres (mitral ou tricuspide) e Estenose das Valvas Semilunares (pulmonar e aórtica). Diástole: Insuficiência das valvas semilunares (pulmonar e aórtica) e Estenose das Valvas Atrioventriculares (Mitral e Tricúspide). INSUFICIÊNCIA CARDÍACA CONGESTIVA • A insuficiência cardíaca congestiva é uma síndrome clínica caracterizada pela inabilidade do coração em fornecer sangue suficiente para as demandas metabólicas dos tecidos. • Podem se apresentar com ICC ou desenvolvê-la precocemente por obstruções da via de saída do VE com pós carga elevada levando à congestão pulmonar e sistêmica. SINTOMAS 1. Dificuldade na alimentação 2. Sudorese às mamadas 3. Baixo ganho ponderal 4. Dificuldade ao respirar 5. Agitação 6. Taquipnéia com descontorto respiratório 7. Crepitações 8. Hepatomegalia 9. Cianose, se grave DIAGNÓSTICO RADIOGRAFIA DE TORAX • Interstício pulmonar • Silhueta cardíaca • Trama vascular pulmonar TRATAMENTO Tratamento definitivo: Cirurgia • Condutas da emergência são guiadas pela apresentação clínica. - Condutas iniciais: 1. Monitorização 2. Aportede 02 e Ventilação 3. Acesso venoso 4. Cabeceira elevada • Suplementação de 02 com parcimônia - 02 é um potente vasodilatador pulmonar - exacerbar os sintomas. • O diurético é a principal droga utilizada na emergência - Furosemida - dose de 0.5 a 1mg/ kg/dose intravenoso ou oral a cada 6 a 12h. Maria Vitória de Sousa Santos • O uso de inotrópicos endovenosos deve ser considerado quando há evidencias de choque e sinais de baixo débito. • Milrinona: Inotrópico positivo. Diminui a pós- carga pelo efeito vasodilatador. Dose de infusão é de 0.25- 0.75mcg/kg/min. • Efeitos colaterais sérios : disritmias, hipotensão ou vasodilatação • Epinefrina: cronotrópico e inotrópico, dependendo da dose. • Deve ser usada em doses baixas (<0.3mcg/kg/ min), a fim de obter o beneficio do efeito inotrópico, evitando o aumento na pós-carga. • Dobutamina: Efeito cronotrópico e inotrópico. Dose habitual vai de 3-20mcg/kg/min. Assim como a milrinona, também tem efeito vasodilatador. Maria Vitória de Sousa Santos CARDIOPATIAS CONGÊNITAS É qualquer anormalidade na estrutura ou função do coração que surge nas primeiras oito semanas de gestação quando se forma o coração do bebê. CLASSIFICAÇÃO A cardiopatia pode ser classificada como: 1) Cardiopatia congênita cianótica: Este tipo de cardiopatia é mais grave, pois o defeito no coração pode afetar de forma significativa o fluxo sanguíneo e a capacidade de oxigenação do sangue, e, a depender da sua gravidade, pode provocar sintomas como palidez, coloração azul da pele, falta de ar, desmaios e, até, convulsões e morte. Exemplos: Tetralogia de Fallot, Transposição das Grandes Artérias, Atresia Tricúspide, Anomalia de Ebstein, Defeitos do septo atrioventricular (DSAV). 2) Cardiopatia congênita acianótica: Este tipo de cardiopatia provoca alterações que nem sempre provocam repercussões tão graves no funcionamento cardíaco, e a quantidade e intensidade dos sintomas depende das gravidade do defeito cardíaco, que vão desde ausência de sintomas, sintomas somente durante esforços, até a insuficiência cardíaca. Exemplos: Comunicação Interventricular (CIV), Comunicação Interatrial (CIA), Persistência do Canal Arterial (PCA), Coarctação de Aorta (CoAo). MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Os sinais e sintomas da cardiopatia congênita dependem do tipo e da complexidade dos defeitos cardíacos. Nos recém-nascidos e bebês, eles podem ser: 1. Cianose, que é a coloração roxa na ponta dos dedos ou nos lábios; 2. Suor excessivo; 3. Cansaço excessivo durante as mamadas; 4. Palidez e apatia; 5. Baixo peso e pouco apetite; 6. Respiração rápida e curta mesmo em repouso; 7. Irritação. Nas crianças mais velhas ou nos adultos, os sintomas podem ser: 1. Coração acelerado e boca roxa após esforços; 2. Infecções respiratórias frequentes; 3. Cansaço fácil em relação as outras crianças da mesma idade; 4. N ã o d e s e n v o l v e , n e m g a n h a p e s o normalmente. CARDIOPATIAS TETRALOGIA DE FALLOT Impede o fluxo de sangue do coração para os pulmões, devido a uma combinação de 4 defeitos, caracterizados pelo estreitamento na valva que permite a passagem de sangue para os pulmões (estenose da artéria pulmonar), comunicação entre os ventrículos cardíacos (CIV), alteração no posicionamento da aorta (dextroposição da aorta) e hipertrofia do ventrículo direito; ANOMALIA DE EBSTEIN É caracterizada por descolamento da inserção do folheto septal e mural da valva tricúspide no ventrículo direito com os folhetos aderindo parcialmente e deslocando-se do anel e de seu orifício funcional.Dificulta o fluxo sanguíneo por anomalias na valva tricúspide, que comunica as câmaras do coração direito. ATRESIA PULMONAR Causa ausênc ia de comunicação entre o c o r a ç ã o d i r e i t o e pulmões, impedindo que o s angue s e j a o x i g e n a d o corretamente. A atresia p u l m o n a r é caracterizada por uma valva pulmonar completamente fechada ou tão rudimentar, que é como se ela não existisse e houvesse um músculo fechando a passagem de sangue do ventrículo direito para a artéria Maria Vitória de Sousa Santos pulmonar. Ou seja, não vai sangue do lado direito do coração para os pulmões. COMUNICAÇÃO INTERATRIAL (CIA) Ocorre uma comunicação anormal entre os átrios cardíacos, que são as câmaras mais superiores;Na Comunicação Interatrial, os dois átrios se comunicam. Com isso, o lado direito do coração (responsável por receber o sangue do corpo e mandá-lo para ser oxigenado no pulmão) acaba recebendo também o sangue já oxigenado que vem do lado esquerdo. Como consequência, as cavidades do lado direito vão aumentando. COMUNICAÇÃO INTERVENTRICULAR (CIV) Há um defeito entre as paredes dos ventrículos, provocando uma comunicação inadequada destas câmaras e a mistura de sangue oxigenado e não oxigenado; Quando existe uma comunicação entre os dois lados do coração, uma grande quantidade de sangue passa do lado esquerdo, que tem maior pressão, para o lado direito. Este sangue, já oxigenado, vai novamente para os pulmões e volta para o lado esquerdo. Assim, vai sobrecarregando o trabalho do coração a cada batimento. No coração, i s to ocasiona um aumento de tamanho, especialmente do átrio e do ventrículo esquerdo. Nos pulmões, esta sobrecarga de sangue aumenta a pressão, o que pode lesionar permanentemente as paredes das artérias pulmonares com o passar do tempo. PERSISTÊNCIA DO CANAL ARTERIAL (PCA) Canal arterial é a estrutura vascular que conecta a aorta descendente à artéria pulmonar principal próximo à origem da artéria pulmonar esquerda. Estrutura essencial na circulação fetal permite o desvio do sangue do VD para a aorta descendente desviando o sangue da circulação pulmonar de alta resistência (pulmões ainda não formados). Deve se fechar logo após o nascimento. A sua persistência pode provocar dificuldades na oxigenação do sangue do recém-nascido; Entre os sintomas estão: taquipneia/dispneia, retardo do crescimento pôndero-estatura, intolerância ao exercício, pressão de pulso ampliada DEFEITO NO SEPTO ATRIOVENTRICULAR (DSVA) O defeito do septo atrioventricular (DSAV) é uma malformação congênita caracterizada pela ausência o u d e fi c i ê n c i a d a s e s t r u t u r a s s e p t a i s atrioventriculares normais. Essa é a cardiopatia congênita mais frequente em crianças com síndrome de Down. Tem como característica a presença de uma junção atrioventricular comum. Podem desenvolver sintomas, como respiração acelerada, falta de ar enquanto come, baixo ganho de peso e sudorese), entre quatro e seis semanas de idade. Os vasos sanguíneos entre os pulmões e o coração podem acabar desenvolvendo pressão sanguínea elevada (hipertensão pulmonar) e dar origem à insuficiência cardíaca. Maria Vitória de Sousa Santos PERICARDITE EM CRIANÇAS DEFINIÇÃO Inflamação da membrana que envolve o coração (pericárdio) e pode acumular-se líquido nesse compartimento (derrame pericárdico), ou ocorrer espessamento do pericárdio (pericardite constritiva), que podem perturbar a função do coração. CAUSAS 1. Infecções por vírus, fungos ou bactérias 2. Doenças autoimunes, como lúpus 3. Metástases adjacentes de diversos tipos de câncer 4. Hipotireoidismo 5. Insuficiência renal crônica 6. Febre reumática 7. Tuberculose 8. Infarto do miocárdio 9. Lesão ou trauma no tórax 10. Miocardite 11. Radioterapia no tórax, comum no tratamento de diversos tipos de câncer. 12. Efeitos colaterais decorrentes do uso de alguns medicamentos. SINTOMAS 1. Dor no peito aguda e contínua 2. Dificuldade para respirar, principalmente ao deitar e que geralmente melhora quando a pessoa senta e permanece com o tórax ereto. 3. Ansiedade 4. Tosse seca 5. Fadiga 6. Febre EXAMES 1. Ressonância magnética do tórax 2. Radiografia do tórax 3. Eletrocardiograma 4. Ecocardiograma 5. Tomografia computadorizada do coração 6. Hemograma completo ECG Estágio 1: supradesnivelamentode ST com concavidade para cima, exceto em aVR e V1. Estágio 2: Retorno de ST à linha de base + achatamento da onda T Estágio 3: inversão da onda T Estágio 4: reversão das ondas T ao normal DERRAME PERICÁRDICO E TAMPONAMENTO CARDÍACO Definição • Derrame pericárdico é a acumulação de líquido na cavidade pericárdica, geralmente em consequência de um processo infeccioso ou inflamatório. • A cavidade pericárdica tem pouco volume de reserva. • A relação de pressão-volume entre os volumes cardíaco e pericárdico normais pode ser dramaticamente afetada por quantidades pequenas de líquido, quando são alcançados níveis críticos de derrame. • Como as pressões de enchimento do coração direito são menores do que as do coração esquerdo, as elevações de pressão geralmente são detectadas por sinais e sintomas de insuficiência cardíaca direita, até que se consiga a equalização das pressões. Tipos De Derrame Pericárdico 1. Hidropericárdio/derrame seroso: É o acúmulo de líquido claro, seroso e rico em Maria Vitória de Sousa Santos albumina provocado por condições que causam edema; a mais comum é a insuficiência cardíaca. 2. Efusão quilosa: Ocorre por obstrução dos vasos linfáticos, geralmente secundária a invasão neoplásica, resultando em acúmulo de líquido rico em gotículas de lipídeos. A efusão de colesterol é rara e associa-se geralmente a mixedema. 3. Hemopericárdio: É a coleção de sangue no saco pericárdico. As principais causas são ruptura da parede ventricular após infarto agudo do miocárdio, ruptura da aorta com dissecção para o espaço pericárdico ou ruptura do coração ou da aorta por traumatismos torácicos abertos ou fechados. Causas Essa condição também pode ser causada por neoplasias, cirurgia cardíaca, traumatismo, ruptura cardíaca secundária a um infarto do miocárdio e aneurisma dissecante da aorta. Fisiopatologia Fatores que determinam o efeito do derrame pericárdico na função cardíaca: 1. O volume de líquido; 2. Velocidade de acumulação; 3. Elasticidade do pericárdio. Observação: Derrames pericárdicos pequenos podem ser assintomáticos, ou causar algumas anormalidades clínicas. Mesmo os derrames volumosos que se acumulam lentamente podem causar poucos sintomas ou nenhum, contanto que o pericárdio consiga estirar-se e evitar a compressão do coração. • Contudo, a acumulação rápida de apenas 200 ml pode aumentar a pressão intracardíaca a níveis que limitam gravemente o retorno venoso ao coração. • Os sinais e sintomas de compressão cardíaca também podem ocorrer com acúmulos relativamente pequenos de líquidos quando o pericárdio está espessado por tecidos fibróticos ou infiltrados neoplásicos. Tamponamento Cardíaco • É uma consequência do derrame pericárdico, no qual há compressão do coração em consequência da acumulação de líquido, pus ou sangue no saco pericárdico. • Essa condição potencialmente fatal pode ser causada por infecções, neoplasias e hemorragia. • O tamponamento cardíaco aumenta a pressão intracardíaca, causa limitação progressiva do enchimento diastólico dos ventrículos e diminui o volume ejetado e o débito cardíaco. • A gravidade do quadro depende do volume de líquido e da velocidade com que se acumula. Manifestações Clínicas • Os sintomas vão desde dor torácica insidiosa (de caráter opressivo) até síndromes compressivas (disfagia, dispneia, dor abdominal, tosse seca, rouquidão). • A acumulação significativa de líquido no saco pericárdico aumenta a estimulação adrenérgica, c a u s a n d o t a q u i c a r d i a e a u m e n t o d a contratilidade cardíaca. • Também há elevação da pressão venosa central, distensão das veias jugulares, redução da pressão arterial sistólica, redução da pressão do pulso e sinais de choque circulatório. • As bulhas cardíacas podem ser abafadas em razão dos efeitos isolantes do líquido pericárdico e da função cardíaca deprimida. • Em geral, os pacientes que desenvolvem lentamente tamponamento cardíaco apresentam sinais de doença aguda, mas não tão dramáticos q u a n t o o s o b s e r v a d o s n o s c a s o s d e tamponamento com evolução rápida. Diagnóstico • O diagnóstico é clinico, com dados da anamnese e exame fisico: triade de Beck (hipotensão, abafamento de bulhas, distensão venosa jugular), taquicardia e pulso paradoxal • Um elemento diagnóstico fundamental é o pulso paradoxal. • Pulso Paradoxal: Refere-se a queda da pressão arterial sistólica maior que 10mmHg durante a inspiração, que decorre de uma redução da complacência ventricular esquerda. • O pulso paradoxal pode ser detectado por palpação, esfigmomanometria convencional ou monitoramento da pressão arterial. - Observação: Nos pacientes com pulso paradoxal, o pulso arterial palpado na artéria carótida ou femoral torna-se enfraquecido ou impalpável durante a inspiração e mais forte durante a expiração. • O monitoramento da pressão arterial torna possível visualizar o traçado de pressão arterial e determinar a redução da pressão arterial durante a inspiração. TRATAMENTO • O tratamento da per icardi te deve ser direccionado à resolução da dor e da inflamação. Normalmente são utilizados anti-inflamatórios não esteróides (AINEs), como ibuprofeno ou aspirina. Recomenda-se ainda a restrição da actividade física até haver resolução completa dos sintomas e normalização das alterações detectadas nos exames realizados. Maria Vitória de Sousa Santos • Nos doentes com maior risco justifica-se admissão hospitalar e pesquisa da causa da pericardite. No caso de serem identificadas determinadas infecções, especialmente bacterianas, as mesmas devem ser tratadas. • Quando ocorre acumulação de pus (pericardite purulenta), ou de um volume significativo de derrame pericárdico, recomenda-se a sua remoção através de drenagem pericárdica, que pode ter de ser realizada no bloco operatório. • Quando não é possível remover todo o líquido acumulado, ou quando o pericárdio se torna muito espesso, pode ser necessário criar uma janela pericárdica, que consiste em remover cirurgicamente uma porção de pericárdio. • Nos casos em que não há resposta ao tratamento com AINEs, ou quando há múltiplas recorrências ou duração muito prolongada da doença, pode haver benefício em administrar outro tipo de f á r macos , menos comuns ( co l ch i c ina , corticosteróides, etc.) Observação: Diuréticos para tratamento podem causar desidratação em crianças. Maria Vitória de Sousa Santos TUBERCULOSE NA INFÂNCIA • A tuberculose é uma doença infecciosa e transmissível que afeta prioritariamente os pulmões, embora possa acometer outros órgãos e/ou sistemas. A doença é causada pelo Mycobacterium tuberculosis ou bacilo de Koch. • A transmissão é direta, de pessoa a pessoa, portanto, a aglomeração de pessoas é o principal fator de transmissão. • O doente expele, ao falar, espirrar ou tossir, pequenas gotas de saliva que contêm o agente infeccioso e podem ser aspiradas por outro indivíduo contaminando-o. • A transmissão se faz por via respiratória, pela inalação de aerossóis produzidos pela tosse, fala ou espirro de um doente com tuberculose ativa pulmonar ou laríngea, as gotículas exaladas (gotículas de Pflüger) rapidamente se tornam secas e transformam-se em partículas menores (<5-10 μm de diâmetro). • Essas partículas menores (núcleos de Wells), contendo um a dois bacilos, podem manter-se em suspensão no ar por muitas horas e são capazes de alcançar os alvéolos, onde podem se multiplicar e provocar a chamada primo- infecção. • Má alimentação, falta de higiene, tabagismo, alcoolismo, uso de drogas ilíticas ou qualquer outro fator que gere baixa resistência orgânica, também favorece o estabelecimento da doença. TB NA PEDIATRIA • A TB na criança, principalmente nos menores de 10 anos, apresenta especificidades. • A forma pulmonar diferentemente do adulto costuma ser abacilífera (negativaao exame bacteriológico) devido ao reduzido número de bacilos nas lesões. • Além disso crianças em geral não são capazes de expectorar. • Ao término da infância e início da adolescência aparecem formas semelhantes às encontradas em adultos. • As lesões são mais extensas nos terços superiores dos pu lmões, e scavadas, d i s seminadas bilateralmente. QUADRO CLÍNICO • Como a tuberculose pode afetar praticamente todos os órgãos, os sintomas variam de acordo com o sítio da doença. • Em geral, os sinais e sintomas nas crianças são inespecíficos e se confundem com infecções próprias da infância, o que dificulta a suspeição diagnóstica. • Frequentemente, crianças entre 5 e 10 anos apresentam quadros assintomáticos ou com poucos sintomas, enquanto as crianças de faixa etária menor apresentam sobretudo sintomas respiratórios. • Nos adolescentes, a apresentação clínica é similar à da tuberculose no adulto. Para investigação da tuberculose pulmonar, o pediatra deve pesquisar a presença dos sintomas característicos: 1. Redução do apetite; 2. Perda de peso; 3. Febre (Habitualmente moderada, persistente por 15 dias ou mais é frequentemente vespertina). 4. Tosse. 5. Irritabilidade 6. Sudorese noturna 7. Hemoptise (muito raro) 8. Anorexia 9. Adinamia 10. Hepatoesplenomegalia e linfonodomegalia, podem estar presentes e ajudar na suspeição diagnóstica. Observação: É mandatório considerar a possibilidade diagnóstica de tuberculose em uma criança com pneumonia (com ou sem sibilância) que não melhora com tratamento habitual, como antibioticoterapia e broncodilatadores, devendo-se proceder investigação adequada. Muitas vezes, também é necessária terapia de prova com esses fármacos (antibióticos e broncodilatadores) para afastar possíveis diagnósticos diferenciais. DIAGNÓSTICO • Não existe um método de fácil aplicação e acurado para diagnóstico de tuberculose pulmonar na infância, principalmente pelo fato de as crianças não saberem expectorar e por apresentarem uma baixa quantidade de bacilos no escarro (doença paucibacilar). • Ass im, há uma grande dificuldade na comprovação com os métodos bacteriológicos. • Na maioria das vezes, o diagnóstico da tuberculose pulmonar em crianças é baseado em uma combinação de critérios clínicos e epidemiológicos, associados à prova tuberculínica (PT) e à radiografia de tórax, não existindo padrão-ouro para esse diagnóstico ou algoritmo diagnóstico universal. História de contato (critério epidemiológico) • Como mais de 90% dos casos de tuberculose na criança ocorrem dentro dos primeiros anos após a primo-infecção, é mandatória a procura do caso-índice que infectou a criança. • Da mesma forma, toda vez que se descobre um adulto com tuberculose, deve-se investigar, dentre Maria Vitória de Sousa Santos os contatos, a presença de crianças doentes e/ou infectadas. Prova tuberculínica • A PT (prova tuberculínica) é um teste in vivo, no qual se mede a enduração formada na pele por uma intradermorreação, em resposta à injeção de uma tuberculina, como o PPD – Rt 23 (derivado proteico purificado – renset tuberculin 23), adotado no Brasil. • Essa reação pode ocorrer em indivíduos in f ec tado s pe lo M. tubercu lo s i s , s em necessariamente indicar doença. • Esse teste é válido para o diagnóstico de tuberculose quando associado a outros critérios diagnósticos. • A dificuldade na sua interpretação se deve à possibilidade de ocorrerem falsos-negativos e falsos-positivos. Observação: Os falsos-negativos podem ocorrer por erros na técnica de aplicação, má qualidade no PPD – Rt 23 ou fatores referentes à imunidade do indivíduo, como imunossupressão, quadros virais, febre e aplicação prévia de vacinas de vírus vivo atenuado. Os falsos-positivos se devem à reação cruzada com outras micobactérias, como M. bovis (vacina BCG) ou micobactérias não tuberculosas (MNTB). Radiografia de tórax • A radiografia de tórax deve ser sempre realizada em posição posteroanterior e perfil. • Pode demonstrar alterações estruturais antes do aparecimento dos sintomas clínicos, apesar da sua normalidade não excluir o diagnóstico, principalmente em crianças imunossuprimidas. • É útil também no seguimento terapêutico e na avaliação de complicações. • Entretanto, a interpretação dos seus achados depende da habilidade do examinador. A imagem mais típica é a doença do complexo primário: 1. Condensação, similar a quadros de pneumonias causadas por bactérias comuns; porém, associada a Linfonodomegalias hilares ou subcarinais. 2. Pode ainda estar presente compressão da via aérea ou redução do lobo médio (síndrome do lobo médio) 3. A escavação é um achado pouco comum. 4. Na tuberculose miliar, é característico o infiltrado micronodular difuso. 5. Nos adolescentes, os achados são mais parecidos com a tuberculose pós-primária dos adultos, podendo apresentar lesões mais nos terços superiores, escavadas e associadas a derrame pleural. Tomografia computadorizada • A tomografia computadorizada (TC) de tórax, apesar de mais sensível, deve ser reservada para diagnósticos diferenciais ou casos complicados, em razão da grande exposição à radiação e ao seu alto custo. • Não existe uma indicação rotineira de realização de TC em pacientes assintomáticos. • Os exames microbiológicos, apesar da baixa positividade, devem ser realizados sempre que disponíveis. • A probabilidade de se alcançar uma confirmação bacteriológica depende da extensão da doença, do tipo de espécime coletado e da idade do paciente. • Além da baciloscopia, a cultura e/ou testes moleculares devem ser solicitados sempre que disponíveis e aplicáveis. Observação: Atualmente, o método que vem ganhando destaque, pelo aumento na detecção dos casos, é o teste GeneXpert-MTB/ RIF, que é uma reação em cadeia de polimerase em tempo real (PCR-RT). É um método automatizado que, além de detectar a presença do DNA do M. tuberculosis, serve como um bom rastreamento para resistência à rifampicina, com resultados em até 2 horas. No Brasil, é denominado teste rápido molecular-TB (TRM-TB). Esse teste está disponível para realização em alguns centros no Brasil, podendo ser realizado em vários espécimes clínicos. É particularmente útil em adolescentes. ESCORE PARA DIAGNÓSTICO DE TB Interpretação: Tb Pulmonar 1. > 40 Pontos: Diagnóstico muito provável (iniciar tratamento). 2. 30 a 35 Pontos: Diagnóstico possível (Pode ser considerado como indicativo de tuberculose e Maria Vitória de Sousa Santos orienta o início de tratamento da criança a critério clínico). 3. < 30 Pontos: Diagnóstico pouco provável (A criança deverá continuar a ser investigada). TRATAMENTO • Todos os esquemas devem ser de 6 meses, com exceção da tuberculose meníngea, que deve ser de 12 meses. • A tuberculose osteoarticular também pode ser tratada por 12 meses, a critério clínico. • Alguns pacientes necessitarão de esquemas indivi- dualizados (como contatos de pacientes com tuberculose mult irresistente ou quando apresentarem eventos adversos); nesses casos, devem ser orientados pelos serviços de referência. • Idealmente, o tratamento deve ser realizado de forma supervisionada (TDO), por profissional treinado da área de saúde, não sendo considerados os familiares. Esquemas Esquema básico para crianças < 10 anos: 1. R i f a m p i c i n a ( R ) + i s o n i a z i d a ( H ) + Pirazinamida (Z) por 2 meses. 2. Rifampicina (R) + Isoniazida (H) por mais 4 meses. Esquema básico para crianças > 10 anos e adolescentes: 1. Rifampicina (R) + Isoniazida (H) + Pirazinamida (Z) + Etambutol (E) por 2 meses. 2. Rifampicina ( R) + Isoniazida (H) por mais 4 meses. Esquema para a forma meningoencefálica da tuberculose: Esquema básico, prolongando-se a fase de manutenção. - O b s e r v a ç ã o : d e v e s e r a s s o c i a d o a corticosteroide. INFECÇÃO LATENTE(ILTB) • Susceptibilidade universal. • Maioria das pessoas resistem ao adoecimento e desenvolvem imunidade parcial. • Alguns bacilos permanecem vivos (bloqueados por reação inflamatória). • Cerca de 5% não conseguem impedir a multiplica dos bacilos e adoecem na sequência da primo infecção. • Outros 5% bloqueiam a infecção nessa fase, porém adoecem posteriormente por reativação desses bacilos ou em consequência a uma nova fonte de infecção. • Independentemente da idade, os indivíduos que apresentam sintomas devem ser avaliados até definição diagnóstica; já nos indivíduos assintomáticos, a conduta depende da idade. • Os contatos maiores de 10 anos devem fazer inicialmente a PT e, se esta for reatora, realizam a radiografia de tórax. • Os menores de 10 anos são sempre avaliados com PT e radiografia de tórax. • Independentemente da idade, caso o paciente seja assintomático, com PT reatora e radiografia de tórax normal, recebe o diagnóstico de ILTB e deve ser tratado para essa situação. • Para o diagnóstico e o tratamento da doença ativa, o paciente deve apresentar confirmação bacteriológica ou avaliação clínica e radiológica compatíveis com a doença. • Caso o paciente seja assintomático, com duas PT não reatoras (repetidas com intervalo de 8 semanas), e quando realiza- da a radiografia de tórax, esta seja normal, deve ser feito apenas acompanhamento clínico com ênfase nos 2 primeiros anos após o contato. • Nos casos em que a PT está indisponível e após afastar a doença por meio da avaliação clínico- radiológica, e o risco de adoecimento for maior que o desenvolvimento de eventos adversos, deve ser instituído o tratamento da ILTB. • O tratamento da ILTB em contatos sensíveis deve ser realizado com isoniazida na dose de 5 a 10 mg/kg, dose única diária, preferencialmente em jejum, de 180 a 270 doses, desde que realizados dentro de 9 a 12 meses, respectivamente. • Nos casos de contatos com tuberculose multirresistente, ainda não há consenso sobre a melhor conduta, devendo-se acompanhar esses casos na referência. • O acompanhamento do tratamento da ILTB deve ser realizado observando-se aparecimento de sintomas da doença e de eventos adversos, não sendo necessário realizar exames para alta, pois o único exame que era alterado no início do tratamento era a PT, e esta não se torna negativa com o tratamento. TRATAMENTO A indicação do uso de isoniazida para tratamento da ILTB, depende do: 1. Resultado do PT, 2. Idade 3. Probabilidade de ILTB 4. Risco de adoecimento. Maria Vitória de Sousa Santos Grupos com indicação de tratamento: Crianças < 10 anos Contatos de casos bacilíferos: 1. PT: ≥5 mm - em crianças vacinadas há mais d e 2 a n o s o u q u a l q u e r c o n d i ç ã o imunossupressora. 2. PT ≥10 mm em crianças vacinadas com BCG há menos de 2 anos. INVESTIGAÇÃO DOS CONTATOS • O contato é definido como toda pessoa que convive no mesmo ambiente com o caso índice no momento do diagnóstico da TB. • Considerando que crianças com TB em geral desenvolvem a doença após transmissão por um contato adulto bacilífero, preconiza-se a investigação de todos os seus contatos, a fim de se identificar os casos de infecção latente pelo M. Tuberculosis (ILTB), e principalmente o caso índice interrompendo a cadeia de transmissão. Maria Vitória de Sousa Santos VACINA BCG INTRODUÇÃO • O Bacilo de Calmette e Guérin (BCG), utilizado há várias décadas, constitui uma das principais estratégias da Organização Mundial da Saúde (OMS) para o controle da mortalidade por formas graves da infecção causada pelo Mycobacterium tuberculosis em países onde a doença ainda tem importância epidemiológica. • Sua administração é também recomendada para contatos domiciliares de hanseníase, como forma de prevenir a doença em indivíduos expostos ao Mycobacterium leprae. • A vacina BCG é aplicada por via intradérmica e provoca primoinfecção artificial. • Essa infecção por bacilos com virulência atenuada tem como objetivo desenvolver uma resposta imune específica que permita controlar uma infecção ulterior, causada por bacilos selvagens. Atenção: O BCG é naturalmente resistente à pirazinamida. A cepa Moreau-Rio de Janeiro é sensível à isoniazida. DESCRIÇÃO DO PRODUTO • Pó liofilizado injetável de Bacilo Calmette- Guérin, acompanhado de diluente solução fisiológica cloreto de sódio a 0,9%. • É preparada a partir de bacilos vivos atenuados de cepa de Mycobacterium bovis e contém glutamato de sódio como estabilizante. • Deve ser reconstituída com solução de cloreto de sódio fornecida pelo fabricante, após o que deve ser armazenada na ausência de luz entre 2°C e 8°C por período não superior a 6h. • É administrada por via intradérmica na dose de 0,05 mL em crianças até 1 ano de idade, e de 0,1 mL naquelas acima de 12 meses de idade. Observação: Só pode tomar a criança com idade de até 4 anos, 11 meses e 29 dias. PRECAUÇÕES GERAIS E CONTRAINDICAÇÕES Precauções gerais A vacina deverá ser adiada nos seguintes casos: • Recém-nascidos com menos de 2.000 g, até que atinjam esse peso. • Pa c i e n t e s e m u s o d e o u t r a s t e r a p i a s imunodepressoras (quimioterapia antineoplásica, radioterapia, entre outros). • Até três meses após o tratamento com imunodepressores, imunomoduladores ou corticosteroides em dose elevada. Contraindicações 1. Portadores de imunodeficiência primária ou adquirida. 2. Pacientes acometidos por neoplasias malignas. 3. Pacientes em tratamento com corticosteroides em dose elevada (equivalente à dose de prednisona de 2 mg/kg/dia para crianças até 10 kg ou de 20 mg/dia ou mais, para indivíduos acima de 10 kg) por período superior a duas semanas. 4. Recém-nascidos de mães que utilizaram durante os dois últimos trimestres da gestação drogas imunomoduladoras que atravessam a barreira placentária. 5. Gestantes. EVOLUÇÃO HABITUAL DA LESÃO VACINAL • A vacina BCG liofilizada, após diluição com solução de cloreto de sódio e completa homogeneização, é aplicada por via intradérmica na dose indicada, na inserção inferior do músculo deltoide do braço direito. A lesão vacinal evolui da seguinte forma: 1. Da 1a à 2a semana: mácula avermelhada, com enduração de 5 mm a 15 mm de diâmetro. 2. Da 3a à 4a semana: pústula que se forma com o amolecimento do centro da lesão, seguida pelo aparecimento de crosta. 3. Da 4a à 5a semana: úlcera com 4 mm a 10 mm de diâmetro. 4. Da 6a à 12a semana: cicatriz com 4 mm a 7 mm de diâmetro. Observação: Não se deve cobrir a úlcera ou colocar qualquer medicamento. Maria Vitória de Sousa Santos • O tempo habitual da evolução da BCG é de 6 a 12 semanas, podendo prolongar-se raramente até a 24a semana. • Eventualmente, pode haver recorrência da lesão, mesmo depois da sua completa cicatrização. • Durante a evolução normal da lesão vacinal, pode ocorrer enfartamento ganglionar axilar e supra ou infraclavicular, único ou múltiplo, sem supuração. • O linfonodo aparece três a seis semanas após a vacinação, é homolateral ao local da aplicação, firme, móvel, clinicamente bem perceptível, frio, indolor, medindo até 3 cm de diâmetro, e não acompanhado de sintomatologia geral. • Pode evoluir por tempo variável, geralmente em torno de quatro semanas,, e permanece estacionário durante um a três meses. • Desaparece espontaneamente, sem necessidade de tratamento. • O aparecimento desses gânglios ocorre em até 10% dos vacinados. • Quando aplicada em indivíduos anteriormente infectados, quer por infecção natural, quer pela vacinação, a BCG determina lesões geralmente um pouco maiores e de evolução mais acelerada (fenômeno de Koch), com cicatrização precoce. • Estima-se que aproximadamente 10% dos vacinados não desenvolvam cicatriz após a BCG. • A ausência de uma cicatriz de BCG após a vacinação não é indicativa de ausência de proteção e nem constitui indicaçãode revacinação, mesmo se não houver formação de enduração quando rea l i zada a p rova tuberculínica. EVENTOS ADVERSOS • A vacina BCG pode causar eventos adversos locais, regionais ou sistêmicos, que podem ser decorrentes do tipo de cepa utilizada, da quantidade de bacilos atenuados administrada, da técnica de aplicação e da presença de imunodeficiência primária ou adquirida. As complicações podem ser classificadas da seguinte forma: Manifestações locais e regionais mais frequentes: 1. Úlcera com diâmetro maior que 1 cm. 2. Abscesso subcutâneo frio. 3. Abscesso subcutâneo quente. 4. Granuloma. 5. Linfadenopatia regional não supurada maior que 3 cm. 6. Linfadenopatia regional supurada. 7. Cicatriz queloide. 8. Reação lupoide. Observação: Os eventos adversos locais e regionais (úlcera com diâmetro maior que 1 cm, abscesso, linfadenopatia regional não supurada maior que 3 cm, linfadenopatia regional supurada e granuloma), em geral, não estão associados à imunodeficiência e podem, em alguns casos, decorrer de técnica incorreta de administração da vacina. Lesões resultantes de disseminação: São lesões que ultrapassam a topografia locorregional, podendo acometer pele e linfonodos a distância, sistema osteoarticular e vísceras em um ou mais órgãos. A incidência é rara. Nesses casos, impõe-se a investigação de imunodeficiência. REATIVAÇÃO DA BCG • Trata-se de situações em que uma lesão de BCG já cicatrizada volta a apresentar atividade. • O quadro varia desde hiperemia na região da cicatriz até uma franca reativação, com possibilidade de disseminação. Entre as comorbidades já associadas à reativação da BCG, destacam-se: 1. Infecção pelo HIV (tanto em fases avançadas, c o m c o m p ro m e t i m e n t o i mu n o l ó g i c o i m p o r t a n t e , q u a n t o n a s i t u a ç ã o d e reconstituição imune pós-introdução de terapia antirretroviral combinada). 2. P ó s - t r a n s p l a n t e d e c é l u l a s - t r o n c o hematopoiéticas. 3. Uso de medicação imunossupressora pós- transplante de órgãos sólidos. Parte das manifestações da doença de Kawasaki. 4. Pós-infecções virais leves. 5. Pós-vacinação. Conduta • A conduta frente a uma reativação do BCG depende do quadro clínico e da condição imunológica do indivíduo acometido. Maria Vitória de Sousa Santos • A reativação do BCG no indivíduo sem condição de base que comprometa o sistema imune geralmente não necessita de tratamento, visto que muitas vezes só ocorre hiperemia no local da cicatriz. • Este é o caso dos pacientes com reativação do BCG pós-infecções virais leves e naqueles pós- imunização. • A reativação do BCG na situação de doença de Kawasaki deve ser também observada, com tratamento para o Kawasaki de acordo com as orientações. • Em pacientes sem comprometimento extenso do sistema imune e cuja reativação não se resolva espontaneamente em alguns dias, pode-se iniciar isoniazida e observar a resposta. • Já na presença desse evento adverso em um paciente vivendo com HIV e naqueles transplantados de células-tronco hematopoiéticas e de órgãos sólidos, deve-se instituir medicação específica para a cepa do BCG. • Naqueles com comprometimento imunológico importante no momento do diagnóstico, recomenda-se a associação de drogas, como no tratamento de casos de disseminação do BCG. Maria Vitória de Sousa Santos ASMA NA INFÂNCIA O QUE É ? A asma é uma doença crônica das vias respiratórias que provoca episódios de obstrução, hiper- responsividade brônquica (HRB), inflamação das vias respiratórias e, em alguns indivíduos, a remodelação destas. TIPOS DE ASMA 1. Asma atópica: A asma alérgica (ou induzida por alergia) é um tipo frequente de asma que é desencadeada ou piorada por fatores alérgicos (poeira, ácaros, pelos de animais, cheiros fortes, pólen e mofo especialmente). 2. Asma não atópica: Mais frequente em adultos, ocorre em resposta a fatores externos como exercícios físicos, estresse, ansiedade, ar frio ou seco. FATORES DE RISCO 1. Predisposição genética para a produção de uma resposta mediada pela imunoglobulina E (IgE) a alérgenos comuns (o IgE é o anticorpo envolvido na manifestação de reações alérgicas e inflamações); 2. Histórico familiar de asma; 3. Alergias; 4. Exposição pré-natal a fumaça de cigarro e poluição, bem como múltiplas predisposições genéticas que potencialmente podem se sobrepor. GRAVIDADE DOS CASOS A gravidade dos casos de asma é afetada por vários fatores incluindo: 1. Genética; 2. Idade de manifestação; 3. Exposição à poluição; 4. Atopia (pré-disposição genética); 5. Grau de exposição a gatilhos, sejam eles ambientais, como o fumo e ácaros da poeira, e refluxo gastresofágico ou infecções respiratórias. 6. Refluxo durante o sono também pode contribuir para o desenvolvimento de asma noturna. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS As crises de asma podem ocorrer espontaneamente ou em resposta a vários gatilhos, infecções respiratórias, estresse emocional ou mudanças climáticas. Os sintomas da asma são: 1. Falta de ar ou dificuldade para respirar; 2. Ligeiro aumento da frequência respiratória; 3. Sensação de aperto no peito ou peito pesado; 4. Chiado no peito; 5. Crise imobilizante e aguda; 6. Tosse; 7. Fadiga e Pele úmida (conforme a evolução da doença); 8. Conforme a eficácia da ventilação alveolar diminui, e desenvolve-se uma falta de correspondência entre ventilação e perfusão, causando hipoxemia e hipercapnia. 9. A resistência vascular pulmonar pode aumentar como re su l t ado da h ipoxemia e da hiperinflação, levando a um aumento da pressão arterial pulmonar e aumento da demanda de trabalho no coração direito. Observação: Esses sintomas variam durante o dia, podendo piorar à noite ou de madrugada e com as atividades físicas. A maior diminuição da função respiratória ocorre aproximadamente às 4 h, período em que os níveis de cortisol estão baixos, os níveis de melatonina estão altos e a atividade dos eosinófilos é maior. Observação: Durante uma crise prolongada, o ar fica aprisionado por trás das vias respiratórias ocluídas e estreitadas, provocando a hiperinflação dos pulmões. Como resultado, é necessária uma quantidade maior de energia para superar a tensão já existente nos pulmões e é exigida a ação dos m ú s c u l o s a c e s s ó r i o s ( p . e x . , m ú s c u l o s esternocleidomastóideos) para manter a ventilação e as trocas gasosas. Este aumento do trabalho Maria Vitória de Sousa Santos respiratório eleva ainda mais a demanda de oxigênio e provoca dispneia e fadiga. CLASSIFICAÇÃO DA GRAVIDADE DA ASMA DIAGNÓSTICO O diagnóstico de asma deve se basear no histórico cuidadoso, anamnese, exame físico, testes laboratoriais, estudos da função pulmonar e na avaliação da alergia. 1-Espirometria: • A confirmação do diagnóstico de asma usualmente é feita através da espirometria, a qual fornece duas medidas importantes para o diagnóstico de limitação ao fluxo de ar das vias aéreas: VEF1 (Volumes expiratório forçado no primeiro segundo) e CVF (Capacidade vital forçada). • O diagnóstico de limitação ao fluxo aéreo é estabelecido pela redução da relação VEF1/CVF (<80%), e a intensidade dessa limitação é determinada pela redução percentual do VEF1 em relação ao seu previsto. • O diagnóstico de asma é confirmado não apenas pela detecção da limitação ao fluxo de ar, mas pr inc ipa lmente pe la demons t ração de significativa reversibilidade, parcial ou completa, após a inalação de um broncodilatador de curta ação. • A resposta ao broncodilatador é considerada significativa e indicativa de asma quando o VEF1 aumenta, pelo menos: 1. 2 0 0 m L e 1 2 % d e s e u v a l o r p r é - broncodilatador 2. 200 mL de seu valor pré-broncodilatador e 7% do valor previsto São indicativos de asma na espirometria: a) obstrução das vias aéreas caracterizada por redução do VEF1 para abaixo de 80% do
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