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HAM III 3° PERÍODO Habilidades e atitudes médicas Pediatria ANAMNESE EM PEDIATRIA • A palavra anamnese é de origem grega -anámnesis- e significa relato dos padecimentos, feito pelos pais, responsáveis ou pelo próprio paciente aos médicos. • Quando bem-feita, facilita o diagnóstico correto, e uma anamnese malfeita pode induzir a um diagnóstico errado. • A anamnese se inicia pela Identificação e História Clínica. IDENTIFICAÇÃO • Nome: Devem ser anotados o nome completo e a data do nascimento (dia, mês, ano). - Observação: A idade é muito importante, pois sabemos da predominância de certos microrganismos e doenças em determinadas faixas etárias. • Cor: Importante na identificação de doenças mais prevalentes em certas tonalidades de pele. • Sexo: Ajuda-nos no diagnóstico de algumas doenças, como estenose hipertrófica do piloro e hemofilia, que são mais freqüentes no sexo masculino, enquanto a tireoidite de Hashimoto predomina no sexo feminino. • Naturalidade e nacionalidade: A descrição é importante, pois existem doenças correlacionadas com a origem do paciente, como, por exemplo, a betatalassemia, que é encontrada mais freqüentemente em crianças descendentes de italianos e gregos. • Endereço, procedência e telefone: É importante relatar desde o local do nascimento até a residência atual, pois certas doenças endêmicas predominam em determinadas regiões, tais como doença de Chagas, esquistossomose, bócio endêmico, giardíase, necatoríase, escabiose, dengue e outras. - Observação: No tipo de residência, se tem água encanada, esgoto, se o saneamento básico é precário, se é em favela, casa de cômodos, de barro, de madeira, de alvenaria, e quanto à disponibilidade ou não de luz elétrica. • Religião: Importante para a determinação de condutas médicas que não firam a crença do paciente. HISTÓRIA CLÍNICA Queixa Principal (QP} • O motivo da consulta deve ser escrito com as próprias palavras dos pais ou do informante. É, na verdade, o motivo que fez com que a família procurasse o médico. • Não deve ser o relato de muitas queixas, e sim da principal. Exemplo: "cocô mole ou diarréia”. História da Doença Atual (HDA} • Na HDA devem constar o início da doença, a época, a forma da evolução e medicações utilizadas, sendo referido quem as recomendou, assim como se houve melhora, além de serem acrescentadas outras manifestações que surgiram durante a doença. • O médico, nesse momento, não deve interferir nas informações, apenas colocá-las em ordem. - Observação 1: Tudo o que for relatado deve ser disposto de forma técnica, e não de forma leiga, e não devemos omitir informações por acharmos não ter valor naquele momento, pois poderão vir a ter mais tarde. - Observação 2: É importante ressaltar que, na hora de se comunicar, o médico deverá fazê-lo de forma clara e com linguagem sem termos técnicos, ao contrário do que irá descrever no prontuário ou ficha, valorizando todos os relatos. História Patológica Pregressa (HPP} • Nesse momento, temos de nos referir a todas as doenças e internações ocorridas anteriormente. • Devem ser relatadas as infecções na infância, desde as amigdalites, medicações utilizadas, sarampo, outras complicações, assim como pneumonia ou outra doença mais grave. • Devem ser descritos minuciosamente a ocorrência de cirurgias, quadros de alergia, como asma e rinite, assim como o uso habitual de medicamentos ou acidentes acontecidos, reações adversas, entre outras. História da Gestação, Parto e Nascimento • A idade e a saúde da mulher são fatores importantes na população em geral, pois a possibilidade de aparecimento da síndrome de Down varia de acordo com a idade. • O pediatra deve assinalar o estado de saúde da gestante durante a gravidez, grupo sangüíneo e Rh (incompatibilidade sangüínea - Rh - /ABO), se é diabética ou pré- diabética, se houve alguma intercorrência durante o parto (sangramento), se fez pré-natal, se existiam alterações nos exames complementares, se teve alguma doença durante a g r a v i d e z ( d o e n ç a s e x a n t e m á t i c a s , principalmente rubéola no primeiro trimestre), intoxicação alimentar, herpes, hipertensão arterial, toxemia, edema, se a mãe teve ou tem toxoplasmose, hepatite B durante a gravidez síndrome da imunodeficiência adquirida -AIDS e anemia falciforme ou outras hemoglobinopatias, hipercolesterolemia, a fim de que se possa tomar as possíveis precauções. Maria Vitória de Sousa Santos • Número de gestações, paridade, natimortos, partos prematuros também devem ser relatados, a l é m d e e s p e c i fi c a d o o m o t i v o d o s acontecimentos. - Observação: Se a gestante for diabética, o recém-nato pode apresentar, já nas primeiras horas de vida, alterações metabólicas (hipoglicemia). • Devem ser referidos a alimentação materna, o uso de medicamentos, cigarro, drogas, entre outros. Devem ser descritas a quantidade e a freqüência, pois pode acarretar no RN síndrome de abstinência. • Assinalar o tipo de parto e o local onde ocorreu. A época da rotura da bolsa. Observar a presença excessiva de líquido amniótico (poliidrâmnio), que está relacionada a alterações do aparelho digestivo, do sistema nervoso central, do diafragma e alterações genéticas (trissomia do 18, acondroplasia e outras). • Assinalar se o parto foi realizado por médico, parteira ou curiosa. Rápido ou demorado. Os partos muito rápidos ou muito demorados favorecem asfixia e hemorragias. • Deve ser descrita a época da última menstruação para que se possa calcular a idade gestacional. Considera-se RN pré-termo com menos de 37 semanas, pós-maturo com mais de 42 semanas e a termo após 37 semanas completas até 42 semanas incompletas. • No parto prematuro, teremos com maior freqüência asfixia, síndrome de desconforto respiratório tipo 1 (membrana hialina), hipoglicemia de mães diabéticas ou pré- diabéticas e hemorragia, e no pós-maturo, maior freqüência de asfixia, que pode acarretar atraso no desenvolvimento psicomotor, entre outras seqüelas. • Na avaliação da placenta, são importantes o tamanho, o peso, a existência de calcificações, que podem prejudicar a oxigenação do concepto, podendo levar a distúrbios respiratórios variáveis nas primeiras horas após o parto. • Verificar se houve infecção materna após o parto, assim como se o recém-nascido apresentou infecção. História Alimentar • Deve ser verificado se foi amamentado ao seio exclusivamente e até quando. Desmame precoce ou tardio? Por quê? • O início do complemento ocorreu em que idade, e quais foram os alimentos introduzidos e o motivo. • Se a criança for maior, verificar também a freqüência dos alimentos que contêm proteína e a qualidade da alimentação, assim como a alimentação atual e o número de refeições, discriminando-as. • Verificar a existência de intolerância ou alergia alimentar, refluxo fisiológico ou patológico. História do Desenvolvimento • Assinalar a época em que sorriu. Quando sustentou a cabeça? Sentou sem apoio, engatinhou, ficou de pé sozinho e quando andou? • No tocante ao desenvolvimento comportamental, verificar o sono, em seus aspectos qualitativos e quantitativos, os erros de orientação - dorme de dia, dorme na cama dos pais, se tem medo do escuro, se tem distúrbios que possam estar ligados a disr i tmia cerebral - terror noturno, sonambulismo. • Se tem apnéia durante o sono. • Quando começou a controlar os esfíncteres - vesical e anal -, se tem enurese noturna e/ou diurna. • Indagar sobre agressividade ou passividade. Presença de negativismo. Hiperatividade. • Na adaptação social , inquir ir sobre a emotividade, hábitos diários, relações com a família e com outras crianças. • Qual o seu desempenho escolar? Gosta e faz atividades físicas? • Se adolescente ou, às vezes, mesmo escolar, se fuma, se bebe, se usa ou usou tóxicos e, até mesmo, se já teve atividade sexual,se usa camisinha. História das Vacinações • Ve r i fi c a r q u a i s a s va c i n a s r e c e b i d a s , complicações, cicatriz do BCG, e sempre conferir Maria Vitória de Sousa Santos a cartela de vacinações, para ver se todas estão em dia. História Familiar (Ascendentes e Descendentes} • Indagar sobre a existência de determinadas doenças nos ascendentes, como miopia, hipertensão arterial, diabetes, asma, doenças men ta i s , anemia f a l c i fo r me ou ou t ra h e m o g l o b i n o p a t i a , a r t e r i o s c l e r o s e , hipercolesterolemia, AIDS, hepatite B e outras, a fim de que se possam tentar medidas preventivas. • Assim, da mesma forma, verificar doenças em irmãos, a idade e a saúde. Se falecidos, qual a causa do óbito. • Nesse momento, é importante associarmos as doenças na família, para verificar a possibilidade de a criança as ter recebido hereditariamente. História Social • A anamnese deve incluir informações sobre a estrutura familiar e o ambiente em que vive a criança, o que nos dará o perfil socioeconômico. • Devem ser registradas as condições de habitação. • Repetimos, se é zona rural ou urbana, apartamento, casa de alvenaria, favela, casa de cômodos, o número de cômodos, as condições de saneamento (água de rede, poço ou bica coletiva, número de pontos de água - bicas - , filtro, esgoto ligado à rede, fossa, poluição ambiental: fábricas, poluentes, vala negra), luz elétrica, quintal de terra. • Devem ser assinalados o número de pessoas que trabalham, o orçamento familiar e as profissões. • Nível de instrução dos pais. Escolaridade dos filhos. Tipo de união do casal. Verificar a presença de animais domésticos. • Se estiver na creche ou na escola, perguntar sobre o seu relacionamento com as outras crianças. Se já estuda, qual a facilidade de aprendizagem, classe atual, notas obtidas, conceito com os professores e colegas. • Se vê e ouve bem. • Verificar a utilização de cigarros, drogas, tóxicos e banho de rio. PECULIARIDADES Durante a obtenção da história clínica observar: As relações inter-familiares • Personalidade - comportamento dos pais (ex. mãe que embora ativa, sempre se volta a outra pessoa para complementar as informações, podendo esta ser a avó, a babá, etc.; mãe que inicia as informações, mas cala-se tão logo outro acompanhante interrompa; pai totalmente distante do que está ocorrendo e etc). • Relacionamento pais-criança e etc. Maria Vitória de Sousa Santos PECULIARIDADES NA ABORDAGEM À CRIANÇA - Que mundo é esse? - Quais as fases da infância? - Como abordarem cada fase? COMO ABORDAR A CRIANÇA EM CADA UMA DAS FASES DA INFÂNCIAS 1° ANO • Como abordar? - Formas de linguagem: • Olhar: Crianças começam a fazer contato visual no início do segundo mês de vida. • Sorriso • Vocalização • Choro (9 meses) • Acesso de fúria • Autoecolalia >reduplicação-) palavras-frase - Conforto • Saciedade • Frio/calor (ambiente, materiais- em consultas médicas sempre esquentar o estetoscópio antes de colocá-lo no paciente). • Postura: deitado - sentado Observação: A posição flexor é a posição normal para bebês. • Interação (pegar no estetoscópio, utilizar brinquedo enquanto examina, iniciar uma conversa com elas). • Persistência do objeto: (confiança básica) (ausculta). SEGUNDO ANO DE VIDA • Como abordar? • Independência motora. • Início da forma verbal de linguagem: linguagem receptiva/linguagem expressiva. • Usam os brinquedos com função simbólica. • Órbita ao redor dos pais. • Objeto transicional. • Vocabulário crescente. - Conforto: • Ambiente estimulante • Interação por meio de conversas, vídeos musicais infantis, músicas • Utilizar o objeto transicional • Confiança básica: abordagem nos braços do cuidador. PRÉ-ESCOLAR (2-5 ANOS) - Desenvolvimento motor - Independência motora • Anda • Sobe e desce obstáculos • Corre. • Limitações internas ( ideia que a própria criança tem de suas limitações - não posso) e externas (impostas pelos pais). • Acessos de fúria - Desenvolvimento cognitivo: • Função simbólica: linguagem, cognição e brincadeiras. • Forma de lidar com o mundo. - Linguagem: • Agrupam palavras e Criam linguagem • Agressividade. Observação Atraso na linguagem: • Maus-tratos - negligência infantis =› atraso na • linguagem: incapacidade de transmitir estados, emocionais. • A linguagem permite a expressão de sentimentos: crianças com atraso de linguagem maior o índice de acessos de fúria ou outros comportamentos de exteriorização. - Cognição: • Estágio pré-operacional de Piaget: características: pensamento mágico, egocentrismo, pensamento dominado pela percepção. • Pensamento mágico: con fusão de coincidência com casualidade, animismo e crença irreal sobre o poder dos desejos. - Brincadeiras: • Papel de agressor. • Amigos ou animais imaginários. • Superpoderes. • Criatividade: desenhos, pinturas e outras atividades artísticas refletem as questões emocionais mais importantes para elas. • Pensamento pré-operacional limita o modo de compreensão das experiências de doenças e tratamento: evitar explicações contraditórias, melhor presença de um dos genitores que a criança tenha mais confiança • Intensidade imaginativa + pensamento animista e mágico =› medo; apelar para o Maria Vitória de Sousa Santos pensamento mágico da criança; superpoderes dos pais. - Desenvolvimento emocional: • Questão central: incapacidade de controle do mundo externo =› perda de controle interno -› acessos de fúria. • Quando genitor cede: tornam-se estratégias para exercer o controle. • Acessos: surgem no final do 1° ano, com prevalência máxima entre 2 e 4 anos. - Sentimentos com relação aos pais: • Amor x ciúmes intensos. • Ressentimentos × medo que o sentimento de ódio possa levar ao abandono. Melhor abordagem • Olhe nos olhos • Converse com eles: • Linguagem não infantilizada • Atividade lúdica • Procure a porta de entrada para o mundo deles. • Lembre-se; você é o adulto, portanto a condução da conversa deve ser sua sem tirar a espontaneidade delas. • Mostre no ursinho ou bonecos, mas permita que a criança também interaja (interpretar as brincadeiras). • Explique o procedimento e dê alternativas para que ela possa extravasar seu medo e sua dor. ESCOLAR • Capacidade de autoavaliação e de perceber as avaliações dos outros. • Questão central: AUTOESTIMA • Erikson: crise de habilidade x inferioridade. • Os escolares são julgados pela capacidade de produzir resultados socialmente valorizados. • Críticas e elogios. • Crises de habilidade x inferioridade. • Sentimentos das crianças sobre seus atributos: orgulho, vergonha, aparente indiferença. • Necessidade de pertencimento em outro grupo que não o familiar • Vulnerabilidade ao bullying • Desenvolvimento saudável: crescente separação dos pais e capacidade de encontrar aceitação no grupo de pares e de negociar desafios no mundo exterior. • Estímulo às brincadeiras em grupo - Desenvolvimento social e emocional • Pais: aparência física da criança: • Minar a autoestima da crianca. • Incentivar a vaidade. • Observação de crianças maiores e adultos, propagandas de vitrine ou TV, expõem crianças ao materialismo, sexualidade, e violência dos adultos. impotência com relação ao mundo maior. •Fantasias compensatórias de PODER: super- heróis. • Equilíbrio entre fantasia e capacidade apropriada de negociar desafios do mundo real indica um desenvolvimento emocional sadio. • Pressão para que adotem comportamento adulto e atinjam sucesso acadêmico ou competitivos › pode levar à somatização ou alterações do comportamento (observar a linguagem não- verbal). Melhor abordagem • Olhar nos olhos • Dirigir-se a elas • Conversar com elas: • Buscar o que a criança tem de habilidade • Estimular jogos ou atividades onde haja interação • O segredo está em também elogiar o que faz de bom.Dar o exemplo. • Buscar ver a imagem corporal que elas têm de si. • Explicar o procedimento e o objetivo que culminará no benefício. • Respeitar o pudor! Maria Vitória de Sousa Santos PROTOCOLO SPIKES • Nos deparamos com a morte e com as enfermidades diversas vezes e precisamos saber como dar notícias ruins aos pacientes e aos familiares. Entretanto, nem sempre, falamos sobre esse assunto na faculdade e, por vezes, ficamos perdidos diante dessas situações. • Nesse contexto, embora não exista uma fórmula mágica, foi criado um protocolo para ajudar os médicos a lidar com essas situações. • O protocolo (SPIKES) consiste em seis etapas e a intenção é habilitar o médico a preencher os 4 objetivos mais importantes durante a transmissão de más notícias: 1. Recolher informações dos pacientes; 2. Transmitir as informações médicas; 3. Proporcionar suporte ao paciente; 4. I n d u z i r a s u a c o l a b o r a ç ã o n o desenvolvimento de uma estratégia ou plano de tratamento para o futuro. Etapa 1 – S (setting up the interview) S (setting up the interview): Planejar/ensaiar a conversa mentalmente já que é uma situação de estresse. Escolha um local que possibilite alguma privacidade; envolva pessoas importantes para o paciente, se for da sua escolha, como por exemplo os familiares; procure sentar-se (isso relaxa um pouco o paciente e demonstra que você não está com pressa) e mantenha contado com o paciente caso seja confortável para ele (contado visual, pegar no braço no paciente, como forma de acolhimento) Etapa 2 – P (Perception) P (Perception): Avaliar a percepção do paciente. Antes de falar sobre a doença, pergunte ao paciente o que já foi dito para ele sobre sua condição e quais as suas expectativas. Assim, você consegue entender o que se passa na cabeça do seu paciente, corrigir possíveis ideias incorretas e moldar a notícia para a compreensão do mesmo. Etapa 3 – I (Invitation) I (Invitation): Obtendo o convite do paciente. Quando o paciente explicita a vontade de saber sobre tudo, o médico recebe o cartão verde para falar sobre a verdadeira condição do paciente. Entretanto, quando o paciente não deixa clara a sua vontade de saber toda a informação ou não quer saber, é válido que o médico questione ao paciente o que ele quer saber sobre a sua doença e sobre o resultado dos seus exames. Se o paciente não quer saber dos detalhes, se ofereça para responder a qualquer pergunta no futuro ou para falar com um parente ou amigo. Etapa 4 – K (Knowledge) K (Knowledge): Dando Conhecimento e Informação ao Paciente. Avisar ao paciente que você tem más notícias pode diminuir o choque da transmissão dessas notícias e pode facilitar o processamento da informação. Informe ao paciente sua condição usando um vocabulário que facilite sua compressão e demonstre compaixão (evitar termos técnicos). Passe as informações aos poucos e vá avaliando o grau de entendimento do paciente. Etapa 5 – E (Emotions) E (Emotions): Abordar as Emoções dos Pacientes com Respostas Afetivas. Demonstre compaixão e responda as emoções do paciente. Quando os pacientes ouvem más notícias a reação emocional mais frequente é uma expressão de choque, isolamento e dor. Nesta situação o médico pode oferecer apoio e solidariedade com uma resposta afetiva. O objetivo é abordar as emoções que o paciente terá. 1. Nomear o que o paciente está sentindo. 2. Compreender a situação e a emoção, validar aquilo que já foi dito, então perguntar: “o que você entende sobre tudo isso?” 3. Demonstrar respeito ao que a pessoa está sentindo, não necessariamente verbalizar, mas demonstrar esse respeito. 4. Demonstrar apoio e conversar sobre estratégias de enfrentamento, quais podem ser os próximos passos. 5. Focar no que o receptor quer saber, se ele quer saber mais. Explorar o que fazer a seguir. Etapa 6 – S (Strategy e Summary) S (Strategy e Summary): Estratégia e Resumo. Caso o paciente queira e esteja preparado, apresente as opções de tratamento e compartilhe a responsabilidade das tomadas de decisões. Para dar más notícias, devemos sempre entender o paciente, demonstrar compaixão e usar uma comunicação acessível. Caso ele queira, seja claro ao falar do prognóstico, mas tenha em mente que sempre temos algo para fazer por ele, mesmo que não seja a cura. Maria Vitória de Sousa Santos PROTOCOLO SPIKES JÚNIOR 1. S (setting up): preparo 2. P (Perception): perceber o que o paciente sabe sobre o seu diagnóstico 3. I (Invitation): convite 4. K (knowledge): transmissão da notícia 5. E (emotion): trabalhar as emoções do paciente 6. S (Summary and strategies): sumarização e estratégias. S (SETTING UP) • Local; • Privacidade; • Conforto; • De preferência sem interrupções; • Evitar o uso de celulares; • Tempo disponibilidade e restrições; • Conteúdo: como explicar o que vai ser dito de acordo com o desenvolvimento do pensamento da criança. • Pessoas: receber a família. Interessante aplicar o SPIKES com as pessoas que darão suporte emocional à criança? Preparo emocional da equipe e verificar com quem o paciente criou vínculo. P (PERCEPTION) • “Antes de falar, pergunte!” • Perceber o que o paciente sabe sobre o seu diagnóstico; • Eleger recursos lúdicos para melhorar a compreensão da criança de acordo com sua idade (mundo mágico). I (INVITATION) • Saber dosar o que dizer para a criança; • Para os pais, no SPIKES aplicado anteriormente a eles, responder tudo o que eles perguntarem, geralmente mais detalhes; • Oferecer-se para responder as perguntas da criança. K (KNOWLEDGE) - Quem irá dar a notícia para a criança? • Família dará a notícia; • Profissional de saúde, na presença da família, falará com a criança; • Profissional de saúde, a pedido da família, dará a notícia; - Introduzir a notícia • Evitar termos técnicos, dúbios; • Utilizar técnicas lúdicas; • Evitar falar pormenores sobre os quais o paciente ainda não perguntou; • À medida que se vai dando a notícia, vai sondando o que a criança está compreendendo e quais as dúvidas; • O entendimento sobre prognós t i co e, principalmente sobre a morte é diferente no desenvolvimento do pensamento. Utilizar expressões como: • Tenho uma coisa chata a te dizer... • Nós estamos com um problema para resolver... • Você sabe porque está doente? E (EMOTION) • Expressão das emoções; • Observar a comunicação não verbal: olhar, gestos, desenhos, brincadeiras enquanto ouve; • Medo de esboçar suas emoçõesz; • Permitir que chore, fique triste ou com raiva sem preocupar em esconder suas emoções em esforçar-se para “proteger” seus pais da dor; • Respeitar o tempo de reflexão da criança; • Ajudar a criança a entender a emoção dos pais. • Expressão das emoções: Negação, raiva, barganha, depressão, aceitação, mudez. S (SUMMARY) • Resumir o que foi dito; • Verificar o que ficou retido, o que precisa ser corrigido e o que precisa ser reafirmado; • Discutir estratégias de tratamento curativo ou paliativo (dividir responsabilidade de decisões com os pais); • Desejos da criança; • Não mentir, nem subestimar a capacidade de crianças e adolescentes (não são coitados, nem bobos). COMPREENDENDO O CONCEITO DE MORTE • Irreversibilidade: compreensão de que o corpo físico não pode viver depois da morte. • Não funcionalidade: compreensão de que todas as funções definidoras da vida cessam com a morte • Universalidade: compreensão de que tudo que é vivo, morre. • Causalidade: compreensão do porque a morte ocorreu. COMO AS CRIANÇAS ENTENDEM A A MORTE 1- Período pré-operacional ou pré-escolar: até 5 anos: a criança não reconhece a irreversibilidade, a não-funcionalidade e a universalidade. • Mundo mágico • Animismo. 2- Período operacional: dos 5 aos 11 anos: 1. Operacional concreto: dos 5 aos 9 anos: a criança já distingue a irreversibilidade, a não- funcionalidade mas não a universalidade ou seja a inevitabilidadeda morte. 2. Operacional formal: até aos 11 anos: a morte vai tornando-se um fato natural, mas falta ainda a abstração, como quais as Maria Vitória de Sousa Santos • a consequências da morte para a criança e para as outras pessoas? O que há depois da morte? 3-Adolescência: desenvolvimento do pensamento abstrato: possibilidade de compreensão da morte. Maria Vitória de Sousa Santos PULSO E PRESSÃO ARTERIAL PULSO • A avaliação semiótica do pulso pode fornecer ao examinador muitas informações de grande importância. • Alguns pulsos devem ser examinados de rotina, outros, de maneira seletiva, de acordo com os sintomas apresentados. • Os pulsos arteriais devem ser avaliados pela palpação, inspeção e ausculta. - Observação: A palpação de rotina em crianças está centrada nos pulsos braquial e femoral. Em crianças maiores, o pulso carotídeo é de maior importância. • E m a l g u m a s c i r c u n s t â n c i a s , c o m o comprometimento da circulação nos membros inferiores, a palpação do pulso pedioso pode ser de grande interesse. • A ausculta está reservada para os casos suspeitos de fístula e para a avaliação rotineira do pulso de artéria subclávia, na região supraclavicular. • Nos casos suspeitos de coarctação da aorta, deve- se avaliar a ausculta na região interescapular sobre a coluna. • A inspeção dos pulsos tem, de modo geral, pouco valor prático em Pediatria. • Entretanto, em algumas situações, pode ser de utilidade, como na pulsação exaltada do pulso pedioso em RN e lactentes, com grandes shunts esquerda-direita portadores de persistência do canal arterial. • A palpação do pulso femoral em recém-nascidos é rotina obrigatória nos atendimentos na sala de parto e berçário. Sua ausência sugere o diagnóstico de coarctação da aorta. PRESSÃO ARTERIAL • Por muito tempo, a aferição da pressão arterial foi negligenciada na avaliação clínica de crianças. • Hoje é consenso que a pressão arterial deve ser verificada anualmente em todas as crianças maiores de 3 anos. • Entretanto, as crianças que apresentarem obes idade, d iabetes, ou façam uso de medicamentos que aumentem a pressão arterial e outras condições cardiovasculares, a verificação deverá ser feita a cada consulta. • Crianças menores de 3 anos devem ter sua pressão avaliada em circunstâncias especiais. • Com o desenvolvimento de extensas bases de dados sobre a pressão arterial durante a infância e a adolescência, nossa possibilidade de avaliar e identificar crianças hipertensas aumentou de forma significativa. • Com base na evidência atualmente disponível, há fortes indicações de que a hipertensão primária ocorre em crianças, de forma freqüente e detectável. MEDIÇÃO DA PRESSÃO ARTERIAL Cuidados importantes antes do procedimento de verificação da pressão arterial • O posicionamento da criança é extremamente importante. • Ela pode estar deitada ou sentada, com os pés apoiados e descruzados e o dorso recostado na cadeira. • A bexiga deverá estar vazia, e a criança deve estar tranquila por alguns minutos, sem ter realizado atividades de grande esforço na última hora. • A enfermeira deve solicitar à família para retirar p a r t e d a m a n g a d o l a d o d i r e i t o , preferencialmente, caso esteja garroteando o braço e deixá-lo livre e posicionado na altura do coração, apoiado sobre uma superfície e com a palma da mão virada para cima.. - Observação: O braço direito deve ser utilizado preferencialmente para permitir comparação consistente entre medidas, evitando ainda erros de leitura, nos casos de coarctação da aorta, quando utilizado o braço esquerdo. • Em recém-nascidos, é freqüente o uso de sensores de Doppler pela dificuldade em realizar a Maria Vitória de Sousa Santos ausculta em uma superfície tão pequena quanto o braço de um prematuro. A escolha do manguito • Diferentemente dos adultos, na pediatria existem muitas variações de tamanhos de manguitos. • O uso de um manguito de tamanho inadequado pode interferir diretamente no valor da pressão arterial e realização da técnica correta. • Um dos cuidados iniciais para selecionar o manguito ideal é medir a circunferência do braço. • Para isso, o profissional deverá medir a distância entre dois pontos: olécrano e acrômio e determinar o ponto médio dessa distância. • No ponto médio, identificar qual é a medida da circunferência do braço. • A partir dessa medida, é selecionado o tamanho do manguito. • O tamanho ideal é aquele que cobre 40% da largura e 80 a 100% do comprimento. Verificação da pressão arterial em crianças • Após selecionar o tamanho correto do manguito, o enfermeiro deve colocá-lo no braço da criança, posicionando o meio da parte compressiva sobre a artéria radial, em uma distância de 2 a 3 cm da fossa cubital. • Posterior a colocação do manguito sem folgas no braço da criança, deve-se palpar o pulso radial e estimar o nível de pressão arterial sistólica PAS. • Em seguida, a campânula do estetoscópio deve ser posicionada sobre a artéria braquial na fossa cubital, e insuflar até 20 a 30mmHg acima do nível de PAS estimado. • Com o ouvido muito atento, desinsuflar o manguito com velocidade de 2mmHg/ por segundo. • A pressão arterial sistólica é determinada pela identificação do primeiro som (fase I de Korotkoff) e pressão arterial diastólica pela medida em que os sons desaparecem (Fase V de Korotkoff). TABELAS DE PRESSÃO ARTERIAL • Em crianças e adolescentes, a variação normal da PA é influenciada pela idade e tamanho corporal. • As tabelas de referência de PA, com base em sexo, idade e altura, fornecem uma classificação precisa da PA, relativa ao tamanho do indivíduo. • Essa estratégia permite uma avaliação mais precisa, evitando uma classificação equivocada de crianças que são muito altas ou muito baixas. Como avaliar os valores encontrados de pressão arterial • A nova diretriz de classificação de Pressão Arterial pediátrica leva em consideração, além da pressão arterial, a estatura da criança. • Nesse contexto, primeiramente, deve-se considerar a idade da criança e avaliar a sua estatura. • Posteriormente, sinaliza-se na tabela a estatura mais próxima com a da criança, de acordo com a idade. - Exemplo: Vamos considerar um menino com 1 ano de idade e 78,5 cm de estatura. Ao aplicar a sua estatura na Tabela de Percentis de Pressão Arterial Sistêmica para Meninos por idade e Percentis de Estatura, identifica-se que a estatura mais próxima é de 78,3. Posteriormente, deve-se aferir a pressão arterial da criança ㅡ conforme a técnica orientada anteriormente ㅡ e identificar na coluna abaixo da estatura a pressão sistólica e a diastólica mais próximas a verificada na criança. Seguindo o exemplo, do menino citado anteriormente, deve-se identificar, tanto na pressão arterial sistólica, quanto na pressão arterial diastólica, os valores que estão embaixo da estatura marcada (78,3 cm) que se enquadrem aos valores identificados na verificação da pressão da criança. Nessa lógica, ao considerar que a criança citada possui pressão arterial igual a 101 x 52 mmHg, deve-se sinalizar na tabela o valor mais próximo da diastólica e da sistólica, a fim de identificar o percentil na pressão diastólica Maria Vitória de Sousa Santos e na pressão sistólica. Frente a essa realidade, a pressão diastólica mais próxima de 101 na coluna de estatura 78,3 cm é 102 e a pressão sistólica mais próxima de 52 é o próprio 52. Ao analisar os percentis referentes a ambos os valores, vemos que a pressão sistólica enquadra-se no percentil 95 e a diastólica no percentil 90. A classificação final, considera-se o maior percentil, que neste caso é 95 e aplica-se na Classificação de Pressão Arterial de acordo com a faixa etária. TABELAS Maria Vitória de Sousa Santos AVALIAÇÃO CARDIOVASCULAR/ SOPRO/INSUFICIÊNCIA CARDÍACA NA CRIANÇA ANATOMIA NORMAL DO CORAÇÃOINTRODUÇÃO •Anor mal idade na aval iação do s i s tema cardiovascular pode estar relacionada a doenças graves, presença de sopro cardíaco e etc. • S o p r o i n o c e n t e - m a i o r c a u s a d e encaminhamentos ao cardiologista pediátrico; ANAMNESE Presença de sintomatologia: 1. Lactentes: cansaço e sudorese do polo cefálico durante as mamadas, cianose, palidez e icterícia prolongada. 2. Crianças maiores: taquipnéia, intolerância ao exercício, síncope, dor torácica, palpitações, cefaléia, cianose e arritmia cardíaca. Antecedentes pessoais: 1. Fatores materno-gestacionais: diabetes gestacional, infecções, uso de drogas e álcool, uso de medicações com potencial teratogênico, prematuridade, baixo peso ao nascer; 2. Presença de malformações congênitas; 3. Doenças prévias: episódios recorrentes de sibilância e pneumonias. Antecedentes familiares: 1. Cardiopatia congênita; 2. Ocorrência de morte súbita inexplicável na família; 3. Lúpus eritematoso sistêmico e doenças do colágeno na mãe; - Observação: Após a obtenção da história clínica, um exame físico completo deve ser realizado, um exame normal prévio não garante ausência de cardiopatia, devendo ser realizado um exame cardiovascular completo a cada controle pediátrico. EXAME FISICO Ectoscopia: 1. Cianose: central x periférica; 2. Palidez; 3. Alterações da perfusão; 4. Circulação colateral; 5. Edema; 6. Estase jugular; 7. Baqueteamento digital; 8. Características fenotípicas sugestivas de síndromes. Inspeção 1. Abaulamentos a Retrações; 2. Cicatrizes; 3. Ictus cordis; 4. Pulsações precordial, epigástricas, fúrcula. Palpação 1. Bulhas; 2. Ictus cordis; 3. Frêmito; 4. Pulsações precordiais epigástricas, fúrcula. Ausculta 1. Bulhas cardíacas; 2. Cliques ou estalidos; 3. Sopros. Sinais vitais 1. Frequência Cardíaca; 2. Frequência Respiratória; 3. Pressão Arterial (4 membros). ÁREAS DE AUSCULTA CARDÍACA CARACTERIZAÇÃO DA AUSCULTA 1. Ritmo: Regular e irregular. Maria Vitória de Sousa Santos 2. Bulhas: Normais (B1 e B2) e acessórias (B3 e B4). 3. Intensidade das bulhas: Normofonese, Hiperfonese, Hipofonese. 4. Sopros 5. Ruídos acessório: Estalidos e clicks. B1 E B2 1. A primeira bulha (B1), um som grave e suave (TUM), está associada ao fechamento das valvas AV; 2. A segunda bulha (B2), um som mais alto (TÁ), está associada ao fechamento das valvas do tronco pulmonar e da aorta (duração menor que B1). - Observação: O som TUM marca o início da sístole, enquanto o som TÁ ocorre no início da diástole. B3 E B4 1. A presença da terceira bulha (B3) ocorre concomitantemente com a fase de enchimento rápido ventricular do ciclo cardíaco, durante a qual ocorre a maior parte do enchimento diastólico do ventrículo (aproximadamente 80%). 2. A presença da quarta bulha (B4) demonstra uma relação temporal evidente com a contração atrial, sendo tipicamente um som pré-sistólico. Seu mecanismo provável parece estar relacionado com vibrações da parede ventricular, secundárias à expansão volumétrica dessa cavidade produzida pela contração atrial SOPROS Sopros cardíacos são ruídos originados de um turbilhamento do fluxo sanguíneo em alguma estrutura cardiovascular. Contudo, este som pode ter uma causa funcional ou estrutural, ser fisiológico ou patológico. 1. Sopro Sistólico: acontece durante a sistole ventricular, podendo ser ejetivo (estenose aórt ica, es tenose pulmonar, CIV) ou regurgitativo (insuficiência mitral, insuficiência tricúspide). Entre a primeira e a segunda bulha. - Sopro sistólico de regurgitação = Ocorre na insuficiência das valvas atrioventriculares (mitral e tricúspide), sendo de intensidade constante, suave e associado a hipofonese de B1. - Sopro sistólico de ejeção = Geralmente com formato em diamante ou crescendo e decrescendo, rude, causado por turbulência na via de saída (estenose de válvula aórtica ou pulmonar) ou nos vasos da base durante a ejecão. 2. Sopro Diastólico: acontece durante a diástole ventricular (insuficiência aórtica, insuficiência pulmonar, estenose mitral, estenose tricuspide). Entre a segunda e a primeira bulha. - Sopro diastólico aspirativo= Ocorre pela regurgitação das valvas semilunares (insuficiência aórtica ou pulmonar) na diástole, iniciando-se logo após B2. - Sopro diastólico em ruflar= É característico da estenose das válvulas atrioventriculares (mitral e tricúspide), s endo g ranu lo so e ocor rendo na protodiástole. 3. Sopro Contínuo: acontece durante todo o ciclo cardiaco. Exemplos clássicos desses sopros são a persistência de canal arterial e as fistulas arteriovenosas em crianças maiores. - S o p r o s s i s t o d i a s t ó l i c o s ( e m maquinaria)= São contínuos, em vaivém, ocorrendo, por exemplo, na persistência do canal arterial. CARACTERÍSTICAS DOS SOPROS CARDÍACOS 1. Frequência: A frequência de um sopro, geralmente, tem relação direta com a velocidade do sangue no local onde o ruído é gerado. Sendo assim, são classificados em alto (agudo) e baixo (grave) fluxo 2. Configuração: A forma de um sopro representa a maneira pela qual a intensidade do som se distribui ao longo do tempo: c r e s c e n d o , d e c re s c e n d o , c r e s c e n d o - decrescendo, platô ou variável. 3. Timbre : A caracterização do timbre (qualidade) de um sopro depende do espectro de frequências (harmônicas) que o compõem: “suave”, “musical”, “ruflar”, “rude”, “em jato”, entre outros. 4. Duração: De acordo com a duração, desde o momento de início até o seu término: proto, meso, tele e holo. 5. Localização: O foco de ausculta com maior intensidade. 6. Irradiação: A ausculta não deve ser executada apenas nos focos auscultatórios clássicos. Ela deve incluir, além desses focos, o Maria Vitória de Sousa Santos mesocárdio, as bordas esternais esquerda e direita, a região subxifóide, e áreas de irradiação frequente de sopros, como a região axilar, região subclavicular, fúrcula e base do pescoço. Os sopros cardíacos são caracterizados de acordo com a intensidade em 6 graus, definidos como: 1. Grau I/6 = representa um sopro tão pouco intenso que só pode ser ouvido com muito esforço e concentração; 2. Grau II/6 = sopro de pequena intensidade mas que pode ser identificado rapidamente por um observador experiente; 3. Grau III/6 = sopro alto sem frêmito no foco de maior intensidade; 4. Grau IV/6 = sopro muito alto com frêmito; 5. Grau V/6 = sopro muito intenso, audível com o estetoscópio levemente encostado na pele do paciente; 6. Grau VI/6 = sopro tão intenso que pode ser audível mesmo quando o estetoscópio não está em contato direto com a parede do tórax. A partir dessa noção anatômica e fisiológica, podemos classificar os sopros durante a sístole e a diástole. Sístole: Insuficiência das valvas atrioventriculatres (mitral ou tricuspide) e Estenose das Valvas Semilunares (pulmonar e aórtica). Diástole: Insuficiência das valvas semilunares (pulmonar e aórtica) e Estenose das Valvas Atrioventriculares (Mitral e Tricúspide). INSUFICIÊNCIA CARDÍACA CONGESTIVA • A insuficiência cardíaca congestiva é uma síndrome clínica caracterizada pela inabilidade do coração em fornecer sangue suficiente para as demandas metabólicas dos tecidos. • Podem se apresentar com ICC ou desenvolvê-la precocemente por obstruções da via de saída do VE com pós carga elevada levando à congestão pulmonar e sistêmica. SINTOMAS 1. Dificuldade na alimentação 2. Sudorese às mamadas 3. Baixo ganho ponderal 4. Dificuldade ao respirar 5. Agitação 6. Taquipnéia com descontorto respiratório 7. Crepitações 8. Hepatomegalia 9. Cianose, se grave DIAGNÓSTICO RADIOGRAFIA DE TORAX • Interstício pulmonar • Silhueta cardíaca • Trama vascular pulmonar TRATAMENTO Tratamento definitivo: Cirurgia • Condutas da emergência são guiadas pela apresentação clínica. - Condutas iniciais: 1. Monitorização 2. Aportede 02 e Ventilação 3. Acesso venoso 4. Cabeceira elevada • Suplementação de 02 com parcimônia - 02 é um potente vasodilatador pulmonar - exacerbar os sintomas. • O diurético é a principal droga utilizada na emergência - Furosemida - dose de 0.5 a 1mg/ kg/dose intravenoso ou oral a cada 6 a 12h. Maria Vitória de Sousa Santos • O uso de inotrópicos endovenosos deve ser considerado quando há evidencias de choque e sinais de baixo débito. • Milrinona: Inotrópico positivo. Diminui a pós- carga pelo efeito vasodilatador. Dose de infusão é de 0.25- 0.75mcg/kg/min. • Efeitos colaterais sérios : disritmias, hipotensão ou vasodilatação • Epinefrina: cronotrópico e inotrópico, dependendo da dose. • Deve ser usada em doses baixas (<0.3mcg/kg/ min), a fim de obter o beneficio do efeito inotrópico, evitando o aumento na pós-carga. • Dobutamina: Efeito cronotrópico e inotrópico. Dose habitual vai de 3-20mcg/kg/min. Assim como a milrinona, também tem efeito vasodilatador. Maria Vitória de Sousa Santos CARDIOPATIAS CONGÊNITAS É qualquer anormalidade na estrutura ou função do coração que surge nas primeiras oito semanas de gestação quando se forma o coração do bebê. CLASSIFICAÇÃO A cardiopatia pode ser classificada como: 1) Cardiopatia congênita cianótica: Este tipo de cardiopatia é mais grave, pois o defeito no coração pode afetar de forma significativa o fluxo sanguíneo e a capacidade de oxigenação do sangue, e, a depender da sua gravidade, pode provocar sintomas como palidez, coloração azul da pele, falta de ar, desmaios e, até, convulsões e morte. Exemplos: Tetralogia de Fallot, Transposição das Grandes Artérias, Atresia Tricúspide, Anomalia de Ebstein, Defeitos do septo atrioventricular (DSAV). 2) Cardiopatia congênita acianótica: Este tipo de cardiopatia provoca alterações que nem sempre provocam repercussões tão graves no funcionamento cardíaco, e a quantidade e intensidade dos sintomas depende das gravidade do defeito cardíaco, que vão desde ausência de sintomas, sintomas somente durante esforços, até a insuficiência cardíaca. Exemplos: Comunicação Interventricular (CIV), Comunicação Interatrial (CIA), Persistência do Canal Arterial (PCA), Coarctação de Aorta (CoAo). MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Os sinais e sintomas da cardiopatia congênita dependem do tipo e da complexidade dos defeitos cardíacos. Nos recém-nascidos e bebês, eles podem ser: 1. Cianose, que é a coloração roxa na ponta dos dedos ou nos lábios; 2. Suor excessivo; 3. Cansaço excessivo durante as mamadas; 4. Palidez e apatia; 5. Baixo peso e pouco apetite; 6. Respiração rápida e curta mesmo em repouso; 7. Irritação. Nas crianças mais velhas ou nos adultos, os sintomas podem ser: 1. Coração acelerado e boca roxa após esforços; 2. Infecções respiratórias frequentes; 3. Cansaço fácil em relação as outras crianças da mesma idade; 4. N ã o d e s e n v o l v e , n e m g a n h a p e s o normalmente. CARDIOPATIAS TETRALOGIA DE FALLOT Impede o fluxo de sangue do coração para os pulmões, devido a uma combinação de 4 defeitos, caracterizados pelo estreitamento na valva que permite a passagem de sangue para os pulmões (estenose da artéria pulmonar), comunicação entre os ventrículos cardíacos (CIV), alteração no posicionamento da aorta (dextroposição da aorta) e hipertrofia do ventrículo direito; ANOMALIA DE EBSTEIN É caracterizada por descolamento da inserção do folheto septal e mural da valva tricúspide no ventrículo direito com os folhetos aderindo parcialmente e deslocando-se do anel e de seu orifício funcional.Dificulta o fluxo sanguíneo por anomalias na valva tricúspide, que comunica as câmaras do coração direito. ATRESIA PULMONAR Causa ausênc ia de comunicação entre o c o r a ç ã o d i r e i t o e pulmões, impedindo que o s angue s e j a o x i g e n a d o corretamente. A atresia p u l m o n a r é caracterizada por uma valva pulmonar completamente fechada ou tão rudimentar, que é como se ela não existisse e houvesse um músculo fechando a passagem de sangue do ventrículo direito para a artéria Maria Vitória de Sousa Santos pulmonar. Ou seja, não vai sangue do lado direito do coração para os pulmões. COMUNICAÇÃO INTERATRIAL (CIA) Ocorre uma comunicação anormal entre os átrios cardíacos, que são as câmaras mais superiores;Na Comunicação Interatrial, os dois átrios se comunicam. Com isso, o lado direito do coração (responsável por receber o sangue do corpo e mandá-lo para ser oxigenado no pulmão) acaba recebendo também o sangue já oxigenado que vem do lado esquerdo. Como consequência, as cavidades do lado direito vão aumentando. COMUNICAÇÃO INTERVENTRICULAR (CIV) Há um defeito entre as paredes dos ventrículos, provocando uma comunicação inadequada destas câmaras e a mistura de sangue oxigenado e não oxigenado; Quando existe uma comunicação entre os dois lados do coração, uma grande quantidade de sangue passa do lado esquerdo, que tem maior pressão, para o lado direito. Este sangue, já oxigenado, vai novamente para os pulmões e volta para o lado esquerdo. Assim, vai sobrecarregando o trabalho do coração a cada batimento. No coração, i s to ocasiona um aumento de tamanho, especialmente do átrio e do ventrículo esquerdo. Nos pulmões, esta sobrecarga de sangue aumenta a pressão, o que pode lesionar permanentemente as paredes das artérias pulmonares com o passar do tempo. PERSISTÊNCIA DO CANAL ARTERIAL (PCA) Canal arterial é a estrutura vascular que conecta a aorta descendente à artéria pulmonar principal próximo à origem da artéria pulmonar esquerda. Estrutura essencial na circulação fetal permite o desvio do sangue do VD para a aorta descendente desviando o sangue da circulação pulmonar de alta resistência (pulmões ainda não formados). Deve se fechar logo após o nascimento. A sua persistência pode provocar dificuldades na oxigenação do sangue do recém-nascido; Entre os sintomas estão: taquipneia/dispneia, retardo do crescimento pôndero-estatura, intolerância ao exercício, pressão de pulso ampliada DEFEITO NO SEPTO ATRIOVENTRICULAR (DSVA) O defeito do septo atrioventricular (DSAV) é uma malformação congênita caracterizada pela ausência o u d e fi c i ê n c i a d a s e s t r u t u r a s s e p t a i s atrioventriculares normais. Essa é a cardiopatia congênita mais frequente em crianças com síndrome de Down. Tem como característica a presença de uma junção atrioventricular comum. Podem desenvolver sintomas, como respiração acelerada, falta de ar enquanto come, baixo ganho de peso e sudorese), entre quatro e seis semanas de idade. Os vasos sanguíneos entre os pulmões e o coração podem acabar desenvolvendo pressão sanguínea elevada (hipertensão pulmonar) e dar origem à insuficiência cardíaca. Maria Vitória de Sousa Santos PERICARDITE EM CRIANÇAS DEFINIÇÃO Inflamação da membrana que envolve o coração (pericárdio) e pode acumular-se líquido nesse compartimento (derrame pericárdico), ou ocorrer espessamento do pericárdio (pericardite constritiva), que podem perturbar a função do coração. CAUSAS 1. Infecções por vírus, fungos ou bactérias 2. Doenças autoimunes, como lúpus 3. Metástases adjacentes de diversos tipos de câncer 4. Hipotireoidismo 5. Insuficiência renal crônica 6. Febre reumática 7. Tuberculose 8. Infarto do miocárdio 9. Lesão ou trauma no tórax 10. Miocardite 11. Radioterapia no tórax, comum no tratamento de diversos tipos de câncer. 12. Efeitos colaterais decorrentes do uso de alguns medicamentos. SINTOMAS 1. Dor no peito aguda e contínua 2. Dificuldade para respirar, principalmente ao deitar e que geralmente melhora quando a pessoa senta e permanece com o tórax ereto. 3. Ansiedade 4. Tosse seca 5. Fadiga 6. Febre EXAMES 1. Ressonância magnética do tórax 2. Radiografia do tórax 3. Eletrocardiograma 4. Ecocardiograma 5. Tomografia computadorizada do coração 6. Hemograma completo ECG Estágio 1: supradesnivelamentode ST com concavidade para cima, exceto em aVR e V1. Estágio 2: Retorno de ST à linha de base + achatamento da onda T Estágio 3: inversão da onda T Estágio 4: reversão das ondas T ao normal DERRAME PERICÁRDICO E TAMPONAMENTO CARDÍACO Definição • Derrame pericárdico é a acumulação de líquido na cavidade pericárdica, geralmente em consequência de um processo infeccioso ou inflamatório. • A cavidade pericárdica tem pouco volume de reserva. • A relação de pressão-volume entre os volumes cardíaco e pericárdico normais pode ser dramaticamente afetada por quantidades pequenas de líquido, quando são alcançados níveis críticos de derrame. • Como as pressões de enchimento do coração direito são menores do que as do coração esquerdo, as elevações de pressão geralmente são detectadas por sinais e sintomas de insuficiência cardíaca direita, até que se consiga a equalização das pressões. Tipos De Derrame Pericárdico 1. Hidropericárdio/derrame seroso: É o acúmulo de líquido claro, seroso e rico em Maria Vitória de Sousa Santos albumina provocado por condições que causam edema; a mais comum é a insuficiência cardíaca. 2. Efusão quilosa: Ocorre por obstrução dos vasos linfáticos, geralmente secundária a invasão neoplásica, resultando em acúmulo de líquido rico em gotículas de lipídeos. A efusão de colesterol é rara e associa-se geralmente a mixedema. 3. Hemopericárdio: É a coleção de sangue no saco pericárdico. As principais causas são ruptura da parede ventricular após infarto agudo do miocárdio, ruptura da aorta com dissecção para o espaço pericárdico ou ruptura do coração ou da aorta por traumatismos torácicos abertos ou fechados. Causas Essa condição também pode ser causada por neoplasias, cirurgia cardíaca, traumatismo, ruptura cardíaca secundária a um infarto do miocárdio e aneurisma dissecante da aorta. Fisiopatologia Fatores que determinam o efeito do derrame pericárdico na função cardíaca: 1. O volume de líquido; 2. Velocidade de acumulação; 3. Elasticidade do pericárdio. Observação: Derrames pericárdicos pequenos podem ser assintomáticos, ou causar algumas anormalidades clínicas. Mesmo os derrames volumosos que se acumulam lentamente podem causar poucos sintomas ou nenhum, contanto que o pericárdio consiga estirar-se e evitar a compressão do coração. • Contudo, a acumulação rápida de apenas 200 ml pode aumentar a pressão intracardíaca a níveis que limitam gravemente o retorno venoso ao coração. • Os sinais e sintomas de compressão cardíaca também podem ocorrer com acúmulos relativamente pequenos de líquidos quando o pericárdio está espessado por tecidos fibróticos ou infiltrados neoplásicos. Tamponamento Cardíaco • É uma consequência do derrame pericárdico, no qual há compressão do coração em consequência da acumulação de líquido, pus ou sangue no saco pericárdico. • Essa condição potencialmente fatal pode ser causada por infecções, neoplasias e hemorragia. • O tamponamento cardíaco aumenta a pressão intracardíaca, causa limitação progressiva do enchimento diastólico dos ventrículos e diminui o volume ejetado e o débito cardíaco. • A gravidade do quadro depende do volume de líquido e da velocidade com que se acumula. Manifestações Clínicas • Os sintomas vão desde dor torácica insidiosa (de caráter opressivo) até síndromes compressivas (disfagia, dispneia, dor abdominal, tosse seca, rouquidão). • A acumulação significativa de líquido no saco pericárdico aumenta a estimulação adrenérgica, c a u s a n d o t a q u i c a r d i a e a u m e n t o d a contratilidade cardíaca. • Também há elevação da pressão venosa central, distensão das veias jugulares, redução da pressão arterial sistólica, redução da pressão do pulso e sinais de choque circulatório. • As bulhas cardíacas podem ser abafadas em razão dos efeitos isolantes do líquido pericárdico e da função cardíaca deprimida. • Em geral, os pacientes que desenvolvem lentamente tamponamento cardíaco apresentam sinais de doença aguda, mas não tão dramáticos q u a n t o o s o b s e r v a d o s n o s c a s o s d e tamponamento com evolução rápida. Diagnóstico • O diagnóstico é clinico, com dados da anamnese e exame fisico: triade de Beck (hipotensão, abafamento de bulhas, distensão venosa jugular), taquicardia e pulso paradoxal • Um elemento diagnóstico fundamental é o pulso paradoxal. • Pulso Paradoxal: Refere-se a queda da pressão arterial sistólica maior que 10mmHg durante a inspiração, que decorre de uma redução da complacência ventricular esquerda. • O pulso paradoxal pode ser detectado por palpação, esfigmomanometria convencional ou monitoramento da pressão arterial. - Observação: Nos pacientes com pulso paradoxal, o pulso arterial palpado na artéria carótida ou femoral torna-se enfraquecido ou impalpável durante a inspiração e mais forte durante a expiração. • O monitoramento da pressão arterial torna possível visualizar o traçado de pressão arterial e determinar a redução da pressão arterial durante a inspiração. TRATAMENTO • O tratamento da per icardi te deve ser direccionado à resolução da dor e da inflamação. Normalmente são utilizados anti-inflamatórios não esteróides (AINEs), como ibuprofeno ou aspirina. Recomenda-se ainda a restrição da actividade física até haver resolução completa dos sintomas e normalização das alterações detectadas nos exames realizados. Maria Vitória de Sousa Santos • Nos doentes com maior risco justifica-se admissão hospitalar e pesquisa da causa da pericardite. No caso de serem identificadas determinadas infecções, especialmente bacterianas, as mesmas devem ser tratadas. • Quando ocorre acumulação de pus (pericardite purulenta), ou de um volume significativo de derrame pericárdico, recomenda-se a sua remoção através de drenagem pericárdica, que pode ter de ser realizada no bloco operatório. • Quando não é possível remover todo o líquido acumulado, ou quando o pericárdio se torna muito espesso, pode ser necessário criar uma janela pericárdica, que consiste em remover cirurgicamente uma porção de pericárdio. • Nos casos em que não há resposta ao tratamento com AINEs, ou quando há múltiplas recorrências ou duração muito prolongada da doença, pode haver benefício em administrar outro tipo de f á r macos , menos comuns ( co l ch i c ina , corticosteróides, etc.) Observação: Diuréticos para tratamento podem causar desidratação em crianças. Maria Vitória de Sousa Santos TUBERCULOSE NA INFÂNCIA • A tuberculose é uma doença infecciosa e transmissível que afeta prioritariamente os pulmões, embora possa acometer outros órgãos e/ou sistemas. A doença é causada pelo Mycobacterium tuberculosis ou bacilo de Koch. • A transmissão é direta, de pessoa a pessoa, portanto, a aglomeração de pessoas é o principal fator de transmissão. • O doente expele, ao falar, espirrar ou tossir, pequenas gotas de saliva que contêm o agente infeccioso e podem ser aspiradas por outro indivíduo contaminando-o. • A transmissão se faz por via respiratória, pela inalação de aerossóis produzidos pela tosse, fala ou espirro de um doente com tuberculose ativa pulmonar ou laríngea, as gotículas exaladas (gotículas de Pflüger) rapidamente se tornam secas e transformam-se em partículas menores (<5-10 μm de diâmetro). • Essas partículas menores (núcleos de Wells), contendo um a dois bacilos, podem manter-se em suspensão no ar por muitas horas e são capazes de alcançar os alvéolos, onde podem se multiplicar e provocar a chamada primo- infecção. • Má alimentação, falta de higiene, tabagismo, alcoolismo, uso de drogas ilíticas ou qualquer outro fator que gere baixa resistência orgânica, também favorece o estabelecimento da doença. TB NA PEDIATRIA • A TB na criança, principalmente nos menores de 10 anos, apresenta especificidades. • A forma pulmonar diferentemente do adulto costuma ser abacilífera (negativaao exame bacteriológico) devido ao reduzido número de bacilos nas lesões. • Além disso crianças em geral não são capazes de expectorar. • Ao término da infância e início da adolescência aparecem formas semelhantes às encontradas em adultos. • As lesões são mais extensas nos terços superiores dos pu lmões, e scavadas, d i s seminadas bilateralmente. QUADRO CLÍNICO • Como a tuberculose pode afetar praticamente todos os órgãos, os sintomas variam de acordo com o sítio da doença. • Em geral, os sinais e sintomas nas crianças são inespecíficos e se confundem com infecções próprias da infância, o que dificulta a suspeição diagnóstica. • Frequentemente, crianças entre 5 e 10 anos apresentam quadros assintomáticos ou com poucos sintomas, enquanto as crianças de faixa etária menor apresentam sobretudo sintomas respiratórios. • Nos adolescentes, a apresentação clínica é similar à da tuberculose no adulto. Para investigação da tuberculose pulmonar, o pediatra deve pesquisar a presença dos sintomas característicos: 1. Redução do apetite; 2. Perda de peso; 3. Febre (Habitualmente moderada, persistente por 15 dias ou mais é frequentemente vespertina). 4. Tosse. 5. Irritabilidade 6. Sudorese noturna 7. Hemoptise (muito raro) 8. Anorexia 9. Adinamia 10. Hepatoesplenomegalia e linfonodomegalia, podem estar presentes e ajudar na suspeição diagnóstica. Observação: É mandatório considerar a possibilidade diagnóstica de tuberculose em uma criança com pneumonia (com ou sem sibilância) que não melhora com tratamento habitual, como antibioticoterapia e broncodilatadores, devendo-se proceder investigação adequada. Muitas vezes, também é necessária terapia de prova com esses fármacos (antibióticos e broncodilatadores) para afastar possíveis diagnósticos diferenciais. DIAGNÓSTICO • Não existe um método de fácil aplicação e acurado para diagnóstico de tuberculose pulmonar na infância, principalmente pelo fato de as crianças não saberem expectorar e por apresentarem uma baixa quantidade de bacilos no escarro (doença paucibacilar). • Ass im, há uma grande dificuldade na comprovação com os métodos bacteriológicos. • Na maioria das vezes, o diagnóstico da tuberculose pulmonar em crianças é baseado em uma combinação de critérios clínicos e epidemiológicos, associados à prova tuberculínica (PT) e à radiografia de tórax, não existindo padrão-ouro para esse diagnóstico ou algoritmo diagnóstico universal. História de contato (critério epidemiológico) • Como mais de 90% dos casos de tuberculose na criança ocorrem dentro dos primeiros anos após a primo-infecção, é mandatória a procura do caso-índice que infectou a criança. • Da mesma forma, toda vez que se descobre um adulto com tuberculose, deve-se investigar, dentre Maria Vitória de Sousa Santos os contatos, a presença de crianças doentes e/ou infectadas. Prova tuberculínica • A PT (prova tuberculínica) é um teste in vivo, no qual se mede a enduração formada na pele por uma intradermorreação, em resposta à injeção de uma tuberculina, como o PPD – Rt 23 (derivado proteico purificado – renset tuberculin 23), adotado no Brasil. • Essa reação pode ocorrer em indivíduos in f ec tado s pe lo M. tubercu lo s i s , s em necessariamente indicar doença. • Esse teste é válido para o diagnóstico de tuberculose quando associado a outros critérios diagnósticos. • A dificuldade na sua interpretação se deve à possibilidade de ocorrerem falsos-negativos e falsos-positivos. Observação: Os falsos-negativos podem ocorrer por erros na técnica de aplicação, má qualidade no PPD – Rt 23 ou fatores referentes à imunidade do indivíduo, como imunossupressão, quadros virais, febre e aplicação prévia de vacinas de vírus vivo atenuado. Os falsos-positivos se devem à reação cruzada com outras micobactérias, como M. bovis (vacina BCG) ou micobactérias não tuberculosas (MNTB). Radiografia de tórax • A radiografia de tórax deve ser sempre realizada em posição posteroanterior e perfil. • Pode demonstrar alterações estruturais antes do aparecimento dos sintomas clínicos, apesar da sua normalidade não excluir o diagnóstico, principalmente em crianças imunossuprimidas. • É útil também no seguimento terapêutico e na avaliação de complicações. • Entretanto, a interpretação dos seus achados depende da habilidade do examinador. A imagem mais típica é a doença do complexo primário: 1. Condensação, similar a quadros de pneumonias causadas por bactérias comuns; porém, associada a Linfonodomegalias hilares ou subcarinais. 2. Pode ainda estar presente compressão da via aérea ou redução do lobo médio (síndrome do lobo médio) 3. A escavação é um achado pouco comum. 4. Na tuberculose miliar, é característico o infiltrado micronodular difuso. 5. Nos adolescentes, os achados são mais parecidos com a tuberculose pós-primária dos adultos, podendo apresentar lesões mais nos terços superiores, escavadas e associadas a derrame pleural. Tomografia computadorizada • A tomografia computadorizada (TC) de tórax, apesar de mais sensível, deve ser reservada para diagnósticos diferenciais ou casos complicados, em razão da grande exposição à radiação e ao seu alto custo. • Não existe uma indicação rotineira de realização de TC em pacientes assintomáticos. • Os exames microbiológicos, apesar da baixa positividade, devem ser realizados sempre que disponíveis. • A probabilidade de se alcançar uma confirmação bacteriológica depende da extensão da doença, do tipo de espécime coletado e da idade do paciente. • Além da baciloscopia, a cultura e/ou testes moleculares devem ser solicitados sempre que disponíveis e aplicáveis. Observação: Atualmente, o método que vem ganhando destaque, pelo aumento na detecção dos casos, é o teste GeneXpert-MTB/ RIF, que é uma reação em cadeia de polimerase em tempo real (PCR-RT). É um método automatizado que, além de detectar a presença do DNA do M. tuberculosis, serve como um bom rastreamento para resistência à rifampicina, com resultados em até 2 horas. No Brasil, é denominado teste rápido molecular-TB (TRM-TB). Esse teste está disponível para realização em alguns centros no Brasil, podendo ser realizado em vários espécimes clínicos. É particularmente útil em adolescentes. ESCORE PARA DIAGNÓSTICO DE TB Interpretação: Tb Pulmonar 1. > 40 Pontos: Diagnóstico muito provável (iniciar tratamento). 2. 30 a 35 Pontos: Diagnóstico possível (Pode ser considerado como indicativo de tuberculose e Maria Vitória de Sousa Santos orienta o início de tratamento da criança a critério clínico). 3. < 30 Pontos: Diagnóstico pouco provável (A criança deverá continuar a ser investigada). TRATAMENTO • Todos os esquemas devem ser de 6 meses, com exceção da tuberculose meníngea, que deve ser de 12 meses. • A tuberculose osteoarticular também pode ser tratada por 12 meses, a critério clínico. • Alguns pacientes necessitarão de esquemas indivi- dualizados (como contatos de pacientes com tuberculose mult irresistente ou quando apresentarem eventos adversos); nesses casos, devem ser orientados pelos serviços de referência. • Idealmente, o tratamento deve ser realizado de forma supervisionada (TDO), por profissional treinado da área de saúde, não sendo considerados os familiares. Esquemas Esquema básico para crianças < 10 anos: 1. R i f a m p i c i n a ( R ) + i s o n i a z i d a ( H ) + Pirazinamida (Z) por 2 meses. 2. Rifampicina (R) + Isoniazida (H) por mais 4 meses. Esquema básico para crianças > 10 anos e adolescentes: 1. Rifampicina (R) + Isoniazida (H) + Pirazinamida (Z) + Etambutol (E) por 2 meses. 2. Rifampicina ( R) + Isoniazida (H) por mais 4 meses. Esquema para a forma meningoencefálica da tuberculose: Esquema básico, prolongando-se a fase de manutenção. - O b s e r v a ç ã o : d e v e s e r a s s o c i a d o a corticosteroide. INFECÇÃO LATENTE(ILTB) • Susceptibilidade universal. • Maioria das pessoas resistem ao adoecimento e desenvolvem imunidade parcial. • Alguns bacilos permanecem vivos (bloqueados por reação inflamatória). • Cerca de 5% não conseguem impedir a multiplica dos bacilos e adoecem na sequência da primo infecção. • Outros 5% bloqueiam a infecção nessa fase, porém adoecem posteriormente por reativação desses bacilos ou em consequência a uma nova fonte de infecção. • Independentemente da idade, os indivíduos que apresentam sintomas devem ser avaliados até definição diagnóstica; já nos indivíduos assintomáticos, a conduta depende da idade. • Os contatos maiores de 10 anos devem fazer inicialmente a PT e, se esta for reatora, realizam a radiografia de tórax. • Os menores de 10 anos são sempre avaliados com PT e radiografia de tórax. • Independentemente da idade, caso o paciente seja assintomático, com PT reatora e radiografia de tórax normal, recebe o diagnóstico de ILTB e deve ser tratado para essa situação. • Para o diagnóstico e o tratamento da doença ativa, o paciente deve apresentar confirmação bacteriológica ou avaliação clínica e radiológica compatíveis com a doença. • Caso o paciente seja assintomático, com duas PT não reatoras (repetidas com intervalo de 8 semanas), e quando realiza- da a radiografia de tórax, esta seja normal, deve ser feito apenas acompanhamento clínico com ênfase nos 2 primeiros anos após o contato. • Nos casos em que a PT está indisponível e após afastar a doença por meio da avaliação clínico- radiológica, e o risco de adoecimento for maior que o desenvolvimento de eventos adversos, deve ser instituído o tratamento da ILTB. • O tratamento da ILTB em contatos sensíveis deve ser realizado com isoniazida na dose de 5 a 10 mg/kg, dose única diária, preferencialmente em jejum, de 180 a 270 doses, desde que realizados dentro de 9 a 12 meses, respectivamente. • Nos casos de contatos com tuberculose multirresistente, ainda não há consenso sobre a melhor conduta, devendo-se acompanhar esses casos na referência. • O acompanhamento do tratamento da ILTB deve ser realizado observando-se aparecimento de sintomas da doença e de eventos adversos, não sendo necessário realizar exames para alta, pois o único exame que era alterado no início do tratamento era a PT, e esta não se torna negativa com o tratamento. TRATAMENTO A indicação do uso de isoniazida para tratamento da ILTB, depende do: 1. Resultado do PT, 2. Idade 3. Probabilidade de ILTB 4. Risco de adoecimento. Maria Vitória de Sousa Santos Grupos com indicação de tratamento: Crianças < 10 anos Contatos de casos bacilíferos: 1. PT: ≥5 mm - em crianças vacinadas há mais d e 2 a n o s o u q u a l q u e r c o n d i ç ã o imunossupressora. 2. PT ≥10 mm em crianças vacinadas com BCG há menos de 2 anos. INVESTIGAÇÃO DOS CONTATOS • O contato é definido como toda pessoa que convive no mesmo ambiente com o caso índice no momento do diagnóstico da TB. • Considerando que crianças com TB em geral desenvolvem a doença após transmissão por um contato adulto bacilífero, preconiza-se a investigação de todos os seus contatos, a fim de se identificar os casos de infecção latente pelo M. Tuberculosis (ILTB), e principalmente o caso índice interrompendo a cadeia de transmissão. Maria Vitória de Sousa Santos VACINA BCG INTRODUÇÃO • O Bacilo de Calmette e Guérin (BCG), utilizado há várias décadas, constitui uma das principais estratégias da Organização Mundial da Saúde (OMS) para o controle da mortalidade por formas graves da infecção causada pelo Mycobacterium tuberculosis em países onde a doença ainda tem importância epidemiológica. • Sua administração é também recomendada para contatos domiciliares de hanseníase, como forma de prevenir a doença em indivíduos expostos ao Mycobacterium leprae. • A vacina BCG é aplicada por via intradérmica e provoca primoinfecção artificial. • Essa infecção por bacilos com virulência atenuada tem como objetivo desenvolver uma resposta imune específica que permita controlar uma infecção ulterior, causada por bacilos selvagens. Atenção: O BCG é naturalmente resistente à pirazinamida. A cepa Moreau-Rio de Janeiro é sensível à isoniazida. DESCRIÇÃO DO PRODUTO • Pó liofilizado injetável de Bacilo Calmette- Guérin, acompanhado de diluente solução fisiológica cloreto de sódio a 0,9%. • É preparada a partir de bacilos vivos atenuados de cepa de Mycobacterium bovis e contém glutamato de sódio como estabilizante. • Deve ser reconstituída com solução de cloreto de sódio fornecida pelo fabricante, após o que deve ser armazenada na ausência de luz entre 2°C e 8°C por período não superior a 6h. • É administrada por via intradérmica na dose de 0,05 mL em crianças até 1 ano de idade, e de 0,1 mL naquelas acima de 12 meses de idade. Observação: Só pode tomar a criança com idade de até 4 anos, 11 meses e 29 dias. PRECAUÇÕES GERAIS E CONTRAINDICAÇÕES Precauções gerais A vacina deverá ser adiada nos seguintes casos: • Recém-nascidos com menos de 2.000 g, até que atinjam esse peso. • Pa c i e n t e s e m u s o d e o u t r a s t e r a p i a s imunodepressoras (quimioterapia antineoplásica, radioterapia, entre outros). • Até três meses após o tratamento com imunodepressores, imunomoduladores ou corticosteroides em dose elevada. Contraindicações 1. Portadores de imunodeficiência primária ou adquirida. 2. Pacientes acometidos por neoplasias malignas. 3. Pacientes em tratamento com corticosteroides em dose elevada (equivalente à dose de prednisona de 2 mg/kg/dia para crianças até 10 kg ou de 20 mg/dia ou mais, para indivíduos acima de 10 kg) por período superior a duas semanas. 4. Recém-nascidos de mães que utilizaram durante os dois últimos trimestres da gestação drogas imunomoduladoras que atravessam a barreira placentária. 5. Gestantes. EVOLUÇÃO HABITUAL DA LESÃO VACINAL • A vacina BCG liofilizada, após diluição com solução de cloreto de sódio e completa homogeneização, é aplicada por via intradérmica na dose indicada, na inserção inferior do músculo deltoide do braço direito. A lesão vacinal evolui da seguinte forma: 1. Da 1a à 2a semana: mácula avermelhada, com enduração de 5 mm a 15 mm de diâmetro. 2. Da 3a à 4a semana: pústula que se forma com o amolecimento do centro da lesão, seguida pelo aparecimento de crosta. 3. Da 4a à 5a semana: úlcera com 4 mm a 10 mm de diâmetro. 4. Da 6a à 12a semana: cicatriz com 4 mm a 7 mm de diâmetro. Observação: Não se deve cobrir a úlcera ou colocar qualquer medicamento. Maria Vitória de Sousa Santos • O tempo habitual da evolução da BCG é de 6 a 12 semanas, podendo prolongar-se raramente até a 24a semana. • Eventualmente, pode haver recorrência da lesão, mesmo depois da sua completa cicatrização. • Durante a evolução normal da lesão vacinal, pode ocorrer enfartamento ganglionar axilar e supra ou infraclavicular, único ou múltiplo, sem supuração. • O linfonodo aparece três a seis semanas após a vacinação, é homolateral ao local da aplicação, firme, móvel, clinicamente bem perceptível, frio, indolor, medindo até 3 cm de diâmetro, e não acompanhado de sintomatologia geral. • Pode evoluir por tempo variável, geralmente em torno de quatro semanas,, e permanece estacionário durante um a três meses. • Desaparece espontaneamente, sem necessidade de tratamento. • O aparecimento desses gânglios ocorre em até 10% dos vacinados. • Quando aplicada em indivíduos anteriormente infectados, quer por infecção natural, quer pela vacinação, a BCG determina lesões geralmente um pouco maiores e de evolução mais acelerada (fenômeno de Koch), com cicatrização precoce. • Estima-se que aproximadamente 10% dos vacinados não desenvolvam cicatriz após a BCG. • A ausência de uma cicatriz de BCG após a vacinação não é indicativa de ausência de proteção e nem constitui indicaçãode revacinação, mesmo se não houver formação de enduração quando rea l i zada a p rova tuberculínica. EVENTOS ADVERSOS • A vacina BCG pode causar eventos adversos locais, regionais ou sistêmicos, que podem ser decorrentes do tipo de cepa utilizada, da quantidade de bacilos atenuados administrada, da técnica de aplicação e da presença de imunodeficiência primária ou adquirida. As complicações podem ser classificadas da seguinte forma: Manifestações locais e regionais mais frequentes: 1. Úlcera com diâmetro maior que 1 cm. 2. Abscesso subcutâneo frio. 3. Abscesso subcutâneo quente. 4. Granuloma. 5. Linfadenopatia regional não supurada maior que 3 cm. 6. Linfadenopatia regional supurada. 7. Cicatriz queloide. 8. Reação lupoide. Observação: Os eventos adversos locais e regionais (úlcera com diâmetro maior que 1 cm, abscesso, linfadenopatia regional não supurada maior que 3 cm, linfadenopatia regional supurada e granuloma), em geral, não estão associados à imunodeficiência e podem, em alguns casos, decorrer de técnica incorreta de administração da vacina. Lesões resultantes de disseminação: São lesões que ultrapassam a topografia locorregional, podendo acometer pele e linfonodos a distância, sistema osteoarticular e vísceras em um ou mais órgãos. A incidência é rara. Nesses casos, impõe-se a investigação de imunodeficiência. REATIVAÇÃO DA BCG • Trata-se de situações em que uma lesão de BCG já cicatrizada volta a apresentar atividade. • O quadro varia desde hiperemia na região da cicatriz até uma franca reativação, com possibilidade de disseminação. Entre as comorbidades já associadas à reativação da BCG, destacam-se: 1. Infecção pelo HIV (tanto em fases avançadas, c o m c o m p ro m e t i m e n t o i mu n o l ó g i c o i m p o r t a n t e , q u a n t o n a s i t u a ç ã o d e reconstituição imune pós-introdução de terapia antirretroviral combinada). 2. P ó s - t r a n s p l a n t e d e c é l u l a s - t r o n c o hematopoiéticas. 3. Uso de medicação imunossupressora pós- transplante de órgãos sólidos. Parte das manifestações da doença de Kawasaki. 4. Pós-infecções virais leves. 5. Pós-vacinação. Conduta • A conduta frente a uma reativação do BCG depende do quadro clínico e da condição imunológica do indivíduo acometido. Maria Vitória de Sousa Santos • A reativação do BCG no indivíduo sem condição de base que comprometa o sistema imune geralmente não necessita de tratamento, visto que muitas vezes só ocorre hiperemia no local da cicatriz. • Este é o caso dos pacientes com reativação do BCG pós-infecções virais leves e naqueles pós- imunização. • A reativação do BCG na situação de doença de Kawasaki deve ser também observada, com tratamento para o Kawasaki de acordo com as orientações. • Em pacientes sem comprometimento extenso do sistema imune e cuja reativação não se resolva espontaneamente em alguns dias, pode-se iniciar isoniazida e observar a resposta. • Já na presença desse evento adverso em um paciente vivendo com HIV e naqueles transplantados de células-tronco hematopoiéticas e de órgãos sólidos, deve-se instituir medicação específica para a cepa do BCG. • Naqueles com comprometimento imunológico importante no momento do diagnóstico, recomenda-se a associação de drogas, como no tratamento de casos de disseminação do BCG. Maria Vitória de Sousa Santos ASMA NA INFÂNCIA O QUE É ? A asma é uma doença crônica das vias respiratórias que provoca episódios de obstrução, hiper- responsividade brônquica (HRB), inflamação das vias respiratórias e, em alguns indivíduos, a remodelação destas. TIPOS DE ASMA 1. Asma atópica: A asma alérgica (ou induzida por alergia) é um tipo frequente de asma que é desencadeada ou piorada por fatores alérgicos (poeira, ácaros, pelos de animais, cheiros fortes, pólen e mofo especialmente). 2. Asma não atópica: Mais frequente em adultos, ocorre em resposta a fatores externos como exercícios físicos, estresse, ansiedade, ar frio ou seco. FATORES DE RISCO 1. Predisposição genética para a produção de uma resposta mediada pela imunoglobulina E (IgE) a alérgenos comuns (o IgE é o anticorpo envolvido na manifestação de reações alérgicas e inflamações); 2. Histórico familiar de asma; 3. Alergias; 4. Exposição pré-natal a fumaça de cigarro e poluição, bem como múltiplas predisposições genéticas que potencialmente podem se sobrepor. GRAVIDADE DOS CASOS A gravidade dos casos de asma é afetada por vários fatores incluindo: 1. Genética; 2. Idade de manifestação; 3. Exposição à poluição; 4. Atopia (pré-disposição genética); 5. Grau de exposição a gatilhos, sejam eles ambientais, como o fumo e ácaros da poeira, e refluxo gastresofágico ou infecções respiratórias. 6. Refluxo durante o sono também pode contribuir para o desenvolvimento de asma noturna. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS As crises de asma podem ocorrer espontaneamente ou em resposta a vários gatilhos, infecções respiratórias, estresse emocional ou mudanças climáticas. Os sintomas da asma são: 1. Falta de ar ou dificuldade para respirar; 2. Ligeiro aumento da frequência respiratória; 3. Sensação de aperto no peito ou peito pesado; 4. Chiado no peito; 5. Crise imobilizante e aguda; 6. Tosse; 7. Fadiga e Pele úmida (conforme a evolução da doença); 8. Conforme a eficácia da ventilação alveolar diminui, e desenvolve-se uma falta de correspondência entre ventilação e perfusão, causando hipoxemia e hipercapnia. 9. A resistência vascular pulmonar pode aumentar como re su l t ado da h ipoxemia e da hiperinflação, levando a um aumento da pressão arterial pulmonar e aumento da demanda de trabalho no coração direito. Observação: Esses sintomas variam durante o dia, podendo piorar à noite ou de madrugada e com as atividades físicas. A maior diminuição da função respiratória ocorre aproximadamente às 4 h, período em que os níveis de cortisol estão baixos, os níveis de melatonina estão altos e a atividade dos eosinófilos é maior. Observação: Durante uma crise prolongada, o ar fica aprisionado por trás das vias respiratórias ocluídas e estreitadas, provocando a hiperinflação dos pulmões. Como resultado, é necessária uma quantidade maior de energia para superar a tensão já existente nos pulmões e é exigida a ação dos m ú s c u l o s a c e s s ó r i o s ( p . e x . , m ú s c u l o s esternocleidomastóideos) para manter a ventilação e as trocas gasosas. Este aumento do trabalho Maria Vitória de Sousa Santos respiratório eleva ainda mais a demanda de oxigênio e provoca dispneia e fadiga. CLASSIFICAÇÃO DA GRAVIDADE DA ASMA DIAGNÓSTICO O diagnóstico de asma deve se basear no histórico cuidadoso, anamnese, exame físico, testes laboratoriais, estudos da função pulmonar e na avaliação da alergia. 1-Espirometria: • A confirmação do diagnóstico de asma usualmente é feita através da espirometria, a qual fornece duas medidas importantes para o diagnóstico de limitação ao fluxo de ar das vias aéreas: VEF1 (Volumes expiratório forçado no primeiro segundo) e CVF (Capacidade vital forçada). • O diagnóstico de limitação ao fluxo aéreo é estabelecido pela redução da relação VEF1/CVF (<80%), e a intensidade dessa limitação é determinada pela redução percentual do VEF1 em relação ao seu previsto. • O diagnóstico de asma é confirmado não apenas pela detecção da limitação ao fluxo de ar, mas pr inc ipa lmente pe la demons t ração de significativa reversibilidade, parcial ou completa, após a inalação de um broncodilatador de curta ação. • A resposta ao broncodilatador é considerada significativa e indicativa de asma quando o VEF1 aumenta, pelo menos: 1. 2 0 0 m L e 1 2 % d e s e u v a l o r p r é - broncodilatador 2. 200 mL de seu valor pré-broncodilatador e 7% do valor previsto São indicativos de asma na espirometria: a) obstrução das vias aéreas caracterizada por redução do VEF1 para abaixo de 80% doprevisto e da sua relação com a capacidade vital forçada para abaixo de 75% em adultos e de 86% em crianças; b) obstrução ao fluxo aéreo, que desaparece ou melhora significativamente após o uso de broncodilatador (aumento do VEF1 de 7% em relação ao valor previsto e de 200 mL em valor absoluto, após inalação de agente beta2- agonista de curta duração); c) aumentos no VEF1 superiores a 20% e excedendo a 250 ml de modo espontâneo no decorrer do tempo ou após intervenção com medicação controladora (ex., prednisona 30 a 40 mg/dia VO, por duas semanas). Observação: A espirometria só é recomendada a partir dos 8 anos, uma vez que crianças menores não conseguem realizar o exame. 2-Verificação da hiper-responsividade das vias aéreas • A asma pode estar presente em pacientes com esp i rometr ia nor mal ou sem re spos ta broncodilatadora significativa. • Nesses casos, o diagnóstico deve ser confirmado pela demonstração da hiper-responsividade das vias aéreas. • A hiper-responsividade pode ser medida através da inalação de substâncias broncoconstritoras (metacolina, carbacol e histamina) ou testada pelo teste de broncoprovocação por exercício. 3-Medidas do estado alérgico • Existe uma forte associação entre asma, rinite e outras doenças alérgicas. Estas informações contribuem muito mais para o planejamento terapêutico do que para o diagnóstico da asma. • A avaliação da atopia requer anamnese cuidadosa e confirmação da sensibilização alérgica por meio de testes cutâneos ou através da Maria Vitória de Sousa Santos determinação das concentrações séricas de IgE específica por teste radioalergoabsorvente. TRATAMENTO Objetivos: 1. Tornar os sintomas crônicos mínimos ou inexistentes; 2. Diminuir a intensidade e o número das exacerbações; 3. Manter a função pulmonar o mais próximo da normalidade; 4. Manter níveis normais de atividades diárias; 5. Evitar os efeitos adversos das medicações; 6. Evitar a evolução para a limitação irreversível do fluxo aéreo; 7. Prevenir a mortalidade. Tratamento farmacológico O tratamento farmacológico da asma pode ser dividido em: medicamentos de alívio usados no momento da crise e os medicamentos de manutenção. 1. Beta2-Adrenérgicos : Os medicamentos de alívio imediato, como os agonistas β2- adrenérgicos de ação rápida (p. ex., salbutamol e fenoterol) relaxam a musculatura lisa dos brônquios e proporcionam alívio imediato dos sintomas, geralmente em um intervalo de 30 min, além de diminuirem a desgranulação dos mastócitos e a liberação de histamina, inibem o extravasamento microvascular nas vias respiratórias e aumentam a depuração mucociliar e a sua utilização é recomendada para aliviar crises agudas de asma. - Observação: Beta-2 agonistas de curta (Saba): Salbutamol e Fenoterol. Beta-2 agonistas de longa duração (Laba): Formoterol (Foradil, F luir, Formcaps), Salmeterol (Serevent) 2. A n t i c o l i n é r g i c o s : A s m e d i c a ç õ e s anticolinérgicas (p. ex., ipratrópio) bloqueiam as vias vagais eferentes pós-ganglionares causadoras de broncoconstrição. Esses medicamentos, administrados por inalação, produzem broncodilatação por ação direta sobre as grandes vias respiratórias e não alteram a composição ou a viscosidade do muco brônquico. Acredita-se que podem fornecer algum benefício aditivo para o tratamento de exacerbações da asma quando administrados juntamente com agonistas β2- adrenérgicos. 3. Corticoides: Os corticoides inibem a inflamação das vias respiratórias, revertem a regulação para baixo do beta-receptor e inibem a produção de citocina e a ativação da proteína de adesão. Bloqueiam a resposta tardia (mas não a resposta inicial) aos alergênios inalados. 4. M o d i fi c a d o re s d e l e u c o t r i e n o s : Bloqueiam os receptores de leucotrienos e evitam que esses mediadores provoquem reações inflamatórias nas vias aéreas. Maria Vitória de Sousa Santos Maria Vitória de Sousa Santos CRISE ASMÁTICA • A asma caracteriza-se por inflamação das vias aéreas, percebida pela história de sintomas respiratórios como sibilância, falta de ar, tosse e sensação de aperto no peito. • Os sintomas variam em intensidade e frequência, sendo acompanhados de limitação variável do fluxo aéreo. • As manifestações são desencadeadas pela limitação do fluxo aéreo decorrente de broncoconstrição, edema, acúmulo de muco e infiltrado inflamatório com celularidade variável da parede brônquica. • As manifestações costumam ser desencadeadas por fatores como infecções respiratórias virais, exercícios físicos, exposição a alérgenos e irritantes, como cigarro e poluição atmosférica, além de drogas como ácido acetilsalicílico e betabloquea- dores. • Em crianças menores de 5 anos, os episódios de sibilância recorrente são comuns, estando na maioria das vezes associados a infecções virais, que constituem as principais causas de exacerbação de asma na infância. • Diversos vírus podem desencadear as crises de asma, sendo o rinovírus um dos mais frequentemente envolvidos. • Comorbidades, como a rinite alérgica, rinossinusite, obesidade e transtornos emocionais, podem dificultar o controle adequado da asma. • É importante ressaltar que a presença de sintomas associados ao exercício físico pode indicar mau controle da asma. • A crise asmática é importante causa de morbimortalidade, podendo ser ameaçadora à vida e trazer impacto para o paciente e sua família, muitas vezes com necessidade de visita de urgên- cia a serviço de saúde e utilização de corticoterapia sistêmica. • Dessa forma, é fundamental que médicos p e d i a t r a s e g e n e r a l i s t a s c o n h e ç a m detalhadamente o tratamento da asma aguda. APRESENTAÇÃO CLÍNICA • A crise asmática ou exacerbação da asma caracteriza-se pela deterioração aguda dos sintomas clínicos. • O diagnóstico da crise asmática é clínico, sendo os exames realizados para afastar diagnósticos diferenciais, identificar comorbidades, avaliar gravidade ou possíveis complicações. A crise asmática geralmente inicia-se com episódios de: 1. Tosse seca recorrente, podendo evoluir para sibilância; 2. Taquidispneia; 3. Uso de musculatura acessória; 4. Queda de saturação de oxigênio; 5. Irritabilidade e eventualmente silêncio respiratório; 6. Alteração do estado de consciência e óbito. Observação: Os pacientes podem apresentar-se com sinais e sintomas de graus variados. Em alguns pacientes, entretanto, a crise já se inicia com sintomas mais intensos. O reconhecimento precoce da crise favorece o tratamento adequado, minimizando seu impacto. AVALIAÇÃO DA GRAVIDADE • Existem diversos escores clínicos que podem ser utilizados para avaliação da gravidade da crise. • Em geral, eles avaliam o estado geral, estado de alerta, fala, nível de desconforto respiratório, utilização de musculatura acessória, frequências respiratória e cardíaca, presença de sibilos à ausculta e saturação de oxigênio. • A avaliação da função pulmonar por meio de medidas objetivas, como pico de fluxo expiratório (peak-flow), contribui para melhor definição da gravidade da crise, principalmente quando há referência de valores pessoais anteriores. MANEJO DA CRISE EM CASA • A família deve ser orientada a reconhecer o início dos sintomas da crise, a iniciar tratamento betabloqueadores urgência Maria Vitória de Sousa Santos medicamentoso adequado e procurar assistência médica quando não houver resposta. • Manifestações como tosse noturna, dispneia aos esforços, sibilância, uso de musculatura acessória são indicativos de início de crise e de necessidade de tratamento adequado. • Crianças que tiveram crise asmática recente são também de risco para exacerbações subsequentes. Broncodilatador inalado (beta2-agonista de curta duração) • Recomenda-se que, ao início dos sintomas de tosse seca frequente, sibilância ou dispneia, seja iniciado, ainda no domicílio,um broncodilatador (salbutamol ou fenoterol) inalado acoplado a espaçador, na dose de 2 a 4 jatos até de 4 em 4 horas. • A família deve procurar atendimento médico de imediato se a criança estiver mais prostrada, se os sintomas não melhorarem após o broncodilatador inalado ou ainda quando necessitar de uso repetitivo de broncodilatador por algumas horas. Corticosteroide oral • Em casos selecionados, recomenda-se que os cuidadores administrem, ainda no domicílio, o corticosteroide oral (prednisolona ou prednisona na dose de 1 a 2 mg/kg/dia, com dose máxima de 40 mg) por 3 a 5 dias. MANEJO DA CRISE EM SERVIÇO DE URGÊNCIA Diante de pacientes com crise asmática é de fundamental importância avaliar a sua gravidade, pois, quanto mais rápido ela for controlada, melhor será o prognóstico. E x i s t e m d ive rs o s f a t o re s q u e s ã o considerados de risco para asma fatal: 1. História prévia de asma quase fatal requerendo entubação ou ventilação mecânica; 2. Três ou mais visitas a serviço de emergência ou 2 ou mais hospitalizações no ano anterior; 3. Uso recente ou atual de corticosteroide oral; 4. Não uso atual ou uso inadequado de corticosteroide inalado; 5. Uso frequente de broncodilatador inalado de ação curta (salbutamol, fenoterol) com consumo de mais de um frasco ao mês; 6. Histórico de doenças psiquiátricas ou psicossociais; Maria Vitória de Sousa Santos 7. Baixa adesão ao tratamento medicamentoso de asma; 8. Alergia alimentar associada à asma. • Aliados a esses fatores colocados pelo Gina (Global Iniciative for Asthma), somam-se percepção inadequada da gravidade por parte do paciente e equipe, e falta de acesso ao tratamento medicamentoso adequado. • Exposição a tabagismo domiciliar, poluição e alérgenos também contribuem para aumento da frequência das exacerbações. • Pacientes em risco potencial de exacerbações graves necessitam de atenção especial com orientação específica. TRATAMENTO DA CRISE ASMÁTICA NA EMERGÊNCIA • Diante do diagnóstico da crise, uma das primeiras medidas deve ser oferecer oxigênio, com o objetivo de manter a saturação entre 94 e 98%. • Oxigênio úmido pode ser fornecido por cateter nasal (fluxo de até 2 L/min) ou máscara facial (6 a 8 L/ min). • É preciso tranquilizar o paciente e sua família, m a n t e n d o - o e m p o s i ç ã o c o n f o r t á ve l , preferencialmente recostado. Broncodilatadores inalados de curta ação (beta2-agonista) • Constituem-se as drogas de primeira linha no tratamento da crise aguda de asma. • Recomenda-se iniciar ataque com beta2-agonista inalatório por aerossol dosimetrado (salbutamol ou fenoterol) acoplado a espaçador com máscara facial ou bocal. • Utiliza-se a dose de 4 a 8 jatos (100 mcg/jato) a cada 20 minutos por 3 vezes na primeira hora de tratamento. • A dose pode variar dependendo da gravidade da crise. • O uso de aerossol dosimetrado acoplado a espaçador requer técnica adequada para melhor deposição pulmonar da droga e aproveitamento da medicação. Recomenda-se: 1. Agitar o spray e acoplá-lo ao espaçador valvulado; 2. Posicionar a máscara rente a face, evitando escape aéreo e aplicar 1 jato (pode-se usar o bocal em crianças maiores); 3. Manter o espaçador posicionado por 10 a 20 segundos (5 a 10 respirações); 4. Aguardar 30 segundos e agitar novamente o frasco para a inalação seguinte. Repetir o procedimento conforme o número de jatos prescritos. Observação: Em crianças maiores de 4 anos, recomenda-se o uso do espaçador com bocal. Nesse caso, orienta-se que para cada jato aplicado o paciente deve inspirar lenta e profundamente pelo bocal, segurando a respiração por 10 segundos antes de expirar, com o objetivo de aumentar a deposição pulmonar da medicação. • Para pacientes com crise mais grave, necessitando oxigênio em máscara facial por 6 a 8 L/min, prefere-se o uso de micro-nebulização com beta2- agonista em solução para nebulização. • Nesse caso, recomenda-se solução de salbutamol ou fenoterol a 0,05% na dose de 0,1 a 0,15 mg/ kg/dose, equivalente a uma gota para cada 2 a 3 kg, na dose máxima de 20 gotas. • Diante da necessidade de uso frequente de broncodilatador inalado com intervalo menor que 2 horas entre as aplicações, recomenda-se nebulização contínua em terapia intensiva. • Nesses casos, devem-se monitorar eletrólitos em r a z ã o d o r i s c o d e h i p o p o t a s s e m i a , hipomagnesemia e hipofosfatemia • Broncodilatadores orais não são recomendados em razão da demora no início da ação, além de elevada taxa de efeitos colaterais comparados aos broncodilatadores inalados de curta duração. Corticosteroide sistêmico • Diante de resposta parcial ao broncodilatador na primeira hora ou em pacientes de risco para exacerbação grave, deve-se iniciar precocemente o corticosteroide, preferencialmente por via oral, prednisolona ou prednisona, na dose de 1 a 2 mg/kg/ dia por 3 a 5 dias, com máximo de 40 mg. Nesses casos, não há necessidade de redução progressiva da droga. • A utilização de corticosteroide por via parenteral pode ser feita quando o paciente estiver impossibilitado do uso de medicação oral, indi- cando-se metilprednisolona EV na dose de 1 mg/ kg, a cada 6 horas, no primeiro dia de tratamento. Brometro de ipratrópio • O uso de anticolinérgico no tratamento da crise aguda de asma é indicado nos processos graves, sempre associado ao beta2-agonista. • O brometo de ipratrópio possui efeito broncodilatador, relaxando a musculatura lisa e potencializando o efeito do beta2-agonista. • Pode ser utilizado na dose de 160 mcg (2 jatos de 80 mcg) ou 250 a 500 mcg por dose (20 a 40 gotas), no nebulizador, a cada 20 minutos na primeira hora do tratamento. Maria Vitória de Sousa Santos NO HOSPITAL Maria Vitória de Sousa Santos Bogart MAUS TRATOS A CRIANÇA E ADOLESCENTE MAUS TRATOS “Toda ação ou omissão que prejudique o bem-estar, a integridade física, psicológica ou a liberdade e o direito ao pleno desenvolvimento de pessoas da família” Tipos: 1. Síndrome de Munchausen: É definida como a situação na qual a criança é trazida para cuidados médicos devido a sintomas e/ ou sinais inventados ou provocados pelos seus res- ponsáveis. Em decorrência, há conseqüências que podem ser caracterizadas como violências físicas (exames complementares desnecessários, uso de medicamentos, ingestão forçada de líquidos etc.) e psicológicas (inúmeras consultas e internações, por exemplo). 2. Abuso sexual: é todo ato ou jogo sexual, rela- ção heterossexual ou homossexual cujo agressor e s tá em es tág io de desenvo lv imento psicossexual mais adiantado que a criança ou o adolescente. 3. Violência ou abuso físico: Uso da força física de forma intencional, não-acidental, praticada por pais, responsáveis, familiares ou pessoas próximas da criança ou adolescente, com o objetivo de ferir, danificar ou destruir esta criança ou adolescente, deixando ou não marcas evidentes. 4. Violência ou abuso psicológico: São toda forma de rejeição, depreciação, discriminação, desrespeito, cobrança ou punição exageradas e utilização da criança ou do adolescente para atender às necessidades psíquicas dos adultos. Todas estas formas de maus- tratos psicológicos podem causar danos ao desenvolvimento biopsicossocial da criança. Pela sutileza do ato e pela falta de evidências imediatas de maus- tratos, este tipo de violência é dos mais difíceis de serem identificados, apesar de estar, muitas vezes, embutido nos demais tipos de violência. 5. Negligência: é ato de omissão do responsável pela criança ou adolescente em prover as n e c e s s i d a d e s b á s i c a s p a r a o s e u desenvolvimento. O abandono é considerado uma forma extrema de negligência. A negligência pode significar omissão em termos de cuidados básicos como a privação de medicamentos; cuidados necessários à saúde; higiene; ausência de proteção contraas inclemências do meio (frio, calor); não prover estímulo e condições para a freqüência à escola. 6. Alienação parental 7. Bullying / Cyberbullying PROTOCOLO DE ABORDAGEM Atendimento médico: 1. Levantar suspeita 2. Investigação clínica 3. Decisão sobre internação hospitalar 4. Avaliação por equipe multi e interdisciplinar 5. Notificação institucional 6. Encaminhamentos acompanhamento ANAMNESE Devem ser observadas as seguintes situações: 1. História incompatível com as lesões existentes - freqüentemente, nesses casos, a lesão é relacionada a um fato acidental ou a uma atitude da própria vítima que não condiz com a gravidade do quadro; 2. Lesões incompatíveis com o estágio de desenvolvimento da criança - alegação de que o acidente teria sido provocado por uma atitude da própria vítima, não sendo este ato compatível com a idade e o desenvolvimento motor da vítima; 3. Re l a t o s d i s c o rd a n t e s q u a n d o o responsável é entrevistado por mais de u m p r o fi s s i o n a l e m d i f e r e n t e s momentos - a adoção de estratégias como estas possibilitam a detecção de relatos falsos. Da í a impor tânc ia de uma atuação interdisciplinar e a discussão dos casos por equipe multiprofissional; 4. Relatos discordantes quando se e n t r e v i s t a m o s r e s p o n s á v e i s separadamente - mesmo que haja conivência dos responsáveis no acobertamento da violência, informações relacionadas ao detalhamento do suposto acidente não são ventiladas quando se formula a história mentirosa; 5. Supostos acidentes ocorridos de forma repetitiva e/ou com freqüência acima do esperado - geralmente relacionados à s u p o s t a h i p e r a t i v i d a d e , m á í n d o l e , desobediências etc. da criança; Maria Vitória de Sousa Santos 6. Suposto acidente para o qual a procura de socorro médico ocorre muito tempo após o evento; 7. Dinâmica familiar denotando falta de estrutura estável - embora não seja patognomônico de maus- tratos, é sabido que a violência contra a criança é mais freqüente nos lares onde a relação familiar é precária ou prejudicada pelos sucessivos conflitos. Alcoolismo e uso de drogas ilícitas também aumentam a ocorrência de maus-tratos físicos na família; 8. Problemas maternos relacionados à gravidez – mãe solteira, gravidez indesejada, não comparecimento às consultas de pré-natal, tentativas frustradas de abortamento, separação do casal etc; 9. Relato dos pais sobre experiências próprias de terem sofrido alguma forma de violência na infância. EXAME FÍSICO- LESÕES Por ordem de freqüência, as lesões por maus-tratos são mais comumente identificadas na pele e nas mucosas e, em seguida, no esqueleto, no sistema nervoso central e nas estruturas torácicas e abdominais. Pele e mucosas • As lesões cutâneo-mucosas provocadas por maus- tratos podem decorrer de golpes, lançamento c o n t r a o b j e t o s d u r o s , q u e i m a d u r a s , “arrancamentos” (dentes, cabelos), mordidas, ferimentos por arma branca ou arma de fogo etc. • As lesões incluem desde hiperemia, escoriações, equimoses e hematomas, até queimaduras de terceiro grau. • Hematomas são as lesões de pele mais freqüente- mente encontradas nos maus-tratos físicos, seguidos por lacerações e os arranhões. • Algumas partes do corpo são mais suscetíveis a lesões acidentais (proeminências ósseas, por exemplo), enquanto outras não o são (coxas, genitais, dorso). • Assim, a localização das lesões pode ser um im- portante indício da ocorrência de violência física (por exemplo, lesões circulares ou marcas de dedos em torno do pescoço, bem como petéquias na face e hemorragias subconjuntivais são sugestivas de enforcamento ou estrangulamento). • Lesões em diferentes estágios de evolução (colo- ração e aspecto) ou presentes concomitantemente em diversas partes do corpo, bem como queimaduras “em meia”, “luva” ou em nádegas e/ou genitália, são sugestivas de lesões provocadas. Quando algum instrumento é utilizado para a agressão, pode-se identificar sua forma “impressa” na pele (cintos, fios, garfos, ci- garros, dentes etc.). • O achado de escoriações, manchas ou sangramento em exame físico não relatados durante a anamnese também sugerem maus- tratos. • É importante que a avaliação das lesões encontra- das seja feita com detalhe, considerando tamanho, bordas, localização e cor das mesmas. Esqueleto • Fraturas múltiplas inexplicadas, em diferentes estágios de consolidação, são típicas de maus- tratos. No entanto, são pouco freqüentes. • As localizações mais comuns das fraturas são as extremidades. • Em crianças menores, os ossos longos costumam ser afetados na zona metafisária. • O traço da fratura também pode sugerir o mecanismo que a provocou: fraturas espiralares e fraturas transversas em ossos longos de lactentes sugerem maus-tratos (as primeiras por torção, as últimas por impactos violentos). • Fraturas de costelas (geralmente na região posterior, próximo à articulação costo-vertebral) podem ocorrer por compressão ou impacto. Sistema nervoso central • O traumatismo crânio-encefálico (TCE) provocado pode levar a dois tipos de lesão: 1. externa: fraturas dos ossos do crânio lineares, deprimidas ou cominutivas; 2. interna: produzida por “sacudida” ou impacto, levando a hematomas subdural ou subaracnóideo e a hemorragias retinianas; • Hemorragias retinianas em menores de 3 anos, na ausência de lesões externas de TCE, são quase específicas de maus-tratos (decorrem de forças de aceleração e desaceleração aplicadas na cabeça, como na “síndrome do bebê sacudido”). • Conforme acontece em danos neurológicos de outras etiologias, as alterações de consciência e as convulsões são os sinais clínicos mais freqüentes, podendo ocorrer imediatamente após o trauma ou após um período livre de sintomas. Lesões torácicas e abdominais • Os traumatismos torácicos produzidos por maus- tratos são pouco freqüentes, podendo decorrer de compressão antero-posterior (“síndrome do bebê sacudido”) ou de tração violenta do braço. • As lesões secundárias a esse tipo de trauma podem ser hematomas, contusão pulmonar, fraturas de costelas, esterno e clavícula, pneumotórax e hemotórax. • As lesões viscerais abdominais ocorrem em pequeno percentual das crianças maltratadas, Maria Vitória de Sousa Santos sendo mais freqüentes em crianças acima de 2 anos. • Pode-se perceber sinais sugestivos de lesão intra- abdominal, como hematomas intra-mural (duodeno e jejuno) e retroperitoneal, bem como lesões de vísceras sólidas (fígado, pâncreas e baço). • É importante avaliar a possibilidade da existência de hemoperitônio, pneumoperitônio ou obstrução intestinal (hematoma intra-mural). EXAMES COMPLEMENTARES Laboratorial : 1. Hemograma completo com plaquetas; coagulograma 2. Bioquímicos: CPK (quase sempre aumentado em casos de traumas); amilase (trauma abdominal); TGO; TGP; Gama-GT (trauma abdominal). 3. Exame qualitativo de urina (Urina tipo I). 4. Sangue e urina para intoxicações exógenas. Imagem : 1. Radiografias: crânio (frente e perfil); coluna cervical; tórax (para visualizar as costelas e a coluna toracolombar superior); membros superiores, incluindo a cintura escapular; membros inferiores; coluna lombar inferior e pelve. 2. Ultrassom: transfontanelar e/ou abdome. 3. Tomografia computadorizada: crânio, tórax e/ou abdome . 4. Ressonância nuclear magnética de crânio. PRONTUÁRIO MÉDICO Por ser documento de fé pública que eventualmente pode ser usado para fins judiciais, é imprescindível que o prontuário seja preenchido de forma adequada, com registro detalhado dos sinais e sintomas e, se possível, com fotografias das lesões encontradas. CLASSIFICAÇÃO DOS CASOS Todos os casos suspeitos devem receber: • Avaliação do domicílio e da dinâmica familiar; • Levantamento da situação escolar; • Encaminhamentos da vítima e agressores para atendimentos psicoterapêutico,social e de proteção legal (como prevê o Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA18), quando necessário. • Reavaliação em tempo breve da situação de violência e do resultado dos encaminhamentos; Lesões leves e sem risco de revitimização • Orientação inicial sobre as consequências da violência e retorno para moradia com os responsáveis. • Notificação ao CT da região de moradia do paciente, mediante relatório institucional e l a b o r a d o p o r m e m b r o d a e q u i p e multiprofissional, e ao SINAN, mediante impresso próprio para agravos de notificação compulsória. Lesões graves ou com risco de revitimização • Priorização de atendimento; • Internação sob a proteção da instituição hospitalar como medida imediata de afastamento do agressor ou quando se necessitar de mais tempo para avaliação do quadro; • Avaliação geral da vítima; • Levantamento de ocorrências anteriores, do histórico familiar de violência, dos outros membros da família, das possibilidades de tratamento do agressor e das consequências da violência para a vítima; • Notificação ao CT da região de moradia do paciente, mediante relatório institucional e l a b o r a d o p o r m e m b r o d a e q u i p e multiprofissional, e ao SINAN, mediante impresso próprio para agravos de notificação compulsória; • Além do CT e/ou Ministério Público (MP), deve ser notificada a Vara da Infância e Juventude (VIJ) da região de moradia da suposta vítima, mediante ofício contendo relatório da equipe multiprofissional. A alta hospitalar dependerá da decisão do Juiz da VIJ, avaliando a possibilidade de restauração de vínculo familiar, guarda com família ampliada (avós, tios etc.) ou necessidade de acolhimento institucional. Violência Gravíssima e Risco de Morte • Atendimento imediato; • Internação hospitalar com afastamento do agressor; • Notificação ao SINAN, ao CT ou ao MP e à VIJ; • Solicitar presença de membro do CT. Maria Vitória de Sousa Santos AUTONOMIA CONCEITO • Autonomia significa exatamente “a aptidão ou competência do indivíduo para gerir sua própria vida, valendo-se de seus próprios meios, vontades e/ou princípios” • Expressão mais adequada:“Decisão por procuração”. • Existem situações onde surge a necessidade de se tomar decisões polêmicas e difíceis onde se instala um conflito entre o princípio da autonomia e os princípios da beneficência e não maleficência. • Como exemplos podemos citar as transfusões de sangue em testemunhas de Jeová, a instalação de manobras de “ressuscitação” cardiorrespiratória em pacientes com improvável possibilidade de cura, tratamentos que pressupõe algum tipo de mutilação, entre outros. • No passado, não se cogitava respeitar a autonomia do paciente e a decisão do médico era inquestionável. • Nos dias de hoje, cada vez mais, adquire força a decisão compartilhada, onde, em determinadas situações, prefere-se privilegiar a opinião do paciente, independentemente da do seu médico assistente. • Existe inclusive os instrumentos das “diretivas antecipadas de vontade ou do testamento vital”, onde o paciente explicita o que aceita e o que não aceita que seja realizado com ele em situações específicas. • A grande polêmica se instala quando o paciente é incapaz de expressar sua vontade, e a decisão final deve se apoiar na opinião de terceiros. - Qual o real direito de o familiar, ou responsável, decidir pelo paciente incapaz? - Por outro lado, qual o real direito de o profissional de saúde, em nome de um benefício questionável, decidir pelo que lhe parece mais adequado, contrariando o desejo da família ou do responsável legal? RECÉM-NASCIDOS E LACTENTES • É consenso que não se pode esperar que eles tenham autonomia para decidir se querem ou não, participar de pesquisas ou ser submetidos a de ter minadas condutas d iagnós t i cas e terapêuticas. - Nesse caso, quem dará a palavra final? - Por exemplo, quem pode garantir que um recém-nascido cuja família é contra um determinado procedimento por motivos religiosos, seguirá essa mesma religião no futuro? - Por outro lado, quem garante que agir contra os princípios religiosos, no caso, muito provável, daquela criança ser criada na fé do seu grupo familiar, pode ser considerado um ato de beneficência e não um grande malefício? Para instigar uma reflexão, vamos nos basear em um caso clínico: Gravidez de 28 semanas, feto diagnosticado com derrame pleural, possivelmente um quilotórax congênito, entra em sofrimento fetal e é indicado parto cesáreo de urgência. Esse evento ocorreu em um hospital universitário e contou com uma equipe completa de obstetra, neonatologista, anestesista e cirurgiões pediátricos presentes na sala de parto. A criança nasceu deprimida e foram realizadas as manobras de reanimação neonatal, concomitan- temente com a drenagem do quilotórax. O tempo de reanimação foi prolongado, mas a criança sobreviveu e foi enviada para a unidade de tra- tamento intensivo neonatal, com dreno torácico, intubada e em ventilação artificial, inicialmente com unidade ventilatória auto inflável e depois mantida em ventilador mecânico. O quadro foi considerado grave e, para complicar, foi diagnos- ticado, no ultrassom transfontanelar, hemorragia intracraniana de grau IV, com grande acometi- mento do parênquima cerebral. Apesar de ser um caso real, vamos aproveitá-lo para uma discussão bioética em dois cenários fictícios e diversos. CENÁRIO 1 Os pais são profissionais de saúde, fisioterapeutas, e informam que já lidaram com crianças com alterações neurológicas graves e que não desejam que se mantenham medidas extraordinárias de suporte. Você como neonatologista experiente acredita que, apesar de ser quase certa a possibilidade de sequelas neurológicas graves, há alguma chance de sobrevida com as medidas de terapia intensiva. Caso essa criança apresente bradicardia progressiva durante seu plantão, qual seria a sua conduta? Maria Vitória de Sousa Santos 1. Respeitaria o desejo dos pais e realizaria so- mente medidas de conforto para uma morte digna e tranquila do recém-nascido? 2. Ignoraria a opinião dos pais e, em nome do juramento hipocrático, reanimaria a criança, manteria o dreno torácico e a ventilação me- cânica, entraria com adrenalina venosa, solici- taria uma bateria de exames laboratoriais e de imagem, chamaria a equipe de cirurgia pediá- trica para avaliar o recém-nascido? CENÁRIO 2 Os pais são profissionais de saúde, fisioterapeutas, e informam que já têm experiência em lidar com crianças com alterações neurológicas graves e que desejam que se faça todo o possível para manter o filho vivo, mesmo sabendo das possibilidades de sequelas incapacitantes. Você como neonatologista experiente acredita que, a evolução para o óbito será praticamente inevitável, mas que o tempo de sobrevida poderá se alongar muito com as medidas de suporte intensivo. Caso essa criança apresente bradicardia progressiva durante seu plantão, qual seria a sua conduta? 1. Respeitaria o desejo dos pais e reanimaria a criança, manteria o dreno torácico e a ventila- ção mecânica, entraria com adrenalina venosa, solicitaria uma bateria de exames laboratoriais e de imagem, chamaria a equipe de cirurgia pediátrica para avaliar o recém-nascido? 2. Ignoraria a opinião dos pais, uma vez que pro- longar o processo de morrer com medidas ex- traordinárias, seria quase uma tortura para o recém-nascido, e realizaria somente medidas de conforto, para uma morte tranquila? DISCUSSÃO • Dá para notar que apesar da semelhança nos cenários existem alguns detalhes importantes. • Em ambos há uma não conformidade entre a opinião dos pais e do médico assistente. • No primeiro há um desejo familiar de evitar o sofrimento tanto da criança como de seus familiares, o princípio da não maleficência se sobressai. • Nesse caso, para os pais, manter a vida a qualquer custo não representa benefício,o importante não é apenas sobreviver, mas viver com dignidade. • Frente a essa reação, o profissional de saúde poderá ou não concordar com os pais. • Essa decisão geralmente vai depender de sua formação moral, ética, política e religiosa. • É muito importante notar que não se trata, aqui, de praticar eutanásia, mas apenas de se evitar a distanásia, caso o profissional decida por não utilizar das medidas heroicas e optar pelos cuidados paliativos, o que está previsto no Código de Ética Médica, no artigo 41, parágrafo único, do capítulo V§2. • Por outro lado, o médico que não realiza os procedimentos que poderia evitar a morte iminen- te, pode ser criticado por não estar seguindo o ju- ramento hipocrático e até mesmo o código de ética médica em seus artigos 31 e 32 do capítulo V§3. • Poderíamos dizer que qualquer que seja a sua decisão ela será eticamente defensável, depen- dendo de ser bem argumentada. • Mas, ela também poderá, sob o ponto de vista de outros argumentos, ser eticamente criticada. • No segundo cenário a situação se inverte. • Aqui os pais, apesar de bem informados, sobre a gravidade do caso, da possibilidade de sequelas neurológicas incapacitantes e até mesmo de se estar apenas prolongando artificialmente o processo de morte, optam e exigem do médico todos os procedimentos possíveis, ainda que com pouca chance de eficácia. • Já o médico acredita que prolongar o processo de morte com medidas fúteis seria inadequado. • Também aqui, resta ao profissional, seguir seus princípios éticos, morais, políticos e religiosos para tomar sua decisão. • Respeitar o desejo dos pais, implica em aceitar a a u t o n o m i a d o s f a m i l i a r e s , m a s n ã o necessariamente fazer o melhor para o paciente. • Por outro lado, seria também louvável a segunda conduta, argumentando que manter essa criança viva seria a custo de muito sofrimento com proced imentos invas ivos, podendo ser considerado como fúteis e ineficazes. • Diríamos, então que qualquer das duas seria eticamente defensável. • Mas, aqui também poderá haver opiniões divergentes e críticas éticas pertinentes. • Vejamos, na decisão de manter a vida a todo custo haveria procedimentos invasivos dolorosos e sofrimento para o recém-nascido. • Esta obstinação terapêutica não implica no que realmente seria melhor para ele. • Isso sem falar no ponto ainda mais polêmico da pol í t ica de alocação de recursos, com argumentação de que essa criança, praticamente, sem possibilidades de cura estaria ocupando um leito da, já insuficiente rede de tratamento intensivo, e impedindo que outra, com maior probabilidade de êxito terapêutico pudesse ser atendida. • Além disso, o custo operacional e financeiro da manutenção da vida dessa criança, poderia ser Maria Vitória de Sousa Santos iminente juramento melhor empregado em outros casos de melhor prognóstico. • Mas, caso o profissional optasse por não realizar as medidas solicitadas, ele poderia, como já dito acima ser criticado por não estar cumprindo sua função como médico e desrespeitando o artigo 31 e 32 do capítulo V, já citados. • Analisando friamente, tentando que convicções pessoais não interferissem, direcionando para uma ou outra opção, chegamos à conclusão que não podemos definir eticamente quem deve ter a última palavra sobre os procedimentos em indivíduos inca- pazes de decidir. • Mais ainda, descobrimos que, como no pensamento quântico, muitas vezes não é mais uma questão de escolher entre o certo ou o errado, mas nos convencermos de que qualquer escolha poderá estar certa e também errada, ao mesmo tempo. Observação: Para as duas situações, realizando ou não os procedimentos necessários, de acordo ou não com a vontade dos familiares as condutas estarão certas e dentro da lei. Maria Vitória de Sousa Santos PNEUMONIA O QUE É? • Pneumonia é uma infecção que se instala nos pulmões, órgãos duplos localizados um de cada lado da caixa torácica. • Pode acometer a região dos alvéolos pulmonares onde desembocam as ramificações terminais dos brônquios e, às vezes, os interstícios (espaço entre um alvéolo e outro). • Basicamente, pneumonias são provocadas pela penetração de um agente infeccioso ou irritante (bactérias, vírus, fungos e por reações alérgicas) no espaço alveolar, onde ocorre a troca gasosa. • Esse local deve estar sempre muito limpo, livre de substâncias que possam impedir o contato do ar com o sangue. ETIOLOGIA MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS 1. Febre alta; 2. Tosse; 3. Dor no tórax; 4. Alterações da pressão arterial; 5. Confusão mental; 6. Mal-estar generalizado; 7. Falta de ar; 8. Secreção de muco purulento de cor amarelada ou esverdeada; 9. Toxemia (danos provocados pelas toxinas carregadas pelo sangue); 10. Prostração (fraqueza). FATORES DE RISCO 1. Desnutrição 2. Baixa idade 3. Comorbidade 4. Gravidade da doença, que podem concorrer p/ óbito Observação: Outros fatores, como BPN, permanência em creche, episódios prévios de sibilos e pneumonia, ausência de aleitamento materno, vacinação incompleta, variáveis socioeconômicas e a m b i e n t a i s , t a m b é m c o n t r i bu e m p / a morbimortalidade. DIAGNÓSTICO Exame clínico, auscultação dos pulmões e radiografias de tórax são recursos essenciais para o diagnóstico das pneumonias. 1. Radiografia do tórax: Os principais padrões de alterações vistas na radiografia de tórax são: consolidação lobar, focos de consolidação, opacidades intersticiais e cavitação. Vale ressaltar que a radiografia é importante também para avaliar gravidade e identificar possíveis condições coexistentes, acompanhar evolução e resposta ao tratamento. 2. Hemograma: completa o diagnóstico clínico, podendo apresentar leucocitose (>12.000) ou leucopenia (<4000). Leucopenia em geral se c o r re l a c i o n a c o m p i o r p ro g n ó s t i c o , independentemente do agente etiológico. 3. Gasometria arterial: pode identificar hipoxemia (PaO2 ‹ 60mmHg) ou hipercapnia (PaCO2 > 45mmHg) e indicar suplementação de oxigênio ou internação na UTI. 4. Hemocultura: geralmente indicada aos pacientes com pneumonia considerada grave ou refratária ao tratamento. Serve para identificar o patógeno. 5. Proteína C reativa: Indica a presença de um quadro infeccioso. 6. PCR TRATAMENTO A depender do agente causador da doença, ou seja, vírus, bactérias, fungos, etc. Maria Vitória de Sousa Santos A l é m d o u s o a d e q u a d o d o s antimicrobianos, algumas recomendações são importantes: 1. M a n t e r a a l i m e n t a ç ã o d a c r i a n ç a , particularmente o aleitamento materno 2. Aumentar a oferta hídrica e 3. Manter as narinas desobstruídas. A falha terapêutica ambulatorial pode ser considerada se houver: 1. Persistência da febre 2. Queda do estado geral 3. Aparecimento de sinais de piora clínica ou de gravidade como tiragem subcostal, batimento de asas de nariz, gemência etc. INDICAÇÃO DE HOSPITALIZAÇÃO Os “sinais de perigo” apontados pela OMS indicam internação hospitalar imediata do paciente. Esses sinais em crianças menores de 2 meses são: 1. FR≥60irpm 2. Tiragem subcostal 3. Febre alta 4. Recusa do seio materno por mais de 3 mamadas 5. Sibilância 6. Estridor em repouso 7. Sensório alterado com letargia, sonolência anormal ou irritabilidade excessiva. Entre as maiores de 2 meses de vida, os sinais são: 1. Tiragem subcostal 2. Estridor em repouso 3. Recusa de líquidos 4. Convulsão 5. Alteração do sensório 6. Vômito de tudo que lhe é oferecido Outros sinais de PAC que indicam gravidade e necessidade de internação são: 1. Saturação de oxigênio menor que 92%; 2. Abolição do MV com possibilidade ou confirmação radiológica de complicações, como derrame pleural (DP) e empiema; 3. Desnutrição grave; 4. Sonolência; 5. Rebaixamento do nível de consciência 6. Recusa alimentar De forma geral têm-se como indicação parahospitalização nas seguintes situações: 1. < 2 meses; 2. Tiragem subcostal; 3. Convulsões 4. Sonolência excessiva; 5. Estridor em repouso; 6. Desnutrição grave; 7. Ausência de líquidos; 8. Sinais de hiporexia 9. Problemas sociais 10. Comorbidades 11. Falha terapêutica ambulatorial 12. Complicações radiológicas. COMPLICAÇÕES Complicações das PAC: 1. Abscesso 2. Atelectasia 3. Pneumonatocele 4. Pneumonia necrosante 5. Derrame pleural 6. Pneumotórax 7. Fístula broncopleural 8. Bronquiectasia 9. Septicemia 10. Infecções associadas 11. Sepse e choque séptico 12. Falência de múltiplos órgãos 13. Síndrome do desconforto respiratório agudo 14. Coagulação intravascular disseminada PREVENÇÃO • A PAC é uma doença da pobreza associada a fatores ambientais, desnutrição e outros. • Muitas internações e mortes seriam prevenidas com aleitamento materno exclusivo, adequada nutrição, vacinação geral e específica, higiene, água própria p/ o consumo e saneamento básico, melhorando as condições socioeconômicas, além de acesso simplificado e pleno ao sistema público de saúde, incluindo pré-natal apropriado e parto seguro. • O Brasil introduziu a vacina pneumocócica10- valente (VP-10) (7 sorotipos + 1, 5, 7F) no PNI em março de 2010. • O país dispõe, também, da vacina pneumocócica 13-valente (VP-13) (7 sorotipos + 1, 5, 7F, 3, 6A, 19A). • Estudos nacionais identificaram que, 1 ano após a introdução da vacina 10-valente na rede, houve redução das hospitalizações de crianças por pneumonia no Brasil. • Em contrapartida, as internações por outras causas não diminuíram. Maria Vitória de Sousa Santos Maria Vitória de Sousa Santos ANEMIAS A anemia é definida como síndrome caracterizada por diminuição de massa eritrocitária total. FATORES DE RISCO DE ANEMIA • A anemia apresenta diversos fatores de risco. A dieta vegetariana, por exemplo, causa anemia por deficiência de vitamina B12, enquanto o alcoolismo eleva o risco da anemia por deficiência de folato. • Algumas hemoglobinopatias são hereditárias, e certos fármacos e infecções predispõem à hemólise. Câncer, doenças reumáticas e doenças inflamatórias crônicas podem suprimir a produção de eritrócitos. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Sintomas Gerais 1. Astenia 2. Palidez Manifestações Cardiovasculares 1. Taquicardia 2. Palpitações 3. Sopro sistólico funcional Problemas neurológicos 1. Distúrbios da visão 2. Dores de cabeça Mudanças de comportamento e humor 1. Insônia Distúrbios do ritmo menstrual 1. Amenorréia Distúrbios renais 1. Edema Alterações do trato digestivo 1. Anorexia 2. Constipação DIAGNÓSTICO • A avaliação inicial do paciente com anemia inclui anamnese e exame físico minuciosos, além de exames laboratoriais. • Os sintomas relacionados à anemia dependem da idade, da capacidade física, do grau de anemia e do tempo de evolução. • Pacientes com evolução aguda apresentam sintomas com valores mais altos de hemoglobina, enquanto que os de evolução crônica exibem valores mais baixos. • Os sintomas usuais incluem astenia, cansaço, fraqueza, falta de ar e palpitações. • No exame físico o achado mais característico é a palidez mucocutânea. A investigação laboratorial inicial consiste na realização dos seguintes exames: 1. Hematócrito, hemoglobina e contagem de eritrócitos para avaliar o grau de anemia. 2. Índices hematimétricos (VCM, HCM e CHCM) para determinar se os eritrócitos são, em média, normocíticos, macrocíticos (VCM > 100) ou microcíticos (VCM < 80) e se são hipocrômicos. O aumento da amplitude de distribuição do volume dos eritrócitos (RDW) é uma medida de anisocitose. 3. Contagem de reticulócitos para estimar se a resposta medular sugere incapacidade da produção- ou hemólise-ou perda sanguínea recente. 4. Exame microscópico da distensão sanguínea (lâmina de sangue periférico) para avaliar o aspecto dos eritrócitos e as alterações concomitantes dos leucócitos e das plaquetas. CLASSIFICAÇÃO As síndromes anêmicas podem ser classificadas quanto à proliferação (pelo índice de reticulócitos) e quanto à morfologia (pela ectoscopia da hemácia ou valores de VCM e HCM). Anemia Ferropriva A deficiência de ferro representa a causa mais comum de anemia. Diagnóstico 1. Hemograma com anemia microcítica e hipocrômica. 2. Ferritina < 10 ng% 3. Ferro sérico < 30mcg% , o que denota baixo estoque 4. Capacidade de ligação ao ferro (TBIC) alta. Profilaxia Deverá ser feita com ferro oral, durante a gestação e a lactação, e mantida por 3 a 6 meses após a recuperação dos níveis hematimétricos, com a finalidade de manter reserva mínima de ferro: 300mg/dia de sulfato ferroso (60mg de ferro elementar). Tratamento 1. Suporte nutricional 2. Reposição de ferro, preferencialmente por via oral: 900mg/dia (180mg de ferro elementar), divididos em 3 tomadas. 3. Nos casos de intolerância gastrointestinal ou falha de resposta ao ferro oral, pode ser utilizado ferro por via parenteral: 10ml ou 200mg de hidróxido de ferro, diluídos em 200ml de soro fisiológico, durante uma hora. Administração semanal, em ambiente hospitalar. 4. A transfusão de hemácias deverá ser reservada para pacientes com sintomas que denotam grave hipóxia tecidual. Anemia Megaloblástica Pode ser causada por deficiência de vitamina B12 ou ácido fólico, que ocorre por baixa ingesta (deficiência de folato) ou por impacto na absorção, Maria Vitória de Sousa Santos como é o caso da anemia perniciosa (deficiência de vitamina B12). Diagnóstico 1. Neutrófilos plurissegmentados no sangue periférico. 2. A deficiência de vitamina B12 pode cursar com pancitopenia. 3. A investigação inicia-se pela dosagem de ácido fólico e vitamina B12. As dosagens séricas de ácido metilmalônico e homocisteina são usadas para confirmação diagnóstica. Profilaxia Reposição rotineira de ácido fólico, 5 mg/ dia, via oral. Conduta 1. Investigar as principais causas da deficiência de ácido fólico: nutricional, má absorção intestinal e uso de anticonvulsivantes, pirimetamina, trimetropim e álcool. 2. Tratar com ácido fólico via oral, 5 mg/dia via oral e/ou vitamina B12 intramuscular. EXAME FÍSICO • Na anemia moderada a grave ou mal-estar geral: icterícia, nódulos linfáticos aumentados (pescoço, axilas, virilhas), aumento do fígado e baço. • Além disso, em idosos: inspeção, ausculta e palpação do abdômen, exame de toque retal. PALPAÇÃO DE FÍGADO E BAÇO Tem como objetivo palpar órgãos abdominais em busca de visceromegalias e tumorações. 1. Palpação do fígado: O método mais utilizado na prática é o de Lemos Torres. Em que o examinador com a mão esquerda na região lombar direita do paciente. Tenta evidenciar o fígado para frente e com a mão direita espalmada sobre a parede anterior. Tenta palpar a borda hepática anterior durante a inspiração profunda. Deve ser avaliado a borda hepática, se tem borda fina ou romba; regularidade da superfície, sensibilidade, consistência, presença de nodulações. 2. Palpação do baço: Normalmente não é palpável, exceto quando atinge duas ou três vezes seu tamanho normal. Para palpá-lo, o examinador posiciona-se à direita do paciente e com a mão direita em garra tenta sentir o polo esplênico inferior durante a inspiração profunda próximo ao rebordo costal esquerdo. Causas de esplenomegalia: hipertensão portal, infecção, anemia hemolítica, linfomas, esquistossomose. Maria Vitória de Sousa Santos EXAME FÍSICO DOS LINFONODOS CADEIAS LINFÁTICAS SINAIS E SINTOMAS Os principais sinais e sintomas das afecções dos linfáticos são edema, linfadenomegalias e linfangite. EXAME FÍSICO • O exame dos linfonodos se faz por meio da inspeção e da palpação, um método completando o outro. • O lado contralateral deve ser sempre comparado. • A palpação é realizada com as polpas digitais e a face ventral dos dedos médio, indicador e polegar; no caso da extremidade cervical, ajusta- sea cabeça em uma posição que relaxe os músculos do pescoço, inclinando levemente a cabeça para o lado que se deseja examinar. • Os linfonodos cervicais são mais facilmente palpáveis com o examinador posicionado atrás do paciente. • Os linfonodos da cadeia jugular são mais bem examinados apreendendo-se o músculo esternocleidomastóideo entre o polegar e os dedos indicador e médio de uma das mãos. • Para a palpação das cadeias linfonodais, deve-se trazer os tecidos moles contra uma estrutura mais rígida. - Cadeia cervical superficial: apoia-se o polegar no músculo esternocleidomastóideo e com os quatro dedos movimentam-se os tecidos moles contra o músculo. - Cadeia submandibular e submentual: com os quatro dedos movimentam-se os tecidos da região contra a base da mandíbula. Diferentemente da palpação dos linfonodos, a palpação muscular deve ser feita “em garra”, ao longo do músculo, e ser bidigital na origem. • A palpação dos linfonodos das cadeias bucal, parotídea, pré-auricular, retroauricular e occipital deve ser feita utilizando-se a polpa dos dedos indicador e médio, executando-se movimentos giratórios. Maria Vitória de Sousa Santos • Para a palpação dos linfonodos axilares, retropeitorais e epitrocleanos, o examinador deve se colocar à frente do paciente. • Com o paciente sentado ou de pé, o examinador segura gentilmente o membro superior do lado a ser examinado, ligeiramente fletido, com a mão heteróloga. • Deve-se executar deslizamento suave com a pele contra o gradil costal da região axilar e infra- axilar, na região anterior, medial e posterior da fossa axilar A palpação dos linfonodos retropeitorais é realizada com o examinador em frente ao paciente. • Com a mão em pinça, procede-se à compressão e ao deslizamento em toda a face posterior acessível do músculo grande peitoral. • A palpação dos linfonodos epitrocleanos se faz em continuação à palpação dos linfonodos axilares e retropeitorais. • Para isso, mantém-se o membro superior do paciente em flexão, segurando o antebraço com a mão heteróloga. • Com a mão contrária, em posição de “pinça”, procede-se à compressão e ao deslizamento da goteira epitrocleana. • O paciente deve estar deitado, com a região a ser examinada despida, sendo a palpação dos linfonodos inguinais ou crurais feita com os dedos do examinador em extensão, deslizando suavemente, em movimentos circulares ou lineares. • Para a palpação dos linfonodos poplíteos o paciente deve estar em decúbito ventral, com a perna semifletida. • O examinador mantém os dedos estendidos ou em garra. • Cumpre ressaltar que os linfonodos desta região não são fáceis de serem palpados. • Completa-se a investigação examinando o trajeto dos linfáticos. • Os linfonodos profundos raramente são palpáveis, exceto quando hipertrofiados, formando blocos, mas podem ser avaliados pelos exames de imagem. CARACTERÍSTICAS SEMIOLÓGICAS Em condições normais, os linfonodos são individualizados, móveis, indolores e têm consistência borrachosa. Avaliar as seguintes características semiológicas: 1. Localização: É necessário saber não apenas a localização com referência às cadeias linfonodais, mas na própria cadeia quais linfonodos estão comprometidos, pois este conhecimento permite ao médico deduzir as áreas drenadas ou órgãos afetados. 2. Tamanho ou volume: Descreve-se esta característica estimando seu diâmetro em centímetros. Normalmente, os linfonodos variam de 0,5 a 2,5 cm de diâmetro. Linfonodos palpáveis podem ser normais em adultos. Nestes casos são bem individualizados, móveis e indolores. 3. Coalescência: É a junção de dois ou mais linfonodos, formando massa de limites imprecisos. A coalescência é determinada por Maria Vitória de Sousa Santos . processo inflamatório ou neoplásico da cápsula dos linfonodos acometidos, que os une firmemente, indicando maior tempo de evolução da doença. 4. Consistência: O linfonodo pode estar endurecido ou amolecido, com flutuação ou não. A primeira é própria dos processos neoplásicos ou inflamatórios com fibrose. Quando mole e/ou com flutuação, indica, em geral, processo inflamatório e/ou infeccioso com formação purulenta. 5. Mobilidade: Com palpação deslizante ou, se possível, fixando-o entre o polegar e o indicador, procura-se deslocar o linfonodo, o qual pode ser móvel ou estar aderido aos planos profundos, o que indica comprometimento capsular com participação das estruturas adjacentes. 6. Sensibilidade: O linfonodo pode estar doloroso ou não. Geralmente, as adenopatias infecciosas, bacterianas agudas, são dolorosas, p o d e n d o a c o m p a n h a r - s e d e o u t r a s características inflamatórias. São pouco dolorosos nos processos infecciosos crônicos e, em geral, indolores nas infecções virais e nos processos paras i tár ios. Os l infonodos metastáticos, além de terem consistência pétrea, são indolores. Os linfonodos leucêmicos ou linfomatosos são indolores ou levemente doloridos. 7. Alteração da pele: Observar a presença de sinais flogísticos (edema, calor, rubor e dor) e de fistulização, descrevendo se o tipo de secreção que flui pela fístula. Maria Vitória de Sousa Santos LINFADENOPATIA O QUE É LINFADENOPATIA? • Os nódulos ou gânglios linfáticos são estruturas do sistema linfático presentes em todo o corpo, especialmente no pescoço, virilha e axila. • Neles, estão localizadas células do sistema imunológico, que defendem nosso corpo contra infecções causadas por vírus ou bactérias. • Os nódulos linfáticos aumentam de tamanho quando há um ataque, principal característica da linfadenopatia. • Geralmente, na linfadenopatia, os gânglios linfáticos apenas ficam inchados, sem que haja qualquer tipo de sintoma relacionado a eles, como dor ou vermelhidão. • De modo geral, a linfadenopatia acaba servindo mais como um sintoma de outras condições e doenças, do que como uma doença por si só. QUAIS SÃO AS CAUSAS DE LINFADENOPATIA? • De modo geral, a linfadenopatia acontece porque o organismo está combatendo algum tipo de infecção ou doença próximo ao linfonodo que está inchado. • Assim, se o paciente possui alguma infecção no trato respiratório superior, como sinusite e dor de garganta, por exemplo, ele pode apresentar um inchaço nos gânglios linfáticos localizados ao redor do pescoço. • A l in fadenopat ia também pode ser desencadeada devido a doenças autoimunes, em que o próprio sistema imunológico do paciente acaba atacando suas estruturas internas. • Por fim, a linfadenopatia, combinada com outros sintomas , pode ser um importante sinal de doenças mais sérias, como o câncer, a tuberculose ou a infecção pelo HIV. • No entanto, é importante ressaltar que é relativamente raro que os gânglios linfáticos desses pacientes fiquem inchados, portanto, é recomendado ter bastante cautela ao realizar esse tipo de diagnóstico. • Geralmente, os sinais de alerta acontecem quando o paciente apresenta um inchaço nos linfonodos, mas também outros sintomas como perda de peso sem motivo aparente e febre sem motivo aparente. Usa-se o mnemônico CHICAGO. 1. Câncer. 2. Hipersensibilidade. 3. Infecções. 4. Doença vascular do colágeno. 5. Distúrbios linfoproliferativos atípicos. 6. Doença granulomatosa. 7. Outras causas. QUAIS SÃO OS SINAIS DE LINFADENOPATIA? • O principal sinal de linfadenopatia é o aumento do tamanho dos gânglios linfáticos, localizados no pescoço, na axila e na virilha, mas também em outros pontos diferentes do organismo do paciente. • Linfonodos que causam dor, que apresentam uma secreção purulenta ou estão mais avermelhados e muito inchados podem estar passando por um processo de inflamação, na chamada linfadenite. Observação: linfonodo aderido, endurecido, indolor, disseminado e maior que 4 cm (maligno). Linfonodo móvel, elástico, doloroso, pequeno e localizado (benigno). EXAME FÍSICO Avalia-se os linfonodosquanto ao tamanho, consistência, mobilidade, distribuição e simetria dos linfonodos. 1. Tamanho: são anormais se > 1 cm (no entanto, os linfonodos inguinais podem ter até 2 cm). Linfonodos < 1 cm raramente são clinicamente significativos. Os linfonodos > 2 cm que persistem > 4 semanas devem ser avaliados. 2. Consistência : não é confiável para diferenciar entre etiologias malignas e benignas. Em geral, os linfonodos rígidos são mais comumente observados em neoplasias malignas. Linfonodos sensíveis à palpação sugerem etiologia inflamatória. Maria Vitória de Sousa Santos 3. Mobilidade: linfonodos normais podem ser movidos livremente no espaço subcutâneo. Os anor mai s podem se to r nar fixos ou emaranhados aos tecidos adjacentes ou a outros nódulos por cânceres invasivos. A avaliação da mobilidade de linfonodos supraclaviculares é melhorada se o paciente realizar manobra de Valsava durante o exame. 4. Distribuição: pode ser localizada (linfonodos aumentados em 1 região) ou generalizada (linfonodos aumentados em 2 ou mais regiões não contíguas). Geralmente, a linfadenopatia generalizada é manifestação de doença sistêmica. 5. Localização: linfonodos supraclaviculares, poplíteos, ilíacos e epitrocleares palpáveis são anormais e são mais sugestivos de neoplasias. Adenopatia supraclavicular esquerda (nódulo de Virchow) sugere câncer gastrointestinal ou torácico. Linfadenopatia inguinal pode ocorrer em pacientes saudáveis. DIAGNÓSTICO Se história e Exame Físico forem insuficientes para diagnóstico específico, pode-se realizar exames como hemograma completo, cultura faríngea, teste monospot, teste de HIV, sorologias para hepatite, inoculação de PPD, radiografia torácica. Biópsia A biópsia é feita excisional. Caso não seja possível, pode-se fazer punção por agulha grossa. A punção por agulha fina é mais útil para obter células para a citopatologia. Indicações incluem: 1. Linfadenopatia generalizada, nos quais os estudos iniciais não são diagnósticos. 2. Linfadenopatia persistente localizada, nos quais os estudos iniciais não são diagnósticos e há risco elevado para neoplasia maligna. 3. Pacientes que apresentem linfadenopatia cervical com risco aumentado de neoplasia. Deve-se encaminhar a ORL. 4. Suspeita de neoplasia maligna. - Observação: Biópsia apenas quando surge sinal de alerta. Exames de Imagem Podem diferenciar entre linfadenopatia benigna e maligna e ser usadas para selecionar linfonodo com características suspeitas de neoplasia maligna para biópsia. 1. US: os linfonodos malignos apresentam-se mais arredondados, com hilo não é visível, necrose in t ranoda l , re t i cu lação, ca l c ificação, fosqueamento. 2. TC: permite diferenciar entre linfonodos benignos e malignos com base na composição. Bioquímica geral 1. Hemograma, Ureia, Creatinina, TGO, TGP, DHL, ácido úrico. 2. Padrão infeccioso no hemograma: viral? Bacteriano? 3. Citopenias no hemograma? 4. DHL↑: hemólise? Neoplasia? 5. Ácido úrico ↑: Neoplasia? Sorologia Pesquisa e cultura para Streptococcus ß-hemolíticos do grupo A, sorologias para EBV, CMV, HIV, sífilis e toxoplasmose), hemoculturas e culturas de secreções de pele (nos pacientes que apresentam lesões supurativas), culturas e pesquisas em linfonodos para bactérias, micobactérias e fungos (a partir de material proveniente de biópsia excisional, de aspirado ou de secreção drenada) são bastante úteis e certamente muito específicas nos casos em que se suspeita de causa infecciosa para o caso. QUA NDO DEVO M E PR EOCU PA R COM UM A LINFADENOPATIA? Quando existe a presença de linfonodos aumentados com sinais de alarme. Nesses casos a biópsia excisional é mandatária. LINFONODOS SEM SINAL DE ALARME • Observação clínica • Analgésico: AINES • Sinal flogístico : Usar antibiótico • Crescimento progressivo e não progressivo: Biópsia alarme. Maria Vitória de Sousa Santos VIROSES EXANTEMÁTICAS • Viroses exantemáticas são moléstias infecciosas nas quais a erupção cutânea é a característica dominante. • A análise do tipo da lesão, dos sinais e dos sintomas concomitantes e a epidemiologia, algumas vezes, permitem inferir o diagnóstico etiológico, sem a necessidade de exames laboratoriais complementares, como no sarampo, na varicela e na doença mãos-pés-boca. • Em outras, apenas os exames laboratoriais permitem confirmar a etiologia, como acontece com os enterovírus, os adenovírus, a rubéola, etc. • Exantemas de causa viral são extremamente frequentes na infância. • Embora a maioria seja originária de doenças autolimitadas e benignas, algumas podem ser expressões de moléstias mais graves. • Portanto, a presença de exantema em uma criança com doença aguda febril demanda consideração para uma série de moléstias, muitas delas não sendo de origem infecciosa. • Seis doenças exantemáticas foram denominadas clássicas: sarampo, escarlatina, rubéola, doença de Filatow-Dukes (hoje não mais considerada entidade nosológica separada), eritema infeccioso e exantema súbito. MECANISMOS DE AGRESSÃO À PELE Os micro-organismos podem causar erupção cutânea por: 1. Invasão e multiplicação direta na própria pele, por exemplo, na infecção pelo vírus da varicela- zóster e do herpes simples; 2. Ação de toxinas, como na escarlatina e nas infecções estafilocócicas; 3. Ação imunoalérgica com expressão na pele, mecanismo mais frequente nas viroses exantemáticas; 4. Dano vascular, podendo causar obstrução e necrose da pele, como na meningococcemia ou na febre purpúrica brasileira. Essas reações aparecem na pele como lesões distintas: 1. Mácula: É uma lesão plana, não palpável; 2. Pápulas: São lesões pequenas perceptíveis ao tato que, quando maiores, são chamadas de nódulos; 3. Vesículas: São pequenas lesões que contêm líquido e, quando maiores, são chamadas de bolhas. 4. Pústulas: Lesões que contém líquido purulento. 5. Placas: São lesões planas, mas elevadas, perceptíveis ao tato e grandes. Observação: As lesões podem ter cor eritematosa – que, quando desaparece com a vitropressão, é decorrente de uma vasodilatação e, quando não, de extravasamento de sangue do vaso, sendo, então, chamadas de purpúricas –, podem ser pequenas, petequiais, ou maiores, equimóticas. Podem, ainda, ser divididas em morbiliformes, quando existem áreas de pele sã entre as lesões e escarlatiniformes, quando o acometimento é difuso. VIROSES EXANTEMÁTICAS DA INFÂNCIA SARAMPO É uma doença quase erradicada em nosso meio, graças às campanhas de vacinação, mas até um passado recente provocava grandes epidemias; 1. Etiologia: Paramixovírus; 2. Mecanismo de transmissão: Via aérea, por meio de aerossol; 3. Tempo de incubação: 8 a 12 dias; 4. Tempo de contágio: Desde 2 dias antes do início do pródromo até 4 dias após o aparecimento do exantema(erupção cutânea avermelhada que surge devido a dilatação dos vasos sanguíneos ou inflamação; 5. Cuidados com os contactantes: aplicar a vacina contra o sarampo até 72 horas após o contágio; após esse período, até 6 dias, aplicar a imunoglobulina humana normal. Para crianças normais, a dose é de 0,25 mL/kg; nos imunodeprimidos, é 0,5 mL/kg; 6. Quadro clínico: A doença começa com pródromos que duram de 3 a 4 dias, com febre, tosse, cefaleia, mal-estar, prostração intensa, incomum em doenças virais. A febre é elevada, atingindo o auge na época do aparecimento do exantema, o que difere também da maioria das viroses, e cai em lise no terceiro ou quarto dia do exantema. A tosse é seca, intensa (incomoda o paciente), está sempre presente e é acompanhada de uma coriza abundante, hialina no início e purulenta nos dias subsequentes. Os olhos ficam hiperemiados, com lacrimejamento e fotofobia e, nos casos mais graves, ocorre edema bipalpebral. A prostração pode ser intensa, denotando Maria Vitória de Sousa Santos comprometimento sistêmico. O enantema é a primeiramanifestação mucocutânea a aparecer e é caracter í s t ico. A orofar inge fica hiperemiada e na região oposta aos dentes molares aparecem manchas branco-azuladas, pequenas, de cerca de 1 mm de diâmetro, chamadas de manchas de Koplik (patognomônico); 7. Exantemas: As manchas aparecem 1 ou 2 dias antes do exantema e desaparecem 2 ou 3 dias depois. O exantema inicia-se atrás do p av i l h ã o a u r i c u l a r, d i s s e m i n a n d o - s e rapidamente para o pescoço, a face e o tronco e atinge a extremidade dos membros por volta do terceiro dia. Ele é maculopapular eritematoso, m o r b i l i f o r m e c o m o re g r a , m a s , e m determinadas áreas, pode confluir. - Observação: Na fase do exantema, a doença atinge o seu auge, ficando o paciente toxêmico, febril, com os olhos hiperemiados, queixando-se da claridade, com intensa rinorreia e tosse im- placável. O exantema começa a esmaecer em torno do terceiro ou quarto dia, na mesma sequência que apareceu, deixando manchas acastanhadas. 8. Complicações: O número de complicações é grande, podendo-se citar, entre elas: laringite, traqueobronquite, pneumonite intersticial, miocardite, diarreia com perda importante de proteína e panencefalite esclerosante subaguda. Otite média é a principal complicação bacteriana. Também podem suceder sinusite, p n e u m o n i a b a c t e r i a n a , p ú r p u r a trombocitopênica, encefalomielite, reativação de tuberculose pela imunodepressão. 9. Tipos: Sarampo modificado e o sarampo atípico. O primeiro acontece quando o vírus acomete pessoas que têm imunidade relativa, ou pela aquisição intrauterina de anticorpos (portanto, ocorre apenas em crianças pequenas). Já o sarampo atípico, que ocorre em crianças que previamente tinham tomado vacina de vírus morto, é mais grave, com febre alta, cefaleia, mialgia, pneumonite grave e derrame pleural. Esta última forma de apresentação do sarampo, apesar de rara, é uma preocupação, em decorrência da teórica possibilidade de ocorrer se as vacinas não forem bem conservadas: 10. Diagnóstico: Clínica, dosagem de anticorpos pela inibição de hemaglutinação (IH), neutralização, fixação de complemento (CF), realizada na fase inicial e 2 a 3 semanas após, com aumento de 4 vezes o título, ou pela pesquisa de anticorpos da classe IgM, os quais se positivam a partir do sexto dia do exantema. 11. Prevenção: É feita com vacina de vírus vivo e atenuado, aplicada no 12o mês de vida, e dose de reforço entre 4 e 5 anos de idade. Como após os 12 anos muitas pessoas perdem os anticorpos, podendo contrair a doença, já em uma idade de maior risco de complicações, recomenda-se que se aplique mais um reforço nesse grupo etário. RUBÉOLA 1. Etiologia: togavírus; 2. Transmissão: via aérea, por meio de perdigotos; 3. Tempo de incubação: 14 a 21 dias; 4. Tempo de contágio: De poucos dias antes até 5 a 7 dias depois da erupção; 5. C u i d a d o s c o m o s c o n t a c t a n t e s : Observação; 6. Quadro clínico: Principalmente em crianças não se observa pródromo (febre), mas em adolescentes e em adultos podem aparecer sintomas gerais brandos antecedendo 1 a 2 dias o exantema que se inicia na face, espalhando-se rapidamente para o pescoço e o tronco e atingindo os membros já em 24 horas. O exantema é maculopapular róseo, pode, eventualmente, coalescer no tronco e tem curta duração, de 3 ou menos dias. Em alguns casos, observam-se, no palato mole, lesões petequiais, Maria Vitória de Sousa Santos . conhecidas como sinal de Forscheimer, que não é patognomônico dessa doença. Um achado marcante, entretanto, é a adenomegalia, que pode anteceder em até 7 dias o exantema. São acometidos, principalmente, os gânglios da cadeia cervical e retroauricular. Metade dos casos apresenta esplenomegalia discreta. - Observação: A grande importância da rubéola é na gestação em consequência da possibilidade de promover dano fetal; a vacinação em crianças visa fundamentalmente a proteger as mulheres suscetíveis do seu convívio; 7. Diagnóstico: Clínica, isolamento do vírus do material de nasofaringe ou da urina. Pesquisa de anticorpos da classe IgM e de IgG contra rubéola no soro; 8. Prevenção: É realizada com a vacina de vírus vivo e atenuado, que é aplicada após os 12 meses de idade. ERITEMA INFECCIOSO 1. Etiologia: Parvovírus humano B19; 2. Transmissão: Via aérea, por perdigotos; 3. Tempo de incubação: 4 a 14 dias; 4. Tempo de contágio: Desconhecido; 5. C u i d a d o s c o m o s c o n t a c t a n t e s : Observação, principalmente das pessoas que tenham hemoglobinopatia; 6. Isolamento: Desnecessário; 7. Quadro clínico : Em geral , não há pródromos. O primeiro sinal costuma ser o exantema, que se inicia na face como maculopápulas que confluem, tornando-se uma p l aca ve r me lho - rubra , concen t rada , principalmente, na região das bochechas. Poupa a região perioral, a testa e o nariz, conferindo um aspecto de “asa de borboleta”, semelhante ao observado no lúpus eritematoso. Dá às crianças aspecto de “cara esbofeteada”. Depois de 1 a 4 dias, o exantema evolui, acometendo os membros superiores e inferiores, inicialmente em sua face extensora e, mais tarde, na flexora. A lesão da pele inicia-se como uma mácula que vai aumentando de tamanho, deixando a região central mais pálida, conferindo um aspecto tipicamente rendilhado. Nessa fase, o tronco pode ficar acometido. O exantema pode persistir por um período longo, até mais de 10 dias, e exacerbar- se ou reaparecer quando a criança é exposta ao sol, faz exercício ou quando há alterações de temperatura. Recorrência das lesões, mesmo após 1 a 2 semanas do desaparecimento, é descrita. A evolução é, em geral, afebril, podendo ser acompanhada de artralgias e de artrites. A síndrome das luvas e meias é também atribuída ao parvovírus. Essa apresentação incomum ocorre em crianças e adultos jovens e é caracterizada por lesões purpúricas simétricas e eritematosas indolores nas mãos e nos pés. Mais eventualmente, acomete bochecha, cotovelo, joelho e nádega. Pode ser acompanhada por sintomas gerais, porém é autolimitada, melhorando em 1 a 2 semanas. Outros agentes infecciosos podem estar relacionado a essa síndrome. 8. Diagnóstico: Sorologia para parvovírus humano B19; 9. Prevenção: Não existe. ROSÉOLA INFANTIL OU EXANTEMA SÚBITO 1. Etiologia: herpes-vírus humano 6 (HVH6) e 7 (HVH7); 2. Transmissão: Provavelmente por perdigotos; 3. Tempo de incubação: 5 a 15 dias; Maria Vitória de Sousa Santos 4. Tempo de contágio: Durante a fase de viremia, sobretudo no período febril; 5. C u i d a d o s c o m o s c o n t a c t a n t e s : Oservação; 6. Isolamento: Desnecessário; 7. Quadro clínico: Acomete, virtualmente, apenas as crianças entre 6 meses e 6 anos de idade, predominando nas menores de 2 anos. Isso sugere que haja certa proteção pelos anticorpos maternos e que o vírus seja altamente predominante na comunidade, uma vez que na idade pré-escolar quase todas as crianças já estão imunes. O início da doença é súbito, com febre alta e contínua (a criança fica extremamente irritada e anorética) e é considerada uma das causas mais comuns de convulsão febril. Não há toxemia, apesar da magnitude da febre. Linfonodomegalia cervical é achado muito frequente, assim como a hiperemia de cavum. Após 3 a 4 dias de febre, quando esta cessa bruscamente, aparece o exantema, também de modo súbito, constituído por lesões maculopapulares rosadas que se iniciam no tronco e se disseminam para a cabeça e as extremidades. A erupção é de curta duração, de algumas horas a 2 ou 3 dias, desaparecendo sem deixar descamação ou hiperpigmentação. O exantema pode passar despercebido. 8. Diagnóstico: Apenas a presença do herpes- vírus humano 6 ou 7 no sangue periférico fornece o diagnóstico de infecção primária. Podem ser realizados testes para detecção de anticorpos, mas o seu resultado deve ser analisado comcuidado, em razão da possibilidade de haver infecções crônicas (como todo herpes-vírus) com reativações. 9. Prevenção: Não existe. MONONUCLEOSE INFECCIOSA • Atualmente, a mononucleose infecciosa é considerada uma síndrome; o vírus Epstein-Barr é o responsável por cerca de 80% dos casos. - Observação: A ocorrência de erupção cutânea não ultrapassa os 10 a 15% dos casos, exceto quando se administra penicilina ou ampicilina ao paciente. 1. E t i o l o g i a : V í r u s E p s t e i n - B a r r , citomegalovírus, o vírus da imunodeficiência adquirida, o vírus da hepatite B e, dentre os não virais, o Toxoplasma gondii. 2. Transmissão: A transmissão pode ocorrer por transfusão de derivados de sangue, mas mais frequentemente por meio do beijo entre uma pessoa não infectada e uma pessoa EBV- soropositiva assintomaticamente transmissora do vírus. Somente cerca de 5% dos pacientes adquirem EBV de alguém com infecção aguda. 3. Manifestações clínicas: Os sintomas preva lente s nes sa doença são febre, linfonodomegalia, hepatoesplenomegalia e faringoamigdalite. O tipo de exantema é variável, sendo, na maioria das vezes, maculopapular, mas podem ocorrer erupções petequiais, papulovesiculares, escarlatiniformes e urticariformes. As erupções são mais evidentes na presença dos antibióticos citados. 4. Tratamento : Cu idados de supor te. Possivelmente, os corticoides são úteis nas formas graves da doença. Pacientes são encorajados a descansar durante a fase aguda, mas devem re tomar suas a t i v idades rapidamente quando a febre, a faringite e o mal-estar cederem. Para prevenir ruptura de baço, devem ser evitados levantamento de peso e jogos esportivos de contato por 1 mês após o início da doença e até que a esplenomegalia (que pode ser monitorada por ultrassonografia) se resolva. Maria Vitória de Sousa Santos VARICELA 1. Etiologia: Vírus da varicela-zóster, do grupo herpes. 2. Transmissão: Por aerossol, contágio direto e pela transmissão vertical; 3. Tempo de incubação: 10 a 21 dias; 4. Tempo de contágio: Do décimo dia após o contato até a formação de crostas de todas as lesões; 5. Isolamento: Respiratório e de contato; 6. Cuidados com os contactantes : a imunoglobulina humana antivírus varicela- zóster (VZIG) deve ser indicada nas seguintes situações: crianças imunocomprometidas, sem história prévia de catapora; gestantes suscetíveis; recém-nascidos cuja mãe tenha tido catapora dentro de 5 dias antes ou 48 horas após o parto; prematuros (gestação com 28 semanas) cuja mãe não tenha tido varicela; e prematuros (gestação com menos de 28 semanas) independentemente da história materna. 7. Quadro clínico: Principalmente em crianças, o exantema é o primeiro sinal da doença, mas, eventualmente, podem-se notar febre baixa e mal-estar, os quais são mais proeminentes em adolescentes e em adultos. A erupção inicia-se na face, como máculas eritematosas que rapidamente se tornam pápulas, vesículas, pústulas e, finalmente, crostas. Essas lesões aparecem em surtos, geralmente por 3 a 5 dias, antecedidas por febre (viremia), promovendo um aspecto polimórfico do exantema. O envolvimento do couro cabeludo e das mucosas orais e genitais é frequente. As crostas permanecem por 5 a 7 dias e depois caem, deixando uma mácula branca, que não é permanente. 8. Síndrome de Reye: Degeneração aguda do fígado acompanhada de encefalopatia hipertensiva grave tem sido descrita em crianças com varicela, mormente quando receberam ácido aceti lsal icí l ico como antitérmico; 9. Tr a t a m e n t o : N o s p a c i e n t e s c o m imunodepressão ou que apresentem risco de doença grave com acometimento visceral, há indicação de tratamento antiviral com o uso de aciclovir; 10. Diagnóstico: Clínica. Na fase de vesícula, o exame do líquido da lesão pela microscopia eletrônica fornece o diagnóstico imediato. Anticorpos podem ser detectados pelo teste de imunofluorescência indireta (IFI); 11. Prevenção: Vacina antivaricela (vírus vivo atenuado). 12. Complicações: A varicela costuma ser uma doença benigna; entretanto, complicações às vezes muito sérias são observadas. Dentre elas, podem-se citar: infecções bacterianas secundárias: são as complicações mais frequentes, causadas por estreptococos e estafilococos. Podem ser pouco graves, como piodermites (quando a “catapora irá deixar marca”), ou mais sérias, como a erisipela e a celulite. Ocasionalmente, servem de porta de entrada para infecções sistêmicas; Pneumonia: a pneumonite intersticial parece ser regra na varicela e é, em geral, um achado radiológico. Entretanto, em algumas ocasiões, assume proporções mais graves, evoluindo para insuficiência respiratória, às vezes fatal. Encefalite: o acometimento do SNC não é frequente e pode anteceder ou preceder o exantema. A região mais frequentemente atingida é o cerebelo, traduzindo-se por ataxia. A encefalite, por sua vez, é responsável por sonolência, coma e hemiplegia, podendo deixar sequelas; Maria Vitória de Sousa Santos SÍNDROME MÃO-PÉ-BOCA • A doença mão-pé-boca é uma enfermidade contagiosa causada pelo enterovírus 17 (menos comum) e o vírus Coxsackie da família dos enterovírus que habitam normalmente o sistema digestivo e também podem provocar estomatites (espécie de afta que afeta a mucosa da boca). • Embora possa acometer também os adultos, ela é mais comum na infância, antes dos cinco anos de idade. • O nome da doença se deve ao fato de que as lesões aparecem mais comumente em mãos, pés e boca. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS São sinais característicos da doença: 1. Febre alta nos dias que antecedem o surgimento das lesões; 2. Aparecimento, na boca, amídalas e faringe, de manchas vermelhas com vesículas branco- acinzentadas no centro que podem evoluir para ulcerações muito dolorosas; 3. Erupção de pequenas bolhas em geral nas palmas das mãos e nas plantas dos pés, mas que pode ocorrer também nas nádegas, face, joelhos, cotovelos e na região genital; 4. Mal-estar, falta de apetite, vômitos e diarreia; 5. Por causa da dor, surgem dificuldade para engolir e muita salivação; 6. Anorexia (principal motivo para internação). TRANSMISSÃO • A transmissão se dá pela via fecal/oral, através do contato direto entre as pessoas ou com as fezes, saliva e outras secreções (conteúdo de vesículas), ou então através de alimentos e de objetos contaminados. • Mesmo depois de recuperada, a pessoa pode transmit ir o v írus pelas fezes durante aproximadamente quatro semanas. • O período de incubação oscila entre um e sete dias. Na maioria dos casos, os sintomas são leves e podem ser confundidos com os do resfriado comum. DIAGNÓSTICO O diagnóstico é eminentemente clínico. TRATAMENTO • Ainda não existe vacina contra a doença mão-pé- boca. • Em geral, como ocorre com outras infecções por vírus, ela regride espontaneamente depois de alguns dias. • Por isso, na maior parte dos casos, tratam-se apenas os sintomas. • Medicamentos antivirais ficam reservados para os casos mais graves. • O ideal é que o paciente permaneça em repouso, tome bastante líquido e alimente-se bem, apesar da dor de garganta. RECOMENDAÇÕES 1. Nem sempre a infecção pelo vírus Coxsackie provoca todos os sintomas clássicos da síndrome. Há casos em que surgem lesões parecidas com aftas na boca ou as erupções cutâneas; em outros, a febre e a dor de garganta são os sintomas predominantes; 2. Alimentos pastosos, como purês e mingaus, assim como gelatina e sorvete, são mais fáceis de engolir; 3. Bebidas geladas, como sucos naturais, chás e água são indispensáveis para manter a boa hidratação do organismo, uma vez que podem ser ingeridos em pequenos goles; 4. Sempre lavar as mãos antes e depois de lidar com a criança doente, ou levá-la ao banheiro. Se ela puder fazer isso sozinha, insistir para que adquira e mantenha esse hábito de higiene mesmo depois de curada; 5. Evitar,na medida do possível, o contato muito próximo com o paciente (como abraçar e beijar); 6. Cobrir a boca e o nariz ao espirrar ou tossir; 7. Manter um nível adequado de higienização da casa, das creches e das escolas; 8. Não compartilhar mamadeiras, talheres ou copos; 9. Afastar as pessoas doentes da escola ou do trabalho até o desaparecimento dos sintomas (geralmente 5 a 7 dias após início dos sintomas); 10. Lavar superfícies, objetos e brinquedos que possam entrar em contato com secreções e fezes dos indivíduos doentes com água e sabão e, após, desinfetar com solução de água sanitária diluída em água pura; 11. Descartar adequadamente as fraldas e os lenços de limpeza em latas de lixo fechadas. COMPLICAÇÕES • Quando causada pelo enterovírus A71, a doença tende a ser mais grave, podendo cursar com Maria Vitória de Sousa Santos complicações como encefalite, meningite asséptica, edema e hemorragia pulmonar e insuficiência cardíaca. • Desde 2008, um novo genótipo de Coxsackie vírus A6 tem sido associado a uma doença mais severa que ocorre como a doença mão-pé-boca típica, porém apresenta febre mais elevada, lesões na face e no períneo, maior duração (12 dias), descamação palmoplantar de 1 a 3 semanas depois e onicomadese (queda das unhas) 1 a 2 meses depois do quadro agudo. Maria Vitória de Sousa Santos Maria Vitória e Ana Beatriz (MED 35) CASOS CLÍNICOS P/ OSCE (PEDIATRIA) CASO 1 Em consulta ambulatorial de rotina de menina de seis anos de idade sem queixas, os valores da medida de PAS e PAD encontram-se entre os percentis 90 e 95 para a idade, sexo e percentil de estatura. O restante de seu exame clínico encontra-se normal. Realize a aferição da PA da criança e classifique o valor encontrado (considerar o mesmo do comando). 1. Apresentar-se para o paciente 2. Confirmar o nome do paciente, idade e data de nascimento 3. Confirmar a queixa principal do paciente 4. Perguntar sobre outros sintomas 5. Pedir permissão e explicar como se dará o exame 6. Questionar sobre (bexiga cheia, exercício nos últimos 60min, alimentação). 7. Lavar as mãos/ higienizar com álcool se com o estetoscópio limpá-lo 8. Realizar o exame 9. Higienizar as mãos 10. Falar ou escrever o possível diagnóstico para o ator e/ou avaliador TEMA: AFERIÇÃO DE PA (PEDIATRIA) Resposta: entre 90-95 (Pressão elevada) CASO 2 Recém-nascido, sexo feminino, com 23 dias de vida, em aleitamento materno exclusivo. História de parto cesáreo, a termo, peso ao nascimento 3.200 gramas. Consulta na Unidade Básica de Saúde com relato de que, há uma semana, começou a apresentar cansaço às mamadas e suando muito. Ao exame físico, observa-se bom estado geral com taquipneia, pressão arterial divergente, pulsos com amplitude aumentada, precórdio hiperdinâmico e sopro contínuo com irradiação e audível também no dorso. Realize a ausculta cardíaca, verbalize o sopro encontrado, bem como o possível diagnóstico. 1. Apresentar-se para o paciente 2. Confirmar o nome do paciente, idade e data de nascimento 3. Confirmar a queixa principal do paciente 4. Perguntar sobre outros sintomas 5. Questionar sobre uso de medicamentos 6. Pedir permissão e explicar como se dará o exame 7. Lavar as mãos/ higienizar com álcool se com o estetoscópio limpá-lo 8. Realizar o exame 9. Higienizar as mãos 10. Falar ou escrever o possível diagnóstico para o ator e/ou avaliador Maria Vitória e Ana Beatriz (MED 35) TEMA: AVALIAÇÃO CARDIOVASCULAR (AUSCULTA) Resposta: É uma cardiopatia congênita acianótica. Surge logo após a emergência da artéria subclávia esquerda Possui como característica sopro sistólico principalmente em região infraclavicular esquerda com irradiação para o dorso Também chamado de sopro em maquinária CASO 3 Paciente, 1 ano e 6 meses, com história de cianose central, veio com a mãe para avaliação na emergência. No momento, encontra-se com saturação de 55%, informa melhora na posição de cócoras. Após preceder com ausculta completa e analisar exame complementar, informe o seu diagnóstico. 1. Apresentar-se para o paciente 2. Confirmar o nome do paciente, idade e data de nascimento 3. Confirmar a queixa principal do paciente 4. Perguntar sobre outros sintomas 5. Questionar sobre histórico familiar de cardiopatias 6. Pedir permissão e explicar como se dará o exame 7. Lavar as mãos/ higienizar com álcool se com o estetoscópio limpá-lo 8. Realizar o exame 9. Higienizar as mãos 10. Falar ou escrever o possível diagnóstico para o ator e/ou avaliador TEMA: CARDIOPATIAS CONGÊNITAS Resposta: • À ausculta: sopro de estenose pulmonar. • Diagnóstico: Tetralogia de Fallot (CIV, estenose pulmonar, hipertrofia de VD e dextroposição da A. aorta). CASO 4 Um paciente de 10 anos foi internado devido a pneumonia, cursando com quadro de hipotensão grave, turgência jugular e pulso paradoxal. A ausculta pulmonar revela MV reduzido no terço inferior esquerdo. Foram realizados o ECO e o RX do paciente, resultados apresentados abaixo. Informe o achado do ECO e do RX e diga a possível causa de tais alterações com base no histórico do paciente. 1. Apresentar-se para o paciente 2. Confirmar o nome do paciente, idade e data de nascimento 3. Confirmar a queixa principal do paciente 4. Perguntar sobre outros sintomas 5. Pedir permissão e explicar como se dará o exame 6. Lavar as mãos/ higienizar com álcool se com o estetoscópio limpá-lo 7. Realizar o exame 8. Higienizar novamente as mãos 9. Falar ou escrever o possível diagnóstico para o ator e/ou avaliador TEMA: PERICARDITE E DERRAME PERICÁRIDO Resposta: • Achado do RX: coração em moringa. • Achado do ECO: derrame pericárdico. • Possível causa: pericardite secundária à pneumonia. CASO 5 Paciente, 12 anos, com história de tosse com escarro, febre vespertina e sudorese noturna há 20 dias, veio com a mãe para avaliação na emergência. Segundo a mãe, não houve melhora com uso de antibiótico e a criança já começou a cansar em repouso. Após proceder com ausculta pulmonar completa e analisar o exame complementar, informe qual o seu diagnóstico. 1. Apresentar-se para o paciente 2. Confirmar o nome do paciente, idade e data de nascimento 3. Confirmar a queixa principal do paciente 4. Perguntar sobre outros sintomas 5. Questionar sobre a realização de exames complementares Maria Vitória e Ana Beatriz (MED 35) 6. Pedir permissão e explicar como se dará o exame 7. Lavar as mãos/ higienizar com álcool se com o estetoscópio limpá-lo 8. Realizar o exame 9. Higienizar as mãos 10. Falar ou escrever o possível diagnóstico para o ator e/ou avaliador TEMA: TUBERCULOSE Resposta: • À ausculta: estertores finos. • Achado do RX: cavitação. • Diagnóstico: TB. CASO 6 Daniel, 12 anos, compareceu à consulta na companhia de sua mãe apresentando quadro clínico de tosse produtiva e dor abdominal intensa. Febre de 39,5°. Ambos os sintomas a 4 dias evoluindo com cansaço respiratório, vômitos, recusa alimentar e adinamia acentuada há 1 dia. Ao EF: BEG, afebril, desidratado, hipoativo, 60 irpm, MV diminuído em BHE, creptos, SatO2: 87%, bulhas em 2T, S/S RR. Qual a hipótese diagnóstica e a conduta? TEMA: PNEUMONIA E DERRAME PLEURAL. Resposta: • Diagnóstico: Pneumonia com derrame pleural. • Conduta: -Internar. -Iniciar tratamento com Ceftriaxona e Clorafenicol. -Drenar derrame com auxílio de US. CASO 7 Criança, 3 anos, com quadro de febre persistente mesmo após uso de antibiótico, associada a perda de peso há 1 mês, astenia, hepatoesplenomegalia associada. Você é um acadêmico de plantão e é solicitado a palpação das cadeias de linfonodos. Após a palpação e análise dos exames complementares (hemograma com linfocitose), dê o diagnóstico. 1. Apresentar-se para o paciente 2. Confirmar o nome do paciente, idade e data de nascimento 3. Confirmara queixa principal do paciente 4. Perguntar sobre outros sintomas 5. Pedir permissão e explicar como se dará o exame 6. Lavar as mãos/ higienizar com álcool 7. Realizar o exame (occipital, facial, retroauricular, pré-auricular, submandibular, submentoniano, cervicais anteriores e posteriores, supra/infraclaviculares, axilares, trocanterianos, inguinais e poplíteos) 8. Higienizar as mãos 9. Falar ou escrever o possível diagnóstico para o ator e/ou avaliador TEMA: PALPAÇÃO DE LINFONODOS Resposta: • Palpar as cadeias de linfonodos • Hemograma com leucocitose associada à linfonodomegalias (Linfoma) CASO 8 Maria Vitória e Ana Beatriz (MED 35) Paciente, 5 anos, chega com a mãe na urgência com quadro de dispneia e tosse seca persistente há 3 dias. Segundo a mãe, esse quadro ocorre pelo menos 1 vez ao mês. Execute a ausculta pulmonar e após o disparo do som auscultatório, verbalize o nome do som e o diagnóstico. 1. Apresentar-se para o paciente 2. Confirmar o nome do paciente, idade e data de nascimento 3. Confirmar a queixa principal do paciente 4. Perguntar sobre outros sintomas 5. Pedir permissão e explicar como se dará o exame 6. Lavar as mãos/ higienizar com álcool se com o estetoscópio limpá-lo 7. Realizar o exame 8. Higienizar as mãos 9. Falar ou escrever o possível diagnóstico para o ator e/ou avaliador TEMA: ASMA Resposta: • À ausculta: Sibilo • Diagnóstico: asma OBS: -Não esquecer de fazer a ausculta sempre comparando um lado com o outro. -Posicionar-se à direita do paciente. -Paciente imóvel, o médico que adequa sua posição sua posição em relação ao paciente. CASO 9 Mateus, 20 dias de vida, comparece à consulta no PS devido à lesão no braço direito. Você está no plantão, seu preceptor solicita que você realize a inspeção do braço. Verbalize o nome da alteração e o diagnóstico. 1. Apresentar-se para o paciente 2. Confirmar o nome do paciente, idade e data de nascimento 3. Confirmar a queixa principal do paciente 4. Perguntar sobre outros sintomas 5. Perguntar sobre a vacinação, há quanto tempo foi realizada, quando surgiu a “mancha” 6. Pedir permissão e explicar como se dará o exame 7. Lavar as mãos/ higienizar com álcool se com o estetoscópio limpá-lo 8. Realizar o exame (inspecionar a lesão e verificar temperatura ao toque) 9. Higienizar as mãos novamente 10. Falar ou escrever o possível diagnóstico para o ator e/ou avaliador TEMA: REAÇÕES À VACINA BCG Resposta: • Abcesso frio. • Efeito adverso à aplicação da vacina BCG. CASO 10 Mãe traz ao atendimento sua filha de 11 meses de idade que iniciou há 2 dias com “bolinhas vermelhas no corpo”. Ela conta que essas lesões iniciaram nas costas e foram aumentando em número. Conta que a filha está um pouco prostrada e passa o tempo todo se coçando. Seu preceptor solicita que você faça a inspeção da pele. Verbalize o nome das lesões e o diagnóstico. 1. Apresentar-se para o paciente 2. Confirmar o nome do paciente, idade e data de nascimento 3. Confirmar a queixa principal do paciente 4. Perguntar sobre outros sintomas bem como características (há quanto tempo iniciou, onde começou, se há prurido ou não) 5. Perguntar sobre uso de medicamentos 6. Pedir permissão e explicar como se dará o exame 7. Higienizar as mãos 8. Realizar o exame (inspeção) 9. Higienizar as mãos 10. Falar ou escrever o possível diagnóstico para o ator e/ou avaliador TEMA: VARICELA Resposta: Maria Vitória e Ana Beatriz (MED 35) • Inspeção: lesões maculopapulares (inicialmente) que evoluem para vesículas, pústulas e crostas. • Diagnóstico: Varicela CASO 11 Você está na UBS com seu preceptor quando dá entrada uma criança de 4 anos com história de lesões na pele em região perioral, inicialmente, progredindo para mãos, punhos e pés com extensão até os tornozelos de início há 3 dias. Mãe relatava quadro de infecção de vias aéreas superiores há aproximadamente 7 dias. Realize a inspeção das lesões, verbalize seus nomes e dê o diagnóstico. 1. Apresentar-se para o paciente 2. Confirmar o nome do paciente, idade e data de nascimento 3. Confirmar a queixa principal do paciente 4. Perguntar sobre outros sintomas bem como características (há quanto tempo iniciou, onde começou, se há prurido ou não) 5. Perguntar sobre uso de medicamentos 6. Pedir permissão e explicar como se dará o exame 7. Higienizar as mãos 8. Realizar o exame (inspeção) 9. Higienizar as mãos 10. Falar ou escrever o possível diagnóstico para o ator e/ou avaliador TEMA: SÍNDROME MÃO PÉ BOCA Resposta: • À inspeção: mácula, pápula, vesícula. • Diagnóstico: síndrome mão pé boca.