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14.06.2020 RENAL BMF-3 Micção A integração central do controle nervosos da bexiga e da uretra é essencial para a micção normal. A micção consiste nas fases de armazenamento e esvaziamento. Durante a fase de armazenamento, a bexiga acomoda um crescente volume de urina sem alterações na pressão intravesical, parcialmente devido às propriedades viscoelásticas de suas paredes e a um mecanismo de propagação mediado pela medula espinal, que de forma reflexa, inibe a atividade parassimpática pré-ganglionar. O mecanismo de propagação nos gânglios pélvicos previne a ativação dos neurônios parassimpáticos pós-ganglionares até a atividade pré-ganglionar alcançar seu limiar. A capacidade média da bexiga masculina adulta varia em torno de 400 ml, mas a micção ocorre comumente em pequenos volumes. Controle voluntário é feito pelo giro frontal inferior do córtex cerebral. O enchimento de 500 ml pode ser tolerado; além deste nível, a dor causada pela distensão na parede da bexiga conduz a um desejo urgente de urinar. A dor é referida às áreas cutâneas supridas pelos segmentos espinais de T10-L2 e S2-4, incluindo a parte anterior da parede do abdome, períneo e pênis. Ao atingir o limiar de ativação, um estímulo aferente ativa o centro da micção na parte rostral da ponte (centro M), que estimula neurônios parassimpáticos pré-ganglionares localizados na substância cinzenta intermédia lateral dos segundo, terceiro e quarto segmentos sacrais da medula espinal via nervos espinais descendentes. Os axônios desses neurônios correm até o plexo hipogástrico inferior pelos nervos esplâcnicos pélvicos: eles fazem sinapses com neurônios pós-ganglionares nos gânglios localizados nos plexos vesicais e nas paredes da bexiga. Axônios pós-ganglionares se ramificam através da espessa túnica muscular, formada pelo músculo detrusor da bexiga. Quando estimulados, liberam acetilcolina, que ativa receptores muscarínicos na túnica muscular da bexiga e promovem a contração da bexiga requerida para a micção. O esfíncter externo da uretra mantém a uretra fechada. Continência Urinária no Homem Continência urinária no nível da parte membranácea da uretra é mediada pelas pregas radiais da mucosa da uretra, tecido conjuntivo submucoso, músculo liso intrínseco da uretra, esfíncter estriado externo da uretra e porção pubouretral do músculo levantador do ânus. O esfíncter externo da uretra representa o ponto de maior pressão intrauretral no estado contraído normal. O componente muscular estriado do esfíncter externo da uretra é destituído de fusos musculares. As fibras musculares estriadas são extraordinariamente pequenas em secção 14.06.2020 RENAL BMF-3 transversal (15-20 μm de diâmetro) e são fisiologicamente do tipo de contração lenta, diferentemente da musculatura do assoalho pélvico, que é uma mistura heterogênea de fibras de contração lenta e de contração rápida de grande diâmetro. As fibras de contração lenta do esfíncter externo da uretra são capazes de manter a contração por longos períodos de tempo e ativamente contribuem para o tônus que fecha a uretra e mantém a continência urinária. Elas são inervadas por neurônios que se encontram no núcleo de Onuf na coluna anterior do segundo ao quarto segmento sacral da medula espinal. Sua estimulação é controlada centralmente por um centro armazenador dentro da parte rostral da ponte (o centro L). Bem antes do começo do esvaziamento da bexiga, o esfíncter externo da uretra é relaxado pela inibição central do núcleo de Onuf. Acredita-se que o relaxamento da uretra é feito em função da liberação de óxido nítrico pelos nervos parassimpáticos no colo da bexiga e uretra. Continência Urinária na Mulher O mecanismo do esfíncter da uretra consiste em musculatura intrínseca estriada e lisa da uretra, do tecido conjuntivo da mucosa e submucosa e do componente pubouretral do músculo levantador do ânus (que circunda a uretra no ponto de máxima concentração deste músculo). O componente muscular estriado no mecanismo do esfíncter da uretra feminina envolve os terços médio e inferior da uretra. Proximalmente, este componente muscular forma um anel completo ao redor da uretra, e distalmente, recobre as faces anterior e lateral da uretra; une-se superiormente com a musculatura lisa do colo da bexiga e inferiormente com a musculatura lisa da parte inferior da uretra e da vagina. A contração desta parte do esfíncter comprime a uretra contra a relativamente fixa parede anterior da vagina. No ponto mais distal, o esfíncter estriado circunda a uretra e a vagina como o músculo esfíncter uretrovaginal. As túnicas mucosa e submucosa são dependentes do estrogênio e se atrofiam após a menopausa e podem resultar em incontinência urinária. Disfunção Miccional Disfunção miccionalA incontinência urinária afeta cerca de 13 milhões de adultos nos Estados Unidos, 85% dos quais são mulheres. O problema é especialmente comum entre os idosos que vivem em instituições afetando 50%, e mulheres mais velhas, afetando de 15% a 30% das mulheres com mais de 65 anos de idade que vivem em asilos. Cerca de US$15 a 20 bilhões são gastos com esse problema a cada ano nos Estados Unidos. Anatomia normal da continência urinária Em ambos os sexos, a parede uretral contém células musculares lisas, que constituem um esfíncter uretral intrínseco. Estas células circundam a submucosa e estão dispostas em uma camada longitudinal interna e uma camada externa circular mais fina. No sexo masculino, um esfíncter uretral interno é formado por um anel de músculo liso perto do colo da bexiga, que recebe a entrada simpática e impede a passagem retrógrada de sêmen durante a ejaculação. Em ambos os sexos a uretra é rodeada por anéis de músculo estriado, que formam um esfíncter uretral externo. Nos homens esse músculo está localizado ao redor da uretra membranosa. Nas mulheres situa-se primariamente em torno do terço médio da uretra, e recebe fibras dos músculos compressor da uretra e do esfíncter uretrovaginal localizados acima da membrana perineal. O músculo compressor da uretra surge do ramo isquiopúbico, com fibras interdigitantes de cada lado anterior à uretra. Enquanto isso, os músculos do esfíncter uretrovaginal surgem do corpo perineal, passam ao longo das paredes laterais da vagina e, em seguida, também se interdigitam anterior à uretra. As pressões exercidas pelos esfíncteres uretrais somente são suficientes para manter a continência na maioria das circunstâncias. Durante o aumento agudo na pressão intra-abdominal, no entanto, a uretra proximal requer suporte adicional para resistir ao aumento resultante na pressão intravesical. Nas mulheres, esse apoio vem de uma “rede” de tecido conjuntivo contra a qual o colo da bexiga e a uretra proximal são comprimidos. A rede é formada pela fáscia pubocervical, que se liga ao arco tendinoso da fáscia pélvica em cada lado (que é ligado aos músculos levantadores do ânus). Controle neural do enchimento da bexiga e do esvaziamento Tanto o enchimento como o esvaziamento da bexiga exigem uma ação coordenada do músculo detrusor e do esfíncter uretral. Durante o enchimento, a leve distensão da bexiga produz sinais aferentes que percorrem os nervos pélvicos para a medula espinal. Estes sinais desencadeiam os reflexos espinais que aumentam o fluxo simpático ao longo dos nervos hipogástricos, causando o relaxamento do músculo detrusor e a contração do músculo liso ureteral. Além disso, esses reflexos estimulam os neurônios originários do núcleo de Onuf localizado na medula espinal sacral, que viajam ao longo do nervo pudendo para estimular a contração do esfíncter externo da uretra. Esta resposta, conhecida como o “reflexo da guarda“, previne a incontinência durante o enchimento da bexiga. Quando a distensão da bexiga atinge um ponto de ajuste, os sinais aferentes intensos ativam as vias ascendentes espino-bulbo-espinais que estimulam o centro pontino de micção (CPM, também conhecido como o núcleo de Barrington).A ativação do CPM inibe o fluxo simpático para a bexiga e a uretra, inibe a entrada pudenda ao esfíncter uretral externo e promove a entrada parassimpática do detrusor ao longo dos nervos esplâncnicos pélvicos. O efeito final é o relaxamento dos esfíncteres uretrais seguido de contração do detrusor, o que leva à micção. Nos adultos, o CPM pode ser conscientemente suprimido até que o indivíduo deseje a micção. Tal supressão depende de contribuições de áreas corticais, que incluem o córtex pré-frontal, o córtex cingulado anterior e a substância cinzenta periaquedutal. Em crianças, os reflexos sacrais primitivos promovem a micção sem o 14.06.2020 RENAL BMF-3 envolvimento de áreas cerebrais mais elevadas, como o CPM. Esses reflexos se tornam eventualmente sujeitos ao controle do CPM e de entradas modulatórias do córtex pré-frontal. Disfunção miccional As disfunções miccionais refletem anormalidades na anatomia normal ou no controle neural do trato urinário inferior. As principais causas de disfunção miccional crônica podem ser classificadascadas como: 1. Disfunção neuropática 2. Incontinência urinária de esforço 3. Incontinência urinária de urgência. Notar que a incontinência por transbordamento ocorre frequentemente secundária à disfunção neopática ou a obstrução crônica e, portanto, não é considerada uma forma primária de incontinência. 14.06.2020 RENAL BMF-3 Disfunção Neuropática Os doentes com disfunção neuropátia têm defeitos no controle neural de enchimento e esvaziamento. As lesões em diferentes níveis nas vias neurais relevantes causam diferentes padrões de sintomas. Assim, o nível específico da lesão deve ser inferido tão precisamente quando possível, com base na história e em dados urodinâmicos. Com as lesões suprapontinas a inibição cortical do COM é eliminada, fazendo com que o detrusor se torne hiperativo. Como as conexões da medula espinal permanecem intactas, no entanto, persiste a sinergia entre a contração da bexiga e o relaxamento do enfíncter uretral. Na doença de Parkinson, no entanto, a abertura do esfíncter estriado pode ser retardada, o que pode ser interpretado como dissinergia. Com as lesões da ponte e segmento da medula espinal S2 há arreflexia inicial da bexiga, mas os reflexos espinais intrínsecos (normalmente inativos desde a infância) emergem lentamente e fazem com que o detrusor se torne hiperativo. A micção é muitas vezes ineficiente, no entanto, porque a interrupção dos circuitos espinais pode levar à dissinergia do detrusor-esfincteriano externo (DEDS). Com as lesões dos nervos pélvicos periféricos os pacientes perdem as sensações aderentes da bexiga, e esta se torna muitas vezes hipoativa ou mesma arrefléxica, conduzindo à retenção urinária. A história completa, o exame neurológico e a avaliação urodinâmica muitas vezes elucidam o local específico da lesão. A estratégia de tratamento depende do tipo específico da disfunção. Se o detrusor é hiperativo, os agentes farmacológicos são o tratamento de primeira linha. Os anticolinérgicos, por exemplo, podem bloquear a entrada parassimpática para a bexiga. O oxibutinina é uma amina terciaria, substância antimuscarínica comumente utilizada para esta indicação; os efeitos adversos mais comuns incluem boca seca, rubor facial, pele seca e sonolência. O tartarato de tolterodina é outro agente comum que geralmente tem meno efeitos adversos do que a oxibutinina. Os antimuscarínicos adicionais incluem solifenacina, darifenacina, trospium e fesoterodina. Em pacientes selecionados com hiperatividade refratária do detrusor pode ser colocado um estimulador de nervo sacral com um eletrodo implantado. Em outros casos, a injeção de toxina botulínica no músculo detrusor pode ser útil. Nos casos de retenção urinária o cateterismo intermitente limpo é o esteio do tratamento conservador. O cateterismo a cada 4-6 horas pode evitar o vazamento associado à distensão vesical da bexiga. Uma sonda de Foley ou um cateter suprapúbico pode ser necessário para os pacientes que não têm a destruza manual ou os recursos para recursos para realizar o cateterismo intermitente limpo. Incontinência urinaria de esforço O suporte uretral do pavimento pélvico é essencial para a manutenção da continência durante o aumento da pressão intra-abdominal. Em resposta ao envelhecimento, a múltiplos partos vaginais, à tosse crônica ou à obesidade esses apoios podem se tornar danificados ou enfraquecidos, Como resultado, a uretra fica hipermóvel, e durante os episódios de “esforço” é submetida à rotação e à abertura, que permite a perda de urina. Este fenômeno é conhecido como incontinência urinária de esforço (IUE). Conforme descrito anteriormente, os esfíncteres uretrais também protegem contra a incontinência em resposta ao aumento da pressão intravesical via reflexo de guarda. Embora esses esfíncteres fossem considerados normais em IUE, sabe-se que eles podem apresentar um grau variável de disfunção que contribui para a perda de urina. A disfunção significativa do esfíncter uretral externo possibilita a neuropatia pudenda, que pode resultar do envelhecimento ou da pré-gravidez. Um exame pélvico pode ser marcante para a flacidez da musculatura pélvica, enquanto o exame vaginal pode demonstrar a fraqueza da parede anterior, cistocele ou retocele. Durante a manobra de Valsalva a incontinência urinária pode ser observada enquanto o paciente está na posição de litotomia, O grau de mobilidade na uretra pode ser avaliado pelo teste de Q-tip (teste do cotonete), em que um aplicador bem lubrificado, com ponta de algodão esterilizado, é inserido na uretra para o nível do colo da bexiga. O ângulo de repouso, isto é, o ângulo horizontal de Q-tip, e o ângulo após a tensão máxima são ambos registrados, A hipermobilidade é definida como ângulo de repouso ou esforço maior do que 30 graus. As várias opções de tratamento para a IUE tentam restabelecer o suporte para a uretra. A reabilitação do assoalho pélvico é um programa intensivo em que os pacientes realizam exercícios de Kegel e outras rotinas envolvendo e fortalecendo o assoalho pélvico. Até 40-50% dos pacientes ficarão satisfeitos com os resultados desta terapia e evitarão uma cirurgia, assim, o tratamento não invasivo deve ser a primeira linha de tratamento para os pacientes adequadamente selecionados e motivados. A cirurgia está indicada em (1) pacientes com sintomas graves, (2) pacientes com prolapso de órgão pélvicos significativos, que pode precisar de correção ao mesmo tempo, (3) aqueles que estão altamente motivados para alcançar a continência por causa de estresse físico ou profissional, e (4) aqueles com boa função do assoalho pélvico que provavelmente têm um significativo grau de disfunção intrínseca do esfíncter. As abordagens suprapúbica e vaginal foram desenvolvidas para restaurar o suporte uretral. No procedimento de Marshall-Marchetti-Krantz, que utiliza uma abordagem suprapúbica, os tecidos periuretrais são anexados à superfície posterior da síntese púbica. Esta operação foi posterormente modificada para se tornar o procedimento de Burch, em que a parede vaginal anterior é fixada ao ligamento de Cooper, transformando-o em um substituto para a fáscia normal, “rede” contra o qual a uretra pode ser comprimida. A abordagem vaginal é muito mais comum atualmente em que especial entre as mulheres com deficiência esfincteriana intrínseca ou fraqueza muscular pélvica significativa. Num procedimento, conhecimento como fita vaginal sem tensão transobturatória, um pedaço sintético de malha de polipropileno é passado para trás da uretra 14.06.2020 RENAL BMF-3 utilizando um dispositivo que atravessa as membranas do obturador. Desse modo, a malha proporciona suporte para a uretra posterior, embora suas extremidades não estejam presas ao osso púbico, A fita pode também ser construída utilizando outros materiais orgânicos, tais como fáscia lata de cadáver. Se o paciente apresenta uma fraqueza intrínsecado esfíncter, a injeção de materiais de enchimento no interior da uretra por vezes é executada. Tais materiais incluem colágeno, silicone ou polidimetilsiloxano (elastômero de silicone sólido).
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