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Aula 1_Resumo_Introdução

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Intro. À Filosofia da mente Quadrimestre suplementar 2022-2 Aula 1 
 
I N T R O D U Ç Ã O 
 
Profa. Paula Tiba 
 
Problemáticas da disciplina 
O que significa ter uma mente? 
Neste curso não falaremos ‘o que é’ a mente, mas sim o que 
significa possuir uma mente. Será que um ser que tem mente, é aquele 
que tem pensamento, vontades, desejos, crenças e razoes? Será que 
aqueles que não possuem isso, podemos dizer que não possuem mente? 
E provavelmente quando falamos sobre essas perguntas vocês pensem 
em outros animais ou na inteligência artificial, mas também podemos 
trazer isso para uma realidade mais próxima de nós; como eu sei que 
cada um de nós possui mente? 
 
Será que conseguimos caracterizar de forma satisfatória ‘o que 
é mente’ e o que significa ‘possuir uma mente’? 
Será que é possível termos uma classificação precisa sobre 
essas perguntas? Um ser que sente dor, por exemplo, possui mente e 
aquele que não sente dor não possui mente? Ou ainda, para possuir 
mente o individuo deve ser capaz de resolver um problema e não 
somente sentir dor, ou seja, dor não é o suficiente para dizer se um 
individuo possui mente ou não. Temos uma escala de comportamentos 
observáveis que nos dizem se um ser possui ou não mente? 
Todos esses assuntos serão abordados na disciplina e não 
traremos uma resposta ‘sim’ ou ‘não’. Apenas traremos essas questões 
para vocês. 
 
 
E por que é importante discutirmos sobre isso? 
Porque na nossa sociedade, possuir ou não uma mente, ainda 
que isso não seja explicito, possui consequências. Seres que nós, 
humanos, acreditamos que não possuem mente, possuem um 
tratamento diferente na nossa sociedade. E isso abranja não somente 
animais não-humanos, como também incluí animais da nossa espécie, 
como por exemplo, se perguntamos se uma criança humana possui 
mente, acredito que a maioria diga que sim, mas se dissermos que ela 
pode ser responsabilizada por suas ações, provavelmente a maioria aqui 
diria que não. Então tem consequências ter mente ou não, mas não 
basta isso. Temos outras questões que envolvem a responsabilização e 
os direitos que um ser que possui mente pode ter na nossa sociedade. 
Por isso essa discussão se faz importante e relevante, mesmo 
que não estejamos falando de neurociência. Juridicamente isso traz 
consequências. 
Se uma pessoa passeia com um cachorro na rua e ele morde 
alguém, não falamos que a culpa é do cachorro. Nós culpamos o dono 
do cachorro que o deixou morder ou soltou a coleira. Então até podemos 
acreditar que aquele cachorro tem uma mente, mas não 
responsabilizamos o cachorro por todas as suas ações. Da mesma forma 
que a criança que acabamos de mencionar. Os pais podem ser 
responsabilizados por suas ações, mesmo que acreditamos que ela 
possua mente. 
Então qual é o limite ou então em qual momento que essa 
criança que um dia não tinha mente e passa a ter mente, ou então, ela 
tinha uma mente imatura e em algum momento ela pode se 
responsabilizar por seus atos. Na nossa sociedade, parece que 18 anos 
é um limite importante. E cientificamente falando até podemos discutir 
se essa idade faz sentido ou não, ressaltando que nesta disciplina não 
iremos abordar a mente como algo científico. Traremos uma abordagem 
mais filosófica. 
 
E podemos abranger nossa discussão para além de seres 
biológicos como no caso da inteligência artificial (IA). 
Uma IA pode possuir mente? Se sim ou se não, ela pode ser 
responsabilizada por suas ações? Um bot de chat possui mente? (como 
bot de chat, quero dizer aquelas mensagens automáticas que algumas 
empresas como a NET ou SKY disponibilizam). Claro que além disso 
temos toda uma questão ética relacionada a tudo isso. 
Na nossa sociedade, possuir mente também garante direitos 
e privilégios ou mesmo caracterizações importantes para determinados 
seres. E se você coloca um ser dentro ou fora dessa categoria, temos 
uma série de consequências que devem ser levadas em consideração. 
Quando falamos sobre seres não biológicos, por um lado 
parece ser mais fácil que “não, não é biológico, não tem nem o que 
discutir sobre ter ou não mente”. Mas isso parte de tantas premissas 
que nunca paramos para pensar conscientemente. Como por exemplo, 
por que parece que quando se trata de um ser biológico, temos uma 
mente, e quando não é biológico, não tem uma mente? Ou então para 
outros, ser ou não biológico não é o que define ter ou não uma mente. 
Para responder todas essas questões daremos alguns passos para trás 
para entender quais premissas devemos assumir para que algo tenha ou 
não uma mente. E aí, a resposta de cada um não tem certo ou errado, 
porque vai depender das premissas assumidas. 
 
Perspectivas de primeira 
E terceira pessoa 
- Se eu me descrevo fisicamente, ou peço para alguém fazê-lo, as caracterizações que 
utilizamos são essencialmente as mesmas; 
- Conhecimento sobre o funcionamento de nossos corpos são feitos a partir de uma 
perspectiva de terceira pessoa. Não existe outra perspectiva possível nestes casos. 
 
A primeira reflexão que devemos fazer para começar a entrar 
na disciplina é que quando pedimos para alguém nos descrever, muito 
Introdução 
 
provavelmente essa descrição será muito parecida com aquela que nós 
mesmos teríamos sobre nós. 
Então por exemplo, vocês provavelmente diriam que eu 
(professora) sou descendente de oriental, uso óculo, cabelo liso, com 
cara de sono, fala muitos “né”. Quando fazemos uma descrição física de 
uma pessoa ou objeto, utilizamos as mesmas caracterizações, no geral, 
que normalmente são visuais (mas que poderiam ser outras). Mas 
quando vamos falar de algo que está relacionado ao nosso mundo 
interno, não temos essa mesma possibilidade. 
Então se eu digo que estou sentindo dor, vocês não 
conseguem se estou sentindo dor ou não. É até possível ver a expressão 
de determinados comportamentos que vocês fariam se estivessem 
sentindo dor. Como por exemplo, quando temos dor, normalmente 
fazemos careta, gritamos. Então se alguém apresentar estes 
comportamentos, posso assumir que ela está sentindo dor. Mas notem 
que esses comportamentos também podemos ser fingidos. É possível a 
pessoa dizer que está com dor, fazer as mesmas caretas, não estar com 
dor nenhuma e nunca iremos descobrir se é verdade ou não. 
Então tudo que falamos de uma descrição do mundo externo, 
todos tem acesso da mesma forma. Todos têm acesso à minha 
fisionomia, da mesma forma que eu (professora) teria se me olhasse no 
espelho. Claro que aqui podemos incluir as interpretações e a psicologia 
pode deturpar como cada um se enxerga, mas a princípio, descrições 
físicas são parecidas. Enquanto o acesso ao mundo interno é individual 
e privilegiado, cada um só tem acesso a o seu mundo interno e isso 
muda a perspectiva de terceira para primeira pessoa. 
O que faz com que não podemos afirmar o estado interno de 
nenhum outro ser, seja humano ou não. Então podemos supor que todos 
os alunos da UFABC tenham mente, mas estamos apenas supondo. 
Porque se a minha premissa é “para uma pessoa ter mente, se eu 
perguntar algo para ela, ela me responde”, quer dizer que todo mundo 
que me responder tem mente. Então nesse caso, uma inteligência 
artificial pode ter mente, já que eu pergunto X para um bot de chat e 
ela me dá uma resposta. Essa é a nossa premissa, mas o que 
conseguimos observar, medir e usar como informação para essa 
conclusão, é algo que temos acesso apenas de forma indireta. 
 
Então o fato de termos essa perspectiva diferente do mundo 
interno e o restante, talvez faça com que a gente perceba que o mundo 
interno é feito de uma substância diferente. O corpo é feito de átomos, 
moléculas, órgãos, enfim, mas essa “coisa” que temos no mundo interno, 
pode não ser a mesma coisa que o corpo. Será que, como temos um 
acesso diferente a isso, estamos falando de uma substancia diferente?São matérias diferentes? Ou é apenas uma impressão? Só ‘parece’ 
diferente porque não temos acesso direto. 
Não temos resposta para isso, mas é para refletirmos sobre 
isso e porque todas as teorias de mente foram surgindo. E em parte é 
por conta dessa maneira de como acessamos ao mundo interno do 
restante. 
 
- Para estados mentais parece existir um acesso diferente; 
- O que você está sentindo? Como sabe? Ou o que outra pessoa está sentindo? 
Como vocês sabe? 
 
Bom, então aprece existir um acesso diferente para os estados 
mentais. Nós achamos que sabemos o que estamos sentindo e aqui entra 
em uma questão de que, ao longo do nosso desenvolvimento, como 
aprendemos a denominar nossos estados internos? Ou seja, aquilo que 
eu chamo de dor, é algo que eu caracterizei ao decorrer da minha vida 
e ao discutir com outras pessoas, percebi que o que eu chamo de dor 
possui as mesmas características daquilo que eles chamam de dor. Então 
eu fiz uma ligação entre o conceito dor e o que as pessoas descrevem o 
que é dor ou eu fiz uma ligação entre um estado interno meu e a esta 
palavra. Essa frase parece a mesma coisa, mas não é. 
Quando eu fiz a ligação entre o estado interno meu e a 
palavra, eu percebi que as outras pessoas também chamam de dor, 
aquilo que eu suponho que é o mesmo estado interno que tenho quando 
eu chamo algo de dor. 
Quando você vai no médico e ele pergunta “onde está 
doendo?” muitas vezes ele não quer saber o local da dor. Nós não 
respondemos dizendo “meu rim está doendo”. O que ele quer saber é 
se é uma dor em pontada, se piora quando comemos, se ela vai e vem, 
isso porque ele não tem acesso à essa informação e você pode estar 
mentindo onde é a dor e principalmente nessa região abdominal, não 
temos uma percepção exata do local onde está doendo. 
No geral ele pergunta informações que ajudam a caracterizar 
qual órgão provavelmente está com problema para ele pensar na 
intervenção. Mas ele não tem acesso a sua dor, ele tem acesso ao relato 
do que você está sentindo. 
Aluna: ao invés de caracterizar uma dor ou numerar de 0 a 
10, poderia ser classificada como “pintar a cor da dor”, representar a dor 
como uma cor. Sendo que o tom azul e uma dor mais leve em vermelho 
a dor mais intensa. Porque muitas vezes as pessoas têm uma 
representação da dor, mas não conseguem verbalizá-la. É a sociedade 
que constrói como algo é falado ou expressado. 
Aluna 2: Algo muito interessante sobre como a sociedade 
influencia na percepção de dor, há populações indígenas que quando é 
perguntado sobre o parto, elas não consideram como uma situação de 
dor. E para nós, parto é uma das piores dores que a mulher sente. 
Aluno 3: A representação de cores é algo bastante subjetivo 
também. Já que para outras pessoas, vermelha pode não representar algo 
negativo, pior que o azul. 
 
É nesse ponto que queremos chegar. Independentemente de 
como perguntamos a dor, se é por escala numérica, se é por cor, sempre 
será algo subjetivo, independente da escala. Porque sempre é uma 
perspectiva de 1ª pessoa versus a perspectiva de 3ª pessoa. E talvez 
nunca teremos acesso a essa informação. 
 
Problemáticas da disciplina 
- Qual a natureza da mente? (problema ontológico); 
- Qual a natureza da relação entre experiência e sujeito? 
- Qual a relação entre fenômenos mentais e fenômenos físicos? 
 
Alguns dos temas que iremos abordar nessa disciplina é ‘qual 
a natureza da mente?’, ‘ela existe?’ e se existe, qual a sua natureza, do 
que ela é feita? 
Qual a natureza da relação entre a experiência desses estados 
internos que discutimos agora e o indivíduo? É uma relação causal? A 
matéria na qual o indivíduo é feito, produz a mente, essa consciência? 
Ou é uma matéria diferente? É de outra natureza essa mente? 
 
E sendo ou não de outra natureza, qual é a relação entre os 
fenômenos físicos ou mentais? 
Para alguns pode ter alguma relação com neurônios e o 
cérebro. Sendo ou não sendo uma segunda substância, certamente 
depende disso. Então nós partimos de alguns pressupostos, mas que não 
temo isso demonstrado cientificamente ou então até temos, mas ainda 
há discussões em cima disso. 
Se a natureza da mente é física ou não, não iremos responder. 
Apenas iremos falar sobre os pressupostos para que possamos chegar a 
uma conclusão. Então novamente não temos uma resposta certa ou 
errada. 
 
Como resolver esta questão? 
“Filosofia” é uma palavra que tem sido empregada de várias 
maneiras, uma mais ampla, outras mais restritas. Pretendo empregá-la 
em seu sentido mais amplo, como procurei explicar adiante. A filosofia, 
conforme entendo a palavra, é algo intermediário entre a teologia e a 
ciência. Como a teologia, consiste de especulações sobre assuntos a que 
o conhecimento exato não conseguiu até agora chegar, mas, como 
ciência, apela mais à razão humana do que à autoridade, seja esta a da 
tradição ou a da revelação. Todo conhecimento definido – eu o afirmaria 
– pertence à ciência; e todo dogma quanto ao que ultrapassa o 
conhecimento definido, pertence à teologia. Mas entre a teologia e a 
ciência existe uma Terra de Ninguém, exposta aos ataques de ambos os 
campos: essa Terra de Ninguém é a filosofia. – In Russell, B. (1977): A 
história da filosofia ocidental. 
Essa frase trás um pouco do porquê não iremos falar da mete 
ou da consciência de forma científica, da mesma forma que não 
levaremos para o lado teológico. Ficaremos no meio, por isso não 
teremos respostas concretas e definitivas. 
 
 
O que significa usarmos a filosofia nessa disciplina? 
(Lembrando que não somos filósofos, somos neurocientistas). Iremos 
usar a filosofia para responder questões fundamentais relacionadas à 
algumas questões: 
(Substitua ‘x’ por ‘mente’ – não sei porque a professora 
colocou esse ‘x’ em vez de escrever mente – e entenda <algo> como 
premissas) 
- O que significa ‘x’? 
- Quais condições precisam ser satisfeitas para algo ser um 
x? 
- Ao assumir que <algo> é verdadeira, você não estaria 
assumindo <isso>? 
- Quais as razoes para se acreditar que <algo> é verdadeiro? 
Sempre iremos construir nossa argumentação em cima dessas 
questões, dessas argumentações filosóficas. Vocês aprenderam sobre 
todas as premissas das teorias de mente trazem. 
 
Exemplo 1 
Premissa: Todos os homens são mortais; 
Premissa: Sócrates é um homem; 
Conclusão: Logo, Sócrates é mortal. 
Quando construímos um argumento precisamos partir de 
premissas para chegar a um argumento dedutivo, para chegar a uma 
conclusão. Esse é o jeito clássico. 
As premissas podem ser validas, verdadeiras, ou podem ser 
falsas. E o argumento pode ser valido ou não. Então a ‘verdade’ é uma 
característica das premissas. E a ‘validade’ é uma característica do 
argumento. 
O que é um argumento válido? É aquele no qual, sendo 
verdadeira as premissas, é impossível que a conclusão seja falsa. Não 
significa que a premissa deve sempre ser verdadeira, mas caso todas as 
premissas sejam verdadeiras, a conclusão será verdadeira. Todas os 
outros jeitos trazem um argumento que não é valido. 
O exemplo dado acima é um clássico, no qual o argumento é 
válido, novamente falando que não importa se é a verdade universal que 
todos os homens são mortais ou que Sócrates é um homem. O que 
importa é que se elas forem verdadeiras, a conclusão necessariamente é 
verdadeira. 
 
Outros exemplos 
Exemplo 2 
Premissa: Todos os professores da UFABC são gênios; 
Premissa: Fábio é professor da UFABC; 
Conclusão: Portanto, Fábio é um gênio. 
 
Esse é um argumento válido? 
Aluno: Sim. 
Note que eu não estou perguntando se o Fábio é um gênio 
ou se os professores da UFABC são gênios. Estou perguntando se o 
argumento é valido. 
Para um argumento ser válido, se as premissas forem 
verdadeiras, necessariamente a conclusão é verdadeira. Mas ela não 
precisa ser verdadeira porque eu não sei se todos os professores da 
UFABCsão gênios. Eu sei que o Fábio é professor da UFABC, mas não 
importa o que eu sei e o que eu não sei. O importante é que se isso for 
verdadeiro, a conclusão é verdadeira e, portanto, isso é um argumento 
válido. 
Claro que quando iremos debater, esperamos que partamos 
de premissas verdadeiras para chegar em conclusões verdadeiras, mas 
para ser válido o argumento não precisamos que ele seja verdadeiro. 
Apenas a relação lógica entre as premissas é que deve ser válido para 
que o argumento seja válido. 
Nós não esperamos que vocês usem premissas falsas, aqui 
queremos apenas passar o que é um argumento válido ou não. 
 
Exemplo 3 
Premissa: Todos os porcos voam; 
Premissa: Torresminho é um porco; 
Conclusão: Logo, Torresminho voa. 
Isso é um argumento válido. Por quê? Sabemos que a 
premissa de que os porcos voam é falsa, mas para dizer se um 
argumento é valido ou não, precisamos apenas usar um grande “se”. SE 
a premissa 1 for verdadeira e SE a premissa 2 for verdadeira, a conclusão 
é verdadeira e, portanto, o argumento é valido. 
E como conseguimos saber se a premissa é verdadeira ou 
não? Essa é a grande questão. É o limite da filosofia e da ciência quando 
formos falar de mente. 
 
Por exemplo, podemos dizer “toda atividade neuronal produz 
um comportamento”. Posso usar isso como um argumento de 
autoridade porque eu (professora) sou uma neurocientista, eu sei disso 
e vocês não, então vocês precisam acreditar em mim. Então a parte mais 
difícil é ter garantia de que estamos partindo de premissas verdadeiras. 
Não temos essa garantia em muitos casos. Por isso no final 
das contas, essa disciplina não tem certo ou errado. Em alguns casos 
iremos usar premissas pré-definidas e que não temos garantia de serem 
verdadeiras ou não. Por isso que o importante é trabalhar com 
argumento válidos e não premissas verdadeiras. Assim conseguimos 
construir uma relação lógica entre as premissas. 
Já vou adiantar que teremos um momento onde iremos fazer 
um experimento do ‘zumbi filosófico’ onde iremos partir de uma 
premissa que o zumbi filosófico existe. E é difícil partir de uma premissa 
que passa uma ideia esquisita para nós e conseguir seguir um caminho 
lógico, porque partimos de uma premissa que sabemos que não existe. 
Por isso o mais importante aqui é a construção do argumento, do que 
saber se as premissas são verdadeiras ou não. Lembrando que na vida 
real precisamos tomar cuidado com as premissas falsas disfarçadas no 
meio de uma argumentação válida. 
 
Exemplo 4 
Premissa: Todas as aves voam; 
Premissa: Torresminho não é uma ave; 
Conclusão: Logo, Torresminho não voa. 
Isso é um argumento válido? 
Aluno: Não, porque podem existir animais que não são aves 
e que voam. 
Essa reposta do colega é relativamente fácil porque sabemos 
que existem animais que não são aves e que voam e sabemos que 
Torresminho é um porco e que porcos não voam, mas mesmo que não 
soubéssemos isso, teríamos que saber identificar que isso é um 
argumento inválido. 
Como transformamos ele em um argumento válido? 
Acrescentando uma terceira premissa: ‘apenas aves voam’. 
Torresminho continua não voando porque ele é um porco, 
mas a partir do momento que colocamos um terceiro argumento, 
transformo isso em um argumento válido. 
Premissa: Todas as aves voam; 
Premissa: Somente as aves voam; 
Premissa: Torresminho não é uma ave; 
Conclusão: Logo, Torresminho não voa. 
Agora temos um argumento válido. 
No geral, argumento negativos, premissas negativas, são mais 
difíceis. 
 
Exemplo 5 
Premissa: Toda vez que chove o chão fica molhado; 
Premissa: O chão está molhado; 
Conclusão: Logo, choveu. 
Argumento inválido. A lógica é a mesma do exemplo anterior. 
Para transformarmos em um argumento válido precisamos acrescentar 
mais uma premissa: 
Premissa: Toda vez que chove o chão fica molhado; 
Premissa: E o chão somente fica molhado quando chove; 
Premissa: O chão está molhado; 
Conclusão: Logo, choveu. 
 
Exemplo 5 
Premissa: Existem duas teorias (A e B) para explicar o 
fenômeno X; 
Premissa: A teoria B foi refutada; 
Conclusão: Logo, a teoria A está correta. 
Não porque a teoria A também pode estar errada. Nós 
pensamos apenas nessas duas, mas pode haver outras que ninguém 
nunca pensou. 
Na ciência, quando falamos das teorias e hipóteses 
trabalhamos com isso o tempo todo. Não é só porque uma teoria foi 
refutada que com certeza a outra está correta. Temos que lembrar da 
sequência lógica que a argumentação dedutiva usa. 
 
 
Aluna: Para mim ficou confuso em um ponto. Sempre que 
usamos uma premissa do tipo ‘toda vez’ ou ‘sempre’, elas geram 
argumentos inválidos por serem muito generalizadas? Porque depois 
premissa que você adiciona para transformar em um argumento válido 
foi a palavra ‘somente’, então você especificou mais as coisas. 
Em parte, sim. Expressões mais enfáticas precisam ser usadas 
com cuidado, mas não é somente por causa disso. É em grande parte 
porque estamos fazendo um argumento dedutivo. Vamos tentar explicar. 
Isso que estamos fazendo nos exemplos anteriores é um caso 
clássico de dedução. Temos uma premissa A e B: 
A: Todos os feijões da caixa são brancos; 
B: Todos os feijões da mesa vieram da caixa; 
C: Todos os feijões da mesa são brancos. 
 
Sempre temos uma relação lógica entre as premissas. Nos 
casos dos exemplos, vimos o caso da dedução. 
Dedução: (A & B) → C. 
Mas temos outras formas de relações que ainda não 
mencionamos e que leva para esse caminho da generalização que a 
colega de vocês perguntou. Nós podemos fazer isso, mas precisamos 
tomar cuidado. 
Se usarmos as premissas de uma forma diferente: 
Indução: (B & C) → A, aqui temos uma indução e não mais 
uma dedução, como no caso anterior. Vocês conseguem perceber que 
não conseguimos garantir essa certeza porque pode ter feijão na caixa 
que não é branco e por acaso pegamos somente os brancos na hora que 
colocamos os feijões na mesa. 
E temos um terceiro modo: 
Abdução: (A & C) → B. 
Temos uma relação entre essas frases, mas aqui temos uma 
abdução, ou seja, estou dando uma explicação para o que aconteceu, 
mas novamente não temos como garantir porque esses feijões podem 
ter vindo de qualquer outro lugar que não tenha nada a ver com a caixa. 
Aqui, notem que não estamos falando se as premissas são 
válidas ou não, mas sim de uma possibilidade de conclusão que você faz 
a partir daquelas premissas. Ela pode ser falsa. 
 
Dedução: A regra de inferência é de natureza lógica. É 
impossível que a conclusão seja falsa quando se assume que as 
premissas são verdadeiras; 
 
Indução: A conclusão representa uma extensão dos fatos 
enunciados nas premissas para um novo caso, trata-se de uma 
generalização; 
abdução: A conclusão é inferida por representar a melhor 
explicação para os fatos enunciados nas premissas. 
 
Aluna: Não entendi se a indução e a abdução são formas de 
argumento válido. 
São formas de argumentação. Mas para o caso da 
argumentação dedutiva, não seria válido. São formas de relacionar as 
premissas. (Não ficou claro para mim, mas acho que para nós no curso 
é melhor usar apenas a dedução). 
 
 
Falamos tudo isso para guiar vocês nas formas que queremos 
tratar o debate nessa disciplina. A ideia de que a opinião de alguém é 
tão boa como de qualquer outra pessoa é falsa. 
Busquem a falha da argumentação de cada caso, respeitando 
o colega. 
E por fim, se você chegar ao fim da disciplina sem ter ficado 
(1) extremamente angustiado em alguma discussão; (2) completamente 
sem chão; (3) com muita raiva do professor ou de alguém por não 
concordar com a pessoa, mas não conseguir encontrar nenhum bom 
argumento contra, então você não entendeu a disciplina!

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