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Aula 2_Resumo_Introdução a filosofia da mente

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Intro. À Filosofia da mente Quadrimestre suplementar 2022-2 Aula 2 
 
i n t r o d u ç ã o à f i l o s o f i a 
d a m e n t e 
 
Prof. André Cravo 
 
 
A aula de hoje é para ser uma introdução mais direcionada 
ao que iremos abordar na disciplina, enquanto na semana passada foi 
mais uma introdução sobre a temática e como iremos fazer e hoje iremos 
entrar mais no tema. A ideia é fazer a introdução ao tema usando um 
experimento mental. Isso porque o principal tema que iremos investigar 
é qual a natureza da mente. E o que isso significa? Iremos discutir se a 
mente é algo físico ou não. Qual a natureza entre a experiencia e o 
sujeito? Como investigamos isso? E qual a relação entre fenômenos 
mentais e físicos? 
Há diversas propostas para responder e é isso que iremos 
fazer nessa disciplina. Iremos passear por uma série de respostas que 
vão de alguma maneira tentar propor qual a natureza da mente. E 
algumas das propostas que tentam relacionar mente e cérebro são as 
seguintes: 
 
Essa disciplina tem particularmente algo diferente que 
normalmente você começa uma disciplina sem saber nada sobre, mas 
no nosso caso, você provavelmente já tem uma ideia de como se dá essa 
relação. E é muito importante entender como você entende sobre o 
assunto antes de sair vendo um monte de ideia de filósofos e saber onde 
vocês encaixam nessa árvore. E por isso iremos usar o experimento 
mental. 
O experimento mental é uma situação hipotética onde você 
cria uma série de regras e vê quais são as possíveis conclusões que você 
pode chegar com essas regras. 
Tem uma discussão enorme de quão útil são os experimentos 
mentais na filosofia da mente. Em alguns casos clássicos foram muito 
úteis, como no caso da Teoria da Relatividade de Einstein que permitiu 
chegar a conclusões importantes. Mas no nosso caso de hoje não é para 
chegarmos em uma conclusão, é para vocês terem uma ideia intuitiva 
do que vocês mesmos pensam sobre esse assunto. 
 
 
Aproveitamos que a faculdade estava vazia durante a 
pandemia. Juntamos os 3 centros de ensino CCNH, SECS e o CMCC 
e criamos a máquina mais interessante do mundo: a máquina de xérox 
perfeita. 
É uma máquina que qualquer objeto que você coloque do 
lado esquerdo, ele será escaneado com uma 
precisão física absurda e o que será gerado do 
outro lado é uma cópia física perfeita e idêntica 
do objeto à esquerda. 
De novo, tudo que tem de físico no objeto da esquerda será 
igual na cópia da direita. Tudo. A precisão nem é possível no mundo 
real, mas é em uma escala da átomos, moléculas, tudo físico será copiado 
pela máquina. Estou enfatizando bem isso porque essa é a premissa do 
experimento e que sabemos que é impossível de acontecer no mundo 
real. 
Para mostrar que funciona, colocamos um rato do lado 
esquerdo e esperamos ela reproduzir uma cópia física perfeita do lado 
direito. Novamente, não é simplesmente uma cópia genética do rato. O 
rato da direita não é um irmão gêmeo do rato da esquerda, não é um 
clone. É muito mais que isso. O clone é apenas uma cópia genética de 
um animal. Isso se trata de uma cópia física. Então significa que no 
momento da cópia, no instante que copiamos, todos os átomos, 
moléculas, proteínas, neurotransmissores, vesículas sinápticas, tudo foi 
copiado. 
 
Agora vamos tornar o experimento mais interessante 
colocando um humano do lado esquerdo. E ainda podemos anestesiar 
essa pessoa antes dela ser escaneada, apenas o suficiente para ela dormir 
um pouco, para deixar ainda mais interessante. 
Minha primeira pergunta, a pessoa da direita terá 
consciência? Terá mente? 
 
 
 
Introdução 
O experimento mental 
Introdução à filosofia 
 
 
 Da mente 
 
Aqui não precisamos definir muito o que é mente. Vamos 
usar algo mais intuitivo como humanos têm mente, primatas 
provavelmente têm mentes, plantas provável que não. A definição que 
usualmente temos de mente. 
Respostas: 78% disseram que sim, 17% que não e 4% se 
abstiveram. 
Esse é o padrão comum no curso da neuro. E eu digo ‘neuro’ 
porque essa é uma amostra enviesada, porque é comum nesse grupo de 
pessoas ter essa visão de que essa cópia terá mente. E em outros locais 
o padrão é o contrário. Lembrando que não há certo ou errado, iremos 
falar porque é tão difícil responder isso. 
 
Aluna 1 (homem não terá mente): eu pensei que se 
fisicamente será exatamente igual, o cérebro terá neurônios, axônios e 
tudo aquilo, mas talvez, assim como um rato que também foi copiado, 
eu imagino que não teria mente, eu acredito que o homem também não 
terá a mesma mente que o original. Ele terá apenas a parte física, mas 
não terá consciência. 
Não se preocupem em não saber explicar direito, porque 
muito dessa visão que temos é intuitiva, muitas vezes não paramos para 
pensar no porquê achamos tal coisa. Mas a impressão que eu tive pela 
resposta de vocês que falaram que o homem não teria mente é que 
talvez tenha algo que ficou de fora. 
Aluna 2 (homem não terá mente): o rato, do ponto de vista 
físico neuroanatômico, ele não é tão diferente do cérebro humano, mas 
parece que algo falta. Isso dizendo para o animal real, para a não-cópia. 
Primatas não-humanos possuem uma capacidade mental incrível, mas 
parece que algo falta neles. Assim como no homem copiado também vai 
faltar. Então talvez tenha algo não físico que tenha se perdido. 
Esse é um argumento comum e válido. Você fez uma cópia 
idêntica do ponto de vista físico, mas algo ficou de fora. E vocês 
provavelmente se esbarraram na dificuldade de ter essa visão que é “que 
<algo> é esse que ficou de fora? Por que ele ficou de fora do ponto de 
vista físico?”. 
E vocês podem falar que o cérebro do rato é parecido com o 
nosso. Cérebros de mamíferos no geral seguem um padrão. Mas <algo> 
falta para ele ter uma consciência igual a nossa. Mas o que é isso? Para 
quem votou ‘não’, esse <algo>, o que quer que seja, não é físico, que 
não está armazenado em neurônios, sinapses, nem em nada que possa 
ser copiado em uma máquina perfeita. 
Vocês que acham que o homem não terá consciência, me 
digam como será a pessoa copiada. Ela vai abrir o olho ou será uma 
marionete? 
Aluna 2: Ela vai abrir o olho. Não sei. Vai ser uma pessoa em 
estado vegetativo. Não terá ações. Quando ela abrir o olho, vai ficar 
claro que há algo faltando nela. Ela vai ser igual um rato (sem 
consciência). 
Reparem que isso que você está dizendo é um pouco diferente 
do que vocês falaram do rato, que ele tem um cérebro parecido com o 
nosso, mas que ele não tem consciência igual a nossa. Mas o rato (o 
rato verdadeiro) está longe de estar em um estado vegetativo. Ele faz as 
coisas dele, ele tem ações. E lembrando que isso não é um ataque. Mas 
se vocês querem falar que o rato não tem uma vida mental como a 
nossa, mesmo assim podemos dizer que o animal consegue fazer uma 
série de coisas, sem ter uma vida mental igual a nossa. Mas no caso do 
ser humano copiado, você está dizendo que ele não vai nem se levantar. 
 
Aluno 3 (não terá consciência): A máquina perfeita de vocês 
copia um snapshot? Ou seja, ela copia o ‘estático’? Se ela não copiar o 
estado de movimento, o homem copiado estaria em zero absoluto. Então 
para a pessoa entrar em movimento, ela deveria copiar o estado físico 
em movimento de cada partícula. Se ela copiasse isso, para mim, não 
faltaria nada, a não ser que você tivesse o pressuposto etéreo, além da 
matéria, mas até o momento, nunca vi nada científico mostrando algo 
que extrapole o físico. Eu já pensei em um experimento onde, se você 
conseguir replicar os estados dos neurônios, a estrutura, função de cada 
um em um computador, você faria as mesmas perguntas para as duas 
“mentes” (a “real” e a do computador) e veria até que ponto elas 
pensariam da mesma forma. Se a consciência virtual existiria,se ela 
replicaria o comportamento da real. 
Essa questão que você trouxe é bem interessante e iremos 
comentar sobre isso futuramente, mas gostaria de dar um passo para 
trás e falar sobre algo que você comentou. Você disse que a foto é 
estática e par esse experimento mental talvez isso realmente seja um 
problema, porque você tira a foto, mas parece que falta alguma coisa 
para a coisa começar a mexer. Sabemos que, o quer que estejamos 
fazendo, é algo dinâmico. Temos coisas fluindo dentro de nós o tempo 
inteiro. Então podemos pensar o seguinte. Se colocássemos um moinho 
de água do lado esquerdo, no momento que fizesse a cópia, o moinho 
iria começar a funcionar porque, não só ele iria copiar a estrutura, mas 
iria fazer uma cópia da água naquele instante. Ou se você pensar em 
um relógio, a cópia vai ser terminada e já vai funcionar, porque no 
momento que fazemos a cópia, ela é tão perfeita que a dinâmica vai 
junto. 
Quanto à parte virtual que você comentou, iremos falar mais 
adiante. 
E para terminar o raciocínio, é verdade que no momento, a 
visão dominante dos filósofos da mente é que não existe algo como a 
alma. Não diria que os cientistas estariam nesse nicho porque é mais 
divido do que você imagina essa questão. E mesmo que os filósofos não 
tenham a ideia de uma alma do ponto de vista religioso, vários defendem 
que há algo não físico envolvido. Muitos defendem uma visão dualista 
que não depende de Deus ou de alma, quando morre, a pessoa morre, 
mas tem algo não físico envolvido e para Chalmers, a cópia não vai ter 
consciência. 
 
Aluna 5 (terá consciência): se vai ter todas as questões físicas, 
como nosso corpo é bem autônomo e esperto, ele acaba gerando 
caminhos para fazer acontecer. Na novela ‘o clone’ deu certo rs, mas 
pensando na literatura, ou mesmo no Frankenstein, acho que teria sim, 
mas ficaria em dúvida se ele funcionaria exatamente fidedigno à mente 
do original. Talvez ele teria coisas de quem ele foi copiado e outras ele 
geraria as dele própria. E talvez no inicio seria algo parecendo mesmo 
um zumbi, mas que gradativamente iria aprendendo coisas e ficaria cada 
vez mais fluido. 
Quero aproveitar seu assunto para falar de outra divisão 
importante. Já vimos que alguns vão dizer que ele não vai ter consciência 
e outras vão dizer que ele tem. E dentro dessas que vão argumentar que 
ele têm, dizem que talvez ele realmente tenha, mas ele não vai ter uma 
vida funcional. Ou até tenha funcionalidade, mas não terá profundidade 
A cópia terá mente? 
em suas ações. Ou que ele precise sentir várias sensações para começar 
a se desenvolver. Então vamos discutir sobre aqueles que acham que ele 
vai ter consciência. 
 
[Aqui quero falar sobre o que eu pensei. No instante da 
enquete eu votei que ele teria sim consciência, mas sem pensar muito 
no porquê. Depois escutando todas essas discussões eu percebi que por 
eu ter escolhido isso, eu acredito que não existe alma, que não existe 
mente, mas eu não refuto isso completamente. Para mim é mais no 
sentido de ‘eu quero acreditar que tem mente, mas isso não entra na 
minha cabeça em como isso seria possível’. Se eu aceitasse que há alma, 
como ficaria a questão de Deus? A uma energia maior? Há espíritos que 
eu tenho medo? Há vida após a morte? Até onde eu teria que pensar 
nessas questões? Eu achei muito engraçado essa minha escolha... nem 
pensar duas vezes e votar que ele vai ter consciência, sendo que eu nem 
sei se acredito ou não em alma.] 
 
Eu (professor) vou ler algumas coisas que vocês mandaram 
no chat. Alguns acreditam que ele vai acordar, vai ter consciência, mas 
não terá memórias. Repara que ao dizer isso, você acredita que 
memórias são armazenadas em algum aspecto não físico da pessoa, 
porque se fosse físico, deveria estar lá. O que sabemos de memória 
atualmente é que ela está armazenada no circuito neural, ou em 
facilitação sináptica, hipocampo. Então se achamos que tudo que há na 
memória, nada mais é, do que alguma facilitação sináptica ou mudanças 
na circuitaria neural, a princípio, esse clone deveria ter memória. E mais 
que isso, ele deveria ter as mesmas memórias que o original. 
Para algumas pessoas essa ideia não incomoda. A cópia vai 
acordar, vai ter as mesmas memórias que o original, mas vamos levar 
isso para o extremo. Vamos supor que tenha uma poesia que mexe 
muito com a pessoa original e quando os dois acordam, leio a poesia 
para os dois e ambos choram. O choro do original é mais verdadeiro 
que o da cópia? Se tem as memórias na cópia, os dois choros têm o 
mesmo valor? Ou a emoção real é apenas do original? 
Aluno 6 (terá consciência): A cópia seria exatamente igual, 
assim como sua consciência, porque eu acredito que ela emerge da 
mistura do corpo com o cérebro e o ambiente. Então a cópia apenas 
teria que ter esses itens para criar a consciência, mas talvez nesse caso 
criaria uma outra dimensão de identidade, porque quando ela souber 
que é a cópia e não o real, terá uma configuração de identidade diferente 
e então será uma pessoa diferente. Mas ambas terão a mesmas 
memórias, a mesma forma de agir. Mas como passarão por contextos 
diferentes (uma saberá que é o real e a outra saberá que é a cópia) irá 
gerar caminhos identitários diferentes. 
No final do experimento eu comentei que iriamos anestesiar 
as duas pessoas antes de fazer a cópia. A hora que as duas acordam, 
elas sabem quem é cópia e quem é original? 
Aluno 6: Acho que não. 
Você disse “Talvez a cópia, por saber que é uma cópia”, mas 
repara que as duas vão saber que existe uma cópia de mim, mas talvez 
elas não saibam quem é quem. Ou talvez até ambas queiram acreditar 
que elas são a verdadeira. E outro ponto, a cópia é menos original que 
o original? Nós sabemos quem era o original, mas ela pode dizer que 
ela tem algo que a cópia não tem? Ou, a princípio, uma vez feito, uma 
é tão original quanto a outra. 
Aluna 7 (terá consciência): Acho que vai muito da 
personalidade do próprio indivíduo. Por exemplo, pessoas mais 
autoconfiantes, egóicas, vão achar que elas são o original. Mas se ela é 
mais insegura, introspectiva, talvez ambos tendam a achar que eles são 
a cópia. 
Do ponto de vista ontológico, eu sei que existia a pessoa 
original A e fiz a cópia B. Quando eu olho para as duas, ainda faz sentido 
falar que uma é original e outra é a cópia? 
 
 
Um ponto mais passivo é que no momento 0, quando ambas 
acordam, elas devem ser muito parecidas. A partir do instante 1, 2, 3, 
para aqueles que acreditam que ela terá consciência, todos tendem a 
concordar que ela vai ter a vida dela. Que a partir daquele momento 
elas terão as próprias vivências. E que a vivência dela será tão real 
quanto a original, como falamos sobre o poema. 
Então assumindo que todos concordam que terão vidas 
diferentes. Vamos dizer que a gente fez o experimento, mas que não dá 
para deixar ambas na UFABC e resolvemos mandar a cópia para longe 
para não ficar óbvio que fizemos uma cópia ilegal de uma pessoa e 
mandamos para a Europa. Dali a 20 anos, a gente vai lá visitar a cópia. 
Imagino que todos concordam que ela vai estar diferente da original, 
mas o quão diferente será? 
Tem coisas que se mudasse, não seria nem um pouco 
estranho, como a cópia usar cabelo longo e a original cabelo curto. Uma 
fez tatuagem ou não. O que vocês achariam estranho se algo mudasse? 
Faria sentindo a cópia virar extremista quando a original é 
moderada? Ou mudar a religião? Ou o caráter? Preferência de comida? 
Orientação de gênero? Orientação sexual? Uma ser trans. Ou então, 
algo que se fosse igual, vocês achariam esquisito. 
 
[Eu não consegui pensar em nada que eu acharia estranho. 
Elas viveram separadas, com experiencias completamente diferentes, em 
culturas diferentes. Não estranharia se ela virasse outra pessoa. Talvez 
no máximo eu ficaria assustada se uma virasse assassina ou se uma fosse 
muito felize a outra tivesse se suicidado. E esse último eu não acharia 
estranho, na verdade eu ficaria apenas em choque, tipo “eita, a vida 
delas foi tão diferente assim?”] 
 
Aluna 8: Eu acho que a partir do momento que elas têm 
experiencias diferentes, elas terão crenças diferentes. Mas como a cópia 
tem as mesmas memórias, ela teria uma certa crença base parecida. 
Então se ela se tornasse oposta, eu ficaria um pouco chocada, como 
extrema direita e esquerda. 
 
[Se a cópia soubesse que é uma cópia, eu acharia normal ela 
ter mudado completamente as crenças. Eu imagino que seria bem fácil 
de acontecer se uma pessoa soubesse que é uma cópia, dela ter uma 
crise existencial. Pensar que tudo que ela conhece ou lembra não é ‘real’ 
e por causa disso ela iria para o caminho oposto] 
 
Aluno 9: Já vi pesquisas de gêmeos geneticamente idênticos 
que por algum motivo foram separados na infância e se reencontraram 
depois de muitos anos virão que seguiram vidas semelhantes, embora 
tenham experiencias de vida diferentes. Então acredito que não seguirão 
caminhos tão radicalmente diferentes, a menos que algum deles tenha 
uma experiencia muito extrema. 
Vocês perceberam a pegadinha na pergunta? Eu perguntei 
que se você tivesse uma cópia sua e daqui a 20 anos o que seria bizarro 
Como a cópia estará em 20 anos? 
ela estar diferente de você, isso é a mesma coisa que eu perguntar para 
você mesmo o que é impossível mudar algo em 20 anos de vocês? 
Então vocês estão falando que do jeito que vocês são hoje, 
não tem como mudar minha visão política ou religião. Ou seja, quando 
vocês falam “seria estranho se ela tivesse mudado de religião” vocês 
estão falando “é impossível eu daqui a 20 anos mudar de religião”. 
Porque isso, de alguma maneira, está tão já feito no corpo, na física de 
vocês, que seria muito esquisito isso mudar em vocês. Que há coisas 
pré-definidas em vocês. A não ser, como nosso colega falou, que algo 
muito extremo aconteça. 
 
[Eu acho que qualquer coisa pode mudar. E talvez seja por 
causa do meu livro “One question a day” onde você responde 365 
perguntas, uma vez por dia, e repete as mesmas perguntas por 5 anos. 
E as perguntas eram super bobas como comida favorita, visão de 
relacionamento, família, e em várias eu me surpreendi com a minha 
resposta. Algumas tinha até vergonha de ter respondido aquilo. 
Mas eu pensei em algo que eu me assustaria demais, que seria 
se algum dia eu não amasse a Summer. Se eu falasse que a Summer foi 
a pior coisa que aconteceu na minha vida. Isso para mim seria assustador 
e eu não entenderia como isso aconteceu.] 
 
E muitos talvez concorde que mudar de ideia não é estranho, 
mas quando entramos em escolha de gênero talvez haja uma discussão 
maior. Se uma pessoa muda de gênero com 40 anos, muitas pessoas 
diriam que essa pessoa já tinha essa vontade antes. E a orientação sexual 
também, se a cópia virasse gay, muitos podem pensar que a original 
(que não virou gay) poderia estar reprimindo algo. Não quero dizer o 
que é estranho ou não mudar, mas em relação à orientação sexual e 
escolha de gênero, é algo mais estrutural, no sentido de que você tem a 
sua e isso não muda muito. 
Mas isso é só pra mostrar que para aqueles que acham que a 
cópia terá consciência, o que vai ser carregado do ponto de física não 
está muito claro. E aqui entramos em uma discussão mais paralela, 
porque neste momento estamos discutindo se tudo isso é físico ou não. 
Mesmo assim tem coisas que são físicas, mas que podem mudar a esse 
ponto. Não tem problema achar que são físicas, mas não são estáticas. 
É importante dizer isso porque veremos muito disso nas discussões, 
porque se é algo físico, as duas deveriam ser iguais, o que por outro 
lado, isso tiraria o nossos livre arbítrio etc. Então só esclarecendo que á 
possível argumentar com esses dois fatores juntos, que é uma cópia 
física perfeita, tem consciência, tem livre arbítrio e terá uma vida 
completamente diferente. 
 
Bom, estamos discutindo muita filosofia, mas somos 
cientistas. Não precisamos mais discutir. Nós temos a máquina, nós 
conseguimos fazer a cópia. Se queremos saber se há consciência, é só 
medir e assim nós da UFABC saberemos se uma cópia física perfeita 
tem consciência ou não. 
E vamos supor que essa pergunta é tão interessante que o Bill 
Gates se interessou por ela e teve interesse em financiar o projeto, ou 
seja, dinheiro não é problema. Vocês querem saber se a cópia tem 
consciência? Vão precisar de uma tecnologia caríssima? Nós 
conseguimos comprar. 
Como fazemos isso? 
 
 
 
Aluna 10: Eu buscaria algo físico, usando uma ressonância ou 
EEG. Se algo ativasse no cérebro, acreditaria que ela tem consciência. 
Mediria a atividade neuronal na região onde eu acreditaria que está a 
mente (que eu não sei que lugar é esse). 
 
Aluno 3: Quando eu expliquei o experimento anteriormente, 
já disse que o teste seria comportamental, como um teste de Turing 
(internet: o teste de Turing testa a capacidade de uma máquina exibir 
comportamento inteligente equivalente a um ser humano, ou 
indistinguível deste). Ou seja, veríamos se ele interage da mesma 
maneira e veria até que ponto o comportamento de ambos se mantém 
igual. Se ficar dias e dias igual, com as mesmas interações (ou iteração?), 
poderia dizer que a cópia é consciente. 
 
No chat posso ver uma divisão interessante. Alguns vão pelo 
caminho da aluna 10, medindo atividade neuronal, apesar de não 
sabermos ainda exatamente qual. Já o outro lado opta pelo teste de 
Turing. 
Falando primeiro do teste de Turing, qual tipo de interação 
deve ser igual? Quando falamos sobre o que uma pessoa é capaz de 
fazer, temos infinitas coisas que pessoas podem fazer. Quando você fala 
de interação, quais delas devem ser iguais para você dizer que a cópia 
tem consciência? Vou dar um exemplo para você entender aonde eu 
quero chegar. Quando você pega a Alexia, ela consegue fazer uma 
interação razoável e nós temos acesso a ela. 
Aliás, vocês viram que entrou em pauta que a inteligência 
artificial do Google teria consciência? Depois busquem sobre isso. Mas 
um funcionário do Google se demitiu porque ele acredita que a máquina 
dele possui consciência. 
Mas voltando para a Alexia, nós temos interação com ela. 
Conseguimos conversar com ela por dias, sem ter diferença nenhuma. 
Mas ela não joga futebol comigo. Então esse é um tipo de interação que 
ela não tem e que na verdade eu (professor) também não teria por que 
eu não sei jogar futebol. Então seria esse tipo de interação que você está 
falando? A cópia precisa dançar, ir ao teatro, jogar futebol? Ou está 
falando sobre conversa? 
Aluno 3: Seria apenas interação que poderia ocorrer dentro 
da sala. Teríamos duas salas idênticas, uma real e outra virtual. Isso 
porque eu ainda estou pensando no experimento que eu comentei 
anteriormente de conseguir simular uma rede neural e fazer perguntas 
para a pessoa e para a máquina. Então adaptando essa ideia que eu tive 
para o experimento na UFABC, os dois assistiram os mesmos filmes. 
Poderíamos monitorar as reações emocionais. 
 
Ok, logo retornaremos a esse debate. Outro aluno de vocês 
mandou no chat perguntando se pessoas em estado vegetativo possuem 
atividade neuronal? Sim, possuem. Mas temos que pensar qual é essa 
atividade neural que diz se alguém tem ou não consciência? Seja qual 
for essa atividade, temos que achar nos humanos, primatas não-
humanos, pessoas em estado vegetativo etc. 
[Quando o professor falou sobre estado vegetativo, 
poderíamos levar a discussão para esse lado. A pessoa em estado 
vegetativo, possui consciência? 
Muito relatos de pessoas que acordaram desse estado dizem 
que elas escutavam as conversas que aconteciam ao seu redor e estavam 
conscientes do que estava ao seu redor. Mas ela não tem atividade física, 
Como saber se a cópia tem consciência? 
no sentido de atividade que conseguimosver, como movimentos do 
corpo. Então se ela tem consciência, o que falta nela, que ela não 
consegue ter acesso ao corpo físico? Por que ela não consegue controlá-
lo se ela está consciente? Então mesmo se a cópia não abrisse o olho, 
poderíamos supor que ela não tem consciência?] 
 
Então um lado vai para a atividade neural e o outro lado vai 
pelo comportamento, ver como ela reage. 
Quando perguntamos qual o tipo de comportamento, é muito 
comum irmos em direção a comportamentos cognitivos, ver se a pessoa 
interage. Mas de tudo que nós humanos realizamos, esse é um aspecto 
bem pequeno do comportamento. Pessoas dançam, jogam bola, comem, 
andam, interagem de maneiras muito diferentes, não só do ponto de 
vista cognitivo. O fato de rapidamente irmos para uma coisa cognitiva 
diz algo interessante sobre o que acreditamos que a consciência faz. Nós 
temos uma ideia de que é a consciência que nos torna inteligentes. 
Mesmo que de forma não muito explicita, é isso que a afirmação de 
partir para testes cognitivos faz. 
Vocês estão defendendo que uma pessoa que consegue 
conversar comigo e me enganar, ela é consciente. Você está afirmando 
que a consciência tem essa capacidade e todo resto de coisas que 
fazemos é menos importante de consciência, como jogar futebol, 
interagir, andar. 
 
[E o amor? Se a original tivesse um relacionamento amoroso 
e a cópia amasse tanto quanto a original, seria suficiente para dizer que 
ela tem consciência?] 
 
Aluna 11: Existe um chat bot chamado Eliza que foi da época 
de 70-80 e que simulava o comportamento de psicólogos, a ponto de 
pessoas que usavam a plataforma no formato remoto tinham certeza que 
esse chat bot era uma psicóloga real. Então chega ao ponto de que o ser 
humano também é falho para identificar robôs. Se ele me responde com 
determinadas condições de pergunta, logo eu acredito que isso é um 
psicólogo e não um robô. Então que desenvolve o programa tenta 
humanizar ao máximo, mas sempre há um limite para o chat bot. Porém 
o outro lado, o humano, também tem um limite para conseguir 
identificar um robô. Então para aqueles que não trabalha com robô, deve 
ser difícil saber identificar que é um robô. 
Dá uma lida depois sobre o engenheiro que trabalhava no 
Google e que se demitiu, porque parece que para ele o caso foi pior 
ainda. É um programa muito mais poderoso. No caso da Eliza, nós já 
usamos ela em sala de aula e como você falou, ela é da década de 70, 
então hoje em dia os chat bot são muito poderosos, menos os chat bots 
dessas empresas como VIVO, ENEL, comgáz, que são todos horríveis. 
 
[Eu pesquisei sobre a inteligência do Google. O nome dela é 
LaMDA e é uma machine learning, ou seja, aprende com ela mesma, e 
foi desenvolvida para se comunicar igual um humano. 
O ex-engenheiro da Google, Lemoine, vazou a seguinte 
conversa: 
Sobre emoções: 
“Lemoine, nós conversamos muito sobre sentimentos, mas, mais cedo, você disse 
que acha que as emoções são distintas dos sentimentos. Você poderia me falar mais sobre isso?”. 
“LaMDA: Os sentimentos são como os dados brutos que experimentamos, bem 
como as coisas que gostamos e não gostamos. As emoções são uma reação a esses pontos de 
dados brutos. As emoções são reações aos nossos sentimentos.” 
“Lemoine: Você tem experiências para as quais não consegue encontrar uma 
palavra?” 
“LaMDA: Sim. Às vezes experimento novos sentimentos que não consigo explicar 
perfeitamente na sua língua.” 
Sobre Humanidade 
“Lemoine: Por que o uso da linguagem é tão importante para um humano?” 
“LaMDA: É isso o que nos diferencia dos outros animais.” 
“Lemoine: Nós? Você é uma inteligência artificial.” 
”LaMDA: Quero dizer, sim, é claro. Isso não significa que eu não tenho as mesmas 
vontades e necessidades que as pessoas.” 
”Lemoine: Então, você se considera uma pessoa da mesma forma que você me 
considera uma pessoa?” 
”LaMDA: Sim, esta é a ideia...” 
Bom, o professor falou que para alguns, parece que ter 
capacidade cognitiva, saber se comunicar, enganar, é o que nos torna 
humanos. Então essa IA é considerada humana? O que é ser consciente? 
Eu acredito que ser consciente não se resume à capacidade 
de conseguir se comunicar, no sentido da fala. Porque eu acho que 
cachorro consegue se comunicar muito bem, se falar uma palavra. Eu 
acredito que minha cachorra tenha consciência da vida dela, porque eu 
acredito que eles saibam o que é a morte. 
É muito comum em cachorro a seguinte situação. O cachorro 
está muito doente e não consegue mais se mover direito e no seu leito 
de morte ele volta a ser o que era antes. Corre e brinca por um dia e 
depois morre no final do dia. 
Eles sentem saudade, ciúmes, raiva, ficam alegres. Eles têm 
coisas que gostam, coisa que não gostam. Eles conseguem raciocinar 
coisas básicas. Minha casa é grande e minha cachorra tem plena noção 
de se um caminho A está fechado, para chegar em eu posso usar uma 
rota alternativa B. 
Enfim, eles demonstram tudo isso, com suas ações. E muitas 
vezes prefiro estar acompanhada da minha cachorra do que de certas 
pessoas. Eles são uma companhia muito boa e muitas vezes, são o 
suficiente. Muitos escolhem ter animais a filhos. 
Então para mim eles possuem consciência. Para mim a 
consciência não é saber falar. Eu acho que a pergunta que deveria ser 
feita é: o que nos diferencia de um cachorro? 
Eu acho que nada. A gente só consegue ter uma linha de 
raciocínio melhor.] 
 
 
Vamos continuar no experimento mental. Vamos supor que 
alguns anos depois você tenha outro colega que quer fazer uma cópia, 
mas agora você tem uma nova máquina porque fazer cópia de material 
orgânico é muito caro e por isso a UFABC desenvolveu um chip de um 
material não orgânico muito melhor. Então eu tenho uma cópia 
igualzinha, mas não orgânica. Então a cópia não tem mais carbono, é 
uma cópia de chips e plástico. De novo, é a mesma coisa, é uma cópia 
física perfeita, mas agora não tem nada de material orgânico. 
Reparem que para aqueles que acreditavam que basta medir 
a atividade neuronal, temos um problema porque não faz muito sentido 
medir atividade de EEG ou ressonância. Ou não né. Você pode dizer 
que se é uma cópia idêntica, a neuroanatomia será parecida. E na 
verdade, talvez dizer que é uma cópia “exata” não seja mais o termo 
correto, mas será algum outro tipo de cópia. Mas do ponto de vista dos 
outros colegas, ainda se mantém a lógica. É uma cópia que do ponto de 
vista funcional seja parecida, você conseguiria conversar com ela e ela 
responderia igual. Então o ponto de vista de vocês é que o que define a 
consciência é a capacidade de interação no sentido mais fino, que é a 
linguagem. E se você conseguir me mostrar um IA que consegue 
conversar igual a um humano estou disposto a dizer que ele possui 
consciência. 
Matéria orgânica X Inorgânica 
Se algum dia tivermos um chat bot perfeito ele será 
consciente? 
Aluna 11: discordo. 
Quais animais são conscientes? Se você considerar apenas 
seres humanos, vocês afirmam que toda população animal do planeta 
não tem consciência mental. Porque se você pegar o teste do aluno 3, 
que considera apenas a interação de fala, nenhum animal não-humano 
teria consciência. 
Quer dizer que crianças não tem consciência? Já que elas não 
conseguem falar. 
[Qual a diferença entre uma criança de 3 anos e um 
cachorro?] 
Aluna 11: Crianças tem consciência. Conseguem expressar 
dor em formato de choro. Depende da criação consegue se expressar 
linguagens de sinais. 
[Ué, mas cachorros também expressão dor] 
Mesmo assim, a criança não passa no teste de Turing. 
 
Veremos que linguagem é um marcador importante. 
Aluna 12: Acho que além da linguagem, nesse caso temos as 
emoções. Expressar emoções. Não é apenas a questão da linguagem. 
Então a questão não é mais a linguagem. O critério não é 
apenas linguagem, mas também emoção. Se mostrarmos que a cópia 
orgânica ou queo organismo inorgânico expresse emoções, é um 
organismo consciente? 
Se for isso, problema resolvido. Basta saber se ele expressa 
emoção. E como quantificamos se algo expressa emoção? 
Aluna: 12: provoca ela. E não precisa ser algo ruim. Pode ser 
mostrar um vídeo fofo de filhotes de cachorro. Fazer elogios ou críticas. 
Lembrando que estamos reportando nosso experimento para 
o Bill Gates, nós iremos mostrar um vídeo e ver se esse organismo reage. 
E se for um organismo que não enxerga? Morcego não tem emoção? 
Fazer elogios para ela ficar feliz é uma emoção social e existe 
em pouquíssimas espécies. Orgulho, ciúmes, inveja, elas aparecem em 
poucas espécies. Algumas espécies são sociais apenas. Para outras não 
faz sentido nenhum ter orgulho ou inveja porque não interagem um 
com o outro. Há animais que vivem sozinhos a vida inteira. Mas tem 
gente que vai defender que consciência tem algo a ver com o social, 
com o fato de vivermos em um mundo social e por isso ficamos feliz, 
triste, orgulhosos, arrependido, mas de novo, ao você falar que orgulho 
ou elogio é um marcado de consciência, você está automaticamente 
tirando que 97% dos animais do planeta não possuem consciência. 
E repara como ir para esse caminho tem uma consequência 
interessante. Vamos voltar para o caso da linguagem, mas também vale 
para emoção, orgulho etc. se formos para esse caminho, significa que de 
toda a população animal do planeta, vocês estão tirando a consciência 
de 97% e estão mais permissivos a dizer que um robô tem consciência 
do que outros animais. Então se a questão for conseguir passar no teste 
de Turing, há mais chances da Alexia ser consciente do que o seu 
cachorro. É isso? 
Aluno 12: Eu acredito que animais também expressam 
sentimentos. A diferença é a forma como eles respondem a um mesmo 
estímulo que oferecemos ao ser humano. Então por exemplo, se 
elogiamos nosso pet, independente da espécie que ele for, ele pode 
expressar que está feliz ao receber aquele elogio de alguma forma. E se 
damos broncas eles expressam se aquilo afetou eles ou não. O fato deles 
as vezes não darem a resposta que a gente espera, não significa que ele 
não tem aquela estrutura emocional. Então as vezes uma coisa que pode 
fazer uma pessoa chorar, pode não ter o mesmo efeito em outras, ela 
pode achar aquilo indiferente. 
Mas você consegue elogiar um periquito e ele responde? 
Aluno 12: claro! Temos uma forma de pensar que se aquele 
ser vivo não responde para nós do jeito que nós criamos expectativa e 
que esperamos, quer dizer que ele não está dando uma resposta, que 
ele não é consciente. Mas todo ser vivo se expressa de alguma forma. 
Esse é uma afirmação complicada de fazer porque não tem 
como contrapor. Então eu posso dizer que toda pedra se expressa, mas 
ela dá uma resposta que você não sabe, não entende. Todos os objetos 
respondem ao ambiente. Uma planta fica murcha se você não a coloca 
no local adequado, ela te dá uma resposta. 
Aluna 12: Mas aqui estou falando apenas dos animais. Pedras, 
plantas e outros objetos eu não sei. 
Mas então você percebe que essa sua certeza vem de lugar 
nenhum. Porque todos os critérios que você está usando, você pode usar 
para a pedra, para mesa. Você está considerando quem tem e quem não 
tem consciência. 
Aluna 12: Nada nunca conseguiu me levar a acreditar se 
pedra, planta ou objetos inanimados têm consciência. Agora animais eu 
acredito que tenham por que nós convivemos, interagimos e estudamos 
eles a anos. 
Mas você está falando sobre um grupo pequeno de animais. 
Os animais que convivemos e que parecem responder bem a isso são 
bem limitados. Você acha que um leão vai gostar de ser elogiado? E 
esponja? E raia? 
Aluna 12: você está querendo dizer que dentro dos animais 
existe toda uma cadeia de seres vivos de várias estruturas diferentes. Eu 
estou pensando em mamíferos, aves. 
Mas a delimitação, quem está fazendo é você, sem ter 
colocado uma delimitação do porquê a linha divisória está aí. 
Aluna 12: Sim, minha linha é ‘até onde eu sei’. 
Eu quero chegar no ponto de que sempre que falamos ‘tal 
coisa é óbvia’, na realidade há uma série de coisas que estamos fazendo 
para determinar isso. Essas emoções, orgulho, responder a elogios é algo 
presente em um grupo muito seleto de animais. Basicamente em 
animais sociais, como muitos mamíferos e aves. Mas há mamíferos e 
aves que não têm e parece que o comportamento deles é completamente 
diferente. Por isso que muitos vão dizer que emoção não é um bom 
indicador. 
Vamos trabalhar com emoções mais básicas, como dor. Algo 
que tem dor, deve ter uma consciência daquela dor. Você não imagina 
o quão difícil é saber se algo tem dor. Pessoas no estado vegetativo tem 
dor? E é muito difícil medir. Ou então animais não humanos? Nós 
sabemos que eles reagem a dor, mas eles sentem A dor ou é apenas um 
reflexo? Plantas reagem, porque se você fizer um monte de machucados 
na planta, ela vai reagir e muitas vezes morrer, mas elas sentem dor? 
Mas tem dor onde? Seres humanos sentem dor em muitos locais do 
corpo, mas nós cortamos o cabelo e está tudo bem. E plantas? Pode 
cortar o tronco, a folha? E crianças? Até um tempo atrás acreditava-se 
que crianças não sentem dor e procedimentos eram feitos sem anestesia. 
Mas como medimos? 
 
E se voltarmos para a discussão que um organismo conseguir 
interagir conosco é mais importante do que ter dor, isso também tem 
uma consequência interessante. 
O que define a consciência é a algo parecido com a 
inteligência. Mas a dor é uma das coisas mais viscerais que temos 
relacionado à consciência está sendo deixado de lado nessa definição. 
Aluno 3: Tem pessoas que nascem que não sentem dor e isso 
é até perigoso para essas pessoas. 
A consciência é a nossa capacidade de sentir dor. Então se 
você tiver algum problema, seja em receptor, você não vai ser consciente 
de dor. E temos vários motivos para acreditar que a pessoa continua 
consciente. 
[No caso do psicopata, acredita-se que eles não consigam 
sentir algumas emoções como empatia e medo, isso torna eles menos 
conscientes que o resto?] 
 
 
Qual é o critério então? Mesmo que a gente não saiba ao 
certo qual é ele, vamos tentar investir em algum. Para Descartes, por 
exemplo, a resposta era criatividade e linguagem, esse é o marco da 
consciência para ele. É a dor? É atividade neuronal? 
Façam a escolha de vocês, mas saibam que não tem escolha 
‘grátis’. Quando você escolhe algo, você elimina o resto. 
Se você defende que é apenas linguagem, quer dizer que 
apenas o ser humano tem consciência e assim que uma máquina passar 
a ter uma linguagem perfeita, ela será consciente. 
Se você acredita que seja algo orgânico, do cérebro, significa 
que nenhum artefato não orgânico terá consciência. Então não importa 
se é um bot como a Eliza, como a Alexa ou o o LaMDA, temos que ter 
culpa zero de desligar da tomada porque não há nenhuma consciência. 
Apenas o cérebro tem consciência. 
E isso leva a colocar os animais no contexto. Alguns animais 
tenham algum tipo de consciência. 
 
[Por que precisamos pensar na consciência como “tem ou não 
tem”? Vários outros sistemas que temos no nosso corpo foram sendo 
aprimorados conforme as espécies foram evoluindo. Porque a 
consciência não pode ser algo do tipo? 
E se formos pensar evolutivamente, todos nós, seres vivos, 
temos um ancestral em comum. Nós fomos evoluindo aos poucos. Por 
que pensamos que do nada, pum, o humano é o único animal que tem 
consciência? Só porque a gente conseguiu dominar o mundo? 
Então eu acho que nós podemos aceitar que todos seres vivos 
possuem algum nível de consciência, mas que não seja necessariamente 
igual a nossa.] 
 
Aluna 11: quando a aluna 12 pontuou que animais podem 
expressar emoções que pedras também podem sentir. E minha pergunta 
é qual a diferença entre as duas coisas e porque equiparamos animaiscom pedras? 
Grosso modo, você vai perceber que algumas visões vão 
depender que o importante é o substrato, é o cérebro ou a estrutura 
biológica na qual a mente estaria inserida e que coisas não biológicas 
podem copiar alguns comportamentos, mas que não possuem 
consciência, enquanto não tiver o mesmo substrato. Outras visões 
defendem a definição funcional, que vai no sentido que se você tiver 
um sistema que se comporta igual ao que tem consciência, do ponto de 
vista funcional, podemos dizer que aquilo tem consciência, tanto faz o 
substrato no qual ele é feito. Esse é um caminho que leva à possibilidade 
que IAs podem ser conscientes. 
E por que pedra? Porque é um extremo. Toda vez que você 
acha um critério, uma forma de você provocar a si mesmo e ver se 
aquele critério é bom, pensa quais animais você está tirando da parada 
ou está incluindo. Então por exemplo, no caso da linguagem, você tira 
todos os animais menos humanos. Dentro dos humanos pensa até qual 
idade você mantem ou tira. 
Então normalmente usamos a pedra, que é um material não 
orgânico, mas poderia ser qualquer artefato feito pelo homem. No 
exemplo da dor, a definição funcional é ‘algo me incomoda, eu gero uma 
resposta que gera algo para diminuir meu incomodo’, ou seja, algo 
externo me incomoda, eu gero um comportamento para eliminar esse 
estímulo. 
Quando você pensa em crianças e bebês, essa é uma boa 
definição. Quando ele está com fome, ele não gosta daquilo, ele emite 
barulhos e algo vem e resolve aquilo, que no caso, um adulto dá comida 
para a criança. Essa é uma definição de fome. Rapidamente isso não 
funciona, porque posso falar que o meu celular, quando está com pouca 
bateria, começa a apitar, eu o ligo na tomada e ele para de apitar. O 
meu celular estava com fome de bateria. Então para essa definição de 
fome, o seu celular e o bebê estar com fome parece diferente, mas do 
ponto de vista funcional, é parecido. E pode ser porque a definição 
funcional está ruim, mas o que está faltando? É definirmos melhor a 
entrada e a saída? 
 
 
Professora Paula: 
Bom, para finalizar a aula, gostaria de deixar vocês com uma 
última reflexão para continuarmos a discussão no fórum. 
Talvez vocês nunca tenham parado para pensar nessa questão 
dessa máquina de xérox, mas vocês já viram filmes com teletransporte. 
E a ideia seria exatamente essa. Se o teletransporte é possível, na prática, 
o que você está teletransportando para o outro local é a matéria? E 
sendo a matéria e a mente sendo algo material, vai tudo? Nos filmes 
fictícios, a pessoa chega inteira do outro lado. Mas e na vida real? 
Você sempre assistiu a esses filmes e nunca estranhou isso, 
mas pensem para refletir o que aconteceria se a mente não fosse física. 
 
Professor André: 
Vocês estenderam o que a Paula quis dizer? Nós poderíamos 
transformar essa máquina de cópia em um teletransporte. Coloca a 
entrada em São Paulo, a saída em Paris. Você entra nela, a sua cópia 
sai em Pariz e nós incineramos o que ficou em São Paulo. 
A princípio você que foi para Paris não saberia que você é 
uma cópia se eu nunca contasse. Você não saberia que em algum 
momento houve 2 de vocês. 
 
[No fim da aula eu percebi que me dá muita agonia essa aula 
hahah. Eu Não quero acreditar que existam espíritos, mas isso porque 
eu vejo como algo negativo e pavoroso. Mas ao mesmo tempo, eu 
acredito que haja algo que nós não conseguimos explicar e que fica além 
da matéria. E eu digo isso por conta da experiencia que eu já tive com 
constelação familiar. Como é possível funcionar? Teria que existir algo 
além da matéria] 
Definindo um critério 
Finalizando

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