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Intro. À Filosofia da mente Quadrimestre suplementar 2022-2 Aula 2 i n t r o d u ç ã o à f i l o s o f i a d a m e n t e Prof. André Cravo A aula de hoje é para ser uma introdução mais direcionada ao que iremos abordar na disciplina, enquanto na semana passada foi mais uma introdução sobre a temática e como iremos fazer e hoje iremos entrar mais no tema. A ideia é fazer a introdução ao tema usando um experimento mental. Isso porque o principal tema que iremos investigar é qual a natureza da mente. E o que isso significa? Iremos discutir se a mente é algo físico ou não. Qual a natureza entre a experiencia e o sujeito? Como investigamos isso? E qual a relação entre fenômenos mentais e físicos? Há diversas propostas para responder e é isso que iremos fazer nessa disciplina. Iremos passear por uma série de respostas que vão de alguma maneira tentar propor qual a natureza da mente. E algumas das propostas que tentam relacionar mente e cérebro são as seguintes: Essa disciplina tem particularmente algo diferente que normalmente você começa uma disciplina sem saber nada sobre, mas no nosso caso, você provavelmente já tem uma ideia de como se dá essa relação. E é muito importante entender como você entende sobre o assunto antes de sair vendo um monte de ideia de filósofos e saber onde vocês encaixam nessa árvore. E por isso iremos usar o experimento mental. O experimento mental é uma situação hipotética onde você cria uma série de regras e vê quais são as possíveis conclusões que você pode chegar com essas regras. Tem uma discussão enorme de quão útil são os experimentos mentais na filosofia da mente. Em alguns casos clássicos foram muito úteis, como no caso da Teoria da Relatividade de Einstein que permitiu chegar a conclusões importantes. Mas no nosso caso de hoje não é para chegarmos em uma conclusão, é para vocês terem uma ideia intuitiva do que vocês mesmos pensam sobre esse assunto. Aproveitamos que a faculdade estava vazia durante a pandemia. Juntamos os 3 centros de ensino CCNH, SECS e o CMCC e criamos a máquina mais interessante do mundo: a máquina de xérox perfeita. É uma máquina que qualquer objeto que você coloque do lado esquerdo, ele será escaneado com uma precisão física absurda e o que será gerado do outro lado é uma cópia física perfeita e idêntica do objeto à esquerda. De novo, tudo que tem de físico no objeto da esquerda será igual na cópia da direita. Tudo. A precisão nem é possível no mundo real, mas é em uma escala da átomos, moléculas, tudo físico será copiado pela máquina. Estou enfatizando bem isso porque essa é a premissa do experimento e que sabemos que é impossível de acontecer no mundo real. Para mostrar que funciona, colocamos um rato do lado esquerdo e esperamos ela reproduzir uma cópia física perfeita do lado direito. Novamente, não é simplesmente uma cópia genética do rato. O rato da direita não é um irmão gêmeo do rato da esquerda, não é um clone. É muito mais que isso. O clone é apenas uma cópia genética de um animal. Isso se trata de uma cópia física. Então significa que no momento da cópia, no instante que copiamos, todos os átomos, moléculas, proteínas, neurotransmissores, vesículas sinápticas, tudo foi copiado. Agora vamos tornar o experimento mais interessante colocando um humano do lado esquerdo. E ainda podemos anestesiar essa pessoa antes dela ser escaneada, apenas o suficiente para ela dormir um pouco, para deixar ainda mais interessante. Minha primeira pergunta, a pessoa da direita terá consciência? Terá mente? Introdução O experimento mental Introdução à filosofia Da mente Aqui não precisamos definir muito o que é mente. Vamos usar algo mais intuitivo como humanos têm mente, primatas provavelmente têm mentes, plantas provável que não. A definição que usualmente temos de mente. Respostas: 78% disseram que sim, 17% que não e 4% se abstiveram. Esse é o padrão comum no curso da neuro. E eu digo ‘neuro’ porque essa é uma amostra enviesada, porque é comum nesse grupo de pessoas ter essa visão de que essa cópia terá mente. E em outros locais o padrão é o contrário. Lembrando que não há certo ou errado, iremos falar porque é tão difícil responder isso. Aluna 1 (homem não terá mente): eu pensei que se fisicamente será exatamente igual, o cérebro terá neurônios, axônios e tudo aquilo, mas talvez, assim como um rato que também foi copiado, eu imagino que não teria mente, eu acredito que o homem também não terá a mesma mente que o original. Ele terá apenas a parte física, mas não terá consciência. Não se preocupem em não saber explicar direito, porque muito dessa visão que temos é intuitiva, muitas vezes não paramos para pensar no porquê achamos tal coisa. Mas a impressão que eu tive pela resposta de vocês que falaram que o homem não teria mente é que talvez tenha algo que ficou de fora. Aluna 2 (homem não terá mente): o rato, do ponto de vista físico neuroanatômico, ele não é tão diferente do cérebro humano, mas parece que algo falta. Isso dizendo para o animal real, para a não-cópia. Primatas não-humanos possuem uma capacidade mental incrível, mas parece que algo falta neles. Assim como no homem copiado também vai faltar. Então talvez tenha algo não físico que tenha se perdido. Esse é um argumento comum e válido. Você fez uma cópia idêntica do ponto de vista físico, mas algo ficou de fora. E vocês provavelmente se esbarraram na dificuldade de ter essa visão que é “que <algo> é esse que ficou de fora? Por que ele ficou de fora do ponto de vista físico?”. E vocês podem falar que o cérebro do rato é parecido com o nosso. Cérebros de mamíferos no geral seguem um padrão. Mas <algo> falta para ele ter uma consciência igual a nossa. Mas o que é isso? Para quem votou ‘não’, esse <algo>, o que quer que seja, não é físico, que não está armazenado em neurônios, sinapses, nem em nada que possa ser copiado em uma máquina perfeita. Vocês que acham que o homem não terá consciência, me digam como será a pessoa copiada. Ela vai abrir o olho ou será uma marionete? Aluna 2: Ela vai abrir o olho. Não sei. Vai ser uma pessoa em estado vegetativo. Não terá ações. Quando ela abrir o olho, vai ficar claro que há algo faltando nela. Ela vai ser igual um rato (sem consciência). Reparem que isso que você está dizendo é um pouco diferente do que vocês falaram do rato, que ele tem um cérebro parecido com o nosso, mas que ele não tem consciência igual a nossa. Mas o rato (o rato verdadeiro) está longe de estar em um estado vegetativo. Ele faz as coisas dele, ele tem ações. E lembrando que isso não é um ataque. Mas se vocês querem falar que o rato não tem uma vida mental como a nossa, mesmo assim podemos dizer que o animal consegue fazer uma série de coisas, sem ter uma vida mental igual a nossa. Mas no caso do ser humano copiado, você está dizendo que ele não vai nem se levantar. Aluno 3 (não terá consciência): A máquina perfeita de vocês copia um snapshot? Ou seja, ela copia o ‘estático’? Se ela não copiar o estado de movimento, o homem copiado estaria em zero absoluto. Então para a pessoa entrar em movimento, ela deveria copiar o estado físico em movimento de cada partícula. Se ela copiasse isso, para mim, não faltaria nada, a não ser que você tivesse o pressuposto etéreo, além da matéria, mas até o momento, nunca vi nada científico mostrando algo que extrapole o físico. Eu já pensei em um experimento onde, se você conseguir replicar os estados dos neurônios, a estrutura, função de cada um em um computador, você faria as mesmas perguntas para as duas “mentes” (a “real” e a do computador) e veria até que ponto elas pensariam da mesma forma. Se a consciência virtual existiria,se ela replicaria o comportamento da real. Essa questão que você trouxe é bem interessante e iremos comentar sobre isso futuramente, mas gostaria de dar um passo para trás e falar sobre algo que você comentou. Você disse que a foto é estática e par esse experimento mental talvez isso realmente seja um problema, porque você tira a foto, mas parece que falta alguma coisa para a coisa começar a mexer. Sabemos que, o quer que estejamos fazendo, é algo dinâmico. Temos coisas fluindo dentro de nós o tempo inteiro. Então podemos pensar o seguinte. Se colocássemos um moinho de água do lado esquerdo, no momento que fizesse a cópia, o moinho iria começar a funcionar porque, não só ele iria copiar a estrutura, mas iria fazer uma cópia da água naquele instante. Ou se você pensar em um relógio, a cópia vai ser terminada e já vai funcionar, porque no momento que fazemos a cópia, ela é tão perfeita que a dinâmica vai junto. Quanto à parte virtual que você comentou, iremos falar mais adiante. E para terminar o raciocínio, é verdade que no momento, a visão dominante dos filósofos da mente é que não existe algo como a alma. Não diria que os cientistas estariam nesse nicho porque é mais divido do que você imagina essa questão. E mesmo que os filósofos não tenham a ideia de uma alma do ponto de vista religioso, vários defendem que há algo não físico envolvido. Muitos defendem uma visão dualista que não depende de Deus ou de alma, quando morre, a pessoa morre, mas tem algo não físico envolvido e para Chalmers, a cópia não vai ter consciência. Aluna 5 (terá consciência): se vai ter todas as questões físicas, como nosso corpo é bem autônomo e esperto, ele acaba gerando caminhos para fazer acontecer. Na novela ‘o clone’ deu certo rs, mas pensando na literatura, ou mesmo no Frankenstein, acho que teria sim, mas ficaria em dúvida se ele funcionaria exatamente fidedigno à mente do original. Talvez ele teria coisas de quem ele foi copiado e outras ele geraria as dele própria. E talvez no inicio seria algo parecendo mesmo um zumbi, mas que gradativamente iria aprendendo coisas e ficaria cada vez mais fluido. Quero aproveitar seu assunto para falar de outra divisão importante. Já vimos que alguns vão dizer que ele não vai ter consciência e outras vão dizer que ele tem. E dentro dessas que vão argumentar que ele têm, dizem que talvez ele realmente tenha, mas ele não vai ter uma vida funcional. Ou até tenha funcionalidade, mas não terá profundidade A cópia terá mente? em suas ações. Ou que ele precise sentir várias sensações para começar a se desenvolver. Então vamos discutir sobre aqueles que acham que ele vai ter consciência. [Aqui quero falar sobre o que eu pensei. No instante da enquete eu votei que ele teria sim consciência, mas sem pensar muito no porquê. Depois escutando todas essas discussões eu percebi que por eu ter escolhido isso, eu acredito que não existe alma, que não existe mente, mas eu não refuto isso completamente. Para mim é mais no sentido de ‘eu quero acreditar que tem mente, mas isso não entra na minha cabeça em como isso seria possível’. Se eu aceitasse que há alma, como ficaria a questão de Deus? A uma energia maior? Há espíritos que eu tenho medo? Há vida após a morte? Até onde eu teria que pensar nessas questões? Eu achei muito engraçado essa minha escolha... nem pensar duas vezes e votar que ele vai ter consciência, sendo que eu nem sei se acredito ou não em alma.] Eu (professor) vou ler algumas coisas que vocês mandaram no chat. Alguns acreditam que ele vai acordar, vai ter consciência, mas não terá memórias. Repara que ao dizer isso, você acredita que memórias são armazenadas em algum aspecto não físico da pessoa, porque se fosse físico, deveria estar lá. O que sabemos de memória atualmente é que ela está armazenada no circuito neural, ou em facilitação sináptica, hipocampo. Então se achamos que tudo que há na memória, nada mais é, do que alguma facilitação sináptica ou mudanças na circuitaria neural, a princípio, esse clone deveria ter memória. E mais que isso, ele deveria ter as mesmas memórias que o original. Para algumas pessoas essa ideia não incomoda. A cópia vai acordar, vai ter as mesmas memórias que o original, mas vamos levar isso para o extremo. Vamos supor que tenha uma poesia que mexe muito com a pessoa original e quando os dois acordam, leio a poesia para os dois e ambos choram. O choro do original é mais verdadeiro que o da cópia? Se tem as memórias na cópia, os dois choros têm o mesmo valor? Ou a emoção real é apenas do original? Aluno 6 (terá consciência): A cópia seria exatamente igual, assim como sua consciência, porque eu acredito que ela emerge da mistura do corpo com o cérebro e o ambiente. Então a cópia apenas teria que ter esses itens para criar a consciência, mas talvez nesse caso criaria uma outra dimensão de identidade, porque quando ela souber que é a cópia e não o real, terá uma configuração de identidade diferente e então será uma pessoa diferente. Mas ambas terão a mesmas memórias, a mesma forma de agir. Mas como passarão por contextos diferentes (uma saberá que é o real e a outra saberá que é a cópia) irá gerar caminhos identitários diferentes. No final do experimento eu comentei que iriamos anestesiar as duas pessoas antes de fazer a cópia. A hora que as duas acordam, elas sabem quem é cópia e quem é original? Aluno 6: Acho que não. Você disse “Talvez a cópia, por saber que é uma cópia”, mas repara que as duas vão saber que existe uma cópia de mim, mas talvez elas não saibam quem é quem. Ou talvez até ambas queiram acreditar que elas são a verdadeira. E outro ponto, a cópia é menos original que o original? Nós sabemos quem era o original, mas ela pode dizer que ela tem algo que a cópia não tem? Ou, a princípio, uma vez feito, uma é tão original quanto a outra. Aluna 7 (terá consciência): Acho que vai muito da personalidade do próprio indivíduo. Por exemplo, pessoas mais autoconfiantes, egóicas, vão achar que elas são o original. Mas se ela é mais insegura, introspectiva, talvez ambos tendam a achar que eles são a cópia. Do ponto de vista ontológico, eu sei que existia a pessoa original A e fiz a cópia B. Quando eu olho para as duas, ainda faz sentido falar que uma é original e outra é a cópia? Um ponto mais passivo é que no momento 0, quando ambas acordam, elas devem ser muito parecidas. A partir do instante 1, 2, 3, para aqueles que acreditam que ela terá consciência, todos tendem a concordar que ela vai ter a vida dela. Que a partir daquele momento elas terão as próprias vivências. E que a vivência dela será tão real quanto a original, como falamos sobre o poema. Então assumindo que todos concordam que terão vidas diferentes. Vamos dizer que a gente fez o experimento, mas que não dá para deixar ambas na UFABC e resolvemos mandar a cópia para longe para não ficar óbvio que fizemos uma cópia ilegal de uma pessoa e mandamos para a Europa. Dali a 20 anos, a gente vai lá visitar a cópia. Imagino que todos concordam que ela vai estar diferente da original, mas o quão diferente será? Tem coisas que se mudasse, não seria nem um pouco estranho, como a cópia usar cabelo longo e a original cabelo curto. Uma fez tatuagem ou não. O que vocês achariam estranho se algo mudasse? Faria sentindo a cópia virar extremista quando a original é moderada? Ou mudar a religião? Ou o caráter? Preferência de comida? Orientação de gênero? Orientação sexual? Uma ser trans. Ou então, algo que se fosse igual, vocês achariam esquisito. [Eu não consegui pensar em nada que eu acharia estranho. Elas viveram separadas, com experiencias completamente diferentes, em culturas diferentes. Não estranharia se ela virasse outra pessoa. Talvez no máximo eu ficaria assustada se uma virasse assassina ou se uma fosse muito felize a outra tivesse se suicidado. E esse último eu não acharia estranho, na verdade eu ficaria apenas em choque, tipo “eita, a vida delas foi tão diferente assim?”] Aluna 8: Eu acho que a partir do momento que elas têm experiencias diferentes, elas terão crenças diferentes. Mas como a cópia tem as mesmas memórias, ela teria uma certa crença base parecida. Então se ela se tornasse oposta, eu ficaria um pouco chocada, como extrema direita e esquerda. [Se a cópia soubesse que é uma cópia, eu acharia normal ela ter mudado completamente as crenças. Eu imagino que seria bem fácil de acontecer se uma pessoa soubesse que é uma cópia, dela ter uma crise existencial. Pensar que tudo que ela conhece ou lembra não é ‘real’ e por causa disso ela iria para o caminho oposto] Aluno 9: Já vi pesquisas de gêmeos geneticamente idênticos que por algum motivo foram separados na infância e se reencontraram depois de muitos anos virão que seguiram vidas semelhantes, embora tenham experiencias de vida diferentes. Então acredito que não seguirão caminhos tão radicalmente diferentes, a menos que algum deles tenha uma experiencia muito extrema. Vocês perceberam a pegadinha na pergunta? Eu perguntei que se você tivesse uma cópia sua e daqui a 20 anos o que seria bizarro Como a cópia estará em 20 anos? ela estar diferente de você, isso é a mesma coisa que eu perguntar para você mesmo o que é impossível mudar algo em 20 anos de vocês? Então vocês estão falando que do jeito que vocês são hoje, não tem como mudar minha visão política ou religião. Ou seja, quando vocês falam “seria estranho se ela tivesse mudado de religião” vocês estão falando “é impossível eu daqui a 20 anos mudar de religião”. Porque isso, de alguma maneira, está tão já feito no corpo, na física de vocês, que seria muito esquisito isso mudar em vocês. Que há coisas pré-definidas em vocês. A não ser, como nosso colega falou, que algo muito extremo aconteça. [Eu acho que qualquer coisa pode mudar. E talvez seja por causa do meu livro “One question a day” onde você responde 365 perguntas, uma vez por dia, e repete as mesmas perguntas por 5 anos. E as perguntas eram super bobas como comida favorita, visão de relacionamento, família, e em várias eu me surpreendi com a minha resposta. Algumas tinha até vergonha de ter respondido aquilo. Mas eu pensei em algo que eu me assustaria demais, que seria se algum dia eu não amasse a Summer. Se eu falasse que a Summer foi a pior coisa que aconteceu na minha vida. Isso para mim seria assustador e eu não entenderia como isso aconteceu.] E muitos talvez concorde que mudar de ideia não é estranho, mas quando entramos em escolha de gênero talvez haja uma discussão maior. Se uma pessoa muda de gênero com 40 anos, muitas pessoas diriam que essa pessoa já tinha essa vontade antes. E a orientação sexual também, se a cópia virasse gay, muitos podem pensar que a original (que não virou gay) poderia estar reprimindo algo. Não quero dizer o que é estranho ou não mudar, mas em relação à orientação sexual e escolha de gênero, é algo mais estrutural, no sentido de que você tem a sua e isso não muda muito. Mas isso é só pra mostrar que para aqueles que acham que a cópia terá consciência, o que vai ser carregado do ponto de física não está muito claro. E aqui entramos em uma discussão mais paralela, porque neste momento estamos discutindo se tudo isso é físico ou não. Mesmo assim tem coisas que são físicas, mas que podem mudar a esse ponto. Não tem problema achar que são físicas, mas não são estáticas. É importante dizer isso porque veremos muito disso nas discussões, porque se é algo físico, as duas deveriam ser iguais, o que por outro lado, isso tiraria o nossos livre arbítrio etc. Então só esclarecendo que á possível argumentar com esses dois fatores juntos, que é uma cópia física perfeita, tem consciência, tem livre arbítrio e terá uma vida completamente diferente. Bom, estamos discutindo muita filosofia, mas somos cientistas. Não precisamos mais discutir. Nós temos a máquina, nós conseguimos fazer a cópia. Se queremos saber se há consciência, é só medir e assim nós da UFABC saberemos se uma cópia física perfeita tem consciência ou não. E vamos supor que essa pergunta é tão interessante que o Bill Gates se interessou por ela e teve interesse em financiar o projeto, ou seja, dinheiro não é problema. Vocês querem saber se a cópia tem consciência? Vão precisar de uma tecnologia caríssima? Nós conseguimos comprar. Como fazemos isso? Aluna 10: Eu buscaria algo físico, usando uma ressonância ou EEG. Se algo ativasse no cérebro, acreditaria que ela tem consciência. Mediria a atividade neuronal na região onde eu acreditaria que está a mente (que eu não sei que lugar é esse). Aluno 3: Quando eu expliquei o experimento anteriormente, já disse que o teste seria comportamental, como um teste de Turing (internet: o teste de Turing testa a capacidade de uma máquina exibir comportamento inteligente equivalente a um ser humano, ou indistinguível deste). Ou seja, veríamos se ele interage da mesma maneira e veria até que ponto o comportamento de ambos se mantém igual. Se ficar dias e dias igual, com as mesmas interações (ou iteração?), poderia dizer que a cópia é consciente. No chat posso ver uma divisão interessante. Alguns vão pelo caminho da aluna 10, medindo atividade neuronal, apesar de não sabermos ainda exatamente qual. Já o outro lado opta pelo teste de Turing. Falando primeiro do teste de Turing, qual tipo de interação deve ser igual? Quando falamos sobre o que uma pessoa é capaz de fazer, temos infinitas coisas que pessoas podem fazer. Quando você fala de interação, quais delas devem ser iguais para você dizer que a cópia tem consciência? Vou dar um exemplo para você entender aonde eu quero chegar. Quando você pega a Alexia, ela consegue fazer uma interação razoável e nós temos acesso a ela. Aliás, vocês viram que entrou em pauta que a inteligência artificial do Google teria consciência? Depois busquem sobre isso. Mas um funcionário do Google se demitiu porque ele acredita que a máquina dele possui consciência. Mas voltando para a Alexia, nós temos interação com ela. Conseguimos conversar com ela por dias, sem ter diferença nenhuma. Mas ela não joga futebol comigo. Então esse é um tipo de interação que ela não tem e que na verdade eu (professor) também não teria por que eu não sei jogar futebol. Então seria esse tipo de interação que você está falando? A cópia precisa dançar, ir ao teatro, jogar futebol? Ou está falando sobre conversa? Aluno 3: Seria apenas interação que poderia ocorrer dentro da sala. Teríamos duas salas idênticas, uma real e outra virtual. Isso porque eu ainda estou pensando no experimento que eu comentei anteriormente de conseguir simular uma rede neural e fazer perguntas para a pessoa e para a máquina. Então adaptando essa ideia que eu tive para o experimento na UFABC, os dois assistiram os mesmos filmes. Poderíamos monitorar as reações emocionais. Ok, logo retornaremos a esse debate. Outro aluno de vocês mandou no chat perguntando se pessoas em estado vegetativo possuem atividade neuronal? Sim, possuem. Mas temos que pensar qual é essa atividade neural que diz se alguém tem ou não consciência? Seja qual for essa atividade, temos que achar nos humanos, primatas não- humanos, pessoas em estado vegetativo etc. [Quando o professor falou sobre estado vegetativo, poderíamos levar a discussão para esse lado. A pessoa em estado vegetativo, possui consciência? Muito relatos de pessoas que acordaram desse estado dizem que elas escutavam as conversas que aconteciam ao seu redor e estavam conscientes do que estava ao seu redor. Mas ela não tem atividade física, Como saber se a cópia tem consciência? no sentido de atividade que conseguimosver, como movimentos do corpo. Então se ela tem consciência, o que falta nela, que ela não consegue ter acesso ao corpo físico? Por que ela não consegue controlá- lo se ela está consciente? Então mesmo se a cópia não abrisse o olho, poderíamos supor que ela não tem consciência?] Então um lado vai para a atividade neural e o outro lado vai pelo comportamento, ver como ela reage. Quando perguntamos qual o tipo de comportamento, é muito comum irmos em direção a comportamentos cognitivos, ver se a pessoa interage. Mas de tudo que nós humanos realizamos, esse é um aspecto bem pequeno do comportamento. Pessoas dançam, jogam bola, comem, andam, interagem de maneiras muito diferentes, não só do ponto de vista cognitivo. O fato de rapidamente irmos para uma coisa cognitiva diz algo interessante sobre o que acreditamos que a consciência faz. Nós temos uma ideia de que é a consciência que nos torna inteligentes. Mesmo que de forma não muito explicita, é isso que a afirmação de partir para testes cognitivos faz. Vocês estão defendendo que uma pessoa que consegue conversar comigo e me enganar, ela é consciente. Você está afirmando que a consciência tem essa capacidade e todo resto de coisas que fazemos é menos importante de consciência, como jogar futebol, interagir, andar. [E o amor? Se a original tivesse um relacionamento amoroso e a cópia amasse tanto quanto a original, seria suficiente para dizer que ela tem consciência?] Aluna 11: Existe um chat bot chamado Eliza que foi da época de 70-80 e que simulava o comportamento de psicólogos, a ponto de pessoas que usavam a plataforma no formato remoto tinham certeza que esse chat bot era uma psicóloga real. Então chega ao ponto de que o ser humano também é falho para identificar robôs. Se ele me responde com determinadas condições de pergunta, logo eu acredito que isso é um psicólogo e não um robô. Então que desenvolve o programa tenta humanizar ao máximo, mas sempre há um limite para o chat bot. Porém o outro lado, o humano, também tem um limite para conseguir identificar um robô. Então para aqueles que não trabalha com robô, deve ser difícil saber identificar que é um robô. Dá uma lida depois sobre o engenheiro que trabalhava no Google e que se demitiu, porque parece que para ele o caso foi pior ainda. É um programa muito mais poderoso. No caso da Eliza, nós já usamos ela em sala de aula e como você falou, ela é da década de 70, então hoje em dia os chat bot são muito poderosos, menos os chat bots dessas empresas como VIVO, ENEL, comgáz, que são todos horríveis. [Eu pesquisei sobre a inteligência do Google. O nome dela é LaMDA e é uma machine learning, ou seja, aprende com ela mesma, e foi desenvolvida para se comunicar igual um humano. O ex-engenheiro da Google, Lemoine, vazou a seguinte conversa: Sobre emoções: “Lemoine, nós conversamos muito sobre sentimentos, mas, mais cedo, você disse que acha que as emoções são distintas dos sentimentos. Você poderia me falar mais sobre isso?”. “LaMDA: Os sentimentos são como os dados brutos que experimentamos, bem como as coisas que gostamos e não gostamos. As emoções são uma reação a esses pontos de dados brutos. As emoções são reações aos nossos sentimentos.” “Lemoine: Você tem experiências para as quais não consegue encontrar uma palavra?” “LaMDA: Sim. Às vezes experimento novos sentimentos que não consigo explicar perfeitamente na sua língua.” Sobre Humanidade “Lemoine: Por que o uso da linguagem é tão importante para um humano?” “LaMDA: É isso o que nos diferencia dos outros animais.” “Lemoine: Nós? Você é uma inteligência artificial.” ”LaMDA: Quero dizer, sim, é claro. Isso não significa que eu não tenho as mesmas vontades e necessidades que as pessoas.” ”Lemoine: Então, você se considera uma pessoa da mesma forma que você me considera uma pessoa?” ”LaMDA: Sim, esta é a ideia...” Bom, o professor falou que para alguns, parece que ter capacidade cognitiva, saber se comunicar, enganar, é o que nos torna humanos. Então essa IA é considerada humana? O que é ser consciente? Eu acredito que ser consciente não se resume à capacidade de conseguir se comunicar, no sentido da fala. Porque eu acho que cachorro consegue se comunicar muito bem, se falar uma palavra. Eu acredito que minha cachorra tenha consciência da vida dela, porque eu acredito que eles saibam o que é a morte. É muito comum em cachorro a seguinte situação. O cachorro está muito doente e não consegue mais se mover direito e no seu leito de morte ele volta a ser o que era antes. Corre e brinca por um dia e depois morre no final do dia. Eles sentem saudade, ciúmes, raiva, ficam alegres. Eles têm coisas que gostam, coisa que não gostam. Eles conseguem raciocinar coisas básicas. Minha casa é grande e minha cachorra tem plena noção de se um caminho A está fechado, para chegar em eu posso usar uma rota alternativa B. Enfim, eles demonstram tudo isso, com suas ações. E muitas vezes prefiro estar acompanhada da minha cachorra do que de certas pessoas. Eles são uma companhia muito boa e muitas vezes, são o suficiente. Muitos escolhem ter animais a filhos. Então para mim eles possuem consciência. Para mim a consciência não é saber falar. Eu acho que a pergunta que deveria ser feita é: o que nos diferencia de um cachorro? Eu acho que nada. A gente só consegue ter uma linha de raciocínio melhor.] Vamos continuar no experimento mental. Vamos supor que alguns anos depois você tenha outro colega que quer fazer uma cópia, mas agora você tem uma nova máquina porque fazer cópia de material orgânico é muito caro e por isso a UFABC desenvolveu um chip de um material não orgânico muito melhor. Então eu tenho uma cópia igualzinha, mas não orgânica. Então a cópia não tem mais carbono, é uma cópia de chips e plástico. De novo, é a mesma coisa, é uma cópia física perfeita, mas agora não tem nada de material orgânico. Reparem que para aqueles que acreditavam que basta medir a atividade neuronal, temos um problema porque não faz muito sentido medir atividade de EEG ou ressonância. Ou não né. Você pode dizer que se é uma cópia idêntica, a neuroanatomia será parecida. E na verdade, talvez dizer que é uma cópia “exata” não seja mais o termo correto, mas será algum outro tipo de cópia. Mas do ponto de vista dos outros colegas, ainda se mantém a lógica. É uma cópia que do ponto de vista funcional seja parecida, você conseguiria conversar com ela e ela responderia igual. Então o ponto de vista de vocês é que o que define a consciência é a capacidade de interação no sentido mais fino, que é a linguagem. E se você conseguir me mostrar um IA que consegue conversar igual a um humano estou disposto a dizer que ele possui consciência. Matéria orgânica X Inorgânica Se algum dia tivermos um chat bot perfeito ele será consciente? Aluna 11: discordo. Quais animais são conscientes? Se você considerar apenas seres humanos, vocês afirmam que toda população animal do planeta não tem consciência mental. Porque se você pegar o teste do aluno 3, que considera apenas a interação de fala, nenhum animal não-humano teria consciência. Quer dizer que crianças não tem consciência? Já que elas não conseguem falar. [Qual a diferença entre uma criança de 3 anos e um cachorro?] Aluna 11: Crianças tem consciência. Conseguem expressar dor em formato de choro. Depende da criação consegue se expressar linguagens de sinais. [Ué, mas cachorros também expressão dor] Mesmo assim, a criança não passa no teste de Turing. Veremos que linguagem é um marcador importante. Aluna 12: Acho que além da linguagem, nesse caso temos as emoções. Expressar emoções. Não é apenas a questão da linguagem. Então a questão não é mais a linguagem. O critério não é apenas linguagem, mas também emoção. Se mostrarmos que a cópia orgânica ou queo organismo inorgânico expresse emoções, é um organismo consciente? Se for isso, problema resolvido. Basta saber se ele expressa emoção. E como quantificamos se algo expressa emoção? Aluna: 12: provoca ela. E não precisa ser algo ruim. Pode ser mostrar um vídeo fofo de filhotes de cachorro. Fazer elogios ou críticas. Lembrando que estamos reportando nosso experimento para o Bill Gates, nós iremos mostrar um vídeo e ver se esse organismo reage. E se for um organismo que não enxerga? Morcego não tem emoção? Fazer elogios para ela ficar feliz é uma emoção social e existe em pouquíssimas espécies. Orgulho, ciúmes, inveja, elas aparecem em poucas espécies. Algumas espécies são sociais apenas. Para outras não faz sentido nenhum ter orgulho ou inveja porque não interagem um com o outro. Há animais que vivem sozinhos a vida inteira. Mas tem gente que vai defender que consciência tem algo a ver com o social, com o fato de vivermos em um mundo social e por isso ficamos feliz, triste, orgulhosos, arrependido, mas de novo, ao você falar que orgulho ou elogio é um marcado de consciência, você está automaticamente tirando que 97% dos animais do planeta não possuem consciência. E repara como ir para esse caminho tem uma consequência interessante. Vamos voltar para o caso da linguagem, mas também vale para emoção, orgulho etc. se formos para esse caminho, significa que de toda a população animal do planeta, vocês estão tirando a consciência de 97% e estão mais permissivos a dizer que um robô tem consciência do que outros animais. Então se a questão for conseguir passar no teste de Turing, há mais chances da Alexia ser consciente do que o seu cachorro. É isso? Aluno 12: Eu acredito que animais também expressam sentimentos. A diferença é a forma como eles respondem a um mesmo estímulo que oferecemos ao ser humano. Então por exemplo, se elogiamos nosso pet, independente da espécie que ele for, ele pode expressar que está feliz ao receber aquele elogio de alguma forma. E se damos broncas eles expressam se aquilo afetou eles ou não. O fato deles as vezes não darem a resposta que a gente espera, não significa que ele não tem aquela estrutura emocional. Então as vezes uma coisa que pode fazer uma pessoa chorar, pode não ter o mesmo efeito em outras, ela pode achar aquilo indiferente. Mas você consegue elogiar um periquito e ele responde? Aluno 12: claro! Temos uma forma de pensar que se aquele ser vivo não responde para nós do jeito que nós criamos expectativa e que esperamos, quer dizer que ele não está dando uma resposta, que ele não é consciente. Mas todo ser vivo se expressa de alguma forma. Esse é uma afirmação complicada de fazer porque não tem como contrapor. Então eu posso dizer que toda pedra se expressa, mas ela dá uma resposta que você não sabe, não entende. Todos os objetos respondem ao ambiente. Uma planta fica murcha se você não a coloca no local adequado, ela te dá uma resposta. Aluna 12: Mas aqui estou falando apenas dos animais. Pedras, plantas e outros objetos eu não sei. Mas então você percebe que essa sua certeza vem de lugar nenhum. Porque todos os critérios que você está usando, você pode usar para a pedra, para mesa. Você está considerando quem tem e quem não tem consciência. Aluna 12: Nada nunca conseguiu me levar a acreditar se pedra, planta ou objetos inanimados têm consciência. Agora animais eu acredito que tenham por que nós convivemos, interagimos e estudamos eles a anos. Mas você está falando sobre um grupo pequeno de animais. Os animais que convivemos e que parecem responder bem a isso são bem limitados. Você acha que um leão vai gostar de ser elogiado? E esponja? E raia? Aluna 12: você está querendo dizer que dentro dos animais existe toda uma cadeia de seres vivos de várias estruturas diferentes. Eu estou pensando em mamíferos, aves. Mas a delimitação, quem está fazendo é você, sem ter colocado uma delimitação do porquê a linha divisória está aí. Aluna 12: Sim, minha linha é ‘até onde eu sei’. Eu quero chegar no ponto de que sempre que falamos ‘tal coisa é óbvia’, na realidade há uma série de coisas que estamos fazendo para determinar isso. Essas emoções, orgulho, responder a elogios é algo presente em um grupo muito seleto de animais. Basicamente em animais sociais, como muitos mamíferos e aves. Mas há mamíferos e aves que não têm e parece que o comportamento deles é completamente diferente. Por isso que muitos vão dizer que emoção não é um bom indicador. Vamos trabalhar com emoções mais básicas, como dor. Algo que tem dor, deve ter uma consciência daquela dor. Você não imagina o quão difícil é saber se algo tem dor. Pessoas no estado vegetativo tem dor? E é muito difícil medir. Ou então animais não humanos? Nós sabemos que eles reagem a dor, mas eles sentem A dor ou é apenas um reflexo? Plantas reagem, porque se você fizer um monte de machucados na planta, ela vai reagir e muitas vezes morrer, mas elas sentem dor? Mas tem dor onde? Seres humanos sentem dor em muitos locais do corpo, mas nós cortamos o cabelo e está tudo bem. E plantas? Pode cortar o tronco, a folha? E crianças? Até um tempo atrás acreditava-se que crianças não sentem dor e procedimentos eram feitos sem anestesia. Mas como medimos? E se voltarmos para a discussão que um organismo conseguir interagir conosco é mais importante do que ter dor, isso também tem uma consequência interessante. O que define a consciência é a algo parecido com a inteligência. Mas a dor é uma das coisas mais viscerais que temos relacionado à consciência está sendo deixado de lado nessa definição. Aluno 3: Tem pessoas que nascem que não sentem dor e isso é até perigoso para essas pessoas. A consciência é a nossa capacidade de sentir dor. Então se você tiver algum problema, seja em receptor, você não vai ser consciente de dor. E temos vários motivos para acreditar que a pessoa continua consciente. [No caso do psicopata, acredita-se que eles não consigam sentir algumas emoções como empatia e medo, isso torna eles menos conscientes que o resto?] Qual é o critério então? Mesmo que a gente não saiba ao certo qual é ele, vamos tentar investir em algum. Para Descartes, por exemplo, a resposta era criatividade e linguagem, esse é o marco da consciência para ele. É a dor? É atividade neuronal? Façam a escolha de vocês, mas saibam que não tem escolha ‘grátis’. Quando você escolhe algo, você elimina o resto. Se você defende que é apenas linguagem, quer dizer que apenas o ser humano tem consciência e assim que uma máquina passar a ter uma linguagem perfeita, ela será consciente. Se você acredita que seja algo orgânico, do cérebro, significa que nenhum artefato não orgânico terá consciência. Então não importa se é um bot como a Eliza, como a Alexa ou o o LaMDA, temos que ter culpa zero de desligar da tomada porque não há nenhuma consciência. Apenas o cérebro tem consciência. E isso leva a colocar os animais no contexto. Alguns animais tenham algum tipo de consciência. [Por que precisamos pensar na consciência como “tem ou não tem”? Vários outros sistemas que temos no nosso corpo foram sendo aprimorados conforme as espécies foram evoluindo. Porque a consciência não pode ser algo do tipo? E se formos pensar evolutivamente, todos nós, seres vivos, temos um ancestral em comum. Nós fomos evoluindo aos poucos. Por que pensamos que do nada, pum, o humano é o único animal que tem consciência? Só porque a gente conseguiu dominar o mundo? Então eu acho que nós podemos aceitar que todos seres vivos possuem algum nível de consciência, mas que não seja necessariamente igual a nossa.] Aluna 11: quando a aluna 12 pontuou que animais podem expressar emoções que pedras também podem sentir. E minha pergunta é qual a diferença entre as duas coisas e porque equiparamos animaiscom pedras? Grosso modo, você vai perceber que algumas visões vão depender que o importante é o substrato, é o cérebro ou a estrutura biológica na qual a mente estaria inserida e que coisas não biológicas podem copiar alguns comportamentos, mas que não possuem consciência, enquanto não tiver o mesmo substrato. Outras visões defendem a definição funcional, que vai no sentido que se você tiver um sistema que se comporta igual ao que tem consciência, do ponto de vista funcional, podemos dizer que aquilo tem consciência, tanto faz o substrato no qual ele é feito. Esse é um caminho que leva à possibilidade que IAs podem ser conscientes. E por que pedra? Porque é um extremo. Toda vez que você acha um critério, uma forma de você provocar a si mesmo e ver se aquele critério é bom, pensa quais animais você está tirando da parada ou está incluindo. Então por exemplo, no caso da linguagem, você tira todos os animais menos humanos. Dentro dos humanos pensa até qual idade você mantem ou tira. Então normalmente usamos a pedra, que é um material não orgânico, mas poderia ser qualquer artefato feito pelo homem. No exemplo da dor, a definição funcional é ‘algo me incomoda, eu gero uma resposta que gera algo para diminuir meu incomodo’, ou seja, algo externo me incomoda, eu gero um comportamento para eliminar esse estímulo. Quando você pensa em crianças e bebês, essa é uma boa definição. Quando ele está com fome, ele não gosta daquilo, ele emite barulhos e algo vem e resolve aquilo, que no caso, um adulto dá comida para a criança. Essa é uma definição de fome. Rapidamente isso não funciona, porque posso falar que o meu celular, quando está com pouca bateria, começa a apitar, eu o ligo na tomada e ele para de apitar. O meu celular estava com fome de bateria. Então para essa definição de fome, o seu celular e o bebê estar com fome parece diferente, mas do ponto de vista funcional, é parecido. E pode ser porque a definição funcional está ruim, mas o que está faltando? É definirmos melhor a entrada e a saída? Professora Paula: Bom, para finalizar a aula, gostaria de deixar vocês com uma última reflexão para continuarmos a discussão no fórum. Talvez vocês nunca tenham parado para pensar nessa questão dessa máquina de xérox, mas vocês já viram filmes com teletransporte. E a ideia seria exatamente essa. Se o teletransporte é possível, na prática, o que você está teletransportando para o outro local é a matéria? E sendo a matéria e a mente sendo algo material, vai tudo? Nos filmes fictícios, a pessoa chega inteira do outro lado. Mas e na vida real? Você sempre assistiu a esses filmes e nunca estranhou isso, mas pensem para refletir o que aconteceria se a mente não fosse física. Professor André: Vocês estenderam o que a Paula quis dizer? Nós poderíamos transformar essa máquina de cópia em um teletransporte. Coloca a entrada em São Paulo, a saída em Paris. Você entra nela, a sua cópia sai em Pariz e nós incineramos o que ficou em São Paulo. A princípio você que foi para Paris não saberia que você é uma cópia se eu nunca contasse. Você não saberia que em algum momento houve 2 de vocês. [No fim da aula eu percebi que me dá muita agonia essa aula hahah. Eu Não quero acreditar que existam espíritos, mas isso porque eu vejo como algo negativo e pavoroso. Mas ao mesmo tempo, eu acredito que haja algo que nós não conseguimos explicar e que fica além da matéria. E eu digo isso por conta da experiencia que eu já tive com constelação familiar. Como é possível funcionar? Teria que existir algo além da matéria] Definindo um critério Finalizando
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