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Aula 4_Resumo_Materialismo

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Intro. À Filosofia da mente Quadrimestre suplementar 2022-2 Aula 4 
 
m a t e r i a l i s m o 
 
Prof. André Cravo Profa. Paula Ayako Tiba 
 
 
Percebam a conclusão da argumentação de vocês. Muitas 
vezes vocês colocam a opinião de vocês, relacionam com a teoria dada 
em aula, mas em muitos casos não concluem a argumentação. “Portanto 
minha visão é mais dualista”. Ou ainda, a argumentação que você fez 
não leva à essa conclusão. 
Também tomem cuidado para não se contradizer. Como por 
exemplo, se você quer defender uma visão não-dualista, não pode usar 
termos como mente e alma. 
Usar argumentos como “a neurociência já sabe disso”. A 
neurociência sabe muita coisa, mas tem muita coisa que não sabemos. 
Ou seja, falar que por conta dos estudos já sabemos de tal coisa, é uma 
afirmação muito forte. Com os estudos atuais, podemos fazer relações, 
mas não afirmações concretas. Ou então se ainda não foi descoberto, 
quais são os passos ou qual o tipo de informação que precisamos ter 
para chegar a uma conclusão? Então tomem cuidado ao usar a 
neurociência como argumento. 
No caso de analogias também, se supormos que o navio é o 
cérebro e a mente é o capitão do navio. Se o cérebro e a mente são 
coisas diferentes, não necessariamente estamos falando de uma visão 
não-dualista. Se você dá um nome diferente para essas duas coisas, na 
verdade está mais para uma visão dualista. 
Uma questão introduzida em um dos comentários foi a 
distinção da identidade do barco com a propriedade física do barco. 
Diferenciando as duas questões, ajuda a dizer se é o mesmo barco ou 
não. Ambas podem mudar e elas não são necessariamente a mesma 
coisa. E ela será a introdução do nosso tema de hoje. 
 
 
Algumas das teorias que tem como base o materialismo são: 
materialismo, fisicalismo, monismo (se contrapõe ao dualismo), que são 
teorias da identidade, que na verdade não são as mesmas coisas, mas 
para a aula de hoje serão usadas como sinônimos. 
Ela é uma das correntes mais fortes da filosofia da mente no 
século XX. Ou seja, é uma corrente recente. 
O monismo, não necessariamente te torna materialista, só 
significa que você defende um tipo de coisa, como por exemplo, pode 
ser que exista somente a mente, que é o idealismo. 
O materialismo foi muito influenciado por descobertas da 
neurociência. Do mesmo jeito que muitos de vocês se descobriram 
dualistas na aula passada, provavelmente vocês irão perceber que 
acreditam bastante no materialismo. 
Ele comporta algumas variações como por exemplo: 
- Estados mentais são estados cerebrais (teoria da identidade); 
- Estados mentais são redutíveis a estados cerebrais 
(reducionismo); 
- Estados mentais emergem de estados cerebrais 
(emergentismo ou teorias da super veemência). 
 
A teoria da identidade diz que estados mentais são estados 
do sistema nervoso. E poderíamos acabar a aula aqui. Mas não é tão 
simples assim, porque o que iremos fazer a partir de agora é discutir o 
que significa dizer que A é igual a B. O que podemos afirmar sobre um 
e sobre outro? O que podemos afirmar sobre um que não podemos 
afirmar sobre outro? 
Apenas para deixar claro, estados mentais são, de forma geral, 
as sensações, crenças, desejos, medo, dúvidas, pensamentos etc. 
Então vamos tentar entender o que ‘igual a’ quer dizer. 
 
 
Exemplo 1 
Abaixo temos um exemplo clássico: Estrela da manhã e 
Estrela da tarde. 
- Mesma referência: o planeta Vênus; 
- Mas ambos têm significados diferentes. 
 
 
A estrela da manhã é aquela estrela que conseguimos ver pela 
manhã, que seria a ultima a se apagar da noite. E a estrela da tarde é a 
primeira que conseguimos ver quando começa a escurecer. Mas na 
verdade ambas dizem respeito a um mesmo objeto, que na verdade não 
é nenhuma estrela, mas sim o planeta Vênus. Mas elas têm significados 
diferentes. 
Uma pessoa matutina, acorda e vê a estrela da manhã e pode 
nem saber que existe a estrela da tarde. E o contrário é verdade. Então 
apesar dos termos fazerem referência ao mesmo objeto, tratamos como 
duas entidades diferentes. 
Isso não significa que são coisas diferentes. então alguns de 
vocês consigam se lembrar da conclusão de Descartes, se uma coisa é 
igual a outra, as propriedades de uma deve ser a propriedade da outra, 
portanto, se não têm as mesmas propriedades, são coisas distintas. Já o 
que estamos colocando aqui, é que não necessariamente, por terem 
significados distintos e parecerem diferentes. 
 
Exemplo 2 
Feedback do fórum 
Introdução 
Significado e referência 
Materialismo 
Vamos dar um exemplo mais próximo de vocês. Clark Kent, 
e o super-homem são a mesma pessoa, mas em Smallville ninguém sabe, 
ou seja, tem coisas que eu posso falar coisas sobre um que não podemos 
falar sobre o outro. Um voa, o outro usa óculos. Um é forte, o outro é 
tímido. 
Será que isso é uma propriedade de cada um deles ou é uma 
informação de algo que conheço sobre eles. São duas coisas diferentes. 
não é porque tem algo do super-homem que não podemos falar do Clark 
Kent e vice-versa não significa que são objetos diferentes. 
Então se um dia alguém descobrir que são a mesma pessoa, 
Clark Kent também voa, só não sabíamos. Ou seja, o fato de sabermos 
ou não termos essa informação não quer dizer que as coisas são distintas 
ou diferentes. 
Então se estivéssemos discutindo com Descartes essa seria 
nossa argumentação. Se ele diz que tem coisas que podemos falar sobre 
meu corpo e que não podemos falar sobre a mente, quer dizer que são 
coisas diferentes. Mas então quer dizer que por ter coisas que eu posso 
falar do Clark Kent que eu não posso falar do super-homem, isso torna-
os pessoas diferentes? Não. Isso não significa que são objetos diferentes. 
Essa é uma boa contra-argumentarão importante para o 
dualismo cartesiano. E é a principal argumentação utilizada nas teorias 
que iremos tratar hoje. 
 
 
- Podemos descrever uma nuvem com base em sua forma como com base 
no que forma a nuvem (gotículas de água); 
- Duas terminologias podem descrever o mesmo objeto. 
 
A Teoria da Identidade quer dizer, então, que podemos 
descrever um mesmo objeto de formas diferentes e isso não significa 
que são coisas diferentes. e mais importante, não significa que um dia 
vamos parar de usar um termo e assumir apenas o outro termo. 
Podemos continuar usando ambos. Não quer dizer que, por eu ser 
dualista, nunca mais poderei utilizar o tempo mente, mas na 
argumentação é necessário explicar que, como mente, você quer dizer 
não de uma forma dualista, mas que é algo relacionado à matéria. 
Por exemplo, podemos dizer que uma nuvem é um 
aglomerado de gotículas de água. Mas não conseguimos ver as gotículas 
e a nuvem ao mesmo tempo. Quando vemos a nuvem no céu, vemos a 
novem como algo fofo e branco, feito de algodão. Quando passamos 
perto dela, ela parece uma neblina. Não enxergamos do mesmo jeito. 
Por isso podemos dar definições diferentes, a depender de como 
estamos olhando. E isso não quer dizer que aso objetos diferentes. 
Então o que a teoria da identidade diz é que podemos usar 
várias terminologias diferentes para descrever o mesmo objeto e isso 
não significa que são objetos distintos. 
 
Então apesar do termo ‘massa de gotícula’ ser diferente do 
termo ‘nuvem’, não quer dizer que são coisas diferentes. da mesma 
forma, apesar de ‘processo no cérebro’ ser diferente da ‘consciência’, 
não quer dizer que são coisas diferentes. 
Novamente, podemos continuar usando os termos 
consciência, mente, pensamento, crença, desejo etc., fazer relação com 
os processos do cérebro, como o disparo de neurônios, e tudo bem, não 
quer dizer que são coisas distintas. 
 
– 
O principal defensor da Teoria da Identidade é Ullin T. Place 
(1924 – 2000). Ele é um filósofo analítico britânico e um de seus 
principais textos é: ‘Is consciousness a brain process?’ (1956), ou seja, aconsciência é um processo do cérebro? Um trecho citado abaixo: 
“Eu argumentarei que uma aceitação de processos internos 
não implica o dualismo e que a tese de que a consciência é um processo 
no cérebro não pode ser recusada por motivos puramente lógicos”. 
Parte de seu argumento vai contra o dualismo e parte dele 
vai contra o behaviorismo. Aqui ele principalmente critica a relação 
logica de Descartes que discutimos aula passada. 
Descartes falava que se existem coisas que podemos falar 
sobre o corpo, que não podemos falar sobre a mente, e vice-versa, 
significa que essas duas coisas são entidades com propriedades distintas. 
Place diz que não podemos usar a lógica dessa forma para chegar nessa 
conclusão. Isso porque utilizou da lógica que mencionamos a pouco, que 
se existem coisas que podemos falar sobre A e que não podemos falar 
sobre B, não significa que são entidades distintas. 
 
“Eu não estou tentando argumentar que quando nós 
descrevemos nossos sonhos, fantasias e sensações nós estamos falando 
de processos em nossos cérebros. Em outras palavras, eu não estou 
afirmando que enunciados sobre sensações e imagens mentais são 
redutíveis a ou analisáveis em termos de enunciados sobre processos 
cerebrais”. 
Essa frase parece ser confusa, mas o importante aqui é a 
questão do ‘é’. Quando falamos que ‘processo cerebral’ é ‘um processo 
mental’, não estamos reduzindo/eliminando um dos termos para 
assumir o outro. Mantemos os dois termos mental e cerebral. Fazemos 
uma relação entre elas. 
Essa parte ele coloca para se defender do behaviorismo, que 
defende que eliminamos totalmente os termos psicológicos e assuma 
apenas os termos neurocientíficos. Principalmente porque, quando você 
usa termos ‘mente’ ou ‘consciência’, ou qualquer termo mais psicológico, 
você quase que, inevitavelmente, recorre a um dualismo. E nesse caso o 
behaviorismo diz que é melhor eliminar todos esses termos. 
Place diz que podemos deixar esses termos, porque podemos 
continuar chamando a estrela da manhã e estrela da tarde com nomes 
diferentes. Eles são a mesma coisa, mas não precisamos, 
necessariamente, eliminar um deles. Eles podem coexistir. 
 
“(a) pelo fato de que você pode descrever suas sensações e 
imagens mentais sem saber nada sobre seus processos cerebrais ou 
mesmo se tais coisas existem; (b) pelo fato de que enunciados sobre a 
consciência de alguém e enunciados sobre os processos cerebrais de 
alguém são verificados de modo inteiramente diferentes; e (c) pelo fato 
de que o enunciado ‘X tem uma dor mas não há nada acontecendo no 
seu cérebro’ não encerra nenhuma autocontradiação”. 
Ele argumenta a letra (a) porque na época, apesar de todos 
os avanços da neurociência, temos um monte de coisas que sabemos e 
coisa que não sabemos, mas que nós podemos vir a saber algum dia. 
Ou seja, o fato de você não saber nada sobre os processos mentais, não 
te impede de descrever uma sensação, pensamento etc. 
No caso do argumento (b) é o exemplo da nuvem. Para 
conseguirmos ver a nuvem fofa precisamos ver de longe. Para vermos 
que é uma partícula de água, precisamos ver de perto. Então são 
situações distintas. 
Teorias da identidade 
E em (c), o individuo pode dizer que está dizendo que está 
sentindo dor e não vermos nada no seu cérebro e isso não significa que 
ele não está com dor. 
Então porque essas três situações podem acontecer, ele está 
dizendo que são as mesmas coisas, mas que podemos continuar 
utilizando os dois termos. 
 
 
Para tentar ajudar na compreensão de vocês, quero citar um 
dos argumentos utilizados pelos seus amigos no fórum de dualismo, na 
questão do é. Como utilizamos esse termo? 
Imagine que podemos usá-lo de duas formas distintas: como 
definição e como composição. 
 
 
Quando dizemos que um quadrado é um retângulo equilátero 
ou que uma pessoa solteira é alguém que nunca se casou, estamos 
dizendo que a relação entre os termos que vem antes e depois do é são 
necessárias, são auto evidentes, onde quando falamos de uma, estamos 
falando do outro necessariamente. Toda vez que falamos sobre um 
quadrado, estamos falando de um retângulo equilátero. É uma definição. 
Uma coisa define a outra. 
E é diferente do é de composição. Como é o caso da nuvem 
ou dizer que a mesa é um caixote velho. Nesse caso, a sua mesa pode 
ser formada de um caixote velho, mas nem toda mesa é um caixote 
velho. Além disso o termo caixote velho e mesa não necessariamente 
são relacionadas. Elas são relacionadas nessa situação específica. Então 
é uma situação contingente e verificável. 
Nessas duas formas de usar o termo é, nos traz a possibilidade 
de dizer, por exemplo, que a consciência é um processo no cérebro, mas 
não ser um é como definição, mas como composição. Por isso que 
quando Place diz que não são exatamente a mesma coisa, ainda 
podemos continuar usando os dois termos de forma diferente. 
 
Dizendo de outra forma, quando qualificamos um objeto: ‘a 
mesa é vermelha’, estamos qualificando o objeto, mas não 
necessariamente definindo aquele objeto, mas usamos o mesmo termo 
‘é’ de quando utilizamos ele para definir coisas, como por exemplo, um 
quadrado é equilátero. Então ser vermelho é uma qualidade especifica 
desse contexto para a mesa, mas poderia não ser. 
Uma ajuda para entender isso é que o ‘é’ de composição trata-
se da a percepção física do objeto, a forma, cor, independentemente do 
espaço onde ele existe. O outro, quando definimos algo, colocamos o 
objeto no espaço já pensando na interação que ele tem com o mundo 
que conhecemos. Ou seja, o é como definição é mais estático, o que as 
coisas são, independentemente do que elas fazem. E o outro é quando 
colocamos o objeto com interação com o nosso mundo, definindo muito 
mais sua utilidade e ação. 
 
– 
Outro grande pensador é J. J. C. Smart, que trabalhou 
inclusive com Place. Ele traz algo que foi mencionado em algum 
comentário do fórum de dualismo que é a questão da navalha de 
Ockham (pra quem não lembra, a navalha de Ockham diz que para duas 
teorias que explicam a mesma coisa, provavelmente a mais simples é a 
correta), para tentarmos ver a questão mente e cérebro de forma mais 
parcimoniosa. 
“Não parece existir (...) nada mais no fundo do que arranjos 
cada vez mais complexos de construção física. Todos, exceto para um 
só lugar: na consciência”. 
Ou seja, para toda e qualquer coisa no mundo podemos dar 
uma explicação meramente física. Por que apenas para a consciência 
daríamos uma explicação extracorpórea ou extrafísica? Pela questão 
parcimoniosa não deveríamos colocar uma explicação extraordinária, 
porque provavelmente não precisamos de novas explicações, além da 
física, para explicar isso. 
Até hoje não temos todas as informações, então percebam 
que ambos foram muito cuidadosos em afirmar que a consciência, 
pensamentos e processos mentais estão no cérebro, porque eles sabiam 
que não há como demonstrar isso. Então percebam que eles falam muito 
“poderia ser”, ou seja, indicando que não temos como descartar essa 
informação de cara, que foi o que Descartes fez, criando a corrente 
dualista. 
Porque não poderíamos partir do princípio de que é sim 
físico, uma vez que faz mais sentido já que todas as outras coisas do 
mundo são assim. Então é mais parcimonioso. Mais cuidadoso. 
 
“Que tudo deve ser explicado em termos físicos... Exceto a 
ocorrência de sensações parece-me ser francamente inacreditável”. 
A navalha de Ockham é um princípio lógico de que a melhor 
solução possível para determinado problema é aquela que apresenta a 
menor quantidade de premissas possíveis. 
 
Aqui entra o ‘contexto opaco’, que é a situação em que não 
sabemos que as duas coisas estão ou não relacionadas, e para o nosso 
caso, esperamos que um dia a neurociência desvende esse contexto 
opaco para dizer que dor está relacionado com a atividade do neurônio 
A, B, C e D. 
No geral,nos contextos científicos temos muitas situações 
opacas e esperamos que um dia a ciência venha a descobrir, por 
exemplo, não sabemos o que é um relâmpago até descobrirmos que é o 
movimento de cargas elétricas. E é isso que é defendido por esses 
filósofos. 
 
Exemplo 3 
Vamos supor que me mudei para uma casa nova e temos um 
vizinho que chama Edson Guimaraes de Nascimento. É negro, gosta de 
futebol, tem uma camiseta da seleção brasileira. Tenho todos os motivos 
do mundo para acreditar que ele é o Pelé, mas não tenho certeza disso. 
É muito mais parcimonioso acreditar que ele realmente seja 
o Pelé, do que existir outra pessoa, com o mesmo nome, com a mesma 
cara que também se chama Edson e é meu vizinho. 
Então você não ter certeza, mas é totalmente plausível que 
Pelé e o meu vizinho são a mesma pessoa. 
 
 
- Estados mentais são estados cerebrais, mas: 
Falar sobre estados mentais não é a mesma coisa do que falar sobre estados cerebrais. 
Lembre-se “é” definição VS “é” de composição 
Eles estão dizendo que os estados mentais são estados 
cerebrais, mas não estão dizendo que o estado mental é a mesma coisa 
que estados cerebrais. A afirmação utilizada é diferente, mas o estado é 
o mesmo. 
Quando falamos que estou com dor, não estou falando que 
meu neurônio A, B e C está disparando, mas a dor é um disparo do 
neurônio A, B e C. Mas não vemos isso e não temos como saber. 
Podemos ficar a vida inteira falando sobre Clark Kent e nunca 
saber sobre o super-homem. Isso não significa que eu não conheça o 
Clark Kent. 
Então quando falamos sobre um, não necessariamente 
falamos sobre o outro, mas eles são a mesma coisa, ainda que eu não 
saiba. 
Talvez por isso temos a sensação de que a neurociência irá 
desvendar tudo para podermos desvendar um dos dois termos, mas eles 
não defendem isso. Eles defendem que os dois termos são e 
continuaram sendo utilizados porque a forma que observamos e 
analisamos os dois termos será diferente. 
 
“Eu sou capaz de falar sobre meus estados mentais sem saber 
nada sobre neurociência. Portanto, meus estados mentais não podem 
ser idênticos aos meus estados cerebrais”. 
Então como somos capazes de falar sobre os estados mentais 
sem saber nada sobre neurociência, não podemos dizer que eles são 
idênticos, por isso não é um ‘é’ de definição, mas sim de composição. 
Podemos falar de água sem saber nada de química, mas isso 
não implica que a água não seja composta por moléculas de H2O. 
Apenas não sabemos. 
 
Ao falar sobre eventos cerebrais físicos por um lado e eventos 
mentais por outro, estamos falando, sem que saibamos, sobre um e o 
mesmo conjunto de eventos, descritíveis em dois vocabulários distintos”. 
Os vocabulários que usamos para descrever os estados 
mentais são diferentes dos vocabulários que usamos para escrever os 
estados cerebrais, mas não significa que não são a mesma coisa. Talvez 
algum dia tenhamos o conhecimento necessário para fazer essa 
descrição de um jeito ou de outro. 
 
Relembrando o caso da estrela da manhã e da tarde. A estrela 
da manhã continua sendo a estrela da manhã. A estrela da tarde 
continua sendo a estrela da tarde. Ainda que elas façam referencia ao 
mesmo objeto e que nem estrela é, é um planeta. 
 
Ou seja, não há descrição certa. A estrela da manhã não é 
mais certa ou errada que a estrela da tarde. 
Não podemos falar de dor só porque não temos disparo de 
neurônios? Não. Os dois termos existem, a questão é que eles 
representam a mesma coisa e podemos chamar dos dois jeitos! 
 
 
A Teoria da Identidade se desdobra em alguns tipos. 
Quantas bandeiras vocês estão vendo abaixo? 
 
Alguns responderam 3 e outras 8. São 8 bandeiras, mas 
representam 3 países. Então a depender da pergunta a reposta pode ser 
3 ou 8. Então quando perguntamos ‘quantos tipos de bandeiras temos’ 
seria 3. Já se fosse ‘quantas bandeiras ou espécimes ou indivíduos de 
temos’ seria 8. 
Isso é para vocês entenderem A Teoria da Identidade Tipo -
Tipo ou Teoria da Identidade Token-Token ou espécime-espécime. 
 
 
Quando falamos do tipo-tipo necessariamente dizemos que 
cada tipo de estado mental é idêntico a um dado tipo de estado cerebral. 
Usando exemplos que vimos hoje, a água é sinônimo de H2O. 
Ambos indicam a mesma coisa no mundo. Um raio é um padrão de 
descargas elétricas. A dor é o disparo de fibras neuronais especificas A, 
B e C. 
Cada um estado mental temos a correspondência exata a um 
estado cerebral. Isso significa que, se no meu cérebro, a dor é o disparo 
do neurônio A, B e C, no cérebro de vocês também será o disparo dos 
neurônios A, B e C, e não será o disparo dos neurônios B, D e F. 
 
 
As extensões a que se referem os diferentes significados 
coincidem exatamente. 
 
 
A teoria toke-token surge posteriormente, como forma de tirar 
um pouco da restrição que a teoria tipo-tipo causa. Isso porque se a 
teoria tipo-tipo for levada ao extremo, o que acontece? Imagine que você 
teve um AVC, uma lesão em determinada região do cérebro e por conta 
disso perdi a fala. Mas depois de um tempo conseguimos recuperar a 
fala. Os neurônios que eram responsáveis pela fala foram perdidos pelo 
AVC e ainda continuam mortos, mas então como conseguimos 
recuperar a fala? Ou seja, a teoria tipo-tipo fica restrita porque ela não 
explica uma série de coisas, como o desenvolvimento, a plasticidade da 
lesão. Então a teoria espécime-espécime surge para tirar um pouco dessa 
restrição. 
Em outras pessoas ou em outros animais não-humanos 
podemos ter um estado mental correspondente a um estado físico, mas 
que não necessariamente é o mesmo para todo mundo, em todas as 
situações. 
A teoria tipo-tipo impõe uma hipótese muito forte e restrita 
para estados mentais. 
 
Então por exemplo, a dor na Paula é o disparo das fibras X, 
já no André temos o disparo das vibras Y. 
 
Tipo VS token 
Existe uma relação entre o tipo mental e físico, mas não é 
igual para todo mundo. 
Com essa abordagem flexibilizamos, pois com ela seria 
possível dizer que uma máquina pode ter consciência, por exemplo. Já 
na tipo-tipo isso não seria possível porque a máquina não teria 
neurônios. 
 
O problema nessas questões é que, se o tipo físico pode 
mudar para diferentes pessoas, como definimos quem é quem? Estamos 
definindo dor ou estamos definindo a fibra? 
No caso da teoria tipo-tipo tanto faz essa questão, porque 
necessariamente estamos fazendo referência a apenas uma delas porque 
dor sempre será o disparo da fibra A, B e C. Agora no token-token, se 
podemos mudar as coisas, como definimos? 
Fazendo outra analogia: quem é quem no multiverso quando 
vemos o Homem-Aranha? No multiverso, a referência é o homem 
aranha e não o Peter Parker, porque ele não é o mesmo para cada 
multiverso, já que ele pode ser branco, preto, ou até mesmo um porco, 
como vimos no desenho. 
Então quando fazemos esse tipo de relação, necessariamente 
precisamos ter uma referência. Nesse caso a referência é sempre o tipo 
mental. O que parece estranho já que estamos fazendo algo fisicalista. 
Se estamos trazendo algo que necessariamente existe no universo 
material, sempre usamos como referência o tipo mental? Fica estranho 
né, o normal seria usar o tipo físico. Mas como no tipo físico não temos 
necessariamente todo o conhecimento necessário, precisamos utilizar 
como referência o tipo mental, no caso do exemplo, a dor. 
 
 
- Origem e constituição puramente física dos seres humanos; 
- História da evolução; 
- Dependência neural; 
- Êxito crescente das neurociências. 
 
A grande maioria vocês vão sair da aula pensando que irão 
seguir pelo caminho da neurociência e que vão ganhar o prêmio Nobel 
porque vão dar um jeito de desvendar essa dúvida, porque é muito fácil 
na teoria ver que a mente é algo físico. Isso porque para nós que 
estudamos uma série de questões fisiológicas entender que está tudo no 
cérebro. Masnão é bem assim. 
Um dos principais argumentos que ajudam a defender a 
teoria da identidade é por conta da constituição física dos seres humanos 
e de todo o resto do mundo e porque a consciência seria diferente? 
Alguns ficaram na dúvida de ir contra o dualismo, talvez 
muito por conta de questões religiosas. Mas quando você diz “eu 
acredito que meu eu está em uma forma de energia”, tente pensar que 
a energia também não pode ser considerado como algo físico. Talvez 
você ache que há algo relacionado com energia, mas isso não te torna 
dualista, porque energia também pode ser algo físico. 
 
 
Outro argumento: a história da evolução. Toda explicação que 
damos para o funcionamento do corpo segue uma lógica evolutiva que 
podemos comparar com outros animais. Por que de repente teríamos 
um salto em relação a outras espécies, no que diz respeito à consciência? 
Porque apenas nossa espécie teria algo diferente que traria algo não 
material. 
Então de certa forma, quando você vai defender o 
materialismo, acabamos recorrendo a defender que outras espécies 
também podem ter alguma forma e nível de consciência e mente. 
 
 
Um argumento muito utilizado por vocês: “já se sabe na 
neurociência que...”. Sim, uma série de argumentos ajudam a defender 
a Teoria da Identidade. 
Quando temos uma lesão no cérebro, perdemos uma função 
ou percepção ou sensação ou algo mental se perde. Ou quando estamos 
sob efeito de uma anestesia, o lado mental desaparece. Ou sob o efeito 
de psicodélicos mudamos a percepção mental. Então temos uma relação 
entre um e outro, uma dependência. Então parece óbvio dizer que um 
surge do outro. E aqui entra as diferenças sobre o mental ser idêntico 
ao cerebral ou se ele emerge do cerebral, que é o que o emergentismo 
traz. Existe uma atividade cerebral que provoca determinada sensação e 
fim, não é a mesma coisa, são coisas diferentes, mas um emerge do 
outro. 
Outro exemplo de emergência. Quando dizemos que vamos 
dar uma festa. Quando dizemos isso, não estamos querendo dizer que 
vamos criar ou comprar uma festa. O que fazemos, na verdade, é 
convidar pessoas, colocar música e bebida, e assim temos uma festa. Ou 
seja, a festa emerge de uma série de outras coisas. A festa por si só é 
um resultado das pessoas, da música, do lugar etc. Então é nesse sentido 
que o emergentismo trata os estados mentais. Porque temos a atividade 
dos neurônios, temos uma sensação de dor. Mas a dor em si não é algo 
material ou mesmo imaterial porque ela emerge da atividade dos 
neurônios – como ela provém dos neurônios, poderíamos dizer que ela 
é algo físico, mas não é palpável. 
 
 
 
Quanto mais descobrimos coisas na neurociência, mais fácil 
fica de explicarmos determinadas questões mentais e isso auxilia a 
defender o materialismo e a Teoria de Identidade. 
 
 
Por fim vamos falar de alguns argumentos contra a teoria da 
identidade, porque eu sei que a tendencia forte de vocês é agarrar essa 
teoria como se não houvesse amanhã. 
 
 
Primeiro temos o problema da tradução, que é o que falamos 
na primeira aula, da passagem da primeira para terceira pessoa. Será 
que temos como saber que a minha dor é igual ao de outra pessoa. O 
mesmo nível de dor que eu classifico de intensidade, é a mesma que o 
do colega? Tem como medirmos? 
Um caso interessante é de um paciente que tinha dor crônica 
na face e uma solução foi cortar os nervos para que eles não sinalizassem 
mais essa dor dos nervos da face para o cérebro e com isso ele perderia 
totalmente a sensação de dor da face. Mas deu errado. A sinalização da 
Argumentos a favor da 
Teoria da Identidade 
Argumentos Contra a 
Teoria da Identidade 
dor continuou, mas ele não se importava mais. O médico tentando 
entender esse caso trouxe esse questionamento de que a nossa 
percepção subjetiva (dor, memória, etc.), de alguma forma consegue se 
desapegar das sensações físicas. Isso porque o individuo continuava a 
sentir dor, mas ele não se importava mais, ele não sentia mais o 
sofrimento da dor. Como explicar isso? 
Ou então casos de hipnose, onde é apresentado algo para a 
pessoa, mas ela não enxerga. 
A cor vermelha que eu enxergo, é a mesma cor vermelha que 
o colega enxerga? Como podemos afirmar tal coisa? 
A introspecção está relacionada ao acesso. 
 
 
Questão da tradução ou termos para definir as mesmas coisas. 
A partir do momento que mudamos o termo: dor ou disparo do 
neurônio, temos um problema de tradução. 
Será que é um problema de tradução semântico ou será que 
é um problema do GAP? 
 
 
Como conseguimos acessar as sensações dos outros 
indivíduos? 
Não iremos entrar em detalhes nos argumentos contra a 
teoria da identidade porque iremos discutir com maior enfoque na aula 
que vem.

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