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Intro. À Filosofia da mente Quadrimestre suplementar 2022-2 Aula 4 m a t e r i a l i s m o Prof. André Cravo Profa. Paula Ayako Tiba Percebam a conclusão da argumentação de vocês. Muitas vezes vocês colocam a opinião de vocês, relacionam com a teoria dada em aula, mas em muitos casos não concluem a argumentação. “Portanto minha visão é mais dualista”. Ou ainda, a argumentação que você fez não leva à essa conclusão. Também tomem cuidado para não se contradizer. Como por exemplo, se você quer defender uma visão não-dualista, não pode usar termos como mente e alma. Usar argumentos como “a neurociência já sabe disso”. A neurociência sabe muita coisa, mas tem muita coisa que não sabemos. Ou seja, falar que por conta dos estudos já sabemos de tal coisa, é uma afirmação muito forte. Com os estudos atuais, podemos fazer relações, mas não afirmações concretas. Ou então se ainda não foi descoberto, quais são os passos ou qual o tipo de informação que precisamos ter para chegar a uma conclusão? Então tomem cuidado ao usar a neurociência como argumento. No caso de analogias também, se supormos que o navio é o cérebro e a mente é o capitão do navio. Se o cérebro e a mente são coisas diferentes, não necessariamente estamos falando de uma visão não-dualista. Se você dá um nome diferente para essas duas coisas, na verdade está mais para uma visão dualista. Uma questão introduzida em um dos comentários foi a distinção da identidade do barco com a propriedade física do barco. Diferenciando as duas questões, ajuda a dizer se é o mesmo barco ou não. Ambas podem mudar e elas não são necessariamente a mesma coisa. E ela será a introdução do nosso tema de hoje. Algumas das teorias que tem como base o materialismo são: materialismo, fisicalismo, monismo (se contrapõe ao dualismo), que são teorias da identidade, que na verdade não são as mesmas coisas, mas para a aula de hoje serão usadas como sinônimos. Ela é uma das correntes mais fortes da filosofia da mente no século XX. Ou seja, é uma corrente recente. O monismo, não necessariamente te torna materialista, só significa que você defende um tipo de coisa, como por exemplo, pode ser que exista somente a mente, que é o idealismo. O materialismo foi muito influenciado por descobertas da neurociência. Do mesmo jeito que muitos de vocês se descobriram dualistas na aula passada, provavelmente vocês irão perceber que acreditam bastante no materialismo. Ele comporta algumas variações como por exemplo: - Estados mentais são estados cerebrais (teoria da identidade); - Estados mentais são redutíveis a estados cerebrais (reducionismo); - Estados mentais emergem de estados cerebrais (emergentismo ou teorias da super veemência). A teoria da identidade diz que estados mentais são estados do sistema nervoso. E poderíamos acabar a aula aqui. Mas não é tão simples assim, porque o que iremos fazer a partir de agora é discutir o que significa dizer que A é igual a B. O que podemos afirmar sobre um e sobre outro? O que podemos afirmar sobre um que não podemos afirmar sobre outro? Apenas para deixar claro, estados mentais são, de forma geral, as sensações, crenças, desejos, medo, dúvidas, pensamentos etc. Então vamos tentar entender o que ‘igual a’ quer dizer. Exemplo 1 Abaixo temos um exemplo clássico: Estrela da manhã e Estrela da tarde. - Mesma referência: o planeta Vênus; - Mas ambos têm significados diferentes. A estrela da manhã é aquela estrela que conseguimos ver pela manhã, que seria a ultima a se apagar da noite. E a estrela da tarde é a primeira que conseguimos ver quando começa a escurecer. Mas na verdade ambas dizem respeito a um mesmo objeto, que na verdade não é nenhuma estrela, mas sim o planeta Vênus. Mas elas têm significados diferentes. Uma pessoa matutina, acorda e vê a estrela da manhã e pode nem saber que existe a estrela da tarde. E o contrário é verdade. Então apesar dos termos fazerem referência ao mesmo objeto, tratamos como duas entidades diferentes. Isso não significa que são coisas diferentes. então alguns de vocês consigam se lembrar da conclusão de Descartes, se uma coisa é igual a outra, as propriedades de uma deve ser a propriedade da outra, portanto, se não têm as mesmas propriedades, são coisas distintas. Já o que estamos colocando aqui, é que não necessariamente, por terem significados distintos e parecerem diferentes. Exemplo 2 Feedback do fórum Introdução Significado e referência Materialismo Vamos dar um exemplo mais próximo de vocês. Clark Kent, e o super-homem são a mesma pessoa, mas em Smallville ninguém sabe, ou seja, tem coisas que eu posso falar coisas sobre um que não podemos falar sobre o outro. Um voa, o outro usa óculos. Um é forte, o outro é tímido. Será que isso é uma propriedade de cada um deles ou é uma informação de algo que conheço sobre eles. São duas coisas diferentes. não é porque tem algo do super-homem que não podemos falar do Clark Kent e vice-versa não significa que são objetos diferentes. Então se um dia alguém descobrir que são a mesma pessoa, Clark Kent também voa, só não sabíamos. Ou seja, o fato de sabermos ou não termos essa informação não quer dizer que as coisas são distintas ou diferentes. Então se estivéssemos discutindo com Descartes essa seria nossa argumentação. Se ele diz que tem coisas que podemos falar sobre meu corpo e que não podemos falar sobre a mente, quer dizer que são coisas diferentes. Mas então quer dizer que por ter coisas que eu posso falar do Clark Kent que eu não posso falar do super-homem, isso torna- os pessoas diferentes? Não. Isso não significa que são objetos diferentes. Essa é uma boa contra-argumentarão importante para o dualismo cartesiano. E é a principal argumentação utilizada nas teorias que iremos tratar hoje. - Podemos descrever uma nuvem com base em sua forma como com base no que forma a nuvem (gotículas de água); - Duas terminologias podem descrever o mesmo objeto. A Teoria da Identidade quer dizer, então, que podemos descrever um mesmo objeto de formas diferentes e isso não significa que são coisas diferentes. e mais importante, não significa que um dia vamos parar de usar um termo e assumir apenas o outro termo. Podemos continuar usando ambos. Não quer dizer que, por eu ser dualista, nunca mais poderei utilizar o tempo mente, mas na argumentação é necessário explicar que, como mente, você quer dizer não de uma forma dualista, mas que é algo relacionado à matéria. Por exemplo, podemos dizer que uma nuvem é um aglomerado de gotículas de água. Mas não conseguimos ver as gotículas e a nuvem ao mesmo tempo. Quando vemos a nuvem no céu, vemos a novem como algo fofo e branco, feito de algodão. Quando passamos perto dela, ela parece uma neblina. Não enxergamos do mesmo jeito. Por isso podemos dar definições diferentes, a depender de como estamos olhando. E isso não quer dizer que aso objetos diferentes. Então o que a teoria da identidade diz é que podemos usar várias terminologias diferentes para descrever o mesmo objeto e isso não significa que são objetos distintos. Então apesar do termo ‘massa de gotícula’ ser diferente do termo ‘nuvem’, não quer dizer que são coisas diferentes. da mesma forma, apesar de ‘processo no cérebro’ ser diferente da ‘consciência’, não quer dizer que são coisas diferentes. Novamente, podemos continuar usando os termos consciência, mente, pensamento, crença, desejo etc., fazer relação com os processos do cérebro, como o disparo de neurônios, e tudo bem, não quer dizer que são coisas distintas. – O principal defensor da Teoria da Identidade é Ullin T. Place (1924 – 2000). Ele é um filósofo analítico britânico e um de seus principais textos é: ‘Is consciousness a brain process?’ (1956), ou seja, aconsciência é um processo do cérebro? Um trecho citado abaixo: “Eu argumentarei que uma aceitação de processos internos não implica o dualismo e que a tese de que a consciência é um processo no cérebro não pode ser recusada por motivos puramente lógicos”. Parte de seu argumento vai contra o dualismo e parte dele vai contra o behaviorismo. Aqui ele principalmente critica a relação logica de Descartes que discutimos aula passada. Descartes falava que se existem coisas que podemos falar sobre o corpo, que não podemos falar sobre a mente, e vice-versa, significa que essas duas coisas são entidades com propriedades distintas. Place diz que não podemos usar a lógica dessa forma para chegar nessa conclusão. Isso porque utilizou da lógica que mencionamos a pouco, que se existem coisas que podemos falar sobre A e que não podemos falar sobre B, não significa que são entidades distintas. “Eu não estou tentando argumentar que quando nós descrevemos nossos sonhos, fantasias e sensações nós estamos falando de processos em nossos cérebros. Em outras palavras, eu não estou afirmando que enunciados sobre sensações e imagens mentais são redutíveis a ou analisáveis em termos de enunciados sobre processos cerebrais”. Essa frase parece ser confusa, mas o importante aqui é a questão do ‘é’. Quando falamos que ‘processo cerebral’ é ‘um processo mental’, não estamos reduzindo/eliminando um dos termos para assumir o outro. Mantemos os dois termos mental e cerebral. Fazemos uma relação entre elas. Essa parte ele coloca para se defender do behaviorismo, que defende que eliminamos totalmente os termos psicológicos e assuma apenas os termos neurocientíficos. Principalmente porque, quando você usa termos ‘mente’ ou ‘consciência’, ou qualquer termo mais psicológico, você quase que, inevitavelmente, recorre a um dualismo. E nesse caso o behaviorismo diz que é melhor eliminar todos esses termos. Place diz que podemos deixar esses termos, porque podemos continuar chamando a estrela da manhã e estrela da tarde com nomes diferentes. Eles são a mesma coisa, mas não precisamos, necessariamente, eliminar um deles. Eles podem coexistir. “(a) pelo fato de que você pode descrever suas sensações e imagens mentais sem saber nada sobre seus processos cerebrais ou mesmo se tais coisas existem; (b) pelo fato de que enunciados sobre a consciência de alguém e enunciados sobre os processos cerebrais de alguém são verificados de modo inteiramente diferentes; e (c) pelo fato de que o enunciado ‘X tem uma dor mas não há nada acontecendo no seu cérebro’ não encerra nenhuma autocontradiação”. Ele argumenta a letra (a) porque na época, apesar de todos os avanços da neurociência, temos um monte de coisas que sabemos e coisa que não sabemos, mas que nós podemos vir a saber algum dia. Ou seja, o fato de você não saber nada sobre os processos mentais, não te impede de descrever uma sensação, pensamento etc. No caso do argumento (b) é o exemplo da nuvem. Para conseguirmos ver a nuvem fofa precisamos ver de longe. Para vermos que é uma partícula de água, precisamos ver de perto. Então são situações distintas. Teorias da identidade E em (c), o individuo pode dizer que está dizendo que está sentindo dor e não vermos nada no seu cérebro e isso não significa que ele não está com dor. Então porque essas três situações podem acontecer, ele está dizendo que são as mesmas coisas, mas que podemos continuar utilizando os dois termos. Para tentar ajudar na compreensão de vocês, quero citar um dos argumentos utilizados pelos seus amigos no fórum de dualismo, na questão do é. Como utilizamos esse termo? Imagine que podemos usá-lo de duas formas distintas: como definição e como composição. Quando dizemos que um quadrado é um retângulo equilátero ou que uma pessoa solteira é alguém que nunca se casou, estamos dizendo que a relação entre os termos que vem antes e depois do é são necessárias, são auto evidentes, onde quando falamos de uma, estamos falando do outro necessariamente. Toda vez que falamos sobre um quadrado, estamos falando de um retângulo equilátero. É uma definição. Uma coisa define a outra. E é diferente do é de composição. Como é o caso da nuvem ou dizer que a mesa é um caixote velho. Nesse caso, a sua mesa pode ser formada de um caixote velho, mas nem toda mesa é um caixote velho. Além disso o termo caixote velho e mesa não necessariamente são relacionadas. Elas são relacionadas nessa situação específica. Então é uma situação contingente e verificável. Nessas duas formas de usar o termo é, nos traz a possibilidade de dizer, por exemplo, que a consciência é um processo no cérebro, mas não ser um é como definição, mas como composição. Por isso que quando Place diz que não são exatamente a mesma coisa, ainda podemos continuar usando os dois termos de forma diferente. Dizendo de outra forma, quando qualificamos um objeto: ‘a mesa é vermelha’, estamos qualificando o objeto, mas não necessariamente definindo aquele objeto, mas usamos o mesmo termo ‘é’ de quando utilizamos ele para definir coisas, como por exemplo, um quadrado é equilátero. Então ser vermelho é uma qualidade especifica desse contexto para a mesa, mas poderia não ser. Uma ajuda para entender isso é que o ‘é’ de composição trata- se da a percepção física do objeto, a forma, cor, independentemente do espaço onde ele existe. O outro, quando definimos algo, colocamos o objeto no espaço já pensando na interação que ele tem com o mundo que conhecemos. Ou seja, o é como definição é mais estático, o que as coisas são, independentemente do que elas fazem. E o outro é quando colocamos o objeto com interação com o nosso mundo, definindo muito mais sua utilidade e ação. – Outro grande pensador é J. J. C. Smart, que trabalhou inclusive com Place. Ele traz algo que foi mencionado em algum comentário do fórum de dualismo que é a questão da navalha de Ockham (pra quem não lembra, a navalha de Ockham diz que para duas teorias que explicam a mesma coisa, provavelmente a mais simples é a correta), para tentarmos ver a questão mente e cérebro de forma mais parcimoniosa. “Não parece existir (...) nada mais no fundo do que arranjos cada vez mais complexos de construção física. Todos, exceto para um só lugar: na consciência”. Ou seja, para toda e qualquer coisa no mundo podemos dar uma explicação meramente física. Por que apenas para a consciência daríamos uma explicação extracorpórea ou extrafísica? Pela questão parcimoniosa não deveríamos colocar uma explicação extraordinária, porque provavelmente não precisamos de novas explicações, além da física, para explicar isso. Até hoje não temos todas as informações, então percebam que ambos foram muito cuidadosos em afirmar que a consciência, pensamentos e processos mentais estão no cérebro, porque eles sabiam que não há como demonstrar isso. Então percebam que eles falam muito “poderia ser”, ou seja, indicando que não temos como descartar essa informação de cara, que foi o que Descartes fez, criando a corrente dualista. Porque não poderíamos partir do princípio de que é sim físico, uma vez que faz mais sentido já que todas as outras coisas do mundo são assim. Então é mais parcimonioso. Mais cuidadoso. “Que tudo deve ser explicado em termos físicos... Exceto a ocorrência de sensações parece-me ser francamente inacreditável”. A navalha de Ockham é um princípio lógico de que a melhor solução possível para determinado problema é aquela que apresenta a menor quantidade de premissas possíveis. Aqui entra o ‘contexto opaco’, que é a situação em que não sabemos que as duas coisas estão ou não relacionadas, e para o nosso caso, esperamos que um dia a neurociência desvende esse contexto opaco para dizer que dor está relacionado com a atividade do neurônio A, B, C e D. No geral,nos contextos científicos temos muitas situações opacas e esperamos que um dia a ciência venha a descobrir, por exemplo, não sabemos o que é um relâmpago até descobrirmos que é o movimento de cargas elétricas. E é isso que é defendido por esses filósofos. Exemplo 3 Vamos supor que me mudei para uma casa nova e temos um vizinho que chama Edson Guimaraes de Nascimento. É negro, gosta de futebol, tem uma camiseta da seleção brasileira. Tenho todos os motivos do mundo para acreditar que ele é o Pelé, mas não tenho certeza disso. É muito mais parcimonioso acreditar que ele realmente seja o Pelé, do que existir outra pessoa, com o mesmo nome, com a mesma cara que também se chama Edson e é meu vizinho. Então você não ter certeza, mas é totalmente plausível que Pelé e o meu vizinho são a mesma pessoa. - Estados mentais são estados cerebrais, mas: Falar sobre estados mentais não é a mesma coisa do que falar sobre estados cerebrais. Lembre-se “é” definição VS “é” de composição Eles estão dizendo que os estados mentais são estados cerebrais, mas não estão dizendo que o estado mental é a mesma coisa que estados cerebrais. A afirmação utilizada é diferente, mas o estado é o mesmo. Quando falamos que estou com dor, não estou falando que meu neurônio A, B e C está disparando, mas a dor é um disparo do neurônio A, B e C. Mas não vemos isso e não temos como saber. Podemos ficar a vida inteira falando sobre Clark Kent e nunca saber sobre o super-homem. Isso não significa que eu não conheça o Clark Kent. Então quando falamos sobre um, não necessariamente falamos sobre o outro, mas eles são a mesma coisa, ainda que eu não saiba. Talvez por isso temos a sensação de que a neurociência irá desvendar tudo para podermos desvendar um dos dois termos, mas eles não defendem isso. Eles defendem que os dois termos são e continuaram sendo utilizados porque a forma que observamos e analisamos os dois termos será diferente. “Eu sou capaz de falar sobre meus estados mentais sem saber nada sobre neurociência. Portanto, meus estados mentais não podem ser idênticos aos meus estados cerebrais”. Então como somos capazes de falar sobre os estados mentais sem saber nada sobre neurociência, não podemos dizer que eles são idênticos, por isso não é um ‘é’ de definição, mas sim de composição. Podemos falar de água sem saber nada de química, mas isso não implica que a água não seja composta por moléculas de H2O. Apenas não sabemos. Ao falar sobre eventos cerebrais físicos por um lado e eventos mentais por outro, estamos falando, sem que saibamos, sobre um e o mesmo conjunto de eventos, descritíveis em dois vocabulários distintos”. Os vocabulários que usamos para descrever os estados mentais são diferentes dos vocabulários que usamos para escrever os estados cerebrais, mas não significa que não são a mesma coisa. Talvez algum dia tenhamos o conhecimento necessário para fazer essa descrição de um jeito ou de outro. Relembrando o caso da estrela da manhã e da tarde. A estrela da manhã continua sendo a estrela da manhã. A estrela da tarde continua sendo a estrela da tarde. Ainda que elas façam referencia ao mesmo objeto e que nem estrela é, é um planeta. Ou seja, não há descrição certa. A estrela da manhã não é mais certa ou errada que a estrela da tarde. Não podemos falar de dor só porque não temos disparo de neurônios? Não. Os dois termos existem, a questão é que eles representam a mesma coisa e podemos chamar dos dois jeitos! A Teoria da Identidade se desdobra em alguns tipos. Quantas bandeiras vocês estão vendo abaixo? Alguns responderam 3 e outras 8. São 8 bandeiras, mas representam 3 países. Então a depender da pergunta a reposta pode ser 3 ou 8. Então quando perguntamos ‘quantos tipos de bandeiras temos’ seria 3. Já se fosse ‘quantas bandeiras ou espécimes ou indivíduos de temos’ seria 8. Isso é para vocês entenderem A Teoria da Identidade Tipo - Tipo ou Teoria da Identidade Token-Token ou espécime-espécime. Quando falamos do tipo-tipo necessariamente dizemos que cada tipo de estado mental é idêntico a um dado tipo de estado cerebral. Usando exemplos que vimos hoje, a água é sinônimo de H2O. Ambos indicam a mesma coisa no mundo. Um raio é um padrão de descargas elétricas. A dor é o disparo de fibras neuronais especificas A, B e C. Cada um estado mental temos a correspondência exata a um estado cerebral. Isso significa que, se no meu cérebro, a dor é o disparo do neurônio A, B e C, no cérebro de vocês também será o disparo dos neurônios A, B e C, e não será o disparo dos neurônios B, D e F. As extensões a que se referem os diferentes significados coincidem exatamente. A teoria toke-token surge posteriormente, como forma de tirar um pouco da restrição que a teoria tipo-tipo causa. Isso porque se a teoria tipo-tipo for levada ao extremo, o que acontece? Imagine que você teve um AVC, uma lesão em determinada região do cérebro e por conta disso perdi a fala. Mas depois de um tempo conseguimos recuperar a fala. Os neurônios que eram responsáveis pela fala foram perdidos pelo AVC e ainda continuam mortos, mas então como conseguimos recuperar a fala? Ou seja, a teoria tipo-tipo fica restrita porque ela não explica uma série de coisas, como o desenvolvimento, a plasticidade da lesão. Então a teoria espécime-espécime surge para tirar um pouco dessa restrição. Em outras pessoas ou em outros animais não-humanos podemos ter um estado mental correspondente a um estado físico, mas que não necessariamente é o mesmo para todo mundo, em todas as situações. A teoria tipo-tipo impõe uma hipótese muito forte e restrita para estados mentais. Então por exemplo, a dor na Paula é o disparo das fibras X, já no André temos o disparo das vibras Y. Tipo VS token Existe uma relação entre o tipo mental e físico, mas não é igual para todo mundo. Com essa abordagem flexibilizamos, pois com ela seria possível dizer que uma máquina pode ter consciência, por exemplo. Já na tipo-tipo isso não seria possível porque a máquina não teria neurônios. O problema nessas questões é que, se o tipo físico pode mudar para diferentes pessoas, como definimos quem é quem? Estamos definindo dor ou estamos definindo a fibra? No caso da teoria tipo-tipo tanto faz essa questão, porque necessariamente estamos fazendo referência a apenas uma delas porque dor sempre será o disparo da fibra A, B e C. Agora no token-token, se podemos mudar as coisas, como definimos? Fazendo outra analogia: quem é quem no multiverso quando vemos o Homem-Aranha? No multiverso, a referência é o homem aranha e não o Peter Parker, porque ele não é o mesmo para cada multiverso, já que ele pode ser branco, preto, ou até mesmo um porco, como vimos no desenho. Então quando fazemos esse tipo de relação, necessariamente precisamos ter uma referência. Nesse caso a referência é sempre o tipo mental. O que parece estranho já que estamos fazendo algo fisicalista. Se estamos trazendo algo que necessariamente existe no universo material, sempre usamos como referência o tipo mental? Fica estranho né, o normal seria usar o tipo físico. Mas como no tipo físico não temos necessariamente todo o conhecimento necessário, precisamos utilizar como referência o tipo mental, no caso do exemplo, a dor. - Origem e constituição puramente física dos seres humanos; - História da evolução; - Dependência neural; - Êxito crescente das neurociências. A grande maioria vocês vão sair da aula pensando que irão seguir pelo caminho da neurociência e que vão ganhar o prêmio Nobel porque vão dar um jeito de desvendar essa dúvida, porque é muito fácil na teoria ver que a mente é algo físico. Isso porque para nós que estudamos uma série de questões fisiológicas entender que está tudo no cérebro. Masnão é bem assim. Um dos principais argumentos que ajudam a defender a teoria da identidade é por conta da constituição física dos seres humanos e de todo o resto do mundo e porque a consciência seria diferente? Alguns ficaram na dúvida de ir contra o dualismo, talvez muito por conta de questões religiosas. Mas quando você diz “eu acredito que meu eu está em uma forma de energia”, tente pensar que a energia também não pode ser considerado como algo físico. Talvez você ache que há algo relacionado com energia, mas isso não te torna dualista, porque energia também pode ser algo físico. Outro argumento: a história da evolução. Toda explicação que damos para o funcionamento do corpo segue uma lógica evolutiva que podemos comparar com outros animais. Por que de repente teríamos um salto em relação a outras espécies, no que diz respeito à consciência? Porque apenas nossa espécie teria algo diferente que traria algo não material. Então de certa forma, quando você vai defender o materialismo, acabamos recorrendo a defender que outras espécies também podem ter alguma forma e nível de consciência e mente. Um argumento muito utilizado por vocês: “já se sabe na neurociência que...”. Sim, uma série de argumentos ajudam a defender a Teoria da Identidade. Quando temos uma lesão no cérebro, perdemos uma função ou percepção ou sensação ou algo mental se perde. Ou quando estamos sob efeito de uma anestesia, o lado mental desaparece. Ou sob o efeito de psicodélicos mudamos a percepção mental. Então temos uma relação entre um e outro, uma dependência. Então parece óbvio dizer que um surge do outro. E aqui entra as diferenças sobre o mental ser idêntico ao cerebral ou se ele emerge do cerebral, que é o que o emergentismo traz. Existe uma atividade cerebral que provoca determinada sensação e fim, não é a mesma coisa, são coisas diferentes, mas um emerge do outro. Outro exemplo de emergência. Quando dizemos que vamos dar uma festa. Quando dizemos isso, não estamos querendo dizer que vamos criar ou comprar uma festa. O que fazemos, na verdade, é convidar pessoas, colocar música e bebida, e assim temos uma festa. Ou seja, a festa emerge de uma série de outras coisas. A festa por si só é um resultado das pessoas, da música, do lugar etc. Então é nesse sentido que o emergentismo trata os estados mentais. Porque temos a atividade dos neurônios, temos uma sensação de dor. Mas a dor em si não é algo material ou mesmo imaterial porque ela emerge da atividade dos neurônios – como ela provém dos neurônios, poderíamos dizer que ela é algo físico, mas não é palpável. Quanto mais descobrimos coisas na neurociência, mais fácil fica de explicarmos determinadas questões mentais e isso auxilia a defender o materialismo e a Teoria de Identidade. Por fim vamos falar de alguns argumentos contra a teoria da identidade, porque eu sei que a tendencia forte de vocês é agarrar essa teoria como se não houvesse amanhã. Primeiro temos o problema da tradução, que é o que falamos na primeira aula, da passagem da primeira para terceira pessoa. Será que temos como saber que a minha dor é igual ao de outra pessoa. O mesmo nível de dor que eu classifico de intensidade, é a mesma que o do colega? Tem como medirmos? Um caso interessante é de um paciente que tinha dor crônica na face e uma solução foi cortar os nervos para que eles não sinalizassem mais essa dor dos nervos da face para o cérebro e com isso ele perderia totalmente a sensação de dor da face. Mas deu errado. A sinalização da Argumentos a favor da Teoria da Identidade Argumentos Contra a Teoria da Identidade dor continuou, mas ele não se importava mais. O médico tentando entender esse caso trouxe esse questionamento de que a nossa percepção subjetiva (dor, memória, etc.), de alguma forma consegue se desapegar das sensações físicas. Isso porque o individuo continuava a sentir dor, mas ele não se importava mais, ele não sentia mais o sofrimento da dor. Como explicar isso? Ou então casos de hipnose, onde é apresentado algo para a pessoa, mas ela não enxerga. A cor vermelha que eu enxergo, é a mesma cor vermelha que o colega enxerga? Como podemos afirmar tal coisa? A introspecção está relacionada ao acesso. Questão da tradução ou termos para definir as mesmas coisas. A partir do momento que mudamos o termo: dor ou disparo do neurônio, temos um problema de tradução. Será que é um problema de tradução semântico ou será que é um problema do GAP? Como conseguimos acessar as sensações dos outros indivíduos? Não iremos entrar em detalhes nos argumentos contra a teoria da identidade porque iremos discutir com maior enfoque na aula que vem.
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