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Ana Clara Aguilar de Almeida – Atenção Integral à Saúde da Criança e do Adolescente I – Out. 2022 1 ADOLESCÊNCIA E PUBERDADE ADOLESCÊNCIA - A adolescência é um período da vida que é definido por faixa etária. Adolescência e puberdade são coisas diferentes. Na puberdade há um momento de mudanças físicas, adquire caracteres sexuais secundários. Já a adolescência é um período que engloba a puberdade e mais algumas outras transformações. - De acordo com o Ministério da Saúde e OMS: Adolescência – 10 a 20 anos de idade incompletos (10 a 19 anos). Legalmente, pelo instituto da criança e do adolescente a adolescência é definida de 12 a 18 anos (há uma divergência de alguns anos). A adolescência é um período de transformações físicas, psíquicas e sociais. O adolescente vai estar em uma fase de mudar o jeito de pensar, adquirir habilidades que vão ser mantidos na vida adulta, aspectos religiosos, aspectos de sexualidade. - ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DO ADOLESCENTE: Desafio – promoção de saúde e prevenção de agravos, assistência e reabilitação da saúde e educação permanente. Tenta abordar todas as questões e transformações para prevenir alguns agravos, identificar alguns riscos e evitar que a criança se envolva com violência, drogas, etc. na atenção básica é o momento que tem para abordar essas questões. Muitas vezes demora de a criança ter confiança no médico, mas se conseguir deixar o adolescente a vontade, sempre se consultar com o mesmo medico, em algum momento ele se sente mais à vontade. Na maioria dos casos esses adolescentes vão acompanhados dos pais, então tem o momento da consulta que ele está acompanhado e tem momentos que se pede licença aos pais para conversar com ele sozinho e eventualmente precisa chamar esse responsável de novo para fazer esclarecimentos e dar informações que são necessárias. Linhas de Ação: Acompanhamento do crescimento e do desenvolvimento físico e psicossocial Saúde sexual e saúde reprodutiva – geralmente nessa idade já se inicia Saúde bucal Saúde mental Prevenção ao uso de álcool e outras drogas Prevenção e controle de agravos em saúde Educação em saúde Direitos humanos, a promoção da cultura de paz e a prevenção de violências e assistência às vítimas Preparo insuficiente para atendimento de adolescentes na APS – a Estratégia de Integração de Manejo dos Adolescentes e suas Necessidades (IMAN) da Organização Panamericana de Saúde (2005) foi criado para orientar esses pacientes e não deixar passar nada despercebido. Objetivos: 1. PERGUNTAR Anamnese – adolescente ou acompanhante Se o adolescente incapaz de se expressar (ex.: déficit cognitivo, síndrome de down), perguntar ao acompanhante. Queixas atuais – se tem algo atual que está incomodando Doenças pregressas – é importante os pais, pois as vezes o paciente não lembra que já foi internado quando era menor Antecedentes perinatais Doenças na família Verificar adaptação sob o ponto de vista biopsicossocial (já avalia como ele fala, a postura, se o paciente consegue se expressar, se tem linguagem agressiva ou defensiva). Não deve somente conversar com os pais, deve conversar também com o adolescente e nos momentos que surgirem dificuldades deve envolver os pais. Ana Clara Aguilar de Almeida – Atenção Integral à Saúde da Criança e do Adolescente I – Out. 2022 2 2. OBSERVAR Realizar o exame físico – estadiamento puberal, medidas antropométricas, identificação de patologias Avalia estatura, peso, IMC, preencher a caderneta. Avaliar crescimento e desenvolvimento Avaliar a relação do adolescente com seus pares, com a família e com os adultos de referência Identificar vulnerabilidades para antecipar problemas evitáveis – ex.: abuso sexual 3. AVALIAR, DETERMINAR OU DIAGNOSTICAR Abordar questões psicossociais – se necessário referenciar Diagnosticar – se não houver necessidade de referenciar para serviços de maior complexidade Explicar o diagnóstico e tirar dúvidas Explicar como é o acompanhamento Explicar as consequências de má adesão Orientar sinais de alerta e retorno se necessário Determina se o tamanho e crescimento estão adequados para idade, como está o desenvolvimento, como está na escola, etc. Se não conseguir resolver o problema na atenção básica, deve encaminhar para um serviço especializado. Nunca deve diagnosticar ou suspeitar de uma doença e deixar de explicar ao paciente. Ex.: se precisar encaminhar para o cardiologista, deve explicar antes o motivo e as suspeitas, sinais de alerta, se é uma doença que tem risco de agudizar. 4. TRATAR Iniciar o tratamento necessário para estabilizar o adolescente antes de referi-lo, caso necessário. Quem vai fazer o acompanhamento será o médico da família ou o pediatra ou o hebiatra (subespecialidade focada na adolescência). Caso não haja necessidade de referência: Indicar o tratamento Explicar claramente as alternativas terapêuticas Envolver o adolescente nas alternativas mais convenientes – deve avaliar se ele vai conseguir aderir àquele tipo de tratamento 5. ACOMPANHAR O acompanhamento deve ser realizado de acordo com o diagnóstico de cada paciente. A frequência de acompanhamento vai depender de cada patologia. Se adolescente saudável, acompanhar uma a duas vezes ao ano. 6. ACONSELHAR OU ORIENTAR Escutar o adolescente e sua família Manejar casos sem preconceitos Discutir soluções para os problemas apresentados a fim de prevenir riscos desnecessários - CADERNETA DE SAUDE DO ADOLESCENTE: A própria unidade básica de saúde que vai fornecer. Deve sempre anotar os pontos principais. Instrumento de apoio à consulta, para registro de dados relevantes ao acompanhamento Contém informações acerca do crescimento e desenvolvimento, alimentação saudável, prevenção de violências e promoção da cultura de paz, saúde bucal e saúde sexual e reprodutiva Registro das medidas antropométricas, dos estágios de maturação sexual e das intervenções odontológicas Calendário vacinal – checar imunizações **Ver quadro legível no final do material Tem algumas vacinas que se não foram feitas na infância e não estão completas, devem ser completadas. E tem algumas outras vacinas que não fazem mais. Ana Clara Aguilar de Almeida – Atenção Integral à Saúde da Criança e do Adolescente I – Out. 2022 3 Ex.: hepatite B se o esquema estiver incompleto, deve completar. Mas se nunca foi vacinado, deve realizar o esquema todo, sendo as doses 0/1/6 meses. O tétano e difteria o reforço é a cada 10 anos. Febre amarela se o adolescente não tiver vacinado na infância, deve receber uma dose só, mas se vacinou com 9 meses ele vai receber o reforço. Sarampo/caxumba/rubéola deve completar ou realizar o esquema todo. HPV meninos e meninas todos devem receber. Sendo meninas de 9 a 14 anos e meninos de 11 a 14 anos, 2 doses pelo SUS (quadrivalente – contra HPV 6/11/16/18, os subtipos 6/11 causam verruga e o 16/18 causam câncer). No privado são 3 doses. A meningocócica ACWY os adolescentes recebem uma dose de 11-12 anos. - A CONSULTA: Privacidade – adolescentes podem ser atendidos sozinhos, caso desejem O início da consulta pode ser com o responsável ou não. Se tiver responsável, depois vai solicitar a sua retirada para conversar sozinho com o adolescente. Confidencialidade e Sigilo – assegurar que as informações obtidas no atendimento não serão repassadas a ninguém (incluindo pais ou responsáveis) sem consentimento do adolescente Tem algumas situações que são necessárias a quebra do sigilo médico, mas deve avisar antes ao adolescente. Pode explicar antes quais são essas situações de quebra de sigilo. Mas deve deixar claro que a maior parte das informações vai permanecer ali na consulta. Quebra de sigilo – informar sobre situações que requerem quebrade sigilo Sempre que houver risco à vida ou outros riscos importantes para o paciente ou para terceiros (violência sexual, ideação suicida, informação de homicídios, etc.) Informar que a quebra do sigilo não é realizada sem o conhecimento do paciente. Por características próprias da adolescência, muitas vezes eles têm dificuldade de respeitar horários e datas de agendamento - serviço deve buscar mecanismos de organização mais flexíveis Quando não quebrar o sigilo: Inicialização sexual não avisa aos pais a não ser que tenha suspeita de violência sexual. Se o paciente experimentou algum psicoativo, mas não tem nenhum sinal de dependência ou de uso cada vez mais frequente, não precisa comunicar aos pais. Orientação sexual somente se o adolescente quiser contar. Prescrição de contraceptivos não precisa da presença dos pais. Pode prescrever pílula, injeção contraceptivo. Deve orientar que deve utilizar contraceptivos de barreiras por causa de doenças. Precisa ser um adolescente que entenda o uso dessas medicações, com maturidade. Quando houver alguma DST não deve informar aos pais também se não for HIV. Se for HIV deve quebrar o sigilo. Mas se forem outras doenças (ex.: sífilis, clamídia) que o paciente entenda que deve aderir ao tratamento, não precisa comunicar aos responsáveis. Quando quebrar o sigilo: Nas suspeitas de violência. Alguma situação que gere risco para o adolescente ou para terceiros. Qualquer tipo de violência – emocional, maus tratos, sexual, bullying. Quando o adolescente utiliza psicoativos com uma frequência cada vez maior ou está em dependência, deve quebrar o sigilo. Presença de autoagressões, ideação suicida, tentativa de fuga de casa ou vontade de fugir de casa, deve quebrar o sigilo e comunicar. Em casos de gravidez e abortamento deve quebrar o sigilo. Sorologia positiva para HIV deve comunicar aos responsáveis e com os parceiros. Ana Clara Aguilar de Almeida – Atenção Integral à Saúde da Criança e do Adolescente I – Out. 2022 4 Se o adolescente não aderir a tratamentos que foram prescritos (ex.: tratamento de sífilis) deve comunicar aos responsáveis. No caso de diagnóstico de doenças graves tanto físicas quanto mentais, como esquizofrenia, quadros depressivos ou outros transtorno do campo mental. - DINÂMICA DA CONSULTA: Idealmente, devem existir pelo menos dois momentos na consulta: um primeiro momento, com o adolescente e o responsável, e um segundo momento com o adolescente sozinho o Papel do Responsável – auxiliar no entendimento da dinâmica familiar, fornecimento de dados da história pregressa. Momento que observa a interação entre responsáveis e adolescente. o Adolescente Sozinho – expor percepção sobre acontecimentos de sua vida, abordagem de assuntos sigilosos Primeiro Momento – motivo da consulta, histórico pregresso e atual, estado vacinal (checar registro, vê se está completo ou precisa de adequar), dados da gestação e nascimento, hábitos alimentares, condições de habitação, se o adolescente trabalha, rendimento escolar, exposição a ambientes violentos, uso de tecnologia (tempo de tela), hábitos de sono, lazer, atividade física, atividades culturais, história familiar (doenças na família, configuração e dinâmica familiar, situações conflituosas, consanguinidade, etc.). Segundo Momento – percepção corporal e autoestima; relacionamento com a família (pode ser que na frente de outras pessoas é uma coisa e quando sai é outra); existência de conflitos; utilização das horas de lazer; relações sociais e grupo de iguais; desenvolvimento afetivo, emocional e sexual; espaços por onde o adolescente transita e mantém relacionamentos interpessoais – escola, comunidade, grupos de jovens, e trabalho; crenças e atividades religiosas; existência de situações de risco e vulnerabilidade; contato com drogas lícitas (álcool, tabaco, cigarro eletrônico, narguilés) e ilícitas; comportamentos sexuais, identidade de gênero e orientação; sexual saúde reprodutiva; gestações não planejadas; infecções sexualmente transmissíveis (IST’s); ocorrência de acidentes; submissão a violências; tempo de tela Identificada presença de violência familiar ou de situações que exijam a quebra do sigilo médico, faz-se necessário nova etapa na anamnese em um terceiro momento – conversa a sós com os responsáveis o Orientar sobre hipóteses diagnósticas o Orientar condutas terapêuticas - PROTOCOLO DE HEEADSSS: Cada letra desse protocolo corresponde a uma pergunta que deve ser feita ao adolescente. Conhecer história psicossocial do modo mais completo possível, através de questões, para maximizar a comunicação e diminuir o estresse durante a consulta. Aplicar questionário uma vez ao ano ou sempre que houver indícios de fato estressante (algum aspecto que pode gerar alteração nas respostas) Tempo de preenchimento – 20 minutos A consulta com o adolescente no geral é demorada, pois terão pelo menos dois momentos (responsáveis + adolescente e depois somente o adolescente), depois ainda aplica mais 20min de questionário. Por isso deve ter uma flexibilidade na agenda, ter horário vago. Com alguns adolescentes deve ser necessária a adaptação, como o uso de gírias. Mas nunca deve ser de um jeito desrespeitoso ou constrangedor. Ana Clara Aguilar de Almeida – Atenção Integral à Saúde da Criança e do Adolescente I – Out. 2022 5 É muito comum nessa idade ter distúrbios de auto imagem que acabam gerando distúrbios alimentares (ex.: anorexia, bulimia). Se perceber que houve alguma alteração, consegue perceber qual é o melhor momento de realizar novamente o questionário. - PERIODICIDADE DO ACOMPANHAMENTO: O acompanhamento vai depender do período que ele está da adolescência. Nas meninas o primeiro caractere sexual que aparece é o broto mamário e no menino é o aumento do volume testicular. Geralmente a menina quando tem a menarca (1-2 anos depois do broto mamário) ela já está desestabilizando para começar a desacelerar, e vai crescer no máximo mais 2 anos após a menarca. Quando identifica que a puberdade foi desencadeada, ele deve ter uma frequência de 3 em 3 meses entre as consultas. Quando o paciente está em um período de aceleração do estirão (do crescimento), deve acompanhar de 4 em 4 meses. Quando adolescente tiver desacelerando o crescimento, deve atende-lo uma vez por ano até o fim do crescimento. E se tiver alguma patologia, a frequência será de acordo com a doença. Ex.: Meninas – surgiu o broto mamário, acompanha de 3 em 3 meses. Depois da menarca acompanha de 4 em 4 meses e depois acompanha mais uns 2 anos a cada ano. - EXAME FÍSICO: Adolescente pode optar pela presença de um familiar, mas ele pode optar por não ter ninguém Explicar como o exame é feito para reduzir a ansiedade do paciente Apontar achados normais para tranquilizar o adolescente – ex.: após ausculta do pulmão, dizer que está tudo bem sem alterações O exame físico é uma oportunidade de abordar temas educativos relacionados ao corpo e a hábitos de higiene – ex.: orientar que deve limpar o umbigo Aferir pressão arterial (PA) de todo adolescente pelo menos uma vez ao ano a não ser que tenha alguma alteração Para colocar o manguito para aferir a pressão, deve utilizar a fita métrica, medir a distancia do ombro até o cotovelo (do acrômio até o olecrano), acha o ponto médio dessa distância. No ponto médio, mede o diâmetro do braço (circunferência) e deve pegar um esfigma do tamanho ideal para aquele braço. O esfigma apertado vai superestimar a PA e se estiver largo, vai subestimar a PA. - CRESCIMENTO: Evolução da altura de um indivíduo em função do tempo Avaliar o tamanho comparando com ele mesmo e com os demais adolescentes da mesma idade. Avaliar crescimento: repetidas determinações da estatura, em intervalos regulares (em média a cada seis meses), inscritas em gráficos padronizados Velocidade de crescimento – importante indicador de normalidade. Avalia cm/ano, mas não precisa esperar um ano para ver o quanto ele cresceu. Deve pegar um período de 4-6 meses, vê quanto ele mede, faz uma regra de 3 e consegue estimar +- quanto ele está crescendo por ano. Tem um padrão que consegue prever pela curva. o Padrão linear previsível – 10 a 30 cm (em média 20 cm) durante a puberdade o Média de velocidade máxima de crescimento – 10 cm/ano para o sexo masculino (13 e 14 anos) e 9 cm/ano para o sexo feminino (11 e 12 anos) O adolescente do sexo masculino vai crescer até +- 18 anos, mas o pico de crescimento está entre 13-14 anos (quando ele cresce esses 10 cm/ano). No sexo feminino o pico é entre 11-12 anos. o Após a menarca, as meninas crescem no máximo 5 a 7 cm Ao todo, os adolescentes crescem de 10-30 cm durante toda a puberdade. Ana Clara Aguilar de Almeida – Atenção Integral à Saúde da Criança e do Adolescente I – Out. 2022 6 - SEQUÊNCIA DO CRESCIMENTO: Ordem de crescimento – extremidades (pés) ao tronco Meninos – alargamento do diâmetro biacromial (medida entre os ombros) Meninas – alargamento do diâmetro biilíaco (pelve) Pelos axilares e faciais – surgem aproximadamente 2 anos após os pelos pubianos, principalmente nos meninos Alterações morfológicas na laringe – cordas vocais mais espessas e longas – voz mais grave (muda vocal). Ocorre nos dois sexos, mas é mais evidente nos meninos o Completa-se ao longo de 6 meses esse processo de muda vocal o Pelos faciais indicam final desse processo de muda vocal Anota a data, idade do adolescente, as medidas antropométricas, maturação sexual (sinais de puberdade), pressão arterial uma vez por ano. Faz as marcações nos gráficos de estatura por idade e IMC por idade. Nos adolescentes são utilizados esses dois gráficos principalmente. Resumo das perguntas e passos que faz no atendimento e o que pode encontrar de alterado com relação às medidas antropométricas, estatura, etc. Cálculo da Estatura Alvo: Meninas = altura da mãe (cm) + (altura do pai (cm) – 13)/2 Meninos = altura da mãe (cm) + (altura do pai (cm) + 13)/2 Sempre no final dos dois cálculos considerar ±5 Baixa estatura – 20% patológico 80% restantes se dividem entre baixa estatura constitucional e familiar Distúrbios de autoimagem são muito comuns nessa faixa etária Importante incidência de transtornos alimentares nesse grupo, principalmente no sexo feminino (críticas e comparações aos colegas) o Anorexia nervosa Ana Clara Aguilar de Almeida – Atenção Integral à Saúde da Criança e do Adolescente I – Out. 2022 7 o Bulimia Obesidade e comorbidades devem ser tratadas para evitar prejuízo emocional e complicações clínicas PUBERDADE Puberdade – latim pubertate (idade fértil) Já está se preparando para ser capaz de gerar um descendente. Período de modificações biológicas, físicas, morfológicas e funcionais que ocorre na adolescência Não é sinônimo de adolescência, mas sim, faz parte da adolescência Adolescência é uma fase e a puberdade é um período de mudança fisiológica Período relativamente curto – 2 a 4 anos de duração - MUDANÇAS DA PUBERDADE: Aceleração (estirão de crescimento) e desaceleração do crescimento ponderal e estatural No estirão de crescimento a menina cresce 9 cm/ano e os meninos 10 cm/ano. Paciente vai ter aumento tanto de estatura quanto de peso significativo proporcional. Modificação da composição e proporção corporal (crescimento esquelético, muscular e redistribuição do tecido adiposo) Meninos normalmente terão uma massa muscular maior que a menina. Desenvolvimento de todos os sistemas do organismo Maturação sexual com o surgimento de caracteres sexuais secundários – mamas, pelos pubianos, faciais e axilares, aumento dos testículos, aumento do pênis Reorganização neuroendócrina, com integração de mecanismos genéticos e ambientais - FISIOLOGIA DA PUBERDADE: Ainda não é completamente elucidada Reativação de hormônios hipotalâmicos secretam, de maneira pulsátil, o hormônio liberador de gonadotrofinas (GnRH) – liberação pulsátil do hormônio folículo estimulante (FSH) e do hormônio Luteinizante (LH) LH e FSH vão estimular a liberação de testosterona, estrogênios. Inicialmente esse processo ocorre no período noturno, depois estabelece-se um ritmo circadiano que vai independer dos hábitos de sono. O crescimento e o desenvolvimento são determinados por fatores genéticos e ambientais Sempre vai depender da interação entre genética e ambiente. O desenvolvimento sexual é mais tardio nas classes econômicas desfavorecidas, pelos fatores ambientais. Sexo Masculino – LH estimula a produção de testosterona pelas células de Leydig e o FSH estimula a espermatogênese (espermatozoides) Sexo Feminino – LH estimula a luteinização dos ovários e o FSH o desenvolvimento dos folículos Hipotálamo libera GnRH, estimula a hipófise liberar LH e FSH que estimula a produção testicular de testosterona nos meninos para espermatogênese e no sexo feminino o LH estimula a luteinização dos ovários e FSH estimula o desenvolvimento dos folículos. - PUBERDADE NORMAL: Crescimento esquelético linear (estirão puberal, aumento da velocidade de crescimento) 10 a 12 cm/ano no sexo MASCULINO 8 a 10 cm/ano no sexo FEMININO Alteração da forma e composição corporal Desenvolvimento de todos os órgãos e sistemas (exceto sistema linfoide, em involução) Até os 9-10 anos terá um aumento dos linfonodos. Em crianças é comum palpar linfonodo inguinal e alguns outros linfonodos. Na adolescência esses linfonodos começam a regredir e crescem menos. O único sistema que não se desenvolve na adolescência é o sistema linfoide que estará em involução. Desenvolvimento gonadal e das características sexuais secundárias, com aquisição de maturidade reprodutiva Ana Clara Aguilar de Almeida – Atenção Integral à Saúde da Criança e do Adolescente I – Out. 2022 8 - MATURAÇÃO SEXUAL: Sexo MASCULINO – testosterona o Entre os 9 e 14 anos – antes de 9 será puberdade precoce e depois de 14 anos será puberdade tardia o Aumento simétrico e simultâneo dos testículos – 4cm3 Primeiro evento da puberdade em meninos será esse aumento do volume testicular. É avaliado esse tamanho através do Orquidômetro. Se tiver algum aumento assimétrico deve pensar se tem algum fator local (ex.: tumor). O testículo adulto varia entre 12 e 25 cm3. Na imagem acima: Orquidômetro de Prader Pega em uma mão o orquidômetro e na outra mão pega o testículo e faz a comparação. o Em sequência: crescimento de pelos pubianos, desenvolvimento do pênis em comprimento e depois em diâmetro (espessura), aparecimento de pelos axilares e faciais e estirão puberal (aceleração do estirão em G3) Estirão nos meninos ocorre nos 13-14 anos e esse adolescente estará em G3. G1 o menino é pré-púbere, não tem aumento do testículo. G2 está púbere com 4cm3 de testículo. E o pico de crescimento do adolescente menino será em G3. o Espermatogênese por volta do 4º estágio puberal de Tanner (G4) Sexo FEMININO – Estrogênio e Progesterona o Entre 8 e 13 anos – puberdade precoce em meninas será antes de 8 anos e puberdade tardia será após 13 anos. o Broto mamário – primeiro evento da puberdade em meninas. Palpação da glândula mamaria o Em sequência: pelos pubianos e estirão (inicia-se em M2) Começam junto com o broto mamário, por volta de 11-12 anos (M2) o Menarca (em M4): cerca de um ano após o pico de velocidade de crescimento; 2 a 2 anos e meio após telarca (para de crescer) Geralmente os primeiros ciclos menstruais são anovulatórios, o tempo varia de paciente para paciente. Na imagem acima: Estadiamento puberal de Turner nos meninos. Se o adolescente estiver confortável pode examinar,mas se ele recusar pode mostrar a tabela e pede para ele apontar em qual estágio ele está. Estágio 1 (G1 e P1) – de genitália e pelificação é pré- púbere, pelugem ou nenhum pelo Estágio 2 (G2 e P2) – terá aumento testicular e começa a ter uma hipervascularização da bolsa escrotal, pode ter um escurecimento da pele da bolsa escrotal e terá o testículo com 4 cm3 Terá um crescimento dos pelos na região pubiana, mas alguns pelos finos e longos, escuros e lisos. Estágio 3 (G3 e P3) – aumento da bolsa escrotal, aumento do testículo e isso vai ser diferente para cada paciente. Terá um aumento do pênis em comprimento. Os pelos começam a ficar mais escuros, mais espessos e encaracolados Estágio 4 (G4 e P4) – aumento da bolsa escrotal, aumento do testículo, pênis ainda pode ter um crescimento em Ana Clara Aguilar de Almeida – Atenção Integral à Saúde da Criança e do Adolescente I – Out. 2022 9 comprimento, mas também terá crescimento em diâmetro. Já em o aspecto do pelo adulto, mas em menor quantidade. Estágio 5 (G5 e P5) – pênis do adulto, genitália adulta. Pelos se estendem até raiz de coxa. Em alguns casos tem o estágio P6 que os pelos crescem em direção ao abdome (linha alba). Na imagem acima: Estadiamento puberal de Turner nas meninas. Estágio 1 (M1 e P1) – Não tem mamas e não tem broto mamário. Não tem desenvolvimento de genitália. Não tem pelos ou pelugem. Estágio 2 (M2 e P2) – começa a sentir o broto mamário. Na palpação sente um espessamento e surgimento das glândulas debaixo das aréolas. Pelos mais escuros, finos e lisos. Estágio 3 (M3 e P3) – terá um aumento da aréola e acumulo das glândulas fora dos limites das aréolas. Pelos mais grosso, mais escuro e um pouco encaracolado. Estágio 4 (M4 e P4) – aréola projeta para frente e cresce mais e se destaca do seio, ficando mais saliente. Terá mais acumulo de glândula e mais acumulo de gordura, começa a ter o formato da glândula adulta, mas ainda não está pendente. Pelo com aspecto adulto na região pubiana. Estágio 5 (M5 e P5) – mama adulta. A aréola volta para os contornos da mama e a mama terá mais glândulas e gordura e ficará mais pendente. Pelo atinge raiz de coxas. Em alguns casos pode ter o estágio P6 que os pelos atingem linha alba. Na imagem acima: Gráficos com relação ao estirão e estadiamento puberal. No sexo masculino o pico estará em G4. Meninos desaceleram em G5, perto dos 18 anos. Na menina o estirão começa em M2 e o pico estará em M3. A menina tem a menarca como um sinal biológico que ela está desacelerando desse pico. Meninos crescem mais cm por ano e por um período maior que as meninas. - PUBERDADE PRECOCE: Meninas: abaixo de 8 anos / Meninos: abaixo de 9 anos Em caso de pubarca (desenvolvimento dos pelos) ou telarca (desenvolvimento das glândulas mamárias) antes dos 8 anos, mas sem aceleração da velocidade de crescimento ou avanço da idade óssea, deve observar (não preocupa tanto) O intervalo entre 2 estágios puberais (ex.: entre G2 e G3) é de cerca de 1 ano Intervalos < 6 meses devem ser considerados anormais Riscos da puberdade precoce: baixa estatura e distúrbios psicossociais, além do aumento do risco de abuso Causas de puberdade precoce: tumores hipotalâmicos, anóxia perinatal, quimioterapia Ana Clara Aguilar de Almeida – Atenção Integral à Saúde da Criança e do Adolescente I – Out. 2022 10 ou radioterapia do SNC (pode afetar hipotálamo e hipófise), maturação hipotalâmica secundária à exposição precoce a esteroides sexuais endógenos ou exógenos, tratamento com estrogênios conjugados por tempo prolongado Se tiver um medicamento que aumenta os níveis de hormônios sexuais, isso pode interferir no desencadeamento da puberdade. Investigação da Puberdade Precoce: Medir concentrações de LH, FSH, estradiol, testosterona, DHEA-S, 17OHP. Devem ser realizados conforme o quadro clínico apresentado Em alguns casos, é necessário o teste de estímulo com GnRH Identificar se a puberdade é precoce de origem central. Ultrassonografia pélvica, de região adrenal, abdominal e/ou testicular, além de radiografia de punho para avaliação da idade óssea, podem auxiliar no diagnóstico etiológico e acompanhamento da evolução Ex.: Radiografia de idade óssea, se o paciente tem 10 anos, com idade óssea de 12, dentro do contexto de puberdade precoce esse paciente tem mais um dado a favor que ele desenvolveu a puberdade precoce, antes da hora (cresceu a idade cronológica dele). Nos casos de puberdade precoce central (hipotálamo/hipófise), a ressonância magnética de sela túrcica deve ser realizada em todas as meninas com menos de seis anos de idade e em todos os meninos que apresentarem puberdade precoce (abaixo de 9 anos), bem como em todas as crianças com sintomas neurológicos - ATRASO PUBERAL: Ausência de telarca (desenvolvimento das mamas) após os 13 anos (MENINAS) Ausência de aumento testicular após os 14 anos (MENINOS) Atenção: pubarca (desenvolvimento dos pelos) precoce não é sinônimo de início da puberdade (pode ser um estímulo androgênico da suprarrenal). A suprarrenal produz os hormônios androgênios por outros mecanismos sem ser LH e FSH. Grupos causais: o Retardo puberal (atraso constitucional da puberdade – baixa estatura e idade óssea atrasada; doenças crônicas; endocrinopatias), o Hipogonadismo hipogonadotrófico (alterações a nível hipotalâmico ou hipofisáfico, com redução do LH e do FSH: hipogonadismo hipogonadotrófico idiopático – deficiência congênita de GnRH – , ausência isolada de LH ou de FSH, síndrome de Prader-Willi, craniofaringioma, radiação, etc), o Hipogonadismo hipergonadotrófico (alterações gonadais: produção dos hormônios sexuais – testosterona e estrogênio – pequena ou ausente; ausência de feedback negativo eleva os níveis de gonadotrofinas; causas: síndrome de Klinenfelter, síndrome de Turner, síndrome de Noonan, radiação, etc.) Nestes casos deve avaliar história e exame clínico, a idade óssea, dosagem de LH/FSH e dos hormônios sexuais. Se tiver baixo LH/FSH deve pensar em um Hipogonadismo Hipogonadotrófico. Se tiver aumento de LH/FSH vai ser um Hipogonadismo Hipergonadotrófico, pois terá aumento da produção de LH e FSH. As principais causas genéticas são investigadas pelo cariótipo. Ex.: se tiver uma menina, com baixa estatura, sem desenvolvimento de caracteres sexuais secundários e com outros estigmas genéticos. Deve realizar o cariótipo e o mais comum é Síndrome de Turner. Ex.: Menino alto, sem desenvolvimento de caracteres sexuais secundários, pode ter características feminilizadas pode ser Síndrome de Klinefelter. Ana Clara Aguilar de Almeida – Atenção Integral à Saúde da Criança e do Adolescente I – Out. 2022 11 Ex.: se for alguma influencia de hormônio sexual endógeno ou exógeno terão como principais causas um erro na síntese de testosterona, alterações das células de Leydig, ausência de testículo, tumor testicular que deixa de produzir testosterona, etc. Desnutrição não terá gordura para produzir androgênio, não terá proteína e energia. Doenças crônicas, hipotireoidismo também podem afetar o desenvolvimento da puberdade. Hipogonadismo Hipogonadotrófico – DISFUNÇÃO CENTRAL Hipogonadismo Hipergonadotrófico – DISFUNÇÃO GONADAL (Periférico) - SITUAÇÕES CLÍNICAS MAIS COMUNS: Ginecomastia – evento pubertário comum, geralmente no estágio G3 de Tanner (diferenciar de lipomastia; pode ser transitório ou permanente, fisiológico ou patológico) Ginecomastia é diferente da telarca. Ginecomastia tem aumento da gordura somente e não tem aumento da glândula. Pode ocorrer em meninos durante o desenvolvimento sexual, normalmente no G3 e deve somente acompanhar. Deve diferenciar se é somente ginecomastia ou se é glândula também (pode ser fisiológico ou patológico). Hirsutismo – evento isolado? SOP? Crescimento de pelos onde não deveria,principalmente nas meninas (barba, bigode). Deve avaliar se é isolado ou se tem relação com alguma doença. Micropênis – pênis normalmente formado, anormalmente pequeno, com um comprimento inferior a 2,5 desvios-padrão (DP) abaixo da média da idade ou do estágio de desenvolvimento sexual Acne Febre reumática Escoliose Cifose Doença de Osgood-Schlatter Anemias Infecções do trato urinário Hidrocele Varicocele Dismenorreia Ex.: se ver um menino no início do desenvolvimento sexual com aumento de mama, primeira coisa deve avaliar se é gordura ou glândula. Se for gordura deve somente acompanhar e se for glândulas deve avaliar caso a caso. Ana Clara Aguilar de Almeida – Atenção Integral à Saúde da Criança e do Adolescente I – Out. 2022 12