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Prévia do material em texto

História da América II
HEVELLY FERREIRA ACRUCHE
1ª Edição
Brasília/DF - 2018
Autores
Profª. Msª. Hevelly Ferreira Acruche
Produção
Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e 
Editoração
Sumário
Organização do Livro Didático........................................................................................................................................4
Introdução ..............................................................................................................................................................................6
Capítulo 1
A Independência das trezes colônias inglesas ....................................................................................................9
Capítulo 2
O processo de independência da américa espanhola ................................................................................... 23
Capítulo 3
Cultura, política e mobilização popular na América Latina do século XX .............................................. 40
Capítulo 4
Os Estados Unidos nos primeiros anos do novo século ............................................................................... 51
Capítulo 5
Subversão e Revolução: as ditaduras civis-militares na América Latina ................................................ 60
Capítulo 6
As redemocratizações latino-americanas e seus desafios ........................................................................... 74
Referências .......................................................................................................................................................................... 81
4
Organização do Livro Didático
Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em capítulos, de forma didática, objetiva e 
coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros 
recursos editoriais que visam tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, 
fontes de consulta para aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares.
A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização do Livro Didático.
Atenção
Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a 
síntese/conclusão do assunto abordado.
Cuidado
Importante para diferenciar ideias e/ou conceitos, assim como ressaltar para o 
aluno noções que usualmente são objeto de dúvida ou entendimento equivocado.
Importante
Indicado para ressaltar trechos importantes do texto.
Observe a Lei
Conjunto de normas que dispõem sobre determinada matéria, ou seja, ela é origem, 
a fonte primária sobre um determinado assunto.
Para refletir
Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa 
e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. 
É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus 
sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas 
conclusões.
5
ORgAnIzAçãO DO LIvRO DIDátICO
Provocação
Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes 
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor 
conteudista.
Saiba mais
Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões 
sobre o assunto abordado.
Sintetizando
Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o 
entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.
Sugestão de estudo complementar
Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, 
discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.
Posicionamento do autor
Importante para diferenciar ideias e/ou conceitos, assim como ressaltar para o 
aluno noções que usualmente são objeto de dúvida ou entendimento equivocado.
6
Introdução
Caros alunos,
Sejam bem-vindos ao curso de História da América II. Ao longo de nossos estudos, iremos trabalhar 
com a variedade e a riqueza de temáticas envolvendo o continente americano. Como vocês 
sabem, a América foi descoberta pelos europeus no contexto das Grandes Navegações (séculos 
XV – XVI) e passou, gradativamente, a ser um local importante para a história mundial. Muitos 
eventos tiveram suas repercussões na América, assim como reflexos do universo americano 
tiveram influência no continente europeu. 
Neste curso, iniciaremos nossa reflexão em torno dos processos de independência das colônias 
americanas em relação às respectivas metrópoles europeias. Passaremos a entender como ideias 
e pensamentos que formam as bases do mundo contemporâneo chegaram ao mundo colonial, 
promoveram contradições políticas e sociais e acarretaram em mudanças substanciais, tais como 
a formação de regimes republicanos por todo o continente, em oposição clara ao absolutismo 
que vigorava na Europa.
Também analisaremos o impacto da relação entre Estados Unidos e os países da chamada América 
Latina. Denominação atribuída aos países de língua hispânica no continente americano no final 
do século XIX, a América Latina foi uma construção social, cultural e ideológica. Nesse sentido, 
pretendemos mostrar a vocês a riqueza material e cultural da América a fim de compreender 
suas mazelas e seu processo de desenvolvimento. 
Por fim, abordaremos os dilemas do continente americano ao longo do século XX. As relações 
entre Estados Unidos e o restante do continente serão nosso objeto principal de análise, embora 
não possamos perder o foco de outras realidades; como a brasileira, por exemplo. Trataremos 
de questões e temas relativos ao nosso país em momentos adequados a fim de enriquecer a 
problemática envolvendo termos como imperialismo norte-americano, guerras mundiais e a 
eclosão de ditaduras militares nos países latinos. Diante deste panorama inicial, esperamos que 
vocês nos acompanhem nessa jornada e aproveitem o curso!
Objetivos
 » Analisar as transformações sociais, políticas e econômicas na História da América ao 
longo dos séculos XIX e XX.
 » Analisar as transformações ocorridas em fins do século XVIII no continente americano 
e a deflagração de processos de independência política.
7
 » Tratar das contradições inerentes a formação de novas repúblicas no continente 
americano ao longo do século XIX.
 » Desenvolver um pensamento crítico voltado para a compreensão das dificuldades de 
desenvolvimento do continente americano.
 » Trabalhar a construção do conceito de América Latina atrelado a ideias como o 
imperialismo norte-americano.
 » Compreender as expectativas e possibilidades abertas ao continente ao longo do 
século XX, entendendo as relações estabelecidas entre Estados Unidos e o restante 
do continente.
8
9
Apresentação
A partir de agora, veremos o processo de independência das treze colônias inglesas da América do 
Norte, conhecido atualmente como os Estados Unidos da América. Neste capítulo, trabalharemos as 
influências internas e externas que contribuíram para a consolidação de uma república federativa 
com um regime presidencialista e a divisão dos três poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário. 
Veremos o papel das leis no processo de construção do Estado norte-americano, bem como 
as contradições encontradas ao longo do processo de formação do novo Estado: temas como 
a questão indígena e a abolição da escravatura serão abordados ao longo do capítulo a fim de 
entendermos rupturas e continuidades ocorridas nesse processo. 
Objetivos
 » Analisar a formação dos Estados Unidos da América a partir do contexto europeu de 
transformações ocorridas na segunda metade do século XVIII.
 » Compreender a permanência de conflitos sociais e políticos dentro da recém-criada 
república.
Introdução
Neste capítulo, estudaremos o processo de independência do atual território dos Estados Unidos, 
originalmente conjunto de 13 colônias no Novo Mundo, território colonizado pela Inglaterra. 
Esse processo foi marcado por rupturas e continuidades, inserido no contexto mais amplo de 
crise dos antigos sistemascoloniais, representados pelo domínio das regiões da América pelas 
várias potências europeias. Iniciado no último quartel do século XVIII, a Independência dos 
Estados Unidos serviu de inspiração para outros movimentos de independência no Novo Mundo. 
Contudo, a transição do estatuto colonial para o de uma república não garantiu a liberdade e 
1
CAPÍTULO
A InDEPEnDÊnCIA DAS tREzES 
COLÔnIAS IngLESAS
10
CAPÍTULO 1 • A InDEPEnDÊnCIA DAS tREzES COLÔnIAS IngLESAS
a igualdade de direitos para todos os seus habitantes, com a permanência da escravidão como 
principal herança dos tempos coloniais na nova condição independente da nação. 
As treze colônias britânicas (Seguindo de norte a sul-Massachusetts, new Hampshire, nova York, Rhode Island, 
Connecticut, nova Jersey, Pensilvânia, Delaware, Maryland, virginia, Carolina do norte, Carolina do Sul e geórgia).
A Inglaterra no século XvII e o processo de colonização da 
américa
Não poderemos compreender o processo de emancipação das 13 colônias inglesas sem, primeiro, 
contextualizar brevemente a própria colonização. E isso nos leva à Inglaterra.
A Inglaterra do século XVII era uma metrópole em processo de desenvolvimento. Contudo, a 
morte da rainha Elisabeth I, sem deixar herdeiros, e a ascensão de Jaime I, da dinastia Stuart, 
em 1603, levou a uma série de conflitos entre o rei e o Parlamento, instituição liderada por 
membros de uma incipiente burguesia britânica. A morte de Jaime I, com a consequente 
coroação de Carlos I, não acalmou os ânimos da sociedade. Este monarca quis impor a religião 
anglicana a presbiterianos, sobretudo na Escócia, e fez uma série de determinações a fim de 
limitar os poderes do Parlamento inglês. Desta forma, em 1640 iniciou-se a chamada Revolução 
Puritana – essencialmente uma guerra civil entre os membros do Parlamento e os exércitos 
do rei. O Parlamento contava com a liderança de Oliver Cromwell, que venceu o rei em 1649 e 
Saiba mais
(Para ver um pouco mais desse processo e entender a formação dos Estados Unidos até o século XXI, ler História dos 
Estados Unidos - das origens ao século XXI, disponível na Biblioteca Virtual Pearson)
11
A InDEPEnDÊnCIA DAS tREzES COLÔnIAS IngLESAS • CAPÍTULO 1
proclamou uma República. Cromwell baixou os Atos de Navegação, o que fortaleceu o comércio 
e a marinha britânica, e foi aclamado Lorde Protetor da Inglaterra.
Contudo, a morte de Cromwell nos anos seguintes e a falta de liderança de seu filho, Richard, levou 
ao retorno da dinastia dos Stuart ao trono, nesse momento sob o reinado de Carlos II. Embora 
este rei governasse com algumas limitações, o mesmo instaurou o anticatolicismo em território 
inglês, fator este que dividiu o Parlamento em favoráveis e contrários à figura real. Jaime II, irmão 
de Carlos II, assumiu o governo professando a intolerância religiosa e o reforço do poder régio, 
ou seja, o retorno de uma monarquia absolutista - o que esbarrava nos interesses do Parlamento. 
Nesse contexto, ocorreu a chamada Revolução Gloriosa (1688), na qual o Parlamento exigiu a 
saída de Jaime II do poder e sua filha, Maria Stuart, assumiu o reinado sob os termos do Bill of 
Rights, a Declaração dos Direitos, que limitava o poder do rei em relação ao Parlamento inglês.
Todo esse processo revolucionário e o conflito político-religioso contribuíram para que o processo 
de expansão marítima inglesa se iniciasse de forma tardia, apenas no século XVII, mais de 200 
anos após o começo das navegações portuguesas. Além disso, outra diferença foi que, no caso 
inglês, o processo de expansão foi muito mais um empreendimento de companhias privadas 
de comércio do que uma organização estatal. A natureza da colonização da América inglesa 
era, assim, diferenciada em relação a outros espaços coloniais como as Américas portuguesa e 
espanhola. Ao invés de uma imediata motivação econômica (nos casos espanhol e português, 
a busca pela rota das Índias e pelas riquezas africanas), a imediata motivação inglesa foi social. 
Muitas famílias inglesas abandonaram a metrópole em busca de novas oportunidades de vida na 
América diante das ondas de intolerância religiosa, encabeçadas pelos conflitos entre católicos, 
protestantes e anglicanos, o que levou muitas pessoas a atravessarem o Oceano Atlântico. Ademais, 
o processo de cercamento dos campos ingleses, iniciado ainda no governo do rei Henrique VIII, 
da dinastia Tudor, também foi um elemento que impulsionou a emigração, rumo às novas terras 
do outro lado do oceano. 
Diante de um contexto político conturbado no cenário inglês, onde o Parlamento e o rei 
disputavam o exercício do poder político, as colônias americanas se constituíram e gozavam de 
relativa autonomia. Às primeiras regiões de colonização - Virgínia e a Carolina - seguiram a Nova 
Inglaterra (Massachusetts, New Hampshire, Rhode Island e Connecticut) e eram áreas dotadas 
de pessoas que se reconheciam enquanto ingleses que viviam na América, sem expressar uma 
oposição direta ao status colonial. Enquanto a ideia de autoridade comunitária se tornou o foco 
da ocupação da Nova Inglaterra, pautada na concepção espiritual da liberdade, no sul havia uma 
maior debilidade em relação a tal ponto.
Essas regiões sofreram processos diferentes de ocupação, tendo que lidar com populações 
indígenas nativas, muitas vezes de forma brutal; as intempéries climáticas; além das divisões 
internas que marcaram cada espaço de colonização: de um lado, o Norte (região da Nova Inglaterra), 
liderado por protestantes, dedicado ao comércio interno e à pequena propriedade; de outro 
12
CAPÍTULO 1 • A InDEPEnDÊnCIA DAS tREzES COLÔnIAS IngLESAS
lado, o Sul (no caso, a Virgínia e a Carolina), espaço gradualmente enquadrado na agricultura 
baseada na produção de gêneros como tabaco e, posteriormente, algodão, com o uso da mão 
de obra escrava africana. Contudo, ao longo do século XVIII, as pressões em torno do comércio 
colonial acarretaram mudanças nas concepções de mundo dos colonos e, consequentemente, 
novos contornos nas relações entre colônia e metrópole.
O século XvIII
A Inglaterra do século XVIII desfrutava de uma posição econômica e política favorecida pelas 
transformações e conflitos ocorridos ao longo do período anterior. Sua estrutura política estava 
moldada numa monarquia parlamentar e o Estado contava com uma poderosa frota naval. No 
cenário europeu, sua principal rival era a França, uma monarquia absolutista de economia 
agrária. Nos diversos conflitos em que ambas as potências se envolveram enquanto rivais, o mais 
proeminente foi a chamada Guerra dos Sete Anos (1756 - 1763), considerada entre os especialistas 
uma guerra de proporções coloniais.
É justamente nesse contexto que as relações entre a Inglaterra e suas colônias americanas se 
modificaram, culminando na emancipação política.
No desenrolar do conflito na América inglesa continental, a Inglaterra contou com o apoio de 
seus colonos contra as pretensões dos exércitos franceses nos territórios das treze colônias. A 
vitória inglesa no conflito, contudo, deixou a monarquia endividada, de modo que uma solução 
plausível estava na reorganização das relações entre colônia e metrópole, ou seja, um retorno ao 
chamado pacto colonial por meio da coleta de impostos. A Inglaterra apelaria às colônias para 
sua reestruturação financeira. 
O primeiro desses impostos foi a Lei do Açúcar (Sugar Act), de 1765. De acordo com a norma, o melado 
produzido nas Antilhas inglesas era taxado pelos administradores ingleses e, consequentemente, 
a produção era vendida para as colônias do continente. Tal medida prejudicava os negócios entre 
os colonos ingleses - sobretudo da Nova Inglaterra na produção de rum - e as ilhas do Caribe. 
Cabe ressaltar que, na visão dos colonos, o imposto era visto como uma arbitrariedade política, 
e não econômica, haja vista que os colonos americanos gozavam de uma maior autonomia 
quando comparados a colonos da França ou da Espanha. Tornou-se comum o uso da expressão 
Saiba mais
Para saber maissobre este ponto, sugiro o filme O Ultimo dos Moicanos (1992). Direção: Michael Mann. Com Daniel 
Day Lewis, Madeleine Stone e Russel Means. Baseado no Romance de James Cooper, o filme enfoca a luta entre 
franceses e ingleses durante a guerra de sete anos e o posicionamento de determinados grupos indígenas no conflito.
13
A InDEPEnDÊnCIA DAS tREzES COLÔnIAS IngLESAS • CAPÍTULO 1
“No taxation without representation” (sem representação não há taxação), o que punha o 
Parlamento inglês, de um lado, no centro dos problemas econômicos enfrentados pela metrópole 
e, por outro lado, um espaço onde se expressavam os descontentamentos políticos da colônia. 
Estas informações, que ressaltavam, sobretudo, a exploração metropolitana aos colonos por 
meio por meio da imposição de taxas sobre os produtos consumidos, eram sinalizadas em 
diversos panfletos que circulavam pelos membros da sociedade colonial. No mesmo ano de 
1765, escrevia John Dickson:
Nada é desejado na metrópole a não ser um precedente, cuja força será estabelecida 
pela submissão tácita das colônias. (...) Se o parlamento for bem sucedido nessa 
tentativa, outros estatutos imporão outros deveres... e dessa forma o parlamento 
extorquirá de nós as quantias de dinheiro que quiser, sem qualquer outra limitação 
que não o seu prazer.(JUNQUEIRA, 2007: p. 15)
Consequentemente, novas leis de aumento dos impostos foram criadas para os colonos ingleses. Em 
1765, foi promulgada a Lei do Selo(Stamp Act), que previa o uso de selo em todos os documentos 
e correspondências enviadas pelos colonos, mediante o pagamento de determinado valor. A 
sociedade colonial se voltou contra tais medidas e não aceitou a imposição da compra de selos, 
o que levou à revogação desta lei pelo Parlamento britânico.
Em 1773, a Lei do Chá (Tea Act) foi criada. Por esta lei, cabia à Companhia das Índias Orientais - 
companhia de comércio inglesa que atuava na Ásia e na Índia - abastecer os territórios coloniais 
americanos de chá com reduzidas tarifas alfandegárias. Tal medida previa dar fim ao contrabando 
de chá nas colônias, afetando as possibilidades de comércio dentro do espaço colonial. Os colonos, 
por sua vez, passaram a protestar impedindo a entrada do produto nos portos americanos; sendo 
a expressão máxima de tais ações a chamada Festa do Chá de Boston (Boston Tea Party), onde 
algunscolonos vestidos de índios tomaram os navios ingleses que seguiam rumo ao porto de 
Boston e atearam ao mar todo o carregamento de chá disponível nas embarcações, que era de 
aproximadamente 45 toneladas. 
Assim, os ingleses interpretaram a ação dos colonos como uma mostra de desobediência 
e insubordinação e decretaram o fechamento do porto de Boston até que a ordem fosse 
restabelecida, assim como a nomeação de juízes e autoridades policiais passou a ser feita pelas 
autoridades metropolitanas. As assembleias dos colonos - instâncias utilizadas para a solução 
dos problemas locais - tiveram seus poderes e direitos políticos reduzidos. O conjunto dessas 
ações ficou conhecida como Leis Intoleráveis, as quais refletiam o impacto das medidas tomadas 
pela metrópole e o crescente nível de descontentamento e oposição dos colonos.
Sintetizando
Nesse momento, cabe destacar que ainda não havia uma tácita oposição entre colônia e metrópole: os colonos eram 
leais ao rei contanto que houvesse negociações e representações das treze colônias no espaço do Parlamento.
14
CAPÍTULO 1 • A InDEPEnDÊnCIA DAS tREzES COLÔnIAS IngLESAS
O preparo para a emancipação
... Levanta-se! Todo o velho mundo está infestado pela opressão. A liberdade 
tem sido caçada ao redor do globo. A Ásia e a África há muito a expulsaram. A 
Europa a vê como uma estranha e a Inglaterra lhe deu um aviso para partir. Oh! 
Receba-se a fugitiva e prepare-se a tempo um asilo para a humanidade.
A partir do trecho acima, extraído de um panfleto anônimo datado de 1775, é possível notar a 
atmosfera de insatisfação diante do impacto das Leis Intoleráveis na América inglesa. A liberdade 
era interpretada como a única possibilidade de melhoria das condições de vida dos colonos ingleses 
e, por conseguinte, a todos os indivíduos. Em meados do século XVIII, o continente europeu era 
palco das chamadas ideias iluministas; onde a autoridade de Deus passava a ser questionada ao 
se levar em consideração as ações humanas e a razão como base para todo o conhecimento. Além 
disso, os filósofos iluministas questionavam a autoridade desmedida dos reis e as desigualdades 
inerentes a uma sociedade pautada em privilégios a determinados grupos sociais. 
Tais expressões do Iluminismo circulavam por meio da publicação de livros que vieram para o 
Novo Mundo. Muitos filhos de colonos iam viver na Europa para concluir seus estudos e quando 
voltavam para suas terras e famílias, viam-se numa condição diferente da que encontravam no 
Velho Continente. Com isso, a circulação de novas ideias e concepções de mundo que permitiu 
a consolidação de um ideal de liberdade e de igualdade no espaço da América inglesa. A tal 
fato soma-se o caráter identitário da independência americana. De acordo com o historiador 
Rafael Marqueseno livro Feitores do corpo, missionários da mente: senhores, letrados e o controle 
dos escravos nas Américas, o espaço da colônia americana era visto como pátria para alguns 
colonos - sobretudo no Sul - que se viam como membros da nação britânica e, ao mesmo tempo, 
construíram uma relação de identidade com o local. Já no Norte o impacto da legislação imperial 
limitava as ações comerciais, o que contribuiu para incentivar a autonomia local.
Segundo o historiador Eric Foner (2010: p. 47), a equiparação entre liberdade e ação moral 
prosperou de forma secularizada no mundo atlântico ao longo do século XVIII. A metrópole 
passou a ser vista como um baluarte da tirania, e episódios como o Grande Despertar, ou seja, 
um ressurgimento religioso, sobretudo na Nova Inglaterra, fortaleceu uma visão da liberdade 
atrelada à salvação dos espíritos. De acordo com Foner, a ideia do “inglês nascido livre” passou a 
constituir um elemento central na cultura política e pilar fundamental para a construção nacional.
No ano de 1774, ocorreu o primeiro congresso continental da Filadélfia contendo representantes 
das treze colônias. Nessa reunião, os colonos repudiaram as leis metropolitanas e juraram fidelidade 
ao rei desde que isso não comprometesse a liberdade antes usufruída. Em suma, ainda não se 
pensava claramente em emancipação política, mas, sim, em restituição dos direitos que haviam 
sido retirados. Uma representação dos colonos foi enviada ao rei George III, e Thomas Jefferson, 
proprietário da região da Virgínia e um dos redatores da Declaração de Independência, escreveu: 
15
A InDEPEnDÊnCIA DAS tREzES COLÔnIAS IngLESAS • CAPÍTULO 1
Abra seu coração, senhor, ao pensamento liberal expandido. Não permita que o 
nome George III seja uma nódoa na página da história (...) não mais persevere em 
sacrificar os direitos de uma parte do império aos desejos desordenados de outra; 
trate a todos com direito igual e imparcial (...) não é nosso interesse separar-nos 
da Inglaterra (...) não os deixe pensar em impedir-nos de ir a outros mercados 
dispor das mercadorias que eles não possam usar ou de suprir as necessidades 
que eles não podem preencher. Menos ainda propor que nossas propriedades, 
em nossos próprios territórios, sejam tributadas ou reguladas por qualquer poder 
que não seja o nosso.
Contudo, a reação da coroa inglesa foi reprimir duramente os colonos após o primeiro congresso 
da Filadélfia e estes resistiram por meio das milícias, uma espécie de exército informal formados 
por membros da sociedade colonial. Foi no segundo congresso da Filadélfia, ocorrido em 10 de 
maio de 1775, que houve uma maior radicalização dos colonos, a ponto de estes criarem um 
exército formal, sob a liderança de George Washington.
Sugestão de estudo
Sobre a trajetória de Thomas Jefferson, é interessante assistir ao filme Jefferson emParis (1995). Direção: James Ivory. 
Com Nick Nolte, Greta Scacchi e Jean- Pierre Aumont. Filme se passa na década de 1780 quando Thomas Jefferson 
é designado a representar os Estados Unidos na França. Nesse período, Jefferson tem um caso com uma de suas 
escravas com quem teve seis filhos. É obrigado a partir devido aos adventos da Revolução Francesa.
Provocação
O ponto central da discussão entre os colonos ingleses e a metrópole era o papel das formas de governo nos 
espaços coloniais. A autonomia colonial esbarrava nos interesses imediatos da metrópole, que era se recuperar 
economicamente dos gastos contraídos com a Guerra dos Sete Anos. Nesse sentido, a ideia de liberdade pensada 
pelos colonos era associada à autonomia pessoal, princípio defendido pelo filósofo inglês John Locke e seus 
discípulos no século XVIII. Para Locke, a liberdade se expressava justamente pelo “não estar submetido a vontade 
inconstante, incerta, desconhecida e arbitrária de outro homem” (FONER, 2010: p. 52).Ao mesmo tempo, a teoria do 
liberalismo abria suas portas àqueles que eram desprovidos de direitos, como as mulheres e os escravos.
Sugestão de estudo
Para entender a guerra de independência dos Estados Unidos, é interessante assistir ao filme Revolução (1985), 
Direção: Hugh Hudson. Com Al Pacino, Donald Sutherland, Nastassja Kinski. Trajetória de Tom Dobb, caçador e 
comerciante de peles, que chega ao porto de Nova York durante a guerra de independência e tenta desesperadamente 
salvaguardar seu filho da guerra.
16
CAPÍTULO 1 • A InDEPEnDÊnCIA DAS tREzES COLÔnIAS IngLESAS
Embora fosse consenso o desejo expresso dos colonos em permanecer no império britânico, 
havia alguns membros mais radicais, como Thomas Paine, que vislumbrava como única opção 
possível a liberdade da colônia ao questionar abertamente o domínio inglês:
Admitindo-se, porém, que somos todos de ascendência inglesa, o que significa 
isso? Nada. A [Grã] Bretanha, sendo agora um inimigo declarado, todos os outros 
nomes e títulos desaparecem: e dizer que nosso dever seria a reconciliação seria 
ridículo.[...] (JUNQUEIRA, 2007: p: 43)
No segundo congresso da Filadélfia, um último apelo foi feito ao rei para que houvesse 
condescendência em relação às treze colônias, reafirmando a lealdade dos colonos ao império 
britânico. A recusa desta petição por parte do rei foi o estopim para a guerra de independência das 
colônias americanas; que encontrou apoio na participação de tropas francesas a fim de destruir 
os ingleses. O conflito durou até o ano de 1781, quando as tropas metropolitanas abaixaram as 
armas na batalha de Yorktown, na Virgínia. Contudo, as treze colônias da América do Norte só 
tiveram sua independência assegurada e reconhecida com a assinatura do Tratado de Paris, de 
1783. 
O impacto das ideias iluministas na América em finais do século XVIII levou a construção de 
novos ideais e de outra visão de sociedade pautada em valores como a liberdade individual, 
inovadores para a época e que iriam inspirar outros movimentos de contestação da ordem 
colonial na América. A declaração de independência dos Estados Unidos da América, datada de 
4 de julho de 1776, pregava que cabia aos homens o direito a liberdade e a igualdade, bem como 
a busca pela felicidade. Contudo, um dos paradoxos do processo de independência americana 
foi a manutenção das desigualdades em relação aos direitos das mulheres e dos povos indígenas, 
assim como a continuidade da escravidão até meados do século XIX.
Sintetizando
Pode-se concluir que o processo de independência dos Estados Unidos da América foi fruto de tensões em torno 
do grau de interferência que a metrópole poderia ter no universo da colônia. A Guerra dos Sete Anos foi o ponto de 
virada para as ações futuras dos colonos anglo americanos, que inicialmente não almejavam separar-se da Inglaterra.
Sugestão de estudo
Sobre a formação da nacionalidade americana, sugerimos a leitura do livro de Jaime Pinsky, Estados Unidos: a 
formação da nação, disponível na Biblioteca Pearson.
17
A InDEPEnDÊnCIA DAS tREzES COLÔnIAS IngLESAS • CAPÍTULO 1
A declaração de independência dos estados unidos e a 
constituição de 1787
“Consideramos estas verdades evidentes por si mesmas; de que todos os homens 
são criados iguais, dotados pelo criador de certos direitos inalienáveis, entre os 
quais figura a vida, a liberdade e a busca pela felicidade...”
Trecho da Declaração de Independência dos Estados Unidos da América, de 4 de julho de 1776.
A partir do trecho acima, extraído da Declaração de Independência das treze colônias americanas, 
dois princípios são fundamentais: a igualdade entre os homens e o direito à vida, à liberdade 
e à busca da felicidade. Esses princípios, hoje tão comuns em nosso cotidiano, eram inéditos 
naquela época por se oporem à concepção vigente de uma sociedade corporativista e de traços 
medievais. As bases para a construção do mundo contemporâneo estavam pautadas na 
capacidade da ação humana, sob influência dos ideais iluministas em voga no continente 
europeu. Portanto, a liberdade servia como ponto de encontro entre as interpretações liberal e 
republicana do governo e da sociedade.
Inicialmente, as treze colônias se uniram numa Confederação por terem vários elementos em 
comum: a língua, a religião e as leis. Essa união entre as colônias, que objetivava a mútua defesa 
e a liberdade interna e externa, era motivada em grande parte pela insegurança que ainda existia 
em relação a possíveis retaliações da ex-metrópole. Além disso, o direito a secessão (separação) 
era garantido aos estados. Todavia, a adoção de uma Confederação não significou estabilidade 
para os territórios americanos, menos ainda a consolidação de um Estado forte, sob pleno 
exercício de um governo central. 
Diante desses entraves ao exercício pleno da soberania, os Estados Unidos formaram uma 
federação haja vista que o que emanava do governo central nem sempre era aceito ou respeitado 
pelos estados. O ponto principal era reforçar as atribuições da União, ou seja, do governo 
central, frente aos Estados e, ao mesmo tempo, buscar meios de efetivar as ações dos mesmos 
Estados. Quanto a natureza do documento, a Constituição americana é uma das mais antigas 
do mundo e é relativamente curta, com poucas emendas, e oferece apenas alguns parâmetros 
para as estruturas e atribuições do governo. Assim, este modelo foi adotado em outros países, 
em especial os íbero-americanos. De acordo com Alexander Hamilton, um dos formuladores do 
federalismo americano, no Federalista. 15:
Governar subentende o poder de baixar leis. É essencial à ideia de uma lei que 
ela seja respaldada por uma sanção ou, em outras palavras, uma penalidade ou 
punição pela desobediência. Se não houver penalidade associada à desobediência, 
as resoluções ou ordens que pretendem ter força de lei serão, na realidade, nada 
mais que conselhos ou recomendações.
18
CAPÍTULO 1 • A InDEPEnDÊnCIA DAS tREzES COLÔnIAS IngLESAS
As características do federalismo americano podem ser descritas assim: um governo central e 
governos estaduais, fruto da união de Estados autônomos; a divisão de poderes entre governo local 
e federal; a supremacia do poder nacional em detrimento dos poderes locais; o reconhecimento 
de mecanismos de execução das leis. De acordo com Max Weber (FONER, 2010), os Estados 
Unidos são o único país efetivamente burguês e que não apresenta em sua formação histórica 
características pseudo-feudais. Na formação dos norte-americanos não se verifica a influência 
de ideias aristocráticas da Europa. 
Com isso, a nação americana se formou por meio de um federalismo dual, ou seja, um sistema 
de poder que divide as atribuições entre o governo central e o governo dos estados, que possuem 
autonomia em relação ao governo central. Ao mesmo tempo, a diversidade e a unidade estão 
presentes nas ideias federativas, “no sentido de ser o resultado de união de várias partes 
diferentes e ao mesmo tempo dedar o espaço para a ratificação de valorese interesses de cada 
uma das citadas partes”. Desta forma, os Estados podem intervir em decisões tomadas no âmbito 
federal, e em troca cedem parte de sua soberania ao governo central. Assim, de acordo com os 
formuladores da Constituição, ao passo em que era concedido um fortalecimento ao governo 
central, os estados - membros possuíam sua soberania e independência.
Além disso, cabe ressaltar que embora a declaração de independência pregasse a liberdade e a 
igualdade entre os homens, os Estados Unidos persistiram na utilização de mão de obra escrava 
africana em suas terras até meados do século XIX, além de não ter garantido aos povos indígenas 
viventes em territórios americanos a igualdade de direitos em relação aos brancos. Critérios 
como cor da pele foram argumentos utilizados para abarcar a nova realidade dos Estados Unidos 
independente, pautados nos mesmos princípios que simbolizavam a liberdade e a igualdade: 
o iluminismo.
Portanto, a Declaração de Independência de 4 de julho de 1776 foi um documento que expressava 
um significado importante para o futuro dos Estados Unidos. Juntamente com a formulação da 
Constituição de 1787, a visão de liberdade dos norte-americanos era sinônimo de termos como 
autonomia e soberania, assim como o princípio do laissez faire, base para o liberalismo político e 
econômico. Mas, as demandas da população americana modificaram ao longo do tempo, sendo 
necessárias reformulações no sistema federativo americano, especialmente ao longo do século XX.
Sintetizando
A essência do sistema federativo reside justamente na articulação entre as esferas federal e local. Contudo, na visão 
de alguns especialistas as formulações do sistema federativo convergiram para o reforço do caráter competitivo e 
individualista dos norte-americanos.
Atenção
Sobre o liberalismo político e econômico, será importante rever em seus estudos o tema do Iluminismo.
19
A InDEPEnDÊnCIA DAS tREzES COLÔnIAS IngLESAS • CAPÍTULO 1
O papel da escravidão africana nos Estados Unidos
A declaração de independência e a Constituição, embora afirmassem princípios como a liberdade 
e a igualdade e garantissem meios para regular o governo que se formou nos Estados Unidos, não 
propunha em suas bases um programa de emancipação social. O quase meio milhão de escravos 
que trabalhavam nas colônias norte-americanas se manteve, mesmo com a independência, a 
margem do círculo de pessoas livres. A continuidade da escravidão africana foi, segundo muitos 
especialistas, uma contradição inerente ao cenário político norte-americano, onde se falava de 
direitos inalienáveis dos homens, como a liberdade. No século XVIII, a categoria de pessoa livre 
deixou de ser um simples status para ser um poderoso elemento de ação popular.
Todavia, a persistência de preconceitos era um ponto importante de discussão não apenas 
do processo de emancipação em si, mas também no que diz respeito a discriminação racial e 
a aquisição de direitos enquanto cidadãos. Thomas Jefferson desaprovava a escravidão, mas 
considerava os negros perigosos e esperava que aqueles escravos, quando fossem emancipados, 
saíssem dos Estados Unidos. Isso significa dizer, nas palavras de Robin Blackburn, que “o progresso 
de medidas antiescravistas individuais em geral não resultou em apoio à cidadania negra ou à 
emancipação imediata.” (BLACKBURN, 2002: p: 128).
Contudo, voltemos a institucionalização do escravismo nos Estados Unidos. Os territórios da 
Virgínia e de Maryland - e as terras baixas da Carolina do Sul - foram as principais regiões de 
colonização inglesa no século XVII. O cultivo de tabaco e, posteriormente, de arroz mudou 
substancialmente as condições de sobrevivência nesta parte da colônia inglesa, inicialmente 
realizada por homens brancos em regime de servidão de contrato. Contudo, a importância de 
escravos africanos passou a ser maior nessas regiões a partir de 1680, diante de algumas rebeliões 
lideradas por homens brancos e índios que puseram em dúvida o colonialismo inglês. 
De acordo com Rafael Marquese (2004: pp. 221 - 222), o desenvolvimento da economia escravista 
nestas regiões se realizou de forma diferente. Por exemplo, a Carolina do Sul foi concebida para 
ser escravista, sendo o uso de escravos predominante desde o início da colonização da região. Ao 
longo do século XVIII, porém, tanto as economias de plantation da Virgínia quanto da Carolina 
do Sul se desenvolveram e a gestão da força de trabalho escrava se consolidou nas duas regiões. 
O contexto das guerras pela independência em relação a Inglaterra abriu desafios à escravidão 
americana, representando uma séria ameaça a esse sistema de trabalho antes da eclosão da 
Guerra Civil Americana, já em meados do século XIX. Em 1775, uma declaração do governador 
da Virgínia, lorde Dunmore, prometendo a liberdade a todos os escravos que passassem para o 
lado dos ingleses, chamados legalistas, acirrou os ânimos de senhores e de escravos em todas 
as colônias sulistas. Cabe assinalar que ambos os lados (ingleses e colonos) utilizaram negros 
armados em suas tropas. Contudo, isso era feito com bastante cuidado, sendo muitos destes 
utilizados em funções de apoio e serviços específicos para as tropas principais.
20
CAPÍTULO 1 • A InDEPEnDÊnCIA DAS tREzES COLÔnIAS IngLESAS
Além disso, nesse período muitos cativos conseguiram fugir de seus senhores em busca de 
liberdade junto aos britânicos, ao ponto do comandante britânico decretar que escravos fugidos 
de senhores leais a causa inglesa seriam devolvidos dentro da lógica da guerra, mas escravos de 
senhores rebeldes se tornariam propriedade pública e trabalhariam até o fim das hostilidades sob 
a promessa de liberdade. Desta forma, as perspectivas do período da guerra foram fundamentais 
a alguns cativos para obter ou não sua liberdade. E isso amedrontava os senhores sulistas, tanto 
quanto as possibilidades de uma revolta escrava.
Ao longo e após as guerras de independência, as regiões da Carolina do Sul e da Geórgia sofreram 
drasticamente os efeitos da guerra por terem sido o palco das principais batalhas do período, 
o que causou enorme impacto à escravidão. As colônias do Norte já criticavam arduamente a 
instituição escravista desde a Guerra dos Sete Anos, dentro de uma ideologia religiosa inspirada 
nos quacres e nos evangélicos, que viam a propriedade humana como um dos maiores pecados 
ao cristão. Paralelamente a isso, ao longo da guerra algumas assembleias locais dos estados, 
destacadamente os da Nova Inglaterra, criaram e aprovaram leis de emancipação gradual, como 
por exemplo, na Pensilvânia, em 1780. No entanto, o direito a propriedade dos senhores deveria 
ser respeitado, sendo este ponto a principal base dos opositores de propostas emancipacionistas. 
Com isso, o republicanismo americano deveria ser reformulado para que a instituição escravista 
permanecesse. Como isso seria feito de modo a não gerar contestações? David Brion Davis, ao 
estudar a escravidão e o abolicionismo no Ocidente, considerou que a filosofia iluminista forneceu 
novas bases para a defesa do cativeiro ao mesmo tempo em que deu elementos críticos para 
solapar completamente as tradicionais justificativas da escravidão.
Segundo os opositores da escravidão, o cativeiro era um obstáculo para a aquisição de liberdades 
naturais. Adam Smith, economista inglês autor do livro “A riqueza das Nações” (1776), expressou 
Provocação
nesse momento, podemos sinalizar duas perspectivas do ponto de vista do escravo: permanecer sob o domínio de 
seus senhores ou partir rumo as forças inglesas.
Sugestão de estudo
Sobre a escravidão nos Estados Unidos, um dos clássicos da historiografia americana é o livro de Ira Berlin: gerações 
do cativeiro. Uma história da escravidão nos Estados Unidos. Rio de Janeiro: Record, 2006.
Provocação
A Constituição de 1787, por sua vez, reconhecia a escravidão no âmago da sociedade americana ao considerá-la 
enquanto riqueza, o que garantia aos sulistas maior representação no cenário político americano.Desta forma, 
especificamente nas colônias americanas, a posse de terras e de cativos garantia a independência do proprietário 
rural e o tornava apto ao exercício da vida política.
21
A InDEPEnDÊnCIA DAS tREzES COLÔnIAS IngLESAS • CAPÍTULO 1
um tom de crítica a instituição escravista em termos puramente econômicos, levando em 
consideração a intervenção do Estado nas atividades dos indivíduos como um entrave a liberdade 
natural. Contudo, suas críticas ressoavam os impactos causados pelo incipiente movimento 
abolicionista inglês, que começava a surgir em fins do século XVIII.
Para alguns defensores da escravidão, o tráfico - atividade bem mais vulnerável no discurso 
abolicionista inglês de fins do século XVIII - civilizava os negros, resgatando-os da selvageria na 
África. Ao ser comparado com trabalhadores ingleses, os escravos gozavam de um padrão de 
vida razoável, com casa e comida e o trabalho no universo das plantations não era tão grande 
comparado ao trabalho nos campos ingleses. 
Em vistas a manutenção dos propósitos abolicionistas, os ingleses passaram, ao longo do século 
XIX, a firmar acordos e tratados prevendo o fim do tráfico com os diversos espaços coloniais 
que, paulatinamente, se tornaram repúblicas. Cabe aqui sublinhar que os ingleses eram os 
maiores traficantes de escravos para as Américas até finais do século XVIII. Ainda é ponto de 
discussão o porquê dessa mudança de postura dos ingleses com relação a escravidão, mas pode 
se sublinhar que houveram transformações nos sistemas coloniais em economias de mercado 
e, por conseguinte, a adoção de políticas pelas transformações da escravidão.
Contudo, nos Estados americanos, os proprietários sulistas reagiram a esse contexto, passando 
a ler obras de autores iluministas a fim de buscar instrumentos para conciliá-las com o cativeiro. 
E o princípio que norteou essa nova defesa do escravismo foi o princípio da humanidade dos 
proprietários de escravos. Segundo Rafael Marquese (2004: pp. 223 - 224), tal ponto é importante 
para se pensar que, a partir da segunda metade do século XVIII, um conjunto de melhorias nas 
condições materiais dos cativos foram instituídas em vez de simplesmente utilizar as punições 
como tratamento dispensado para os africanos. 
Assim, manuais, códigos e legislações foram produzidos em diversos espaços coloniais a fim de 
conceder, dentro da lógica senhorial, mecanismos de controle dos escravos, forçando-os a sujeição 
num processo lento de transição do patriarcalismo, solapado pela Revolução Americana, para o 
paternalismo, que vigorou no andamento das relações escravistas até a emancipação, ocorrida 
após a Guerra Civil Americana. 
Para refletir
Não foi despropositado que o tráfico de africanos para o Atlântico Norte foi vetado pelo governo inglês a partir de 
1807, o que por um lado indica uma vitória consistente do movimento abolicionista britânico; mas por outro, não foi 
o único meio para impedir a manutenção da instituição escravista nas Américas.
22
CAPÍTULO 1 • A InDEPEnDÊnCIA DAS tREzES COLÔnIAS IngLESAS
Resumo
Neste capítulo, vimos como uma mudança no ordenamento colonial estabelecido pelos ingleses 
exaltou os ânimos da sociedade colonial anglo-americana nas treze colônias da América. O papel 
das Leis Intoleráveis foi crucial para o estabelecimento das noções de autonomia e obediência. 
Contudo, os colonos americanos acabaram por construir algo maior: uma nova nação embasada 
nas ideias dos filósofos iluministas. 
Ao mesmo tempo, a formação de uma república não constituiu uma tarefa simples. A liberdade 
almejada pelos iluministas não foi dada a todos, assim como a igualdade. A manutenção da 
escravidão e o extermínio de populações indígenas no Oeste americano levaram, por um lado, a 
construção de uma grandiosa nação; por outro, a manutenção de desigualdades étnicas e sociais 
que perdurariam por boa parte dos séculos XIX e XX.
23
Apresentação
Neste capítulo, veremos o processo de independência da América Espanhola. Inspirados pela 
Revolução Americana (1776) e pelos impactos da Revolução Francesa (1789), veremos como 
uma elite letrada passou a ser protagonista dos questionamentos a ordem colonial estabelecida 
e participaram ativamente dos movimentos de independência. Líderes como Simón Bolívas e 
San Martín serão abordados ao longo do texto, onde ficaram conhecidos como heróis nacionais 
das recém-fundadas repúblicas hispano americanas. Além disso, trataremos das expectativas 
e possibilidades abertas com a independência e seus impactos no conjunto do continente 
americano, especificamente no Império do Brasil.
Objetivos
 » Compreender a diversidade do continente hispano americano.
 » Analisar os fatores internos e externos para a eclosão de guerras de independência.
 » Perceber as rupturas e continuidades deste processo ao longo do século XIX por meio 
de estudos de caso.
 » Apresentar o conceito de caudilhismo.
Introdução
A história da América Latina é, até os dias atuais, profundamente marcada pela oposição entre a 
diversidade e a unicidade. A perspectiva de união e separação política, social e cultural remontam 
a própria denominação de América Latina. Este conceito, por si só, possui uma historicidade. 
Criado no século XIX carrega disputas de ordem política e ideológica. De um lado, um conjunto 
de intelectuais franceses justificava no emprego do termo uma pretensa unidade latina, na qual 
as ambições da França em relação ao continente eram evidentes.
2
CAPÍTULO
O PROCESSO DE InDEPEnDÊnCIA DA 
AMÉRICA ESPAnHOLA
24
CAPÍTULO 2 • O PROCESSO DE InDEPEnDÊnCIA DA AMÉRICA ESPAnHOLA
Por outro lado, muitos especialistas apontam que a expressão teria sido criada pelos próprios 
latino-americanos a fim de defender a unidade da região frente aos Estados Unidos, que viviam 
sob as ideias da Doutrina Monroe. No universo hispano-americano, portanto, era necessário se 
fortalecer diante das pretensões estrangeiras no continente, notadamente as norte-americanas, 
construindo assim uma identidade latino-americana.
Fonte: <http://fazendohistorianova.blogspot.com.br/2011/04/independencia-dos-eua-e-da-america.html>.
Nesse sentido, veremos como o processo de independência e de formação de uma identidade 
latino-americana se construiu ao longo de fins do século XVIII e XIX. Contudo, é consenso entre 
os especialistas afirmar que não havia, nem na América espanhola nem no Brasil, um expressivo 
sentimento de nacionalidade no decorrer dos processos de independência, como foi divulgado 
por muito tempo pelas historiografias nacionais. Contudo, ao fim desse processo, a permanência 
das desigualdades prevaleceu frente a projetos de integração e união do continente. Veremos 
os fatores que levaram as independências, bem como seus efeitos, nas páginas que se seguem.
Saiba mais
A doutrina Monroe, criada ao longo da década de 1820, tinha como lema “A América para os americanos”, 
sintetizando uma política de integração entre os Estados recém formados na América. Contudo, o que significava em 
realidade era um discurso de dominação das recém criadas repúblicas americanas pelos Estados Unidos.
Sintetizando
Desta forma, não se pode afirmar que havia um sentimento nacionalista por detrás das inspirações para a 
independência. Tal como a emancipação dos Estados Unidos, que vimos no capítulo anterior, na América Espanhola 
os conflitos se iniciaram a partir do momento em que se pensava o papel do Estado espanhol no domínio de suas 
colônias, a divulgação de ideias iluministas e as inspirações de liberdade preconizadas pela Revolução Francesa.
25
O PROCESSO DE InDEPEnDÊnCIA DA AMÉRICA ESPAnHOLA • CAPÍTULO 2
A crise dos domínios coloniais na América Espanhola
A colonização da América Espanhola teve dois locus privilegiados: o México e o Peru, Vice-Reinos 
criados pelos conquistadores espanhóis Hernán Cortés e Francisco Pizarro, respectivamente. 
De acordo com as reflexões de Sérgio Buarque de Holanda (1995: pp. 95 - 100), a colonização 
espanhola se diferencia da portuguesaem alguns aspectos fundamentais: primeiro, pelo fato de 
que a América Portuguesa foi ocupada, sobretudo no litoral; já a América Espanhola teve uma 
ocupação mais interiorizada. Outro ponto importante para o autor é o fato de que os espanhóis 
criaram cidades seguindo critérios de organização baseados no status social das famílias que 
viviam na América, diferentemente dos portugueses. 
Nesses dois Vice-Reinos, foram instaladas todas as instituições políticas e administrativas 
espanholas, bem como a Igreja Católica. Além disso, a criação de universidades na América 
Espanhola permitiu a divulgação do conhecimento cultivado e transmitido em universidades 
europeias, como a de Salamanca. Um exemplo é a Universidade de São Marcos, criada em 1551 
em Lima, que existe até os dias de hoje.
Conforme já visto, a conquista da América desencadeou o genocídio dos povos nativos por 
conta, sobretudo, das doenças transmitidas pelos espanhóis aos índios, pela superioridade das 
armas do colonizador e pela imposição de um regime de trabalho no qual os nativos não estavam 
acostumados Os sobreviventes foram, segundo Maria Ligia Prado, organizados em pueblos, ou 
seja, povoados. Esses povoados tinham certa autonomia administrativa e suas terras deveriam 
ser cultivadas.
Essa medida permitiu uma recuperação demográfica dos nativos ao longo dos séculos XVII e 
XVIII. Cada pueblo deveria pagar a Coroa um tributo indígena e enviar um determinado número 
de moradores para o trabalho nas minas de ouro e prata, especialmente as minas de Potosí, na 
atual Bolívia. 
Sugestão de estudo
Sugerimos o filme 1492 - a Conquista do Paraíso (1992).
Saiba mais
Esse tipo de trabalho, denominado mita, era exercido pelos indígenas ao longo de uma temporada do ano e foi 
considerado uma forma compulsória, ou seja, forçada, de trabalho nas Américas. Com o passar dos séculos, a mita foi 
considerada uma forma de escravização dos povos indígenas; o que levou a crescentes insatisfações dos pueblos com 
a vigência desse sistema.
26
CAPÍTULO 2 • O PROCESSO DE InDEPEnDÊnCIA DA AMÉRICA ESPAnHOLA
Porém, a partir de meados do século XVIII, os monarcas espanhóis se deram conta de que boa 
parte dos metais extraídos das colônias americanas era remetido ao pagamento de dívidas 
com os ingleses. Diante dessa conjuntura, a partir dos anos de 1760, a Coroa Espanhola iniciou 
um amplo processo de reformas, sob a dinastia dos Bourbon, a fim de modernizar a Espanha 
no concerto das nações europeias; além de melhor organizar e controlar a administração das 
colônias do Novo Mundo. 
Dentro dessas reformas, conhecidas como Reformas Bourbônicas, temos para a América 
espanhola a criação de companhias de comércio para monopolizarem certos produtos coloniais; 
uma intervenção maior da metrópole nos assuntos coloniais; a criação das “intendencias”, 
substituindo os alcaides;aumento de impostos,ampliação do “exclusivo” e sua remodelação 
institucional, visando justamente ao reforço dos vínculos coloniais, a criação dos Vice-reinos do 
Prata e de Nova Granada por motivos econômicos e a ampliação das forças militares na região.
Contudo, esta reorganização abalou o status da nobreza indígena, os chamados curacas. Esta 
nobreza, distinta no conjunto da sociedade hispânica, negociavam com as autoridades espanholas 
e os criollos, e essa perda de poderes significava, na prática, a perda da proteção aos índios comuns. 
Tal fato acarretou, de acordo com Maria Ligia Prado, o ressurgimento da utopia de restauração 
do Império Inca no Peru. No ano de 1780, a região dos Andes viveu uma rebelião liderada pelo 
curaca José Gabriel Condorcaqui, que se autodenominou Tupac Amaru II em referência ao último 
representante político do Império Inca, capturado e morto pelos espanhóis em 1574.
Líder do pueblo de Tinta, Condorcaqui almejava o fim do cumprimento das mitas e solicitou isto 
de várias formas as autoridades coloniais. Diante das negativas, o cacique escolheu o caminho 
da rebelião. Uma multidão aderiu ao movimento deflagrado por Tupac Amaru II, se dirigindo a 
Cuzco ( antiga capital do Império Inca, por isso sua importância nesse contexto) e destruindo 
várias oficinas têxteis - chamadas obrajes - pelo caminho. Estima-se que uma média de 40 mil 
homens acompanhavam Tupac Amaru, entre índios, mestiços e negros escravos. Mas, a ofensiva 
espanhola foi praticamente imediata em Cuzco, de onde as tropas insurgentes tiveram de recuar. 
Atenção
Nesse aspecto, o papel da Guerra dos Sete Anos (1756 - 1763) foi fundamental: as finanças espanholas foram 
destruídas diante do esforço de guerra empreendido e era necessário reorganizar a economia do país, à época aliado 
da França.
Saiba mais
Criollo significa filho de espanhol nascido na América.
27
O PROCESSO DE InDEPEnDÊnCIA DA AMÉRICA ESPAnHOLA • CAPÍTULO 2
O líder tentou convencer os representantes da Coroa, personificados na autoridade do visitador 
Areche, de que suas reivindicações eram justas. Mas, em abril de 1781, após muitas baixas nas 
batalhas, o grupo de Tupac Amaru II foi capturado. Todos foram levados a Cuzco, onde foram 
julgados e condenados. Ao líder da revolta, coube a pena de morte. Sua língua foi cortada, o corpo 
arrastado por cavalos e esquartejado. A cabeça e os membros amputados foram pendurados para 
exibição pública em diferentes locais de Cuzco. De acordo com Maria Ligia Prado, 
a rebelião de Tupac Amaru teve repercussões importantes para todo o mundo 
colonial. Muitas das prerrogativas reservadas à nobreza indígena no Vice-Reino 
do Peru foram suspensas. (...) O medo de uma guerra generalizada de uma 
maioria indígena contra uma minoria branca compara-se ao medo relacionado 
ao fenômeno do haitianismo, [ou seja] de uma grande rebelião de negros contra 
os colonizadores franceses. (PRADO, 2014: pp. 14 - 15)
Da mesma forma, essa rebelião é representativa das tensões vividas nos domínios coloniais 
hispânicos, indo para além do Vice-reino do Peru. Tupac Amaru não desejava ir de encontro às 
prerrogativas da metrópole, contudo pensava em diminuir os efeitos da exploração que seu povo 
sofria e foi considerado pelas autoridades um traidor. Não era um movimento de contestação 
nacional; mas um movimento que deflagrou as dificuldades das populações de origem indígena 
nas colônias espanholas, bem como inaugurou as tensões que viriam nos primeiros anos do 
século XIX.
O Século XIX: as campanhas de independência
A Espanha fora, durante séculos, aliada da França no conjunto das nações europeias. Os 
desdobramentos da Revolução Francesa, de 1789, foram o estopim para os movimentos de 
emancipação hispano-americanos. Sob o domínio de Napoleão Bonaparte (1799 - 1815), a França 
envolveu-se em vários confrontos na Europa, incluindo a Península Ibérica. Velha inimiga dos 
ingleses, a França queria influenciar a Europa política e economicamente ao decretar o Bloqueio 
Continental, ou seja, uma proibição formal de compra e venda de produtos ingleses. Diante das 
relações de amizade entre os ingleses e as monarquias ibéricas, estas não aderiram a proposta 
de Napoleão.
Sugestão de estudo
Para ilustrar a rebelião de Tupac Amaru e seus efeitos, recomendamos que assista o filme Tupac Amaru (1984)
Saiba mais
Há que se destacar as relações de amizade e comércio entre portugueses e ingleses, que já vinha desde o Tratado de 
Methuen, de 1703, pelo qual se fazia a venda de panos ingleses e vinhos portugueses; além das dívidas que a Coroa 
Portuguesa contraíra com os bancos ingleses.
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CAPÍTULO 2 • O PROCESSO DE InDEPEnDÊnCIA DA AMÉRICA ESPAnHOLA
Em resposta, os exércitos franceses invadiram Portugal , que culminou na vinda da Família Real 
portuguesa para o Brasil, sob a proteção inglesa. A Espanha, outrora aliada da França, estava 
vivendo em conflito com os franceses após a execução do rei Luis XVI, em 1793, pelos jacobinos.
Em 1807, o rei espanhol Fernando VII foi aprisionado pelos franceses e, em 1808, Napoleão nomeou 
seu irmão, José Bonaparte, para o trono espanhol, com o título de JoséI. Em nome da França, o 
novo monarca determinou o fim das instituições absolutistas, com destaque para o Tribunal da 
Santa Inquisição espanhola, que ainda vigorava tanto na península quanto nas Américas. Quando 
a notícia da prisão de Fernando VII chegou às colônias, questões como a legitimidade do poder 
constituído e a fidelidade ao rei estavam em discussão. Já na Espanha, houve grande resistência 
ao novo governante; e uma Junta Suprema foi formada em Sevilha para expulsar os franceses.
Contudo, esta Junta teve de ser remanejada para Cádiz diante da repressão francesa. Nesta 
instituição, além de representantes de dezessete províncias espanholas, havia um representante 
para cada vice-reinado e capitania geral das colônias americanas. Em 1812, uma Constituição foi 
elaborada pelos membros das Cortes de Cádiz, as quais também contaram com a participação 
de membros representantes das colônias ao partir do princípio que “os territórios americanos 
não eram colônias, mas formavam parte da monarquia espanhola” (CHUST, 2010: p. 71). Pelos 
termos desta Constituição, o rei tinha seu poder limitado e, em relação às colônias, as restrições 
ao comércio e a representação política foram mantidas. 
Na América, diversas juntas de governo foram organizadas pelos cabildos das cidades coloniais. 
Cabia aos membros dessas instituições debaterem sobre o respeito ao juramento de fidelidade 
Saiba mais
Segundo o historiador Manuel Chust (2010: pp. 49 - 52), havia um plano de fuga para a família real espanhola rumo a 
América, embarcando em Cádiz com rumo a Veracruz e, posteriormente, à Cidade do México. Contudo, a renúncia do 
rei Carlos IV em favor de seu filho, Fernando VII, não permitiu a execução deste plano.
Sugestão de estudo
As obras do pintor Francisco de Goya retratam a defesa da cidade de Saragoça contra os franceses. Sobre este período 
da história espanhola, sugerimos o filme Sombras de Goya.
Para refletir
Em especial, deve se destacar o papel dos criollos nas colônias: no conjunto das reformas bourbônicas, estes não 
tinham possibilidades de ascensão social e política, não tendo privilégios semelhantes aos nascidos na Espanha 
(chapetones), o que aumentava consideravelmente os ressentimentos desta camada social no conjunto da sociedade 
espanhola.)
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O PROCESSO DE InDEPEnDÊnCIA DA AMÉRICA ESPAnHOLA • CAPÍTULO 2
a Fernando VII ou a José Bonaparte. A quem obedecer naquele momento? Em 1810, as Juntas 
na América mantiveram a fidelidade ao rei espanhol e se mantiveram cautelosos com relação 
a uma ruptura definitiva com a metrópole, reconhecendo a Junta de Cádiz como instituição de 
poder legítima até o retorno do rei. Contudo, a atuação dos criollos por meio das Juntas fez com 
que, progressivamente, o movimento se radicalizasse, “chegando à luta armada que dividiu o 
mundo colonial entre rebeldes e defensores da Coroa Real” (CHUST, 2010: p. 72).
Em 1814, os exércitos de Napoleão foram derrotados e Fernando VII reassumiu o poder. A 
restauração da ordem na Espanha esbarrou nos princípios liberais instituídos pela Constituição 
de 1812, o que representava o fim do absolutismo e uma forma de integração da metrópole com 
as colônias em igualdade de condições. Contudo, diante do reforço do poder do rei no universo 
colonial, tropas insurgentes combatiam as forças espanholas, parecendo anunciar uma ruptura 
total com a metrópole. O rei não estava disposto a perder suas colônias e enviou uma ofensiva, 
primeiramente, a região de Nova Granada em 1815, a fim de sufocar as ações lideradas por Simon 
Bolívar na região. A violenta repressão aos rebeldes provocou maiores insatisfações aos colonos 
e os insurgentes mantiveram as lutas em direção à independência.
As lutas de independência: Simon Bolívar, José de San 
Martín, Manuel Hidalgo e Jose Maria Morelos
A história latino-americana foi marcada pela presença de líderes. Dentro de um contexto onde, de 
um lado, havia uma adesão a causa da independência e; de outro, a lealdade à Coroa espanhola, a 
presença de lideranças militares teve um papel importante, inclusive para a construção de histórias 
nacionais. Na América do Sul, os generais Simon Bolívar e José de San Martín desempenharam 
um papel importante na condução das tropas insurgentes. San Martín, nascido na província de 
Corrientes, na Argentina, regressou junto a família a metrópole aos seis anos de idade, onde pôde 
estudar e ingressou na carreira militar e era favorável aos princípios liberais. Em 1812, partiu 
rumo ao rio da Prata para ajudar na luta pela independência; obtida na cidade de Tucumán em 
1816, com a denominação de Províncias Unidas do Rio da Prata. 
Porém, sua visão era de que, ao tomar o Peru, centro do poder espanhol, a independência 
seria plenamente alcançada. Passou com suas forças pelo Chile rumo a Lima, consolidando a 
independência chilena em 1818, após a vitória na Batalha de Maipu. Em 1821, a cidade de Lima 
foi tomada pelos insurgentes e a independência foi proclamada. De acordo com Maria Ligia 
Prado e Gabriela Pellegrino, San Martín era um grande líder militar, mas não possuía habilidade 
Saiba mais
Cabildo era uma espécie de Câmara Municipal.
30
CAPÍTULO 2 • O PROCESSO DE InDEPEnDÊnCIA DA AMÉRICA ESPAnHOLA
política para governar o Peru; o que acarretou em sua saída da América para a Europa, onde 
morreu em 1850. 
Simon Bolívar era filho de uma rica família proprietária de fazendas de cacau. Viajou por boa 
parte de sua vida para a Europa, mas instalou-se na Venezuela a partir de 1807. Foi um ativo 
membro dos movimentos de independência; sendo a Venezuela o primeiro território a declarar 
sua independência, em 1811. Contudo, as bases do novo país eram muito frágeis e a Coroa 
espanhola, restaurada em 1814, enviou uma força militar a Nova Granada a fim de reaver os 
territórios perdidos. Os conflitos foram intensos e a resistência reorganizava seus exércitos, 
engrossando suas fileiras com escravos em troca da alforria. 
Assim como San Martín, Bolívar também atravessou os Andes para lutar contra os espanhóis e 
tomou a cidade de Bogotá. Em 1819, o vice-reinado de Nova Granada tornou-se independente, 
criando a república da Grã-Colômbia. Bolívar foi seu primeiro presidente. Em 1821, a Venezuela 
tornou-se independente após a batalha de Carabobo. Mas, as lutas de independência foram 
concluídas com a união das tropas de San Martín e Bolívar no território peruano; tendo sido a 
batalha de Ayacucho, liderada pelo general Sucre - próximo a Bolívar e que libertou o Equador 
em 1824 - liquidou as forças espanholas.
No Uruguai, a figura de José Gervasio Artigas é considerado símbolo da nação uruguaia. Lutou ao 
longo dos anos de 1810 e 1820 contra os objetivos expansionistas dos portugueses e do governo 
de Buenos Aires. Em Buenos Aires, Artigas foi considerado um traidor, o “Átila dos pampas”. Após 
inúmeras derrotas nas guerras contra os argentinos e os soldados lusitanos, Artigas exilou-se no 
Paraguai e lá viveu até a sua morte. Seus seguidores proclamaram, em 1828, a independência 
uruguaia. De traidor, ele passou a ser um herói para a formação da república uruguaia.
O conjunto desses líderes foi importante para o desenrolar dos processos de independência na 
América hispânica. Tornaram-se heróis, contribuindo para a construção de histórias nacionais. 
Bolívar, conhecido como o “Libertador”, é considerado o maior herói nacional da Venezuela, 
sendo objeto de culto ao longo do século XIX. San Martín também foi visto como um herói na 
história argentina e teve suas cinzas trasladadas para Buenos Aires e depositadas no mausoléu da 
catedral da cidade em 1880. Além deles, os padres Manuel Hidalgo e José Maria Morelos, líderes 
da emancipação mexicana, se tornaram ícones da resistência a metrópole. 
Para refletir
Bolívar era um homem muito envolvido com a política, diferente de San Martí. Idealizava um projeto de integração 
nacional - a Grã-Colômbia -, visando à construção de uma unidade político-territorial na América. Contudo, seus 
planos não deramcerto graças a fragmentação territorial, separando a Grã-Colômbia em três países separados: 
Equador, Colômbia e Venezuela. Desgostoso de tudo renunciou ao poder em 1830 e faleceu no mesmo ano, de 
tuberculose.
31
O PROCESSO DE InDEPEnDÊnCIA DA AMÉRICA ESPAnHOLA • CAPÍTULO 2
Cabe assinalar que a construção das histórias nacionais foi palco de disputas, sobretudo no campo 
simbólico. De acordo com Camillo de Melo Vasconcelos, Bolívar passou do lugar de traidor da 
pátria a herói da nação a partir de 1840. Já no caso mexicano, tanto a figura de Morelos quanto 
a de Hidalgo não eram aceitas pelos grupos conservadores como patronos da nação. Apenas em 
1867, com a vitória de Benito Juárez, liberal, que Hidalgo e Morelos passaram a ser os “heróis” 
da independência do México.
Um estudo de caso: o México
Em 16 de setembro de 1810, se iniciava na Nova Espanha a rebelião contra o 
domínio espanhol, liderada por Miguel Hidalgo y Costilla, padre do pequeno 
pueblo de Dolores, próximo a cidade mineradora de Guanajuato. A Nova Espanha 
era a parte mais rica e mais importante do Império Espanhol na América (...). 
(PRADO, 2014: p. 37)
O processo de independência do México contou com diversas complexidades e reveses, típicos 
dos processos de emancipação da América Hispano-Americana. Sendo este território parte 
importante de todo o Império espanhol, uma área que possuía riquezas minerais expressivas, 
a perda deste pólo inicial de colonização da Espanha na América não estava nos planos dos 
soberanos espanhóis. Diferentemente das áreas do Peru, Bolívia e rio da Prata, a Nova Espanha 
teve seu processo de emancipação iniciado nas zonas rurais e com a liderança de membros 
religiosos.
O México contava, em começos do século XIX, com expressiva parte de sua população vivendo 
em extrema pobreza. Em 1810, o padre Manuel Hidalgo reuniu um grupo de rebeldes contra a 
opressão metropolitana. Após inúmeras vitórias contra as tropas do governo, em 1811 Hidalgo 
foi preso, julgado e condenado a morte por fuzilamento. Contudo, a resistência permaneceu 
Atenção
É nesse período que surgiram, em diversos espaços nacionais, a elaboração de histórias biográficas, relatando a 
trajetória destes líderes numa plena concepção de que a História era apenas a que tratava de grandes feitos e grandes 
homens.
Provocação
O papel da Igreja Católica na independência - Embora a Igreja Católica, forte instituição nas áreas coloniais 
hispânicas, estivesse ao lado da monarquia espanhola, alguns padres se envolveram diretamente nas lutas pela 
independência ao observar as desigualdades existentes naquela sociedade. Procure pesquisar mais sobre eles e 
entender suas ideias, o que era independência naquele momento e qual o papel que a Igreja tinha para cada um 
deles.
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CAPÍTULO 2 • O PROCESSO DE InDEPEnDÊnCIA DA AMÉRICA ESPAnHOLA
agora sob a liberança de José Maria Morelos y Pavón, outro padre. Morelos foi capturado, preso 
e fuzilado em 1815 e sua morte inaugurou um período de lutas isoladas, baseadas em táticas de 
guerrilha, por boa parte do território da Nova Espanha. 
Muitos especialistas assinalaram que a singularidade da independência mexicana é explicada 
pela defesa das necessidades dos grupos mais pobres. Hidalgo aboliu a escravidão negra e os 
tributos pagos pelos indígenas. Morelos propôs uma política de distribuição de terras, inclusive 
propriedades da Igreja, para os camponeses. Assim, se justifica a grande mobilização das camadas 
populares, sobretudo indígenas e camponeses, nas tropas rebeldes, que carregavam um estandarte 
da Virgem de Guadalupe em suas marchas. A rebelião abriu esperanças e possibilidades aos mais 
necessitados, que lutaram pelo fim das desigualdades.
Após dez anos de guerra, em 1821, com um número expressivo de mortes e uma devastação na 
economia local, a independência mexicana foi alcançada por meio de um acordo entre as elites. 
O general Agustín de Iturbide tornou-se o líder do novo Estado independente. Porém, Itúrbide 
proclamou uma monarquia no México, sob o título de Agustín I, em 1822. Em 1824, o general 
foi destituído do poder e uma república foi proclamada. 
Contudo, a instabilidade do novo país marcou o país diante das lutas entre caudilhos e o 
envolvimento em conflitos externos. Um dos mais importantes foi a guerra contra os Estados 
Unidos (1846 - 1848), da qual resultou em um armistício entre as forças envolvidas. Porém, 
foram grandes as perdas territoriais aos mexicanos, como os estados do Texas, Novo México e 
a região da Alta Califórnia; o que perfazia metade do território do México. No âmbito interno, 
dois projetos de construção do novo Estado mexicano foram construídos pelos grupos políticos: 
liberais e conservadores. Eram projetos conflitantes na medida em que:
... os conservadores tinham preferência pelo regime monárquico, estavam ligados 
estreitamente a Igreja Católica e eram defensores dos foros privilegiados da 
Igreja e do Exército e das demais corporações coloniais... Os liberais defendiam a 
República, queriam um Estado separado da Igreja e exigiam a extinção dos foros 
especiais eclesiásticos e a nacionalização dos bens, assim como a desestruturação 
das formas de organização social próprias da colônia, incluindo as comunidades 
indígenas... (PRADO, 2014: pp. 52 - 53)
Saiba mais
Para fins deste contexto, caudilho significa liderança local
Para refletir
rupturas e continuidades estavam presentes no cenário político mexicano. As disputas entre liberais e conservadores 
culminaram numa guerra civil que fragilizou as bases de representação política e social do novo país, tendo a luta 
pelos bens da Igreja tido um papel importante nas divisões da sociedade. A longa luta culminou na vitória dos liberais 
e na conformação de um Estado laico no México, o qual se consolidou a partir da segunda metade do século XIX.
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O PROCESSO DE InDEPEnDÊnCIA DA AMÉRICA ESPAnHOLA • CAPÍTULO 2
O retorno a uma relativa normalidade ocorreu durante o governo de Porfírio Diaz, entre 1876 
e 1910. Esse período, conhecido como Porfiriato, foi caracterizado por uma ditadura política e 
pela abertura do país para o capital estrangeiro; notadamente o norte-americano. Tal situação 
provocou a modernização da infraestrutura econômica do país, principalmente no setor ligado 
à exportação de gêneros agrícolas. Porém, como fruto das tensões políticas e sociais geradas no 
Porfiriato, uma revolução social sem precedentes ocorreu em 1910.
Outro estudo de caso: a independência das províncias do 
Rio da Prata
Sabemos que a proclamação de independência das Províncias Unidas do Rio da Prata se formalizou 
no congresso de Tucumán, ocorrido em maio de 1816. Era um período de instabilidade política, 
onde era imprescindível decidir pela continuidade da revolução ou pela alternativa monárquica. 
As populações oscilaram entre a simples autonomia, a união com os governos centrais e as 
propostas de Confederação sob a liderança de Jose Gervasio Artigas, importante líder militar que 
pretendia criar um governo confederado, abarcando os territórios das províncias de Córdoba, 
Entre Rios e Corrientes, na Argentina, a Banda Oriental do Uruguai, Santa Fé e Misiones numa 
federação, a Liga Federal ou a União dos Povos Livres. Contudo, as propostas de Artigas; as quais 
envolviam também uma política de distribuição de terras, esbarravam nos interesses de Buenos 
Aires na região platina; o que acarretou em inúmeros conflitos até a derrota definitiva das forças 
artiguistas, em 1820.
Segundo a historiadora Noemí Goldman, a partir dos anos 1820, a ideia de “cidade-província” 
passou a ser fundamental para a consolidação de uma organização político-estatal no rio da Prata. 
Para a autora, o pós-independência representou o triunfo do federalismo para compreender todas 
as manifestações políticas; sendo este conceito interpretado, para a região, como “uma forma 
de confederação que permitisse resignar o mínimo possível o controle político da província” 
(GOLDMAN, 2006: p. 80). Logo, havia de um ladoaspirações a liberdade e soberania e, de outro, a 
alusão a uma organização nacional. Porém, ao passo que as soberanias das províncias tenderam 
a se consolidar, a partir de 1830, crescia a influência de Buenos Aires em boa parte dos governos 
provinciais.
A ideia de nação estava vinculada ao Rio de la Plata, e a soberania colocada nesse novo regime 
de poder era inspirada nos princípios iluministas, de maneira a pensar numa relação entre 
representares e representados numa espécie de contrato social. Contudo, um dos pontos frágeis 
do congresso de Tucumán foi a indeterminação de certas funções e também dos limites político 
- territoriais; sobretudo com a América portuguesa, à época governada por D. João VI. 
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CAPÍTULO 2 • O PROCESSO DE InDEPEnDÊnCIA DA AMÉRICA ESPAnHOLA
Nesse sentido, a independência dos Estados platinos também gerou instabilidade, desacordos e 
conflitos. A Argentina estava politicamente dividida e a ascensão de Juan Manuel de Rosas ao poder 
representava, antes de tudo, a busca por um ordenamento social e político. Rosas foi governador 
de Buenos Aires entre 1829 a 1832 e, posteriormente, de 1835 a 1852. Em seu primeiro governo, 
houve consenso entre os grupos sociais; mas, desacordos no cenário político levaram a criação 
de grupos rosistas (favoráveis a Rosas ou federalistas; desejavam a autonomia das províncias) e 
os grupos antirrosistas (desfavoráveis a Rosas ou unitários; desejavam um governo centralizado). 
Contudo, em seu segundo governo a consolidação do regime rosista se deu por meio da 
manutenção da república no sentido de prevalecer a vontade da maioria, expressa em votos; e 
também com a assinatura de pactos entre as províncias do interior e Buenos Aires, o que favoreceu 
a supremacia desta em detrimento daquelas. Mas, ao mesmo tempo levou a intimidação de 
opositores por meio de festas realizadas em júbilo a pátria e, em último caso, ao exílio. Maria 
Ligia Prado afirma que as oposições “o representavam como a encarnação do absolutismo, 
arbitrariedade e barbárie.” (PRADO, 2014).
As principais oposições a Rosas eram os governadores de Entre Rios e Corrientes, personificados 
pelo General Justo José de Urquiza, e o Império Brasileiro em solidariedade aos acontecimentos 
na república uruguaia. Desde 1839, no contexto de uma guerra civil entre os candidatos a 
presidência, do Partido Blanco e Colorado, Manuel Oribe e Fructuoso Rivera, respectivamente; 
Rosas aliou-se a Oribe numa guerra intestina que levou, segundo especialistas, a quase completa 
desestruturação do Estado uruguaio. A aliança entre Urquiza e o Império do Brasil servia, nesse 
sentido, a um duplo interesse: dar fim aos projetos expansionistas de Rosas, que punham em 
risco a navegação no rio da Prata, importante veículo de comunicação com a província do Mato 
Grosso, de jurisdição brasileira; e promover uma centralização de poderes na Argentina sob a 
liderança de Urquiza. Essa guerra, conhecida como a guerra contra Rosas ou Guerra Grande, 
Para refletir
Cabe destacar que havia pretensões, frutos de um projeto expansionista em curso pela Família Real portuguesa, de 
anexar os territórios até o rio da Prata, perfazendo assim as fronteiras lusas na América entre os rios Amazonas e da 
Prata. Esse projeto teve continuidade ao longo do século XIX; levando o futuro Império Brasileiro já independente 
de Portugal, a guerras na região sul (conhecidas como Guerras Cisplatinas); culminando na independência do atual 
Uruguai como um Estado tampão entre o Brasil e a Argentina, em 1828. Sobre este assunto, a leitura do livro de 
João Paulo Pimenta é esclarecedora: Estado e Nação no fim dos Impérios ibéricos no Prata (1808 - 1828). São Paulo: 
HUCITEC, 2006.)
Sugestão de estudo
Interessante obra literária escrita sobre o período rosista é o livro de Domingo Sarmiento, “Facundo ou Civilização e 
Barbárie - Vida de Facundo Quiroga”.
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O PROCESSO DE InDEPEnDÊnCIA DA AMÉRICA ESPAnHOLA • CAPÍTULO 2
teve fim com a vitória das forças brasileiras e de Urquiza na batalha de Caseros, em 1852, o que 
deu fim ao regime rosista.
Sob a liderança de Urquiza, todas as províncias do território argentino aderiram à chamada 
Confederação Argentina; exceto Buenos Aires, que continuou como província autônoma. 
Diferentemente do caso mexicano, as províncias tinham diferenças em relação a Buenos Aires, 
sobretudo no que diz respeito a navegação dos rios e ao comércio. Contudo, a hegemonia política 
de Buenos Aires foi estabelecida com a derrota das forças da Confederação, em 1861. 
Com a ascensão de Bartolomé Mitre a presidência nacional, houve a organização de um Estado 
nacional centralizado na Argentina. A nacionalização das rendas do porto de Buenos Aires, na 
década de 1880, tornou-se um marco para a construção definitiva do Estado argentino. Além 
disso, cabe destacar que houve sob a presidência do General Julio Roca, a concretização do 
processo de expansão territorial pelo sul argentino - o que acarretou em guerras e mortes de 
milhares de indígenas que viviam na região dos Pampas e da Patagônia - conhecidas como as 
Campanhas do Deserto.
O Caudilhismo: um fenômeno latino americano
A edição de 1729 do dicionário de espanhol da Real Academia de España nos dá uma perfeita 
definição da noção de cacique ou caudilho: 
“… o domínio do mais enérgico ou o mais violento, que se converte no primeiro 
de seu povoado ou da república, o que tem mais mando e poder, e quer por 
sua soberba faz-se temer e obedecer de todos os inferiores.” (TEIXEIRA, 2007. 
<http://www.revistadehistoria.com.br/secao/artigos/francisco-carlos-teixeira>)
A noção tradicional de caudilho e, consequentemente, o fenômeno do caudilhismo era explicada 
pela ausência de poderes surgida no universo das colônias quando das invasões napoleônicas 
e das guerras de independência. Os membros da elite criolla, nascida na América, até então 
afastados do poder por meio da discriminação, passaram, ao longo do século, a usufruiu o 
poder político. Essas lideranças, locais ou provinciais, à frente de grupos armados, exerceram 
seu mando nos locais onde o vazio de poderes políticos e institucionais eram mais sentidos 
e, durante muito tempo, impediu que um Estado nacional fosse organizado. Nas palavras de 
Francisco Carlos Teixeira da Silva:
“... o caudilhismo surge num espaço de vazio institucional e burocrático, onde 
muitas vezes a única esperança de justiça, proteção ou de distribuição de favores 
e dons residia na grande morada senhorial.”(TEIXEIRA, 2007).
Desta forma, deve se ter em conta que o caudilhismo expressava também as demandas e 
necessidades de um grupo social até então afastado da plena representação política. A figura 
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CAPÍTULO 2 • O PROCESSO DE InDEPEnDÊnCIA DA AMÉRICA ESPAnHOLA
do caudilho também aparece nas obras literárias do período. Um exemplo é a trajetória de 
Facundo Quiroga, caudilho da província de La Rioja, na Argentina. Era um militar, defensor do 
federalismo e um importante opositor de Juan Manuel de Rosas no cenário político no que dizia 
respeito à organização do Estado. Quiroga acreditava que era necessário criar um Estado dentro 
do sistema federalista, ao contrário de Rosas, que pensava na institucionalização da província 
para, posteriormente, se constituir uma federação. A morte de Facundo Quiroga, em 1835, fez 
com que o projeto rosista se estendesse mais facilmente por todo o país. 
Atenção: isto não significa que as demandas dos mais pobres fossem ser atendidas e que haveria 
igualdade no cenário latino-americano. As exceções a penetração do caudilhismo são o Império 
Brasileiro e o México, onde no primeiro caso temos um poder centralizado no Rio de Janeiro 
e uma era de prosperidade e estabilidade a qual, apenas nos primeiros anos da República; 
permitiu a distribuição de poderes e mandos nas esferas estadual e municipal. Já o segundo, a 
partir do regime centralizado de Porfirio Diaz e a institucionalização do Partido Revolucionário 
Institucional (PRI), o caudilhismo desapareceu do cenário político.

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