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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS E ENGENHARIAS DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS FLORESTAIS E DA MADEIRA NATHÁLIA GABRIELE FRANCA DIAS POLIDO DIAGNÓSTICO DA ARBORIZAÇÃO URBANA NO MUNICÍPIO DE JERÔNIMO MONTEIRO Jerônimo Monteiro 2022 INTRODUÇÃO As questões urbanas tem sido frequentemente discutidas, principalmente em relação ao crescimento dos grandes centros urbanos, que levam a maior demanda por infraestrutura, moradia, transporte (LIMA; AMORIM, 2006), e diminuem gradativamente as áreas verdes, danificando a paisagem, e muitas das vezes trazendo inúmeros malefícios a população. As árvores são fundamentais para o ser humano, oferecendo alimentos, remédios, sombra e bem-estar, e a composição delas, humanizam a cidade e melhoram a qualidade de vida de seus moradores. Entende-se por arborização urbana o conjunto de terras públicas e privadas, com espécies predominantemente arbóreas que uma cidade apresenta, ou ainda, é um conjunto de vegetação arbórea natural ou cultivada que uma cidade apresenta em áreas particulares, praças, parques e vias públicas (SILVA JÚNIOR e MÔNICO, 1994). Sendo essa, primordial para as cidades, influenciando na temperatura através da atenuação das ilhas de calor, água, infiltração, controle de erosões e enchentes, redução da poluição atmosférica e etc. Além dessas funções, a presença de arborização influencia nos meios psicológicos e sociais. Vários estudos indicam que crianças que estão e contato com o verde, apresentam maiores possibilidade de desenvolver ética ambiental, e que pacientes de hospitais e estudantes que mantém contato com a natureza mostram um melhor comportamento, mais harmonioso e mais consciente (MATOS,2009). Diante desses fatos, é indiscutível a importância da arborização e principalmente do planejamento adequado para sua implantação, visto que é um componente imprescindível para seu sucesso. Muitos erros são comuns durante a implantação, como espécies contraindicadas, de porte inadequado, canteiros incorretos, podas incorretas e etc. Na cidade onde o estudo foi realizado, por exemplo, é possível observar a falta de diversidade de espécies, sendo mais de 80% apenas de uma espécie, denominada Oiti (Licania tomentosa). É fundamental o plantio de árvores e plantas diferentes, para que caso ocorra algum problema com elas, há outras para compensar o prejuízo. E também é importante manter a diversidade genética, contribuindo para a biodiversidade, ou seja, variedade de espécies, de genes e de processos ecológicos que envolvem as espécies e o ambiente em que estas vivem. Sendo assim, é importante plantar árvores de espécies diferentes e coletar sementes de várias matrizes, para que as plantas tenham características variadas, e também maior resistência e adaptação a condições adversas. Para a realização da avaliação da arborização de ruas, pode ser feita através de inventários quantitativos e/ou qualitativos, e através desse é possível ver os erros e acertos na arborização de uma cidade. Segundo Milano (1988), a realização do inventário quantitativo da arborização pública permite definir e mapear com precisão a população total de árvores de ruas para fins de inventário qualitativo, além da identificação da composição real da arborização, entre outros aspectos. Realizar o inventário é algo primordial, pois desta forma, é possível conhecer o patrimônio arbóreo e também identificar as necessidades de manejo. Diante disso, torna-se cada vez mais necessários pesquisas com o intuito de discutir não só a importância das áreas verdes, como também o seu planejamento e sua manutenção serem realizados de forma correta. MATERIAL E MÉTODOS Área de estudo O estudo foi desenvolvido no Bairro Centro, em uma área residencial conhecida como “Morro do Boi”, no município de Jerônimo Monteiro - ES, com 39° 38’ longitude Oeste e 21°19’ latitude Sul, distante aproximadamente 180 km da Capital, Vitória. Possui área territorial de área territorial de 177,342 km² e aproximadamente 12.336 habitantes (IBGE, 2021). Seu clima é caracterizado como tropical chuvoso ou “Aw” (Köppen e Geiger ,1928), com estação seca no inverno. A temperatura média do mês mais frio é superior a 18°C, e a precipitação do mês mais seco é inferior à 60 mm. A vegetação do município é composta por Floresta Estacional Semidecidual, vegetação secundária sem palmeiras e pastagem (IBGE,1983). Em relação a arborização, o município apresenta 88,1% de domicílios urbanos em vias públicas com arborização e 20,8% de domicílios urbanos em vias públicas com urbanização adequada (presença de bueiro, calçada, pavimentação e meio-fio). Figura 1. Área do levantamento quali-quantitativo arbóreo. Fonte: Google EARTH, 2022. Esquema de metodologia A metodologia empregada consistiu, basicamente, no levantamento e inventário de todos os indivíduos vegetais existentes nas calçadas de passeio das vias públicas asfaltadas e canteiros centrais de seis ruas da área (Figura 2), através da observação, medição e registro fotográfico. Para medição do CAP, utilizou-se uma fita métrica, e após o cálculo para transformação em DAP (𝐷𝐴𝑃 = 𝐶𝐴𝑃/𝜋). Para estimar a altura, utilizou-se o aplicativo “EasyMeasure”. Para o estudo, foram consideradas tanto espécies nativas como exóticas, de porte arbustivo a arbóreo. Aquelas espécies localizadas em canteiros ornamentais em frente às casas, sem local de circulação (faixa livre) foram desconsideradas na medição. Para identificação, fez-se uso do aplicativo “PlantNet”, juntamente com o apoio de produções bibliográficas. Figura 2. Esquema de ruas em vermelho do levantamento quali-quantitativo. Fonte: Google Maps, 2022. Para melhor padronização das variáveis, utilizou-se as seguintes variáveis no levantamento (quadro 1), seguindo as recomendações de GREY & DENEKE (1986); MILANO (1988), SANTOS (2001); SILVA et al. (2007), adaptadas às condições deste trabalho. Quadro 1. Relação das variáveis selecionadas para a composição do formulário de campo utilizado no inventário e o detalhamento de suas respectivas classes. N° Nome da variável Classe da variável 1 Altura total 1) 1-3; 2) 3-6; 3) 6-10; 4)10-12; 5)12-15 m 2 Diâmetro do tronco (DAP) 1) < 15 cm; 2) 15-30 cm; 3) 30-45 cm; 4) > 45 cm 3 Fitossanidade 1)boa; 2) regular; 3) ruim; 4 Qualidade da raiz 1)não apresenta problema; 2) aponta; 3) quebra a calçada; 4) destrói a calçada 5 Conflito com a rede elétrica 1) sem conflito; 2) com conflito;3) ausência de rede 6 Área de crescimento 1) boa; 2) regular; 3) ruim; 4) ausente Fonte: A autora, 2022. RESULTADOS E DISCUSSÃO Nas seis ruas percorridas (Rua José Ferreira, Rua Conceição Augusta de Souza, Rua Pedro Ferreira Sobrinho, Rua Joaquim Ribeiro, Euclides Cremaschi e Rua Francisco Emílio Lanes), foram inventariadas de acordo com as condições mencionadas, um total de 26 árvores, sendo das famílias Chrysobalanaceae, Rutaceae, Bignoniaceae, Malvaceae, e Arecaceae e de sete espécies diferentes, sendo duas delas não identificadas, conforme as tabelas 1 e 2. Além dessas, em pequenos canteiros ornamentais não pavimentados em frente as casas, foram encontradas outras espécies de porte arbóreo e arbustivo, como pinheiros, coqueiros, frutíferas, ornamentais e etc., porém, essas não foram contabilizadas no diagnóstico de arborização de vias públicas. Frequência de espécies Em relação a frequência de espécies, é notável que a espécie Licania tomentosa, conhecida popularmente como oiti, é a mais numerosa dentre as espécies encontradas nessa área, corroborando com Silva et. al (2012), que encontrou no município de Jerônimo Monteiro uma predominância elevada da espécie, chegando a 70 %, o que é contraindicado segundo GREY & DENEKE (1986), que indicam no máximo 15%, para evitar problemasfitossanitários, visto que a baixa diversidade pode acarretar o aparecimento recorrente de pragas e doenças. O uso dessa espécie em excesso, é um problema em várias cidades do Brasil, pois apresenta boas características de sombreamento, resistência e baixa incidência de pragas. Outros autores, como ROSSATTO et al. (2008), BATISTEL et al. (2009), PAULA & MELO (2010), MATOS et al. (2010), ALMEIDA & RONDON NETO (2010), STRANGHETTI & SILVA (2010), BRANDÃO et al. (2011), também encontraram Licania tomentosa em maioria nos estudos de arborização de algumas cidades. Espécies como Tabebuia chrysotricha e Pachira aquatica também se destacaram em frequência, assim como nos estudos feitos por Silva et. al (2012), que ocuparam lugar de 4° e 6° lugar em frequência no município, respectivamente. Tabela 1. Relação das espécies, famílias, origem e número de indivíduos dos exemplares vegetais encontrados na arborização das vias públicas no Morro do Boi. Nome popular Nome científico Família Origem N° de indivíduos Oiti Licania tomentosa Chrysobalanaceae Nativa 14 Murta Murraya paniculata Rutaceae Exótica 1 Carobinha - Bignoniaceae Nativa 2 Ipê-amarelo Tabebuia chrysotricha Bignoniaceae Exótica 3 Castanhola Pachira aquatica Malvaceae Exótica 3 Não identificado 1 Fonte: A autora, 2022. Tabela 2. Espécies encontradas e suas relativas frequências relativa e absoluta. Espécie/Família Freq. Absoluta Freq. Relativa % Freq. Relativa Licania tomentosa 14 0,54 53,85 Murraya paniculata 1 0,04 3,85 (Bignoniaceae) 3 0,12 11,54 Tabebuia chrysotricha 3 0,12 11,54 Pachira aquatica 3 0,12 11,54 Não identificada 1 0,04 3,85 Archontophoenix cunninghamiana 1 0,04 3,85 Total de árvores 26 Fonte: A autora, 2022. Porte e Diâmetro Em relação ao porte, é possível notar que a maioria das espécies possuem pequeno porte (até seis metros), totalizando essas quase 70%. Essa concentração dos indivíduos na primeira classe de altura (3-6 metros), pode ser explicada devido as podas realizadas e não ao porte natural da espécie, visto que a maioria da população é composta por Licania tomentosa, e essa é considerada uma espécie de grande porte. Já, em relação ao diâmetro ocorreu uma maior concentração dos indivíduos na primeira e na segunda classe diâmetro, que compreendem indivíduos de 15 até 45 cm de DAP, confirmando ser essa uma população plenamente estabelecida com reduzido número de indivíduos jovens. Gráfico 1 e 2. Classes de altura e diâmetro observadas no levantamento realizado no Morro do boi, respectivamente. Fonte: A autora, 2022. Fitossanidade Em relação a fitossanidade, a classe definida regular apresentou predominância em relação as outras classes, sendo ela correspondente a mais de 60% dentre as outras classes, sendo a maior parte dessas, espécies mais velhas. A classe definida como boa, representa um pouco mais que 30%, e grande parte são espécies mais jovens. Já a classe definida como ruim, representa 0,03%. Assim, a condição geral predominante varia entre boa e regular, abrangendo aproximadamente 90% da população (gráfico 3). Dados similares foram obtidos por Silva et. al (2012), que identificou as mesmas classes para o município de Jerônimo Monteiro-ES. Gráfico 3. Classes das espécies quanto a fitossanidade. Fonte: A autora, 2022. Figura 3. Condições de fitossanidade regular (A) e ruim (B) nas árvores. Fonte: A autora, 2022. A B Qualidade da raiz Grande parte das raízes se encontravam em estado precário, em vista das más condições em que a árvore foi estabelecida (Figura 4). Muitas delas destruíram as calçadas, e já estavam causando danos maiores. Essas observações podem ser classificadas como “nível crítico’, e devem ser avaliadas. Resultados como esse são comuns em locais onde os canteiros Gráfico 4. Classes das espécies quanto a qualidade da raiz. Fonte: A autora,2022. Figura 4. Calçada destruída(A) e levantada(B) pela má condição das raízes. Fonte. A autora, 2022. A B Conflito com a rede elétrica Em relação ao conflito com redes elétricas, nenhuma espécie apresentava esse conflito. Isso pode ser devido as podas realizadas recentemente, e a grande parte das árvores serem de pequeno porte. Podas e danos a árvore Em relação às podas, grande parte das observadas foram feitas de forma incorreta, deixando a árvore exposta a doenças, além de algumas bifurcações ocorridas através de podas mal executadas (Figura 5), muitas delas apresentaram rachaduras em decorrência disso. Em relação aos danos a árvore, muitas apresentavam pregos, ganchos, e estruturas inapropriadas que causam danos, colocadas pelos próprios moradores (Figura 6). Figura 5. Resultado de podas mal executadas. . Fonte. A autora, 2022. Figura 6. Danos na árvore causados por ganchos. Fonte. A autora, 2022. CONCLUSÃO Neste bairro, de modo geral, a população arbórea inventariada apresentou uma baixa diversidade, sendo grande parte de uma única espécie. A arborização com canteiros e espécies de porte inadequado levou a problemas recorrentes nas calçadas. Sendo assim, conclui-se que é indispensável o planejamento ou replanejamento d arborização, priorizando a diversidade de espécies e a escolha de espécies de porte adequado, para assim obter o maior sucesso da arborização. REFERÊNCIAS ALMEIDA NETO, J. X.; SILVA, H.; DANTAS, I. C.; ALMEIDA, M. A. X.; LOPES, M. E. S. Levantamento Quantitativo e Qualitativo de plantas arbóreas na cidade de Barra de Santa Rosa-PB, Revista de Biologia e Ciências da Terra: v. 5, n. 2, p. 1-7, 2005. BATISTEL, L. M.; DIAS, M. A. B.; MARTINS, A. S.; RESENDE, I. L. M. Diagnóstico qualitativo e quantitativo da arborização urbana nos bairros Promissão e Pedro Cardoso, Quirinópolis, Goiás, Revista da Sociedade Brasileira de Arborização Urbana, Piracicaba: v. 4, n. 3, p. 110–129, 2009. BRANDÃO; I. M.; GOMES, L. B.; SILVA, N. C. A. R.; FERRARO, A. C.; SILVA, A. G.; Gonçalves, F. G. Análise quali-quantitativa da arborização urbana do município de São João Evangelista-MG, Revista da Sociedade Brasileira de Arborização Urbana, Piracicaba: v. 6, n. 4, p. 158-174, 2011. GREY, G. W.; DENEKE, F. J. Urban forestry. New York, John Wiley & Sons, 1986. 279 p. LIMA, A. M. L. P. Árvores de Rua. Revista Globo Ciência, São Paulo, Nº 44, março de 1995. MATOS. E. C. A.; NASCIMENTO-JÚNIOR, J. E.; MARIANO, D. L. S.; OLIVEIRA, A. L. Arborização do bairro centro da cidade de Aracaju, Sergipe, e seus organismos associados, Revista da Sociedade Brasileira de Arborização Urbana, Piracicaba: v. 5, n. 4, p. 22-39, 2010. MATOS, Eloina; DE QUEIROZ, Luciano Paganucci. Árvores para cidades. Solisluna, 2009. MILANO, M. S. Avaliação quali-quantitativa e manejo da arborização urbana: exemplo de Maringá – PR. Curitiba: UFPR, 1988. Tese (Doutorado em Ciências Florestais), Setor de Ciências Agrárias, Universidade Federal do Paraná, 1988. MOTTER, Natália; MÜLLER, Nilvane G. Diagnóstico da arborização urbana no município de Tuparendi-RS. Revista da Sociedade Brasileira de Arborização Urbana, v. 7, n. 4, p. 27-3, 2012. PAULA, D. S.; MELO, A. G. C. Levantamento quali-quantitativo da arborização urbana do município de Planalto, SP. Revista Científica Eletrônica de Engenharia Florestal, Garça: v. 16, n. 1, p. 64-81, 2010 ROSSATTO, D. R.; TSUBOY, M. S. F.; FREI, F., Arborização urbana na cidade de Assis-SP: uma abordagem quantitativa. Revista da Sociedade Brasileira de Arborização Urbana, Piracicaba: v. 3, n. 3, p. 1-16, 2008. SANTOS, E. Avaliação quali-quantitativa da arborização e comparação econômica entre a poda e a substituição da rede de distribuição de energia elétrica da Região Administrativa Centro-Sul de Belo Horizonte-MG. Viçosa, MG: UFV, 2001. 219 f. Tese (Doutorado em Ciência Florestal) – Universidade Federal de Viçosa, Viçosa,MG, 2001. SILVA, A. G.; GONÇALVES. W.; NOGUEIRA, H. N. Avaliando a arborização urbana. Viçosa, MG: Aprenda Fácil, v. 5, 2007. 346 p. (Série Arborização Urbana) SILVA, Aderbal; CARDOSO, Ariana; RAPHAEL, Martina. Diagnóstico quali-quantitativo da arborização viária da cidade de Jerônimo Monteiro, ES. Enciclopédia Biosfera, v. 8, n. 14, 2012. SILVA JÚNIOR, O. A. B.; MÔNICO, M. O. M. Arborização em Harmonia com a Infraestrutura Urbana. In 1ª Semana de Meio Ambiente. Prefeitura Municipal de Guarulhos: Secretaria de Meio Ambiente, 1994. STRANGHETTI, V.; SILVA, Z. A. V. Diagnóstico da arborização das vias públicas do município de Uchôa, SP, Revista da Sociedade Brasileira de Arborização Urbana, Piracicaba: v. 5, n. 2, p. 124- 138, 2010.
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