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1. POLÍTICAS CONTÁBEIS, MUDANÇA DE ESTIMATIVA E RETIFICAÇÃO DE ERRO A normatização do tratamento contábil aplicável à seleção, aplicação e alterações de políticas contábeis, mudança de estimativa e retificação de erro foi elaborada com base na Norma Brasileira de Contabilidade (NBC TSP) 23 – Políticas Contábeis, Mudança de Estimativa e Retificação de Erro, do Conselho Federal de Contabilidade (CFC). O objetivo deste capítulo é descrever o tratamento contábil aplicado para selecionar e alterar as políticas contábeis, bem como às mudanças nas políticas contábeis, às mudanças nas estimativas contábeis e às retificações de erros, de forma a melhorar a relevância e a confiabilidade das demonstrações contábeis e permitir sua comparabilidade ao longo do tempo. 1.0. DEFINIÇÕES Entidade Entidade compreende os governos nacional (União), estaduais, distrital (Distrito Federal) e municipais e seus respectivos poderes (abrangidos os tribunais de contas, as defensorias e o Ministério Público), órgãos, secretarias, departamentos, agências, autarquias, fundações (instituídas e mantidas pelo poder público), fundos, consórcios públicos e outras repartições públicas congêneres das administrações direta e indireta (inclusive as empresas estatais dependentes). Políticas contábeis Políticas contábeis são os princípios, bases, convenções, regras e procedimentos adotados pela entidade na elaboração e apresentação das demonstrações contábeis. Mudanças de estimativa contábil A mudança de estimativa contábil é um ajuste nos saldos contábeis de ativo ou passivo que decorrem de nova informação ou inovações, portanto não se trata de retificação de erro Aplicação impraticável Aplicação impraticável de um requisito ocorre quando a entidade não puder aplicá-lo depois de ter efetuado todos os esforços razoáveis nesse sentido. Aplicação prospectiva A aplicação prospectiva consiste na aplicação de nova política contábil a transações e fatos que ocorrerem após a data de alteração e no reconhecimento do efeito de uma mudança de estimativa contábil para o exercício corrente e futuros afetados pela mudança. Aplicação retrospectiva Aplicação retrospectiva é a aplicação de uma nova política contábil como se essa política tivesse sido sempre aplicada, ou seja, a mudança tem efeito em exercícios anteriores. Reapresentação retrospectiva Reapresentação retrospectiva consiste em corrigir o reconhecimento, mensuração e divulgação dos valores dos elementos das demonstrações contábeis, como se um erro de exercício anterior nunca tivesse ocorrido. 1.1. POLÍTICAS CONTÁBEIS Na ausência de norma que se aplique a uma transação, evento ou condição, a entidade deve exercer seu julgamento no desenvolvimento e aplicação de política contábil que resulte em informação que seja relevante para a tomada de decisões dos usuários e que seja confiável. Assim, em caso de eventuais conflitos com outros normativos, prevalecem as disposições neste Manual, aplicando-se subsidiariamente os conceitos descritos nas demais normas, observada a seguinte ordem de observância: a. Norma Brasileira de Contabilidade (NBC TSP) relativa ao assunto; b. Norma Brasileira de Contabilidade (NBC TSP) – Estrutura Conceitual. As disposições das normas internacionais de contabilidade, International Public Sector Accounting Standards (IPSAS), editadas pelo International Public Sector Accounting Standards Board (IPSASB), podem ser observadas em caráter residual e não obrigatório. A entidade deve selecionar e aplicar suas políticas contábeis de forma consistente em transações similares para permitir a comparabilidade. 1.1.1. Mudanças nas Políticas Contábeis A entidade deve mudar a política contábil somente se a mudança for exigida por alguma norma ou resultar em informação confiável e mais relevante nas demonstrações contábeis. Os usuários devem ter a possibilidade de comparar as demonstrações contábeis. Assim, devem ser aplicadas as mesmas políticas contábeis dentro do exercício e nos demais, exceto se houver necessidade de mudança, conforme explicitado. Um exemplo de mudança de política contábil é a mudança de regime contábil. Porém, não são mudanças nas políticas contábeis: a. Aplicação de políticas contábeis para transações que sejam diferentes do que ocorria antes; e b. Aplicação de nova política contábil para transações que não ocorriam anteriormente ou não eram materiais. A aplicação inicial da política de reavaliação de Ativo Imobilizado ou Ativo intangível é uma mudança na política contábil, tratada como reavaliação, conforme a norma específica. 1.1.2. Aplicação de Mudanças nas Políticas Contábeis A adoção antecipada de uma nova norma não deve ser considerada como mudança voluntária na política contábil. As mudanças nas políticas contábeis deverão ser aplicadas da seguinte forma: a. Aplicar as disposições transitórias da nova norma; b. Aplicar retrospectivamente como se a política sempre estivesse vigente, caso não haja nenhuma disposição contrária; c. Aplicar prospectivamente, se for impraticável fazer a aplicação retrospectiva. Na aplicação retrospectiva, a entidade deve ajustar o saldo de abertura de cada item patrimonial afetado desde a publicação mais antiga e até o período anterior apresentado. Porém, não se deve alterar os registros contábeis de exercícios anteriores, ou seja, os lançamentos contábeis realizados, mas apenas reexibir os saldos comparativos dos itens de forma sintética nas Demonstrações Contábeis, em regra, tais fatos devem ser evidenciados em notas explicativas específicas acompanhadas de quadros para esta finalidade. Por exemplo, uma mudança de política contábil que impacte itens de estoques, será necessário reexibir o saldo de estoques ou mudanças de políticas que afetem determinados fornecedores, será necessário reexibir o saldo da conta de passivo Fornecedores e eventualmente a provisão correspondente. Segue quadro exemplo: a. Determinada entidade, no exercício de 20x2, mudou uma política contábil que gerou custos em 20x1 no valor de R$ 3.000 e acumulado até 20x0 no valor de R$ 5.000. Inicialmente a entidade reportou a seguinte demonstração contábil em 20x1, sem a mudança nas políticas contábeis que resultavam em custos: O superávit acumulado até a abertura do exercício de 20x1 foi de R$ 18.000, totalizando no fechamento de 20x1 o valor de R$ 38.000. Devido à mudança nas políticas contábeis, foi realizado o ajuste no exercício de 20x2 para o exercício de 20x1, conforme a seguir: Por fim, a entidade ajustou o período mais antigo possível demontrando isso em 20x2: Há casos em que a aplicação retrospectiva é impraticável, pois não é possível determinar os efeitos específicos do período ou o efeito cumulativo da mudança. Quando isso ocorrer, a entidade deve aplicar a nova política retrospectivamente desde o período mais antigo em que seja possível fazê-lo, que pode ser inclusive o exercício corrente, e ajustar o saldo de abertura de cada item patrimonial afetado no referido período. Quando for impraticável determinar o efeito cumulativo, no início do exercício corrente, da aplicação de nova política contábil a todos os exercícios anteriores, a entidade deve ajustar a informação comparativa para aplicar a nova política contábil, prospectivamente, a partir do exercício mais antigo possível. Demonstração Contábil - Entidade Y 20x1 (Ajustado) 20x2 Superávit antes dos custos 20.000 25.000 Custos (nova política) 3.000 4.000 Superávit 17.000 21.000 O ajuste normalmente é registrado em superávits ou déficits acumulados, porém pode ser efetuado em outro item do Patrimônio Líquido para atender uma norma específica, por exemplo. 1.1.3. Evidenciação As informações a serem divulgadas na mudança de política contábil por exigência deuma norma específica são: a. O tema; b. Quando aplicável, que a mudança na política contábil é efetuada de acordo com as disposições transitórias da aplicação inicial da referida norma; c. A natureza da mudança na política contábil; d. Quando aplicável, uma descrição das disposições transitórias; e. Quando aplicável, as disposições transitórias que possam ter efeito em exercícios futuros; f. Para o exercício corrente e para cada período anterior, até o ponto em que seja praticável, o montante dos ajustes para cada item afetado da demonstração contábil; g. O valor do ajuste relacionado com exercícios anteriores aos apresentados, até o ponto em que seja praticável; e h. Se a aplicação retrospectiva for impraticável para exercício anterior em particular, ou para exercícios anteriores aos apresentados, devem ser divulgadas as circunstâncias que levaram à existência dessa condição e a descrição de como e desde quando a política contábil tem sido aplicada. As informações a serem divulgadas na mudança voluntária de política contábil são: a. A natureza da mudança na política contábil; b. As razões pelas quais a aplicação da nova política contábil proporciona informação confiável e mais relevante; c. O montante do ajuste para cada linha afetada da demonstração contábil para o exercício corrente e para cada exercício anteriormente apresentado, até onde seja possível; d. O montante do ajuste relacionado a exercícios anteriores aos apresentados, até onde seja praticável; e e. As circunstâncias que levaram à existência dessa condição e a descrição de como e desde quando a mudança da política contábil tem sido aplicada, se a aplicação retrospectiva for impraticável para exercício anterior específico ou para exercícios anteriores aos apresentados. As informações devem ser divulgadas nas demonstrações do exercício em que ocorreu a alteração. As demonstrações contábeis de exercícios subsequentes não precisam repetir essas evidenciações. Quando a entidade não aplicar nova norma já emitida, mas que ainda não esteja em vigor, deve publicar: a. Tal fato; e b. Informação conhecida ou razoavelmente estimável que seja relevante para avaliar o possível impacto que a aplicação da nova norma terá sobre as demonstrações contábeis da entidade no exercício de sua aplicação inicial. Ao cumprir o referido acima, a entidade deve divulgar: c. O título da nova norma; d. Natureza da mudança ou das mudanças iminentes na política contábil; e. Data a partir da qual é exigida a aplicação da norma; f. Data a partir da qual a entidade planeja aplicar inicialmente a norma; e g. Qualquer uma das alternativas abaixo: i. Divulgação das discussões do impacto que se espera que a aplicação inicial da norma tenha sobre as demonstrações contábeis da entidade; ou ii. Divulgação da explicação acerca dessa impossibilidade, se esse impacto não for conhecido ou razoavelmente estimável. 1.2. MUDANÇAS DE ESTIMATIVA Diante das incertezas inerentes às características, peculiaridades e atividades do setor público, muitos elementos das demonstrações contábeis não podem ser mensurados com precisão, podendo apenas ser estimados. Assim, a estimativa envolve julgamentos baseados na última informação disponível e confiável. Por exemplo, podem ser exigidas estimativas de: a. Receita tributária e inadimplência; b. Obsolescência de estoque; c. Valor justo de ativos ou passivos financeiros; d. Obrigações decorrentes de garantias O uso de estimativas razoáveis é parte essencial da elaboração das demonstrações contábeis e não reduz sua confiabilidade. A estimativa pode necessitar de revisão caso ocorram alterações nas circunstâncias em que ela se baseou ou em consequência de novas informações ou maior experiência. Dada a sua natureza, a revisão da estimativa não se relaciona com exercícios anteriores nem representa correção de erro. Quando for difícil determinar se a mudança ocorre na política contábil ou na estimativa contábil, deve ser tratada como mudança na estimativa contábil. Quando a mudança da estimativa contábil resultar em mudanças em ativos e passivos ou relacionar-se a um item do patrimônio líquido, ela deve ser reconhecida pelo ajuste no correspondente valor contábil do item do ativo, do passivo ou do patrimônio líquido no período da mudança. Nos demais casos, o efeito da mudança deve ser reconhecido prospectivamente, incluindo-o no resultado do: a. Período da mudança, se afetar apenas esse período; ou b. Período da mudança e futuros períodos, se afetar todos eles. O reconhecimento prospectivo do efeito da mudança na estimativa contábil significa que a mudança é aplicada a transações e eventos a partir da data de alteração da estimativa. A mudança na estimativa contábil pode afetar apenas o resultado do exercício corrente, ou o resultado do exercício corrente e dos exercícios futuros. Por exemplo, a mudança na estimativa do montante de ajustes para perdas de créditos de liquidação duvidosa afeta apenas o superávit ou perda do exercício corrente. Entretanto, a mudança na estimativa da vida útil ou no padrão esperado de consumo de benefícios econômicos ou potencial de serviços de ativo depreciável, afeta a despesa de depreciação no exercício corrente e cada exercício futuro durante a vida útil remanescente do ativo. Em ambos os casos, o efeito da mudança relacionada ao exercício corrente deve ser reconhecido como receita ou despesa no período corrente. O efeito, caso existente, em exercícios futuros deve ser reconhecido apenas no futuro. 1.2.1. Evidenciação A entidade deve divulgar a natureza e o montante decorrente da mudança na estimativa contábil que tenha efeito no exercício corrente ou se espera que tenha efeito em exercícios futuros, exceto para os casos de divulgação do efeito em exercícios futuros quando for impraticável estimar aquele efeito. Caso o montante do efeito em exercícios futuros não possa ser divulgado porque a estimativa dele é impraticável, a entidade deve divulgar tal fato. 1.3. ERROS As demonstrações contábeis não estarão em conformidade com as normas se contiverem erros materiais ou erros imateriais cometidos intencionalmente para enviesar determinada apresentação da situação patrimonial, do desempenho ou dos fluxos de caixa da entidade. Os potenciais erros do exercício corrente descobertos nesse período devem ser corrigidos antes de as demonstrações contábeis serem disponibilizadas para publicação. Contudo, os erros materiais por vezes não são descobertos até exercício seguinte, sendo então corrigidos na informação comparativa apresentada nas demonstrações contábeis desse exercício subsequente. A entidade deve corrigir os erros materiais de exercícios anteriores retrospectivamente no primeiro conjunto das demonstrações contábeis cuja autorização para publicação ocorra após a descoberta de tais erros, exceto quando for impraticável. Por exemplo, houve um erro material no exercício de x1, mas que só foi descoberto durante o exercício de x3. Assim, deve-se fazer a correção retrospectiva desde o exercício de x1 e que constará do conjunto das demonstrações contábeis ao final do exercício de x3. A correção deve seguir alternativamente os seguintes critérios: a. Reapresentar os valores comparativos do exercício anterior apresentado nos quais o erro tenha ocorrido; ou b. Se o erro ocorreu antes do exercício anterior mais antigo apresentado, o erro deve ser corrigido por meio da reapresentação dos saldos de abertura dos ativos, dos passivos e do patrimônio líquido do exercício anterior mais antigo apresentado. Quando for impraticável determinar os efeitos de erro em período específico na informação comparativa para um ou mais exercícios anteriores apresentados, a entidade deve retificar os saldos de abertura de ativos, de passivos e do patrimônio líquido do período mais antigo para o qual seja praticável a reapresentação retrospectiva(que pode ser o exercício corrente). Quando for impraticável determinar o efeito cumulativo, no início do exercício corrente, de erro em todos os exercícios anteriores, a entidade deve retificar a informação comparativa para corrigir o erro prospectivamente a partir da data mais praticável possível. A correção de erro de exercício anterior deve ser excluída do superávit ou do déficit do exercício no qual o erro foi descoberto e qualquer informação relacionada deve ser retificada até quando for possível. Por exemplo, houve um registro, no exercício de x1, de um ativo no valor de R$ 150, porém o valor correto seria de R$ 50. Com isso, o superávit apurado foi R$ 100 maior do que o superávit real, conforme apurado no Balanço Patrimonial do ano x1, na conta de Resultados Acumulados. O erro foi descoberto no ano de x2 e procedeu-se ao ajuste. Assim, foi feito o seguinte lançamento contábil e a devida regularização no Balanço Patrimonial, conforme abaixo: D 2.3.7.x.x.xx.xx Resultados Acumulados 100,00 C 1.x.x.x.x.xx.xx Ativo 100,00 Balanço Patrimonial antes do ajuste do erro: Balanço Patrimonial após o ajuste do erro: 1.3.1. Evidenciação Para a divulgação de erros de exercícios anteriores, a entidade deve divulgar as seguintes informações: a. A natureza do erro de exercício anterior; b. Para cada exercício anterior apresentado e até onde for praticável, o montante de retificação de cada elemento componente da demonstração contábil que tenha sido afetada; c. Montante da retificação no início do exercício anterior mais antigo apresentado; e d. No caso em que a reapresentação retrospectiva for impraticável para exercício anterior específico, as circunstâncias que levaram à existência dessa condição e a descrição de como e desde quando o erro foi corrigido. As demonstrações contábeis de exercícios subsequentes à retificação do erro não precisam repetir essas divulgações. A seguir um quadro geral da ação a ser feito de acordo com o fato: Mudanças nas políticas contábeis Aplicação retrospectiva Mudança de estimativa Aplicação prospectiva Retificação de erros Reapresentação retrospectiva Fato e ação a ser realizada