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DIVERSIDADE DE GRUPOS TRÓFICOS FUNCIONAIS ASSOCIADOS 
ÀS MACRÓFITAS DA LAGOA DA BOMBA (RIO PARANÁ, SP). 
 
Oliveira, D.M.*; Dornfeld, C.B.; Machado, L.F.; Ramiro Filho, L.O.P. 
 
diegomoliveira@hotmail.com
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – Faculdade de Engenharia de Ilha Solteira. 
 
Introdução 
A distribuição de insetos aquáticos em determinados ecossistemas está intimamente 
relacionada com as condições em que esse ambiente se encontra. Fatores físicos e químicos, como 
temperatura e disponibilidade de oxigênio, vazão da água, tipo de substrato, presença ou ausência de 
abrigo, local para ovoposição, entre outros, alteram a diversidade e quantidade encontrada desses 
seres (QUINN & HICKEY, 1994). Para o estudo e comparação dos diferentes grupos tróficos 
funcionais, foram utilizados os insetos encontrados associados às macrófitas presentes no rio 
Paraná, Egeria sp. e Azolla sp., por possuírem distintos hábitos de vida. 
A macrófita Egeria sp. (Família Hydrocharitaceae) é inteira submersa e uma das espécies de 
plantas aquáticas que se proliferam próximas a usinas hidrelétricas. É uma planta que se desenvolve 
em mananciais de água parada como lagos, lagoas e pequenas represas, e de pequena 
movimentação, como os canais de drenagem. 
A macrófita aquática Azolla sp. (Família Azollaceae), é uma pteridófita aquática, encontrada em 
águas calmas de regiões tropicais e temperada quentes, por todo o Brasil. Apenas uma parte de sua 
estrutura é submersa, conferindo às águas onde se encontram um aspecto de tapete flutuante verde-
avermelhado. 
Merritt & Cummins (1996) classificaram os insetos aquáticos em diferentes grupos funcionais 
de alimentação de acordo com as características morfológicas e comportamentais, facilitando o 
estudo de muitos processos ecológicos com os quais esses organismos estão envolvidos. Os cinco 
grupos mais citados na literatura consultada são filtradores, predadores, coletores, raspadores e 
fragmentadores, podendo haver subdivisões dentro desses grupos. (MERRITT & CUMMINS, 1996; 
CALLISTO, 2001). 
O presente trabalho teve como objetivo comparar os diferentes grupos tróficos associados às 
macrófitas aquáticas Egeria sp e Azolla sp, presentes na Lagoa da Bomba, rio Paraná (Ilha Solteira, 
SP). 
 
Material e Métodos 
 As amostras foram coletadas em março e maio de 2008, em uma lagoa marginal, Lagoa da 
Bomba, no rio Paraná, no município de Ilha Solteira (SP). 
As macrófitas foram coletadas manualmente, sobre uma peneira com malha de 300 µm e 
acondicionadas em sacos plásticos etiquetados e com um pouco de água do local. No laboratório as 
mailto:diegomoliveira@hotmail.com
amostras foram lavadas sob jato fraco de água sobre peneira com malha de 300 µm. O material 
retido foi então fixado em álcool para posterior triagem e identificação, sendo a triagem realizada em 
bandeja plástica branca sobre fonte de luz. Para identificação utilizou-se as seguintes chaves de 
identificação: McCafferty (1981), Merrit & Cummnins (1996) e Trivinho-Strixino e Strixino (1995). Para 
identificação dos Grupos Tróficos Funcionais (GTF) utilizou-se o trabalho de Merrit & Cummnins 
(1996). 
Para a determinação do peso seco das macrófitas, as mesmas foram deixadas secar ao ar por 
uma semana, e após foram secas em estufa a 60°C por 48h. Esse procedimento foi necessário para 
que fosse possível o cálculo da densidade de organismos associados às macrófitas 
(indivíduos/grama de macrófita seca). 
No campo, foram mensurados os seguintes parâmetros da água utilizando-se um multisensor: 
pH, condutividade, temperatura da água e oxigênio dissolvido. 
 
Resultados 
Para auxiliar o entendimento dos dados obtidos, foram medidos alguns parâmetros do local, 
tanto em março/08 e maio/08 (Tabela 1). 
 
Tabela1. Parâmetros físicos e químicos da água no entorno dos bancos das macrófitas 
aquáticas e respectivos pesos secos. 
Azolla sp. Egeria sp. Parâmetros 
março/08 maio/08 março/08 maio/08 
pH 6,3 7,41 5,8 7,34 
Condutividade (ms/cm) 93 70 67 81 
Temperatura (°C) 30 24,2 28,7 23,8 
Oxigênio dissolvido (ppm) 2,1 9,91 3,2 9,97 
Peso seco (g) 3,72 1,75 46,44 108,81 
 
Foram identificadas um total de 5 ordens de insetos contendo 6 famílias, na coleta de março/08 
e um total de 6 ordens e 11 famílias na coleta de maio/08. 
Dentre os organismos associados a Egeria sp, em março/08, pode-se observar na Tabela 2 
que a família mais abundante foi Caenidae (família predominantemente composta por coletores), e 
em maio/08, foi Baetidae (família composta geralmente por coletores). Em Azolla sp., nota-se um 
número maior de indivíduos da família Tanypodinae (sub-família composta por predadores) em 
março/08 e Caenidae (família composta por coletores) em maio/08, como pode ser observada na 
Tabela 3. As pupas não foram consideradas dentro de um grupo funcional de alimentação por ser um 
estágio do ciclo de vida em que o organismo não se alimenta. 
 
Tabela 2. Taxa, grupo trófico funcional (GTF), abundância relativa e densidade dos insetos 
aquáticos associados a Egeria sp., Lagoa da Bomba, rio Paraná (Ilha Solteira – SP). 
Egeria sp. 
GTF (Segundo Merrit & 
Cummnin, 1996) 
Abundância relativa (%) 
em relação ao GTF 
Densidade (Ind./g) 
em relação ao GTF 
TAXA mar/08 mai/08 mar/08 mai/08 
Diptera 
 Chironomidae 
 Chironominae Coletor 15,38 2,7 0,04 0,04 
 Pupa Chironominae - - 1,35 - 0,02 
 Culicidae Coletor - 2,03 - 0,03 
Ephemeroptera 
 Baetidae Coletor 15,38 81,76 0,04 1,11 
 Caenidae Coletor 69,23 10,81 0,19 0,15 
Odonata 
 Coenagrionidae Predador - 0,67 - 0,01 
 Libellulidae Predador - 0,67 - 0,01 
Total 100 100 0,27 1,36 
 
Tabela 3. Taxa, grupo trófico funcional (GTF), abundância relativa e densidade dos insetos aquáticos 
associados a Azolla sp., Lagoa da Bomba, rio Paraná (Ilha Solteira – SP). 
Azolla sp 
GTF (Segundo Merrit & 
Cummnin, 1996) 
Abundância relativa (%) 
em relação ao GTF 
Densidade (Ind./g) 
em relação ao GTF 
TAXA mar/08 mai/08 mar/08 mai/08 
Coleoptera 
 Gyrinidae Predador - 0,24 - 0,57 
 Noteridae Predador 2,67 - 0,54 - 
Diptera 
 Ceratopogonidae Predador 2,67 - 0,54 - 
 Chironomidae 
 Pupa Chironomidae - 26,67 1,23 5,38 2,86 
 Chironominae Coletor 10,67 17,44 2,15 40,57 
 Tanypodinae Predador 24,00 4,91 4,84 11,43 
 Culicidae Coletor - 1,72 - 4 
Ephemeroptera 
 Baetidae Coletor - 0,74 - 1,71 
 Caenidae Coletor 1,33 26,78 0,27 62,28 
Hemiptera 
 Aphidae Predador - 23,09 - 53,71 
 Gerridae Predador - 0,24 - 0,57 
 Hebridae Predador - 0,24 - 0,57 
Lepidoptera 
 Pyralidae Fragmentador 1,33 1,23 0,27 2,86 
Odonata 
 Libellulidae Predador 30,67 22,11 6,18 51,43 
Total 100 100 20,17 232,57 
Discussão e Conclusões 
 Nota-se, analisando as tabelas, que em Egeria sp., tanto no mês de março/08 quanto no mês 
de maio/08 ocorreu predominância de insetos coletores, representando mais de 98% do total coletado 
em ambos os meses. Fato que pode ser explicado pela macrófita possuir toda sua estrutura 
submersa, facilitando a retenção de material orgânico em suspensão, concordando com os estudos 
realizados por Trivinho-Strixino & Strixino (1993), quanto ao domínio de coletores quando em 
associação com plantas aquáticas submersas. 
Em Azolla sp., a quantidade de insetos predadores foi superior ao observado em Egeria sp., 
apresentando mais de 50% do total de organismos em cada coleta. Pode-se inferir que pela macrófita 
possuir apenas parte de sua estrutura submersa, a retenção de matéria orgânica é reduzida, 
diminuindo a incidência de insetos coletores, como apontado por Peiró & Alves (2006). Na parte 
emersa, ocorre a possibilidade de surgir insetos adultos não aquáticos predadores (como os da 
família Aphidae; Ordem Hemiptera), e também outros invertebrados, facilitando a obtenção de 
alimento por parte dos insetos predadores. 
Conclui-se, então,que o hábito de vida das macrófitas pode influenciar na predominância de 
diferentes grupos tróficos funcionais, sendo que esses resultados poderão ser utilizados em estudos 
futuros para determinação da ecologia da entomofauna aquática do local. 
 
Referências 
MC CAFFERTY, W.P., 1981, Aquatic Entomology : the Fishermen’s and Ecologists’ Illustrated Guide 
to Insects and Their Relatives. Jones and Bartlett Publishers, Inc. Boston, 448 p. 
MERRITT, R., CUMMINS, K. (1996). An introduction to the aquatic insects os North America. 2.ed. 
Kendall hunt Publishing, 360p. 
PEIRÓ, D.G. & ALVES, R.G. 2006. Insetos aquáticos associados a macrófitas da região litoral da 
Represa do Ribeirão das Anhumas (Município de Américo Brasiliense, São Paulo, Brasil). Biota 
Neotropica v6 (n2) –http://www.biotaneotropica.org.br/v6n2/pt/abstract?article+bn02906022006. 
QUINN, J. M. & HICKEY, C. W., 1994, Hydraulic parameters and benthic invertebrate distribuitions in 
two gravel-bed New Zealand River. Freshwater Biology, 32(2): 489-500. 
TRIVINHO-STRIXINO, S. & STRIXINO, G. 1993. Estrutura da comunidade de insetos aquáticos 
associados à Pontederia lanceolata Nuttal. Rev. Bras. Biol. 53: 103-111. 
TRIVINHO-STRIXINO, S., STRIXINO, G. (1995). Larvas de Chironomidae (Diptera) do Estado de São 
Paulo: guia de identificação e diagnose dos gêneros. São Carlos, PPG-ERN/UFSCar, 229p.

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