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Autor: Plauto Titulo: Rudens (A Corda) Tradutor. Maria Isabel Rebelo Gonçalves Editor: FESTEA - Tema Clássico Edição: 1/2011 Propriedade: FESTEA - Tema Clássico Concepção e Planeamento: FESTEA - Tema Clássico Apoio à Edição: FCT - POCI 2010 Secretariado: FESTEA - Tema Clássico Instituto de Estudos Clássicos Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra Praça da Porta Férrea 3004-530 Coimbra Telefone: 967685736 Fax: 239410022 e-mail: teaclassGci.uc.pt Edição exclusiva para uso do Festival Internacional de Teatro de Tema Clássico. IMPRESSÃO E EXECUÇÃO GRÁFICA: Simões & Linhares, Lda. Av. Femando Namora, n.º 83 - Loja 4 3000 COIMBRA ISBN: 978-972-8869-32-8 Depósito Legal: 292935/09 Introdução . Rudens Índice 7 19 PERSONAGENS ARCTURO, Prólogo CEPARNIÃO, escravo de Démones PLEUSIDIPO, jovem DÉMONES, velho PALESTRA, jovem mulher AMPELISCA, jovem mulher PTOLEMOCRACIA, sacerdotisa de Vénus PESCADORES TRACALIÃO, escravo de Pleusidipo LÁBRAX, alcoviteiro CÁRMIDES, velho ESCRAVOS responsáveis pelas chicotadas GRIPO, pescador ARGUMENTO Com a sua rede, um pescador retirou do mar uma mala, onde estavam pequenos objectos da filha do seu amo, que fora raptada e caíra em poderde um alcoviteiro. Atirada à costadepois de um naufrágio, tornou-se, sem o saber, cliente do seu próprio pai: é reconhecida e casa-se com o seu amigo Pleusidipo. A cena representa uma casa perto do mar e um templo. Em frente do templo há um altar consagrado a Vénus. À esquerdafica a saída para a cidade de Cirene e para o porto; à direita está a saída para a praia. PRÓLOGO ARCTURO - Sou concidadão, na cidade dos habitantes do céu, daquele que põe em movimento todas as gentes, mares e terras. Sou, como vedes, uma cintilante estrela pura, astro que se ergue sempre em devido tempo, [5] aqui e no céu. Chamo-me Arcturo. De noite, estou brilhante, no céu e entre os deuses; durante o dia, ando entre os mortais. Outros astros também descem do céu à terra. Júpiter, que é senhor supremo de deuses e homens, (10) divide-nos entre as gentes, cada um por seu lado, a fim de tomarmos conhecimento das acções, costumes, piedade e boa-fé dos homens, para que a Opulência a cada um favoreça. (1I5]Levamos a Júpiter os nomes transcritos dos que procuram demandas fraudulentas com falsos testemunhos, dos . que juram falso para negar dívidas na justiça. Todos os dias ele sabe quem aquimerece castigo. Julga, de novo, o caso julgado: os maus que procuram ganhar demandas jurando falso, que obtêm do juiz bens ilegítimos, [20] castigaos commulta maior do que o recebido na demanda Tem os bons inscritos noutras tábuas. E se os malvados pensamquepodem tornar Júpiterpropício comoferendasou com vítimas de sacrifícios, perdem trabalho e despesa. Acontece que 21 Plauto 25] ele não aceita petições de perjuros. Mas se quem é picdoso suplicar aos deuses, encontra favormais facilmente do que quem é malvado. Aconselho-vos, por isso, a vós que sois bons e viveis com compaixão e probidade: (30) continuai, para vos alegrardes depois com a vossa obra. Agora vou expor o argumento da peça, por causa da qual aqui vim. Antes de mais, Dífilo quis que esta cidade se chamasse Cirene. É lá que, perto do mar, num terreno e casa anexa, mora Démones, [35] um velho que para aqui veio exilado de Atenas, mas não é mau. Não está afastado da pátria pormalvadez, mas acabou por se enredar para salvar outros e, por liberalidade, perdeu um excelente património. Também ficou sem a única filhinha pequena.[40] Um homem sem-vergonha comprou-a ao Taptor e trouxe a menina aquii para1 Cirene. Um jovem ateniense, seu compatriota, para casa depois de uma aula de lira e apaixonou-se por ela. Dirige-se ao mercador, 45 4oferece porela trintaminas, dá um sinal e fá-lo comprometer-se sob juramento. Mas, como habitualmente, o alcoviteiro não fez caso da palavra dada, nem do juramento que fiera ao jovem. Era hóspede do alcoviteiro um velho siciliano, tão bom como ele, [50] um safardana de Agrigento, traidor da sua terra. Começaa elogiar-lhe a beleza da pequena e das outras raparigas que ele tinha. Instiga-o a ele para-a o que ai via muitos homens dados aosprazeres, [55] e quepoderia ficar fico, porque havia lá grande procura de meretrizes.Convence-o. escondidas contratado um navio. De noite, o alcoviteiro transporta para o navio toda a gente da casa. Ao jovem que lhe tinha comprado a pequena [60] diz que quer pagar uma promessa a Vénus - eis (aponta) o templo de Vénus - e convida o jovem para almoçar aqui. Mas sobe imedint-mente para navioe leva as meretrizes. Outros Lam, 30 jovem como tudo se [68] forase embora. O jovem vem ao porto, mas o navio já se afastara para longe, para o altomar. Eu, ao ver a pequena ser levada, vim auxiliá-la e, ao mesmo tempo, causar a perdição do alcoviteiro. Levantei uma tempestade e agitei as ondas do mar. (70) Sou Arcturo, a mais a Rudens (A Corda) terrível de todas as estrelas: sou muito violento quando nasço e mais violento aínda quando me ponho. Agora, alcoviteiro e hóspede foram ambosatirados para um rochedo e o navio fez- se-lhes em Mas a e a outra escravazita (75] saltaram, do para unr galva-vidas As ondas levam-nas agora do rochedo para terra, junto da casa andemora o velho exilado, da qual o vento deitou abaixo telhado e telhas. Ali está o escravo dele, a sair de casa, (80) Logo chegará, como vereis, o jovem que comprou a pequena aomercador. Passai bem e que os vossos inimigos desesperem. ACTOI CENAI CEPARNIÃO CEPARNIÃO (saindo de casa) Pelos deuses imortais! Que grande tempestade Neptuno nos enviou a noite passada! (85] O vento destelhou a casa. Que q hei-de dizer? Não foi vento, foi como na Alcmena de Eurípides: até arrancou todas as telhas do telhado;meteu as janelas dentro, * fê-las darmais luz. CENAI PLEUSIDIPO CEPARNIÃO DÉMONES PLEUSIDIO (vindo do porto, acompanhado de amigos) Desviei-vos dos vossos negócios, (90) e não valeu de nada o favor por cansa do qual vos trouxe: não consegui apanhar o alcoviteiro no porto. Mas não quis perder a esperança com a minha inacção. Por isso vos demorei tanto tempo, amigos.Agora venho averiguar aqui no templo de Vénus, [95] onde ele tinha dito vir fazer um sacrifício. CEPARNIÃO (a olhar para a casa destelhada) Se tivesse juízo, preparava este barro, que dá cabo demim. 23 Plauto Rudens (A Corda) PLEUSIDIPO PELEUSIDIPO - Quem estará a falar aqui ao pé? Mas os deuses vão dar-te... DÉMONES (saindo de casa) CEPARNIÃO Olá Cepamião! E, por Hércules, que a ti, sejas lá quem fores, te dêem um grande mal, porque ocupas com esse falatório pessoas tão CEPARNIÃO ocupadas. Quem me chama? PLEUSIDIPO (a Démones, apontando para a casa) * DÉMONES [110] É aqui quemoram? Quem deu dinheiro por CEPARNIÃO Que tens com isso? Estarás à procura de um sítio para Estarás a lembrar que sou teu escravo, Démones? depois vires cá roubar? DÉMONES PLEUSIDIPO (irritado) [100] É preciso muito barro, cava muita terra. Estou a ver Tem de ser rico edignoo escravo que se permite dar à língua a minha casa toda destelhada. Só há buracos, a luz passa como | na presença do amo e falar tão rudemente a um homem livre... num crivo. CEPARNLAO - a PLEUSIDIPO (aproximando-se de Démones) (115) E tem de ser descarado e sem-vergonha o homem que Viva, meu Pai... ou antes (ao ver Ceparnião) vivam a ambos. vem incomodar casa alheia, que nada lhe deve! DÉMONES DÉMONES Viva! Cala-te, Ceparnião. (A Pleusidipo.) De que precisas, jovem? CEPARNIÃO PLEUSIDIPO Ó tu que lhe chamas pai, és homem oumulher? Castigo para este, que se apressa a falar primeiro, quando oamo está presente. [120] Mas, se não te importas, queria fazer-te PLEUSIDIPO umas breves perguntas. [105] Sou um homem, sim. DÉMONES CEPARNIÃO noutro lado De boa vontade, o do ocupado. Então, homem, vai procurar pai nou' CEPARNLAO (a Pleusidipo) DÉMONES Porque não vais parao pântano cortar canas, para cobrirmos Eu tive a uma filhi e perdi-a. Nunca tive filho a enquanto está bom tempo? homem. 24 L 25 Plauto DÉMONES (a Ceparnião) Cala-te! (A Pleusidipo.) E tu diz o que precisas.PLEUSIDIPO Peço-tequemedigas [125] sevisteaqui umhomem com cabelos brancos encaracolados, ummalvado, um perjuro, um fingido. DÉMONES Muitos. É mesmo por causa desses homens que eu vivo tão pobre. PLEUSIDIPO Falo de um que trouxe duas jovens com ele aqui ao templo de Vénus, e se preparava [130] para fazer um sacrifício, hojeou ontem. DÉMONES Não, por Hércules, meu rapaz. Há muitos dias que não vejo aqui ninguém fazer sacrifícios; e quem quer que os faça não pode fazê-lo sem eu saber. Sempre daqui pedem ou água, ou lume, ou vasinhos, ou uma faca, ou um espeto, [135] ou uma panela para cozer entranhas, qualquer coisa. Que hei-de dizer? É para Vénus e não para mim que tenho estes utensílios e o poço. Mas já lá vão muitos dias... PLEUSIDIPO Com as tuas palavras anuncias a minha perdição! DÉMONES Por Hércules! Se dependesse de mim, estarias são e salvol CEPARNIÃO (a Pleusidipo) [140] Ó tu que andas à roda do templo com fome, é melhor encomendares almoço em tua casa. DÉMONES Se calhar foste convidado para almoçar aqui, e quem te convidou não veio? 26 Rudens (A Corda) PLEUSIDIPO Exactamente! CEPARNIÃO Não há perigo se fores para casa sem comer. [145] Mais vale seguires Ceres que Vénus: esta cuida do amor, Ceres do trigo. PLEUSIDIPO (à parte) Este sujeito troçou demim de modo revoltante! DÉMONES (olhando para o mar) Pelos deuses imortais! Ceparnião, que homens são aqueles, perto da costa? CEPARNIÃO (irónico) (150) que foram convidados para um almoço dePar despedid DÉMONES Como? CEPARNIÃO Porqueme parece que se lavaram ontem, depois da ceia... DÉMONES O navio fez-se-lhes em pedaços nomar. CEPARNIÃO Pois é. Mas a nós, por Hércules, foi em terra, casa e telhas. DÉMONES Oh! [155] Que pouco valem, homenzinhos! Como nadam, depois de naufragarem! PLEUSIDIPO Desculpa, onde estão esses homens? DÉMONES Aqui, à direita. Não vês, perto da costa? PLEUSIDIPO Vejo! (Aos amigos.) Sigam-me.Oxalá seja aquele que procuro, esse grande malvado. (A Démones e Ceparnião.) Tenham muita saúde! (Saem.) CEPARNIÃO Ainda que não o sugerisses, nós próprios nos lembraríamos. (Olhando para o lado do mar.) [160) Mas, ó Palémon, venerável companheiro de Neptuno, que dizem ser associado de Hércules, que desgraça vejo? DÉMONES Que vês? CEPARNIÃO Vej enas, sentadas sozinhas num salva-vidas. | Que tormento passam, as desgraçadas! (Excitado.) Bravo, bravo, muito bem: [165) uma vaga traz o salva-vidas do rochedo paraa costa. Nem um piloto o faria melhor. Julgo que nunca vi ondas maiores. Estão salvas, se conseguirem safar-se daquelas vagas. Agora, agora, há perigo! Uma onda atirou uma delas ao mar. | (170) Mas está no banco de areia, escapará facilmente. Bravo! Vês como a vaga lançou a outra borda fora? Levantou-se, vem para | aqui, tudo corre bem. A outra também se atirou do salva-vidas para terra. Com medo, caiu de joelhos na água. [175] Está salva! Saiu da água, já está na costa! Mas...maldição! Desviou-se para a €direita, vai perder-se. Ui! Ela vai desgraçar-se hoje. DÉMONES (perdendo a paciência) Que te importa? CEPARNIÃO Se cai do rochedo a que se agarrou, [180] não tarda a perder-se... Rudens (A Corda)Plauto DÉMONES Se vais à tarde cear à sua custa, acho que deves preocupar-te com elas, Ceparnião. Se queres comer em minha casa, quero que cuides de mim. CEPARNIÃO Tens muita razão! DÉMONES Então toca a segu:ir-me. CEPARNIÃO Sigo. (Entra em casa com Démones.) CENA HI PALESTRA PALESTRA (vinda da praia) [185] O que dizem da má sorte dos mortais é muito menos do que a desgraça que na realidade experimentam. Pôde isto agradar a um deus? E eparo, cheia de medo, atirada para regiões desconhecidas? Terei de pensar que nasci para esta desgraça? [190] Será esta a recompensa da minha piedade sem limites? Não me seria penoso suportar esta desdita, se tivesse desrespeitado os pais ou os deuses:mas se, com desvelo, procurei não o fazer, então, [195] ó deuses, tratais-me indignamente, iniquamente, imoderadamente. Depois disto, como reconhecer os ímpios, se é esta a vossa recompensa para os inocentes? Se soubesse que eu ou os meus pais tínhamos cometido algum sacrilégio, não me queixaria tanto. Mas é o crime do meu dono queme atormenta, a sua impiedade causa omeu mal. Ele perdeu nomar o navio e tudo omais. Sou o que resta dos seusbens. [200] Também se perdeu aquela que embarcou comigo no salvavidas. Agora estou só. Se ela seme tivesse salvo, esta provação seria pelo menos mais suave com os seus cuidados.Agora, Que socorro? Que resolução tomar? [205] Fiquei aqui sozinha, senhora destes lugares solitários. Aqui há rochedos, aqui o mar 29 Plauto ruge; não avisto ninguém. Isto que tenho vestido é tudo quanto possuo. Não sei onde arranjar comida, nem onde me abrigar. Que esperança me resta para querer viver? [210) Não conheço o lugar, nunca estive aqui. Ao menos queria ver alguém queme mostrasse uma estrada, uma vereda, para sair destes sítios: não sei que decisão tomar; irei por aqui ou por ali? Nem sequer vejo por perto algum campo cultivado. [215] Frio, indecisão, pavor, tudo se apodera de mim, Meus infelizes pais, não sabeis como sou agora tão desgraçada! Nasci livre, sem dúvida. Em vão! Será que aminha escravidão é agora menora do, que se tivesse nascido escrava? E aproveitou alguma coisa âqueles que me deram a CENA IV vida? y+ AMPELISCA PALESTRA AMPELISCA (vindo também da praia) [220] Que será melhor para mim, que mais fazer, senão pôr termo à vida? Sou tão desgraçada, tenho na alma tantas inquietaçõesmortais... Às coisas estão assim: 1não quero saber da vida, perdi a esperança queme animava. Já andei por todoo lado, já entrei em todos os recantos à procura daminha companheira, com a voz, o olhar, os ouvidos, para lhe seguir o rasto. [225] Não consigo descobri-la, não sei para onde ir, nem onde mais procurar. Nem sequer encontro alguém que entretanto me dê uma resposta. Não há terras mais isnladas do que estes lugares e estas regiões. Mas, se ela está viva, viver, nunca desistirei de a encontrar PALESTRA De quem é esta voz que soa ao pé demim? * AMPELISCA [230] Quemedo! Quem fala aqui ao pé? PALESTRA Boa Esperança, acode-me, por favor! Livrarás esta infeliz do medo? ( Rudens (A Corda) AMPELISCA É dúvida uma voz de mulher que entra nos meus ouvidos... PALESTRA É umamulher, uma voz demulher chega aosmeusouvidos! [235] Desculpa, és a Ampelisca? AMPELISCA És tu quem oiço, Palestra? PALESTRA Porque não a chamo pelo seu nome, para que me oiça? Ampelisca! AMPELISCA Hem? Quem é? PALESTRA Sou eu, a Palestra. AMPELISCA Diz-me onde estás. PALESTRA Por Pólux, agora estou em grandes perigos. AMPELISCA Estou na mesma, o meu azar não é menor que o teu. [240] Mas queromuito verte. PALESTRA Estás como eu. AMPELISCA Sigamos a voz, caminhando. Onde estás? 31 Plauto Rudens (A Corda) PALESTRA PALESTRA Estou aqui. Aproxima-te demim. Vem aomeu encontro. O quê? AMPELISCA AMPELISCA Damelhor vontade. Por favor, não vês este templo? PALESTRA PALESTRA Dá-me a mão. Onde? AMPELISCA AMPELISCA Toma. À direita. PALESTRA PALESTRA Diz-me, estásmesmo viva? Vejo, o lugar parece digno de deuses. AMPELISCA AMPELISCA Éstuqueme fazesagoraquererviver, [245] porqueposso tocar- [255] Por certo que há gente não longe daqui, este lugarte. Custa-me acreditar nisto: tenho-te nosmeus braços! Abraça-me, é tão agradável! Seja qual for o deus, rogo-lhe que nos livreminha esperança. Comome alivias de todas as penas! desta aflição e dê algum auxílio a estas infelizes, desgraçadas, ansiosas. PALESTRA Tiras-me as palavras da boca.Agoraémelhor irmo-nos daqui. AMPELISCA CENA V Para onde iremos? PTOLEMOCRACIA PALESTRA AMPELISCA PALESTRA + [250] Sigamos esta costa. PTOLEMOCRACIA (saindo do templo) Quem é que faz preces à minha patrona? A voz deAMPELISCA | suplicantes fez-me vir cá para fora. [260] Procuram uma deusa Sigo por onde quiseres. | boae complacente, semmá vontade, muito benévola. PALESTRA PALESTRA Mas iremos assim, com a roupa ensopada? Alegramo-nos que estejas de saúde, Mãe. AMPELISCA PTOLEMOCRACIA O quetem de ser temmuita força! (Avistando o templo.)Mas Vivam, pequenas. Mas donde vêm, [265] vestidas com tal que é aquilo? | desalinho, com essa roupa ensopada? a 33 Plauto PALESTRA Vimos de nãomuito longe daqui, mas o lugar donde fomos trazidas ficamuito longe. PTOLEMOCRACIA Acaso foram trazidas por um cavalo de pau, por caminhos cenúleos?... PALESTRA Exactamente... PTOLEMOCRACIA Então seria mais próprio terem vindo (270) vestidas de branco, com vítimas para sacrifício: não é costume vir-se a este templo nesse preparo. PALESTRA Desculpa! Se fomosambas atiradas domar, dondeesperavas queparaaqui trouxéssemosvítimas?Agora, carecidasde recursos [275] e não sabendo o que esperar nestes lugares desconhecidos, (ajoelham-se) abraçamos os teus joelhos, para que nos acolhas em tua casa, nos salves, tenhas dó destas duas infelizes para quem não há nem refúgio, nem esperança. E não temos mais nada do que isto que vês. PTOLEMOCRACIA [280] Dêem-me asmãos, levantem-se ambas. Não hámulher maismisericordiosa do que eu.Mas, pequenas, as coisas aqui são pobres e pouco abundantes; eu própria vivo com dificuldades Sirvo Vénus àminha custa! AMPELISCA Este é um templo de Vénus? PTOLEMOCRACIA [285] É, sim. E contam-me como sacerdotisa do seu templo. Arranjarei de boa vontade tudo o que os recursos agora permitirem. Venham por aqui comigo. 34 Rudens (A Corda) PALESTRA Recebes-nos, Mãe, com amizade e benevolência. PTOLEMOCRACIA É omeu dever! (Entra no templo com as jovens.) ACTO II CENAI PESCADORES PESCADORES (vindo da cidade) [290] Pelos modos, os pobres vivem miseravelmente, sobretudo aqueles que não têm negócio, nem aprenderam nenhumofício.Queiramou não, devem contentarse com o quehá em casa. Quanto a nós, pelo nosso equipamento, já sabemmuito bem como somos ricos... Estes anzóis e estas canas de pesca são para nós modo de vida e sustento. (295) Todos os dias vimos da cidade aqui para o mar, à procura de provisões. Como exercício ginástico e de luta temos isto. Apanhamos à mão ouriços, lapas, ostras, amêijoas, conquilhas, urtigasdomar,mexilhões, navalhas. Depois, vamos pescar com anzol e nas rochas. [300] Trazemos alimento do mar. Se o resultado não for bom e não apanharmos nenhum peixe, voltamos para casa às escondidas, salgados e bem lavados, e dormimos sem comer. Agora, como o mar está tão bravo, não temos nenhuma esperança: se não apanharmos mariscos com concha, ficamosmesmo sem ceia. [305] Veneremos então esta boa Vénus, para que venha hoje em nosso auxílio. CENA PESCADORES TRACALIÃO TRACALIÃO (vindo também da cidade) Tiveomaiorcuidadoparanão passar pelomeuamosemo ver: ao sair, disse que ia ao porto emande-me vir aquii ao seu encontro, junto Plauto do templo de Vénus. Mas olhem, mesmo a jeito... [310] vejo ali quem possa informar-me. Aproximemo-nos. Olá, ladrões domar, marisco edoanzol, raça famélica. Como va a vida?Como val amorte? PESCADORES Como convém ao pescador, com fome, sede e falsa esperança. TRACALIÃO Digam-me se, por acaso, enquanto aqui estiveram, viram passar um jovem, apressado, com aspecto decidido, corado, vigoroso, [315] trazendo com cle três sujeitos com clâmides e espadas. PESCADORES Não demos por que viesse aqui ninguém com esse aspecto que dizes. TRACALIÃO E um velho, careca como Sileno, grande, barrigudo, sobrancelhas criçadas, cara engelhada, embusteiro, odioso a deuses « homens, malvado, chcio de vícios e i la, (320) que trazia com cle duas rapariguinhas bem jeitosas? PESCADORES Quem tenha sido nascido com tais virtudescobras, émelhor dirigir-se ao carrasco do que a Vénus. TRACALIÃO Digam-me lá sc o viram. PESCADORES Não veio aqui, com certeza. Passa bem! TRACALIÃO Passem bem! (Os pescadores saem para a praia.) Já sabia aconteceu o que suspeitava. [325] Aldrabaram o meu amo. O malvado do alcoviteiro fugiu do país, apanhou um navio e levou as mulheres. 36 Rudens (A Corda) Sou um adivinho! E ainda por cima essa fonte de crimes convidou meusenhor vir almoçar. Agoramais vale esperar, até queomeu amo chegue. Entretanto, a sacerdotisa de Vénus talvez saibamais alguma coisa, [330] se a vir, vou perguntar-lhe.Há-de informar-me. CENA HI TRACALIÃO AMPELISCA AMPELISCA (falando para dentro do templo) Percebo. Mandaste-me bater à porta desta casa que fica perto do templo de Vénus, e pedir água. TRACALIÃO Que voz voou até aos meus ouvidos ? AMPELISCA Quem fala aqui (avistando Tracalião)? Quem vejo eu? TRACALIÃO Não éAmpelisca que sai do templo? AMPELISCA [335] Não éTracalião, o criado de Pleusidipo, que estou a ver? TRACALIÃO É cla. AMPELISCA É cle. Viva, Tracalião. TRACALIÃO Viva, Ampelisca, como passas? AMPELISCA Passomal aminhamelhor idade. 37 Plauto TRACALIÃO Não sejas agoirenta! AMPELISCA Convém que as pessoas sensatas conversem e digam a verdade. Mas onde está Pleusidipo, o teu amo? TRACALIÃO Ora essa! [340] Como se ele não estivesse lá dentro... AMPELISCA Não está, por Pólux, e ninguém veio para aqui. TRACALIÃO Não veio? AMPELISCA É verdade. TRACALIÃO Não é meu costume, Ampelisca... Mas quando é que o almoço está pronto? AMPELISCA Por favor. Qual almoço? TRACALIÃO Fazem aqui um sacrifício, sem dúvida. AMPELISCA Estarás a sonhar? TRACALIÃO [345] O teu amo Lábrax convidou omeu amo Pleusipo para almoçar, tenho a certeza. AMPELISCA Por Pólux, não me espanto com o que dizes. Se enganou deuses e homens, procedeu mesmo como alcoviteiro. Rudens (A Corda) TRACALIÃO Não fazem aqui um sacrifício? Nem o vosso amo? AMPELISCA Adivinhaste. TRACALIÃO Então que fazes aqui? AMPELISCA Depois de muitos males, de enorme inquietação, de per go de morte, carecidas de auxílio e recursos, [350] esta sacerdotisa de Vénus acolheu-nos aqui, a mim e à Palestra,. TRACALIÃO Palestra está aqui, a amiga domeu amo? AMPELISCA Sem dúvida. TRACALIÃO Que notícia tão agradável, minha Ampelisca. Mas gostaria muito de saber qual foi esse vosso perigo. AMPELISCA Caro Tracalião, o nosso navio fez-se em pedaços esta noite. TRACALIÃO (355]Que navio? Que história é esta? AMPELISCA Por favor. Não ouviste dizer que o alcoviteiro nos quis tirar daqui para a Sicília, às escondidas, e que carregou um navio com todos os seus haveres? Agora está tudo perdido. TRACALIÃO Oh! Salve, bom Neptuno! Não há jogador de dados mais 39 Plauto Rudens (A Corda) hábildoque tu. (360) Fizestemesmoumaóptima jogada: acabaste TRACALIÃO com um perjuro. Mas onde está agora o alcoviteiro Lábrax? Que poderia ele fazer? AMPELISCA (irônica) AMPELISCA Acho quemorreu da bebida. Neptuno convidou-o esta noite Perguntas que poderia fazer, se gostava dela? Devia para uns bons copos... velar,[380] dia e noite, estar sempre de vigia. (Irónica.) Por Castor, Pleusidipo tevemesmomuito cuidado com ela...TRACALIÃO Por Hércules, julgo que o forçou a beber num grande TRACALIÃO copázio. Como te amo, minha Ampelisca, como és meiga, como Porque dizes isso?as tuas palavras são doces como mel. [365] Então como é que tu | e a Palestra se salvaram? AMPELISCA A coisa é evidente. AMPELISCA Já te digo. Assustadas, saltáâmos ambas do navio para um TRACALIÃO salva-vidas, por vermosqueonavio seria arrastado para as rochas. Não sabes? Quem vai ao balneário para se lavar, Cortei rapidamente a amarra, enquanto eles estão atarantados. À / mesmo que não tire os olhos da sua roupa, é roubado tempestade leva-nos com o salva-vidas para a direita, longe deles. na mesma; não é certo qual dos presentes vigiar. [385] OE assim, infelizes, fomos atiradas por ventos e ondas, [370] de t : ladrão vê facilmente quem espreita; o guarda não tem atodas as maneiras possíveis, durante toda a noite, até que hoje, certeza de quem é o ladrão. Mas leva-me até ela. Onde enfim, o vento nos trouxe até à costa, meiomortas. está? TRACALIÃO (brincalhão) AMPELISCA Bemsei, Neptuno é assim. É tão escrupuloso como um edil: Só tens de entrar no templo de Vénus. Vais encontrá-la deita fora todas asmercadorias que não prestam. sentada, a chorar. AMPELISCA TRACALIÃO [375] Vai para o inferno! À Como issome dá pena! Mas porque chora?TRACALIÃO AMPELISCA Vai tu, minha Ampelisca... Sabia que o alcoviteiro ia fazer Já te digo. Aflige-se porque o alcoviteiro lhe tirou uma o que fez, disse-o muitas vezes. Vou deixar crescer o cabelo e cestinha que ela tinha e onde havia [390] com que pudesse começar a predizer o futuro. reconhecer os seus pais. Receia que esteja perdida. AMPELISCA (irónica) TRACALIÃO Então tu e o teu senhor tomaram precauções para ele não Onde estava essa cestinha? fugir, quando o sabiam? 41 Plauto AMPELISCA Lá mesmo no navio. O amo fechou-a numa mala, para ela não termeio de reconhecer os pais. TRACALIÃO Oh!Que infâmia! Obrigar à escravidão quemn devia ser livre! AMPELISCA [395] Agora é claro que amala deve ter ido ao fundo com navio. E todo o ouro e prata do alcoviteiro estavam lá. TRACALIÃO Talvez alguémmergulhasse para a apanhar... AMPELISCA É por isto que anfeliz está tão triste: ficar sem as suas coisas! TRACALIÃO Então mais necessário é que eu entre para a consolar, para que não se afligir tanto. [400] Sei que muitas vezes acontecem coisas boas para além do que possa esperar-se. AMPELISCA E eu também vi a esperança desiludir muitos que esperavam... TRACALIÃO Por sso é que a resignação é o melhor tempero para a desventura. Vou entrar, se não te importas. (Dirige-se ao templo.) AMPELISCA Vai. Eu vou fazer o que a sacerdotisa me mandou e pedir água aqui ao vizinho. (405) Disse que a dariam logo, se pedisse em seu nome. Julgo que nunca vi idosa mais digna, a quem penso deuses e homens devam ajudar. Como nos recebeu benevolentemente, generosamente e decentemente, sem má vontade, [410] como se fôssemos as suas próprias filhas, quando estávamos assustadas, carentes, ensopadas, naufragadas, meio 42 Rudens (A Corda) mortas! Como ela própria se desembaraçou a aquecer água para nos lavarmos! Agora, para não a fazer esperar, vou aqui pedir água, onde me mandou. Olá! Está alguém em casa? Há alguém que abra a porta? Alguém aparece? CENAIV AMPELISCA CEPARNIÃOO CEPARNIÃO (abrindo a porta de casa) Quem é que está a dar cabo da nossa porta com tal desaforo? AMPE (415) Sou eu. CEPARNIÃO (à parte, vendoAmpelisca) Ah! Que sorte é ? Ena! Por Pólux, que belo pedaço de m AMPELISCA Viva,meu rapaz. CEPARNIÃO E vivas tu,minha pequena. AMPELISCA Venho a vossa casa... CEPARNIÃO Dar-te-ei hospitalidade (malicioso), se vieres mais tarde, como (...).Agora demanhã não tenho nada para te oferecer. (420) (Procura abraçá-la.)Mas que dizes, minha bela,minha alegria? AMPELISCA Ah! Tratas-me commuita sem-cerimónia! Plauto CEPARNIÃO (à parte) Pelos deuses imortais! É mesmo o retrato de Vénus. Como há jovialidadenos seus olhos! Oh! Que linda pele! Queescurinha, quero dizer, moreninha! E o peitinho! E a boquinha! AMPELISCA [425] Não sou manjar para a arraia-miúda. Não tirarás as mãos de cima demim? CEPARNIÃO Não se pode ao menos tocar-te assim, com doçura, meu doce bem? AMPELISCA Quando tiver vagar, darei atenção ao teu gosto e aos teus prazeres. [430] Agora, por favor, diz sim ou não áquilo para que fui aqui mandada. CEPARNIÃO Que queres agora? AMPELISCA O que eu quero (apontando para o vaso), o meu equipamento revela-o bem a quem for esperto. CEPARNIÃO (com um gesto grosseiro) Omeu equipamento também aquemesperto. AMPELISCA Aqui a sacerdotisa de Vénusmandou-me pedir-vos água. + CEPARNIÃO [435]Mas quemmanda aqui sou eu. Se não pedires, não levarás umagota. Foicom onosso risco, comosnossosutensílios queabrimos + o poço. Semmuitasmeiguices nãome levamuma gota de água. AMPELISCA Por favor, porqueme negas a água, queum estranho dá a outro? 44 Rudens (A Corda) CEPARNIÃO [440] Porque me negas a amabilidade, que um cidadão dá a outro? AMPELISCA Pelo contrário, meu querido, farei tudo o que quiseres. CEPARNIÃO (à parte) Bravo! Estou safo. Jáme chama "seuquerido". (AAmpelisca.) Vamos dar-te água. Não me amarás em vão. Dá-me o vaso. AMPELISCA Toma. Leva-o depressa. CEPARNIÃO [445] Espera. Volto já, minha querida. (Entra em casa.) AMPELISCA Que direi à sacerdotisa por me ter aqui demorado tanto tempo? Como ainda me assusto, infeliz de mim, quando avisto o mar!... [450] Mas, desgraçada, que vejo além na costa? O alcoviteiro, meu amo, e o seu hóspede da Sicília que eu julgava terem ambosmorrido nomar! Está então vivomais ummal com que não contávamos? Mas porque não me apresso a fugir para o templo e contar isto [455] à Palestra, para nos refugiarmos no altar, antes que omalvado do alcoviteiro venha cá enos encontre? Vou refugiar-me ali. A emergência exige-o. (Entra no templo.) CENAV CEPARNIÃO CEPARNIÃO (voltando de casa) Pelos deuses imortais! Nunca julguei que houvesse tanto prazer na água! Como a tirei com gosto! [460] O poço até me pareceu bemmenos fundo do que antes. Como tirei a água sem esforço! Não é parame gabar! Não soumesmo um perigo? Como épossível terhoje começado umnamoro? (FalandoparaAmpelisca, Plauto que já não está onde julga.) Aqui tens a água, minha beleza. Toma! Quero que a leves graciosamente, como eu ta dou, para me agradares. [465] Mas onde estás, minha querida? Toma lá a água, está bem? Onde estás? Por Hércules, parece-me que gosta de mim. Joga às escondidas, a marota. Onde estás tu? Recebes este vaso ou não? Onde estás? Que brincadeira... Agora muito a sério, não receberás este vaso? Onde é que te meteste? [470] Por Hércules, não a vejo em lado nenhum. Está a gozar comigo. Vou já largar o vaso no meio da rua. E se alguém levar daqui este vaso consagrado a Vénus? Metia-me em boa! Por Hércules, receio que aquelamulherme tenha armado uma esparrela, [475] para eu ser apanhado com um vaso consagrado a Vénus. Não há duvida! Se alguém me visse com ele, o magistrado deixar-me-ia morrer na prisão, com toda a justiça. O vaso tem uma inscrição. Ele próprio anuncia a quem pertence. Por Hércules! Vou já chamar a sacerdotisa aqui fora [480] para receber este vaso. Vou aproximar-me da porta. Eh, Ptolemocracia, sai daí, toma lá este vaso. Foi uma rapariga desconhecida que aquimo trouxe. (Vendo que ninguém aparece.) Temde ser levado para dentro. (Resmungão.) Encontrei uma ocupação... ainda tenho de lhes levar a água... (Entra no templo) CENAVI LÁBRAX CÁRMIDES LÁBRAX (vindo da praia) Quem queira ser desgraçado e pedinte, [485] confie-se a Neptuno de corpo e alma. Se alguém se mete nalgum assunto com ele, manda-o embora para casa neste lindo estado. Por Pólux, como és sabida, Liberdade, [490] que nunca quiseste pôr péno navio com Hércules.Mas onde está omeu hóspede queme perdeu? Olhem, lá vem ele. CÁRMIDES (seguindo Lábrax) Lábrax, meu malvado, para onde vais tão depressa? Não consigo seguir-te com essa pressa toda. Rudens (A Corda) LÁBRAX [495] Oxalá que antes de os meus olhos te terem visto tivesses morrido demámorte na Sicília; desgraçado demim, foi por tua causa queme aconteceu esta infelicidade. CÁRMIDES Oxalá eu estivesse a dormir na prisão no dia em que me levaste a tua casa. Peço aos deuses imortais [500] que só tenhas hóspedes parecidos contigo, enquanto viveres. LÁBRAX Contigo, chameiaMáFortuna aminha casa.Quedesgraçado fui ao dar-te ouvidos! Porque saí daqui? Porque entrei no navio, onde perdi o que tinha e aindamais? CÁRMIDES [505] Por Pólux! Não me admiro nada se o teu navio naufragou, já que transportava um velhaco como tu e bens obtidos com velhacaria. LÁBRAX Foste tu queme perdeste, com as tuas falinhasmansas. CÁRMIDES Cee a tua ceia,mais funesta do que a que outrora serviram Tereu. LÁBRAX [510] Estoumorto, sinto-memal; segura-me a cabeça, peço-te. CÁRMIDES Por Pólux! Queria é que vomitasses os pulmões! LÁBRAX Ai, Palestra eAmpelisca, onde estão agora? CÁRMIDES Julgo que estão a alimentar os peixes, nas profundezas. 4 Plauto LÁBRAX Graças a ti, [515] por ouvir as tuas grandes mentiras, fiquei reduzido àmendicidade. CÁRMIDES (irónico) Mas devias estar-me muito reconhecido: graças a mim, passaste de ensosso a salgado. LÁBRAX Porque não me vais daqui para o inferno? CÁRMIDES Vai tu. Era mesmo o que ia dizer... LÁBRAX (520) Ai! Haverá algummortal mais desgraçado que eu? CÁRMIDES Sou muito mais desgraçado que tu, Lábrax. LÁBRAX Porquê? CÁRMIDES Porque eu não mereço e tu mereces ser o que és. LÁBRAX (olhando para o campo próximo) Ójunco, junco, gabo a tua sorte, pois tens semprea satisfação da tua secura! CÁRMIDES (a tremer com frio) [525] Na verdade, estou a treinar-me para uma escaramuça. Falo às sacudidelas, todo a tremer. LÁBRAX Por Pótwd És um banheiro gélido, Neptuno. Depois de sair de estouenregelado,mesmocom roupa.Nemsequerarranjouumbotequim com bebidasquentes[53] sóofereorumabebida salgada fria Rudens (A Corda) CÁRMIDES Como são felizes os ferreiros, sentados ao lado das brasas. Estão sempre quentes. LÁBRAX (sempre a tremer) - Oxalá tivesse agora a sorte dos patos, para ficársempre seco, mesmo ao sair da água. CÁRMIDES [535] E se me alugasse a um teatro para o papel de Comilão? LÁBRAX Para quê? CÁRMIDES (também a tremer) Por Pólux! Claro que já estou a bater os dentes... Julgo que mereci ter sido bem lavado. LÁBRAX Porquê? CÁRMIDES Porque me aventurei a entrar no navio contigo, que me puseste omar a mexer-se desde o fundo. LÁBRAX (540) Dei-te ouvidos. Prometias-me que havia lá grandes lucros com meretrizes, dizias que poderia amontoar riquezas. CÁRMIDES Bestamalvada, pretendias ir engolir toda a ilha da Sicília! LÁBRAX [545]Que baleia devorou aminhamala, onde estavametido todo o ouro e prata? Plauto CÁRMIDES Acho que a mesma que tem o meu bornal, com uma bolsa | que estava cheia de dinheiro. LÁBRAX [550] Ah! Fiquei reduzido a esta única tunicazeca e a este manto pobrezinho. Estou mesmo perdido! CÁRMIDES Podes juntar-te a mim, se quiseres. Temos amesma sorte. LÁBRAX Se ao menos as raparigas me estivessem salvas, ainda haveria alguma esperança. Agora, se o jovem Pleusidipo [555] de quem recebi sinal pela Palestra, me vir, vai já atirarme à cara negócio. CÁRMIDES Porque choras, estúpido? Por Pólux! Enquanto a língua trabalhar, terás bastante para pagares a toda a gente. CENA VI CEPARNIÃO CÁRMIDES LÁBRAX CEPARNIÃO (vindo do templo) Desculpa, que se passa ali? Duas raparigas a chorarem [560] aqui no templo de Vénus, abraçadas à estátua! Não sei de quem as infelizes terão medo. Dizem que foram bem abanadas a noite passada e hoje foram atiradas domar. LÁBRAX (aproximando-se) PorHércules,meu jovem, onde estão essas raparigas de que falas? CEPARNIÃO Aqui no templo de Vénus. so Rudens (A Corda) LÁBRAX Quantas são? CEPARNIÃO Tantas como tu e eu. LÁBRAX [565] Serão asminhas ? CEPARNIÃO Isso não sei. LÁBRAX Que aspecto têm? CEPARNIÃO Encantador. Poderia querer bem a qualquer delas, seestivesse LÁBRAX Rapariguinhas, por certo? CEPARNIÃO Por certo que és um chato. Vai ver, se te agrada. (Afasta-se.) LÁB Devem ser asminhas pequenas que estão lá dentro, querido Cármides. CÁRMIDES Que Júpiter te consuma, se são e também se não são. LÁBRAX (570) Vou já atirar-me ali para dentro do templo de Vénus! (Entra no templo.) CÁRMIDES Antes queria que fosses para o inferno. (A Ceparnião.) Por s1 Plauto o amigo, arranjame algum eftio onde possa dormir umCo. CEPARNIÃO Dorme aqui onde quiseres, ninguém o impede, é lugar Público, CÁRMIDES Mas olha paramim, como estou, com a roupa todamolhada. Acolhe-me em casa, dá-me alguma roupa seca, (575) enquanto aminha enxuga. Retribuir-te-ei noutra altura. CEPARNIÃO (mostrando-lhe uma coroça) Tenho aqui uma coroça de junco. Está seca. Se a queres, dou-ta, Coberto com ela, costumo ficar protegido, quando chove. Dá-me as tuas coisas. Vou pô-las a secar. CÁRMIDES O quê? Não te basta ter-me lavado nomar, terei deme lavar outra vez aqui em terra? CEPARNIÃO [580] Que te laves ou besuntes, não me interessa nadinha. Nunca confiarei em ti, a não ser que receba uma garantia. E tu...ou sua, ou morre com frio, ou fica doente, ou tem muita saúde. Nãome interessa ter um hóspede estrangeiro em casa. E basta de discussão. (Entra em casa.) CÁRMIDES Já te vais embora? Seja lá quem for, este já fez tráficode escravos, [585] não tem compaixão. Mas que faço aqui, pobre de mim, todo 52 Rudeno (A Corda) ACTOo III CENAI DÉMONES DÉMONES (saindo de casa) Os deuses brincam com os homens demodos estranhos e os sonhos dão estranhos indícios durante o sono. [595] Nem sequer deixam repousar a quem dorme. Eu, por exemplo, sonhei a noite passada um sonho estranho e absurdo. Vi um macaco esforçar- se para trepar a um ninho de andorinhas, [600] e não conseguia tirá-las de lá. Depois parecia que o macaco vinha ter comigo e pedia que lhe emprestasse uma escada. A isto respondo-lhe que as andorinhas nasceram de Filomela e Procne. [605] Discuto com ele para não fazer mal às minhas compatriotas. Então ele torna- se mais arrogante; além disso parece ameaçar-me. Leva-me a tribunal. Então, não sei como, vejo-me, irado, a agarrar omacaco .pelomeio do corpo; [610] fecho na prisão a bestamalvada. Agora não sei dizeroque significa este sonho, ainda não consegui chegar hoje a uma explicação. Mas que barulho é este que vem aqui da minha vizinhança, no templo de Vénus? Estou espantado! CENA TRACALIÃO DÉMONES TRACALIÃO (vindo do templo efalando em estilo empolado) [615] Ó cidadãos de Cirene, peço o vosso auxílio; camponeses, habitantes que estais nestas proximidades, acudi ao . desespero, acabai com um acto abominável! Castigai, para que o poder dos ímpios não sejamaior que o do inocente que não quer ser conhecido como vítima de ultraje. [620] Ordenai um castigo exemplar para o sem-vergonha, dai recompensa à modéstia. Fazei com que seja possível viver neste lugar em conformidade com a lei e não sob coacção da força. Correi para aqui ao templo de Vénus: imploro uma vez mais a vossa protecção, vós que estais aqui perto e ouvis os meus gritos, auxiliai os que, [625] molhado? Porque não vou para dentro do templodeVénus, cozer esta bebi demais, contraminha Neptunoebi demais, contraminha de água do mar, como se fôssemos vinhos esperou limpar barriga com beberragens salgadas. [590] Que mais obsquiar-nos um poucomais, teríamos adormecido ali mesmo. custo que nos deixou voltar vivos para casa. Ago vou vero que faz lá dentroo alcoviteiro,meu conviva. (Entra no templo.) sa Plauto segundo o antigo costume, entregaram a sua vida à protecção de Vénus e à sacerdotisa de Vénus. Torcei o pescoço à injustiça, antes que ela chegue até vós. DÉMONES Que é isto? TRACALIÃO Suplico-te, pelos teus joelhos, sejas quem fores, ancião... DÉMONES Porque não me largas os joelhos e explicas o que se passa, para fazeres esta barulheira? TRACALIÃO Rogo-te, suplico-te, se esperas [630] vir a ter este anomuita férula e suco de férula, e se desejas exportá-la sã e salva para Cápua e... ficares sempre com os olhos secos, sem remelas... DÉMONES Estás no teu perfeito juízo? TRACALIÃO Se esperas vir a ter muitos pés de férula, não hesites em ajudar-me no que te peço, ancião. DÉMONES [635] E eu asseguro, pelas tuas pernas, calcanhares e lombo que podes esperar uma grande colheita de paus de marmeleiro e que terás este ano uma rica colheita de bordoada, se não me dizes o que se passa para fazeres esta barulheira. TRACALIÃO Porqueme respondes torto? Só te desejei tudo de bom! DÉMONES [640] Também te desejo tudo de bom, peço que te aconteça o quemereces. Rudens (A Corda) TRACALIÃO Suplico-te, dá-me atenção. DÉMONES Qual é o assunto? TRACALIÃO Estão aqui dentro duas raparigas, inocentes, necessitadas do teu auxílio, às quais, contra o direito e as leis, foi feita e continua a fazer-se uma grande injustiça aqui no templo de Vénus. Até a sacerdotisa de Vénus (645) é indecorosamente maltratada. DÉMONES Que sujeito tão insolente ousa ultrajar uma sacerdotisa? Mas quem são essas raparigas? Que injustiça lhes fez ele? TRACALIÃO Vou dizer-te, se me deres atenção. Estão abraçadas à estátua de Vénus; há agora um homem sem-vergonha que as quer tirar de lá. Devem ser ambas de condição livre. DÉMONES [650] E quem é esse que assim desrespeita os deuses? Diz em poucas palavras. TRACALIÃO Um grandíssimo velhaco,malvado, parricida, perjuro, homem sem lei, desavergonhado, infame, um grande descarado, . numa palavra: um alcoviteiro. Quemais lhe hei-de chamar? DÉMONES Por Pólux, falas de um homem quemerece ser castigado. TRACALIÃO [655] Omalvado apertou o pescoço à sacerdotisa! Plauto Rudens (A Corda) J DÉMONES PorHércules! Fez a cama para sedeitar... Turbalião, Espárax, venham cá fora. Onde é que estão? apresentam, é-nos igual morrer: na adversidade, na desgraça, não há nada melhor do que amorte. TRACALIÃO TRACALIÃO Que éisto? é aquea? Tenho de ir lá-las Vai lá dentro, peço-te, defende-as. olá Palestra! Que con ac o DÉMONES (aos escravos, que saem de casa) PALESTRA Não vou repetir a ordem. Sigam-me por aqui. Quemme chama? TRACALIÃO TRACALIÃO Vamos,manda arrancar-lhe os olhos agoramesmo, como os Ampelisca!* cozinheiros fazem às sibas. AMPELISCA DÉMONES À Por favor, quemme chama? [660] Arrastem para aqui o sujeito pelos pés, como se fosse uma porcamorta. (Dirigese ao templo, com os escravos.) PALESTRA Quem chama pelo meu nome?TRACALIÃO (sozinho) Oiço uma grande algazarra. Penso que estão a desancar TRACALIÃO o alcoviteiro. Como gostava que arrancassem os dentes dos queixos a esse grandemalvado. Mas lá estão as raparigas a sair do templo,muito assustadas. Se olhares, ficas a saber. PALESTRA [680] Óminha esperança de salvação! TRACALIÃO CENA Não fales e tem coragem. Olha paramim. PALESTRA AMPELISCA TRACALIÃO PALESTRA» . Se ao menos pudesse não ser subjugada pela força que me . leva a usar força contramim própria... PALESTRA Agora estamos privadas de todos os bens e recursos, [665] auxilio, apoio. [Não há qualquer esperança] que nos traga salvação, [nem sequer sabemos] para que lugar havemos de seguir. Temos ambas tantomedo! [Tamanha] crueldade, tamanha injustiça [670] [nos foi feita] agora, aqui dentro, pelo nosso amo. Omalvado atirou-se à idosa sacerdotisa, empurrou-a e abanou-a demodo vergonhoso e arrancou-nos à força da estátua que está lá no fundo. Mas agora, [675] como as cnisas e a nossa sorte se TRACALIÃO Ah! Acaba com isso. Ésmuito tola. PALESTRA Pobre de mim, deixa deme consolar com palavras. Se não arranjas alguma ajuda, Tracalião, está tudo acabado. 56 s7 Rudens (A Corda) Mas 1 cresceste de uma concha. Não recuses as Suas conchas. [705] óptimo, aí vem o velho, meu e vosso patrono. Plauto AMPELISCA Mais vale morrer do que suportar que o alcoviteiro me maltrate. [685] Mas apenas tenho coragem de mulher. Quando f: penso na morte, o medo apodera-se do meu corpo. Por Pólux, que dia desgraçado! CENA IV DÉMONES LÁBRAX ESCRAVOS TRACALIÃO PALESTRA AMPELISCA TRACALIÃO Tenham coragem. PALESTRA DÉMONES (saindo do templo com os escravos e dirigindo-se a Desculpa, donde me virá essa coragem? Lábrax) Saido templo, ómais sacrílego dequantoshomensnasceram. (Às raparigas.) E vão-se sentar no altar. Mas onde estão elas?TRACALIÃO Digo-vos que não tenham medo. Sentem-se aqui no altar. TRACALIÃO (apontando para Palestra eAmpelisca)AMPELISCA Olha para aqui.Poderá este altar proteger-nosmelhor do que a estátua que há pouco abraçámos lá dentro, aqui no templo [690] de Vénus, DÉMONES donde, desgraçadas, fomos arrancadas à força? Óptimo. Era o que queríamos. Manda-o já aproximar-se. (A Lábrax.) Queres mesmo violar aqui as nossas leis para com osTRACALIÃO (fazendo-se importante) deuses? (A um escravo.) [710] Dá-lhe um soco na cara. Sentem-se já aqui, que eu daqui vos protegerei, seja como for. Considerem o altar como um acampamentomilitar: estes são os baluartes, daqui vos defenderei. Com a protecção de Vénus, avançarei contra a maldade do mercador. LÁBRAX Suporto estas afrontas, mas hás-de pagar-mas. DÉMONES AMPELISCA e PALESTRA Então o descarado ainda faz ameaças?Obedecemos-te. E, almaVénus, ambas te rogamos de joelhos, chorando, [695] abraçadas ao teu altar, que nos recebas e guardes sob a tua protecção. Faz que sejam castigados aqueles malvados que desrespeitaram o teu templo e permite que, com a tua graça, ocupemos este altar. Ambas fomos lavadas esta noite, por obra de Neptuno. [700] Não nos consideres indecentes, não tomes como ofensa, se pensas que há qualquer coisamenos bem limpa. LÁBRAX Roubaram-meo que émeu por direito. Levas-me asminhas. escravas contra a minha vontade. TRACALIÃO Arranja como juiz qualquer homem rico do senado da Cirenaica que decida se elas devem ser tuas, ou se não devem ser livres, [715] ou se não é justo meter-te na prisão e passares lá avida, até gastares o cárcere todo todo. TRACALIÃO Vénus, acho justo o que elas pedem. Devem obtê-lo de ti; deves desculpá-las. É omedo que as força a fazer isto. Dizem que 58 59 Plauto LÁBRAX Não estava hoje preparado para conversar com um patife, (A Démones) Dirijo-me a ti. DÉMONES Discute primeiro com este, que te conhece, LÁBRAX (a Démones) Quero tratar contigo. TRACALIÃO Mas é comigoque tens de tratar. Elas são tuas escravas ou não? LÁBRAX [720] São. TRACALIÃO Então anda, toca em qualquer delas, nem que seja com o dedomindinho... TRACALIÃO Por Hércules, vou imediatamente fazer de ti saco de pancada, vou pendurar-te e dar cabo de ti com socos, grande impostor. LÁBRAX Nãome será permitido tirar as minhas escravas do altar de Vénus? DÉMONES Não é permitido. Entre nós é lei. LÁBRAX [725] Não tenho nada a ver com as vossas leis. Porr sso, vou já levar estas duas. Tu, ancião, se gostas delas, tens de pagar-me Rudens (A Corda) com dinheiro sonante. Se elas agradaram a Vénus, que as tenha, se pagar. DÉMONES Pagar-te? Por agora, para saberes a minha opinião, atreve-te a usar contra elas a mínima violência, apenas por brincadeira; [730] mando-te embora daqu tão bem tratado que não te reconhecerás a ti próprio. (Aos escravos.) E sequandoeuordenar lhe da cara, dou-vos um enxerto de vara como se fossemoliveiras.olhos LÁBRAX Tratas-me com uma violência... TRACALIÃO E ainda criticas a violência, poço de infâmia? LÁBRAX E tu atreves-te a tratar-me com grosseria,meu refinado patife? TRACALIÃO (irónico) [735] Reconheço que sou um refinado patife e tu ummodelo de virtudes: haverá, por isso, menos razão para elas serem livres? LÁBRAX Ee tocar? LÁBRAX Livres como? TRACALIÃO E até, por Hércules, tuas senhoras, nascidas na própriaGrécia. Esta aqui (aponta para Palestra) nasceu emAtenas, de boas famílias. DÉMONES Que dizes tu? TRACALIÃO Que esta nasceu livre, em Atenas. DÉMONES (740] Desculpa, ela éminha compatriota? 61 TRACALIÃO Tu não és de Cirene? DÉMONES Não, nasci, fui criado e educado em Atenas na Ática. TRACALIÃO Por favor, ancião, defende as tuas conterrâneas! DÉMONES Minha filha... Quando olho para esta (aponta para Palestra), ainda que não estejas aqui, lembras-me os meus infortúnios. Perdi-a quando ela tinha três anos. Se estiver viva, sei que terá a mesma estatura. LÁBRAX [745] Paguei por ambas ao dono a quem pertenciam. Não interessa que sejam de Atenas ou de Tebas, contanto que me sirvam devidamente a sua servidão. TRACALIÃO Ai é, meu descarado? Com que então, ladrão de raparigas, roubas aos pais crianças nascidas livres e desonra-las com uma profissão indigna? [750] Quanto à outra (aponta para Ampelisca), não sei mesmo qual é a sua terra, mas sei que é melhor do que tu, grande indecente. LÁBRAX Tiras-me as palavras da bocal TRACALIÃO Aposta qual de nós tem o lombomais escorreito. Se não tiveres mais vergões no teu costado do que cavilhas num navio comprido, então sou o maior dos mentirosos. (755] Depois examina tu o meu, quando eu tiver inspeccionado o teu. Se não estiver tão perfeito que qualquer fabricante de odres possa dizer que é um óptimo coiro, perfeitíssimo para trabalhar, que razão haverá para não te cobrir de varadas, 62 Rudens (A Corda)Plauto até achar que basta? Porque olhas para as raparigas? Se lhes tocas, arranco-te os olhos. LÁBRAX [760] Comome proíbes, não tardarei a levar as duas comigo. DÉMONES Como vais fazer? LÁBRAX Vou buscar o fogo de Vulcanççéiinimigo de Vénus. (Afasta-se.) TRACALIÃO Onde é que ele vai? LÁBRAX (junto à casa de Démones)Olá! Está alguém em casa? Olá! DÉMONES Por Hércules! Se tocas nessa porta, faço uma seara na tua cara com uma forquilha demurros. ESCRAVO DOSAÇOITES (a Lábrax) Não temos lume, alimentamo-nos de figos secos. TRACALIÃO [765] Darei eu o lume, se puder acendê-lo na tua cabeça. LÁBRAX Por Hércules! Vou procurar lume noutro sítio. DÉMONES E então, quando encontrares? LÁBRAX Atearei aqui uma grande fogueira Plauto DÉMONES Para consumires a tua desumanidade? LÁBRAX Não, para queimar vivas estas duas no altar, é o que quero. Rudens (A Corda) DÉMONES Vai-te lá então. Não tirarei os olhos dele até voltares. TRACALIÃO Volto já. (Sai para a praia.) TRACALIÃO Por Hércules! Agarro-te logo pela barba, atiro-te ao lume (770) e ofereço-temeio tostado como alimento para os abutres. CENA V DÉMONES LÁBRAX ESCRAVOS PALESTRA AMPELISCA DÉMONES (à parte) Quando me ponho a pensar no que sonhei em sonhos, este DÉMONES (ameaçando Lábrax) é omacaco que quer à força arrancar estas andorinhas do ninho. [780] Ó alcoviteiro, preferes ficar quieto com correctivo ou ficar assim sem correctivo, se puderes escolher? LÁBRAX Pouco me importo nadinha com o que dizes, ancião. Elas são minhas. E mesmo que tu, ou Vénus, ou o supremo Júpiter não queiram, vou já arrancá-las do altar pelos cabelos. TRACALIÃO Sabes oque te peço, ancião?Que olhes porelas e as defendas da violência, até eu trazer o meu amo. DÉMONES (775] Procura o teu senhor e trá-lo aqui. DÉMONES TRACALIÃO Toca-lhes então... Mas que este não... LÁBRAX DÉMONES [785] Tocomesmo, por Hércules. Não sabe o que lhe acontecia, se lhes tocasse, ou tentasse... DÉMONES Pois bem; chega-te só para aqui. Toma cuidado. LÁBRAX (olhando para os escravos dos açoites) DÉMONES Manda apenas esses dois afastarem-se. Já tomei. Vai-te embora. TRACALIÃO (apontando para Lábrax) Vigia-o bem, não se vá embora. Prometemos ao carrasco DÉMONES Pelocontrário, entregar-lhe hoje ou um talento grande de prata ou este LÁBRAX malvado. Nãome parece, por Hércules. Plauto DÉMONES Que fazes, se se aproximarem? LÁBRAX Bato em retirada. Mas, por Hércules, velhote, se alguma vez topar contigo na cidade, [790] jamais alguém me chamará alcoviteiro se não te gozar antes de te deixar ir embora. DÉMONES Faz o que ameaças. Entretanto, se lhes tocares, vão dar-te um grande correctivo. LÁBRAX Grande como ? DÉMONES O que baste para um alcoviteiro. LÁBRAX [795] Pouco me importo com as tuas ameaças. Vou já levar ambas à força, mesmo contra tua vontade. DÉMONES Toca-lhes, vá... LÁBRAX Toco sim, por Hércules. DÉMONES Tocas? Mas sabes a que preço? Turbalião, vai já numa corrida a casa e traz para aqui duasmocas. LÁBRAX Mocas? DÉMONES Mas sólidas. Despacha-te. (A Lábrax.) [800] Farei que tenhas hoje o acolhimento quemereces. Rudens (A Corda) LÁBRAX Ai, desgraçado de mim, perdi hoje o capacete no navio. Como me daria jeito agora se estivesse a salvo. (A Démones.) Posso ao menos falar com elas? DÉMONES Não podes. [805] Ah! Por Pólux! Ainda bem que chega o homem da moca. LÁBRAX Por Pólux! Jáme põe as orelhas a arder. DÉMONES Vá, Espárax, pega ali numa dessas mocas. Vá, fiquem um dum lado e outro do outro. Fiquem ambos aí. Assim mesmo. Agora oiçam. [810] Se, por Hércules, ele hoje tocar nelas, nem que seja com um dedo, contra sua vontade, tratem-no bem com isto (aponta para as mocas) até não saber como ir para casa... ou dou cabo de ambos. Se ele se dirigir a alguma delas, respondam-lhe daqui em seu lugar. [815] Se ele quiser ir-se embora, dêem-lhe logo à volta das pernas com as mocas. LÁBRAX Nem sequerme deixam sair daqui? DÉMONES Disse o suficiente. E quando o escravo que foi buscar o amo aqui regressar com ele, voltem imediatamente para casa. [820] Procurem tratar disto com omaior cuidado. (Entra em casa.) LÁBRAX Oh! Por Hércules. Como estes templos mudam rapidamente... Agora torna-se de Hércules o templo que era de Vénus: o velho colocou aqui duas estátuas com mocas. Por Hércules, não sei para onde fugir. [825] Tudo se volta contamim, na terra e nomar. Palestra! Plauto ESCRAVO DOSAÇOITES Que queres? LÁBRAX Para longe, não está certo! (À parte.) Esta Palestra que responde não é aminha. Olá Ampelisca! ESCRAVO DOSAÇOITES Toma cuidado com o castigo.... LÁBRAX (à parte) Parece impossível. Estes inúteis até aconselhammuito bem, (Aos escravos.) [830] Sempre vos pergunto: Eh, vocês, incomodo seme aproximar delas? ESCAVO DOSAÇOITES A nós não. LÁBRAX E haverá algum incómodo paramim? ESCRAVO DOSAÇOITES Nenhum, se tiveres cuidado. LÁBRAX Cuidado com quê? ESCRAVO DOSAÇOITES (mostrando as mocas) Bem: com uma grande coça. LÁBRAX Por Hércules! Deixem-me ir embora, peço-vos. ESCRAVODOSAÇOITES Vai-te embora, se queres. LÁBRAX [835] Muito bem, por Hércules! Agradeço-vos. (Reflectindo.) Rudens (A Corda) Émelhor nãome ir embora. (Aos escravos.) Fiquem aí onde estão. (Reflectindo.) Por Pólux! Não me saí lá muito bem, mas tenho a certeza de que hoje vou acabar por vencê-las com um cerco tenaz. CENA VI PLEUSIDIPO TRACALIÃO LÁBRAX ESCRAVOS PALESTRA AMPELISCA PLEUSIDIPO (vindo da praia com Tracalião) Então o alcoviteiro quis arrancar a minha amiga à força, [840] com violência, do altar de Vénus? TRACALIÃO Exactamente. PLEUSIDIPO Porque não o mataste logo? TRACALIÃO Não tinha espada. PLEUSIDIO Pegasses num pau ou numa pedra. TRACALIÃO E havia de atacar o homem à pedrada, como um cão? PLEUSIDIPO Um grande tratante? LÁBRAX (avistando Pleusidipo) Agora estou perdido, por Pólux! Aí está Pleusidipo. [845]Vai já dar-me uma boa escovadela. PLEUSIDIPO As raparigas ainda estavam sentadas no altar quandovieste à minha procura ? Plauto TRACALIÃO Ainda lá estão sentadas. PLEUSIDIPO Quem é que agora lá as protege? TRACALIÃO Um idoso que não conheço, vizinho do templo de Vénus, Deu uma excelente ajuda. [850]Guarda-as agora comosescravos, (Importante.) Como eu tinha ordenado. PLEUSIDIPO Leva-me direitinho ao alcoviteiro. Onde está o fulano? LÁBRAX (mostrando-se) Vival PLEUSIDIPO Não quero saber de cumprimentos. Decide depressa: preferes ser levado à força comuma corda ao pescoço,ou preferes ser arrastado? Escolhe o que queres, enquanto é possível. LÁBRAX Não quero um nem outro. PLEUSIDIPO [855] Tracalião, vai já numa corrida até à praia e manda os que trouxe comigo irem ao meu encontro na cidade, junto ao porto, para entregarem este ao carrasco. Depois volta e fica aqui de guarda. Eu vou levar este fugitivo safado ao tribunal, à força. (Para Lábrax.) (860] Anda, marcha para o tribunal. LÁBRAX Que falta cometi? PLEUSIDIPO Ainda perguntas? Não aceitaste sinal pela rapariga e levaste-a daqui? 70 Rudens (A Corda) LÁBRAX Não levei. PLEUSIDIPO Porque negas? LÁBRAX Por Pólux! Porque a levei, mas, desgraçado de mim, não consegui transportá-la. [865]Prometi-te, sim, que estaria aqui ao teu dispor junto do templo de Vénus. Enganei-te? Não estou aqui? PLEUSIDIO Dirás as tuas razões no tribunal. Chega de palavreado. Segue-me. LÁBRAX (vendo Cármides sair do templo) Acode-me, por favor, caro Cármides. Sou levado à força com uma corda ao pescoço. CÁRMIDES Quem me chama? LÁBRAX Não vês como sou levado à força? CÁRMIDES Vejo e observo com prazer. LÁBRAX [870] Não queres acudir-me? CÁRMIDES Quem é que te leva à força? LÁBRAX O jovem Pleusidipo. Plauto CÁRMIDES Fizeste a cama para te deitares. Émelhor ires para a prisão de boa vontade. Coubete em sorte o quemuitos desejam para si, LÁBRAX [875] 0 quê?- - CÁRMIDES Encontrarem o que procuram. LÁBRAX Acompanha-me, por favor. CÁRMIDES Os teus conselhos são como tu. Vais para a prisão e pedes- me que te acompanhe até lá? PLEUSIDIPO Nãome largarás? LÁBRAX Estou perdido. PLEUSIDIPO Tomara que seja verdade! Tu, minha Palestra, e tu, Ampelisca, fiquem aqui nomesmo sítio até eu voltar. ESCRAVO DO CHICOTE [880] Aconselho que vão antes para nossa casa, até voltares. PLEUSIDIPO Parece-me bem. É um favor. LÁBRAX Estão a roubar-me. ESCRAVO DO CHICOTE A roubar-te como? Desanda! 72 Rudens (A Corda) LÁBRAX Palestra,peço-te, suplico-te... (Palestra e Ampelisca entram em casa.) PLEUSIDIO Segue-me, malvado. LÁBRAX (a Cármides) Hóspede! CÁRMIDES Não sou teu hóspede. Recuso a tua hospitalidade. LÁBRAX Assimme abandonas? CÁRMIDES Sou assim. Só caio à primeira. LÁBRAX [885] Que os deuses te desgracem! CÁRMIDES Diz isso a ti próprio. (Saem Pleusidipo e Lábrax para a cidade.) Creio que o homem se transforma em diferentes animais. Julgo que aquio alcoviteiro se transformaempombo, poisnão tardanada terá o pescoço no pombal. Hoje vai fazer ninho na prisão. [890] Como quer que seja, vou ser defensor dele, para, graças amim, poder ser... condenadomais depressa. (Sai também para a cidade.) ACTO IV CENA I DÉMONES DÉMONES (vindo de casa) Fizbemefoiagradávelterhojedadoauxílio aestas raparigas: já consegui clientes, e ambas com figura encantadora e muito 73 Plauto jovens. [895] Só que a maldita da minha mulher não pára de me vigiar, não vá eu catrapiscar as raparigas. Mas estou espantado com o que está a fazer o nosso escravo Gripo, que saiu durante a noite para pescar no mar? Por Pólux! Teria sido mais esperto se tivesse dormido em casa. [900] Agora desperdiça trabalho e redes, com o temporal que está e durou toda a noite. Sou capaz de cozinhar nos dedos o que ele hoje apanhar, de tal modo vejo o mar encapelar-se. Mas a minha mulher chama-me para comer, Volto para casa. [905] Não tarda a encher-me os ouvidos com a sua tagarelice. (Entra em casa.) CENA II GRIPO GRIPO (vindo da praia) Dou graças a Neptuno, meu patrono, que mora nas piscosas regiões salgadas, pois me despachou dessas regiões bem abastecido e me retirou dos seus territórios carregado com numerosos despojos, [910] com a minha barcaça a salvo; e porque no mar agitado me tornou possuidor de abundante pescaria nova. Extraordinária, inacreditável e afortunadamente, coube-me esta pescaria. E não apanhei hoje uma onça de peixe, só isto que aqui trago na rede. [915] Na verdade, quando me levantei prontamente de madrugada, coloquei o lucro à frente do descanso e do sono: apesar da violenta tempestade, procurei obter com que aliviar a pobreza domeu amo e aminha servidão; nãome poupei a esforços. [920] Nada vale um sujeito preguiçoso, tenho enorme aversão a essa raça. Quem quer cumprir a tempo as suas obrigações deve estar vigilante: não deve esperar que o amo o desperte para o seu trabalho. Com efeito, os que dormem regaladamente descansam sem lucro e com dano. Mas agora eu, que fui diligente, encontrei com que ser preguiçoso, se quiser. (925) Encontrei isto nomar (mostra uma mala): tem qualquer coisa dentro. O que quer que esteja lá dentro é pesado: penso que aqui há ouro. Ninguém sabe disto senão eu. Chegou a ocasião, Gripo, de o pretor te conceder imediatamente a liberdade. Agora vou 74 Rudens (A Corda) fazer assim, é assim o meu plano: irei até junto do meu senhor, com habilidade e astúcia. Pouco a pouco, oferecerei dinheiro pela minha pessoa, para ser libertado. (930) Depois, quando for livre, logo arranjarei terras, casa, escravos, farei negócio com grandes navios, serei rei entre os reis. Em seguida, para meu gozo, construirei um navio e imitarei Estratonico: visitarei cidades. Quando tiver reputação ilustre, fortificarei uma grande cidade. A essa cidade darei o nome de Gripo, [935] monumento daminha fama e feitos, e estabelecerei nela um vasto reino. Tenho na cabeça construir grandes projectos. Agora vou esconder esta mala. Entretanto, este rei (bate com a mão no peito) vai comer com vinagre e sal, sem conduto. (Dirige-se a casa de Démones.) CENA III GRIPO TRACALIÃO TRACALIÃO (voltando da praia e vendo Gripo) Olá! Espera aí! GRIPO Espero porquê? TRACALIÃO Para te enrolar essa corda que arrastas. GRIPO Deixa lá TRACALIÃO Mas, por Pólux, vou ajudar-te: « bem que se faz aos bons não se perde. GRIPO [940] Ontem a tempestade foi violenta, não tenho nenhum peixe, rapaz, não penses que tenho. Não vês que trago a rede molhada, sem cardume escamoso? 75 Plauto TRACALIÃO Por Pólux! Não precisodepeixe, estou ansiosopor conversar contigo. GRIPO Matas-me de aborrecimento, quem quer que tu sejas. TRACALIÃO Não te deixarei sair daqui. Espera! GRIPO (945) Tem cuidadinho com o castigo... Porque me reténs, malvado? TRACALIÃO Ouve. GRIPO Não oiço. TRACALIÃO Mas vais ouvir-me já, por Pólux! GRIPO Bem, diz lá o que TRACALIÃO "Olha! O que te quero dizermerecemesmo atenção. Explica, o que é? TRACALIÃO Vê se ninguém nos segue de perto. E isso interessa-me? 76 Rudens (A Corda) TRACALIÃO Sem dúvida. [950] Mas poderei esperar que sejas discreto? GRIPO Diz-me apenas de que se trata. TRACALIÃO Cala-te. Digo, se me garantires que não me trairás. GRIPO (955) Garanto, não te trairei, quem quer que sejas. TRACALIÃO Ouve. Vi alguém que fazia um roubo. Conhecia o dono a quem era feito. Depois, dirijo-me eu próprio ao ladrão e proponho-lhe um entendimento, deste modo: "Sei a quem foi feito este roubo. Agora, se me queres dar metade, não farei denúncia ao dono". Ele ainda não me respondeu. [960] O que é justo que me seja dado? Espero que digas metade. GRIPO Por Hércules, atémais. Acho que, se ele não der, deve dizer- se ao dono. TRACALIÃO (contendo o riso) Vou seguir o teu conselho. Agora dá atenção, porque tudo isto te diz respeito. GRIPO Que se passa? TRACALIÃO Conheço hámuito o homem a quem pertence estamala. GRIPO . 0 quê? Plauto TRACALIÃO E como a perdeu. GRIPO [965] E eu sei como foi encontrada, conheço o sujeito que a encontrou e sei quem é agora o dono. Por Pólux! Isto não tediz mais respeito do que sso a mim. Eu conheço a quem agora pertence, tu aquele de quem foi antes. Demim ninguém a levará, não esperes tu seres capaz. TRACALIÃO Se o dono vier, não a leva? GRIPO O dono disto - não te enganes - [970] não é nenhuma criatura senão eu, que apanheii isto naminha pescaria. TRACALIÃO Ai é? GRIPO Por acaso achas que há no mar algum peixe meu? Quando os apanho - se apanho alguns - são meus, considero-os meus. Ninguém os reclama, nem ninguém pretende uma parte. Vendo- os todos no mercado, diante de toda a gente, como mercadoria minha. (975) Não há dúvida, omar é de todos. TRACALIÃO -Concordo. Mas - pergunto - esta mala de viagem não será também de todos paramim? Foi encontrada nomar de todos. GRIPO Que grande falta de vergonha. Se a justiça fosse a que dizes, os pescadores estariam perdidos. Logo que os peixes fossem expostos na peixaria, [980] ninguém os comprava, cada um reclamaria para si uma parte dos peixes, diriam que tinham sido apanhados nomar de todos. Rudens TRACALIÃO Que dizes, descarado? Ousas comparar amala com peixes? Parece-te amesma coisa? GRIPO Não depende demim. Quando lanço rede e anzol, tiro tudo o que está agarrado. [985] O que rede e anzóis apanham é meu, muitissimomeu. TRACALIÃO Mas não é, por Hércules, se apanhaste alguma bagagem. GRIPO Filósofo! TRACALIÃO Etu, bruxo, alguma vez visteumpescadorapanharumpeixe- mala ou levar algum para omercado? Não vais exercer aqui todas as profissões que quiseres. [990] Pretendes, infame, ser pescador e maleiro? Ou tens de me mostrar um peixe que seja mala ou não levarás o que não nasceu nomar e não tem escamas. GRIPO Como? Nunca ouviste antes dizer que houveumpeixe-mala? TRACALIÃO Não há nenhum, malvado. GRIPO Há sim. Sei eu que sou pescador. [995] Mas raramente é apanhado, nenhum vem para terramenos vezes. TRACALIÃO Falasemvão. Julgasqueansegues engamarme, or GRIPO Desta cor só se apanham muito poucochinhos. Há outros com a pele avermelhada, outros grandes e negros. 79 Plauto TRACALIÃO [1000] Bem sei. Por Hércules! (Faz um gesto de ameaça de pancada.) Acho que, se não te acautelas, vais transformar-te em peixe-mala: a tua pele ficará vermelha e logo a seguir negra. GRIPO (à parte) Quemalvado havia hoje de encontrar! TRACALIÃO Falamos, falamos, e o dia vai-se. Fazes favor de ver quem queres que nos dê uma decisão. Não levarás hoje esta mala, se não indicares um fiador ou um árbitro [1005] que decida este assunto. GRIPO Diz-me lá: estásbom da cabeça? TRACALIÃO Estou louco furioso. Rudens (A Corda) GRIPO E eu desvairado. Mas não vou largá-la! TRACALIÃO Acrescenta só uma palavra; esmurro-te logo os miolos. Se não a largares, espremo logo todos os líquidos que tens, como se espreme uma esponja nova. GRIPO [1010] Toca-me, bato-te no chão, como costumo fazer com o polvo. Queres lutar? TRACALIÃO Para quê? Porque não divides antes a pescaria?A mala. GRIPO Daqui não levas senão bordoada, não peças. Vou-me embora daquip. TRACALIÃO Ai sim? TRACALIÃO Mas eu vou daqui virar de bordo o navio para que não te vás. Fical GRIPO Sem dúvida. TRACALIÃO GRIPO Se tu és o vigia deste navio, eu serei o timoneiro. [1015] Larga o cabo, malvado. Ésmesmo parvo GRIPO TRACALIÃO Largo. Larga tu amala. Salve, grande sábio! TRACALIÃO GRIPO Por Hércules! Daqui não ficarás hojemais rico um chavo. TRACALIÃO Não conseguirás convencer-me recusando obstinadamente; se não me for dada uma parte, ou se recorre a um árbitro, ou se põe num depositário. Plauto Algo que apanhei nomar ? CALIÃO mas eu vi da praia. (1020) Com omeu trabalho, esforço e rede e barco? [RACALIÃO E se agora vier o dono a quem pertence, eu, que vi de longe pegares nela, soumenos ladrão do que tu? tu modo nenhum. (Procura ir-se embora.) [RACALIÃO pára, flagelo, como provas que não sou parceiro, mas sou Explica-me. não sei, não conheço estas vossas leis urbanas; (1025) só digo é que esta (aponta para a mala) éminha. TRACALIÃO E eu também digo que éminha. Descobri omodo de não seres ladrão nem parceiro. CALIÃO modo? Deixa-me ir embora daqui e segue o teu caminho, calado; tu denunciarás a ninguém e eu não te darei nada; tu calas- aborreças. Rudens (A Corda) TRACALIÃO (1030] Atreves-te a fazer uma proposta? GRIPO Faço já: que te vás embora, largues a corda e não me TRACALIÃO Espera, até eu fazer uma contraproposta. GRIPO Por Hércules, faz-me o favor de te ires embora! TRACALIÃO Conheceste alguém nestes lugares? GRIPO Osmeus vizinhos, convém. TRACALIÃO Ondemoras tu aqui? GRIPO Longe, lá longe, mesmo nos confins dos campos. TRACALIÃO (1035] Não queres tomar por árbitro quemmora nesta casa? GRIPO Larga um pouco a corda, enquantome afasto para pensar. TRACALIÃO Seja. GRIPO (à parte) jadrão Espera. De que GRIPO Óptimo! O caso está arrumado, esta presa é minha para ficareimudo. Isto é excelente e justíssimo. sempre. Chama omeu amo como árbitro, aqui dentro daminha te, morada. Por Hércules, ele nunca tirará um trióbulo ao seueu Plauto homem. [1040] Este não sabe mesmo as condições que propôs. (A Gripo) Vou procurar o árbitro. TRACALIÃO Então? GRIPO Embora esteja seguro deque amalame pertence por direito, resolva-se isto assim, em vez deme bater agora contigo. TRACALIÃO Agora entendes-me. GRIPO Ainda que me leves a um árbitro desconhecido, se ele for honesto conheço-o, ainda que o não conheça. Se não for honesto, é desconhecidíssimo, embora o conheça. CENA IV TRACALIÃO GRIPO DÉMONES PALESTRA AMPELISCA ESCRAVOS DÉMONES (saindo de casa com as jovens) [1045] PorHércules, pequenas, a sério, emboraqueira ajudar-vos, receio que aminhamulherme expulse de casa por vossa causa; dirá que eu1 trouxe concubinas para diante dos seus olhos. Refugiem-se no altar... (Pensando nos ciúmes damulher.) Émelhordo que se for eu. PALESTRA eAMPELISCA Infelizes, estamos perdidas. DÉMONES Não tenham medo, manter-vos-ei a salvo. (Aos escravos) Mas por que razãn as [1050] acompanham cá fora? Estando eu presente, ninguém lhes farámal. Digo-vos que vão ambos já para casa, protectores livres da protecção. Rudens (A Corda) GRIPO Viva, meu amo! DÉMONES Viva, Gripo, como passas? TRACALIÃO (a Démones) Este homem é teu escravo? GRIPO Nãome envergonho disso. TRACALIÃO Não trato nada contigo GRIPO Então faz o favor de te ires embora. TRACALIÃO Responde-me por favor, ancião. Este é teu escravo? DÉMONES Émeu. TRACALIÃO Ah! Se é teu, muito bem. [1055] Saúdo-te de novo. DÉMONES Eeuati Nãoéstu quedaqui fostehábocadoàprocurado teu amo? TRACALIÃO Sou eu. DÉMONES Que queres agora? TRACALIÃO Este émesmo teu vo? DÉMONES Émeu. TRACALIÃO Ainda bem que é teu. DÉMONES De que se trata? TRACALIÃO (apontando para Lábrax) Este sujeito é ummalvado. DÉMONES Que te fez omalvado do sujeito? TRACALIÃO Quero que quebrem os tornozelos a este sujeito. DÉMONES (1060) O que há? Por quemotivo disputam ambos agora? TRACALIÃO Vou dizer. GRIPO Não, sou eu que vou dizer. TRACALIÃO Parece-me que sou eu o queixoso... GRIPO Se tivesses vergonha, ias-te daqui embora. DÉMONES Gripo, dá atenção e cala-te. GRIPO Então este vai falar primeiro? Rudens (A Corda)Plauto DÉMONES Ouve. (A Tracalião.) Fala tu. GRIPO Dás a palavra ao escravo deumestranho antes do que ao teu? TRACALIÃO Não se poderá calá-lo? [1065] Como comecei a dizer, o alcoviteiro que há pouco expulsaste do templo... este... (aponta para Gripo) tem amala dele. GRIPO Não tenho. TRACALIÃO Negas o que vejo com osmeus olhos? GRIPO Mas queria que não visses. Tenho e não tenho: que te que faço? TRACALIÃO Importa como a tens, de direito ou ilegalmente. GRIPO (1070] Se não a apanhei, não há razão para me entregares à cruz. Se a agarrei no mar com a rede, como é mais tua que minha? TRACALIÃO Balelas! coisa passou-se como digo.A GRIPO Que dizes? TRACALIÃO (a Démones) Até acabar de falar quem começou, fazes favor de o calar, se é teu escravo. Plauto GRIPO O quê, queres que ele faça o que o teu amo costuma fazer-te? [1075] Se ele costumamandar-te calar, aqui o nosso não costuma. DÉMONES (divertido) Neste palavreado, ele fica a ganhar...Que queres agora, diz-me. TRACALIÃO Na verdade, não é para mim que peço parte desta mala, nem nuncahoje disse serminha.Mas tem ládentro da rapariga que há pouco disse que era livre. DÉMONES [1080] Estás a falar daquela que há pouco dizias ser minha compatriota? TRACALIÃO Exactamente. E os pequenos objectos que tinha em pequena estão aqui nesta caixinha que está na mala. Não tem utilidade para ele (aponta para Gripo), mas auxiliará a pobrezinha, se lhe dermeios de procurar os pais. DÉMONES Farei que a dê. Cala-te. GRIPO [1085] PorHércules, não vou dar-lhe nada. TRACALIÃO Não peço nada senão caixinha e os pequenos objectos. GRIPO E se elas forem de ouro? TRACALIÃO Que te importa? Será pesado ouro pelo ouro, igualar-se-á prata com prata. Rudens (A Corda) GRIPO Mostra-me o ouro, por favor; depois deixote ver a caixinha. DÉMONES (a Gripo) Tem cuidado com o castigo e cala-te. (A Tracalião.) Continua tu com o que começaste a dizer. TRACALIÃO [1090] Só te peço que tenhas dó desta pequena, se a mala é do alcoviteiro, como desconfio. Por enquanto, isto é só uma suposição, não tenho a certeza. GRIPO Estão a ver como omaldito arma uma ratoeira? TRACALIÃO Deixa-me continuara falar. Seestamalaédomalvado, como digo, [1095] elas (aponta para as raparigas) poderão reconhecê-la manda que ele amostre. GRIPO O quê? Mostrar? DÉMONES Gripo, não pede njustamente que semostre amala. GRIPO Pelo contrário, por Hércules, é uma injustiça extraordinária. DÉMONES . Então porquê? GRIPO Porque, se a mostrar, é claro que elas dirão logo que a reconhecem. Plauto TRACALIÃO Ó fontede crimes, julgas que são todos como tu, fontede perfídia? GRIPO (1100) Aguento facilmente tudo isto, contanto que este(aponta para Démones) esteja do meu lado. TRACALIÃO Na verdade, ele está agora do teu lado, mas a evidênciaestará por certo do lado delas. DÉMONES Gripo, dá atenção. Tu (aponta para Tracalião), diz o quepretendes, em poucas palavras. TRACALIÃO Já disse,mas repito, senão percebestebem. Estas duas, como já afirmei, devem ser livres; [1105] esta (aponta para Palestra) foiroubada de Atenas em criança. GRIPO Diz-meo que importa àmala que elas sejam escravas ou livres. TRACALIÃO Malvado, queres que lembre tudo outra vez, até o dia acabar! DÉMONES Deixa-te de insultos e explica-me o que pedi. GRIPO Que Júpiter e os deuses te confundam! Que dizes, bruxo? Então elas sãomudas, não são capazesde falar a seu favor? Rudens (A Corda) TRACALIÃO Calam-se, porque uma mulher é sempre melhor quandotá calada do que quando fala. GRIPO (1115) Por Pólux, nessa medida não és para mim nemhomem, nem mulher: TRACALIÃO Porquê? GRIPO Porque nunca prestas, nem quando falas, nemquando estáscalado. (A Démones.) Por favor, será que eu poderei hoje falar? DÉMONES Se disseresmais uma palavra, esborracho-te a cabeça. TRACALIÃO Como comecei a dizer, ancião, peço-te [1120] que omandes entregar-lhes a caixinha. Se ele reclama uma recompensa por ela,ser-lhe-á dada; e que fique com tudo omais que está dentro. GRIPO Agora já dizes isso, porque percebes que é meu de direito há pouco pedias metade... TRACALIAO Mas ainda peço.TRACALIAO Nestamala deve estar uma caixinha demadeira (1110] onde há indícios com que esta (aponta para Palestra) possa reconhecer Já vi um atirar-se, embora sem levarJá vi um atirar-se, embora sem levar DÉMONES (a Gripo) (1125] Não conseguirei calar-te sem te castigar? os seus pais, coisas que tinha quando, em pequena, desap de Atenas, como antes dise. GRIPO Se ele se calar, eu calo-me; se ele falar, deixa-me falar também. Plauto DÉMONES Dá-me já essa mala, Gripo. GRIPO A ti, vou confiá-la, mas tens de ma devolver, se não houver dentro nenhuma dessas coisas. DÉMONES Será devolvida. GRIPO Toma. DÉMONES Ouve agora o que digo, Palestra - e tu também, Ampelisca. (1130) Esta mala é ou não aquela em que dizias estar a tua caixinha? PALESTRA É essa. GRIPO Desgraçado de mim, estou perdido, por Hércules. Disse logo que é ela, mesmo antes de a ver bem. PALESTRA Vou esclarecer-te o assunto: dentro desta mala deve estar uma caixinha de madeira. Vou dizer-te, uma a uma, as coisas que tem dentro; [1135] tu nãome mostrarás nada. Se não acertar, falarei em vão. Ficareis com ela e tudo.o que tiver dentro. Mas, se acertar, então suplico-te que me sejam devolvidas as minhas coisas. DÉMONES Parece-me bem. Pedes apenas simples justiça, acho eu. GRIPO E eu acho simples injustiça, por Hércules. E se ela é feiticeira 92 Rudens (A Corda) ou adivinha, e acertar com tudo [1140] o que está dentro, a adivinha ganhará? DÉMONES Nada obterá, se não disser a verdade: adivinhará em vão. Desata a mala, para eu saber logo qual a verdade. TRACALIÃO (à parte) Está arrumado... GRIPO Está desatada. DÉMONES Abre. PALESTRA Vejo a caixinha. DÉMONES É esta? PALESTRA É essa.Ómeus pais, tenho-vos aqui fechados: [1145] guardei aqui os meus recursos e a esperança de vos reconhecer. GRIPO (irónico) Por Hércules, sejas quem fores deves ter os deuses irados contra ti, porque fechaste os teus pais em lugar tão estreito!... DÉMONES Gripo, aproxima-te, estamos a tratar do teu assunto. E tu, pequena, afasta-te para longeedizoqueestá dentroe que aspecto tem; lembra-te de tudo. [1150] Se, por Hércules, te enganares pouco que seja e depois pedires para emendar, perderás o teu tempo, menina. Plauto GRIPO Falas com justiça. TRACALIÃO Por Pólux, não fala de ti, tu és injusto. DÉMONES Fala logo, pequena. Gripo, cala-te e dá atenção. PALESTRA Há uns pequenos objectos. DÉMONES Vejo-os aqui. GRIPO Estou perdido, logo no início da luta! (A Démones.) [1155] Espera, nãomostres. DÉMONES Que aspecto têm? Responde, sem interrupção. PALESTRA Primeiro há uma espadinha de ouro, com uma inscrição. DÉMONES Diz então o que está escrito na espadinha. PALESTRA O nome do meu pai. Depois, ao lado, há uma machadinha de dois gumes, também de ouro, com uma inscrição. Na machadinha está o nome daminhamãe. DÉMONES Espera. [1160] Diz-me qual é o nome do teu pai que está na espadinha. Rudens (A Corda) PALESTRA ones. DÉMONES Deuses imortais! Que esperança aminha! GRIPO E então aminha, por Hércules? TRACALIÃO (a Démones e Palestra) Por favor, continuem sem parar. GRIPO Calminha! (Entre dentes) Ou vai-te enforcar. DÉMONES Diz-me qual o nome da tua mãe que está aqui na machadinha. PALESTRA Dédalis. DÉMONES Os deuses querem salvar-me! GRIPO E causar aminha perda. DÉMONES (1165) Gripo, esta deve ser aminha filha! GRIPO Tantome faz. (A Tracalião.) Que todos os deuses te percam, tu que hojeme viste com os teus olhos, emaldito seja eu também que não olhei à volta cem vezes, paraninguémme observar antes de tirar a rede da água. Plauto PALESTRA (continuando) Depois uma foicinha de prata com duasmãozinhas à volta, [1170] e uma porca. GRIPO Vai-te enforcar,mais a porca e os leitões! PALESTRA E há uma bolinha de ouro que omeu paime deu no dia dos meus anos. DÉMONES É ela, sem dúvida! Não consigo conter-me sem a abraçar. Viva, minha filha, sou eu o pai que te criou. Sou Démones e, olha, a tua mãe, Dédalis, está aqui dentro. (Aponta para a casa.) PALESTRA [1175] Viva, meu pai que já não esperaval DÉMONES Viva, com que prazer te abraço. TRACALIÃO Que alegria ver o que vos sucedeu devido à vossa dedicação. DÉMONES Toma, vê se levas para dentro estamala; anda, Tracalião. TRACALIÃO Aqui estão as desgraças de Gripo. (Zombateiro.) Muito me alegro, Gripo, que este assunto te tenha corridomal. DÉMONES Anda, vamos, minha filha, até junto da tua mãe. [1180] Contigo poderá averiguar este caso com mais indícios; quem mais te cuidou, mais sinais teus reconhece. Rudens (A Corda) PALESTRA Vamos todos para dentro, já que temos assuntos em comum. Segue-me, Ampelisca. AMPELISCA Como me alegro por os deuses gostarem de til (Démones, Palestra, Ampelisca e Tracalião entram em casa). GRIPO Não sou mesmo um desgraçado, eu que pesquei hoje esta mala [1185] e quando a pesquei não a escondi num sítio isolado? Por Pólux, julgaria eu que a presa ia dar-me trabalho, por me ter saído em sorte com temporal tão violento?... Por Pólux, julgo que tem lá dentro prata e ouro em abundância. Não será melhor entrar e enforcar-me, às escondidas, [1190] pelo menos enquanto não me passar este desgosto? (Entra também em casa.). CENA V DÉMONES DÉMONES (falando consigo) Pelos deuses imortais! Quem haverá mais afortunado que eu, que inesperadamente encontrei a minha filha? Quando os deuses querem ser propícios a alguém, não realizam de algum modo os seus desejos, se forem piedosos? (1195] Hoje eu, que não tinha esperança nem acreditava, encontrei inesperadamente a minha filha. E vou dá-la a um jovem ateniense de alta estirpe, de boas famílias, e meu parente. Antes de mais, quero chamá-lo para junto de mim quanto antes e mandei o seu escravo sair, [1200] para ir ao fórum. Admirome, por ainda não ter saído. Aproximemo- nos da porta. (Olha para dentro de casa.) Que vejo? A minha mulher ainda tem a filha abraçada? Como é despropositada e aborrecida no seu afecto! Plauto CENA VI DÉMONES TRACALIÃO DÉMONES (falando para casa) [1205] Ó mulher, é melhor parares um bocado com os beijinhos. E prepara tudo para quando eu entrar em casa fazer um sacrifício aos Lares familiares, que aumentaram a nossa família. Temos em casa cordeiros e porcos para sacrifício. Mas, mulheres, porque não deixam Tracalião sair? Ah, óptimo, lá sai ele. TRACATTÃO (saindo de ensa) [1210] Onde quer que Pleusidipo esteja, vou já descobri-lo e trazê-lo para junto de ti. DÉMONES Diz-lhe o que aconteceu quanto àminha filha. Pede-lhe que deixe tudo omais e venha para aqui. TRACALIÃO Está bem. DÉMONES Diz-lhe que lhe darei aminha filha em casamento. TRACALIÃO Está bem. DÉMONES E que conheci1 o pai dela e que émeu parente. TRACALIÃO Está bem. DÉMONES [1215) Mas despacha-te. Rudens (A Corda) TRACALIÃO Está bem. DÉMONES Ele que se apresse, para se tratar da ceia. TRACALIÃO Está bem. DÉMONES Está bem para tudo? TRACALIÃO Está bem. Mas sabes o que quero de ti? Que te lembres do que prometeste: eu ser hoje livre. DÉMONES Está bem. TRACALIÃO Vê se pedes a Pleusidipo queme dê a liberdade. DÉMONES Está bem. TRACALIÃO Emanda a tua filha pedir-lhe. Convencê-lo-á facilmente. DÉMONES Está bem. TRACALIÃO (1220) E queme case com Ampelisca, quando eu for livre. DÉMONES Está bem. Plauto TRACALIÃO E que eu comprove com factos o vosso reconhecimento. DÉMONES DÉMONES