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SER HOMOSSEXUAL NO SÉCULO XXI: OS DESAFIOS E AS 
CONQUISTAS VIVENCIADOS PELOS ASSOCIADOS DO GRUPO 
SHAMA - UBERLÂNDIA/MG
1
 
 
Selma Aparecida da Costa 
Ana Lúcia Martins Kamimura 
 
RESUMO 
O presente trabalho resulta de pesquisa realizada junto aos associados do grupo SHAMA 
(Associação Homossexual de Ajuda Mútua) com a finalidade de compreender o que pensam 
sobre Homossexualidade a partir de suas representações sociais. Para tanto, inicialmente 
apresentamos uma análise histórica de como vem sendo estruturado o núcleo familiar no 
decorrer dos séculos. Analisamos como a ideologia dominante influencia em nossa formação 
moral, social e sexual, colaborando de maneira expressiva na formação de nossa identidade e, 
também, discutimos sobre a sexualidade humana, onde retratamos o pensamento de vários 
estudiosos sobre o tema. Por meio de pesquisa aplicada em campo, levantamos informações e 
relatos pessoais, bem como questionamentos sobre as relações sociais cotidianas deste grupo 
na família e na sociedade. Neste sentido, compreendemos que a homossexualidade é um 
assunto vergonhoso para várias pessoas, tornando-se de difícil compreensão e aceitação, 
porém, apesar destes estigmas, este público tem lutado por seus direitos e se organizado para 
efetivação dos mesmos. Outra questão diz respeito ao fato de assumirem uma orientação 
sexual diferente da tradicional, o que acarreta situações constrangedoras para eles e o grupo 
familiar onde o tema sexualidade nem sempre foi discutido abertamente. A pesquisa reflete 
ainda como o reconhecer-se homossexual gera conflitos e negações e, a dificuldade de 
assumir-se faz com que alguns homossexuais permaneçam em silêncio, receosos dos 
julgamentos do grupo familiar a da sociedade em geral. 
 
1. Introdução 
 
Mesmo em épocas distintas a homossexualidade sempre esteve presente no cotidiano 
da humanidade, sendo tratada sob perspectivas diferentes de acordo com o momento 
histórico. Neste contexto, ainda hoje a relação homoafetiva não é vista com “bons olhos” para 
 
1 Este artigo é parte integrante do trabalho monográfico intitulado “AS DORES E AS DELÍCIAS DE 
VIVENCIAR A HOMOSSEXUALIDADE: UM ESTUDO DOS ASSOCIADOS DO GRUPO SHAMA EM 
UBERLÂNDIA”, apresentado por Selma Aparecida da Costa, sob a orientação da prof. Me. Ana Lúcia Martins 
Kamimura para obtenção do título de bacharel em Serviço Social pela Faculdade Católica de Uberlândia em 
2011/1. 
 
uma grande parte da sociedade. Para Suplicy (1983) cada geração pintou a sexualidade e a 
homossexualidade de acordo com suas preocupações e de forma a reforçar a concepção sexual 
de seu tempo. E, para Chauí (1991, p. 22): “A repressão sexual se diferencia bastante no 
tempo e no espaço, estando articulada às formas complexas de simbolização que diferentes 
culturas [...]”. Percebe-se, pois que o ato repressivo, mesmo que de forma e maneira 
diferentes, se faz presente em todos os contextos sociais. Assim, a humanidade convive com 
esta realidade e, de certa forma e em certa medida, tem ao longo da história, naturalizado esta 
questão. 
Segundo Suplicy (1983, p.34): “A grande maioria dos pais busca uma receita, uma 
resposta fácil para baixar sua ansiedade diante da situação que eles estão vivendo e eliminar a 
sensação de culpa. A procura é por alívio e não por um aumento de conhecimento”. 
Ao tentar esclarecer junto aos associados do Grupo Shama - Associação Homossexual 
de Ajuda Mútua
2
 –, como cada grupo familiar trata esse tema, observamos que existem 
múltiplas interpretações, em relação à temática homossexualidade. Alguns grupos familiares 
tratam o tema com mais reservas e até mesmo evitam falar, outros conseguem tratar sobre o 
assunto com uma visão mais esclarecedora. Foi neste contexto onde a discussão envolvendo a 
convivência, o medo da não aceitação, da discriminação se fez presente, que se desencadeou a 
questão norteadora da presente discussão: para os associados do grupo Shama, quais os 
reflexos de sua orientação sexual na realidade social em que estão inseridos? 
Para tanto, objetivamos compreender o que pensam os associados do grupo Shama sobre 
Homossexualidade a partir de suas representações sociais. Evidencia-se a partir daí que é 
interesse deste estudo buscar compreender o papel social que cada indivíduo ocupa no cenário 
familiar, apontando a relevância do tema. 
 Como pressuposto básico percebe-se que os homossexuais ainda são foco de 
preconceitos nesta sociedade, que historicamente desenvolveu padrões culturais de 
comportamento baseados em conceitos morais e dogmáticos. Nesta perspectiva, além dos 
espaços públicos, o homem/mulher que têm orientação homoafetiva, em muitos casos é 
excluído do próprio seio familiar, o que os levam, via de regra, a não assumirem abertamente 
a própria identidade. Nesta perspectiva, observa-se que os associados do grupo Shama, 
também vivenciam esta realidade. 
No encaminhamento metodológico utilizamos de pesquisa aplicada em campo para 
levantamento de dados quantitativos e qualitativos com os associados do Grupo Shama. Para 
 
2
 O Grupo SHAMA é uma organização da sociedade civil sem fins lucrativos que apóia e luta pelas causas e 
Direitos dos homossexuais. Esta associação foi criada em 2003, a partir da intenção de um grupo de quatro 
amigos que interessados em discutir questões da comunidade LGBT (Lésbicas, Gays Bissexuais e 
Transgêneros), passou a se reunir periodicamente, o grupo foi ganhando novos adeptos e simpatizantes tornando-
se uma associação. 
 
tanto, a pesquisa foi realizada por amostragem não probabilística por acessibilidade com 06 
(seis) associados
3
 do grupo Shama. Inicialmente, o estudo se norteou por meio de pesquisa 
bibliográfica, na busca de embasamento teórico que conduzisse a análise sobre representações 
sociais, especificamente sobre os reais desafios da convivência familiar com o homossexual. 
A coleta dos dados se realizou com a utilização da técnica de entrevista estruturada por 
melhor se adequar ao objetivo do projeto, visto que possibilita uma maior interação entre as 
partes (pesquisador e pesquisado), condição necessária para abordar o tema. Após a coleta dos 
dados, as informações foram analisadas em seu conteúdo, resgatando a subjetividade e a 
originalidade das respostas. Todos os dados, a partir de então, foram analisados 
criteriosamente, considerando a opinião de cada entrevistado dentro de sua individualidade, 
para então serem discutidos em consonância com a base teórica. 
 
2. A Luta pela garantia e o reconhecimento dos Direitos dos Homossexuais no Brasil 
 
Devemos considerar que os direitos humanos representaram uma grande conquista 
para a humanidade, pois conforme sua especificação abrangente se chega à conclusão que o 
respeito à dignidade são essenciais para universalização das pessoas. Porém para que ocorra 
esta universalização se faz necessário a eliminação do preconceito e da discriminação em 
todas as suas formas: sociais, culturais e ideológicas. 
Conceitualmente, o termo homossexual foi criado por um medico húngaro Karoly 
Maria Kertbeny em 1869. Somente na década de 1890, aparece pela primeira vez em inglês a 
palavra „„Homossexualidade‟‟usada por Charles Gilbert. A partir de então se passou a 
designar como homossexuais as pessoas do mesmo sexo/ gênero (homens e mulheres) que 
sentem atração entre si. 
Somente em 1973, os Estados Unidos retirou “homossexualismo” da lista dos 
distúrbios mentais da American Psychology Association, passando a ser usado o termo 
Homossexualidade. Em 1985, o conselho Federal de Medicina aprovou a retirada, no Brasil, 
da homossexualidade do código 302.0, referente aos desvios e transtornos sexuais, da 
Classificação Internacional de Doenças. 
 Em 17 de maio de 1990, a Assembléia Mundial da Saúde aprovou a retirada docódigo 302.0 da Classificação Internacional de Doenças e da Organização Mundial da Saúde. 
A nova classificação entrou em vigor a partir de 1º de janeiro de 1993 entre os países-membro 
das Nações Unidas. No Brasil como em outros países, cientificamente, homossexualidade não 
 
3 Inicialmente, por meio de solicitação dos próprios associados, foram distribuídos entre eles 10 (dez) 
formulários de pesquisa, porém houve devolutiva de apenas três destes formulários. Dada as dificuldades e a 
própria questão do tempo para conclusão da pesquisa, para a obtenção de dados foi necessário que o pesquisador 
se dirigisse pessoalmente à instituição e conversasse com um grupo de associados para a finalização do trabalho. 
 
é considerada doença. Por isso, o sufixo “ismo” (terminologia referente à “doença”) foi 
substituído por “dade” (que remete a “modo de ser”) 
Atualmente nas mais diversas áreas do cotidiano os homossexuais tem enfrentado a 
histórica situação de discriminação e marginalidade decorrentes de uma sociedade que possui 
como pilares originais, a desigualdade e a intolerância. Há ainda aqueles que propugnam a 
manutenção da união homossexual fora das considerações acerca das relações familiares, por 
considerarem o casamento civil e a união estável entre homem e mulher como os únicos 
institutos legítimos, formadores e mantenedores da família. 
Um dos principais dilemas do homossexual em se “afirmar” como tal é o ter de se 
assumir diante da família e da sociedade na busca de aceitação e apoio
4
. Este processo de 
auto-aceitação pode durar a vida inteira, pois na maioria dos casos, constrói-se uma identidade 
de lésbica, gay, bissexuais ou transexuais primeiramente para si mesmo, e, então isso pode ser 
ou não revelado para outras pessoas. 
No Brasil o ato de assumir publicamente sua orientação sexual e/ou identidade de 
gênero é popularmente denominado como “Sair do armário”, em língua inglesa tal fato 
denomina-se Outing. Esta aceitação tem seus desdobramentos nos processo de sociabilidade 
dos homossexuais, que ao se reconhecerem e se aceitarem como tal, lutam pela garantia de 
seus direitos de cidadão, livre da discriminação, independente de sua orientação sexual. 
Segundo Reich (1989, p.224): “A supressão da sexualidade das crianças e 
adolescentes tem a função, em última instância, „de facilitar, para os pais, a imposição de que 
seus filhos os obedeçam cegamente‟”. De acordo com este autor o cerceamento da 
sexualidade na fase tenra das crianças e adolescentes facilitaria o domínio de ditados críticos 
voltados a questões sexuais. Este cerceamento relacionado à sexualidade influência de tal 
forma no comportamento das pessoas, principalmente os grupos LGBT, que permanecem por 
longo tempo ocultando sua real orientação sexual. 
 Assumir publicamente sua orientação sexual ou identidade de gênero é um momento 
significativo na trajetória pessoal e social, pois no decorrer da historia vários fatos 
contribuíram negativamente para o inicio desta aceitação, pois se sabe que sempre houve uma 
forte influência ideológica advinda das grandes religiões ocidentais
5
. No Brasil uns dos 
principais empecilhos para a aprovação de leis que beneficiem os homossexuais decorreram 
da pressão de religiosos fundamentais, liberalistas e dogmáticos
6
 no Congresso e no Senado, 
pois, apesar do Brasil ser um Estado laico, a cultura cristã se encontra fortemente arraigada no 
país. 
 
4
 Grifos nossos. 
5 As grandes religiões ocidentais historicamente reconhecidas são o catolicismo, o judaísmo e o protestantismo. 
6 Esses religiosos são os que interpretam a Bíblia ao pé da letra. 
 
As relações homoafetivas são um retrato verídico desta limitação, uma vez que os 
direitos previstos na Constituição a todos os cidadãos são na realidade diferenciados entre 
heterossexuais e homossexuais devido à orientação sexual predominante. Mediante tal 
diferenciação, que é antes de tudo discriminatória, vários grupos de homossexuais permanece 
à margem da sociedade, descriminados e rejeitados, privados de assumir-se em público, 
posicionando-se assim como pessoas excluídas da sociedade. O fato de não serem aceitos por 
pessoas que não acolhem este tipo de relacionamento vem de encontro aos direitos previstos 
na constituição Federal de 1988. Após sua promulgação presenciamos um avanço 
significativo relacionado aos direitos humanos, onde rege em seu preâmbulo (1988 p.1): 
 
Assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a 
segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como 
valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, 
fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e 
internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a 
proteção de Deus. 
 
Os direitos humanos previstos na Constituição são universais. No entanto, na vida 
cotidiana, não presenciamos sua efetivação, pois a discriminação permeia os espaços de 
convivência de diversos grupos sociais, limitando-os de expressar seus desejos e sentimentos 
no que diz respeito a suas relações afetivas ou orientação sexual, ou seja, os direitos são 
universais, porém na prática tais afirmações não correspondem com o que este documento 
normatiza. 
A Lei Magna garante no capítulo I, Art. 5º, § IV e X “livre manifestação do 
pensamento, sendo vedado o anonimato, ressaltando também que são invioláveis a 
intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a 
indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação”. Não obstante de todas 
estas afirmações, repetidas e reforçadas por vários estudiosos políticos, o que se vê na 
realidade é que inúmeras pessoas são tratadas com desigualdade. 
A própria lei que garante igualdade de direitos, ao comparados com os costumes 
praticados em certos povos, nos permite concluir que se alicerçam na desigualdade, podendo-
se ver claramente que em grande número de situações as pessoas não são tratadas como 
iguais. No entanto estas leis e esses costumes estão tão arraigados no nosso cotidiano que 
quase todas as pessoas consideram normal o tratamento desigual. 
A razão de ser da luta dos movimentos sociais dos homossexuais é pela legitimação 
dos seus direitos no conjunto das representações sociais, especificamente no âmbito dos 
poderes públicos. A base ao respeito pelas diferenças e pelo ser humano é no mínimo uma 
questão ética e moral, porém, infelizmente, muitos problemas em relação às questões da 
 
homossexualidade continuam em aberto, pois as conquistas neste sentido são fragmentadas 
beneficiando pequena parte da categoria homossexual. 
O movimento homossexual no Brasil tem sua origem no final da década de 1970 e 
inicío da década de 1980, especialmente no eixo Rio-São Paulo. Após certa estagnação na 
organização do movimento durante a década de 80, ele volta a florescer em meados da década 
de 90, pressionado pela epidemia da Síndrome de Imuno Deficiência Adquirida - AIDS. 
Desde 1985 o reconhecimento legal e judicial de direitos LGBT no Brasil tem avançado. Em 
decorrência da discriminação histórica dos homossexuais foi nessário uma reconstrução 
coletiva de sua identidade social por meio da organização de um movimento social em defesa 
dos direitos desta população. 
Em 2008 o sistema público de saúde após a identificação das vulnerabilidades que 
contribuíam para tornar os grupos homossexuais mais suscetíveis à infecção, entre elas as 
doenças sexualmente transmissíveis (DSTs), e a dificuldade de acesso à prevenção e 
tratamento no sistema público de saúde lança o “Plano Nacional de Enfrentamento da 
Epidemia de AIDS e das DSTs entre gays, homens que fazem sexo com homem (HSH) e 
travestis”, uma das metas deste plano era garantir programasde saúde e equipes capacitadas 
para atender as demandas de enfrentamento da AIDS entre gays e HSH. 
O Ministério da Saúde, por intermédio do Programa Nacional de DST e AIDS, lança 
cartazes e folders de conscientização para a população gay focando o estímulo do uso de 
preservativos. Este trabalho foi realizado com a parceria e apoio de ONGs especializadas em 
ações de prevenção, as quais se responsabilizaram de esclarecer e orientar o público alvo. 
A nossa constituição de 1988, reconhecida como “cidadã”, também nega alguns 
direitos para esta população: “Não têm direito a remoção/transferência de servidor público 
sob justificativa da absoluta prioridade do direito à convivência familiar” (art.226 e 227 da 
CF) e na CLT verifica-se: “ Não têm direito a receber os eventuais direitos de férias e outros 
benefícios do vínculo empregatício se o companheiro falecer; Não têm direito a licença gala, 
quando o trabalhador for celebrar sua união, podendo deixar de comparecer ao serviço, pelo 
prazo três dias (art.473, II da CLT) e se professor, período de nove dias (§ 3º. do art. 320 da 
CLT)”. 
Nos dias atuais a proteção judicial dos direitos individuais e coletivos vem se 
exacerbando, a positivação dos direitos e garantias fundamentais nos textos constitucionais 
torna-se presentes no Estado Democrático de Direito. A Constituição Federal como Lei Maior 
serve de fundamentação institucional e política à legislação ordinária, seus textos encontram-
se abarrotados com inúmeros dispositivos relativos aos direitos fundamentais, conforme o 
artigo 5° (1998, p.2): “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, 
 
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito 
à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade [...]”. 
As relações homoafetivas representam um fato que se impõe e não pode ser negado 
pelos órgãos jurídicos. As decisões judiciais têm avançado bastante no reconhecimento de 
direitos, enquanto a legislação tem encontrado resistência para avançar. Os postulados 
constitucionais não podem ignorar o respeito às diversas modalidades de orientação sexual 
socialmente existente, dentre as quais a homossexualidade se insere. Isso seja pelo respeito à 
vida privada e à intimidade, seja pelo caráter plural e participativo inerentes ao nosso 
governo. Para o adequado conhecimento do atual Direito de Família, a percepção dessas 
mudanças é de suma importância, pois este dinamismo culminou, em nosso ordenamento 
jurídico, com a promulgação da Constituição da República em 1988, onde foram inseridas 
diversas normas a respeito da família. 
Em 2004 e implantado no Brasil o “Programa Brasil sem Homofobia” onde apresenta 
um conjunto de ações destinadas à promoção do respeito à diversidade sexual e ao combate as 
várias formas de violação dos direitos humanos contra grupos de Gays, Lésbicas, 
Transgêneros e Bissexuais. Priorizando o combate à Violência e à discriminação, no intuído 
de promover a Cidadania dos Homossexuais no Brasil. Esta decisão e um verdadeiro marco 
histórico na luta pelo direito à dignidade e pelo respeito à diferença. É o reflexo da 
consolidação de avanços políticos, sociais e legais tão duramente conquistados. O Governo 
Federal, ao tomar a iniciativa de elaborar o Programa, reconhece a trajetória de milhares de 
brasileiros e brasileiras que desde os anos 1980 vêm se dedicando à luta pela garantia dos 
direitos humanos dos grupos homossexuais. 
Em decorrência da 1ª Conferência Nacional LGBT, ocorrida em Brasília entre 05 e 08 
de junho de 2008, surge o Plano Nacional de Promoção da Cidadania e Direitos Humanos de 
Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais. Este documento foi elaborado por uma 
Comissão Técnica Interministerial, apresentando em suas diretrizes, ações para a elaboração 
de Políticas Públicas voltadas para esse segmento. 
O Plano Nacional de Promoção da Cidadania e Direitos Humanos de Lésbicas, Gays, 
Bissexuais, Travestis e Transexuais reflete o esforço do Governo e da Sociedade Civil na 
busca de políticas públicas que consigam responder às necessidades, potencialidades e 
direitos da população envolvida. Este Plano tem como compromisso e desafio de interferir nas 
ações do Estado, de forma a promover a cidadania, com respeito às diversidades onde a 
população LGBT deve ser considerada como sujeito de direito e sujeito político. 
Recentemente presenciamos uma nova realidade onde os direitos previstos na 
constituição alargam-se para beneficiar a população LGBT, que até então não tinham respaldo 
jurídico favorável a sua identidade, quando direcionada a relação afetiva. A decisão unânime 
 
do Supremo Tribunal Federal (STF), concedida no dia 05 de maio de 2011 abre caminho para 
que o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo seja permitido, onde as uniões 
homoafetivas passem a ser reconhecidas como uma estrutura familiar. 
 Para a comunidade LGBT, esta decisão do STF traz fim a vários constrangimentos 
relacionados ao grupo familiar e ao próprio casal homoafetivo. Do ponto de vista estritamente 
jurídico, o grupo familiar não se encontrava sem razão, porém do ponto de vista ético, 
traduzia uma clara situação de injustiça, preconceito e discriminação, pois sem o 
reconhecimento do mesmo direito legado a outros em absoluta igualdade de condições. Tal 
situação era também experimentada por casais homossexuais diante do rompimento de uma 
união estável, pois diante da separação nenhuma das partes tinha seus direitos garantidos. 
Assim, para melhor ilustrar a presente análise, a discussão seguinte aponta elementos de 
reflexão sobre a homossexualidade e a família. 
 
3. Família e Relações Homoafetivas 
 
A sexualidade é um conceito muitas vezes difícil de ser compreendido, pois a maioria 
das pessoas não entende bem seu real significado, tendem a não se questionar sobre o assunto, 
nem ir à busca de sua verdadeira forma de expressão, pois culturalmente não temos o hábito 
de encarar a sexualidade com naturalidade, devido ideologias determinadas como adequadas 
para cada época. 
Segundo Picazio (1998, p.17) “Falar sobre as diferentes manifestações sexuais não é 
um caminho para praticá-las, mas exercer a sexualidade com respeito pela própria natureza e 
pela dos outros”. Nas relações de poder, a sexualidade não é o elemento mais rígido, mas um 
dos dotados da maior instrumentalidade: utilizável no maior número de manobras, e podendo 
servir de ponto de apoio, de articulação as mais variadas estratégias. “Compreender a 
sexualidade, em sua complexidade, prevê enxergá-la também como um produto das densas 
relações de poder. [...] Nas relações de poder, a sexualidade é, [...] um elemento dotado de 
instrumentalidade”. (FOUCAULT, 1988, p. 98) 
 As famílias contemporâneas compostas por filhos(as) homossexuais ou por uniões 
homoafetivas surgem ocupando uma parcela significante da sociedade mundial, fato este que 
não os colocam em uma posição diferenciada dos outros grupos familiares, porém estes 
grupos surgem quebrando valores e condutas morais enraizadas por longo período. 
Importa lembrar que família não é um conceito unívoco. Segundo Osório (1996), seria 
possível descrever as várias estruturas ou modalidades assumidas pela família através dos 
tempos, mas não defini-la ou encontrar algum elemento comum a todas as formas com que se 
 
apresenta. As variáveis ambientais, sociais, econômicas, culturais, políticas ou religiosas são 
determinantes para a composição familiar, ainda hoje. 
Escardó (1996, p. 15) observa que: “Através dos tempos a família adota formas e 
mecanismos sumamente diversos e na atualidade coexistem no gênero humano tipos de 
família constituídos sobre princípios morais e psicológicos diferentes e ainda contraditórios e 
inconciliáveis”. 
A estrutura familiar compõe-se de indivíduos com condições e posições pré-
determinadas, socialmente reconhecidase aprovadas. É neste espaço que ocorrem os 
primeiros processos de socialização, onde aprendemos e constituímos nossa personalidade, 
através da apropriação de valores, crenças e modelos comportamentais. Um arranjo familiar 
não difere do outro quando analisado num contexto de totalidade social, pois todos seus 
membros, independente da orientação sexual, representam papéis que nem sempre refletem 
“verdades” em decorrência de padrões socialmente construídos e perpetrados pela sociedade 
burguesa. 
A não aceitação da homossexualidade produz e reproduz comportamentos que se 
refletem em atos de violência por parte de alguns grupos com denominações e 
comportamentos homofóbicos. Quando privilegiam o gênero enquanto homem/mulher negam 
a condição maior do gênero humano presente nos contextos sociais cotidianos, que se dão 
norteados por diferentes formas de orientação sexual. É neste contexto repleto de diversidades 
que os grupos homossexuais tornam-se alvos de desigualdades sociais, pelo simples fato de 
distinguir-se de outras relações afetivas. 
A intolerância aos grupos homossexuais não está restrita somente aos ambientes 
públicos, mas dentro das próprias famílias que não sabem como lidar com essa situação que é 
no momento considerado “diferente”, pois foge aos padrões construídos historicamente. 
Segundo Lins (2007, p. 204) “[...] a repressão não é apenas algo que vem de fora, 
submetendo as pessoas. As proibições e interdições externas são interiorizadas, convertendo-
se em proibições e interdições internas, vividas sob a forma de vergonha e culpa”. 
 A repressão sexual gera uma influência tão forte no seio de alguns grupos familiares, 
que o preconceito contra a homossexualidade tem inicio no próprio lar, pois os pais não estão 
via de regra, preparados para encarar a orientação sexual de seus filhos. O fato de ter um filho 
gay mexe com sentimentos morais enraizados durante décadas, pois quebrar paradigmas 
diante desta situação demanda remexer com “conceitos e verdades” socialmente aceitos e 
cristalizados não só na família, mas também nas sociabilidades. 
As uniões homoafetivas encontram-se presente em vários contextos históricos, porém 
na atualidade emergem com maior perceptibilidade, dispondo-se como grupo familiar, esses 
grupos lutam contra o preconceito, julgamentos e ideologias pré-estabelecidas. A família 
 
diversificada é hoje um fato que não podemos negar, pois estas novas configurações são 
formadas por pessoas que assumem responsabilidades, portanto buscam igualdade de 
condições perante a sociedade. 
 
4. A família e a homossexualidade em dados 
 
A homossexualidade para certos grupos familiares encontra-se no terreno do 
“proibido”, do negado, uma vez que este assunto em pleno século XXI, via de regra, se 
vincula ao campo do que é moral/imoral e, portanto, não aceito por parte da sociedade. Esta 
negação vai diretamente de encontro aos costumes ditos e reconhecidos como “corretos” e 
cristalizados em nossa consciência conforme as instruções que recebemos na formação de 
nossos valores culturais. 
A pesquisa foi aplicada em campo para levantamento de dados qualitativos, com 
propósito de repensar/refletir sobre as relações familiares daqueles grupos que tem em suas 
composições familiares que assumem uma orientação sexual diferente da considerada 
“normal”. Os resultados são apresentados nos dados que se seguem. 
Quanto à faixa etária dos entrevistados, a maioria (66%) tem entre vinte e seis a trinta 
anos, dos demais um grupo (17%) encontra-se com a idade de dez a quinze anos e o outro 
grupo (17%) encontra-se com a idade entre trinta e seis a quarenta e cinco anos. Um dado 
significativo e que merece ser analisado sobre a idade, diz respeito ao grupo da menoridade, 
porém importa lembrar que os índices utilizados para classificar a faixa etária podem seguir 
variados padrões, de acordo com os critérios que se deseja avaliar, para a OMS (Organização 
Social de Saúde) as fases da vida humana podem ser assim divididas: Idade da Infância - vai 
de 0 a 10 anos, Idade da Adolescência - de 10 a 19 anos, Idade Adulta Jovem ou Juvenil - 15 a 
30 anos, Idade Madura - 31 a 45 anos, Idade de Mudança ou Média, também chamada de 
Involução ou Envelhecimento - 46 a 60 anos, Idade do Homem mais velho - 61 a 75 anos, 
Idade do homem velho - 76 a 90 anos, Idade do homem muito velho - mais de 90 anos. 
Quanto a manifestação religiosa a maioria (67%) dos entrevistados se declarou 
católico e os demais (33%) se declararam evangélicos. Neste sentido percebe-se que o 
catolicismo predomina sob a religião evangélica. O que sabemos é que os grupos religiosos 
presentes, segundo os entrevistados, não acolhem bem a comunidade LGBT. O discurso 
religioso predominante é que a condição de ser desses indivíduos não se encaixa dentro dos 
dogmas religiosos. Para melhor refletir sobre esta questão, Reich (1988, p.324) nos aponta 
que: “O grito de liberdade é um indício de repressão. Esse grito não cessará enquanto o 
homem se sentir aprisionado. Por mais diversas que sejam as formas de clamar pela liberdade, 
todas elas, sem exceção, exprimem, no fundo, a mesma coisa [...]”. 
 
Neste sentido, numa perspectiva análoga, percebemos que para os religiosos 
dogmáticos a orientação sexual homossexual é um desvio de conduta que deve ser 
tratado/corrigido. Assim, o discurso religioso reforça a repressão dos sujeitos que precisam 
ser colocados numa “camisa de força” nos relacionamentos heterossexuais ao mesmo tempo 
em que negam e inferiorizam os “comportamentos indesejáveis” ao cumprimento da moral 
religiosa. 
Quanto ao grau de escolaridade, está assim distribuído: ensino fundamental 
incompleto17%, ensino fundamental completo17%, ensino médio incompleto 33%, ensino 
superior completo 33%, diante desses dados observamos duas interpretações possíveis: os 
entrevistados do ensino fundamental e médio conviveram com uma realidade escolar onde há 
pouco ou nenhuma alerta para questões contra homofobia, existem algumas iniciativas 
recentes para incentivar práticas de tolerância, porém as mesmas não alcançam a totalidade da 
comunidade escolar. Esse fato gera ações desrespeitosas contra estudantes, professores e 
demais funcionários que assumem sua orientação sexual, o exercício do “bulling” desestimula 
a permanência e provoca a evasão escolar. Já o grupo com ensino superior completo, por ter 
maior grau de instrução e esclarecimento, têm a possibilidade de alcançar maior sucesso 
profissional e independência socioeconômica. Para Dallari (2004, p.50): “a experiência tem 
demonstrado que adianta muito pouco a lei dizer que todos são iguais e proibir que umas 
pessoas sejam tratadas como inferiores às outras”, é evidente que esse fator favorece a pressão 
que os homossexuais exercem para adquirir seu espaço e alcançar mais respeito, na tentativa 
de sofrerem menos preconceito. Assim sendo, estão estimulados a lutarem por seus direitos. A 
forte presença dessa comunidade de “letrados” exerce notório influência junto ao poder 
público para a formulação de políticas públicas voltadas para essa população. 
Quanto a escolaridade associada ao nível de empregabilidade, conforme dados 
relacionados acima percebe-se que a maioria (67%) dos entrevistados estão no emprego 
formal e se sobressai frente aos demais (33%) entrevistados que encontram-se trabalhando na 
informalidade. Para Dallari (2004, p. 65) “Nas sociedades modernas, onde prevalece os 
valores do capitalismo, as pessoas são avaliadas pelo que possuem”, esta realidade é 
evidenciada também no grupo de homossexuais “escolarizados”, que via de regra, são mais 
facilmente aceitos em determinados grupos socias quando são possuidores de riqueza 
conseguida por meio de seu “trabalho”. Neste espaço não importa que em que tipo e/ou 
modalidade de trablho encontra-se inserido, importa o resultante econômico do mesmo. 
Merece destaque o fato de estar pronunciadono discurso neoliberal que a 
informalidade na qual se encontra boa parte da classe trabalhadora, inclusive os 
homossexuais, decorre desta condição de “não escolarizados”. Contudo, o exército de reserva 
 
nos mostra que a realidade não é bem esta. Independente da escolarização o mundo do 
trabalho é regulado pelas necessidades do capital. 
Quanto a assumir a orientação sexual, os dados apresentados demonstram que 67% 
dos homossexuais assumem sua orientação sexual na fase adulta, 17% na adolescência e 16% 
na infância. O fato da maioria assumir-se na fase adulta, demonstra através de dados reais a 
forte influencia herdada no desenvolvimento de nossa identidade, principalmente relacionado 
à sexualidade humana. 
Na infância e na adolescência, ainda não se sentem seguros para revelar sua orientação 
sexual, tendo em vista que têm, via de regra, uma “necessidade vital” de serem aceitos nos 
grupos com os quais convivem e se relacionam. Segundo Chauí (1984, p.9), “a repressão 
sexual será tanto mais eficaz quanto mais conseguir ocultar, dissimular e disfarçar o caráter 
sexual daquilo que está sendo reprimido. E que a repressão sexual se liga a um conjunto de 
valores, regras estabelecidas histórica e culturalmente para controlar o exercício da 
sexualidade”. Desta feita é possível afirmar que a repressão sexual empreendida nos espaços 
sociais influencia de forma relevante para a revelação da orientação sexual tardia, ocorrendo 
em sua maioria na fase adulta. 
Quanto a outros casos de homossexualidade na família, conforme dados levantados a 
maioria (50%) afirma não ter outros casos de homossexualidade na família, porém outro 
grupo (33%) bastante significativo afirma ter consciência da existência de outros 
homossexuais na família extensa e uma minoria (17%) afirma desconhecer a existência de 
outros casos de homossexualidade no ciclo familiar. Neste sentido faz-se necessário refletir 
qual o conhecimento da família em relação a este assunto, pois é fato que esta temática não 
faz parte dos “diálogos” cotidianos dos grupos familiares. O retrato disso é que “o 
homossexual, homem ou mulher, organiza o seu mundo secreto com o fim de ter 
oportunidades de socialização, segurança e conforto no meio de pessoas que o aceitem e 
respeitem independentemente de sua orientação sexual” (SUPLICY, 1983, p.271). Assim 
sendo, cria-se uma zona de conforto tanto para a família que ignora a orientação sexual de 
seus filhos por se tratar de um assunto vergonhoso e repleto de preconceitos, como para o 
homossexual que, para escapar de situações constrangedoras e preconceituosas, negam sua 
orientação sexual refletindo e reforçando este universo de respostas negativas existentes em 
diversos grupos familiares. Por outro lado, um terço da sociedade que admite este 
questionamento pode contribuir de forma significativa na orientação não só dos filhos 
homossexuais, mas também difunde a necessidade de debate e compreensão desta situação. 
Quanto ao reconhecimento de seus direitos, segundo dados obtidos na pesquisa 
percebe-se que a maioiria (67%) da comunidade LGBT é conhecedora de seus direitos e a 
minoria (33%) apresenta-se como não conhecedora de seus direitos. Neste contexto a 
 
formação escolar também se revela, pois os que buscam conhecer e fazer valer seus direitos 
são os mesmos que buscam essa formação intelectual. 
Para Dallari (2004, p.97): 
 
Tão importante quanto a informação é a formação da consciência de que os 
direitos precisam ser defendidos, para que não pereçam e também para que 
fique assegurado o respeito a todos so direitos. A vida em sociedade é 
necessáira para os seres humans, mas em quase todos os grupos sociais 
existe uma competição pelas melhres posições e pelo reconhecimento de 
mais benefícios e vantagens. É o direito que deve garantir os interesses de 
cada um e impedir que uns sejam prejudicaso pelos outros. 
 
O movimento impetrado pelo grupo de homossexuais que luta pelos seus direitos tem-
se refletido também na mídia, que tem veiculado o tema Homossexualidade com uma 
significância a se considerar. Uma vez que esse assunto é colocado em pauta pela mídia, 
assistimos uma maior mobilização dos órgãos competentes na luta pela conquista de direitos 
voltados a essa comunidade. Essas conquistas dizem respeito a melhoria na qualidade de vida, 
reconhecimento do preconceito como crime, inserção do tema no debate político, combate a 
homofobia entre outros. 
Nesse sentido, da busca de reconhecimento de seus direitos, a realidade da cidade de 
Uberlândia mostra que a comunidade LGBT tem se preocupado em estar por dentro de 
informações que lhes dizem respeito, entretanto nem todas as famílias conhecem o trabalho da 
ONG Shama assumem esse aspecto 50% dos familiares entrevistados, os demais 50% de 
familiares conhecem as ações desenvolvidas pelo grupo. 
Neste sentido Foucault (1993, p.27) nos assegura que: 
 
Deve-se falar de sexo, e falar publicamente, de uma maneira que não seja 
ordenada em função da demarcação entre o lícito e o ilícito.[...] Cumpre falar 
de sexo como uma coisa que não se deve simplesmente condenar ou tolerar, 
mas gerir, inseir em sistemas de utilidade, regular para o bem de todos. 
 
O simples fato de existir do Grupo Shama enquanto instituição que defende os direitos 
do homossexual, apesar da dificuldades enfrentadas para se firmar e se reconhecer na cidade 
de Uberlândia, já nos revela a importância de suas ações. Além disso, desenvolve ações que 
materializam algumas das necessidades de seus associados tais como, participação de 
palestras em instituições educacionais, em fóruns, em seminários, além da distribuição de 
preservativos e atendimento na área de assistência jurídica. De resto percebemos nitidamente 
que o grupo Shama procura assegurar espaço para o debate sobre o tema homossexualidade, 
revelando a hipocrisia e descortinando o falso moralismo que, ainda, envolve a questão. 
 
 
4. Considerações finais 
 
A proposta inicial deste estudo foi trazer um questionamento sobre os reflexos da 
homossexualidade junto aos associados do grupo Shama. Diante dos dados foi constatado que 
a discriminação contra homossexuais por parte da sociedade é um fato real. Neste sentido 
admitimos que haja preconceito em nossa sociedade, mas somos incapazes de aceitar o 
preconceito em nós mesmos. Isso se comprova no fato de certos grupos familiares não se 
manifestarem diante da sexualidade dos filhos, também, que ainda trazemos arraigados 
costumes e dogmas religiosos os quais, direta ou indiretamente, influenciam em nosso 
comportamento cotidiano. 
 Diante desta realidade os indivíduos que quebram estes paradigmas dogmáticos são 
excluídos não só pelo grupo social em que se encontram inseridos, mas excluídos também do 
próprio seio familiar. 
Em nossa proposta de pesquisa procuramos analisar o alcance das políticas públicas 
voltadas à homossexualidade e constatamos que as leis estão emergindo de maneira morosa, 
assegurando pequenos avanços para esta população. Quando questões polêmicas desperta a 
opinião pública no sentido de buscar leis que proteja um segmento específico da população, 
necessário se faz uma reflexão dos reais interesses, envolvidos nesta questão. A aparente 
aceitação da homossexualidade neste sentido pode ser vista como um meio de garantir o giro 
do capital, pois as paradas do orgulho gay, realizadas em diversas cidades, demonstram o 
número grandioso de participantes homossexuais, simpatizantes e curiosos, os quais 
promovem um aquecimento da economia através do turismo, entretenimento, hotelaria. 
Neste sentido a população LGBT está se deparando com um novo espaço, onde leis 
estão sendo criadas no intuito de respaldar os direitos que até então eram negados a está 
parcela da população, por outro lado temos que reconhecer que direitos são para todos 
conforme rege nossa constituição e não podem, desta feita, criar leisvisando interesses 
próprios. 
 Na atualidade o que se percebe é que o tema homossexualidade esta na mídia, sendo 
notícia de jornais, temas de novelas, e contendas do poder executivo e legislativo. Neste 
sentido, o pressuposto básico desta pesquisa foi validado uma vez que as relações sociais 
cotidianas este assunto, ainda hoje, é tema de reprovação/oposição em vários segmentos 
sociais. Tal fato ficou claramente evidenciado na postura dos próprios associados do grupo 
SHAMA, quando, ao apresentarmos os questionários desta pesquisa, encontraram dificuldade 
em respondê-los relatando que poderiam fazê-lo na Associação, porém não levariam para seus 
familiares, pois tal tema não era assunto proibido em família. 
 
Diante deste relato fica o questionamento: o preconceito parte da família, da 
população ou do próprio grupo descriminado? 
O esforço feito nesse trabalho é uma contribuição para o estudo do tema em nossa 
sociedade, porém estamos cientes de que compreende, mesmo que de forma tímida, um 
primeiro ensaio científico sobre o tema. Conscientes de tal fato, afirmamos que à temática 
cabem outras reflexões, além do levantamento de outras dúvidas e questionamentos para que 
as mesmas apresentem novas leituras e possibilidades de novas pesquisas. 
 
REFERÊNCIAS 
 
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2004. 
 
______. Presidência da República. Secretaria Especial dos Direitos Humanos – SEDH. 
Brasília, 2009. 
 
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Brasiliense, 1991. 
 
DALLARI, D. Direitos Humanos e Cidadania. São Paulo: Moderna, 2004. 
 
ESCARDÓ, F. Anatomia de la família. Buenos Aires: Ateneo, 1955. 
 
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LINS, Regina Navarro, A cama na varanda: arejando nossas idéias a respeito de amor e 
sexo: novas tendências - Ed. rev. e ampliada. - Rio de Janeiro: BestSeller, 2007. p. 204. 
 
Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado, Secretaria Nacional LGBT São Paulo, 16 
de novembro de 2010. 
 
OSÓRIO, Luiz Carlos. Família Hoje. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996. 
 
PICAZIO, Cláudio. Diferentes desejos: adolescentes homo, bi e heterossexuais. São Paulo: 
Summus, 1998. 
 
PRADO, Fabíola Christina de Souza. Uniões homoafetivas. Do preconceito ao 
reconhecimento como núcleo de família. Jus Navigandi, Teresina, ano 10, n. 625, 25 mar. 
2005. Disponível em: <http://jus.uol.com.br/revista/texto/6495>. Acesso em: 21 maio 2011. 
 
REICH, Wilhelm. O Assassinato de Cristo. São Paulo: Martins Fontes, 1986, p.224. 
 
_____. Psicologia de Massa do Faciscismo. 2° Ed. São Paulo, Martins Fontes, 1988. 
 
SUPLICY, Marta. Conversando sobre sexo. 1983, p.279, 280. 
http://jus.uol.com.br/revista/texto/6495/unioes-homoafetivas

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