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Anemia falciforme INTRODUÇÃO: • Doença genética, hereditária, monogênica e autossômicas • A doença se dá pela substituição do ácido glutâmico pela valina na posição 6 da cadeia da globina beta • Hemoglobina S -> eritrócitos rígidos (o que gera os fenômenos vaso-oclusivos) • O genótipo mais grave é o da homozigose HbSS. • Anemia falciforme HbS ; traço falciforme HbAS • A doença protege as pessoas da malária (vantagem seletiva pela falcização da hemácia) • Afeta principalmente a população negra • 5 a 6% da população brasileira possuem a mutação do gene da hemoglobina S ETIOPATOGENIA: • Substituição do ácido glutâmico pela valina na 6ª posição da cadeia beta; • Mudança na morfologia do eritrócito -> formato de foice • Dificultam a circulação sanguínea • Isquemia, dor, necrose e disfunções • Doença hemolítica crônica – polimerização e alterações de membrana fazem com que as hemácias sejam sequestradas e destruídas pelo sistema monocítico-fagocitário, causando a anemia hemolítica crônica • Hemólise extravascular o Depende do macrófago • Hemácias de meia vida de 20 dias • As hemácias SS se aderem ao endotélio durante os processos inflamatórios CARACTERÍSTICAS LABORATORIAIS: Os pacientes com anemia falciforme possuem níveis séricos de hemoglobina entre 5 e 11 g/dl, com concentração de hemoglobina corpuscular média aumentada. A eritropoetina está relativamente reduzida para o grau de anemia. Sinais de hemólise podem ser observados como aumento da bilirrubina indireta, desidrogenase lática (DHL), reticulocitose e presença de eritroblastos. No esfregaço de sangue periférico, hemácias falciformes são visíveis. Trombocitose e leucocitose discreta às custas de polimorfonucleares são achados recorrentes e a medula óssea apresenta hiperplasia eritroide. Os níveis de ferritina são normais nas primeiras duas décadas de vida, mas podem aumentar em indivíduos mais idosos. QUADRO CLÍNICO: Os recém-nascidos são protegidos inicialmente e depois que os níveis de HbF declinam os sintomas de anemia falciforme começam a surgir Os pacientes homozigotos evoluem com quadro de anemia hemolítica crônica e podem apresentar quadros agudos desencadeados por infecções, desidratação ou acidose. • Crianças iniciam sintomas após os 6 meses: o Síndrome mão-pé (dactilite falcêmica) • Crises de falcização: o Fatores precipitadores: infecções, variações térmicas, estresse endógeno e desidratação o Intercala com “fase estável” • Crises vaso-oclusivas: o Resulta das interações entre endotélio, fatores plasmáticos, leucócitos, falcização e rigidez eritrocitária o Hipoxia tecidual provocada por esses fenômenos vaso-oclusivos culmina em morte celular, resposta inflamatória aguda e dor localizada, principalmente em ossos, tórax e abdome o Episódios dolorosos agudos o Oclusão microvascular é o fator inicial da dor o Mais frequentes na 3ª e 4ª décadas de vida o Mais crises -> maior mortalidade o Analgesia parenteral o > 3 crises/ano -> doença com evolução clínica grave o Resolução do quadro em 1 semana, mas recorrências são possíveis • Crises aplásticas: o Quedas de Hb e reticulócitos diminuídos o Infecção por parvovírus B-19, uso de drogas mielossupressoras ou à deficiência de ácido fólico o Autolimitada: de 5 a 10 dias o Avaliar indicação de transfusão (Hb < 5) • Crises hemolíticas: o Aumento na taxa de hemólise; piora transitória da icterícia associada à queda da Hb e aumento dos reticulócitos o Associada com infecção com Mycoplasma, deficiência de G6PD ou esferocitose hereditária o Icterícia: afastar obstrução por cálculo, hepatite o Pode ser tratada pela transfusão de concentrado de glóbulos vermelhos (1mL/kg/hora) na presença de comprometimento cardíaco ou Hb menor do que 4g/dl com reticulopenia. • Crise de sequestro esplênico: o Sequestro maciço de hemácias, principalmente no baço (mas pode ocorrer no fígado também) o Hb < 6g/dl ou queda de 3g/dl em relação ao valor basal do indivíduo. o Choque volêmico e falência cardíaca podem se instalar de forma rápida e fatal o Mais comum em crianças: de 6 a 24 meses o Tratamento por meio de hidratação vigorosa, transfusão de concentrado de glóbulos vermelhos e exsanguíneo-transfusão nos casos de falência respiratória. o Indicado terapia transfusional em menores de 4 anos de idade e esplenectomia após essa idade com o objetivo de evitar novos episódios o Recorrência em 70% dos casos • Necrose asséptica: o Mais comum na cabeça do fêmur, mas também pode ocorrer na cabeça do úmero o A necrose asséptica decorre da vaso-oclusão da artéria nutrícia femoral o Terapia: repouso do membro, redução da carga e analgesia; casos avançados abordagem cirúrgica com colocação de próteses • Infecções: o Alta morbimortalidade o Streptococcus pneumoniae (mais agressivo em crianças – asplenia funcional); pneumonia, meningite e otite o E. coli, Klebsiella e Salmonela (mais comum em crianças) o Todos os pacientes com doença falciforme devem receber vacinação antipneumocócica e anti-influenzae-beta • Sepse: o Mortalidade 50% em crianças o Diagnóstico e tratamento precoce o Avaliação clínica e laboratorial o ATB + CTC quando choque + controle de complicações • Osteomielite: o Mais comum que na população geral o Devido a infartos ósseos e na medula o Salmonella é mais comum nos falcêmicos o S. aureus é mais comum nos demais pacientes • Manifestações cardíacas: o Manifestações relacionadas aos mecanismos compensatórios da anemia o Raio x: cardiomegalia, artérias pulmonares proeminentes e aumento do padrão vascular o Isquemia miocárdica mesmo em pacientes jovens o IC, arritmias, miocardiopatia • Complicações pulmonares: o Infarto, pneumonia, embolia gordurosa o Infecção: Pneumococcus, Haemophilus, Chlamydia e Mycoplasma o Síndrome torácica aguda (STA): dor torácica aguda, febre, taquipneia, sibilância, tosse, hipoxemia. Raio X, HMG, HMC, gasometria arterial e sorologia para Mycoplasma. Internação. Infiltrado pulmonar novo. • Complicações neurológicas: o Acomete 25% dos pacientes o Mais comum < 10 anos o AVC, hemorragia, AIT o Fatores de risco: AIT prévio, Hb baixa, leucocitose, 2 semanas após STA o Diagnóstico pelo quadro clínico + exames de imagem (RNM e TC) o Tratamento com exsanguíneo-transfusão = reduzir a % de HbS para abaixo de 30% • Complicações hepatobiliares: o Icterícia e hepatomegalia são achados comuns nas síndromes falciformes o Hemólise -> excreção de bilirrubina -> cálculos biliares (colecistectomia apenas quando 2 ou + episódios dolorosos em 6 meses) o Síndrome do quadrante superior direito causado por colestase intra-hepática (hiperbilirrubinúria + aumento rápido do fígado + febre + dor). Tratamento é exsanguíneo-transfusão e com o objetivo de manter os níveis de HbS abaixo de 10%. o Hepatite isquêmica aguda, colestase, sobrecarga de ferro, toxicidade por drogas • Complicações genitourinárias: o Infarto na medula renal = hematúria + inabilidade de concentrar urina o Hipercalemia, proteinúria, aumento de creatinina o Anatomopatológico: aumento glomerular e glomeruloesclerose segmentar focal (GESF) o Priapismo – 40% dos casos – células falcizadas obliteram os corpos cavernosos • Complicações oculares: o Anormalidades na conjuntiva, infartos orbitais, hemorragia e descolamento de retina e retinopatia o Obstrução de vasos retinianos podem evoluir com neovascularização e aneurismas arteriovenosos o Fotocoagulação quando indicada • Manifestações cutâneas: o Icterícia e palidez o Úlceras em terço inferior das pernas o Cuidados focais, repouso o Avaliar osteomielite DIAGNÓSTICO: Eletroforese de hemoglobina demonstrando Hb S Triagem neonatal (diagnóstico precoce, ATB profiláticos e vacinação) Fase estável: Hb de 6 a 10g/dL Anemia normocítica e normocrômica Reticulócitos elevados Células em foice no sangueperiférico Devido redução da função esplênica (corpos de Howell Jolly, anéis de Cabot e corpúsculos de Heinz) Leucocitose, desvio a esquerda e plaquetose Avaliar associação da talassemia e deficiência de ferro TRATAMENTO: Acompanhamento multidisciplinar em serviços especializados Tratamento a longo prazo: • Ácido fólico 5mg/dia • Hidroxiureia (tentativa de aumentar Hemoglobina fetal) • Profilaxia de infecções • Tratamento de crises dolorosas, crises agudas e infecções Hidroxiureia • Aumentar Hb F para 15 a 20% • Paciente com STA, anemia grave, crise vaso oclusivas graves • 10 a 15mg/kg/dia, dose única diária • Manter por 6 a 8 semanas inicialmente • Sem resposta, aumentar dose até 30mg/kg/dia Tratamento das crises vaso oclusivas: • Tratar fator desencadeante • Hidratação oral ou endovenosa (3L/dia) • Analgesia (intensidade da dor e após definir local de tratamento; acetaminofeno, AAS, dipirona, ibuprofeno, naproxeno; codeína, morfina; meperidina Terapêutica transfusional: • Toleram bem a anemia • Transfusão de substituição o Manter Hb S < 30% o AVC, STA, priaprismo, insuficiência de múltiplos órgãos, cirurgia SNC • Transfusão simples: Hb <5 g/dL, IC, hemorragia aguda, sequestro esplênico, pré-operatório Profilaxia de septicemias: • 3 meses até 5 anos • Penicilina V oral: 2x/dia • Penicilina benzatina IM: a cada 21 dias Imunizações: • Seguir calendário vacinal • Streptococcus pneumoniae (heptavalente: 2, 4 a 6 meses. Reforço aos 15 meses; polissacarídeos aos 2 anos. Reforço aos 5 anos) • Influenza anualmente • Hepatite B • Meningocócica RESUMO: • Taxa de sobrevivência aos 20 anos: 85% • Pico de incidência de óbito é maior de 1 a 3 anos • Hidratação e analgesia • Indicar hidroxiureia e transfusão • Aconselhamento genético
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