Buscar

2021-tcc-ktferreira

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 94 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 94 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 94 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ 
CENTRO DE CIÊNCIAS 
DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA 
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE LICENCIATURA 
 
 
 
 
 
KEVIN TORRES FERREIRA 
 
 
 
 
 
 
PAISAGENS PATRIMONIAIS DO BON ODORI NO CONTEXTO DA EDUCAÇÃO 
GEOGRÁFICA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FORTALEZA 
2021
 
 
 
 
 
KEVIN TORRES FERREIRA 
 
 
 
 
 
 
 
PAISAGENS PATRIMONIAIS DO BON ODORI NO CONTEXTO DA EDUCAÇÃO 
GEOGRÁFICA 
 
 
 
 
 
 
 
Trabalho de conclusão de curso (Monografia) 
apresentado ao Curso de Licenciatura em 
Geografia do Departamento de Geografia da 
Universidade Federal do Ceará, como requisito 
parcial para obtenção do título de Licenciado 
em Geografia. 
 
Orientador: Prof. Dr. Christian Dennys 
Monteiro de Oliveira. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FORTALEZA 
2021 
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação 
Universidade Federal do Ceará
Biblioteca Universitária
Gerada automaticamente pelo módulo Catalog, mediante os dados fornecidos pelo(a) autor(a)
F441p Ferreira, Kevin Torres.
 Paisagens patrimoniais do Bon Odori no contexto da educação geográfica / Kevin Torres Ferreira. – 2021.
 92 f. : il. color.
 Trabalho de Conclusão de Curso (graduação) – Universidade Federal do Ceará, Centro de Ciências,
Curso de Geografia, Fortaleza, 2021.
 Orientação: Prof. Dr. Christian Dennys Monteiro de Oliveira.
 1. Paisagens culturais. 2. Patrimônio cultural. 3. Bon Odori. 4. Nipo-brasileiro. 5. Exercícios imagéticos.
I. Título.
 CDD 910
 
 
 
 
KEVIN TORRES FERREIRA 
 
 
 
 
 
 
 
PAISAGENS PATRIMONIAIS DO BON ODORI NO CONTEXTO DA EDUCAÇÃO 
GEOGRÁFICA 
 
 
 
 
 
 
 
Trabalho de conclusão de curso (Monografia) 
apresentado ao Curso de Licenciatura em 
Geografia do Departamento de Geografia da 
Universidade Federal do Ceará, como requisito 
parcial para obtenção do título de Licenciado 
em Geografia. 
 
Aprovada em: 30/08/2021. 
 
 
BANCA EXAMINADORA 
 
 
________________________________________ 
Prof. Dr. Christian Dennys Monteiro de Oliveira (Orientador) 
Universidade Federal do Ceará (UFC) 
 
 
_________________________________________ 
Prof. Me. Marcos da Silva Rocha 
Universidade Federal do Ceará (UFC) 
 
 
_________________________________________ 
Prof. Dra. Laura Tey Iwakami 
Universidade Estadual do Ceará (UECE) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Em memória de meus avós, Osmar Viana, Raimundo Vieira e Maria Neide 
Obrigado pelo “Deus te abençoe” nas entradas e saídas 
Que vosso legado continue sendo honrado. 
 
 
 
 
 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
A Ele que criou todas as coisas, que me sustenta nos montes e nos vales, que 
prometeu estar presente todos os dias e faz a vida acontecer em sua plenitude. 
Aos meus pais, Antônio Geomar e Cassiana Torres, que independente das 
dificuldades investiram na educação de seus filhos. 
Aos meus avós, Luzia Albuquerque, Maria Neide (in memorian), Raimundo Vieira 
(in memorian) e Osmar Viana (in memorian). 
À minha irmã Marjorye Torres e meu cunhado Jeziel Duarte. 
Aos meus amigos Gabriel Rodrigues, Carolina Castro, Ytalo Lemos, Matheus 
Souza, Emanuele Beserra, Lucas Lima e Renato Rocha. 
Aos meus companheiros de jornada na UFC: Karolayne Silva, Crislane Nascimento, 
Paulo Henrique, Tiago de Amorim, Victor Reis e Carlos Eduardo. As aulas de campo e os cafés 
na cantina da Geologia foram ainda melhores com eles. 
A Marcílio Batista, Felipe Rodrigues, Gerlaine Cristina e Sílvia Heleny, amados e 
amadas que não dispensaram conversas e conselhos. 
Ao Anderson Camilo, irmão que mesmo à distância sempre me ajudou. 
A Márcia Cristina, professora tão querida e inspiradora. 
A Marcos Rocha, professor e amigo que tantas vezes me ajudou nos percursos dos 
trabalhos acadêmicos. 
A Christian Oliveira, meu orientador no decorrer da graduação. Obrigado pelo 
cuidado, pela paciência e dedicação em seu trabalho. 
À Laura Iwakami Sensei, pela disponibilidade em ajudar-me nos estudos sobre 
cultura japonesa. 
Ao Yohan Ignas, Vanessa Ignas, Mírian Costa e Neto Lourenço: gente amada da 
igreja A Ponte Fortaleza. Não esquecerei das orações e do apoio em tantos momentos. 
A Tiago Cavalcante, Edivani Barbosa, Elisa Zanella, Alexandre Queiroz, Rubson 
Pinheiro e Clélia Lustosa, professores e professoras do Departamento de Geografia que me 
inspiram pela dedicação no trabalho que exercem. 
A Cynthia Rodrigues, professora do Departamento de Geologia, pelas orientações 
no decorrer da minha jornada no curso de Geografia. 
A Dora Gadelha, Fabiana Abreu e Tânia Noleto, professoras inspiradoras. 
 
 
 
 
Aos colegas do LEGES, principalmente Tiago Duarte, Lizandra Araujo, Djailson 
Ricardo, Ivna Marques, Aurislane Carneiro e Eduardo Alves. 
Aos colegas do Laboratório NihongoLab. 
Ao CNPq pelo fomento aos projetos de pesquisas aos quais eu fui bolsista de 
iniciação científica. 
A Universidade Federal do Ceará, minha segunda casa de 2017 a 2020. 
Arigatou Gozaimasu! Muito obrigado a todos! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Nesse rio torto 
Sem fronteiras pra ninguém 
Sem perder o rumo 
Vou me encontrar também” 
Marcos Almeida (2012)1 
 
1 Rio Torto. Marcos Almeida. 
 
 
 
 
RESUMO 
 
O presente trabalho propõe uma sistematização dos aspectos geográficos e culturais de uma 
festa japonesa que foi contextualizada no maior território sul-americano por diversas 
comunidades nipo-brasileiras: o Bon Odori. O enfoque à patrimonialidade festiva nipo-
brasileira é justificada pela importância de se estabelecer um diálogo intercultural sobre as 
culturas que integram os espaços locais e alternos dos educandos. O estudo fundamentou-se no 
conceito de paisagem patrimonial para tratar a festa enquanto construção social e simbólica. No 
âmbito educacional realizou-se uma análise sobre a função da imagem como parte da 
metodologia da Geografia Escolar. Na interação docente se apresentou um material didático 
que consistiu no uso de fotografias e infográficos para apresentar e mediar conhecimentos sobre 
os significados e a representação patrimonial do Bon Odori. A primeira parte deste trabalho 
apresentou os elementos que compõem a prática simbólica da festa realizada no Japão. Realiza-
se um levantamento qualitativo sobre o Bon Odori no Brasil e em seguida são abordados os 
exemplos festivos praticados nas cidades de Pereira Barreto - SP, Campo Grande - MS, Maringá 
- PR, Atibaia - SP, Salvador - BA, Tomé-Açu - PA e Goiânia - GO para analisar esta 
patrimonialidade enquanto parte da identidade cultural nipo-brasileira. As localidades 
pesquisadas foram escolhidas a partir da disponibilidade de trabalhos acadêmicos, de imagens 
e de recursos audiovisuais sobre elas considerando as representações simbólicas de todas as 
cinco regiões do território brasileiro. A segunda parte deste trabalho apresenta a pesquisa, os 
procedimentos e as reflexões adquiridas na interação docente durante o quarto estágio 
supervisionado. Considerando o período pandêmico mundial decorrente da disseminação do 
vírus COVID-19, as atividades presenciais nas escolas públicas foram suspensas. Nisto, a 
pesquisa educacional se procedeu num contexto onde as interações entre professores e alunos 
aconteceram exclusivamente através dos recursos virtuais. Conclui-se que a representação 
simbólica do Bon Odori no Brasil se assemelha em vários aspectos à patrimonialidade 
verificada no Japão e que os estudos paisagísticos sobre esta festa devem continuar porque elas 
são parte das expressões imateriais das comunidades nipo-brasileiras. Apresenta-se também 
uma breve reflexão sobre os desafios da docência nas circunstâncias decorrentes de uma 
pandemia mundial, além da importância dos estudos patrimoniais e do cuidado no usodas 
imagens na Geografia Escolar. 
Palavras-chave: paisagens culturais; patrimônio cultural; Bon Odori; nipo-brasileiro; 
exercícios imagéticos. 
 
 
 
 
ABSTRACT 
 
The present work proposes a systematization of the geographic and cultural aspects of a 
Japanese festival that was contextualized to Brazil and is called Bon Odori. The focus on nipo-
Brazilian festive heritage is justified by the importance of establishing an intercultural dialogue 
about the different cultures in the local and alternate spaces of students. The study was based 
on the concept of heritage landscape to approach the festival as a social and symbolic 
construction. In the educational field was made an analysis about the function of the image as 
part of the geographic education methodology. In the teacher's interaction, the teaching material 
consisted of the use of photographs and infographics to present and mediate knowledge about 
the meanings and heritage representations of Bon Odori. Thus, this analysis is divided into two 
parts: the first presents the elements of the symbolic practice in Japan Bon Festival is then 
presented with an initial quantitative survey about Bon Festival in Brazil. Then, the festive 
examples located in the cities of Pereira Barreto (São Paulo), Campo Grande (Mato Grosso do 
Sul), Maringá (Paraná), Atibaia (São Paulo), Salvador (Bahia), Tomé-Açu (Pará) and Goiânia 
(Goiás) to analyze Bon Odori as part of the Japanese-Brazilian cultural identity. The locations 
were chosen based on the availability of academic papers, images and audiovisual resources 
about them. The second part of this work consists of research, procedures and reflections 
acquired in the teacher interaction during the fourth supervised internship. In the school analysis, 
it was taken into account that the worldwide pandemic period, resulting from the dissemination 
of the COVID-19 virus, caused the restriction of on-site activities in public schools. In this 
sense, the research was carried out in a context where interactions between teachers and 
students were restricted to strictly virtual resources. It is concluded that the symbolic 
representation of Bon Odori in Brazil is similar to that observed in Japan. Landscape studies on 
this festival need to continue, as its symbolic practices are part of the immaterial expressions of 
the nipo-Brazilian communities. Furthermore, the challenges of teaching in the midst of a 
period of social isolation resulting from a pandemic are reported. Finally, we verified the 
importance of heritage studies and care in the exercise of images for school geography. 
Keywords: cultural landscapes; cultural heritage; Bon Odori; nipo-Brazilian; imageries exercise. 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................. 11 
2 DO JAPÃO AO BRASIL: A PAISAGEM FESTIVA DO BON ODORI ........ 20 
2.1 Geografia e patrimônio cultural: pressuposto teórico para a Paisagem 
Cultural................................................................................................................ 
20 
2.2 Do japonês imigrante à identidade Nikkei....................................................... 22 
2.3 A volta dos ancestrais: o Bon Odori no Japão.................................................. 25 
2.4 Bon Odori no Brasil: as paisagens culturais a partir da festa........................ 32 
3 A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL NO BON ODORI NIPO-BRASILEIRO.. 47 
3.1 Exercícios imagéticos: os signos e símbolos das festas Bon Odori no Brasil. 49 
3.2 Reflexões sobre o ensino das paisagens simbólicas Nipo-Brasileiras............. 57 
3.2.1 Reconhecendo as paisagens dos espaços de vivência.......................................... 57 
3.2.2 Aprendendo sobre Paisagens Culturais no contexto da Educação Remota........ 64 
 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................... 77 
 REFERÊNCIAS ................................................................................................ 79 
 APÊNDICE A – 1° QUESTIONÁRIO.............................................................. 82 
 APÊNDICE B – 2° QUESTIONÁRIO.............................................................. 88 
 APÊNDICE C – PLANO DE AULA ................................................................ 91 
 
11 
 
 
 
1. INTRODUÇÃO 
 
Em meados da década de 1960 o Brasil testemunhou o surgimento de uma festa que 
destoava da cultura nacional daqueles tempos. E na medida em que diversas comunidades de 
imigrantes japoneses e seus descendentes foram estabelecendo vínculos com o maior país da 
América do Sul, esta prática imaterial ganhou força e notoriedade em várias cidades brasileiras. 
Fundamentada sob uma crença religiosa advinda de um país localizado no Extremo Oriente, 
esta festa faz de um imaginário coletivo cujo propósito consiste em honrar e celebrar a vida dos 
antepassados. 
Tradicionalmente nessa celebração, um elevado palco costuma ser colocado no 
centro do espaço festivo. Nele, algumas pessoas tocam tambores e outras vão compondo uma 
dança sincronizada. Ao seu redor, os demais festeiros dançam em filas circulares ao som das 
melodias que denotam alegria, reverência e devoção. A festa que aqui estamos a conhecer 
conjuga parte da cultura imaterial da terra do sol nascente que foi trazida ao Brasil pela maior 
comunidade de descendentes japoneses para além do arquipélago nipônico. Esta festividade 
ficou conhecida no Brasil como Bon Odori. 
Nos dias atuais essa festa acontece em cidades de todas as regiões do Brasil. No 
estado de São Paulo, por exemplo, as cidades de Andradina, Atibaia, Registro e Pereira Barreto 
consolidaram o Bon Odori há mais de 50 anos. A celebração em Maringá-PR é esperada todos 
os anos por vários grupos que dançam o Bon Odori habilidosamente. No Nordeste brasileiro, a 
mesma festa tem a sua marca consolidada há 60 anos na Mata de São João-BA e há mais de 20 
em Salvador-BA. Na capital goianiense, alguns noticiários indicam o Bon Odori dessa cidade 
como o maior festival de cultura japonesa do Centro-Oeste. Estes são alguns exemplos da festa 
Bon Odori consolidada como uma prática patrimonial que se constitui como paisagem cultural, 
conceito este que iremos nos debruçar no decorrer do presente trabalho para fins geográficos e 
educacionais. 
Nos estudos geográficos, as paisagens culturais expressam as marcas da existência 
humana no espaço seja na interação com a natureza, seja consigo mesma. Elas revelam as 
práticas simbólicas e materiais que concernem à história pessoal e a do outro. Neste sentido, o 
presente trabalho relacionou Geografia, Educação e Patrimônio para sistematizar aspectos 
geográficos e culturais sobre uma festividade de origem nipônica contextualizada ao Brasil 
graças à extensa comunidade Nipo-Brasileira. 
12 
 
 
 
A festa – ou festival – Bon Odori recebe o enfoque desse trabalho pela sua 
representatividade e visibilidade capaz de gerar estudos geográficos sobre as paisagens culturais 
japonesas e nipo-brasileiras. Seu cenário é tradicionalmente composto por lanternas de papel, 
tambores, vestimentas típicas e danças coletivas, pertinentes ao imaginário patrimonial 
nipônico. No Brasil as primeiras festas Bon Odori foram protagonizadas por várias colônias de 
imigrantes. Se revelando no espaço-tempo de maneiras específicas, tais festas apresentam 
paisagens semelhantes àquela que foi originada no Japão. 
A curiosidade em pesquisar sobre patrimônio japonês precedeu do desejo de estudar 
culturas alternas e suas manifestações simbólicas no contexto do espaço mundial globalizado. 
A paixão por essa temática, sobretudo pelos estudos das civilizações no Extremo Oriente, 
cresceu ainda mais ao assistir filmes, seriados, documentários e tantas outras produções 
culturais transmitidas na TV e na internet sobre o Japão, Coréia do Sul, China, Tailândia e outros 
países asiáticos.Além disso, a Geografia tem avançado nos estudos sobre imigrações, 
considerando que pesquisadores de várias áreas científicas têm se debruçado sobre temas que 
envolvem a Imigração Japonesa ao Brasil. Ao conhecer algumas práticas festivas japonesas, foi 
notado que o estudo de uma festividade como o Bon Odori é capaz de promover conexões 
paisagísticas entre dois países tão distintos em suas culturas e crenças. E considerando que hoje 
existem aparatos virtuais e digitais que facilitam a busca de fotografias, sons e vídeos sobre as 
paisagens patrimoniais, foi assim que o Bon Odori foi escolhido para ser estudado no contexto 
da educação geográfica e patrimonial. 
Os alicerces teóricos e metodológicos dessa pesquisa se deram durante os encontros 
do grupo de estudos sobre estética japonesa no Laboratório NihongoLab2 e durante os grupos 
de estudos sobre paisagens culturais no Laboratório de Estudos Geoeducacionais e Espaços 
Simbólicos – LEGES. O enfoque da pesquisa sobre as práticas simbólicas iniciou na execução 
do projeto de pesquisa “Paisagens Patrimoniais do Carnaval Latino: Mapeamento Simbólico de 
Urbes Turísticas”3. Partindo para um rumo independente, a pesquisa sobre patrimônio começou 
trazendo essa correlação entre paisagens culturais locais e alternas para o contexto da educação 
geográfica. Todo esse percurso da formação do professor de Geografia contribuiu de modo 
eficaz para a elucidação teórica e prática deste trabalho. 
 
2 Nihongolab é um grupo de estudos japoneses vinculado ao curso de japonês e ao Programa de Pós-Graduação 
em Letras da Universidade Estadual do Ceará. 
3 O projeto faz parte do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC) da Universidade Federal 
do Ceará em parceria com a agência financiadora CNPq Brasil. 
13 
 
 
 
É importante esclarecer que ainda não se sabe, exatamente, quando e onde a prática 
do Bon Odori começou no Brasil. Sabe-se, porém, que várias associações (ou clubes) foram 
criadas no decorrer da história da Imigração Japonesa no Brasil. São estes ajuntamentos, 
compostos por imigrantes e Nikkeis 4 , que promoveram e continuam a fomentar projetos 
culturais, esportivos e sociais nos quais estabelecem vínculos entre as famílias e preservam a 
memória cultural. Em sua pesquisa sobre práticas corporais, Ledur (2017, p. 74) observou que 
a maioria dos Festivais Bon Odori são organizados pelas associações nipo-brasileiras e que se 
revelam como prática cultural que incentiva a preservação e a transmissão de seu patrimônio 
milenar, ao mesmo tempo que se contextualiza na sua nova realidade espaço-temporal. 
Quanto às origens da festa, alguns registros datam seu surgimento no século XIV. 
No Japão o Bon Odori faz parte um outro Festival chamado “Obon”5 (WIK, 2016). Esta festa 
se caracteriza pelos ritos budistas mediante os valores perceptivos à ancestralidade, à honradez 
e à devoção. Durante o verão nipônico, este festival é conhecido pelas práticas socioculturais 
voltadas à homenagem aos antepassados, justificando a crença da visita espiritual dos mortos 
aos vivos. A dança “Bon Odori” é uma das práticas que acontecem na passagem da tarde para 
noite, cuja mudança de cores no céu compõe a celebração que é testemunhada pela paisagem. 
Considerando todas as informações obtidas sobre esta festa, a pesquisa conduziu a 
reflexão sobre a prática do Bon Odori nipo-brasileiro para a educação geográfica. Assim, o 
presente trabalho se sucedeu durante a realização do Quarto Estágio Supervisionado sucedido 
na Escola de Ensino Médio de Tempo Integral (E.E.M.T.I.) Renato Braga na cidade de 
Fortaleza/CE, cujo trabalho foi articulado com as turmas da primeira série do Ensino Médio. 
Para tanto, dispondo de informações documentais e imagéticas disponíveis, questionou-se: 
como tornar acessível e instrumentalizado a compreensão simbólica da cultura nipo-brasileira 
na educação geográfica das escolas de Ensino Médio? 
Para responder a esta pergunta, este trabalho apresenta uma sistematização 
descritiva e reflexiva para os estudos patrimoniais na Geografia Escolar. O percurso empírico 
buscou informações sobre os festivais Bon Odori realizados no Brasil a partir de informações 
obtidas em trabalhos acadêmicos, além de páginas sobre associações Nikkeis, portais de 
notícias e conteúdos divulgados em redes sociais. Conferindo e checando todas as informações 
 
4 Nikkei é o termo referente aos descendentes de japoneses nascidos fora do arquipélago japonês. Assim como 
“nipo-brasileiro”, utilizaremos esse termo no decorrer de nosso trabalho. 
5 Obon (お盆) ou Obon Matsuri (お盆祭り) significam Festival das Lanternas ou Festival de Finados. 
14 
 
 
 
obtidas, foi possível, então, caracterizar e sistematizar os elementos culturais do Japão e do 
Brasil sobre o Bon Odori sob a análise paisagística, compreendendo o seu caráter patrimonial. 
Cientes de que todos nós vivemos numa sociedade etnicamente plural, é importante 
entender que a escola deve proporcionar uma educação intercultural para obter e propagar a 
consciência de personalidade e alteridade (SERVILHA, 2019), características estas que fazem 
parte do processo de formação cidadã das alunas e alunos desta pesquisa. Foi na busca por este 
diálogo intercultural que os saberes do patrimônio cultural alterno foram conduzidos ao 
ambiente escolar. 
Questionou-se, portanto, como a temática das paisagens patrimoniais nipo-
brasileiras podem ser trazidas à Geografia Escolar no intuito de informar, visualizar e mediar 
conhecimentos de abordagem cultural. Aqui, a alteridade é definida como aquilo que pertence 
ao outro, bem como às minorias étnicas e imigratórias. Se cada sociedade revela a pluralidade 
em seu território, um diálogo intercultural com os espaços alternos (SERVILHA, 2019) 
permitirá um ensino transdisciplinar das ciências humanas e de suas implicações nas paisagens 
patrimoniais do Brasil e da América Latina. 
No planejamento do Estágio Supervisionado, foi levado em consideração que a 
cidade de Fortaleza-CE ainda não sedia uma festa Bon Odori como em outras cidades que foram 
pesquisadas. Para se pensar uma educação intercultural usando uma festa nipo-brasileira como 
exemplo, o professor deve considerar metodologias que sejam adequadas ao que o público-alvo 
entende sobre patrimônio local e o que se compreende enquanto “cultura japonesa”. O consumo 
da cultura pop e da gastronomia japonesa pelo público infanto-juvenil são exemplos capazes de 
auxiliar na criação de um ponto de partida para tratar sobre a festividade em questão. 
Outro desafio posto ao percurso educacional foi o cenário pandêmico ocasionado 
pela transmissão do vírus SARS-CoV-2 no ano de 2020. O Governo do Estado do Ceará 
decretou a suspensão das aulas presenciais no mês de março. Já em agosto do mesmo ano a 
Secretaria de Educação decretou o retorno às aulas das escolas públicas de maneira 
exclusivamente virtual/remota por tempo indeterminado. Foi nesse formato de ensino que a 
prática educacional se deu. A ação docente consistiu na elaboração de dois questionários 
estruturados, uma aula transmitida remotamente e um material de apoio elaborado com 
fotografias e infográficos próprios sobre o Bon Odori. Todos os recursos foram elaborados para 
que os alunos pudessem acessá-los nas plataformas virtuais em smartphones, tablets ou 
computadores. 
15 
 
 
 
A pesquisa conduziu um cuidado específico sobre o uso de imagens para a ação 
educacional. O exercício imagético é capaz de potencializar a visão do aluno sobre um 
determinado assunto na figura, mas seu uso inadequado pode inibir ou até anular seu propósito. 
Portanto, o trabalho vai explicar a importância do planejamento sobre a forma de expor e mediar 
o que se deseja explicar sobre uma imagem. 
Portanto, este trabalho é pautado por uma abordagem educacional e cultural. 
Enquanto conceito norteador deste trabalho, o conceito de paisagem cultural foi embasado nas 
leiturasde Serpa (2019), Rocha (2018), Marandola e Oliveira (2018). O patrimônio cultural e 
suas práticas simbólicas foram pautadas, respectivamente, nos estudos de Almeida (2013) e 
Oliveira (2007). Já as elucidações de Beltrão (2008), Takeuchi (2016) e Sakurai (2007) 
estruturaram as reflexões sobre Imigração Japonesa no Brasil. O conceito intercultural estudado 
por Servilha (2019) e Cavalcanti (2006) encaminhou a reflexão sobre educação geográfica 
pautada sob a alteridade, pois a festa em análise remonta o imaginário de diferentes 
comunidades nipo-brasileiras. O material didático foi elaborado considerando a definição e 
função da imagem discutida por Samain (2012) e Carvalho e Aragão (2012). 
Considerando o enfoque nos exercícios imagéticos, foi desenvolvido um trabalho 
visual que articulou textos, fotografias e pinturas através de um material didático 
disponibilizado virtualmente6. Composto por esse trabalho conhecido como infográfico, este 
material foi desenvolvido principalmente para conduzir os alunos a contemplarem as figuras 
que representam o saber festivo do Bon Odori desde suas origens japonesas até sua 
contextualização no Brasil. 
É importante relatar que a pandemia ocasionada pela transmissão do vírus SARS-
CoV-2 incitou em mudanças e flexibilizações na execução da pesquisa. Com isto, as visitas de 
campo foram inviabilizadas e o acesso às informações sobre as festas se deu de modo 
estritamente online. Sem esquecer que todas as práticas culturais contendo aglomerações foram 
restringidas em seus modelos tradicionais em vários meses do ano de 20207. 
Este trabalho obteve sucesso graças à contribuição de tantos outros trabalhos de 
pesquisadores que testemunharam as práticas culturais de várias comunidades Nikkeis, bem 
 
6 O material didático virtual pode ser acessado através do perfil @bonodoribr no Instagram 
<www.instagram.com/bonodoribr>. 
7 Em decorrência da possibilidade confirmada dos altos riscos de contágio do vírus entre pessoas próximas, a 
Organização Mundial da Saúde aconselhou as gestões públicas a suspenderem quaisquer atividades culturais que 
estimulassem aglomerações. Nisto, festividades como Carnavais, São João e tantas outras foram oficialmente 
canceladas. 
http://www.instagram.com/bonodoribr
16 
 
 
 
como dos festejos do Bon Odori. As fontes documentais e imagéticas na internet foram basilares 
para o exercício da prática científica e docente. Assim, foi possível avaliar a representação 
visual do Bon Odori enquanto patrimônio cultural que reconstitui ritos nipônicos e se consolida 
enquanto paisagem cultural nipo-brasileira. 
O mapa cognitivo a seguir representa a síntese do percurso metodológico que 
estrutura o presente trabalho: 
 
 
Figura 1 – Metodologia do trabalho. 
 
Fonte: Elaboração do autor (2021). 
 
Resumidamente, como objetivos específicos, foi realizada uma sondagem inicial 
sobre as festas Bon Odori no Brasil na compreensão das práticas simbólicas em suas origens 
nipônicas e na atuação de grupos nipo-brasileiros. As paisagens culturais foram pensadas 
através dos exercícios imagéticos. E por fim, foi avaliado o papel educativo do Bon Odori 
enquanto paisagem nipo-brasileira considerando os espaços locais e alternos numa discussão 
intercultural. 
No capítulo “DO JAPÃO AO BRASIL: A PAISAGEM FESTIVA DO BON 
ODORI”, é apresentado todo o referencial teórico sobre o significado das paisagens 
patrimoniais entendidas no contexto da festa nipo-brasileira Bon Odori. Primeiramente a 
ciência geográfica é associada ao conceito das paisagens patrimoniais. Em seguida, apresenta-
se uma breve descrição do rito do Bon Odori na Terra do Sol Nascente e da história da Imigração 
Japonesa no Brasil. 
Reforçando o papel das associações Nikkeis no Brasil, é relatado um panorama 
sobre a história da imigração japonesa além da descrição de alguns exemplos festivos do Bon 
Odori no Brasil considerando os relatos de pesquisadores, de figuras importantes e do uso das 
imagens fotográficas para compreender a prática simbólica nos exemplos mais comuns deste 
país. 
O capítulo seguinte “A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL NO BON ODORI NIPO-
BRASILEIRO” apresenta as práticas e as reflexões geradas pela pesquisa no espaço escolar 
adaptado para o meio digital. No tópico “Exercícios imagéticos: os signos e símbolos das festas 
Bon Odori no Brasil”, faz-se uma relação entre o conceito de imagem e a educação geográfica 
para justificar os planos de aulas e o material didático elaborado. No tópico seguinte, “Reflexões 
sobre o ensino das paisagens simbólicas Nipo-Brasileiras”, é apresentada a práxis docente que 
aconteceu durante o estágio supervisionado, além dos resultados obtidos na atividade de 
sondagem referente ao último questionário que finalizou a presente pesquisa. 
A partir dos dados e dos relatos dos alunos, todo o trabalho é pensado e realizado 
nas circunstâncias decorrentes de uma pandemia que prejudicou a educação e as expressões 
culturais que foram suspensas em sua natureza comunitária. Nas considerações finais o trabalho 
deixa uma reflexão a respeito da sistematização, da descrição do patrimônio festivo do Bon 
Odori e da atuação docente ao lidar com o desafio de ensinar as relações culturais ainda 
desconhecidas pelos alunos. Se bem articulado, os exercícios imagéticos encaminham rumos 
19 
 
 
 
educativos que dissolvem as fronteiras e estigmas sobre as culturas alternas e sobre tudo o que 
diz respeito à nossa identidade pluricultural. 
É relevante salientar que os estudos sobre o Bon Odori no Brasil estão começando 
e a mesma temática precisa ser estudada com mais amplitude no avanço das pesquisas 
acadêmicas. Por hora, resta a curiosidade em saber: será possível promover uma Educação 
Patrimonial conectando a patrimonialidade da Terra do Sol Nascente à capital da Terra da Luz? 
 
20 
 
 
 
2. DO JAPÃO AO BRASIL: A PAISAGEM FESTIVA DO BON ODORI 
 
Apresenta-se aqui o conteúdo e o referencial teórico que sustenta o percurso desta 
pesquisa: desde o que se propõe como paisagem e patrimônio até a caracterização geográfica 
da expressão cultural. Toda a base teórica é permeada pelo pensamento paisagístico que indaga 
quais são os motivos de uma Geografia que se importa com o patrimônio de um rito festivo que 
é estabelecido e celebrado em todas as regiões do Brasil. 
Compreendendo o levantamento bibliográfico enquanto natureza da pesquisa, a 
pesquisa procedeu pela busca e pela leitura de produções científicas, literárias e midiáticas que 
proporcionaram relatos, percepções e reflexões sobre as festividades Bon Odori, elucidando a 
análise sobre a paisagem imaterial enquanto expressão identitária cultural. 
Esta jornada começa com a estruturação dos fundamentos teóricos do trabalho. 
Com isto são descritos os significados da dança e da festa Bon Odori no Japão, é relatado um 
breve histórico sobre a imigração japonesa e a constituição de associações e entidades Nikkeis 
no Brasil. E, por seguinte, faz-se uma análise sobre a paisagem cultural nipo-brasileira, o Bon 
Odori, elucidando toda a paisagem patrimonial que se deseja analisar. 
 
2.1 Geografia e patrimônio cultural: pressuposto teórico para a Paisagem Cultural 
 
A paisagem cultural é o conceito que permeia a análise deste capítulo. A paisagem 
representa o aspecto do espaço que é inerente à percepção do homem (ROCHA, 2018). Existem 
diferentes tipos e abordagens paisagísticas: a paisagem urbana, agrária, industrial, religiosa e 
muitas outras. Aqui o enfoque se dá na paisagem cultural, na qual propõe uma análise 
psicológica e fenomenológica da percepção do espaço. Nisto, é possível compreender os 
aspectos visíveis, táteis, audíveis, degustativos, olfativos e afetivos que integram um cenário 
em constante mudança. 
Ao considerar os estudos paisagísticos da escola alemã, Andreotti (2013) entende 
que o significado da paisagem vai além do passado, da memória e da reconstrução histórica. Apaisagem é “também uma atitude psicológica na direção do presente, um acolher o significado 
do atual” (p. 186). Ou seja, as marcas deixadas na paisagem revelam não somente as 
21 
 
 
 
transformações ao longo da história como também testemunham a relação dos homens no 
passado e no presente. 
Ao refletir sobre os estudos de Augustin Berque sobre o pensamento paisageiro e o 
pensamento da paisagem, Marandola e Oliveira (2018) concluem que: 
[...]a paisagem ultrapassa o aspecto visual e material da realidade, levando esses 
aspectos em conta, mas sempre em relação com aspectos subjetivos. Assim 
compreendida, a paisagem é a dimensão sensível e simbólica do meio, ou a própria 
manifestação da relação entre o homem e a superfície terrestre, expressão da 
existência humana. (p. 143, MARANDOLA, OLIVEIRA, 2018) 
Desta maneira, enquanto cenário integrado, a paisagem também é dotada de 
significados nos símbolos e signos que ela demonstra. Segundo Almeida (2013), quando a 
paisagem é institucionalizada, ela se torna um patrimônio de bens culturais. É definido, então, 
o conceito de patrimônio cultural: 
[...] um recurso para a conservação de símbolos e signos culturais. O patrimônio 
reflete a história de um povo, suas lutas e conquistas, seus valores e crenças em um 
dado momento de sua existência. Além disso, o patrimônio fortalece a identidade 
cultural de um grupo e estimula cada povo a ter um patrimônio cultural. (ALMEIDA, 
2013, p. 425) 
Na Conferência para a Proteção do Patrimônio Mundial em 1972, a UNESCO 
estabeleceu uma definição de patrimônio cultural que dava abrangência somente às feições 
materiais da paisagem. Somente em 2003, na convenção realizada em Paris que os aspectos 
inerentes ao intangível passaram a compor o patrimônio cultural da humanidade. Dentre eles: 
as tradições e expressões orais, as expressões artísticas, as práticas sociais, os rituais, os atos 
festivos, os conhecimentos e as práticas relacionadas à natureza e ao universo, além das técnicas 
artesanais tradicionais (UNESCO, 2013). 
No Brasil a Constituição Federal de 1988 já considerava bens materiais e imateriais 
como parte integrante do patrimônio cultural. Mas só em 2000 que o registro de bens imateriais 
foi regulamentado no país. Em 2006 foi autorizada a lei de Salvaguarda do Patrimônio Cultural 
Imaterial (BRASIL, 2006), instância que a UNESCO já havia promulgado em 2003. 
Almeida (2013) também considera que no patrimônio “os grupos sociais 
reconhecem sua identidade e, uma vez assumidos, materializados são, no presente, transmitidos 
às gerações futuras.” (p. 426). Assim, o olhar humanístico e cultural das tradições de um povo 
nos conduz a uma leitura do patrimônio enquanto memória e afirmação da identidade social, 
concebendo a paisagem cultural na percepção dos sujeitos que a constroem. 
22 
 
 
 
Como expressão cultural e patrimonial, a festa tem o poder de transformar o espaço-
tempo. A festa é uma prática coletiva (AMARAL, 1999; OLIVEIRA, 2007), dotada de práticas 
que concernem ao sagrado e ao profano (ROSENDAHL, 1996). A despeito de sua natureza 
carnavalesca, cívica, religiosa ou diversificada, uma celebração estabelece o elo comunicativo 
e comunitário (FERREIRA, 2006). São expressões culturais derivadas dos imaginários sociais 
inerentes às identidades coletivas e individuais. Na representação de cada elemento de uma 
festa, a paisagem simbólica estabelece o seu propósito festivo (OLIVEIRA et. al, 2013). 
Ao observarmos uma festa, nos deparamos com a fé, a devoção e a socialização 
reveladas no imaginário das práticas simbólicas. As festas dos espaços vividos apontam para as 
identidades locais como parte da realidade próxima do observador. É como para os fortalezenses 
que vivenciam a organização do Réveillon na Beira-Mar, desde o anúncio oficial divulgado 
pela gestão municipal até a sua realização. Ou como para os pernambucanos que testemunham 
o espaço-tempo das festas carnavalescas nas cidades de Olinda e Recife. 
Já as festas alternas conferem expressões simbólicas num país que não se isola 
internamente. As festas de diferentes grupos religiosos, as cerimônias cívicas, as festas onde 
direitos de grupos sociais são reivindicados (protestos políticos, por exemplo), as festas trazidas 
pelos imigrantes bolivianos, italianos, alemães, argentinos, japoneses e tantas outras 
nacionalidades. Essas e tantas outras práticas simbólicas dimensionam um país que precisa ser 
conhecido pela sua própria difusão e pluralidade étnica e cultural. Nesse sentido, como 
promover uma espacialização deste patrimônio se cada exemplo festivo é constituído por 
agentes, ritos e pela memória firmada em sua identidade patrimonial? 
Como será visto adiante, o Bon Odori uma paisagem de marcas devocionais 
pertencentes às gerações de imigrantes japoneses e nipo-brasileiros. Portanto, para realizar um 
estudo breve e sistemático sobre a paisagem da festa do Bon Odori, é preciso, antes de tudo, 
conhecê-la em suas origens. 
 
2.2 Do japonês imigrante à identidade Nikkei 
 
O dia 18 de junho de 1908 marcou a história do país quando mais de 780 imigrantes 
japoneses chegaram ao Porto de Santos no estado de São Paulo. Este fato foi um marco histórico 
para o Brasil porque foi a primeira das muitas chegadas de imigrantes japoneses. Foram os 
23 
 
 
 
primeiros resultados visíveis do Tratado de Amizade entre o Japão e o Brasil, acordo 
diplomático assinado entre os dois países no dia 5 de novembro de 1895 em Paris, França. 
Com o passar das décadas, a crescente formação de colônias avançou pela extensão 
do território brasileiro, ainda que de maneira desigual. Mas a formação identitária das 
comunidades nipo-brasileiras aconteceu em meio a um cenário de altas demandas de trabalho 
e de práticas governamentais e sociais que demonstravam uma postura xenofóbica por parte de 
outros brasileiros. 
Primeiramente o governo exigia que não houvesse um proselitismo religioso fora 
do Japão (LESSER, 2001, apud. ANDRE, 2017). O regime trabalhista imposto aos imigrantes 
se baseava no sistema colonato. Logo, o enraizamento cultural das famílias era ainda mais 
dificultado (ANDRÉ, 2011). Muitos deles desejavam retornar brevemente ao Japão com boas 
condições financeiras8. Sobretudo, eles não demorariam a constatar que os cafezais, conhecidas 
no Japão como “árvores de ouro” não garantiriam as fáceis riquezas que se falavam do Brasil. 
A expansão identitária nipo-brasileira era dificultada, também, com o reforço à 
xenofobia por intelectuais e políticos da época quando estes usavam como pressuposto a 
“segurança do povo brasileiro” para defender teorias relacionadas ao “Perigo Amarelo”9. Não 
foi à toa que várias colônias foram perseguidas e controladas durante a ditadura estadonovista 
(TAKEUCHI, 2016) e durante a Segunda Guerra Mundial quando o Japão se aliou ao Eixo e 
se declarou inimigo dos Estados Unidos (SAKURAI, 2007). 
Em 1945 o Japão anunciou sua rendição na Segunda Guerra Mundial, revelando ao 
mundo sua drástica crise econômica e influenciando a mudança de perspectiva das colônias 
japonesas. Diante desse fato, o Brasil se tornou a opção mais viável para uma habitação 
permanente. A segunda metade do século XX indicou, então, uma nova fase na reestruturação 
social, econômica e cultural da comunidade nipo-brasileira: 
O pós-guerra foi um período de reorganização da colônia japonesa no Brasil que, após 
os tempos nebulosos da década anterior, encontrava-se desestruturada como 
comunidade étnica. [...] Diante desta realidade a maioria decidiu fixar residência 
permanente no Brasil e isto produziu uma profunda mudança no planejamento de vida 
dos imigrantes (BELTRÃO et. al, 2008, p. 264). 
 
8 O fenômeno “dekassegui” (出稼ぎ, “trabalhando longe de casa” em tradução livre) compreende um público de 
imigrantes e de Nikkeis que retornam ao seu país de origem. Em outras leituras, enfatiza-se aqueles que tinham a 
premissa de “trabalhar, ganhardinheiro e voltar para o Japão” (BELTRÃO et al, 2008, p. 303). 
9 O “Perigo Amarelo” (ou “Perigo Japonês”) foi um conceito idealizado no século XX que indicava um medo de 
que o militarismo japonês conseguisse dominar a raça amarela sobre a raça branca (UENO, 2019). 
24 
 
 
 
É importante ressaltar que os nipo-brasileiros não representam um grupo só, pois 
cada colônia era formada por famílias que vinham de diferentes regiões do Japão (BELTRÃO 
et al. 2008). Cada colônia precisou lidar com diferentes realidades físico-geográficas em todo 
o território brasileiro. Com a urbanização e o crescimento das cidades, algumas delas foram 
reduzidas, dispersas ou agregadas umas às outras. Deste modo, a identidade Nikkei está 
intrínseca às perspectivas e modos de vida em que as famílias nipo-brasileiras viviam e 
passaram a viver com a perspectiva de permanência no Brasil. 
O processo de integração à sociedade brasileira seria perceptível nas décadas de 
1960 e 1970, sobretudo num período de inserção dos nikkeis nas universidades públicas e na 
ocupação de profissões de notoriedade social. Nesta fase da história dos nipo-brasileiros é 
possível contemplar um impulso na prática de atividades religiosas, culturais, esportivas e 
educacionais. Graças à cultura do associativismo, tradicional na Terra do Sol Nascente, os 
clubes e associações de Nikkeis também se tornaram comum no Brasil. 
As associações visam a confraternização entre os nikkeis e a valorização dos 
costumes da própria cultura nipônica. Atividades esportivas, educacionais e culturais se tornam 
bastante comum na preservação da memória cultural do país de origem. Segundo a Comissão 
de Elaboração da História dos 80 Anos da Imigração Japonesa no Brasil (1992): 
Desconhece-se o número exato de associações de japoneses existentes em todo o 
Brasil na época. Mas em 1932 havia 223 (Anuário Brasil), número que saltou para 
480 em 1940, segundo Zaihaku Hojin Shakai no Bunka Oyobi Keizai Shosô (Diversos 
Aspectos Culturais e Sociais da Comunidade Japonesa do Brasil), de Kiyotaka Emi. 
A dimensão dessas entidades variava de alguns associados, quando pequenas, até 150 
ou mais quando grandes. Quando existiam muitas associações de japoneses numa 
zona, nascia naturalmente uma federação. Conforme a região, organizava-se ainda 
uma entidade superior (SOCIEDADE BRASILEIRA DE CULTURA JAPONESA, p. 
209). 
Já havia, então, um número considerável de associações na primeira metade do 
século XX, principalmente no estado de São Paulo onde a história da imigração começou. Com 
a decisão da permanência fixa dos imigrantes e nikkeis no Pós-Guerra, o cenário social e 
cultural brasileiro passou a viver uma transformação ainda evidente. 
Uma pesquisa realizada em 2018 pelo Centro de Estudos Nipo-Brasileiros – CENB 
– constatou que existem cerca de 436 associações nipo-brasileiras em funcionamento 10 . 
 
10 Os resultados foram apresentados em novembro de 2018 no Japan House São Paulo. Os dados quantitativos 
foram cartografados e disponibilizados em um mapa interativo virtual disponível em 
<http://nw.org.br/sistema/ctr_APIGoogleMaps_filtro/>. Fonte: Jornal Nippak. Disponível em: 
<https://www.jnippak.com.br/2019/cenb-disponibiliza-mapa-das-entidades-nikkeis-no-brasil/>. Acesso em 10 jul. 
2021 às 18:45. 
http://nw.org.br/sistema/ctr_APIGoogleMaps_filtro/
https://www.jnippak.com.br/2019/cenb-disponibiliza-mapa-das-entidades-nikkeis-no-brasil/
25 
 
 
 
Considerando os dados divulgados, todas as regiões do Brasil contemplam associações nipo-
brasileiras com diferentes atividades culturais. Dentre elas, uma das festas mais conhecidas e 
protagonizada por essas associações é aquela que recebe o enfoque da pesquisa: o Bon Odori. 
 
2.3 A volta dos ancestrais: o Bon Odori no Japão 
 
Para compreender o Bon Odori, é importante entender o contexto em que a festa se 
insere, pois antes de tudo o Bon Odori é uma dança que compõe uma das práticas do Obon 
Matsuri11 (ou simplesmente Obon). Inicialmente é apresentado uma descrição breve sobre as 
práticas que fazem parte do Obon no desejo de obter uma compreensão sobre os valores que 
constituem essa festa: a percepção sobre espiritualidade e vida após a morte pautada num 
segmento do Budismo Japonês que endossa a prática do Bon Odori. 
O Obon é um festival popular celebrado durante 3 dias durante o verão japonês: 
geralmente no mês de agosto ou setembro nos dias correspondentes ao décimo quinto dia do 
mês de agosto. No imaginário budista japonês se acredita que, neste período, os espíritos dos 
antepassados visitam a dimensão terrena. Nisto o Festival contempla vários ritos mortuários 
que consistem em receber o espírito dos ancestrais, celebrar sua presença e enviá-los de volta 
às suas origens. 
Uma das tradições que começam o período do Obon é o Ohakamairi12, rito em que 
várias famílias visitam o túmulo de seus antepassados para rezar por eles e conversar, contando 
as novidades sobre a família e sobre o mundo aos mortos. Primeiramente, os túmulos são limpos 
num rito zeloso de purificação, sendo adornados com flores, principalmente com um crisântemo, 
ou a flor que o antepassado gostava quando era vivo (GEERAERT, 2020). A imagem a seguir 
representa o ato da purificação do túmulo. 
 
11 Obon Matsuri (お盆祭り) significa literalmente “Festival das Lanternas” ou “Festival de Finados”. 
12 Ohakamairi (お墓参り) é traduzido literalmente como o ato de visitar o túmulo de alguém. 
26 
 
 
 
Figura 2 – representação do ato de purificação no Ohakamairi.
 
Fonte: https://kokoro-jp.com/culture/380/ . Fotografia de Aquico. 
Outro rito que introduz o festival é o Mukae-Bi13 em que os familiares chamam os 
espíritos para visitarem seus lares. Os símbolos que adornam o ambiente externo e interno das 
casas anunciam a delicada preocupação das famílias com a chegada de seus ancestrais. As 
lanternas, conhecidas por Chochin 14são colocadas na frente das casas no para guiar os espíritos 
até a casa. Um relicário budista comum nos lares é o Butsudan15: um altar adornado para fazer 
preces em honra aos espíritos. Existe também a tradição de oferecer alimentos aos espíritos que 
é chamado como Ozen16. 
Outras celebrações podem diferir pelas variações dos credos religiosos ou até 
mesmo pelas condições geográficas de cada lugar. Na província de Kyoto, por exemplo, o 
Gozan no Okuri-Bi17 é realizado como o momento culminante de despedida dos espíritos. Neste 
rito são acesas cinco fogueiras enormes nas montanhas da cidade, cada uma representando 
diferentes símbolos concernentes à fé Budista. São acesos os símbolos Dai que significa 
 
13 Mukae-Bi (迎え火) é traduzido literalmente como “fogo de saudação” para receber os espíritos compreendendo 
a primeira noite do Festival Obon. 
14 Chochin (提灯) significa lanterna de papel. Também é conhecida como lanterna japonesa ou chinesa. 
15 Butsudan (仏壇) é traduzido literalmente como “altar de Buda” presente em muitos lares e templos cuja religião 
é o Budismo Japonês. 
16 Ozen (お膳) é uma expressão que descreve uma mesa pequena de quatro pés semelhante a uma bandeja. No 
contexto do Obon, Ozen descreve a comida, colocada nessa espécie de mesa, compartilhada com os espíritos. 
17 Gozan (五山) se refere às cinco montanhas mais importantes de uma região. Okuri-Bi (送り火) indica o fogo 
cerimonial de despedida dos espíritos. A junção dessas palavras compõe o nome do evento tal como ele é 
conhecido em Kyoto, Japão: Gozan no Okuri-Bi (五山送り火). 
https://kokoro-jp.com/culture/380/
27 
 
 
 
“grande” em japonês, Myo e Ho que são dois símbolos kanjis que formam a expressão “Darma 
Maravilhoso”18. 
Além desses, também são acesos os símbolos que representam um barco e a entrada 
de um santuário, o torii. Acredita-se que o conjunto dos símbolos representados nas fogueiras 
é transmitida uma mensagem de envio dos espíritos às suas origens. A figura a seguir traz um 
mosaico de fotos representando a cerimônia do Gozan no Okuri-Bi na provínciade Kyoto no 
Japão: 
Figura 3 – vistas dos símbolos acesos em montes de Kyoto, Japão.
 
Fonte: https://www.japaoemfoco.com/daimonji-gozan-no-okuribi/ 
Outro rito relacionado à despedida dos espíritos é o Tooro Nagashi19(ou Toro 
Nagashi). Trata-se de um rito em que lanternas de papel flutuantes são colocadas no rio. Cada 
lanterna representa um espírito, a vida de alguém que faleceu. Dando ênfase à lembrança, à 
honra e a despedida dos antepassados, cada lanterna flutuante segue o curso do rio, no propósito 
de guiar os espíritos para suas origens. Esta cerimônia foi realizada pela primeira vez em 1946 
no intuito de homenagear as vítimas dos bombardeios no arquipélago nipônico durante a 
Segunda Guerra Mundial. 
Uma das cerimônias de Toro Nagashi mais relevantes do Japão aconteceu pela 
primeira vez em Hiroshima em 1947 dois anos após o lançamento das bombas atômicas que 
 
18 O “Darma Maravilhoso” (ou Myo-Ho [妙法]) se refere aos ensinamentos do Budismo Saddharma. 
19 Tooro (灯籠) significa uma lanterna feita de madeira ou metal tradicionalmente utilizada dentro dos templos 
budistas. Já Nagashi (流し) é uma expressão que pode significar cruzeiro, passear, flutuar e outros significados. 
Na junção da expressão, Tooro Nagashi (灯篭流し) 
https://www.japaoemfoco.com/daimonji-gozan-no-okuribi/
28 
 
 
 
devastaram esta cidade e dizimou milhares de pessoas. Anualmente, cerca de 100.000 Toros 
são colocadas no rio Motoyasu no início da noite de 6 de agosto como uma forma de honrar a 
vida daqueles que morreram naquela época. Outro importante Toro Nagashi acontece em Tokyo, 
no rio Sumida, em homenagem aos que faleceram no terremoto em 1923 em Kanto20. A 
fotografia a seguir apresenta a tradicional cerimônia acontecendo no rio Motoyasu em 
Hiroshima: 
Figura 4 – Tooro Nagashi em Hiroshima, Japão.
 
Fonte: http://www.culturajaponesa.com.br/wp-content/uploads/2014/08/tooro-nagashi-paz-registro-2014.jpg. 
Fotografia de Terry Kimura. 
O Bon Odori entra em cena como uma das tradições que intermediam os festejos 
do Obon, costumeiramente celebrado no anoitecer dos dias de festival. De maneira geral, textos 
acadêmicos e populares descrevem o Bon Odori como uma prática corporal que presta uma 
homenagem aos mortos: afirmação que está correta em sua finalidade. Entretanto, André e Luiz 
(2018) pesquisaram mais a fundo e afirmaram que a natureza religiosa do Bon Odori consiste 
em auxiliar os espíritos a transmigrar das dimensões de sofrimento. Uma lenda japonesa vai 
sustentar a prática budista e que leremos a seguir. 
A história conta que um monge, chamado Mokuen21, teve uma visão de sua falecida 
mãe sofrendo em um dos níveis astrais. Desesperado, o monge clamou a Buda que livrasse sua 
 
20 Disponível em <https://theculturetrip.com/asia/japan/articles/the-history-of-toro-nagashi-japans-glowing-
lantern-festival/>; <https://matcha-jp.com/en/2484>. Acesso em 15 ago. 2021. 
21 Alguns trabalhos afirmam que o monge era chamado Mokuren (ANDRÉ, LUIZ, 2018). Outros trabalhos 
indicam Mokuen (KUBOTA, 2008; GOMES, 2020; AIHARA, 2008; LEDUR, 2017). 
http://www.culturajaponesa.com.br/wp-content/uploads/2014/08/tooro-nagashi-paz-registro-2014.jpg
https://theculturetrip.com/asia/japan/articles/the-history-of-toro-nagashi-japans-glowing-lantern-festival/
https://theculturetrip.com/asia/japan/articles/the-history-of-toro-nagashi-japans-glowing-lantern-festival/
https://matcha-jp.com/en/2484
29 
 
 
 
mãe deste tormento. Em resposta, Buda o sugeriu que reunisse os monges das redondezas dentro 
do mosteiro e ali permanecessem comendo e bebendo. Feito isto, os monges se reuniram, 
passaram um bom tempo neste festejo, onde conceberam a visão da mãe de Mokuen fora 
daquela dimensão de dor. E assim os monges se alegraram e começaram a dançar em círculos. 
É assim que a história introduz a prática do Bon Odori: uma prática corporal que justifica a 
festa repleta de júbilo e de devoção. 
Além dessa formação festiva oriunda da concepção religiosa, André e Luiz (2008) 
verificaram que o Bon Odori se trata de uma prática festiva que manifesta a concepção de morte 
na vertente Mahayana do Budismo. Este segmento flexibiliza as práticas culturais e as torna 
mais acessíveis à comunidade leiga (p. 799). Ou seja, em muitos casos a paisagem festiva do 
Bon Odori é composta por pessoas que não necessariamente compartilham da mesma fé ou 
devoção, mas que festejam por estabelecer um afeto com a festividade. 
Dos festejos tradicionais aos mais modernos, o Bon Odori no Japão protagoniza um 
cenário marcado pelos sons advindos dos taikos22, pelas pessoas vestidas à caráter23, pelos 
cheiros das comidas sendo feitas e vendidas nos quiosques, pela luminosidade vindas das 
lanternas e pelo yagura24. Este último se trata de uma espécie de palco localizado no centro do 
espaço festivo onde um pequeno grupo de pessoas dançam e tocam os instrumentos de 
percussão, incentivando os demais festeiros a dançarem de modo semelhante ao redor do palco, 
estabelecendo um movimento circular. 
 
22 Taiko (太鼓) é a expressão que define os tambores japoneses. Garcia (2020) o define como “diversos formatos 
de tambores ou membrafones que compõem uma significativa diversidade de estilos, tamanhos, características e 
sonoridades” (p. 30). 
23 A yukata (浴衣) é uma vestimenta (quimono) usada durante o verão nipônico feita de algodão. Devemos lembrar 
que o Obon Matsuri é, também, um festival de verão. 
24 O Yagura (櫓) pode ser traduzido como torre de vigia ou espaço formado por andaimes ou por madeira. É a 
torre/palco inserido no centro do espaço festivo do Bon Odori. 
30 
 
 
 
Figura 5 – Exemplo de Bon Odori no Japão: enfoque no yagura.
 
Fonte: https://shorturl.at/ajoBZ. Fotografia de Yuko Ueta. 
No distrito de Ebisu em Tóquio, o Bon Odori é celebrado frente a uma das saídas 
da estação de trem. Neste local é montado um andaime de 3 andares para ser o yagura, onde 
músicos tocam taikos e grupos dançam. O público tenta reproduzir os mesmos passos, 
aumentando a dimensão da prática corporal dentro da festa. Vale evidenciar a presença de 
diversos quiosques para a venda de lanches, deixando o espaço festivo ainda mais enérgico. 
Figura 6 – Festa Bon Odori no distrito de Ebisu (恵比寿), em Tóquio, Japão.
 
Fonte: https://blog.brunchandmilk.com/ebisu_tokyo_bon-odori_2019/. Fotografia de Takuya Saeki. 
https://shorturl.at/ajoBZ
https://blog.brunchandmilk.com/ebisu_tokyo_bon-odori_2019/
31 
 
 
 
No caso da festa Bon Odori em Nagano, Japão, percebe-se que a paisagem festiva 
evidencia a relevância do sagrado. Podemos justificar esse caráter pelo ambiente da festa, 
colocado próximo ao templo Budista Zenko-Ji. Apesar disso, aspectos como a presença do 
yagura, do taiko, dos chochins e das vestes de yukata revelam a semelhança da festa com aquela 
realizada na megalópole japonesa. A fotografia seguinte visualiza alguns aspectos da paisagem 
festiva em Nagano: 
Figura 7 – Festival Obon em Nagano, Japão. 
 
Fonte: https://www.instagram.com/p/CMS7pXtBRMQ/. Fotografia de Martin Fogaça. 
É compreendido, então, que o Obon reflete a concepção de morte e ancestralidade 
referente à fé Budista japonesa. A crença sobre a presença dos antepassados foi ensinada por 
gerações propagando as práticas festivas no Obon até os dias atuais. Todos aqueles que fazem 
este festival acontecer encaminham uma celebração que em sua essência reflete a honra, o 
respeito, a gratidão e a devoção. 
Observando as fotografias e textos sobre o festival em questão, é perceptível que 
várias cerimônias nipônicas de Bon Odori são frequentadas por pessoas que não 
necessariamente mantenham um vínculo direto com a fé Budista. Portanto, o Obon e o Bon 
Odori são descritos por seus espaços festivos e potenciais turísticos que conquistam repercussão 
internacional e alcançam popularidade até mesmo entre aqueles que não são japoneses. 
https://www.instagram.com/p/CMS7pXtBRMQ/
32 
 
 
 
 
2.4 Bon Odori no Brasil: as paisagensculturais a partir da festa 
 
No intuito de compreender a contextualização da prática do Bon Odori no Brasil, o 
levantamento bibliográfico foi essencial para conhecer as percepções daqueles que já estudaram 
a temática e/ou que testemunharam a paisagem consolidada no Bon Odori. Foi importante 
considerar outras fontes audiovisuais que assegurassem informações confiáveis. Assim, os 
dados foram checados com as fontes acadêmicas, consolidando um mapeamento seguro para 
este trabalho. 
É válido ressaltar que nem todas as festas Bon Odori no Brasil são divulgadas nas 
mídias de comunicação mais populares do Brasil (TV, Internet etc.). Alguns casos podem ter 
sidos ignorados desse levantamento e isso impossibilita uma quantificação exata das festas Bon 
Odori no território brasileiro. Independente disso, os dados obtidos são suficientes para o que a 
pesquisa deseja verificar. Com os resultados parciais obtidos, temos uma noção inicial sobre a 
dimensão patrimonial do Bon Odori no Brasil. 
 Apresenta-se, então, um quadro com os dados qualitativos das festividades no 
Brasil categorizados por: aspectos regionais, aspectos locacionais, períodos de realização, 
agentes organizadores, edição25 a data de realização com o ano de referência em 201926: 
 
 
25 Enfatizamos a chave “Edição em 2019” porque, ao verificar este dado, podemos prever a maturidade do evento 
por determinadas associações nas respectivas regiões e cidades. 
26 2019 foi escolhido por ser o ano precedente à atual pesquisa. Nos casos onde existem um traço (-) refere-se à 
incerteza da realização do evento naquele ano. 
33 
 
 
 
Figura 8 – Quadro qualitativo sobre o Bon Odori no Brasil (atualizado até julho de 2021). 
 
Fonte: Elaboração do Autor (2021) 
REGIÃO UF CIDADE FESTIVAL ORGANIZADORES LOCAL
EDIÇÃO 
EM 2019
PERÍODO
PR Londrina
Festival Bon Odori 
(Londrina Matsuri)
Grupo Sansey - Cultural e 
Beneficente
Parque de 
Exposições 
Ney Braga
17°
6 a 8 de 
Sembro
PR Londrina
Bon Odori (Expo 
Japão)
Associação Cultural e 
Esportiva de Londrina - ACEL
ACEL – 19 a 23 de 
Junho
PR Maringá Bon Odori
Aliança Cultural Brasil-Japão 
do Paraná
ACEMA 40°
10 de 
Agosto
MS
Campo 
Grande
Bon Odori
Associação Esportiva e 
Cultural Nipo-Brasileira – 
AECNB – Campo Grande-MS
AECNB 17°
17 e 18 de 
Agosto
MS
Três 
Lagoas
Bon Odori
Associação Nipo-Brasileira 
de Três Lagoas
Associação 
Nipo-
Brasileira de 
Três Lagoas
48° 7 de Junho
GO Goiânia Bon Odori
Associação Nipo-Brasileira 
do Estado de Goiás - ANBG
Kaikan - ANBG 17°
23 e 24 de 
Agosto
MG Ipatinga Bon Odori
Associação Nipo-Brasileira 
de Ipatinga - ANBI
ANBI – 19 de 
Outubro
SP Andradina Bon Odori
Associação Assistencial, 
Cultural e Esportiva de 
Andradina - AACEA
AACEA 62
13 de 
Julho
SP Atibaia Festival Bon Odori
Associação Cultural 
Esportiva Nipo Brasileira De 
Atibaia - ACENBRA 
Associação Fukushima 
Kenjin de Atibaia
Praça da Igreja 
Matriz - 
Atibaia-SP
51°
8 e 9 de 
Junho
SP
Pereira 
Barreto
Bon Odori
Associação Esportiva e 
Cultural Pereira-barretense - 
 ACEP
ACEP 58°
26 e 27 de 
Julho
SP Registro Bon Odori Bunkyo de Registro
Templo Honpa 
Hongwanji
59°
17 de 
agosto
SP
São 
Miguel 
Paulista
Festa Japonesa Bon 
Odori de São Miguel
Associação Cultural e 
Desportiva Nikkei de São 
Miguel
Campo de 
Gueitebol 
(CDC - Jardim 
São Vicente)
7°
1° de 
Dezembro
AM Manaus Bon Odori
Associação Nipo-Brasileira 
da Amazônia Ocidental
Manaus 
Country Club
– 10 de 
Agosto
PA Castanhal Bon Odori ACNBC
Associação Cultural Nipo-
Brasileira de Castanhal 
(ACNBC)
ACNBC 17°
21 de 
Setembro
PA
Santa 
Isabel do 
Pará
Natsu Matsuri
Associação Cultural Nipo-
Brasileira de Santa Izabel e 
Santo Antonio do Tauá
Quadra do 
Gate-Ball da 
ACNIBRASS
– 31 de 
agosto
PA Tomé-Açu Bon Odori
Associação Cultural de 
Tomé-Açu - ACTA
ACTA 16°
20 de 
Julho
BA Juazeiro Bon Odori
Associação Cultural e 
Esportiva Nipo Brasileira do 
Vale do São Francisco
ACENIBRA –
17 de 
agosto
BA
Mata de 
São João
Bon Odori
Núcleo Colonial Juscelino 
Kubitschek
Associação 
Cultural Nipo-
Brasileira da 
Colônia do JK
60°
4 de 
Agosto
BA Salvador
Festival da Cultura 
Japonesa de Salvador 
/ Bon Odori
Associação Cultural Nipo-
Brasileira de Salvador 
(ANISA)
Parque de 
Exposições de 
Salvador-BA
13°/28°
30 de 
Agosto a 
1° de 
Setembro
PE Recife Bon Odori
Associação Cultural 
Japonesa do Recife (ACJR)
ACJR 13
28 de 
Outubro
S
u
d
e
st
e
C
e
n
tr
o
-O
e
st
e
N
o
rt
e
N
o
rd
e
st
e
S
u
l
34 
 
 
 
Com base nas localidades e no tempo de maturidade desses eventos, pressupõe-se 
que existem diferentes justificativas e maneiras na realização das festas em cada cidade. Com 
isto, entende-se que não existe uma paisagem festiva única do Bon Odori no Brasil. Há 
diferenças nas formas de fazer a prática simbólica em cada contexto espacial e temporal. Por 
outro lado, existem semelhanças entre essas festas e são nelas que este trabalho ancora o 
fundamento comparativo a fim de estabelecer a sistematização cultural e geográfica. 
Considerando as divisões regionais do Brasil, são selecionadas as festas Bon Odori 
nas cidades de Pereira Barreto-SP, Campo Grande-MS, Atibaia-SP, Tomé-Açu-PA, Salvador-
BA 27 e Goiânia-GO. Esta seleção considerou a disponibilidade de trabalhos científicos, 
fotografias e notícias sobre estes exemplos, ajudando a elaborar, então, um acervo suficiente 
para o mapeamento desenvolvido. 
A cidade paulista de Pereira Barreto é palco de uma das festas Bon Odori mais 
antigas do Brasil, tanto que chegou a sua 58ª edição no ano de 2019. Ela acontece anualmente 
na Estância Turística da cidade, sendo reconhecida como um dos eventos mais relevantes na 
região. Nesta festa, um palco elevado é colocado no centro do espaço, cordas com luzes 
amarelas e chochins são ligadas do alto do yagura até as barracas onde as comidas típicas 
japonesas são vendidas e a dança é realizada de modo circular ao imitar os passos dos grupos 
que se apresentam no palco. A fotografia a seguir nos traz essa representação: 
 
27 Faremos uma breve menção ao Bon Odori nas cidades baianas de Mata de São João e de Juazeiro para 
contextualizar as declarações da Federação Cultural Nipo-Brasileira da Bahia (FCNBB) sobre a relevância da 
patrimonialidade do Bon Odori no estado. 
35 
 
 
 
Figura 9 – Momento da dança Bon Odori em Pereira Barreto-SP
 
Fonte: https://encurtador.com.br/pBNVX. Prefeitura de Pereira Barreto. 
 Este Bon Odori já é conhecido pelos citadinos de tal maneira que a prefeitura 
incluiu o Bon Odori como parte dos eventos oficiais de aniversário da cidade. A popularidade 
e a representação circular pode ser melhor contemplada nas imagens aéreas da festa em Pereira 
Barreto como se vê na fotografia adiante: 
Figura 10 – Imagem aérea do 58° Bon Odori na Estância Turística de Pereira Barreto.
 
Fonte: https://bit.ly/2Wc96Rg. Fotografia de Paulo Mitsuyoshi Chiesa Nishiyama. 
https://encurtador.com.br/pBNVX
https://bit.ly/2Wc96Rg
36 
 
 
 
Outro Bon Odori consolidado numa das colônias mais populosas do Brasil é aquele 
realizado na capital sul-mato-grossense, Campo Grande. Kubota (2008) pesquisou sobre a festa 
de Campo Grande - MS e relata que, antes da década de 1990, o Bon Odori era restrito à colônia 
japonesa/nikkei. Anos depois a comunidade externa passou a participar e conquistou 
popularidade à festa. Tanto que a Prefeitura Municipal de Campo Grande incluiu o Bon Odori 
no calendário oficial dos eventos da cidade (p. 112). 
As duas figuras a seguir representam a festividade realizada em 2018. Nelas são 
visualizadas um ambiente ornamentado por flores de cerejeiras, lanternas (chochin) e o palco 
(yagura) no centro do espaço de socialização do Bon Odori em Campo Grande – MS. Na 
primeira figura é possível observar o momento onde as pessoas dançam de forma semelhante. 
Na segunda fotografia há uma apresentação de tambores.Figuras 11 e 12 – Espaço festivo do Bon Odori em Campo Grande – MS.
 
Fonte: <https://www.shorturl.at/inNY4>; <https://www.shorturl.at/crCL0>. Fotografias de Dione Hashioka 
 O protagonismo feminino pode ser verificado nas fotografias referentes ao Bon 
Odori que acontece no Festival Nipo-Brasileiro em Maringá-PR. No espaço da Associação 
Cultural e Esportiva de Maringá – ACEMA – grupos locais e de outras cidades paranaenses se 
reúnem para celebrar a dança Bon Odori. Nas fotografias e vídeos encontrados, a presença das 
mulheres na condução da dança e na percussão musical são notórias. A figura a seguir 
demonstra esta paisagem no Festival Nipo-Brasileiro de Maringá. 
https://www.shorturl.at/inNY4
https://www.shorturl.at/crCL0
37 
 
 
 
Figura 13 – Festival Nipo-Brasileiro em Maringá
 
Fonte: https://shorturl.at/iuNP8. Fotografia publicada pelo Grupo Hikari de Londrina no Facebook. 
Enquanto exemplo de festa oficializada como parte dos eventos citadinos, o Bon 
Odori em Atibaia – SP é um exemplo de protagonismo. Realizada há mais de 50 anos, este Bon 
Odori é promovido não só pela Associação Cultural Esportiva Nipo-Brasileira de Atibaia 
(ACENBRA), como pelo grupo beneficente “Bon Odori Atibaia”. A festa acontece durante dois 
dias. Na paisagem festiva durante o entardecer, o público vai se achegando na Praça da Igreja 
Matriz, sendo convidados a participarem enquanto um grupo toca Taiko e as canções 
tradicionais ressoam. A fotografia adiante revela o yagura montado na frente da Igreja Matriz 
com a presença dos chochins nos varais montados saindo do palco para várias direções na praça: 
https://shorturl.at/iuNP8
38 
 
 
 
Figura 14 – 50° Bon Odori de Atibaia-SP.
 
Fonte: Fotografia de Giuliano Pieve. 
O exemplo de Tomé-Açu se mostra como uma festa simbólica e identitária numa 
colônia que ganhou visibilidade não só no estado do Pará como em todo o território nacional 
por causa de seu protagonismo histórico na região Norte do Brasil. A pesquisa de Aihara (2008) 
proporcionou uma descrição detalhada sobre as percepções dos amigos e parentes da família 
Onuma, os quais são o enfoque sociológico de seu trabalho. Sua descrição promoveu várias 
observações a respeito do Bon Odori naquela comunidade. 
Nas memórias sobre os ritos e socializações da colônia de Tomé-Açu no Pará, o 
Bon Odori foi um dos espaços simbólicos mais recordados. Seus relatos carregam informações 
concisas sobre a festividade, assim como carregam o afeto sobre a tradição ensinada por seus 
avós. E assim Aihara nos descreve um olhar atencioso sobre a festa em Tomé-Açu – PA: 
[...]o Bon-Odori realizado anualmente em Tomé-Açu, ressurgiu para mim a partir de 
imagens prenhes de emoções e de sentimentos relativos às experiências vividas em 
Tomé-Açu, como é esse culto tradicionalmente executado pelo japonês aos parentes 
mortos. As experiências que a minha memória guardou, foram aquelas em que 
dançávamos em forma de círculo em torno do yagurá, sobre o qual ficava o tocador 
de taykô. 
Éramos então, conduzidos pelas senhoras vestidas de kimono as quais ensinavam os 
passos cadenciados pelo toque do tambor que dava ritmo a música entoada pelos 
participantes. Agradecíamos dessa maneira, a visita de nossos antepassados que 
retornavam ao plano terrestre para nos desejar boa safra e longa vida. Ao longo do 
ritual ocorria a venda de comidas de origem japonesa, tais como o sushi e o udon, 
sendo ofertados e consumidos outros alimentos ocidentais, como o refrigerante e a 
cerveja, por exemplo. (AIHARA, 2008, p. 48 - 49) 
39 
 
 
 
Em 2019 o Bon Odori aconteceu no Festival que celebrou os 90 anos da Imigração 
Japonesa em Tomé-Açu28. Um yagura foi montado e nele a representatividade de luzes e cores 
se deram semelhantemente às representações do Bon Odori nipônico. Essa festa tem sido 
realizada no espaço da Associação Cultural e Fomento Agrícola de Tomé-Açu – ACTA. É 
possível visualizar o cenário deste Bon Odori na fotografia realizada em 2016. 
Figura 15 – Bon Odori em Tomé-Açu realizado no ano de 2016.
 
Fonte: Fotografia de Ivi Tavares. 
Em Salvador-BA, o primeiro registro oficial de uma festa Bon Odori data no ano 
1991. Em 2007 ela passou a ser chamada de “Festival de Cultura Japonesa de Salvador”, 
alcançando mais visibilidade ano após ano. Em entrevista ao coordenador do evento, João Koji 
Sunano, ele justificou que o Bon Odori foi inserido no Festival de Cultura Japonesa de Salvador 
no intuito de apresentar a cultura japonesa de modo mais amplo (JORNAL A TARDE, 2021). 
O Bon Odori se tornou posteriormente uma das atividades que integra o evento. Ao 
mesmo tempo, a vastidão de atividades culturais surpreende a festividade organizada pela 
Associação Nipo-Brasileira de Salvador – ANISA. Desfile de cosplayers, oficinas de chá, 
origami, bonsai, apresentações musicais, coreografias, etc. Nas edições recentes, o evento 
passou a receber apoio e patrocínio das entidades públicas (Prefeitura Municipal, Governo 
 
28 <https://g1.globo.com/pa/para/noticia/2019/07/22/terceira-maior-colonia-japonesa-do-brasil-tome-acu-festeja-
os-90-anos-da-imigracao.ghtml>. Acesso em 18 ago. 2021. 
https://g1.globo.com/pa/para/noticia/2019/07/22/terceira-maior-colonia-japonesa-do-brasil-tome-acu-festeja-os-90-anos-da-imigracao.ghtml
https://g1.globo.com/pa/para/noticia/2019/07/22/terceira-maior-colonia-japonesa-do-brasil-tome-acu-festeja-os-90-anos-da-imigracao.ghtml
40 
 
 
 
Estadual e Federal), além de diversas empresas privadas. A fotografia a seguir apresenta o 
momento onde todos são convidados a dançar o Bon Odori em Salvador: 
Figura 16 – Momento de Bon Odori no Festival de Cultura Japonesa de Salvador.
 
Fonte: https://bit.ly/3stgfZn. Fotografia Oficial do Bon Odori Salvador. 
Além do exemplo de Salvador, as festividades Bon Odori que acontecem em outras 
duas cidades baianas cativam pela organização e pelo tempo de maturidade festiva. É o caso do 
Bon Odori realizado na Colônia JK em Mata São João e na cidade de Juazeiro-BA. As 
festividades por lá são reconhecidas pelas parcerias estatais e privadas e pela própria Federação 
Nipo-Brasileira da Bahia – FCNBB. 
Na capital goianense o “Bon Odori” é realizado há 17 anos em um espaço chamado 
Kaikan 29 , organizado pela Associação Nipo-Brasileira de Goiânia – ABNG. Na edição 
realizada em 2019, o diretor do evento confirmou que a festa foi organizada por 400 voluntários 
e tinha a expectativa de receber mais de 8000 pessoas durante os dias 23 e 24 de setembro. 
Além do momento da dança Bon Odori, o festival também disponibilizou desfiles de 
cosplayers30, venda de alimentos gastronômicos típicos do Japão, apresentações musicais, jogos 
de videogames dentre outras atividades. 
 
29 Dentre algumas traduções, Kaikan (会館) significa sala de reunião. No caso do Kaikan da ABNG compreende-
se um espaço de socialização, palco do Bon Odori e de outros eventos culturais. 
30 Formada pelas palavras inglesas costume (roupa) e player (brincar), cosplayer refere-se àqueles que se vestem 
com roupas de fantasias representando personagem de filmes, séries, livros, videogames etc. 
https://bit.ly/3stgfZn
41 
 
 
 
O Bon Odori de Goiânia recebe o apoio do Governo de Goiás, do Município de 
Goiânia e de várias empresas privadas. Além disso, em 2019 ela foi contemplada pela cobertura 
jornalística da empresa de comunicação “TV Anhanguera”. As imagens a seguir mostram 
algumas perspectivas deste cenário festivo. 
Figuras 17 e 18 – Bon Odori de Goiânia-GO 
 
Fontes: https://bit.ly/3szxA2H e https://bit.ly/3svyAEW. Fotografias da ANBG. 
Nos casos festivos trazidos nesta seção, percebe-se que os símbolos usados para o 
Bon Odori brasileiro se assemelham na forma em que são apresentados. O yagura, por exemplo, 
é usado quase em todos os festivais observados. A sua função, todavia, pode variar enquanto 
palco de apresentação ou enquanto símbolo representativo da cerimônia. Nos exemplos em 
Campo Grande-MS e Maringá-PR,o yagura é colocado no centro do auditório, mas os músicos 
e percussionistas se apresentam num outro palco mais espaçoso. Independente disso, a dança 
circular dos grupos se dá em torno da pequena estrutura vermelha cumprindo o mesmo rito 
nipônico da festa. 
Através das fotografias e das leituras sobre as festividades em Maringá-PR e em 
Campo Grande-MS, nota-se o protagonismo feminino na condução da dança, rito semelhante 
às práticas originadas no Japão e que se estendem até aqui. O atributo do feminino nas festas 
do Bon Odori fez parte da análise de Kubota (2008) no contexto da festa em Campo Grande. A 
discussão sobre a temática precisa ser expandida ao ouvirmos prioritariamente aquelas que 
estão em seu lugar de fala. 
A presença dos taikos em todas as festividades é um reflexo do crescimento e 
fortalecimentos de grupos especializados a tocar estes instrumentos de percussão. É o caso de 
grupos como “Wadō” (Salvador-BA), “Kawasuji Seiryu Daiko” (Atibaia-SP) e “Hikari” 
(Londrina-PR). Sobre a contextualização do Taiko no Brasil, considera-se que: 
https://bit.ly/3szxA2H
https://bit.ly/3svyAEW
42 
 
 
 
[...] quando falamos de taiko brasileiro, não estamos nos referindo ao originalmente 
feito lá, pelos japoneses, mas de um taiko que atravessou o oceano e, ao longo das 
últimas décadas ganhou novas poéticas, acepções e estratégias tipicamente nacionais 
e regionais, sem perder de vista os seus princípios originais. (GARCIA, 2020, p. 62) 
Nos exemplos de Salvador-BA e Goiânia-GO percebe-se que o rito do Bon Odori 
foi incorporado às demais atividades culturais que conjugam um caráter amplo para serem 
considerados Festivais de Cultura Japonesa (ainda que no exemplo goianense seja chamado 
oficialmente de Bon Odori). Com isto, a festa foi alcançando novos status e investimentos para 
ampliar as possibilidades de realização de atrativos culturais. 
Para conduzir esta discussão à sistematização dos elementos representativos, é 
fundamental entender o significado e a relevância do Bon Odori para as colônias e comunidades 
que desenvolvem a patrimonialidade sob análise. As pesquisas de Ennes (2001) e Kubota 
(2008), além das considerações do presidente da Federação Cultural Nippo-brasileira da Bahia 
(FNCBB), Roberto Mizushima, ajudam a dimensionar essa análise. 
Roberto Mizushima comentou a importância do Bon Odori nas cidades de Juazeiro, 
Mata de São João e Salvador no editorial de um informativo: “[...]a Federação entende que o 
bon odori é um evento fundamental para a divulgação da cultura nipônica no nosso estado e das 
atividades desenvolvidas pelos nikkeis da Bahia” (FCNBB, 2017). Essa fala do presidente 
reforça a identidade étnica que se construiu no estado da Bahia tendo em vista o plano de 
formação de três colônias para povoar áreas como Una, Ituberá, Mata de São João, Caravelas, 
Teixeira de Freitas, Santa Cruz Cabrália e Jaguaquara (JORNAL A TARDE, 2021). 
Ennes (2001) observou a organização e a realização do Bon Odori em Pereira 
Barreto-SP na pretensão de entender o Ethos daquela comunidade Nikkei. Ele observou que a 
construção da festa não se dá exclusivamente pela colônia, como também por outras pessoas 
interessadas na festividade. Ele pondera essa importância na reconstituição da prática simbólica 
do Bon Odori: 
[...]não é apenas a festa que importa para a colônia mas também todo o processo de 
preparação, que inclui ensaios, fabricação da decoração, venda de anúncios 
publicitários e o envolvimento de toda a colônia. Nesse momento, também 
encontramos pessoas de fora da colônia: ajudam na organização da festa, participam 
dos ensaios. Momento privilegiado do processo de trocas simbólicas de disposições e 
práticas sociais. Momento de transformação e reafirmação do agente social envolvido. 
(p. ENNES, 2001) 
O Bon Odori Nipo-Brasileiro se desenvolveu para recriar a tradição e ressignificar 
seus símbolos. É perceptível como as paisagens festivas não revelam uma formação exclusiva 
por descendentes japoneses, mas também por outros brasileiros, que se interessam em conhecer 
43 
 
 
 
e se envolver na festividade sem necessariamente serem adeptos aos significados dos ritos em 
sua essência budista japonesa. 
Em seu trabalho de campo, Kubota avaliou o papel de restauração cultural que a 
festa representa não só para a comunidade nikkei como também aos demais moradores de 
Campo Grande - MS: 
O Bon Odori seria, portanto, uma tentativa de elo, de ligação da colônia japonesa no 
Brasil com o país de seus antepassados, mesmo que realizado de uma forma diferente 
da original. Percebe-se que o que se busca não é a realização da festividade “como ela 
era no Japão”, mas de uma festa que “os ligue ao Nihon”. Essa ligação é feita no 
momento em que elementos da cultura japonesa, tais como músicas, danças, comidas 
e decorações, são incorporados ao evento, apesar de não serem realizados 
rigorosamente dentro do modelo original. (KUBOTA, 2008, p. 12) 
Ao falar sobre a recriação da prática do Bon Odori, Ennes considera a relevância 
do Bon Odori enquanto parte da identidade cultural na colônia de Pereira Barreto, bem como 
de sua relação com os demais brasileiros: 
Talvez a festa do Bon-Odori é que melhor sintetize as relações entre brasileiros e nipo-
brasileiros na cidade de Pereira Barreto. Por meio dela é possível perceber que se a 
colônia existe como um campo específico, sua existência concreta, no entanto, só se 
dá nas relações com o outro. Relação que reproduz e mantém a existência da colônia, 
e, ao mesmo tempo, a modifica e transforma. (ENNES, 2001, p. 1471) 
Com isto, a inclusão dos não-descendentes na prática do Bon Odori enaltece o 
caráter interétnico da prática simbólica contextualizada no solo brasileiro. Avaliando o Bon 
Odori enquanto rito, Gomes (2020) considera que “a prática da dança transforma a consciência 
individual, tanto dos nipo-brasileiros como dos não-nipo-brasileiros, em uma consciência 
coletiva.” (p. 80). 
Considerando os estudos de Rosendahl (2018) sobre os espaços sagrados e profanos, 
depreende-se que o patrimônio imaterial em questão se revela na dualidade do sagrado e do 
profano na medida em que os aspectos do mundo “não-sagrado” adentram a dimensão afetiva 
do Bon Odori. Não que os aspectos profanos estivessem ausentes na festa enquanto cultura do 
universo nipônico. Mas no solo brasileiro, os exemplos evidenciaram a restauração e a 
adaptação das práticas que compreendem os anseios de cada colônia ou comunidade Nikkei. 
Com as informações e reflexões registradas até aqui, o trabalho estabeleceu uma 
sistematização da festividade que pode ser visualizada através de um mapa cognitivo. Nesta 
representação, a prática simbólica no Japão (à direita) compreende a devoção inerente ao 
imaginário estabelecido a partir da fé budista japonesa. Na dimensão nipo-brasileira (à 
esquerda), a festa é recriada graças ao exercício de incentivo dos grupos comunitários, 
44 
 
 
 
estabelecendo o caráter de restauração cultural à dinâmica do Bon Odori brasileiro, sem olvidar 
dos aspectos da honradez, da socialização e da espiritualidade que se despertam nos símbolos 
de ambos os contextos territoriais. O mapa cognitivo é representado na figura a seguir: 
 
Figura 19 – Comparativo da patrimonialidade do Bon Odori no Japão e no Brasil.
 
Fonte: Elaboração do autor. 
Este trabalho discorreu sobre as festas Bon Odori no Brasil enquanto 
expressão cultural Nipo-Brasileira e como outra maneira de reafirmação identitária das 
comunidades que se estabeleceram pelo Brasil. Muitas delas se unem enquanto 
associações para a celebração dessas e outras práticas recreativas e religiosas. 
Neste percurso metodológico a pesquisa segue conhecendo e refletindo 
progressivamente sobre uma paisagem simbólica que se estabelece dentro de um país 
onde tantas outras festas são celebradas. No devido tempo, o Bon Odori assumiu uma 
grande proporção enquanto um patrimônio intangível da

Outros materiais