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Beatriz Cunta – Turma 2024 @biaemedicina TRAUMA CERVICAL A maioria das lesões graves no pescoço ocorre por traumas penetrantes, causando hemorragia e/ou comprometimento do trato aerodigestivo. ➢ ATENDIMENTO INICIAL: Como em qualquer vítima de trauma, realizamos a abordagem inicial com o exame primário ABCDE! A maior parte dos sangramentos deve ser controlada com compressão até a abordagem cirúrgica, e a ressuscitação imediata é importante, pois na região há vários vasos que levam à hemorragia intensa. ➔ Indicações de VA definitiva: A intubação orotraqueal é o método preferencial de acesso à VA definitiva. As indicações são: • Hematoma cervical em expansão • Enfisema subcutâneo • Sopro ou frêmito • Déficit Neurológico • Distorção anatômica do pescoço • Estridor • Disfagia ou odinofagia • Anormalidade da voz (principalmente rouquidão) Na presença de enfisema subcutâneo no pescoço, a intubação em ambiente hospitalar deve ser guiada por broncofibroscopia. OBS – Quando obter via aérea cirúrgica? • Trauma grave • Obstrução ao nível ou acima da laringe • Distorção anatômica importante • Dificuldade em posicionar corretamente o tubo da IOT No comprometimento da laringe, a via aérea cirúrgica de eleição é a traqueostomia! ➢ CONDUTA: Para determinar a conduta, dividimos o pescoço em zonas e avaliamos possíveis estruturas acometidas, seja o trauma penetrante ou contuso. Zona I Da fúrcula esternal à cartilagem cricoide Apresenta maior mortalidade, pois tem acesso cirúrgico dificultado e compreende grandes vasos Zona II Da cartilagem cricoide ao ângulo da mandíbula Contém carótidas, artérias vertebrais, veias jugulares e estruturas do trato aerodigestivo. São lesões mais acessíveis à exploração cirúrgica Zona III Do ângulo da mandíbula à base do crânio Contém carótida distal, glândulas salivares e faringe ➔ Exploração cirúrgica imediata: Somente em casos de: • Sangramento ativo • Instabilidade hemodinâmica • Hematoma em expansão • Evidência clara de acometimento do trato aerodigestivo Nos outros casos, independentemente da zona afetada, utilizamos métodos complementares antes de uma possível intervenção cirúrgica. Os principais incluem: • Tomografia computadorizada • Angio-TC (lesão vascular) • USG-Doppler (lesão vascular) Beatriz Cunta – Turma 2024 @biaemedicina • Arteriografia (em caso de PAF, por exemplo, em que a TC não é tão útil) • Laringoscopia • Broncofibroscopia • Endoscopia digestiva alta • Esofagografia ➔ Pacientes assintomáticos no trauma penetrante Estudos recentes apontam que tanto a conduta conservadora como a abordagem cirúrgica imediata trazem resultados semelhantes. ➔ Pacientes assintomáticos no trauma fechado Também devem ser acompanhados com exames complementares, pois algumas lesões podem não apresentar sintomas inicialmente. A laringe, por exemplo, é frequentemente lesada nesses traumas, e deve ser avaliada pela TC de pescoço. Por outro lado, o esôfago é raramente acometido no trauma fechado. LESÕES ESPECÍFICAS ➢ VASOS SANGUÍNEOS: ➔ Trauma penetrante: São as estruturas mais acometidas no trauma penetrante. • Realizar angio-TC imediatamente: Determina lesão vascular e o trajeto, indicando outras possíveis lesões. • Artéria carótida: As lesões de carótida interna podem ser reparadas com enxerto, ou com anastomoses término-terminais. A ligadura é realizada em pacientes comatosos, sem fluxo distal; na hemorragia não controlada; e na presença de dificuldades que impeçam o reparo. ➔ Trauma fechado: Lesões decorrentes do trauma ou compressão podem levar, após um período, à oclusão trombótica da artéria carótida. • Solicitar angio-TC ou arteriografia: Identificada a lesão com extravasamento de contraste, a exploração cirúrgica ou terapia endovascular estão indicadas. Na ausência desse achado, realizar anticoagulação plena com heparina não fracionada (visando PTTa entre 40- 50s) ou uso de antiplaquetários. ➢ TRAQUEIA E LARINGE: ➔ Trauma penetrante: São facilmente reconhecidos e se manifestam com enfisema subcutâneo, crepitações e hemoptise. • Lesões de Traqueia: Todas as lacerações de traqueia devem ser reparadas. As lesões passam por desbridamento e fechamento primário. Uma perda de mais de dois anéis traqueais, por outro lado, requer uma traqueostomia seguida de uma reconstrução complexa, feita mais tardiamente. • Lesões de laringe: A conduta envolve o fechamento da laceração da mucosa e redução das fraturas de cartilagem. O comprometimento mais extenso exige procedimentos complexos, como a colocação de stents. ➔ Trauma fechado: Para esse diagnóstico, são realizados métodos complementares: • TC de pescoço • Laringoscopia direta • Broncoscoscopia ➢ FARINGE E ESÔFAGO: ➔ Lesões de esôfago: A maior parte da mortalidade ocorre por atraso no diagnóstico, que pode ser realizado com esofagografia e endoscopia digestiva alta, métodos complementares que juntos adquirem grande acurácia. • Até 12h: A abordagem nesse período é feita com reparo primário em duas camadas (fios absorvíveis e não absorvíveis) e drenagem da lesão. A esofagostomia é indicada quando há perda significativa de tecido. As fístulas podem aparecer após os reparos e costumam responder bem ao tratamento. • Após 12h: Beatriz Cunta – Turma 2024 @biaemedicina Deve-se considerar a presença de infecção no mediastino. A esofagostomia para drenagem de secreção orofaríngea é essencial, junto com a antibioticoterapia. A alimentação é feita por gastrostomia ou jejunostomia. ➔ Lesões faríngeas: Quando ocorrem acima dos músculos constritores é necessário desbridamento seguido de fechamento primário. As lesões de parede posterior são de mais difícil acesso. OBS – O paciente deve permanecer em dieta zero por 5 a 7 dias. TRAUMA MAXILOFACIAL É uma das contraindicações para intubação nasotraqueal, e geralmente o acesso definitivo à VA é cirúrgico. De modo geral, são lesões não ameaçadoras à vida e frequentemente abordadas mais tardiamente. Contudo, pode haver sangramento profuso, por lesão das artérias maxilar e palatina. Geralmente é abordado com tamponamento e, nos sangramentos que não regridem, pode ser realizada a ligadura da artéria carótida externa ou embolização angiográfica. ➢ FRATURAS DA FACE: São diagnosticadas com tomografia computadorizada, em que podemos observar, além dos achados ósseos, a opacificação dos seios maxilares e etmoidais. As fraturas são classificadas como: ➔ Le Fort Tipo I (dentoalveolar): A linha de fratura é transversa, separando o osso de suporte alveolar e o palato. ➔ Le Fort Tipo II: A linha de fratura é transversa e passa através das articulações dos ossos maxilar e nasal com o osso frontal. ➔ Le Fort Tipo III: Semelhante ao tipo II, mas a linha de fratura se estende lateralmente e posteriormente, pelo assoalho da órbita. Está associada ao traumatismo extenso das estruturas da linha média da face. ➢ CONDUTA: O reparo cirúrgico está indicado em casos de perda de função e/ou razões estéticas. Seu reparo não é prioridade no atendimento ao politraumatizado, exceto em casos de fraturas faciais extensas com afundamento (pode haver lesão cerebral associada).
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