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2019 A N A AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS Institute for Technology and Resources Management in the Tropics and Subtropics ADAPTA GESTÃO ADAPTATIVA DO RISCO CLIMÁTICO DE SECA ADAPTA GESTÃO ADAPTATIVA DO RISCO CLIMÁTICO DE SECA © 2019 Copyright by Impresso no Brasil / Printed in Brazil TODOS OS DIREITOS RESERVADOS Ilustrações Expressão Gráfica Diagramação eletrônica Expressão Gráfica Correção Maria Jose Capa Ilustração: Expressão Gráfica Diagramação: Expressão Gráfica Impressão e Acabamento Expressão Gráfica e Editora Rua João Cordeiro, 1285 - Aldeota - Fortaleza - Ceará CEP: 60110-300 - Tel.: (085) 3464-2222 E-mail: arte@expressaografica.com.br Ficha Catalográfica Bibliotecária: Perpétua Socorro Tavares Guimarães CRB 3/801-98 X xxx j Jose, Maria Titulo do livro: ub titulo do livro. Volume I. / Autor do Livro.- Fortaleza: Expressão Gráfica e Editora, 2018. 256 p. ISBN: 978-85-420-XXXX-X 1. Literatura brasileira 2. Romance I. Título CDD: XXX Autores Alexandra Nauditt Ályson Brayner Sousa Estácio Amanda Vieira e Silva Ana Paula Vasconcellos da Silva Anderson Fernandes Pessoa André Gonçalo dos Santos André Luis de Paula Marques Antônio Duarte Marcos Junior Artur Holanda Souza Assis Junior de Souza Carla Beatriz Costa de Araújo Cleiton da Silva Silveira Cydney Seigerman Daniel Antônio Camelo Cid Daniel Metzke Daniele Costa da Silva Donald Robert Nelson Eduardo Felício Barbosa Eduardo Sávio Passos Rodrigues Martins Francisco das Chagas Vasconcelos Júnior Francisco de Assis de Souza Filho Francisco Wellington Ribeiro Gabriel Santos Motta Gabriela de Azevedo Reis Guilherme de Alencar Barreto Hamish Hann Jéssica Barbosa dos Santos Joschka Th urner José Edson Falcão de Farias Júnior José Marcelo Rodrigues Pereira José Micael Ferreira da Costa Jose Nilson B. Campos Karine Machado Campos Fontenele Kerstin Stahl Laís Lima Ambrosio Larissa Ferreira da Costa Larissa Zaira Rafael Rolim Lars Ribbe Louise Caroline Peixoto Xavier Luiz Martins de Araújo Júnior Marcilio Caetano de Oliveira Marco Aurélio Holanda de Castro Maria Clara de Lima Sousa Maria Lidiana Ferreira Osmundo, Mario Held Martin Obermaier Meyre Sayuri Sakamoto Natalia Barbosa Ribeiro Nathalia de Almeida Vasconcelos Renan Vieira Rocha Renata Locarno Frota Renato de Oliveira Fernandes Rodrigo Werner Rogério Barbosa Soares Rosa Maria Formiga-Johnsson Rubens Sonsol Gondim Samiria Maria de Oliveira da Silva Samuellson Lopes Cabral Shelly Biesel Sandra Helena Silva de Aquino Silvrano Adonias Dantas Neto Taís Maria Nunes Carvalho Tereza Margarida Xavier de Melo Lopes Th aís Antero de Oliveira Ticiana M. de Carvalho Studart Tyhago Aragão Dias Victor Costa Porto Wescley de Souza Fernandes Witalo de Lima Paiva Organizadores Francisco de Assis de Souza Filho, Samiria Maria Oliveira da Silva, Rosa Maria Formiga-Johnsson, Donald Robert Nelson, Alexandra Nauditt e Lars Ribbe SUMÁRIO APRESENTAÇÃO .......................................................................................................................11 O AUDIOVISUAL COMO FERRAMENTA DE DOCUMENTAÇÃO E ESTUDO DA SECA ATUAL........................................................................................................................15 Maria Lidiana Ferreira Osmundo - Jéssica Barbosa dos Santos - Francisco de Assis de Souza Filho SISTEMA DE MONITORAMENTO HIDROMETEOROLÓGICO ........................................23 Eduardo Sávio Passos Rodrigues Martins - Meyre Sayuri Sakamoto - José Marcelo Rodrigues Pereira CONSTRUÇÃO DE SISTEMA WEB PARA DISPNIBILIZAÇÃO DA BASE DE DADOS DOS RESERVATÓRIOS DO SISTEMA JAGUARIBEMETROPOLITANO .............35 Anderson Fernandes Pessoa - Francisco de Assis de Souza Filho - Daniel Camelo Cid - Victor Costa Porto Artur Holanda Souza SISTEMA DE INFORMAÇÕES RBIS SERVER: PARAIBA DO SUL E CEARÁ ......................41 Amanda Vieira e Silva - Anderson Fernandes Pessoa ANÁLISE SEMIAUTOMÁTICA DA CONSISTÊNCIA DE DADOS PLUVIOMÉTRICOS ESTUDO DE CASO DO ALTO JAGUARIBE .....................................59 Renan Vieira Rocha - Francisco de Assis de Souza Filho - Ályson Brayner Sousa Estácio - Victor Costa Porto ANÁLISE DA RELAÇÃO ENTRE A PRECIPITAÇÃO MÉDIA E OS ÍNDICES PDO E AMO ESTUDO DE CASO DO ALTO JAGUARIBE ..................................................73 Renan Vieira Rocha - Francisco de Assis de Souza Filho - Larissa Zaira Rafael Rolim - Gabriela de Azevedo Reis BALANÇO HÍDRICO DE THORTHWAITE PARA SUDESTE E NORDESTE BRASILEIROS ............................................................................................................................87 Antônio Duarte Marcos Junior - Cleiton da Silva Silveira ANÁLISE DOS MODOS DE VARIAÇÃO SAZONAL, INTERANUAL E MULTIDECADAL DO CLIMA ATUAL ATRAVÉS DA ANÁLISE DE SÉRIES TEMPORAIS DE VAZÕES .........................................................................................................97 Larissa Zaira Rafael Rolim - Francisco de Assis de Souza Filho ANÁLISE DA ESTACIONARIEDADE DAS SÉRIES DE PRECIPITAÇÃO E VAZÃO ..........113 Larissa Zaira Rafael Rolim - Francisco de Assis de Souza Filho - Renan Vieira Rocha ANÁLISE DA INCERTEZA DE MODELO HIDROLÓGICO COM USO DE OTIMIZAÇÃO MULTIOBJETIVO E IMPACTO NA INCERTEZA DE OFERTA HÍDRICA: ESTUDO DE CASO DO RESERVATÓRIO ORÓS ..............................................123 Ályson Brayner Sousa Estácio - Francisco de Assis de Souza Filho - Renan Vieira Rocha ANÁLISE DAS INCERTEZAS DOS PARÂMETROS NA MODELAGEM HIDROLÓGICA CHUVAVAZÃO SMAP ATRAVÉS DE ABORDAGEM BAYESIANA FORMAL: ESTUDO DE CASO DO RESERVATÓRIO ORÓS .........................139 Renan Vieira Rocha - Francisco de Assis de Souza Filho - Ályson Brayner Sousa Estácio ACOPLAMENTO DO MODELO ATMOSFÉRICO WRF AO MODELO HIDROLÓGICO SCS/HMS PARA A PREVISÃO DE CHEIAS NA BACIA DO PARAÍBA DO MEIO EM ALAGOAS. ......................................................................................147 André Gonçalo dos Santos - Jose Nilson B. Campos INTERVALO DE TEMPO DE MÁXIMA PREVISIBILIDADE NO ACOPLAMENTO DE MODELOS CLIMÁTICOS E HIDROLÓGICO .................................171 Samuellson Lopes Cabral - Jose Nilson B. Campos PREVISÃO CLIMÁTICA SAZONAL: BASE CONCEITUAL ..................................................183 Luiz Martins de Araújo Júnior - Francisco de Assis de Souza Filho - Cleiton da Silva Silveira - Francisco das Cha- gas Vasconcelos Júnior PREVISÃO DE VAZÕES: MULTIMODELOS .......................................................................193 Luiz Martins de Araújo Júnior - Francisco de Assis de Souza Filho - Guilherme de Alencar Barreto PREVISÃO DE VAZÕES UTILIZAÇÃO DE RNA ...............................................................231 Carla Beatriz Costa de Araújo - Luiz Martins de Araújo Júnior - Francisco de Assis de Souza Filho - Guilherme de Alencar Barreto - Silvrano Adonias Dantas Neto MUDANÇAS CLIMÁTICAS NO SUDESTE E NORDESTE SEGUNDO CENÁRIOS DO CMIP5 ...........................................................................................................251 Antônio Duarte Marcos Junior - José Micael Ferreira da Costa - Cleiton da Silva Silveira IMPACTO DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS SOBRE PARAÍBA DO SUL ............................261 Cleiton da Silva Silveira - Francisco de Assis de Souza Filho IMPACTO DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS SOBRE SISTEMA JAGUARIBE METROPOLITANO, CEARÁ .................................................................................................271 Cleiton da Silva Silveira - Francisco de Assis de Souza Filho PALEOSECAS NO NORDESTE DO BRASIL .........................................................................283 Tyhago Aragão Dias - Francsico de Assis de Souza Filho HISTÓRICO DE SECAS SOBRE A BACIA DO SÃO FRANCISCO NO ULTIMO MILÊNIO. ................................................................................................................................303 Tyhago Aragão Dias - Francisco de Assis de Sousa Filho. GOVERNANÇADAS ÁGUAS: BASES CONCEITUAIS ..........................................................315 Natalia Barbosa Ribeiro - Rosa Maria Formiga-Johnsson ARRANJOS INSTITUCIONAIS PARA GESTÃO DAS ÁGUAS NAS BACIAS DOS RIOS PARAÍBA DO SUL E GUANDU ....................................................................................327 Ana Paula Vasconcellos da Silva - Laís Lima Ambrósio - Rosa Maria Formiga-Johnsson - Natália Barbosa Ribeiro Nathalia de Almeida Vasconcelos - Martin Obermaier GOVERNANÇA DA ÁGUA NO VALE DO JAGUARIBE ........................................................351 Daniele Costa da Silva - Sandra Helena Silva de Aquino - Samiria Maria de Oliveira da Silva - Francisco de Assis de Souza Filho ANÁLISE DA POLÍTICA DE RECURSOS HÍDRICOS DO ESTADO DO CEARÁ A PARTIR DA EVOLUÇÃO DA APLICAÇÃO DOS RECURSOS ORÇAMENTÁRIOS NO PERÍODO DE 1995 A 2017 ............................................................387 Karine Machado Compos Fontenele - Francisco de Assis de Souza Filho A IMPORTÂNCIA DA ÉTICA PARA A GESTÃO DA ÁGUA ..................................................407 Shelly Biesel - Donald R. Nelson GESTÃO ADAPTATIVA PARA UM MUNDO EM MUDANÇA ............................................419 Renato de Oliveira Fernandes - Ticiana M. de Carvalho Studart - Francisco de Assis de Souza Filho ALOCAÇÃO DE ÁGUA BASE CONCEITUAL .....................................................................447 Samiria Maria Oliveira da Silva - Francisco de Assis de Souza Filho ALOCAÇÃO DE ÁGUA NA BACIA DO RIO PARAÍBA DO SUL ..........................................461 Laís Lima Ambrosio - Rosa Maria Formiga-Johnsson - Natália Barbosa Ribeiro - Alexandra Nauditt - Lars Ribbe OS INSTRUMENTOS DE GESTÃO DAS ÁGUAS NO ESTADO DO CEARÁ ......................499 Louise Caroline Peixoto Xavier - Samiria Maria de Oliveira da Silva - Francisco de Assis de Souza Filho DIAGNÓSTICO INSTITUCIONAL DA ALOCAÇÃO NEGOCIADA DE ÁGUA NO ESTADO DO CEARÁ: APLICAÇÃO DO FRAMEWORK DE ELINOR OSTROM .......513 Daniele Costa da Silva - Sandra Helena Silva de Aquino - Samiria Maria de Oliveira da Silva - Francisco de Assis de Souza Filho ALOCAÇÃO PARTICIPATIVA DAS ÁGUAS NO CEARÁ: INCERTEZAS, DESLOCAMENTOS E DISPUTAS ..........................................................................................531 Sandra Helena Silva de Aquino - Samiria Maria de Oliveira da Silva - Daniele Costa da Silva PRODUÇÃO E USO DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO EM DECISÕES DE ALOCAÇÃO DE ÁGUA NAS BACIAS METROPOLITANAS DO JAGUARIBE E FORTALEZA, CEARÁ ..............................................................................................................541 Cydney Seigerman - Donald R. Nelson PROPOSTA METODOLÓGICA DE ALOCAÇÃO DE ÁGUA EM PERÍODOS DE ESCASSEZ HÍDRICA PARA O VALE DO RIO CURUCEARÁ .............................................555 Marcilio Caetano de Oliveira - Francisco de Assis de Souza Filho MODELO DE COBRANÇA DE ÁGUA POR FAIXA DE CONSUMO COM USO DE SUBSÍDIO CRUZADO......................................................................................................573 Francisco Wellington Ribeiro REVISÃO DA FÓRMULA DE CÁLCULO DA COBRANÇA PELO USO DA ÁGUA BRUTA NO ESTADO DO CEARÁ ...............................................................................589 Samiria Maria de Oliveira da Silva - Francisco de Assis de Souza Filho PROPOSIÇÃO DE UM SISTEMA DE COBRANÇA EM FUNÇÃO DA GARANTIA DE USO ...............................................................................................................605 Samiria Maria de Oliveira da Silva - Francisco de Assis de Souza Filho ANÁLISE INSUMOPRODUTO REGIONAL DE RECURSOS HÍDRICOS PARA O ESTADO DO CEARÁ ...........................................................................................................617 Rogério Barbosa Soares - Samiria Maria Oliveira da Silva - Francisco de Assis de Souza Filho - Witalo de Lima Paiva MECANISMO FINANCEIRO NA ALOCAÇÃO DE ÁGUA ....................................................643 Samiria Maria Oliveira da Silva - Francisco de Assis de Souza Filho INTERAÇÃO RIOAQUÍFERO: METODOLOGIA DE SIMULAÇÃO DA CAPTURA DE ÁGUA DE RIOS POR POÇOS ALUVIONAIS ...............................................657 Artur Holanda de Souza - Francisco de Assis de Souza Filho - Marco Aurélio Holanda de Castro ESTRATÉGIA GERAL PARA PLANOS DE SEGURANÇA HÍDRICA ..................................665 Samiria Maria Oliveira da Silva - Francisco de Assis de Souza Filho PROSPECTIVA ESTRATÉGICA PARA A ANÁLISE DE SISTEMAS DE RECURSOS HÍDRICOS .........................................................................................................675 Renata Locarno Frota - Francisco de Assis Souza Filho - Samiria Maria Oliveira Silva - Victor Costa Porto Renan Vieira Rocha - Amanda Vieira e Silva REGULARIZAÇÃO DE VAZÃO A LONGO PRAZO PARA O NORDESTE BRASILEIRO ..689 Wescley de Souza Fernandes - Cleiton da Silva Silveira IMPACTOS DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS NA DISPONIBILIDADE HÍDRICA DE GRANDES RESERVATÓRIOS DE REGIÕES SEMIÁRIDAS ........................699 Renato de Oliveira Fernandes - Ticiana M. de Carvalho Studart - Cleiton da Silva Silveira - Maria Clara de Lima Sousa ANÁLISE DA SEGURANÇA DA ÁGUA EM CENÁRIOS DE MUDANÇAS CLIMÁTICAS: O CASO DE FORTALEZA ..............................................................................721 Daniel Antonio Camelo Cid - Francisco de Assis de Souza Filho - Cleiton da Silva Silveira - Samiria Maria de Oliveira da Silva APLICAÇÃO DE PROGRAMAÇÃO DINÂMICA DUAL ESTOCÁSTICA NA OTIMIZAÇÃO DA OPERAÇÃO DE CURTO PRAZA DO SISTEMA DE RESERVATÓRIOS DO JAGUARIBE E METROPOLITANO .................................................731 Victor Costa Porto - Francisco de Assis Souza Filho - Taís Maria Nunes Carvalho - Daniel Camelo Cid - Gabriela de Azevedo Reis AGRICULTURA IRRIGADA E MEDIDAS ADAPTATIVAS PARA O ENFRENTAMENTO DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS ........................................................743 Rubens Sonsol Gondim - Cleiton da Silva Silveira - Francisco de Assis de Souza Filho - Francisco Vasconcelos Jr ESTUDO DE SUSTENTABILIDADE HÍDRICA DO PROJETO MALHA D’ÁGUA ............757 Ályson Brayner Sousa Estácio - Francisco de Assis de Souza Filho PLANO PROATIVO DE SECA: BASE CONCEITUAL ...........................................................773 Luiz Martins de Araújo Júnior - Samiria Maria Oliveira da Silva - Francisco de Assis de Souza Filho Tereza Margarida Xavier de Melo Lopes BREVE HISTÓRICO DAS SECAS E DAS POLÍTICAS PÚBLICAS NO NORDESTE BRASILEIRO ......................................................................................................781 Luiz Martins de Araújo Júnior - Sandra Helena Silva de Aquino - Francisco de Assis Souza Filho ANÁLISE DA VULNERABILIDADE À SECA NO ESTADO DO CEARÁ .............................785 Gabriela de Azevedo Reis - Francisco de Assis de Souza Filho - Th aís Antero de Oliveira; ANÁLISE DAS SECAS NO SISTEMA JAGUARIBEMETROPOLITANO.............................803 Luiz Martins de Araújo Júnior - Francisco de Assis de Souza Filho - Francisco das Chagas Vasconcelos Júnior A GRANDE SECA DE 20142015 NA BACIA DO RIO PARAÍBA DO SUL: COMPREENDENDO AS CARACTERÍSTICAS ESPACIAIS E TEMPORAIS DE SECA E ESCASSEZ HÍDRICA .................................................................................................825 Alexandra Nauditt - Lars Ribbe - Daniel Metzke - Joschka Th urner - Rosa Maria Formiga-Johnsson - André Luis de Paula Marques AVALIAÇÃO DO RISCO DE SECA EM UMA BACIA HIDROGRÁFICA RURAL COM ESCASSEZ DE DADOS: O CASO DA SUBBACIA DO RIO MURIAÉ ......................841 Alexandra Nauditt - Hamish Hann - Kerstin Stahl - Lars Ribbe - Rosa Maria Formiga-Johnsson - André Luis de Paula Marques - Rodrigo Werner - Francisco de Assis de Souza Filho ESTRATÉGIA GERAL DO PLANEJAMENTO PROATIVO DE SECA ..................................859 Luiz Martins de Araújo Júnior - Francisco de Assis de Souza Filho - Samiria Maria Oliveira da Silva - Sandra HelenaSilva de Aquino SUPORTE À DECISÃO: APLICAÇÃO DO SISTEMA DE GERENCIAMENTO DE SECA .889 Luiz Martins de Araujo Junior - Francisco de Assis de Souza Filho NÍVEIS METAS DE RESERVATÓRIOS COMO GATILHOS DE SECA: APLICAÇÃO NO SISTEMA DE ABASTECIMENTO JAGUARIBEMETROPOLITANO....895 Daniel Antônio Camelo Cid - Francisco de Assis de Souza Filho ANÁLISE DA OPERAÇÃO FUTURA DO SISTEMA JAGUARIBEMETROPOLITANA .....911 Luiz Martins de Araújo Júnior - Francisco de Assis de Souza Filho - Danel Antônio Camelo Cid IMPACTOS DA SECA DOS ANOS DE 20142016 SOBRE OS USUÁRIOS DA BACIA DO RIO PARAÍBA DO SUL ........................................................................................929 Nathalia de Almeida Vasconcelos - Larissa Ferreira da Costa - José Edson Falcão de Farias Júnior - Rosa Maria Formiga-Johnsson - Gabriel Santos Motta - Natália Barbosa Ribeiro SISTEMA DE ALERTA PRECOCE DE SECA E O SISTEMA DE GERENCIAMENTO DE SECA ................................................................................................957 Luiz Martins de Araújo Júnior - Francisco de Assis de Souza Filho ESTRATÉGIAS DE RESPOSTA E IMPACTOS À SECA: ESTUDO DE CASO NA SEDE MUNICIPAL DE QUIXERAMOBIM CEARÁ DE 2012 A 2016. .................................965 Eduardo Felício Barbosa - Francisco de Assis de Souza Filho - Gabriela de Azevedo Reis AVALIAÇÃO POLÍTICA DAS SECAS EM PERÍMETROS DE IRRIGAÇÃO DO CEARÁ ...991 Mario Held - Daniel Antonio Camelo Cid - Francisco de Assis de Souza Filho - Lars Ribbe 11 APRESENTAÇÃO São Paulo, Cape Town, Cidade do México, Los Angeles são apenas alguns dos maiores centros urbanos quem enfrentaram a escassez de água nos últimos anos. Pelas crescentes demandas das populações humanas e as alterações no regi- me hídrico devido às mudanças do clima, a escassez de água se tornará cada vez mais um problema não episódico, e sim, um desafi o cotidiano e contínuo. Atual- mente já há populações signifi cativas que não possuem segurança hídrica em anos chuvosos, e menos ainda durante escassez. Para diversas regiões, as projeções do clima salientam a redução de disponibilidade hídrica, pondo em risco economias, populações humanas e o meio ambiente. Embora o sistema de gestão de água no Brasil tenha avançado nas últimas décadas em busca de mecanismos mais ágeis e adequados para a promoção da segurança hídrica e gestão proativa de secas, as secas recentes em São Paulo e no Nordeste deixaram evidente que ainda há muito a ser feito. É neste contexto que surgiu a pesquisa interdisciplinar Gestão Adaptativa do Risco Climático de Seca como Estratégia de Redução dos Impactos da Mu- dança Climática – melhor conhecida por Projeto ADAPTA. O Projeto ADAPTA tem dois objetivos principais: i) Dimensionar a vulnerabilidade dos usos e usuários de água, atuais e fu- turos, perante o risco climático de seca; e ii) Propor estratégias de gestão adaptativa como mecanismo de aumentar a sua resiliência no contexto de intensifi cação das variabilidades e mudanças do clima. A pesquisa é um trabalho acadêmico, porém a sua fi nalidade visa a aplica- ção dos resultados na gestão de água. Portanto, os resultados das análises provi- denciam, através do seu desenvolvimento e o aprimoramento, estratégias e meto- dologias que subsidiem a elaboração e implementação de políticas públicas para a adaptação e resposta da sociedade às mudanças climáticas. Trabalhando com estudos de modelagem física e social, a intenção e de contribuir conhecimento acadêmico para tornar mais transparentes os passos necessários para estimular a adaptação da sociedade às mudanças do clima futuro numa maneira sustentável e resiliente. Foram estudadas duas bacias hidrográfi cas brasileiras bastante distintas em termos físicos, socioeconômicos, políticos e institucionais. A bacia do rio Jaguari- be, na região semiárida do Ceará, tem uma vocação agrícola; e a Bacia do rio Pa- raíba do Sul, uma bacia fortemente urbanizada e industrializada da região sudeste, compartilhada entre os Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Am- bas as bacias são altamente estratégicas por serem mananciais de abastecimento de regiões metropolitanas, de um lado, e por possuir em instituições e experiências de gestão das águas consideradas como avançadas no contexto nacional, de outro 12 disponibilizam de características em comum que justifi cam a sua comparação analíticas. Ambas são mananciais de abastecimento de regiões metropolitanas de grande porte. Elas possuem instituições e experiências de gestão das águas con- sideradas como avançadas no contexto nacional e possuem complexidade física, política e institucional, oferecendo ambiente excelente para aprendizagem, inova- ção, desenvolvimento científi co e tecnológico Os atuais eventos de seca que ocorrem no Brasil são um depoimento vivo da necessidade de se aprimorar os procedimentos atuais utilizados no trato do problema da secas. O potencial benefício do desenvolvimento de metodologias que adaptem os sistemas ao clima e mitiguem os impactos das secas podem ser identifi cados pela relevância dos sistemas submetidos a secas atualmente: • Seca 2013-2015 no Estado de São Paulo. Com uma população de 41 milhões de habitantes, é a potência econômica do Brasil. A capital é classifi cada como a 10ª cidade mais rica do mundo e responde por 27% do PIB do Brasil. Para colocar isto em perspectiva, a economia da cidade de São Paulo é (em termos nominais) superior ao tamanho de um pequeno país europeu, tal como, os Países Baixos. • Seca 2014-2015 no Setor Hidrelétrico. O setor elétrico brasileiro pos- sui uma capacidade instalada de empreendimentos em operação de 125.252.000 MW, sendo que 82.345.591 MW (65,7%) correspondem ao setor hidroelétrico (ANEEL, 2012). Hidroeletricidade devido ao seu custo e menor impacto am- biental global estabeleceu-se como hegemônica. No ano de 2015 o setor hidroe- létrico esta com dos seus mais baixos níveis de estoque de água na série 2000- 2015. O crescimento econômico do Brasil requer o aumento da produção de energia elétrica a custos módicos. • Seca 2011-2017 no Nordeste Semiárido Brasileiro. Esta região impacta- da historicamente pelas secas tem uma população de 22 milhões de habitantes e desenvolvido desenvolvimento através agricultura irrigada, serviços e processo da industrialização. A gestão de risco em sistemas de recursos hídricos é estratégia metodológi- ca adequada para a promoção da segurança hídrica e da gestão proativa de secas. A identifi cação dos modos de variação do clima em suas múltiplas escalas tem- porais e os efeitos das mudanças climáticas são dimensões essenciais na avaliação dos riscos em sistemas de recursos hídricos. Sendo este um dos pontos de partida deste projeto. A forma como a sociedade se organiza defi ne as vulnerabilidades da mes- ma aos extremos hidrológicos e como será impactada. O arcabouço jurídico-po- lítico-institucional que condicionam o modelo de gestão da água é fato relevante nesta análise de vulnerabilidade e estabelece as possibilidades de adaptação. 13 Faz-se necessário uma análise detalhada destas duas dimensões para iden- tifi car instrumentos adequados para a gestão dos recursos hídricos em suas três dimensões constitutivas: oferta, demanda e confl itos. No contexto deste projeto, a alocação da água é o cerne da gestão dos recursos hídricos. E na alocação que se estabelece como a água e os riscos são alocados entre regiões, usos e usuários de água. Neste processo estabelece-se como os benefícios sociais associados ao uso da água serão apropriados pelos diversos grupos sociais e territórios. A construção de instrumentos de gestão proativa de secas que objeti- vam tratar os eventos de escassez hídrica e a estratégia de promoção da segurança hídrica que trata da redução de vulnerabilidades hídricas estruturais de longo prazo requerem uma análise detalhada do risco climático, do arcabouço jurídi- co-político-institucional e da alocação de água. O projetoADAPTA propõe-se a analisar a confi guração e dinâmica de todas estas dimensões e como as mesmas se interinfl uenciam com vistas a propor metodologias para a promoção da segurança hídrica e gestão proativa de secas. Um dos pontos fortes do Projeto ADAPTA é seu caráter interdisciplinar. Os sistemas de recursos hídricos são sistemas sócio-naturais e como tais reque- rem abordagem integrada de suas múltiplas facetas requerendo conhecimento das ciências físicas, ciências sociais e da engenharia. A pesquisa envolveu uma rede de pesquisadores brasileiros e estrangeiros, com larga experiência em gerenciamento de recursos hídricos, gestão de seca, modelagem climática e hidrológica, e gestão adaptativa de bacias hidrográfi cas. A rede envolve ainda profi ssionais de órgãos gestores de recursos hídricos, além de contar com o apoio de várias instituições envolvidas com a gestão das aguas nas bacias de estudo. O desenvolvimento do projeto teve fi nanciamento no âmbito da Cha- mada MCTI/CNPq/ANA N º 23/2015 – Pesquisa em Mudança do Clima - Pro- cesso 446222/2015-1. 15 SEÇÃO 1 - BASE DE DADOS O AUDIOVISUAL COMO FERRAMENTA DE DOCUMENTAÇÃO E ESTUDO DA SECA ATUAL Maria Lidiana Ferreira Osmundo Jéssica Barbosa dos Santos Francisco de Assis de Souza Filho 1. INTRODUÇÃO Vídeos podem ser importantes instrumentos para desenvolver o conheci- mento pessoal e coletivo, pois trabalham a memória, despertam a atenção, agu- çam o raciocínio e estimulam a imaginação. Segundo Fonseca, o audiovisual: [...] é um meio efi caz na mediação do processo de apropriação do conhecimento, porque comporta em sua composição vários elementos de linguagem que propiciam uma compreensão em vários níveis. Assim, podem facilmente desencadear associações que levam aos sentidos e aos signifi cados (1998, p.37). Por conseguinte, desde que surgiu, essa forma de comunicação dialoga e infl uencia o cotidiano das civilizações em nível global. Logo, não é difícil enten- der a vasta profusão que o audiovisual tem alcançado nos diversos ambientes e suportes, indo de televisores a smartphones; encontrando-se nas redes sociais; nas plataformas on-line para a hospedagem de vídeos etc. Tal realidade evidencia o mérito de se aplicar esse engenho como forma de transmissão de informações para diversos fi ns, sendo ele compreendido pelas fendas e fi ssuras da linguagem, ou seja, pela tendência a “difundir-se continuamente e a afetar outros discursos numa peculiar relação de afetibilidade. Nessa difusão, o vídeo perde o seu caráter particular, mas adquire generalidade e fi ca fundido e transmutado como pensa- mento, como uma prática cultural do nosso tempo” (MELLO, 2008, p. 36). Artefatos videográfi cos dizem muito mais do que é constatado pelos indi- víduos e as informações transmitidas através deles chegam por caminhos que vão além da percepção humana, ou seja, mediante vídeos, as pessoas absorvem infor- mações independentemente de sua consciência (GUTIERREZ, 1978). Portanto, com esse discernimento, o audiovisual foi compreendido como uma ferramenta relevante para documentação e estudo das secas no projeto Adapta — Gestão Adaptativa do Risco Climático de Seca como Estratégia de Redução dos Impactos da Mudança Climática — que visou: I) dimensionar a vulnerabilidade dos usos e usuários de água, atuais e futuros, perante o risco climático de seca; e II) propor estratégias de gestão adaptativa como mecanismo de aumentar a sua resiliência no contexto de intensifi cação das variabilidades e mudanças do clima. Para tanto, a investigação contemplou duas bacias hidrográfi cas bastante distintas em termos físicos, socioeconômicos, políticos e institucionais: a Bacia do rio Jaguaribe, na região semi-árida do Ceará, que tem uma vocação agrícola; e a Bacia do rio Pa- 16 SEÇÃO 1 - BASE DE DADOS raíba do Sul, que é fortemente urbanizada e industrializada; localizada na região sudeste; compartilhada entre os Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Ambas as regiões têm vivenciado, desde 2014, uma seca severa. Posto isso, enfatizando a importância dos vídeos para fomentar os recursos de memória e disseminação da pesquisa, o presente artigo tem como objetivo descrever o processo de elaboração das duas principais produções audiovisuais do projeto descrito — o vídeo de apresentação, intitulado “Adapta – O Projeto”; e o documentário “Seca”, que abrangeu apenas a conjuntura cearense. 2. METODOLOGIA Inicialmente, a proposta consistia na realização de somente uma obra de introdução da pesquisa e discussão da seca, criando-se, em fevereiro de 2017, um roteiro preliminar sob orientação de Francisco de Assis de Souza Filho, coordena- dor do projeto Adapta. Figura 1 – Primeira página do pré-roteiro para os vídeos. 17 SEÇÃO 1 - BASE DE DADOS Contudo, percebeu-se que, dada a abrangência do tema e a quantidade de pessoas que se pretendia convidar para participar das gravações, defi niu-se traba- lhar com mais de um vídeo. A primeira produção foi estruturada sob os seis módulos de organização do projeto (FIGURA 2), sendo introduzidos por um resumo de toda a pesquisa e fi nalizados por uma conclusão acerca do que, na época, almejava-se como resul- tados e suas possíveis repercussões. Figura 2 – Módulos de organização do Projeto Adapta. Para orientar o segundo vídeo, defi niram-se sete perguntas centrais. Com isso, conseguiu-se nortear as entrevistas e levantar informações relevantes sobre à temática da seca: Tabela 1 - Questionário para entrevistas do documentário “Seca”. PERGUNTAS 1 Quando iniciou a seca? 2 Quais os principais impactos? a. No abastecimento de cidades b. Na irrigação c. Na qualidade da água 3 Quais as ações realizadas para combater a seca? a. Como se dá o processo de decisão? b. Há planejamento de seca? 4 Quais os principais problemas? 5 Com o conhecimento possuído agora, o que o você faria diferente? 18 SEÇÃO 1 - BASE DE DADOS 6 Fale um pouco sobre alocação de água e os confl itos nos vales perenizados. a. Quais os critérios para alocação de água? b. Quais as informações utilizadas? c. Como se deu a participação dos diversos setores na gestão da seca? Obs: Caso o entrevistado não mencione em sua fala, questionar sobre o sistema Jaguaribe-Metropolitano. 7 Quem seria importante ouvir sobre esse tema? Determinou-se que, para ambos os vídeos, o professor Assis Filho assu- miria o papel de guia, orientando a sequência das falas dos demais entrevista- dos. Estes, por sua vez, foram criteriosamente selecionados, considerando sua formação e atuação profi ssional; seu envolvimento com a pesquisa ou área; e a disponibilidade para as gravações. Desse modo, o vídeo “O Projeto” contou com depoimentos de oito pesquisadores das áreas de ciências ambientais, engenharia civil, hidrologia e antropologia, advindos das Universidade da Integração Interna- cional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB), Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Universidade Federal do Ceará (UFC), University of Georgia1 (UGA) (Universidade da Georgia) e Technische Hochschule Köln (TH Köln)2. Já o documentário “Seca” teve a presença de membros da alta gestão das Companhia de Água e Esgoto do Ceará (CAGECE), Companhia de Gestão de Recursos Hí- dricos (COGERH), Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (FUNCEME) e Secretaria de Recursos Hídricos do Estado do Ceará. Após defi nidos a arquitetura dos vídeos e os entrevistados, as gravações foram iniciadas em Fortaleza, capital cearense, em 20 de março de 2017, por oca- sião do evento dedicado ao projeto que, durante três dias, reuniu pesquisadores das duas regiões brasileiras, bem como dos Estados Unidos e da Alemanha na UFC para dissertarem sobre o desenvolvimento da pesquisa em rodas de con- versa, palestras, discussões livres etc., além de realizarem uma visita técnica aos perímetros de Tabuleiro de Russas e Morada Nova. A equipe de fi lmagem foi composta por cinco pessoas de conhecimentos múltiplos — dentre bolsistas,alunos de mestrado e doutorado e um professor universitário —, sendo dois integrantes da área de hidrologia e secas, para auxiliar as discussões durante as entrevistas; e três envolvidos com os campos de comuni- cação e mídias digitais. 1 Universidade da Georgia, nos Estados Unidos. 2 Universidade Técnica de Colônia, na Alemanha. 19 SEÇÃO 1 - BASE DE DADOS Figura 3 – Registro dos pesquisadores do projeto Adapta realizado na Universida- de Federal do Ceará (UFC) durante o evento de março de 2017. Ao fi nal das gravações, em agosto de 2017, iniciou-se o processo de edição, sendo concluído em novembro do mesmo ano. Durante três meses, os vídeos foram tratados, revisados (tecnicamente e conceitualmente) e ajustados de modo a produzir materiais consistentes e que transmitissem informações claras e rele- vantes aos espectadores. Ademais, no intuito de compor, no caso do vídeo de apresentação, um produto abrangente e acessível, fez-se uma obra bilíngue, contendo depoimentos em português e inglês, bem como legendas em ambos idiomas, além de viabi- lizar aos espectadores, estudiosos ou não, uma visão mais clara das regiões de drenagem e do que é dito sobre elas por meio de mapas animados, gerados por computação gráfi ca no software Google Maps, e de fi lmagens externas da Bacia Jaguaribe-Metropolitana, do Rio Paraíba do Sul3 e do Seminário de Alocação negociada de água ocorrido no Ceará4. O segundo vídeo foi conduzido sob informações aprofundadas acerca dos cenários de abastecimento e de escassez de água no Ceará, apresentando argu- mentações quanto à distribuição e à gestão de recursos hídricos e discussões para promover à população o acesso à água, contribuindo para o desenvolvimento sustentável. A multidisciplinaridade e variadas expertises dos profi ssionais entre- vistados tornaram à composição do vídeo “Seca” robusta, pois tiveram voz pessoas intimamente ligadas à problemática, ou seja, de posse de dados de alta represen- tatividade. Portanto, a partir de uma linguagem simples e fl uida, que o meio audiovisual permite, os conteúdos têm a capacidade de serem melhor alcançados não só pelos gestores que trabalham com recursos hídricos, mas também pelos estudiosos e por quem é diretamente atingido pelo problema da seca. 3 Material gentilmente cedido por Fernando Salis e Daniel Metzke. 4 Material gentilmente cedido por Sandra Helena. 20 SEÇÃO 1 - BASE DE DADOS 3. RESULTADOS Além dos vídeos cujo processo de produção encontra-se aqui descrito, realizou-se mais sete obras, que tratam das falas de cada um dos entrevistados, apresentando suas percepções e conhecimentos adquiridos no decorrer de suas práticas profi ssionais: 1. Assis Filho (UFC) https://youtu.be/88NOLqz9WZk 2. Francisco Teixeira (secretário de Recursos Hídricos do Estado do Cea- rá) https://youtu.be/NjVvzksAKfs 3. Gianni Lima (assistente da presidência na COGERH) https://youtu.be/B9jVIrTkTlc 4. Elder dos Santos (diretor de unidade de negócios do interior na CA- GECE) https://youtu.be/hunOS4dP0OQ 5. Ubirajara Patrício (diretor de planejamento na COGERH) https://youtu.be/wUk3LrW_Vjc 6. Eduardo Sávio (presidente na FUNCEME) https://youtu.be/e2TL15fhx0M 7. João Lúcio (presidente na COGERH) https://youtu.be/NGpAQY6yFFU Todos os artefatos estão organizados e disponibilizados no canal do You- Tube, intitulado Hidrologia UFC5. Esse espaço é prioritariamente utilizado para agrupar e ofertar videoaulas e outros materiais de referência para alunos da disci- plina de Hidrologia das graduações em Engenharia Civil e Engenharia Ambiental na UFC. Dessa forma, os vídeos auxiliam os graduandos nos seus momentos de estudo e estimulam discussões sobre o tema na universidade. Como as obras foram produzidas a partir de uma demanda identifi cada no projeto Adapta, o material encontra-se também na página virtual dedicada a este6. Assim, interessados no tema e outros pesquisadores envolvidos neste e em projetos similares podem acessá-los e debater sobre seca em todo o Brasil. Convém destacar que o vídeo de apresentação do projeto, durante o trans- curso de conclusão das edições, teve uma primeira versão apresentada no evento Water Security and Climate Change Conference7, realizado na Alemanha, entre 18 5 https://www.youtube.com/channel/UCoimfl LQu1wfdtbSNHFd4xQ 6 http://www.adapta.ufc.br/ 7 http://www.watersecurity.info/the-conference/wscc-2017/ 21 SEÇÃO 1 - BASE DE DADOS e 21 de setembro de 2017. Pode-se perceber que, apesar da distância — afi nal o vídeo estava sendo produzido no nordeste brasileiro —, participantes da confe- rência europeia puderam, sem difi culdade, através da intervenção audiovisual rea- lizada, assistir e se apropriar da temática. Isso evidencia, além da explícita facilida- de de acesso, o poder que essa mídia tem de chamar atenção instantânea e de se propagar através do apelo sonoro e das imagens que criam a ilusão de movimento. 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS Como pode ser aferido, o audiovisual, sendo uma mídia que pertence ao cotidiano e ao carregar elementos visuais e auditivos, bem como dinamicidade, cumpre seu papel de veículo condutor de informação com a intenção de possi- bilitar acesso a públicos variados, dada a naturalidade e facilidade da linguagem. Os vídeos produzidos e disponibilizados trazem depoimentos e propõem uma refl exão acerca da seca no Ceará e no Brasil e, para trabalhar a temática, o audiovisual atendeu ao propósito de potencializar discussões, sendo um meio de fácil entendimento, didático e capaz de promover refl exão sobre uma questão de extrema importância para toda sociedade. Conforme afi rma o documentarista Paulo Baroukh, em entrevista conce- dida aos alunos da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campi- nas): “o documentário é uma poderosa ferramenta educacional, não só na trans- missão do conhecimento, como na formação da consciência crítica e fomentação de refl exão a respeito dos temas que apresenta” (GREGOLIN; SACRINI; TOM- BA, 2002, p. 52). Por conseguinte, “é justamente onde ele está respondendo a necessidades novas, fazendo desencadear consequências não experimentadas an- teriormente” que se demonstra a sua relevância (MACHADO apud MELLO, 2008, p. 28). Assim, espera-se que os vídeos, como categórica base de dados, auxiliem os futuros pesquisadores, os tomadores de decisões e “todo aquele que se interessar pela questão da água em suas diferentes dimensões, com essa abordagem multi- disciplinar que caracteriza intensamente o projeto Adapta”8 (SOUZA FILHO; SANTOS; OSMUNDO, 2017). REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS FONSECA, Maria Tereza de Azevedo da. Realização e recepção: um exercício de leitura. In: Comunicação & Educação. São Paulo: Moderna, 1998. GREGOLIN, Maíra, SACRINI, Marcelo e TOMBA, Rodrigo (2002). Web-do- cumentário: Uma ferramenta pedagógica para o mundo contemporâneo. Projeto experimental desenvolvido sob a orientação do professor Celso Bodstein para 8 Informação fornecida pelo coordenador do projeto Adapta, Francisco de Assis de Souza Filho, no vídeo Adapta - O Projeto, produzido em 2017. 22 SEÇÃO 1 - BASE DE DADOS obtenção do título de graduação do curso de Comunicação Social – Jornalismo da PUC – Campinas. Disponível em: <http://www.bocc.ubi.pt/pag/tomba-ro- drigo-web-documentario.pdf>. Acesso em: 01 out 2018. GUTIERREZ, F. Linguagem total: uma pedagogia dos meios de comunicação. São Paulo, Summus, 1998. MELLO, C. Extremidades do vídeo. São Paulo: Editora Senac, 2008. SOUZA FILHO, F. A.; SANTOS, J. B.; OSMUNDO, M. L. F. Adapta - O Projeto. 2017. Vídeo. 23 SEÇÃO 1 - BASE DE DADOS SISTEMA DE MONITORAMENTO HIDROMETEOROLÓGICO Eduardo Sávio Passos Rodrigues Martins Meyre Sayuri Sakamoto José Marcelo Rodrigues Pereira 1. A IMPORTÂNCIA DO MONITORAMENTO NA ADAPTAÇÃO ÀS MUDANÇAS DO CLIMA. Muitas atividades meteorológicas e climáticas, incluindo pesquisa e apli- cações, são baseadas, principalmente, em observações do estado da atmosfera ou do clima. A aplicação do uso dos dados observados dependeda escala temporal de interesse, que podem variar de minutos, horas, décadas ou séculos. Por exem- plo, as características horárias de uma variável meteorológica são importantes em operações agrícolas, como o controle de defensivos agrícolas e no monitoramento do uso de energia para aquecimento e resfriamento. O clima ao longo de meses ou anos determinará, dentre outras, as culturas que podem ser cultivadas, a dis- ponibilidade de água potável e produção de alimentos. Escalas temporais mais longas de décadas e séculos são importantes para estudos de variações climáticas causadas por fenômenos naturais, como mudanças na circulação atmosférica e oceânica e pelas atividades dos seres humanos. Signifi cativos aumentos no dióxi- do de carbono e metano troposféricos durante a era industrial, juntamente com o aumento de emissões de aerossóis e partículas, estão afetando expressivamente o clima global. Assim como a expansão das cidades com seus prédios e superfícies de asfalto, tem aumentado a quantidade de radiação absorvida do Sol, levando a formação de ilhas de calor. Em 2002, os especialistas que elaboraram o Segundo Relatório sobre a Adequação dos Sistemas Globais de Observação para o Clima em Apoio à Con- venção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC) (WMO, 2003), em trabalho conjunto com o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), estabeleceram os requisitos científi cos para obser- vações climáticas sistemáticas subjacentes às necessidades das Partes da UNFCCC e do IPCC. Assim, concluiu-se que o monitoramento climático é importante e necessário para: • Caracterizar o estado do sistema climático global e sua variabilidade; • Monitorar as forçantes do sistema climático, incluindo contribuições naturais e antropogênicas; • Apoiar a identifi cação das causas das mudanças climáticas; • Apoiar a previsão da mudança climática global; 24 SEÇÃO 1 - BASE DE DADOS • Projetar informações sobre mudanças climáticas globais em escalas re- gionais e nacionais; e • Caracterizar os eventos extremos importantes na avaliação e adaptação do impacto e avaliar os riscos e vulnerabilidade. As observações dos atuais sistemas de monitoramento do clima têm forne- cido informações para muitas das conclusões obtidas pelo IPCC sobre as mudan- ças climáticas e seus possíveis impactos, bem como, para compreender as implica- ções da variabilidade climática e do clima na sociedade e ecossistemas. Contudo, entende-se que, a avaliação do impacto e as atividades de adap- tação exigem informações sobre padrões regionais de mudança climática, variabi- lidade e eventos extremos. Desta forma, além das redes nacionais, redes de medi- ção com maior densidade espacial são necessárias, bem como observações diárias e/ou horárias para detectar eventos extremos. Não obstante o uso de informações atuais e as melhorias feitas nos últimos anos, o IPCC relatou recentemente que as atuais redes observacionais climáticas estão declinando em muitas partes do mundo e que observações adicionais e sustentadas sobre o clima são necessárias para melhorar a capacidade de detectar, atribuir e compreender as mudanças climáticas e projetar futuras mudanças cli- máticas. 2. O INSTRUMENTO DE MONITORAMENTO E A GESTÃO DE RECURSOS HÍDRICOS PLANO DE CONTINGÊNCIA. Os planos de contingências, no âmbito recursos hídricos, são desenvolvi- dos como parte do plano de convivência com a completa falta de chuva ou pela má distribuição da mesma. As secas dos últimos anos (2010-2017) que atingiram o Nordeste Brasileiro reforçam a necessidade de ações proativas para um geren- ciamento hídrico, a fi m de evitar o colapso do sistema de abastecimento e que minimizem as consequências de estiagens. Basicamente, os planos de contingência seguem uma estratégia de desen- volvimento clássica, que possui 3 (três) fases bem defi nidas: Diagnóstico, Plane- jamento e Execução. Na fase de diagnóstico, os monitoramentos meteorológicos e hidrológicos são essenciais para o desenvolvimento de indicadores como SPEI, SPI e SRI (discutidos posteriormente), que são usados nos planos de contingên- cias e na gestão de recursos hídricos. É a partir do monitoramento que se acom- panha a severidade e a evolução das secas e identifi ca-se gatilhos que colocarão os planos de contingência em ação. O monitoramento pode ser considerado o mais importante dentre as etapas para a elaboração do plano de contingência. Esse processo de elaboração do plano de contingência envolve vários níveis da sociedade, instituições estaduais e federais, no qual caracterizam o sistema, defi nem os tipos de monitoramento que serão realizados, a avaliação e o acom- 25 SEÇÃO 1 - BASE DE DADOS panhamentos dos indicadores, os impactos causados pelas secas e ações de miti- gação. Outro ponto importante, é a qualidade da água disponível que deve estar adequada para o consumo humano em situações de escassez hídricas e quando ações dos planos de contingências já estão sendo tomadas. 3. A REDE DE MONITORAMENTO. Os principais componentes da rede de monitoramento mantida pela Fun- ceme no Ceará são os pluviômetros convencionais, plataformas automáticas de coleta de dados e radares meteorológicos. Espacialmente, estes equipamentos, particularmente, a densa rede de pluviômetros, permitem delimitar os padrões re- gionais do clima e sua variabilidade. Eventos extremos de excesso de precipitação, por sua vez, são monitorados através das plataformas automáticas e dos dois ra- dares instalados no estado. Uma descrição mais detalhada é apresentada a seguir. • Rede Convencional A rede de monitoramento convencional operada pela Funceme (Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos) no Ceará consiste de pluviôme- tros convencionais pluviômetros do tipo “Ville de Paris”, cuja instalação foi ini- ciada em 1974, com a instalação de 96 sensores em cada sede de município ao longo das ferrovias. Na ocasião a Fundação contou com apoio da Rede Ferroviária Federal para a observação e a transmissão dos dados de chuva via rádio (faixa co- mercial). Na mesma época, outro convênio estabelecido com a Polícia do Estado do Ceará possibilitou a instalação de mais 32 postos pluviométricos, e nos anos seguintes, outros foram sendo instalados em áreas com maior necessidade de mo- nitoramento, até que, com a criação da Ematerce (Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Ceará), o trabalho de monitoramento passou a contar com o reforço do serviço de extensão rural. Em 1997, a quantidade de postos pluviométricos já alcançava o total de 215 em todo o Estado, contudo, o fechamento de 100 escritórios da Ematerce, nesse mesmo ano, levou à relocação dos postos. É nesse momento que surge, ofi - cialmente, a fi gura do observador pluviométrico voluntário, que são agricultores, professor, enfi m representantes da sociedade civil que aceitaram a instalação de um pluviômetro em suas terras e se comprometeram a efetuar a leitura, diaria- mente, às 7h, informando em seguida, à Funceme, o volume acumulado em 24 horas. Ao longo dos anos, a Funceme instalou cerca de oitocentos pluviômetros. Todavia, atualmente consideram-se 640 pluviômetros ativos distribuídos ao lon- go do estado (Quadro 1 e Figura 1), e destes, cerca de 520 com informações atualizadas. 26 SEÇÃO 1 - BASE DE DADOS Quadro 1 - Distribuição dos pluviômetros nas regiões pluviometricamente ho- mogêneas. Região Qtd atual de pluviômetros Litoral Norte 70 Litoral do Pecém 49 Litoral de Fortaleza 44 Maciço de Baturité 31 Jaguaribana 92 Ibiapaba 65 Sertão Central e Inhamuns 207 Cariri 82 Fonte: FUNCEME Figura 1 – Mapa com a localização dos pluviômetros convencionais ativos ope- rados pela Funceme. Fonte: FUNCEME • Rede de Plataformas Automáticas de Coleta de Dados No Ceará a precipitação acumulada em 24 horas é bem monitorada, prin- cipalmente, através da rede pluviométrica convencional, porém, as demais variá- veis meteorológicas e ambientais como temperatura do ar, radiação solar,velo- cidade do vento, umidade do solo, entre outros, são menos conhecidos, já que 27 SEÇÃO 1 - BASE DE DADOS as medidas existentes, em escala climatológica, resumem-se a quatorze estações meteorológicas mantidas pelo INMET (Instituto Nacional de Meteorologia), que proporcionam uma escassa informação, do ponto de vista espacial, sobre o estado (Figura 2). Figura 2 – Mapa com a localização das estações meteorológicas do INMET. Fonte: FUNCEME Assim, com o propósito de atenuar esta defi ciência de dados, a partir de 2003, através de recursos do Banco Mundial, foi implantada uma rede de PCD´s (Plataformas Automáticas de Coleta de Dados), com transmissão de dados atra- vés do satélite brasileiro SCD e modens telefônicos. Esta rede, inicialmente foi composta por 70 plataformas distribuídas em três tipos: agrometeorológicas, hi- drometeorológicas e agrohidrometeorológicas, estas últimas, contemplando além dos sensores meteorológicos, medidores de variáveis relacionados ao solo (tem- peratura, umidade e fl uxo de calor) e de nível de reservatório. Atualmente a rede da Funceme conta com 84 PCDs distribuídas no estado, conforme mostram o Quadro 2 e a Figura 3. Além da modernização dos equipamentos mais antigos, as novas plataformas estão sendo adquiridas com a transmissão de dados através do satélite americano Goes, o que permite acesso aos dados de hora em hora, numa escala muito melhor do que o permitido pelos satélites SCD, cuja transmissão ocorre a cada 3 horas. 28 SEÇÃO 1 - BASE DE DADOS Tabela 2.2.1 - Distribuição dos PCDs nas regiões pluviometricamente homogê- neas. Região Qtd atual de PCDs Litoral Norte 7 Litoral do Pecém 5 Litoral de Fortaleza 7 Maciço de Baturité 4 Jaguaribana 13 Ibiapaba 7 Sertão Central e Inhamuns 30 Cariri 11 Figura 3 – Mapa com o local de instalação das PCDs. Fonte: FUNCEME Radares Meteorológicos O radar meteorológico constitui-se de um dispositivo para detecção ativa de alvos meteorológicos (nuvens), com vistas ao seu mapeamento espaço-tempo- ral (gênese e evoluções), e à determinação de suas propriedades, ou seja, sua natu- reza, intensidade, desenvolvimento e duração. A palavra RADAR é um acrônimo de RAdio Detection And Ranging (rádio detecção e localização) e foi utilizada pela primeira vez pela marinha norte americana na década de 40 referindo-se a 29 SEÇÃO 1 - BASE DE DADOS um aparato tecnológico construído para utilizar ondas de rádio na detecção e localização de objetos. Assim, como o nome sugere, a energia transmitida pelos radares é essencialmente uma onda de rádio com uma freqüência na parte alta do espectro (intervalo completo) de radiofreqüências. Desde que as ondas ele- tromagnéticas “viajam” pela atmosfera na velocidade da luz (300.000 km/s) é possível ter um monitoramento contínuo, em tempo real, e se obter informações precisas de localização e intensidade da chuva causadas pelos sistemas meteoroló- gicos presentes no raio de alcance do radar. O Ceará conta com dois radares meteorológicos. O primeiro foi instalado em 1993 pela Funceme em Fortaleza e foi pioneiro na região Nordeste do Brasil. Com uma área de abrangência que atinge o raio máximo de 120 quilômetros, este radar permite o monitoramento da precipitação sobre toda a região metropoli- tana da capital cearense e de vários municípios da região litorânea, além de parte do Oceano Atlântico. Adquirido para utilização em física de nuvens, o radar de Fortaleza opera na banda X, que corresponde a 3 centímetros de comprimento de onda, e é do tipo Doppler (Doppler Weather Surveillance Radar), com modos de intensidade e velocidade. Assim, gotas de precipitação podem ser detectadas pelo radar e seu deslocamento horizontal, ou seja, seu afastamento ou aproximação podem ser determinados, o que permite verifi car o sentido e velocidade de deslo- camento dos sistemas precipitantes. Em 2011, foi inaugurado o radar de Quixeramobim. Este também é do tipo Doppler, de banda S e faz parte da Rede Cearense de Radares (RCR), através da integração com o Radar Doppler de Banda X em operação na cidade de For- taleza. O radar de Quixeramobim possui capacidade para estimar a precipitação dentro de um raio de 200 km e ainda fazer o monitoramento de sistemas meteo- rológicos que atuam em um alcance de até 400 km, cobrindo todo o estado do Ceará, e algumas áreas dos estados vizinhos. Figura 4 – Mapa com a localização dos radares meteorológicos operados pela Funceme e suas áreas de cobertura. Fonte: FUNCEME 30 SEÇÃO 1 - BASE DE DADOS 4. O MONITORAMENTO DE SECAS E A GESTÃO PROATIVA DE SECAS O Semiárido nordestino é caracterizado pela alta variabilidade climática. O regime de chuvas é delimitado por uma estação chuvosa curta e uma estação seca. A estação chuvosa refl ete a confi guração da circulação atmosférica de grande escala e a interação oceano-atmosfera no Pacífi co e no Atlântico que infl uenciam diretamente a atuação de sistemas meteorológicos na região (Ferreira e Mello, 2005). Assim, embora o clima semiárido seja dominante, com baixo volume plu- viométrico e alta perda evaporativa, a ocorrência de secas, ou seja, desvios negati- vos de precipitação, em longo prazo, também é frequente. Grandes secas têm sido registradas ao longo da história (CGEE, 2016). Algumas como as de 1877 a 1879, levaram a construção de açudes, como o açu- de Cedro, em Quixadá (CE), o primeiro grande açude construído no País. Em outros momentos, como as secas de 1915 e 1932, resultaram na implantação de “campos de concentração” ou “campos de refugiados” para impedir que os retirantes evadidos da seca no sertão chegassem à capital do Ceará (Rios, 2001). Das soluções governamentais, a ‘fase hidráulica’ talvez seja das mais concretas na tentativa de garantir segurança hídrica a partir do armazenamento de água. A criação de instituições voltadas ao Nordeste (DNOCS, BNB, Codevasf, Sude- ne) tiveram o propósito de promover o desenvolvimento social e econômico da região. Contudo, ao longo dos anos, as ações concentraram-se, prioritariamente, em medidas emergenciais paliativas, de modo que, o retorno das chuvas, sempre levou ao esquecimento da seca. Todavia, o mais recente e longo período de seca cujos primeiros indícios foram identifi cados em 2010 e se intensifi caram a partir de 2012, levou a ações que promoveram uma mudança no paradigma historicamente atrelado à gestão reativa de crises. Instituições federais e estaduais, com apoio do Banco Mundial, organizaram-se para desenvolver abordagens para lidar, de forma proativa com os eventos recorrentes de seca no Nordeste. Nasceu assim, um programa que levou em conta experiências internacionais como as dos Estados Unidos (Centro Nacional de Mitigação da Seca – NMDC) e do México (Comissão Nacional de Águas – Conagua), elegendo três pilares de preparação para as secas: (1) monito- ramento e previsão/alerta precoce; (2) avaliação de vulnerabilidade/resiliência e de impacto e (3) mitigação e planejamento e medidas de resposta. O monitoramento e previsão/alerta precoce é a base dos demais elementos da preparação para a seca, e considera a identifi cação e acompanhamento de indi- cadores meteorológicos e hidrológicos (precipitação, temperatura, evapotranspi- ração, umidade do solo, nível de reservatórios, etc.) e o uso destes em uma análise integrada. 31 SEÇÃO 1 - BASE DE DADOS 5. A RESPOSTA ÀS SECAS A PARTIR DO MONITORAMENTO. A partir das séries históricas das variáveis meteorológicas observadas, é pos- sível caracterizar a variabilidade climática de uma determinada região, sendo ne- cessário no mínimo 30 (trinta) anos de informações (WMO) para variáveis como precipitação, temperatura, umidade, etc. É comum usar cálculos probabilísticos para classifi car a série histórica de uma região em categorias (seco, normal ou chu- voso, por exemplo), e a partir do monitoramento diário determinar atualmente em que categoria se encontra. Com esta caracterização e através do monitoramen- to diário, é possível verificar se uma região de interesse está enfrentando eventos climáticos que venham causar danos econômicos ou sócias e desta maneira, de- senvolver e planejar ações que venham mitigar seus danos. Através do monitoramento meteorológico é possível ainda desenvolver di- ferentes indicadores de secas, que podem ser usados por instituições como produ- tos de apoio para o gerenciamento de ações e na tomada de decisões no combate as secas. Dente os indicadores de secas, podemos citar o Índice de Precipitação Pa- dronizado (McKee, 1993), o Índice Padronizado de Precipitação-Evapotranspira- ção (Vicente-Serrano et al., 2010) e os Índices de Escoamento e Estiagem. Estes índices são baseados nas séries históricas e em observações diretas (pluviômetros e plataforma de coleta de dados) de variáveis como precipitação, temperatura, níveis de reservatórios e vazões. De acordo com Wilhite e Glantz (1985), as secas pode sem classifi cadas em 4 (quatro) categorias: seca meteorológica, seca agrícola, seca hidrológica e seca socioeconômica. Por não existir uma defi nição única de seca, é necessário usar diferentes indicadores que usem múltiplas variáveis meteo- rológicas para serem aplicados a setores específi cos como agricultura e recursos hídricos. Esses índices são usados para diferentes escalas temporais, (curto, médio e longo prazo) e classifi cam em categorias a severidade ds seca para uma determi- nada região de interesse. Os índices citados anteriormente podem ser usados por pesquisadores para investigar as secas históricas e desenvolver metodologias permanentes de combate as secas, ou por tomadores de decisão a fi m de reagir aos impactos das secas de forma emergencial para reduzir o sofrimento das pessoas. Ações como abasteci- mento de água e o seguro safra, são exemplos de ações subsidiadas pelos governos em resposta aos impactos das secas. 6. PERSPECTIVAS FUTURAS PARA MELHORIA DO MONITORAMENTO DE EVENTOS CRÍTICOS. Uma vasta rede de sistema de coleta de dados meteorológicos é essencial para o monitoramento de eventos críticos, as informações coletadas a partir de pluviômetros, plataforma de coleta de dados, radio sondagem, radares e satéli- tes meteorológicos podem ser usadas para disparar alertas de perigo no caso de 32 SEÇÃO 1 - BASE DE DADOS enchentes e analisar períodos de estiagem de chuvas, este último com o objetivo de estimar a severidade de secas. Outra possibilidade do uso das informações de uma rede de monitoramento, é a aplicação desses dados em um esquema de assimilação de dados em modelos atmosféricos de mesoescala, para a previsão de tempo de curtíssimo prazo (até 3 horas), técnica também conhecida como nowcasting. A previsão por nowcasting permite identifi car, por exemplo, a preci- pitação acumulada para uma determinada região nas próximas horas ou o des- locamento de um sistema convectivo, e dessa maneira, emitir alertas para áreas de riscos suscetíveis a deslizamentos de terra ou enchentes com algumas horas de antecedência a que evento ocorra. Os ganhos da previsão por nowcasting já foram discutidos e aplicados (Browning et al. 1982; Walton e Johnson, 1986; Einfalt et al. 1990). O monitoramento hidrometeorológico também é importante para compreendermos as causas e feitos das mudanças climáticas, assim como o quão rápido estas mudanças estão acontecendo. Com o aquecimento global, estima-se que eventos extremos, como secas, enchentes e ondas de calor, sejam cada vez mais frequentes, onde a sociedade e a economia terão profundos impactos. A integração da rede de vários sensores de monitoramentos meteorológicos traz vários benefícios a sociedade, os ganhos sociais e econômicos são incalculá- veis. As informações poderão ser usadas nas tomadas de decisões, intervenções mais objetivas podem ser feitas para evitar prejuízos humanos por conta da ocor- rência de eventos extremos como enchentes ou secas. Espera-se que com os avan- ços tecnológicos, o monitoramento de variáveis fi que cada vez mais detalhado para a maior parte do globo terrestre. Podemos citar, por exemplo, o advento dos satélites meteorológicos de alta resolução, onde alguns possuem resolução espacial na escala de metros. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CGEE/Banco Mundial, 2016. Secas no Brasil – política e gestão proativas. 292 p. Ferreira, A.G.; Mello, N.G.S., 2005. Principais sistemas atmosféricos atuantes so- bre a região Nordeste do Brasil e a infl uência dos oceanos Pacífi co e Atlântico no clima da região. Revista Brasileira de Climatologia, v. 01, no. 01., p. 15-28. Dis- ponível em: https://revistas.ufpr.br/revistaabclima/article/view/25215/16909. Rios, K.S., 2001. Campos de concentração no Ceará: isolamento e poder na seca de 1932.Museu do Ceará, 127 p. WMO, 2003. GCOS-82. Second Report on the Adequacy of the Global Obser- ving Systems for Climate in Support of the UNFCCC. WMO TD 1143. BROWNING, K. A.; COLLIER, C. G.; LARKE, P. R.; et al. On the Forecasting of Frontal Rain Using a Weather Radar Network. Monthly Weather Review, v. 110, n. 6, p. 534–552, 1982. Disponível em: <http://journals.ametsoc.org/doi/ abs/10.1175/1520-0493%281982%29110%3C0534%3AOTFOFR%3E2.0. 33 SEÇÃO 1 - BASE DE DADOS CO%3B2>. Acesso em: 17/12/2018. EINFALT, T.; DENOEUX, T.; JACQUET, G. A radar rainfall forecasting me- thod designed for hydrological purposes. Journal of Hydrology, v. 114, n. 3, p. 229–244, 1990. Disponível em: <http://www.sciencedirect.com/science/article/ pii/0022169490900586>. . MCKEE, T. 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Disponível em: <https://doi.org/10.1080/025080685086863 28>.. 35 SEÇÃO 1 - BASE DE DADOS CONSTRUÇÃO DE SISTEMA WEB PARA DISPNIBILIZAÇÃO DA BASE DE DADOS DOS RESERVATÓRIOS DO SISTEMA JAGUARIBE METROPOLITANO Anderson Fernandes Pessoa Francisco de Assis de Souza Filho Daniel Camelo Cid Victor Costa Porto Artur Holanda Souza 1. INTRODUÇÃO Uma das necessidades encontradas para a realização de estudos e simulação dos reservatórios do sistema Jaguaribe-Metropolitano foi a construção de uma base de dados unifi cada vistos a sua obtenção por diferentes fontes. Com o intuito de disponibilizar esta base de dados para o público para que possa contribuir com o desenvolvimento de novos projetos e pesquisas, sur- giu a proposta de desenvolvimento de um sistema web que pudesse concentrar os dados através de um banco, permitir o download destes dados pelo usuário e apresentar esses dados através de gráfi cos de fácil compreensão. Para o gerenciamento do conteúdo foi utilizado o framework Django. Ele é escrito na linguagem python e usa o padrão model-template-view. Para o banco de dados, inicialmente foi utilizado o MySql e posteriormente os dados foram migrados para o PostGreSQL, devido ao servidor na nuvem. 2. METODOLOGIA DE DESENVOLVIMENTO O desenvolvimento do sistema está divido em 3 etapas. A primeira parte é relacionada aos dados da aplicação, o que envolve tarefas como modelagem de dados, implementação de um banco de dados, entre outras atividades que serão detalhadas no tópico subsequente. A segunda etapa é relacionada a apresentação dos dados em uma página web, o que envolve um modelo de consulta de dados, criação dos gráficos, etc. Por último, te- mos a etapa de implementação do sistemaem um servidor para que o site fique disponível para o acesso. A figura 2.1 apresenta o fluxo das etapas. 36 SEÇÃO 1 - BASE DE DADOS Figura 1 - Fluxo de etapas 3. DADOS A primeira etapa do desenvolvimento é composta pelas seguintes ativida- des: escolha dos dados, coleta, organização lógica desses dados em planilhas, mo- delagem, implementação do banco de dados e testes de persistência. Caso algum erro seja descoberto durante os testes, é necessário voltar a etapa de modelagem para verifi car se o erro foi inserido nessa etapa, caso contrário, a busca da falha continua na atividade seguinte que é a de implementação. A fi gura 3.1 apresenta o fl uxo das atividades. Figura 2 - Fluxo de atividades 37 SEÇÃO 1 - BASE DE DADOS A tarefa inicial foi a coleta e organização dos dados dos reservatórios. Fo- ram coletados dados de 131 reservatórios. Cada reservatório possui um id que é único e é utilizado pelos orgãos de gestão. As vazões afl uentes foram obtidas através do relatório de estudos de regio- nalização de vazões para as bacias dos reservatórios do Estado do Ceará, publicado por UFC/COGERH (2013). Neste relatório, as séries de vazões foram obtidas utilizando-se o modelo SMAP (Soil Moisture Accounting Procedure) mensal, ajustado a um modelo regional para estimar os parâmetros para as bacias dos reservatórios. Os dados compõem uma série mensal de vazões dos reservatórios, do período compreendido entre janeiro de 1912 e dezembro de 2012 e foram utilizados na operação do sistema de reservatórios. As evaporações médias mensais dos reservatórios foram obtidas na base de dados das normais climatológicas do INMET (1992). Já as curvas de cota-área- -volume e a capacidade máxima de cada um dos reservatórios foram obtidas junto à COGERH. Após a organização, foi feita a modelagem de dados para posteriormente ser criado o banco de dados. A modelagem foi feita com base no modelo Entidade Relacionamento (ER). Esse modeo é uma maneira sistemática de descrever dados ou aspectos de informação de um domínio e defi nir um processo de negócio. Com a modelagem, foi criado um diagrama ER que apresenta informações de dados e relacionamentos. A fi gura 3.2 apresenta o diagrama. Figura 3 - Diagrama ER 38 SEÇÃO 1 - BASE DE DADOS Ao fi m da modelagem, foi criado o banco de dados no MySQL e os dados das planilhas foram importados para as respectivas tabelas do banco. Em seguida foram realizados testes para validar a relação entre as tabelas e se os dados foram importados para os campos corretamente. Com isso, chegou-se ao fi m da primei- ra etapa com sucesso. 4. AP RESENTAÇÃO DOS DADOS Essa etapa consiste em criar páginas web para que um usuário possa intera- gir através de menus, botões, gráfi cos, etc. Para o layout das páginas foi utilizado o framework bootstrap, ele utiliza CSS, HTML e JS para criar páginas web respon- sivas. Para a exibição dos gráfi cos foi utilizado o Highcharts que é uma ferramenta para criar gráfi cos interativos. O Highcharts é gratuito para o uso não comercial. A Figura 4.1 apresenta a página inicial do sistema. Nela, são apresentados 3 gráficos de um dado reservatório, previamente escolhido através de um botão que lista os reservatórios possíveis. Os gráficos apresentam dados de evaporação e vazão, sendo um a vazão média mensal e outro a vazão histórica ao longo dos anos. Figura 4.1 - Página Inicial A fi gura 4.2 apresenta a segunda página do sistema. Nela é onde o usuário pode fazer o download dos dados que foram previamente armazenados no banco de dados. Através de um botão, o usuário escolhe de qual reservatório deseja fazer o download de dados. Após escolher o reservatório, os dados são processados pelo servidor, cria-se um arquivo .csv que será baixado no computador do usuário. 39 SEÇÃO 1 - BASE DE DADOS Figura 4.2 - Segunda Página As páginas foram feitas com o intuito de terem poucas informações, prezando pela simplicidade e efatizando somente as informações essenciais. Os usuários que testaram as páginas aprovaram o layout e suas funcionalidades. Com isso, a etapa de apresentação dos dados foi concluida com êxito. 5. IMPL EMENTAÇÃO NO SERVIDOR O servidor escolhido para hospedar o sistema foi o Heroku. O Heroku é uma plataforma on-line onde desenvolvedores podem construir, hospedar e operar aplica- ções totalmente na nuvem (on-clound). Foi escolhido um plano gratuito para a hos- pedagem do sistema, pelo fato do plano atender a todos os requisitos de aplicação. O domínio onde o sistema foi hospedado é o http://web-reservatorio.herokuapp.com/. 6. CONC LUSÃO O sistema foi desenvolvido com o intuito de apresentar dados de reserva- tórios e disponibilizá-los para download. Os dados foram apresentados através da ferramenta Highcharts, de uma maneira na qual o usuário pode selecionar qual re- servatório deseja. O download dos dados é feito da mesma maneira, por seleção do reservatório. Os dados de download vêm em um arquivo no fomato .csv, que pode ser aberto em qualquer editor de texto. O sistema está on line e pode ser acessado a qualquer momento. Através do servidor Heroku foi possível atingir alta disponibili- dade do sistema, 24h por dia, 7 dias na semana. Este sistema de banco de dados desenvolvido será incluído como uma aba no site do Projeto Adapta (http://www.adapta.ufc.br/) de forma que o público tome conhecimento do projeto e tenha livre acesso aos dados por meio de um portal. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS UFC/COGERH. Estudos de regionalização de parâmetros de modelo hidrológico chuva-vazão, para as bacias totais e incrementais dos reservatórios monitorados pela Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos. Relatório 1.1.12. Convênio UFC/ COGERH/FCPC. Fortaleza. 2013. 24p. 41 SEÇÃO 1 - BASE DE DADOS SISTEMA DE INFORMAÇÕES RBIS SERVER: PARAIBA DO SUL E CEARÁ Amanda Vieira e Silva Anderson Fernandes Pessoa 1. INTRODUÇÃO Um banco de dados pode ser compreendido como uma coleção organi- zada de informações indexadas, que pode ser facilmente acessada, gerenciada e atualizada. A gestão deste banco de dados, por sua vez, corresponde ao conjunto de ações que possibilita realizar a compilação, consulta, alteração e eliminação destas informações, consideradas necessárias à instituição que gerencia o banco de dados, com o objetivo de registrá-las, mantê-las, e disponibilizá-las automati- camente, para fi ns que lhe sejam convenientes. O Projeto intitulado Gestão Adaptativa do Risco Climático de Seca como Estratégia de Redução dos Impactos da Mudança Climática (ADAPTA) tinha dois objetivos principais: i) dimensionar a vulnerabilidade dos usos e usuários de água, atuais e futuros, perante o risco climático de seca; e ii) propor estratégias de gestão adaptativa, como mecanismo de aumentar sua resiliência no contexto de intensi- fi cação das variabilidades e mudanças do clima. Além disso, o Projeto Adapta se dedicou ao desenvolvimento e aprimora- mento de estratégias e metodologias que subsidiassem a elaboração e implemen- tação de políticas públicas para a adaptação e resposta das sociedades às mudanças climáticas. Para tanto, os pesquisadores envolvidos se dedicaram ao estudo de duas bacias hidrográfi cas bastante distintas em termos físicos, socioeconômicos, políticos e institucionais: a. Bacia do rio Jaguaribe (Sistema Jaguaribe-Metropolitano), localizada na região semiárida do Estado do Ceará, com forte vocação agrícola, e que, ao longo dos anos, tem enfrentado diversas secas de longa du- ração; e b. Bacia do rio Paraíba do Sul, fortemente urbanizada e industrializada, compartilhada entre os Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, e que vivenciou seca severa durante os anos de 2014 e 2015. As causas para este desastre foram a ocorrência de um período atípico de seca, o uso excessivo da água disponível e a falta de preparação para cenários de seca prolongada como este. As duas bacias são altamente estratégicas por serem mananciais de abaste- cimento de regiões metropolitanas,e por outro lado, por possuírem instituições e experiências de gestão das águas consideradas como avançadas no contexto nacio- 42 SEÇÃO 1 - BASE DE DADOS nal, sendo ideais, portanto, para a transferência de competências práticos a outras bacias. Ambas possuem relevante complexidade física, política e institucional, oferecendo um ambiente excelente para aprendizagem, inovação, desenvolvimen- to científi co e tecnológico. Com isso, o projeto Adapta pôde reunir e agregar conhecimentos ao tema da adaptação ao clima e ao aprimoramento da gestão de recursos hídricos em outras bacias ou regiões do Brasil. Para alcançar os objetivos propostos, a metodologia do Adapta foi seg- mentada em sete etapas: (i) Gestão de dados e oferta de produtos de informação; (ii) Análise da Variabilidade do Clima e Caracterização de Secas; (iii) Balanço Hídrico e Modelagem Hidrológica; (iv) Alocação de Água (mecanismos e mode- lagem); (v) Plano Segurança Hídrica; (vi) Planejamento de Secas; e (vii) Gestão Adaptativa dos Recursos Hídricos. 1. BACIA DO RIO JAGUARIBE Segundo classifi cação da Agência Nacional de Águas (ANA), o rio Jaguari- be pertence à Região Hidrográfi ca Atlântico Nordeste Ocidental (ANA, 2018). A bacia hidrográfi ca do rio Jaguaribe está situada quase completamente dentro dos limites do Estado do Ceará (Figura 1), compreendendo 17 microrregiões (total de 80 municípios cearenses), com uma pequena parcela estendendo-se ao sul, para o Estado de Pernambuco, ocupando parte dos municípios de Exu, Moreilândia e Serrita (IBGE, 1999). A bacia do rio Jaguaribe se limita, ao norte, pelas bacias dos rios Acaraú e Curu, e pela bacia Metropolitana do Estado do Ceará. Ao sul, pelas bacias afl uen- tes do rio São Francisco (Brígida, Terra Nova e Pajeú), a oeste, pela bacia do rio Parnaíba, e a leste, pelas bacias dos rios Apodi e Piranhas, bem como Oceano Atlântico (ANA, 2017). As cabeceiras de suas sub-bacias servem de limite entre o Ceará e os Estados de Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte. De acordo com ANA (2017), dentre os cursos d’água da bacia do rio Ja- guaribe, destacam-se: • Rio Salgado: nasce na Chapada do Araripe, na divisa entre os Esta- dos de Pernambuco e Ceará, com o nome de riacho Batateira. Após percorrer cerca de 300 km em território cearense, desemboca no rio Jaguaribe, no Município de Icó; • Rio Banabuiú: tem sua nascente no Município cearense de Pedra Bran- ca, na Serra da Pipoca. Percorre pouco mais de 300 km até desembocar no rio Jaguaribe, no Município de Limoeiro do Norte; e • Rio Jaguaribe: tem sua nascente localizada na Serra da Joaninha, em Tauá, Ceará. Percorre cerca de 600 km, cruzando o território cearense, para desaguar no Oceano Atlântico, entre os Municípios de Aracati e Fortim. 43 SEÇÃO 1 - BASE DE DADOS A área total da bacia é de aproximadamente 74.000 km², ocupando cerca de 51,9% da área total do Estado do Ceará, enquadrando-se entre as coordenadas de 4°30’ e 7°45’ de latitude sul, e 37°30’ e 41°00’ de longitude oeste. As princi- pais rodovias de acesso à região são a BR-116 e BR-304 (federais), e a CE-040 (estadual). Com uma extensão de cerca de 610 km, desde as nascentes (a sudoeste) até o litoral (a nordeste), o rio Jaguaribe e seus tributários percorrem uma região dominada, basicamente, pelas formações vegetais da Savana Estépica (Caatinga) e as de Tensão Ecológica do tipo contato Savana-Estepe, na região da Serra do Pereiro, e Estepe-Floresta Estacional, no setor extremo sul (IBGE, 1999). O período crítico e com maior defi ciência hídrica ocorre entre os meses de julho a novembro, com pequenas variações, para uma área onde as pluviosidades máximas e mínimas anuais estão entre 1.270 mm e 470 mm. Segundo Silva et al. (2006), em termos de gerenciamento, todas as águas da bacia do Rio Jaguaribe são de interesse exclusivo do Estado do Ceará. Destarte, para implementar a gestão e a alocação de suas águas, a bacia do Rio Jaguaribe é ofi cialmente considerada como compreendendo cinco sub-bacias: Alto Jaguaribe, Médio Jaguaribe, Baixo Jaguaribe, Banabuiú e Salgado. De acordo com IBGE (1999), a distribuição climática da bacia hidrográ- fi ca do rio Jaguaribe indica quatro tipos climáticos: úmido, subúmido, semiárido e árido, além de três tipos de climas de transição: (a) úmido a subúmido; (b) subúmido a semiárido; e (c) semiárido a árido, sendo que 60% da área da bacia é abrangida pelo clima semiárido, que ocorre no sentido NE-SO, desde as proxi- midades do litoral até o extremo sudoeste. A região de maior destaque e importância climática na bacia do Jaguaribe é o front da Chapada do Araripe, onde ocorre o clima úmido, podendo-se também citar a Serra do Pereiro. O clima úmido é dominante na região do Município de Caririaçu (CE), onde observa-se um índice de pluviosidade em torno de 1.200 mm anuais, defi ciência hídrica de 320 mm (cinco meses de défi cit hídrico), e excedente hídrico de 400 mm anuais (três meses de excedente hídrico). A tempe- ratura média anual é de 23ºC. A zona de transição climática úmida para subúmida, na região do Araripe, apresenta uma defi ciência hídrica de 450 mm anuais, excedente hídrico de 200 mm anuais, temperatura média anual de 25°C, e uma pluviometria média anual de 1.000 a 1.100 mm. Na região climática subúmida, verifi ca-se uma pluviometria média anual de 900 a 1.000 mm, temperatura média anual entre 25°C e 26°C, excedente hí- drico de 100 a 200 mm anuais, com dois meses de excedente hídrico, defi ciência hídrica de 500 a 600 mm anuais, e sete meses de défi cit hídrico. 44 SEÇÃO 1 - BASE DE DADOS Figura 1 – Bacias hidrográfi cas do Estado do Ceará. Fonte: COGERH, IPECE. A zona de transição climática subúmido a semiárido ocorre em duas re- giões distintas: no topo da Chapada do Araripe, em uma faixa estreita no sentido NE-SO, onde estão as localidades de Catarina, Piquet Carneiro e Milhã, e ao sul do açude de Orós, estendendo-se tanto para SE como para SO. As temperaturas médias anuais são de 24°C a 26°C no topo da Chapada do Araripe, com pluviometria média anual de 800 a 900 mm, excedente hídrico de 0 a 50 mm anuais (correspondendo a um a dois meses de excedente), defi ciência hídrica de 600 mm a 700 mm anuais, com sete a oito meses com défi cit. O clima semiárido na bacia do Jaguaribe apresenta pluviosidade média anual de 700 mm a 800 mm, temperatura média anual entre 26°C e 27°C, de- 45 SEÇÃO 1 - BASE DE DADOS fi ciência hídrica de 700 a 800 mm anuais (oito a nove meses com défi cit), sem excedente hídrico anual. A transição climática semiárido a árido ocorre em uma pequena faixa ao sul da bacia, com temperaturas médias anuais em torno dos 24°C, com pluviome- tria média anual de 600 mm a 700 mm, defi ciência hídrica em torno de 800 mm anuais (oito a nove meses de défi cit), não havendo excedente nesta zona climática. O clima árido apresenta índice pluviométrico de 500 mm a 600 mm anuais, defi ciência hídrica superior a 900 mm anuais (dez a onze meses de défi - cit), sem excedente hídrico, e com temperatura média anual em torno de 27°C9. Os solos da região da bacia hidrográfi ca do rio Jaguaribe são geralmente pouco profundos, pedregosos, com fertilidade média a alta. As principais ocor- rências são de Podzólicos Vermelho-Amarelos eutrófi cos, Solos Litólicos eutrófi - cos, Planossolos Solódicos e Bruno Não-Cálcicos. Ainda segundo IBGE (1999), a bacia do Jaguaribe possui baixa perspectiva em reserva de águas subterrâneas, pois a quase totalidade de sua área situa-se em rochas cristalinas, muitas vezes, afl oradas, de baixo potencial hídrico. A exceção são os aquíferos da Chapada do Araripe, que formam sistemas livres, com po- tencial hídrico relativamente alto. A rede de drenagem apresenta nítido controle estrutural, com cursos retilinizados, mudanças de cursos marcantes, devido à influência de fraturamentos e falhamentos. 2. RIVER BASIN INFORMATION SYSTEM RBIS Mesmo com os diversos softwares e aparato tecnológico disponíveis atual- mente,