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A Imortalidade dos Deuses - Resenha Crítica

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MANHÃES, Ralph Machado. Sobre a Imortalidade dos Deuses. Universidade 
Salgado de Oliveira. Campos dos Goytacazes, 1999. 
A Imortalidade dos Homens 
Iasmin Rodrigues Rosa # Instituto Federal Fluminense – campus Campos Guarus 
iasmin.rosa@gsuite.iff.edu.br 
No texto "Sobre a Imortalidade dos Deuses" o professor Dr. Ralph Manhães traz 
uma reflexão acerca da busca pela vida eterna, tendo como ponto de vista uma 
interpretação de como a literatura épica homérica imortalizava o guerreiro e ao mesmo 
tempo a si mesma. Logo no início do texto o autor comenta sobre ter procurado voltar 
seu olhar para um tempo onde ainda não havia se formado o Sujeito, e que então se 
deparou com o mundo grego e um possível começo. Para o professor, fica claro que a 
terra dos deuses era o meio principal para formação do Sujeito. 
É notório que a Grécia Antiga foi o local de produção inicial de grande parte dos 
nossos conhecimentos e formas de organização ocidentais. Um povo que não se sabe ao 
certo a origem, mas cuja vivência nos intriga e instiga até hoje. Nesse estudo o autor 
busca explanar sobre a questão da imortalidade para os gregos e como isso se 
desenrolou em sua vivência, em suas criações e em suas tradições. 
Há no texto um ponto crucial ressaltado pelo autor: a sensibilidade do grego para 
a dor, o sofrimento, o dramático, a morte. Ele também conclui, nas entrelinhas, essa 
como uma das chaves para explicar o modo de vida destemido do grego homérico. 
Como dito no saber de Sileno para os homens: “O bem supremo te é absolutamente 
inacessível: é não ter nascido, não ser, nada ser. Em compensação, o segundo dos bens 
tu podes ter: é logo morrer.”. A morte na verdade seria o ápice da vida, o fim do 
sofrimento e mais do que isso: a chave para a imortalidade. 
A "vida eterna" é incontestavelmente um tema central da vida e sociedade 
humanas. Ele está presente em todos os povos, em todos os tempos. Por mais que os 
métodos e as definições para tal variem com o tempo e o espaço, o objetivo é sempre o 
mesmo: “vencer” a morte através da eternidade. 
Para os gregos não haveria um mundo melhor a sua espera, não haveria, como 
para os cristãos, um mundo após esse, onde se daria eternidade. Então, havendo um só 
mundo – no qual a morte era o único destino certo –, a vida se dava apenas aqui, os 
deuses imortais aqui habitavam e para se assemelhar a eles era preciso se imortalizar 
aqui. E como bem citado pelo autor, a grande diferença entre os deuses e os homens era 
justamente a imortalidade. 
Como relatado pelo escritor, para o grego homérico a imortalidade se dava 
através do canto do aedo, da perpetuação de seu nome no mundo quando seu corpo já 
não mais se fizesse presente. Para isso, era necessário não apenas enfrentar a morte – o 
morrer para viver –, mas também enfrentar a vida. Fazer e ser grandioso o suficiente 
para ter a honra de ser lembrado. A imortalidade era conquistada. 
Se tratando de um povo tão forte, destemido e sensível às aflições da vida, 
apenas uma morte jovem, heroica e grandiosa poderia eternizar seu nome neste mundo. 
Era do reconhecimento, da fama, que advinha sua imortalidade. Embora o autor não 
explicite este ponto, fica implícito que a imortalidade também dos deuses gregos não era 
mailto:iasmin.rosa@gsuite.iff.edu.br
o "viver para sempre", mas justamente o "não ser esquecido", pois, tão poderosos e 
grandiosos eles eram que seus nomes e suas histórias não eram esquecidos pelos poetas 
e seus ouvintes. 
No politeísmo grego, os deuses governavam a natureza e, mais do que isso, se 
manifestavam através dela. Partindo do ponto de vista do autor, de que os poetas 
criaram os deuses imortais para imortalizar os heróis e por consequência imortalizaram 
a si mesmos, não havia melhor exemplo de imortalidade do que a natureza, cujo tempo 
não tem "fim" e se mostra infinitamente maior do que o tempo finito de qualquer 
homem. 
Ao fim de sua expedição, o autor conclui que, logicamente e não 
necessariamente cronologicamente, o que viabilizou a literatura épica não foi o herói e 
sua bela morte, mas sim “o artifício da imortalidade dos deuses criado pelos próprios 
profetas”. 
Por fim, parece certo afirmar que a imortalidade dos deuses não passa de um 
pressuposto, uma justificativa, um pilar para a desejada imortalidade dos homens. 
Fato é que o método grego deu certo, pois aqui estamos, milhares de anos e 
gerações depois, lembrando e discutindo sobre seus feitos, suas influências e suas 
particularidades. Como dito a Aquiles: “embora estejas morto, teu nome não está 
esquecido, mas será sempre lembrado através do mundo”.