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1 ISSN 2358-5145 www.vetsciencemagazine.com.br BACTERIOLOGIA VETERINÁRIA MANUAL DE BOAS PRÁTICAS PARA O CLÍNICO Número 19 MAGAZINEum benefício para o cliente TECSA 2 PLANO PARA A VIDA TODA Faça o que é certo, não o que é fácil. O NOME DISTO É ÉTICA! Para realizar coisas grandes, comece pequeno. O NOME DISTO É PLANEJAMENTO! Aprenda a dizer “não “. O NOME DISTO É FOCO! Parou de ventar? Comece a remar. O NOME DISTO É GARRA! Não tenha medo de errar, nem de rir dos seus erros. O NOME DISTO É CRIATIVIDADE! Sua melhor desculpa não pode ser mais forte do que seu desejo. O NOME DISTO É VONTADE! Não basta ter iniciativa. Também é preciso ter “acabativa”. O NOME DISTO É EFETIVIDADE! Se você acha que o tempo voa, trate de ser o piloto. O NOME DISTO É PRODUTIVIDADE! Desafie-se um pouco mais a cada dia. O NOME DISTO É SUPERAÇÃO! Para todo “Game Over” existe um “Play Again”. O NOME DISTO É VIDA! A equipe do TECSA e os seus gestores acreditam no potencial humano de superar obstáculos e assim construir uma sociedade mais justa e fraterna a cada dia. Muitas vezes no isolamento do consultório, o Médico Veterinário tem de tomar decisões importantes e difíceis. O papel de um bom laboratório de suporte é contribuir para que estas decisões possam ser compartilhadas. Queremos que você, colega Médico Veterinário, tenha sempre a confiança em dividir conosco as suas dúvidas e os seus anseios. Somos uma grande equipe técnica que adora ajudar e discutir casos clínicos, nos mais diversos setores da clínica veterinária. Luiz Eduardo Ristow Diretor Presidente EDITORIAL 4 Obs.: os artigos assinados são de inteira responsabilidade dos autores e não representam necessariamente, a visão e opinião do TECSA Laboratórios. ÍNDICE Editores/Publishers: Dr. Luiz Eduardo Ristow . CRMV-SP 5560S . CRMV-MG 3708 . ristow@tecsa.com.br Dr. Afonso Alvarez Perez Jr . afonsoperez@tecsa.com.br Equipe de Médicos Veterinários TECSA . tecsa@tecsa.com.br Diagramação: Sê Comunicação . se@secomunicacao.com.br Contatos e Publicidade: comunicacao@tecsa.com.br Av. do Contorno , nº 6226 , B. Funcionários, Belo Horizonte - MG – CEP 30.110-042 PABX-(31) 3281-0500 Tiragem: 5000 revistas . Publicação Bimestral Na Internet: www.vetsciencemagazine.com.br CIRCULAÇÃO DIRIGIDA A revista VetScience® Magazine é uma publicação do Grupo TECSA dirigida somente aos médicos veterinários, como parte do Projeto JORNADA DO CONHECIMENTO, criado pelo mesmo. Este projeto visa a universalização do conhecimento em Medicina Laboratorial Veterinária. A periodicidade é Bimestral, com artigos originais de pesquisa clínica e experimental, artigos de revisão sistemática de literatura, metanálise, artigos de opinião, comunicações, imagens e cartas ao editor. Não é permitida a reprodução total ou parcial do conteúdo desta revista sem a prévia autorização do TECSA. Os editores não podem se responsabilizar pelo abuso ou má aplicação do conteúdo da revista VetScience magazine. Grupo TECSA – Referência desde 1994 EXPEDIENTE ISSN: 2358-1018 ÍNDICE 06. MECANISMOS DE RESISTÊNCIA BACTERIANA A FÁRMACOS ANTIMICROBIANOS 09. A IMPORTÂNCIA DA CULTURA COM ANTIBIOGRAMA 11. MÉTODO CORRETO DE COLETA DE CULTURAS DE PELE E OUVIDOS 14. O PAPEL DO ANTIFUNGIGRAMA PARA EVITAR SUPERINFECCOES FÚNGICAS 17. OTITE E INFECÇÕES DO TRATO URINÁRIO (ITU), COMO A OTOCULTURA E A UROCULTURA PODEM AUXILIAR NO DIAGNÓSTICO 21. ANTIBIÓTICOS EM MEDICINA VETERINÁRIA RESISTÊNCIA E IMPORTÂNCIA DO MONITORAMENTO 06. BACTERIOLOGIA Colaboraram neste número: Dr. Antonio Barbosa da Silva Junior, Dr. Cláudio Roberto S. Mattoso, Dra. Daniele Silvano Gonçalves, Dr. Guilherme Stancioli, Dra.Isabela de Oliveira Avelar, Dra. Janete Madalena da Silva, Dr. João Paulo Fernandez Ferreira, Dr. João Paulo Franco, Dr. Luiz Eduardo Ristow, Dra. Luiza França Melo, Dra. Marcela Ribeiro Gasparini, Dra. Natalia Lemos Arruda, Dr. Otávio Valério de Carvalho, Dra Talita Gomes da Silva Batista, Dr. Thiago Beloni de Melo, Dr. Thiago Luis Santos Gonçalves, todos membros da Equipe de Médicos Veterinários do TECSA Laboratórios. Além do Médico Patologista Clínico Dr. Afonso Alvarez Perez Jr. Contribuíram também para este número os renomados Colegas: Dra. Adriane Pimenta da Costa Val Bicalho, Dr. Anderson Carlos Camargo, Dra. Ana Maria R. Ferreira, Dra. Carolina Boesel Scherer, Dra. Gracy C.G. Marcello, Dra. Larissa Botoni, Dra Lauranne Alves Salvato, Dra Maria Cristina N. Castro, Dra. Mariana Paiva Rodrigues, Dra. Nathália Rose Vieira Santos, Dra. Nayro X. Alencar, Dr. Rafael Gariglio Clark Xavier, Dr. Sérgio José de Sousa, Dra. Stéfane Valgas Teixeira. 25. TRITRICHOMONAS FOETUS E SUA IMPORTÂNCIA NA CLÍNICA MÉDICA DE FELINOS 27. OBESIDADE E A RELAÇÃO COM NEOPLASIAS MAMARIAS EM CADELAS 38. URINA ROTINA – COLETA, ARMAZENAMENTO E ENVIO – INDICAÇÕES E EVENTUAIS ALTERAÇÕES 30. A IMUNOTERAPIA NO CONTROLE DA ALERGIA 34. AVALIAÇÃO DA RELAÇÃO PROTEÍNA-CREATININA URINÁRIA EM GATOS COM DOENÇA RENAL CRÔNICA 25. MEDICINA DE FELINOS 27.ONCOLOGIA 38.URINÁLISE 30.ALERGOLOGIA 34.PATOLOGIA CLÍNICA 6 BACTERIOLOGIA MECANISMOS DE RESISTÊNCIA BACTERIANA A FÁRMACOS ANTIMICROBIANOS M.V. MSc. PhD Larissa Botoni, M.V. MSc. PhD Carolina Boesel Scherer, Prof. MSc. PhD. Adriane Pimenta da Costa Val Bicalho, E-mail para correspondência: larissa.botoni@gmail.com agravante dos prejuízos gerados pela resistência adquirida é a possibilidade de transferência do material genético mutante entre microrganismos do mesmo gênero (Stuart e Bonnie, 2004) ou entre gêneros diferentes e evolutivamente distantes, que coabitam um determinado habitat (Courvalin, 1994). São diversas as formas de transferência de genes de resistência, mas é importante ressaltar que pode ocorrer verticalmente, ou seja da bactéria para a sua própria linhagem por multiplicação, ou horizontalmente, entre bactérias coabitantes. São conhecidos três mecanismos básicos de transferência de genes de resistência: transformação, quando microrganismos incorporam segmentos de DNA estrangeiro ao seu cromossomo; transdução, quando genes são transferidos através de um bacteriófago; e conjugação, que é o meio mais importante, devido à sua frequência e consequências epidemiológicas (Alekshun e Levy, 2007). A conjugação depende da aquisição, por uma bactéria sensível, de um ou mais plasmídeos que contém genes de resistência. Plasmídeos conjugativos contém genes responsáveis pelas codificações de proteínas que permitem a sua transferência entre bactérias, sendo ou não da mesma espécie. Os plasmídeos podem se disseminar por outros elementos genéticos como transposons e integrons, ou integrar-se ao cromossomo da bactéria receptora e assim assegurar sua estabilidade (Martínez-Martínez e Calvo, 2010). Através de mecanismos de troca genética e mutações, bactérias sensíveis podem tornar-se resistentes a várias classes de antimicrobianos (Alekshun e Levy, 2007). O processo de replicação do DNA não é completamente conhecido. Em média, uma mutação em um gene em particular, ocorre em cerca de uma a cada 1x108 bactérias de uma população. Se o gene proporciona uma vantagem competitiva em termos de sobrevivência, sob a ação de um agente antimicrobiano, a população sem o gene mutante e, portanto, sensível, morre ou é inibida, enquanto que a população que contém o gene mutante sobrevive e passa a se replicar e colonizar o meio. Este é o princípio básico da seleção de bactérias por antibióticos (Martínez-Martínez e Calvo, 2010). Mecanismos de resistência a antimicrobianos Mutações espontâneas podem causar resistência regulando a produção de enzimas que inativam o agente antimicrobiano; alterando um canal de proteína que é requerido para a entrada do agente antimicrobiano na célula; através de bombas de efluxo que expulsam o antimicrobiano da célula; alterando o alvo ao qual se liga o agente antimicrobiano, causando uma modificação ou eliminando o local de ligação (Pérez,1998; Tenover, 2006). Os mecanismos de resistência bacteriana estão representados na Fig. 2. Alteração enzimática Dois tipos de enzimas alteram a ação de agentes antimicrobianos, aquelas que degradam os antibióticos, como as β-lactamases; e aquelas que realizam transformações químicas nos fármacos, inativando-os. Entre estas estão enzimas que inativam aminoglicosídeos, macrolídeos, cloranfenicol e tetraciclinas (Pérez, 1998; Alekshun e Levy, 2007). Muitos microrganismos, em especial os Gram-negativos, possuem Introdução De uma maneira geral, a resistência a antimicrobianos ocorre quando o crescimento bacteriano só pode ser inibido em concentrações superiores às quais o antimicrobiano é capaz de alcançar no sítio da infecção (Wayne, 2011). Na rotina clínica, o diagnóstico de resistência microbiana a fármacos se dá através de técnicas de suscetibilidade a antimicrobianos in vitro. Comitês como o Clinical and Laboratory Standards Institute (CLSI) nos Estados Unidos e o European Committee on Antimicrobial Susceptibility Testing (EUCAST) na Europa, vêm definindo pontos de corte, dividindo em categorias clínicas (sensível, intermediário e resistente) a resposta ao antibiograma, que predizem a possibilidade de êxito ou fracasso no uso de determinado antibiótico(Martínez-Martínez e Calvo, 2010). Bactérias podem manifestar resistência a antimicrobianos através de uma variedade de mecanismos. Algumas espécies de microrganismos apresentam resistência intrínseca, ou seja, são naturalmente resistentes a todos os membros de uma classe de antimicrobianos. De maior preocupação, são os casos de resistência adquirida, onde populações inicialmente sensíveis de bactérias tornam-se resistentes a um agente bacteriano e proliferam sob a pressão seletiva do uso desse agente (Tenover, 2006). Mecanismos intrínsecos são encontrados naturalmente no genoma do microrganismo, tais como a AmpC β-lactamase de bactérias Gram- negativas e alguns sistemas de efluxo de multi-resistência à fármacos (Alekshun e Levy, 2007). Mecanismos adquiridos envolvem mutações em genes bacterianos relacionados à farmacodinâmica dos antimicrobianos. Um fator bastante 7 BACTERIOLOGIA ISSN 2358-5145 www.vetsciencemagazine.com.br BACTERIOLOGIA VETERINÁRIA MANUAL DE BOAS PRÁTICAS PARA O CLÍNICO Número 19 MAGAZINEum benefício para o cliente TECSA genes intrínsecos que codificam enzimas do tipo β-lactamases. Os fenótipos da resistência dependem da quantidade e da natureza destas enzimas. As cefamicinases tipo AmpC e carbapenemases são capazes de hidrolisar a grande maioria dos antimicrobianos β-lactâmicos atualmente disponíveis (Martínez-Martínez e Calvo, 2010). Enzimas que inativam aminoglicosídeos são o principal mecanismo de resistência bacteriana contra estes antimicrobianos. Dezenas de enzimas deste tipo interferem em processos de O-fosforilização, N-acetilação e O-nucleotidilação e, ao modificar a estrutura do aminoglicosídeo geram um novo composto incapaz de inibir o microrganismo (Kotra et al., 2000). Alteração da permeabilidade da membrana A membrana externa da parede celular das bactérias Gram-negativas possui proteínas do tipo porina que funcionam como entrada e saída inespecífica para pequenas moléculas de produtos químicos e orgânicos. Os antimicrobianos podem alcançar o citoplasma dos microrganismos através destes canais formados pelas porinas. Mutações que diminuem a expressão da porina contribuem para a resistência aos antimicrobianos, já que vão reduzir a permeabilidade da membrana aos fármacos (Alekshun e Levy, 2007). Sistemas de efluxo Além da alteração na permeabilidade da membrana celular de bactérias Gram-negativas por redução da expressão de porinas, sensibilidade aos antimicrobianos pode estar reduzida por sistemas de bomba de efluxo. Estudos têm mostrado que mesmo que os agentes antimicrobianos penetrem na membrana celular dos microrganismos, estes não conseguem chegar ao alvo intracelular, pois são expulsas da bactéria através de sistemas de efluxo (Li e Nikaido, 2004). As bombas de efluxo são proteínas de expulsão que situam- se na membrana celular e que, mediante consumo de energia, eliminam para o meio externo os antimicrobianos que penetraram na célula. Estes sistemas geralmente são formados por uma proteína que atua como um canal por onde o antimicrobiano é expulso e outra que age como acopladora (Martínez- Martínez e Calvo, 2010). O sistema de efluxo foi descrito a primeira vez como um mecanismo de resistência às tetraciclinas por McMurry e colaboradores em 1980 (Alekshun e Levy, 2007). A maioria das proteínas de efluxo de fármacos pertence a cinco famílias de proteínas (Fig. 3); duas superfamílias: Cassete de Ligação ao ATP (CLA) e Facilitador Maior (FM); e três pequenas famílias: Composto de Extrusão de Multidrogas e Tóxicos (CEMT); Pequena Resistência Multidrogas (PRM) e Divisão de Células de Nódulo-Resistência (DNR); (Li e Nikaido, 2004). Efluxo através de unidades de hidrólise de ATP, que ocorre em proteínas da família CLA, são chamadas de transporte primário. Efluxo de proteínas nas famílias DNR, FM, PME e CEMT ocorrem pela impulsão da força motriz de prótons e é chamado de transporte secundário (Alekshun e Levy, 2007). Os sistemas de efluxo causam moderado aumento da resistência, porém, a expressão de múltiplas bombas de expulsão ou a sua associação com outros mecanismos em uma mesma bactéria pode aumentar consideravelmente seu nível de resistência antimicrobiana (Martínez-Martínez e Calvo, 2010). Alteração do alvo Constituintes da parede celular, ribossomos e proteínas são sítios de ligação de antimicrobianos nas bactérias que podem ter a sua estrutura modificada a partir de mutações nos genes que os codificam. Isto faz com que o alvo não seja reconhecido pelo fármaco, impedindo a sua ação no microrganismo (Silveira et al., 2006). Alterações no sítio de ligação dos antimicrobianos são relevantes tanto em bactérias Gram-positivas quanto em Gram-negativas, sendo hoje, a resistência à meticilina encontrada em MRSA uma das principais, se não a mais importante, causa mundial de problemas com resistência bacteriana (Martínez-Martínez e Calvo, 2010). A resistência é transmitida pelo gene mecA, que tem origem cromossômica e está localizado em um elemento genético móvel, o Staphylococcal Chromossome Cassete mec (SCCm), que é responsável pela alteração na codificação da proteína de ligação à penicilina (PBP2a) (Cain, 2013). A produção dessa alteração na PBP2a confere resistência a todos os fármacos β-lactâmicos (Weese e van Duijkeren, 2010). O mais estudado mecanismo de resistência à quinolonas em isolados clínicos são as alterações da DNA-girase e da topoisomerase IV (Martínez-Martínez e Calvo, 2010). O efeito desse tipo de resistência específica é acumulativo, ou seja, apenas uma mutação causa baixa resistência, o aumento do número dessas mutações causa incremento de forma sequencial no nível de resistência (Martínez- Martínez e Calvo, 2010). Considerações finais Mais de meio século se passou desde a criação do primeiro antimicrobiano e, com o uso indiscriminado, rapidamente a frequência de resistência bacteriana começou a crescer exponencialmente. A propagação de microrganismos multirresistentes implica na necessidade de desenvolvimento, a curto e médio prazo, de novos fármacos capazes de eliminá-los de forma eficaz em infecções diversas. Entretanto, caso não haja conscientização dos profissionais de saúde humana e animal e de órgãos públicos competentes quanto à importância do uso racional de antimicrobianos, todos os esforços da ciência em se criar novas drogas serão em vão, visto que rapidamente emergirão cepas resistentes às mesmas. As bactérias estão em constante e rápida evolução, e são altamente eficientes em se adaptar às adversidades 8 BACTERIOLOGIA do meio. Devido à capacidade de transferênciade genes de resistência entre diferentes microrganismos, nós, médicos veterinários, temos o dever de nos comprometermos com as boas práticas no uso de antimicrobianos. Já que, o mau uso destes fármacos nos animais, que vivem em contato íntimo com os seus tutores, pode implicar em importantes reflexos na saúde pública. Figura 1. Demonstração esquemática dos mecanismos utilizados na resistência adquirida. Fonte: Stuart e Bonnie, 2004. Figura 2. Esquema dos mecanismos de resistência bacteriana. Fonte: anvisa.org.br Figura 3. Esquema de famílias de proteínas das bombas de efluxo. Fonte: adaptado de cmr.asm.org COD EXAMES MATERIAL PRAZO DIAS 54 CULTURA COM ANTIBIOGRAMA (AERÓBIOS) SWAB EM MEIO CONSERVANTE (STUART) 5 254 CULTURA COM ANTIBIOGRAMA (ANAERÓBIOS) SWAB EM MEIO CONSERVANTE (STUART) 5 576 CULTURA COM ANTIBIOGRAMA COMBINADO (AERÓBIOS E ANAERÓBIOS) SWAB EM MEIO CONSERVANTE (STUART) 8 393 COPROCULTURA COM ANTIBIOGRAMA FEZES RECENTES OU SWAB INTESTINAL 5 933 CULTURA OFTALMOLÓGICA COM ANTIBIOGRAMA SWAB OCULAR 5 269 ESPERMOCULTURA QUALITATIVA SÊMEN EM FRASCO ESTÉRIL 5 270 ESPERMOCULTURA QUANTITATIVA SÊMEN EM FRASCO ESTÉRIL 5 58 HEMOCULTURA COM ANTIBIOGRAMA SANGUE TOTAL EM FRASCOS ESPECÍFICOS 8 766 OTOCULTURA COM ANTIBIOGRAMA SWAB COM SECREÇÃO AURICULAR 5 937 PAINEL DIAGNÓSTICO OTITE SWAB COM MEIO E LÂMINAS COM MATERIAL AURICULAR 10 184 UROCULTURA COM ANTIBIOGRAMA URINA RECENTE EM FRASCO ESTÉRIL 4 9 BACTERIOLOGIA ISSN 2358-5145 www.vetsciencemagazine.com.br BACTERIOLOGIA VETERINÁRIA MANUAL DE BOAS PRÁTICAS PARA O CLÍNICO Número 19 MAGAZINEum benefício para o cliente TECSA A IMPORTÂNCIA DA CULTURA COM ANTIBIOGRAMA Nathália Rose Vieira Santos - Médica Veterinária CRMV-MG 10438 Rafael Gariglio Clark Xavier - Médico Veterinário CRMV-MG 16040 E-mail para correspondência: nvieira8@gmail.com É importante associar o material a ser coletado aos sinais clínicos do paciente, assim como atentar a qualidade do material coletado. Regiões com sinais de necrose, áreas com a presença de parasitas ou larvas, por exemplo, não são sítios de escolha para coleta do material transportado para o laboratório. Outros fatores importantes são a identificação do material, espécie do paciente, data e horário da coleta e suspeita clínica. São informações adicionais que auxiliam muito no momento da identificação do microrganismo, principalmente se não houve a possibilidade de realizar a coleta de forma asséptica. A conservação e transporte do material também são importantes, evitando que a amostra seja inviabilizada. Temperatura ou ambiente incorreto, dependendo do material, pode favorecer o crescimento de microrganismos contaminantes, comprometendo o resultado. Normalmente, as amostras são refrigeradas, salvo casos especiais. 2.2. Meios de cultura O meio de cultura é feito com os nutrientes necessários para que os microrganismos presentes na amostra coletada se multipliquem. Existem alguns meios seletivos para identificação de determinados agentes específicos, onde há o acréscimo de algum nutriente ou substância essencial para o crescimento e diferenciação do mesmo. Pode-se catalogar os meios de acordo com sua função. 2.2.1. Meios de transporte São os meios utilizados para realizar o transporte da amostra do local onde foi feita a coleta até o laboratório. Os mais utilizados são o meio Stuart (para transporte e conservação de microrganismos patogênicos juntamente a um swab) e o ágar nutriente (meio de cultura relativamente barato). 2.2.2. Meios para crescimento e isolamento São os meios utilizados para triagem dos microrganismos. Dependendo do material e suspeita clínica, o processamento é realizado em diversos meios, para que se conheça as características do(s) microrganismo(s) e assim, direcionar a identificação. Os mais comuns são ágar sangue (rico em nutrientes, não seletivo, utilizado para observação da ocorrência de hemólise) (Fig. 1), ágar MacConkey (seletivo para enterobactérias e diferencial para fermentação de lactose, mudando de cor após fermentação, que altera o pH do meio) (Fig. 2), ágar chocolate (não é seletivo, mas é muito utilizado em condições de microaerofilia), ágar Hektoen entérico (seletivo para Salmonella sp. e Shigella sp. e diferencial para a fermentação de lactose e produção de H2S) (Fig. 3). 2.2.3. Meios para prova de identificação Uma vez realizado o isolamento, são utilizados alguns meios para identificação, em conjunto com as provas bioquímicas. Alguns meios são ricos em açúcares ou outros compostos, como nitrogênio, ureia e/ou esculina. Através do resultado destas provas, pode-se chegar a identificação do gênero do microrganismo, sendo algumas vezes identificada também a espécie. A espécie bacteriana é identificada por chave de classificação fenotípica. 1. Introdução Na rotina da clínica médica veterinária, todo profissional deseja obter um diagnóstico rápido e preciso para iniciar o tratamento correto. Além de uma anamnese completa, o clínico trabalha com o suporte de exames complementares, muitas vezes imprescindíveis.A cultura e antibiograma estão sendo cada vez mais importantes na rotina clínica, principalmente pelo apelo crescente da comunidade mundial preocupada com resistência a antimicrobianos, sendo tema de diversos trabalhos. O objetivo dessa revisão é abordar as ferramentas disponíveis, que auxiliam não só na escolha do tratamento ao paciente, mas também na diminuição do surgimento de cepas resistentes. 2. Cultura A cultura é o exame que dará origem ao isolado bacteriano a ser avaliado. Por definição, cultura é o cultivo de microrganismos em meios adequados, sob determinadas temperaturas e ambientes específicos, a partir de amostras diversas, como secreções, sangue, urina, líquor e fragmentos de órgãos. 2.1. Formas de coleta A coleta do material é um procedimento de extrema importância para obter o agente causador da doença. Todo resultado obtido na rotina do laboratório de microbiologia depende da qualidade da amostra recebida. Uma coleta realizada de forma inadequada, sem a devida assepsia ou conservada/ transportada de forma incorreta, irá comprometer de forma negativa o resultado obtido, podendo dificultar e até mesmo inviabilizar o tratamento. 10 BACTERIOLOGIA 2.3. Hemocultura A hemocultura é o cultivo de microrganismos presentes em amostras de sangue venoso. É um exame utilizado em casos graves de infecção sistêmica que não respondem a antimicrobianos de amplo espectro. A coleta do material deve ser realizada de forma asséptica, realizando a tricotomia e antissepsia da pele no local a ser puncionado. O volume ideal corresponde a 10% do volume total do frasco de coleta, mas no caso de filhotes e animais muito pequenos isso nem sempre é possível. É importante que o material seja coletado em frasco estéril, com anticoagulante. A amostra não deve ser refrigerada, mas pode ser mantida em temperatura ambiente e deve ser enviada o mais rápido possível ao laboratório. 2.4. Urocultura A urocultura é o cultivo de microrganismos presentes em amostras de urina. O exame é indicado nos casos de infecção do trato urinário crônicas e não responsivas aos antibióticos de primeira escolha e amplo espectro. A coleta do material deve ser realizada de forma asséptica, sendo a cistocentese com auxílio de ultrassonografia o ideal, após a tricotomia e antissepsia da região abdominal. Pode-se realizar a coleta por sonda uretral, na impossibilidade da cistocentese. O volume a ser coletado deve ser em torno de 10 mL, se possível. A amostra deve ser mantida em recipiente estéril, refrigerada e levada para análise em, no máximo, 12 horas, evitando a deterioração da amostra. 3. Antibiograma O antibiograma é realizado utilizando meios de cultura não seletivos e sem corantes, como meio Mueller Hinton. O isolado é colocado em água salina, obedecendo ao padrão de turvação 0,5 da escala deMcFarland. Uma vez vortexado, faz-se o plaqueamento do inóculo e são colocados discos de difusão contendo diferentes bases antimicrobianas em doses específicas. Esse exame foi padronizado por Kirby e Bauer, sendo o mais utilizado ainda hoje pela confiabilidade dos resultados e baixo custo para realização (Fig. 4). Após determinado período de incubação, a leitura é feita através da medição do halo formado ao redor dos discos e utilizando uma tabela padrão como referência. Conforme o tamanho do halo e a droga testada, avalia-se se o microrganismo é sensível ou não a mesma. Outros testes de sensibilidade também são utilizados, como o de Concentração Inibitória Mínima (CIM) e E-test, mas em situações pontuais. 4. Considerações finais É importante que o exame clínico esteja aliado a diversos exames complementares. A cultura com antibiograma proporciona segurança e boa especificidade, direcionando a escolha do melhor tratamento. Para atingir esse resultado, é imprescindível que seja realizada uma coleta apropriada, assim como processamento do material realizado de forma correta, por um técnico experiente e capacitado, o que é necessário para uma correta leitura e avaliação dos resultados. Dessa forma pode-se iniciar um tratamento adequado, minimizando riscos de resistência a antimicrobianos. Figura 1. Ágar sangue. (Fonte: André Fernandes) Figura 2. Ágar MacConkey. (Fonte: André Fernandes) Figura 3. Ágar Hektoen. (Fonte: André Fernandes) Figura 4. Placa de antibiograma. (Fonte: André Fernandes) COD EXAMES PRAZO DIAS 54 CULTURA COM ANTIBIOGRAMA (AERÓBIOS) 5 254 CULTURA COM ANTIBIOGRAMA (ANAERÓBIOS) 5 576 CULTURA COM ANTIBIOGRAMA COMBINADO (AERÓBIOS E ANAERÓBIOS) 8 393 COPROCULTURA COM ANTIBIOGRAMA 5 933 CULTURA OFTALMOLÓGICA COM ANTIBIOGRAMA 5 269 ESPERMOCULTURA QUALITATIVA 5 270 ESPERMOCULTURA QUANTITATIVA 5 58 HEMOCULTURA COM ANTIBIOGRAMA 8 766 OTOCULTURA COM ANTIBIOGRAMA 5 937 PAINEL DIAGNÓSTICO OTITE 10 184 UROCULTURA COM ANTIBIOGRAMA 4 11 BACTERIOLOGIA ISSN 2358-5145 www.vetsciencemagazine.com.br BACTERIOLOGIA VETERINÁRIA MANUAL DE BOAS PRÁTICAS PARA O CLÍNICO Número 19 MAGAZINEum benefício para o cliente TECSA MÉTODO CORRETO DE COLETA DE CULTURAS DE PELE E OUVIDOS MV. Esp. PhD. Larissa Botoni, Dermatologista Veterinária E-mail para correspondência: larissa.botoni@gmail.com patogênicas e o supercrescimento de comensais. Entretanto, quando ocorrem alterações na integridade das funções defensivas da barreira cutânea, o órgão fica mais suscetível a infecções. As alergopatias e as endocrinopatias são doenças crônicas inflamatórias que provocam alterações contínuas nos mecanismos defensivos do sistema tegumentar, produzindo com frequência piodermites e otites recidivantes, quando não controladas adequadamente. O caráter recorrente das infecções de pele e ouvidos e o tratamento repetitivo com fármacos antimicrobianos têm se tornado um problema de grande preocupação da comunidade científica mundial, já que estão associados a um crescimento exponencial da incidência de infecções multirresistentes em humanos e animais. Desta forma, é essencial a conscientização dos médicos veterinários quanto à importância do uso racional de antimicrobianos e da prescrição destas drogas baseado em testes de cultura e antibiograma. Amostras coletadas de lesões de pele e ouvidos de pacientes são frequentemente enviadas aos laboratórios para a identificação da espécie bacteriana envolvida naquela infecção e o seu perfil de suscetibilidade a antimicrobianos. Entretanto, é importante que se tenha consciência de que o método de realização da coleta das amostras influenciará diretamente nos resultados dos testes de sensibilidade na rotina clínica. Sendo assim, o objetivo deste artigo é fornecer informações práticas em relação aos métodos de coleta de amostras para cultura e antibiograma de lesões de pele e ouvidos de animais de companhia. Indicações Idealmente, a prescrição de antibióticos para tratar qualquer tipo de infecção deveria ser feita baseado em testes de suscetibilidade. Entretanto, por diversas razões incluindo tempo e restrições financeiras, a escolha empírica de antimicrobianos continua fazendo parte da rotina de médicos veterinários em todo o mundo. Entretanto, em algumas situações é mandatório a realização de cultura e antibiograma antes da prescrição de antibióticos. As principais indicações de realização de testes de suscetibilidade estão representadas no Quadro 1. Em casos de infecções bacterianas recorrentes, o clínico deve estar sempre alerta para a possibilidade de resistência ao antimicrobiano utilizado, principalmente se não houver resposta ou a resposta ao tratamento selecionado empiricamente for parcial. Sendo assim, nestes casos, o ideal é coletar um material para cultura imediatamente e não selecionar outro antimicrobiano de forma empírica. As piodermites profundas também são casos que requerem cultura e antibiograma ainda que não sejam recorrentes. Isto se deve ao fato de serem infecções mais extensas e profundas que exigem antibioticoterpia mais longa, em média 60 dias. Outra indicação de realização de cultura e antibiograma que requer bastante atenção é a presença de bactérias com formato de bastonetes na citologia, principalmente de ouvidos. A presença de bastões em lesões cutâneas contaminadas ou áreas de lambedura Introdução A pele é o maior e mais visível órgão do corpo, que exerce a função de interface anatômica fisiológica entre o organismo animal e o ambiente. O sistema tegumentar possui uma grande variedade de funções vitais para a manutenção da homeostase, tais como barreira física e microbiológica. Toda a superfície cutânea é habitada por uma comunidade complexa de comensais composta por ácaros, arqueia, bactérias, fungos, vírus e protozoários, o microbioma cutâneo. Estes microrganismos não só protegem a pele da colonização por espécies patogênicas, com também participam ativamente da imunorregulação, em processos metabólicos e na prevenção de doenças alérgicas e inflamatórias. Em situações normais, o organismo do hospedeiro possui mecanismos variados capazes de manter o microbioma cutâneo em equilíbrio. As infecções bacterianas do sistema tegumentar são parte do cotidiano de clínicos de pequenos animais. As piodermites e otites bacterianas estão entre as dermatopatias mais comuns em animais de companhia, sobretudo em cães. Na grande maioria dos casos, estas infecções são manifestações clínicas secundárias de doenças de base, principalmente alergopatias e endocrinopatias. O principal agente etiológico é o Staphylococcus pseudintermedius, uma bactéria cocoide (Fig. 1) comensal da pele e dos folículos pilosos. Entretanto, outras espécies patogênicas invasoras, ou seja, que não fazem parte do microbioma cutâneo bacteriano podem também causar infecções tegumentares. A pele possui diversos mecanismos de defesa que previnem a invasão de bactérias 12 BACTERIOLOGIA ou mordiscamento não é tão expressiva como quando ocorre em ouvidos ou no interior de lesões primárias. A microbiota oral é composta por uma grande quantidade de bactérias bastonetes, desta forma, em áreas corpóreas passíveis de interferência pelo animal, é mais provável que estas bactérias sejam contaminantes e não agentes etiológicos. A presença de bastões em citologias otológicas (Fig. 2) infere cronicidade e maior gravidade, com grande chance de acometimento do ouvido médio. Já em citologias de lesões cutâneas profundas, nodulares ou fistulosas íntegras e não contaminadas, a presença de bastões em quantidade moderada a discreta sugere fortemente que estes são os agentes etiológicos. Desta forma, é essencial a identificação da espécie do patógeno e a avaliação da suscetibilidade a antimicrobianos antes de prescrever. Considerando o exposto, observa-se também a grande importância da realização de examecitológico antes da realização do antibiograma. Método de coleta de amostras para cultura e antibiograma O método de coleta de amostras é de extrema importância para que haja boa correlação entre o exame laboratorial e o caso clínico. Devemos ter sempre em mente que é essencial a escolha de um laboratório que possua experiência em microbiologia de patógenos isolados de animais e esteja sempre atualizado, principalmente quanto à diretrizes mundiais para resistência a antimicrobianos, que estão em constante evolução. Entretanto, o laboratório irá apenas processar a amostra enviada por nós, médicos veterinários, de maneira que se a coleta não for adequadamente realizada, o resultado estará comprometido. O primeiro passo de uma boa coleta de amostras microbiológicas é a redução de contaminação por microrganismos ambientais ou da pele humana. Sendo assim, o profissional deve sempre utilizar luvas durante a coleta de amostras. Entretanto, não deve ser feita a antissepsia da lesão cutânea do paciente antes da coleta, pois a aplicação de qualquer antisséptico irá inativar as bactérias presentes no local. A coleta deve ser feita utilizando-se de um swab estéril e com meio de transporte (meio de Stuart) e deve ser armazenada refrigerada a 2-8oC e enviada em até 48 horas após a coleta. A embalagem do swab deve ser aberta imediatamente antes da coleta e o profissional deve ser extremamente cuidadoso para não o contaminar acidentalmente por contato com o ambiente ou outras regiões corpóreas do animal. O protocolo de coleta de amostras está resumido na Fig. 3. É importante salientar que deve ser coletado um swab para cada lesão, já que estas podem apresentar características distintas. Isto é ainda mais relevante em culturas otológicas, visto que é comum observarmos otites bilaterais causadas por diferentes agentes etiológicos. É essencial também considerar se a técnica de coleta vai variar de acordo com o tipo de lesão, sempre com o objetivo de obter a amostra menos contaminada possível. Desta forma, recomenda-se sempre dar preferência a lesões intactas tais como pústulas, secreções aspiradas de nódulos ou recém drenadas de tratos fistulosos. No Quadro 2 estão especificadas as recomendações de coleta para cada tipo de apresentação clínica. A Fig. 4 ilustra a coleta de amostras de pústulas e colarinhos epidérmicos. Considerações finais A prevalência de cepas bacterianas resistentes a antimicrobianos caminha a passos largos na medicina humana e veterinária, tornando fundamental o papel dos médicos veterinários no uso racional destes fármacos. A prescrição de antibióticos baseada em cultura e antibiograma na rotina clínica é um dos pilares fundamentais da antibioticoterapia consciente e deve ser incentivada. Entretanto, para se assegurar a boa correlação entre o caso clínico e o laudo enviado pelo laboratório, é essencial que a coleta das amostras tenha sido feita com extremo critério. Além disso, é muito importante também que haja um bom canal de comunicação entre o laboratório e o médico veterinário. Em caso de dúvidas, não devemos hesitar em contatar os microbiologistas de referência. A prescrição racional de antibióticos aliada aos avanços nas técnicas de diagnóstico de cepas multirresistentes é o melhor caminho para tentarmos desacelerar este processo que vem nos deixando sem alternativas terapêuticas. PRINCIPAIS INDICAÇÕES DE CULTURA DE ANTIBIOGRAMA EM DERMATOLOGIA VETERINÁRIA Infecções recorrentes de pele e ouvidos Visualização de bactérias com formato de bastonete na citologia* Piodermite profunda Suspeita de otite média Quando o tratamento empírico apresentou resposta parcial Quando o tratamento empírico não apresentou resposta Quadro 1. Principais indicações de realização de cultura e antibiograma de ouvidos e lesões cutâneas em dermatologia de pequenos animais * Principalmente em citologias de ouvido, lesões cutâneas não contaminadas e em locais onde a lambedura ou mordedura sejam improváveis. TIPO DE LESÃO TÉCNICA RECOMENDADA Pústula íntegra Romper delicadamente a pústula com uma agulha estéril e coletar o material com o swab Colarinho epidérmico Elevar a crosta com uma agulha estéril e coletar com o swab o material debaixo da mesma Piodermite profunda - Lesões nodulares ou bolhas hemorrágicas: aspirar o material com agulha e seringa estéreis e depositar na ponta de algodão do swab - Tratos fistulosos: coletar o material diretamente, inserir o swab no trato fistuloso ou pressionar a lesão para drenar a secreção mais interna e menos contaminada Otite externa Inserir diretamente o swab no conduto auditivo vertical. Quadro 2: Técnicas de coleta de material para cultura e antibiograma de acordo com o tipo de lesão observado. 13 BACTERIOLOGIA ISSN 2358-5145 www.vetsciencemagazine.com.br BACTERIOLOGIA VETERINÁRIA MANUAL DE BOAS PRÁTICAS PARA O CLÍNICO Número 19 MAGAZINEum benefício para o cliente TECSA Figura 1. Citologia por imprint sob crosta de colarinho epidérmico de um cão com piodermite bacteriana superficial. Na ponta da seta, observam-se bactérias cocoides agrupadas em cachos de uva, sugestivas de Staphylococcus pseudintermedius. Fonte: Arquivo pessoal (Larissa Botoni). Figura 2. Citologia de ouvido de cão apresentando otite externa purulenta crônica. Na ponta da seta, observa-se quantidade intensa de bactérias bastonetes. À cultura do material, isolou-se Pseudomonas aeruginosa. Fonte: Arquivo pessoal (Larissa Botoni). Figura 3. Fluxograma de coleta de amostras para cultura e antibiograma. Figura 4. Região abdominal de cão com piodermite bacteriana superficial. A: Ilustração de coleta de material de colarinho epidérmico para cultura e antibiograma. B: Ilustração de coleta de material de pústula para cultura e antibiograma. COD EXAMES PRAZO DIAS 54 CULTURA COM ANTIBIOGRAMA (AERÓBIOS) 5 254 CULTURA COM ANTIBIOGRAMA (ANAERÓBIOS) 5 576 CULTURA COM ANTIBIOGRAMA COMBINADO (AERÓBIOS E ANAERÓBIOS) 8 766 OTOCULTURA COM ANTIBIOGRAMA 5 937 PAINEL DIAGNÓSTICO OTITE 10 14 BACTERIOLOGIA O PAPEL DO ANTIFUNGIGRAMA PARA EVITAR SUPERINFECÇÕES FÚNGICAS Lauranne Alves Salvato, Mariana Paiva Rodrigues, Sérgio José de Sousa E-mail para correspondência: lausalvato@gmail.com Cryptococcus sp.; que acometem as vias aéreas inferiores, como a histoplasmose, blastomicose, coccidioidomicose e criptococose. As infecções mais graves afetam principalmente animais muito jovens, idosos e/ou imunossuprimidos. Desta forma, é imprescindível a realização do diagnóstico precocemente e uso da terapia correta, de maneira a diminuir o impacto da doença no organismo do paciente. A lista de substâncias antifúngicas é bastante restrita quando comparada às drogas antibacterianas disponíveis. Além disso, as infecções fúngicas representam um parasitismo de um organismo eucarioto sobre outro eucarioto, portanto, muitas drogas antifúngicas apresentam efeito colateral grave, caso não seja usada de forma e em concentrações adequadas. Graças ao avanço da tecnologia, novas drogas antifúngicas estão sendo descobertas, o que vem aumentando seu uso não apenas como tratamento, mas também como profilático ou preventivo. O aumento no uso de antifúngicos ou seu uso indiscriminado induz uma maior pressão seletiva sobre as espécies de fungos, levando ao surgimento de resistência às drogas mais comumente empregadas. Antifúngicos e Resistência Os antifúngicos são divididos em dois grandes grupos, os agentes químicos e os antibióticos. Ambos os grupos possuem 5 mecanismos básicos de atuação: interferência na síntese do ergosterol, inibição da síntese de componentes da parede celular, inibidores da síntese da parede celular, bloqueio da mitose através da ação sobre o fuso mitótico ou síntese do ácido nucleico e interação com os esterois de membrana celular. São 5 as principais classes de antifúngicos químicos:derivados azólicos, derivados pirimidínicos, derivados morfolínicos, alaninas e equinocandinas. Já os antifúngicos antibióticos são representados por uma única classe. Os derivados azólicos agem sob a síntese dos esteróis de membrana, são compostos de largo espectro e atuam tanto sobre leveduras como fungos filamentosos. São subdivididos em derivados imidazólicos e derivados triazólicos. Foram descobertos em 1949 e são utilizados tanto para tratamento sistêmico quanto tópico. A droga passou por diversas evoluções e conta com diferentes gerações, sendo a primeira geração, os derivados do trilil-imizol, que tem como exemplar o miconazol, e a segunda geração, os derivados do fenetil- imizol (cetoconazol). Os triazólicos também possuem importantes gerações, a primeira tendo como exemplo o itraconazol e fluconazol, e a segunda tendo o voriconazol e posaconazol. Os derivados pirimidínicos atuam impedindo a replicação de DNA através da alteração da síntese proteica da célula. São utilizados principalmente no tratamento de enfermidades sistêmicas. Tem como principal representante a 5-flucitosina, considerada a droga de escolha para tratamento de cromoblastomicoses, Cryptococcus neoformans e Candida sp. As alaninas e os derivados morfolínicos, atuam na síntese do ergosterol. A naftifina e terbinafina são exemplos de alaninas, sendo usadas principalmente no tratamento de dermatofitoses. Os morfolínicos são representados pela amorolfina, Introdução As micoses são doenças fúngicas que acometem animais e humanos, podendo ser locais ou sistêmicas. Mesmo com o avançar da tecnologia, as drogas antifúngicas são restritas quando comparadas às drogas antibacterianas e seu uso indiscriminado pode levar à resistência, o que inviabiliza o tratamento.O uso de testes de sensibilidade auxilia na escolha da droga adequada para o tratamento, possibilitando melhor prognóstico e evitando o surgimento de resistência fúngica. Revisão de literatura Apesar do avanço no diagnóstico e terapêutica nos últimos anos, as doenças fúngicas ainda são apontadas como uma das principais causas de morbidade e mortalidade em pacientes imunossuprimidos. Em sua maioria, as micoses locais são cutâneas e subcutâneas, e as sistêmicas, acometem primeiramente o trato respiratório, disseminando para outros órgãos. Os fungos que atingem tecidos queratinizados são comumente chamados de dermatófitos, sendo os mais isolados em cães e gatos no Brasil, Microsporum canis, seguido pelo M. gypseum e Trichophyton mentagrophytes, embora ocorra variação de espécies em diferentes regiões do mundo. Essas causam principalmente dermatite local, concomitante com alopecia nos animais domésticos, em gatos já foi descrito otite por M. canis. Já as infecções no trato respiratório, podem ser divididas em doenças que acometem a cavidade nasal, sendo isolados principalmente os fungos dos gêneros Aspergillus sp., Penicillium sp. e 15 BACTERIOLOGIA ISSN 2358-5145 www.vetsciencemagazine.com.br BACTERIOLOGIA VETERINÁRIA MANUAL DE BOAS PRÁTICAS PARA O CLÍNICO Número 19 MAGAZINEum benefício para o cliente TECSA usada para o tratamento tópico de onicomicoses. As equinocandinas inibem a síntese de componentes da parede celular dos fungos, e são representadas pela caspofungina, medicamento utilizado principalmente para o tratamento de doenças sistêmicas, como candidose e aspergilose invasiva. Já os antifúngicos antibióticos são os derivados poliênicos, estes atuam sobre a membrana celular provocando um aumento de permeabilidade. Os dois principais exemplares são a anfotericina B e a nistatina. É importante salientar que os antifúngicos de mecanismos de ação diferentes podem ser combinados entre si para uma maior eficiência terapêutica, como por exemplo, a combinação do derivado pirimidínico 5-flucitosina com anfotericina B. A resistência aos antifúngicos é estabelecida quando, apesar do uso apropriado destes, a infecção se mantém persistente ou progressiva, ou seja, quando concentrações normais de antifúngicos não são suficientes para eliminar os microrganismos, sendo necessário o emprego de doses cada vez maiores para um tratamento eficaz, ou quando a concentração inibitória mínima (MIC) é maior que o esperado para um determinado patógeno. A resistência ocorre de duas maneiras distintas: a primária ou intrínseca, e secundária ou extrínseca. A resistência intrínseca ocorre através da pressão de seleção sobre os isolados, de maneira que apenas os resistentes, ou seja, os adaptados sobrevivem e se multiplicam mesmo na presença do antifúngico. Já a extrínseca, é mais incomum e se dá através da aquisição de resistência por cepas anteriormente suscetíveis, esta ocorre pela consecução de mecanismos de resistência no decorrer do tratamento, podendo ser devido ao uso de terapias de longo prazo ou uso inapropriado de determinado antifúngico. Por sofrerem variações conforme o modo de atuação dos antifúngicos, os microrganismos desenvolvem diversos métodos de resistência. A maior parte destes mecanismos, agem de maneira a tentar evitar a entrada e permanência da droga na célula, como as mudanças conformacionais de parede ou membrana, reações enzimáticas e ativação de bombas de efluxo. Outros importantes meios de resistência, são a mutação gênica, que varia conforme o gene a ser alterado, e a formação de biofilmes, que é um mecanismo de proteção contra ambientes desfavoráveis, no qual os microrganismos se agregam e aderem à superfície em que se encontram. Importantes patógenos na clínica de animais domésticos como Candida sp., Malassezia sp., Aspergillus sp., Cryptococcus sp., já se mostraram resistentes às várias drogas antifúngicas. Devido às limitações terapêuticas apresentadas pelos antifúngicos, o número restrito de bases e ao constante surgimento de fungos resistentes, o uso de testes de sensibilidade a antifúngicos se mostra um importante método para auxiliar na escolha do tratamento. Teste de sensibilidade a antifúngicos Diversos são os tipos de testes de sensibilidade a antifúngicos disponíveis no mercado, sendo alguns deles o método de disco-difusão, difusão por fitas, macrodiluição em tubos e microdiluição em caldo. O método de disco-difusão ou antifungigrama é similar ao antibiograma. Foi desenvolvido em 1966 por Bauer et al., e desde então continua sendo um dos exames mais utilizados e difundidos para testes de sensibilidade no mundo. É um método simples e de baixo custo que funciona através da colocação de discos de papel-filtro impregnados com o antifúngico que se quer avaliar, sobre ágar previamente semeado com o fungo. A difusão da droga sob o ágar leva à formação de um halo de inibição de crescimento, e a medida do diâmetro do mesmo é feita para a obtenção do resultado. Por ser um método qualitativo, é possível classificar as amostras apenas em suscetível (S), intermediária (I) ou resistente (R) e, portanto, tem como desvantagem não fornecer o MIC exato. É importante salientar que seguir as normas de padronização da técnica asseguram um resultado confiável (Fig. 1). A difusão por fita é realizada através de fitas comerciais importadas, como a Etest® (AB Biodisk, Solna, Suécia), que por ser impregnada com concentrações crescentes de antifúngico, possui como vantagem a apresentação do resultado de forma quantitativa, em MIC. O procedimento de execução da técnica é similar ao disco-difusão, no qual a fita é colocada sobre o ágar já inoculado; devido à presença de antifúngicos em gradiente, a difusão vai provocar um padrão de halo em forma elíptica. O resultado é obtido ao encontrar a menor concentração que exerce uma inibição em ambos os lados da fita. É um método fácil de ser utilizado, mas possui como desvantagem o elevado custo e por ser lido de forma subjetiva, está propenso a erros (Fig. 2). A macrodiluição em tubos é um método simples e foiuma das primeiras técnicas de teste de sensibilidade desenvolvidas. É realizado através da execução de diluições seriadas e logarítmicas (Log 2) da droga que se quer testar, em um tubo com meio de cultura líquido, que então é utilizado para se inocular uma suspensão de microrganismos previamente padronizada. Após a incubação, os tubos são avaliados conforme a turbidez, sendo o primeiro tubo translúcido, ou seja, o de menor concentração de antifúngico sem apresentar crescimento, considerado como MIC. No entanto, é um método apenas qualitativo e o valor de MIC não é exato, apenas presuntivo. Tem como desvantagens o grande gasto em fármacos para realização dos testes e tempo de execução (Fig. 3). A microdiluição em caldo aparece dentre os testes de referência da ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), norma M38-A para fungos filamentosos e M27-A2 para fungos leveduriformes. É uma miniaturização da macrodiluição em tubos, sendo realizada em placas estéreis de 96 poços e com auxílio de uma micropipeta. A realização do teste tem como diferença 16 BACTERIOLOGIA a possibilidade de se testar até 12 drogas em diferentes concentrações, com até 8 diluições. O painel, após a incubação, é lido visualmente assim como na macrodiluição. Tem como vantagem a economia de reagentes, espaço e tempo de preparo, além da possibilidade de utilização de placas pré-fabricadas; já a desvantagem, é o custo de cada placa de microdiluição (Fig. 4). Conclusão Os testes de suscetibilidade a antifúngicos são extremamente importantes porque evitam o surgimento de resistência pelo uso de medicamentos inadequados, auxiliam na escolha da droga mais eficaz, evitam a troca desnecessária de bases e a progressão da patologia. Os testes de sensibilidade deveriam sempre ser considerados como um método auxiliar na terapêutica dos animais domésticos; sendo fundamental solicitar este exame sempre que houver a possibilidade do desenvolvimento de resistência em tratamentos prolongados, quando for essencial avaliar o desempenho do medicamento, em caso de necessidade de troca de bases e/ou avaliação de novas possibilidades terapêuticas. Figura 1. Antifungigrama em ágar Sabouraud semeada com C. albicans, incubada a 37 ° C durante 24 horas. Fonte: Adaptado de Torres et al, 2016. Figura 2. Fita de Etest - Fluconazol e itaconazol / Fonte: Adaptado de Narvarini, 2007. Figura 3. Macrodiluição em tubo de rifapentina contra Staphylococcus aureus. Fonte: Adaptado de Wu, J. et al, 2014. Figura 4. Microdiluição em caldo para avaliar Bacillus subtilis em extrato de planta, foi usado rasazurina como indicador de crescimento. Fonte: Balouiri, M; Sadiki, M.; Ibnsouda, S. K., 2015. COD EXAMES PRAZO DIAS 759 CULTURA DE FUNGOS COM ANTIFUNGIGRAMA 30 937 PAINEL DIAGNÓSTICO OTITE 10 17 BACTERIOLOGIA ISSN 2358-5145 www.vetsciencemagazine.com.br BACTERIOLOGIA VETERINÁRIA MANUAL DE BOAS PRÁTICAS PARA O CLÍNICO Número 19 MAGAZINEum benefício para o cliente TECSA OTITE E INFECÇÕES DO TRATO URINÁRIO (ITU), COMO A OTOCULTURA E UROCULTURA PODEM AUXILIAR NA IDENTIFICAÇÃO DAS AFECÇÕES: animais. De acordo com esses fatores, ocorre uma alteração na microflora de bactérias do conduto, proporcionando condições perfeitas para que haja uma proliferação, originando alterações que induzem ao aparecimento dos sinais clínicos das infecções. Os microrganismos mais frequentes que acometem o pavilhão auricular são: Staphylococcus intermedius, Staphylococcus aureus, Pseudomonas aeruginosa, Escherichia coli, outros gêneros que não são comuns mais que podem ocorrer são, Enterococcus, Streptococcus e Proteus. As infecções do trato urinário (ITU) são causadas por bactérias que acometem o trato urinário inferior de cães. A cistite é a ITU mais comun nestes animais, ela é caracterizada pela colonização do urotélio por bactérias patogênicas quando o microrganismo é muito virulento ou quando os mecanismos de defesa do organismo do hospedeiro falham em decorrência de causas anatômicas ou fisiológicas. Normalmente as infecções ocorrem de forma ascendente, podendo acometer o trato urinário inferior e superior, as ITU são causadas pelas bactérias que habitam a parte distal da uretra e até mesmo a glande ou a vulva do animal, desta forma, as bactérias ascendem pela uretra, invadem a vesícula urinária e se instalam, em alguns casos podem acometer os rins levando a um quadro de pielonefrite. Dentre os principais microrganismos que acometem este sistema, podemos citar as gram-negativas: Escherichia coli, Proteus mirabilis, Klebesiella pneumoniae, Pseudomonas aeruginosae e Enterobacter spp., as gram-positivas são os Streptococcus spp. e Staphylococcus spp. Outras bactérias que podem ser encontradas na urina destes animais com menor frequência são os Enterococcus spp., Corynebacterium urealyticum, Citrobacter spp., Serratia spp. e o Acinetobacters spp. Sinais clínicos: Os animais que são acometidos por otites, podem ser identificados por apresentarem uma série de sinais clínicos, os mais comumente observados são eritrema, desconforto na manipulação, otalgia, presença de secreção abundante com odor fétido, prurido e escoriações auriculares secundárias ao ato de cocar. Animais que sofrem alterações compatíveis com afecções do trato urinário apresentam sinais clínicos variáveis, mais dentre estes, os principais podem ser descritos como, estrangúria, hematúria, disúria, polaquiúria e em alguns casos, incontinência urinária. Diagnóstico: Para realizar o diagnóstico de possíveis infecções que acometam o conduto auditivo ou o trato urinário, deve ser feita uma anamnese com base no histórico e sinais clínicos do animal. Com a confirmação da suspeita, é sugerido que o médico veterinário realize exames laboratoriais a fins de identificar o agente causador da infecção e obter sucesso no tratamento. Como exames para identificação dos agentes causadores da infecção, podemos citar a Otocutura em casos de otite e a Urocultura em casos de infecção do trato urinário (ITU), ambos acompanhados de antibiograma. Estes exames tem o objetivo de promover o crescimento bacteriano em placas com o propósito de identificar o agente e quais os antibióticos que serão efetivos, terão alguma resistência ou serão resistentes as bactérias, não eliminando a infecção. Introdução: Os cães são acometidos por inúmeras afecções durante a vida, dentre essas, a otite e as infecções do trato urinário podem ser citadas como uma das principais queixas dos proprietários, visto que os animais desenvolvem sinais clínicos condizentes com estas infecções. A otite ocorre devido a colonização do conduto auditivo por bactérias e em alguns casos por leveduras, que sobrepõem os mecanismos de defesa do organismo promovendo um quadro de inflamação. Desta mesma forma, as ITU se estabelecem devido a colonização por bactérias e em casos mais raros por leveduras, visto que o trato urinário é sistema estéril desde os rins até a parte proximal da uretra. Com base nestas informações, veremos como o exame de otocultura e urocultura podem auxiliar no diagnóstico e no tratamento destas afecções. Etiopatogenia: A otite canina é uma infecção que possui etiologia multifatoriais, dessa forma os cães podem desenvolver a otite por causas primárias, predisponentes e ou até mesmo por causas perpetuantes. As causas primarias estão relacionadas a dermatopatias do revestimento tegumentar do conduto auditivo dos pacientes, dentre elas, podemos citar a disqueratose, atopia e presença de parasitos. As causas predisponentes estão relacionadas a alterações decorrentes da anatomia e fisiologia do pavilhão auricular como, orelhas pendulares, excesso de pelos, excesso de dobras cutâneas e em alguns casos, neoplasias. Já as causas perpetuantes, está diretamente relacionado a manipulação incorreta do conduto auditivo pelos tutores dos 18 BACTERIOLOGIAOTOCULTURA: ANIMAL BACTÉRIA RESISTENCIA ANTIMICROBIANA INTERMEDIÁRIO SUCEPTIBILIDADE MICROBIANA Cão 1 Enterobacter sp. Amoxi+Clavu, Ampi, Cefa, Azi, Oxa, Poli - Ceftria, Cefov, Enro, Marbo, Neo, Orbi, Tetra, Tobra Cão 2 Pseudomonas aeruginosa Amoxi+Clavu, Ampi, Azi, Cefa, Ceftria, Cefo, Oxa, Tetra - Enro, Marbo, Neo, Orbi, Poli, Tobra Cão 3 Staphylococcus intermedius Ampi, Azi, Enro, Marbo, Orbi, Poli, Neo, Tobra Amoxi+Clavu, Cefa, Ceftria, Cefo, Oxa, Tetra Cão 4 Staphylococcus intermedius Amoxi+Clavu, Ampi, Cefa, Ceft, Cefo, Enro, Marbo, Orbi, Oxa, Poli Tetra - Azi, Neo, Tobra Cão 5 Enterobacter sp Amoxi+Clavu, Ampi, Cefa, Azi, Oxa - Ceftria, Cefov, Enro, Marbo, Neo, Orbi, Poli, Tetra, Tobra Cão 6 Proteus mirabilis Oxa, Poli, Tetra - Amoxi+Clavu, Ampi, Azi, Cefa, Ceftria, Cefo, Enro, Marbo, Neo, Orbi, Tobra Cão 7 Staphylococcus intermedius Poli - Amoxi+Clavu, Ampi, Azi, Cefa, Ceftria, Cefo, Enro, Marbo, Neo, Orbi, Oxa, Tetra, Tobra Cão 8 Staphylococcus sp coagulase negativa Ampi, Poli - Amoxi+Clavu, Azi, Cefa, Ceftria, Cefo, Enro, Marbo, Neo, Orbi, Oxa, Tetra, Tobra Cão 9 Staphylococcus intermedius Ampi, Enro, Neo, Poli, Tobra - Amoxi+Clavu, Azi, Cefa, Ceftria, Cefo,Marbo, Orbi, Oxa, Tobra Cão 10 Pseudomonas aeruginosa Amoxi+Clavu, Ampi, Azi, Cefa, Ceftri, Cefo, Oxa, Tetra - Enro, Marbo, Neo, Orbi, Poli, Tobra Desta forma, foi realizado um levantamento interno no Tecsa Laboratórios, de 10 animais que realizaram o exame de Otocultura e 10 animais que realizaram Urocultura, ambos com a realização de antibiograma, para poder identificar quais foram os principais agentes causadores de infecções do pavilhão auricular e do trato urinário de cães. Os resultados encontrados foram os seguintes: Amoxi+Clavu: Amoxiciclina + Clavulanato; Ampi: Ampicilina; Azi: Azitromicina; Cefa: Cefalexina; Ceftria: Ceftriaxona; Cefo: Cefovencina; Enro: Enrofloxacina; Marbo: Marbofloxacina; Neo: Neomicina; Orbi: Orbifloxacina; Oxa: Oxaciclina; Poli: Polimixina; Tetra: Tetraciclina; Tobra: Tobramicina. Em cães que realizaram o exame de otocultura para identificar o causador da infecção, podemos notar que o principal agente encontrado foi o Staphylococcus intermedius, acometendo 4 animais, Pseudomonas aeruginosa acometendo 2 animais, Enterobacter sp. foi identificado em 2 animais, Proteus mirabilis também identificado em 2 animais e Stapylococcus sp. coaguase negativa acometendo apenas 1 animal. 19 BACTERIOLOGIA ISSN 2358-5145 www.vetsciencemagazine.com.br BACTERIOLOGIA VETERINÁRIA MANUAL DE BOAS PRÁTICAS PARA O CLÍNICO Número 19 MAGAZINEum benefício para o cliente TECSA Amoxi+Clavu: Amoxiciclina + Clavulanato; Ampi: Ampicilina; Cefa: Cefalexina; Ceftria: Ceftriaxona; Cefo: Cefovencina; Enro: Enrofloxacina; Genta: Gentamicina; Marbo: Marbofloxacina; Metro: Metronidazol; Nor: Norfloxacina; Oxa: Oxaciclina; Sulfa+Trime: Sulfa+Trimetropim; Tetra: Tetraciclina. Dentre os dois exames, o exame de urocultura foi o que apresentou uma maior variação de bactérias identificadas, 2 animais apresentaram Enterococcus sp., os outros animais apresentaram respectivamente Proteus mirabilis, Enterobacter sp., Staphylococcus intermedius, Klebsilla pneumoniae, Escherichia coli e Corynebacterium sp., outros 2 animais não apresentaram crescimento bacteriano, o que descarta o quadro de ITU. Prognóstico: Para realizar o prognóstico de animais com otite e ou ITU, é de extrema importância que o médico veterinário faça a identificação do agente causador da afecção, pois, com base nos resultados obtidos, ele saberá exatamente contra qual patógeno ele estará lidando e com isso, quais os melhores medicamentos para poder combater essa infecção, dessa forma, evitamos o uso indiscriminado de antibióticos impedindo uma futura resistência bacteriana a determinados antibióticos. Conclusão: Conhecendo um pouco melhor estes exames e como eles ajudam na rotina de atendimentos, podemos perceber a importância da realização de exames laboratoriais como a otocultura e urocultura para auxiliar na identificação do patógenos. Com o resultado em mãos, os médicos veterinários podem ter uma ferramenta importante para o diagnóstico do animal, fazendo a escolha correta dos medicamentos que serão efetivos contra o determinado patógeno, favorece o prognóstico e facilita o tratamento do animal, proporcionando um melhor bem-estar ao animal e também ao proprietário. UROCULTURA: ANIMAL BACTÉRIA RESISTENCIA ANTIMICROBIANA INTERMEDIÁRIO SUCEPTIBILIDADE MICROBIANA Cão 1 Proteus mirabilis Enro, Genta, Marbo, Metro, Nor, Oxa, Sulfa+Trime, Tetra - Amoxi+Clavu, Ampi, Cefa, Ceftria, Cefo, Cão 2 Enterobacter sp. Amoxi+Clavu, Ampi, Cefa, Metro, Oxa, Sulfa+Trime, Tetra - Ceftria, Cefo, Enro, Genta, Marbo, Nor Cão 3 Staphylococcus intermedius Ampi, Metro, Tetra - Amoxi+Clavu, Cefa, Ceftria, Cefo, Enro, Genta, Marbo, Nor, Oxa, Sulfa+Trime Cão 4 Klebsiella pneumoniae Ampi, Metro, Oxa - Amoxi+Clavu, Cefa, Ceftria, Cefo, Enro, Genta, Marbo, Nor, Sulfa+Trime, Tetra Cão 5 Não houve crescimento bacteriano - - - Cão 6 Enterococcus sp. Amoxi+Clavu, Ampi, Cefa, Ceftria, Cefo, Enro, Genta, Metro, Nor, Oxa, Sulfa+Trime - Marbo, Tetra Cão 7 Escherichia coli Ampi, Metro, Oxa - Amoxi+Clavu, Ampi, Cefa, Ceftria, Cefo, Enro, Genta, Marbo, Nor, Sulfa+Trime, Tetra Cão 8 Não houve crescimento bacteriano - - - Cão 9 Enterococcus sp. Cefa, Ceftria, Cefo, Enro, Genta, Marbo, Metro, Nor, Oxa, Sulfa+Trime - Amoxi+Clavu, Ampi, Tetra Cão 10 Corynebacterium sp. Metro, Oxa - Amoxi+Clavu, Ampi, Cefa, Ceftria, Cefo, Enro, Genta, Marbo, Nor, Sulfa+Trime, Tetra Referências: BONATES, A. Otite: conhecimento detalhado permite diagnósticos precisos e sucesso no tratamento. Vet. News, v.62, p.6-8, 2003; OLIVEIRA, L.C.; MEDEIROS, C.M.O.; SILVA, I.N.G. et al. Susceptibilidade a antimicrobianos de bactérias isoladas de otite externa em cães. Arq. Bras. Med. Vet. Zootec., v.57, p.405-408, 2005; LING, G. V. Infecções bacterianas do trato urinário. In: ETTINGER, S. J.; FELDMAN, E. C. Tratado de Medicina Interna Veterinária. 5. ed., vol. 2, São Paulo: Manole, p. 1768-1776, 2008; LULICH, J. P.; OSBORNE, C. A.; BARTGES, J. W.; LEKCHAROENSUK, C. Distúrbios do trato urinário inferior dos caninos. In: ETTINGER, S. J.; FELDMAN, E. C. Tratado de Medicina Interna Veterinária. 5ª ed, vol. 2, São Paulo: Manole, p. 1841-1867, 2008. CÓD EXAME PRAZO DIAS 766 OTOCULTURA C/ ANTIBIOGRAMA – CULTURA DE SECREÇÃO AURICULAR 05 184 UROCUTURA C/ ANTIBIOGRAMA 04 51 CULTURA C/ ANTIBIOGRAMA 05 54 CULTURA C/ ANTIBIOGRAMA – AERÓBIOS 05 254 CULTURA C/ ANTIBIOGRAMA – ANAERÓBIOS 05 576 CULTURA COM ANTIBIOGRAMA COMBINADO (AERÓBIOS E ANAERÓBIOS) 08 21 BACTERIOLOGIA ISSN 2358-5145 www.vetsciencemagazine.com.br BACTERIOLOGIA VETERINÁRIA MANUAL DE BOAS PRÁTICAS PARA O CLÍNICO Número 19 MAGAZINEum benefício para o cliente TECSA ANTIBIÓTICOS EM MEDICINA VETERINÁRIA: RESISTÊNCIA E IMPORTÂNCIA DO MONITORAMENTO Anderson Carlos Camargo1 apresentem resistência a diferentes classes de antibióticos). Por outro lado, o número de novos agentes/ classes de antibióticos aprovados para uso na rotina clínica diminuiu significativamente nos últimos anos, o que é considerado uma preocupação pelas organizações internacionais de saúde. Essa preocupação tem levado muitos países a adotarem programas de monitoramento da resistência e restrições na comercialização de antibióticos utilizados como promotores de crescimento e para fins terapêuticos. Estes programas visam conscientizar a população e profissionais da saúde sobre a importância do uso racional dos antibióticos, identificar e controlar a disseminação de cepas resistentes/ multirresistentes, a fim de evitar falhas nos tratamentos, em medicina veterinária e humana. Mecanismos de resistência A ação esperada de um antibiótico ocorre quando essa substância interage de maneira eficiente com seu alvo de ligação, sendo necessárioo reconhecimento por esse alvo, e que o antibiótico esteja em uma concentração suficiente para exercer o seu efeito inibitório. No entanto, alguns gêneros ou espécies de bactérias podem ser intrinsecamente resistentes a determinados antibióticos ou podem se tornar resistentes após adquirir mutações em genes cromossômicos ou material genético via transferência horizontal de genes. Entre os mecanismos de resistência mais comuns, pode-se destacar a produção de enzimas capazes de degradar ou modificar antibióticos; alteração, bloqueio ou proteção do sítio de ligação do antibiótico; redução de permeabilidade na membrana externa; e super-expressão de sistemas de efluxo (Figura 1) (Tenover 2006, Holmes, Moore et al. 2016). A resistência intrínseca ocorre devido à ausência de um alvo de ligação para um antibiótico específico ou devido a composição da membrana externa. Por exemplo, a menor permeabilidade em bactérias Gram-negativas pode limitar a entrada de alguns antibióticos. Além disso, eles podem ser transportados ativamente para fora da célula bacteriana através de bombas de efluxo (Blair, Webber et al. 2015) Introdução A produção dos primeiros antibióticos em escala industrial teve início na década de 1940, e proporcionou uma nova era para medicina. Desde então, foi possível o tratamento de diversas infecções causadas por bactérias (em humanos e animais), reduzindo drasticamente os índices de mortalidade. A produção e uso destes agentes em larga escala também direcionou pesquisas que levaram ao desenvolvimento de novas classes de antimicrobianos. Nas décadas seguintes, com o crescimento da população mundial, expansão da urbanização e a modernização do sistema de produção animal, houve um aumento significativo na demanda por proteína de origem animal. Neste contexto, o uso de antibióticos em medicina veterinária foi intensificado, passando a ser utilizado também na dieta animal como promotores de crescimento, o que proporcionou benefícios evidentes para a produção animal (Dibner and Richards 2005). Porém, a utilização indiscriminada de antibióticos na produção animal passou a ser questionada no final da década de 1960, devido à preocupação com a seleção de micro-organismos resistentes e o impacto que isso poderia causar na saúde humana e animal. A habilidade das bactérias de se tornarem resistentes aos antibióticos é um fenômeno natural. Entretanto, o uso terapêutico inadequado e a exposição constante a essas substâncias pelo fornecimento de doses subterapêuticas na alimentação animal criou uma maior pressão seletiva (Threlfall, Ward et al. 2000). A diversidade de mecanismos de resistência descritos nos últimos anos gerou um alerta global, principalmente devido ao aumento da prevalência de cepas multirresistentes (aquelas que Figura 1. Principais mecanismos de resistência aos antibióticos. Fonte: Anvisa, Brasil.As bactérias também podem apresentar mutações pontuais após exposição aos 22 BACTERIOLOGIA antibióticos, como substituições, inserções, ou deleções de nucleotídeos. As mutações podem resultar na expressão de fenótipos de resistência devido a mudanças de aminoácidos, que levam e alteração da estrutura de proteínas, como por exemplo uma alteração de permeabilidade da célula bacteriana ou uma mudança em um sítio receptor (Tenover 2006). A produção de enzimas capazes de degradar ou modificar antibióticos é considerada um dos principais mecanismos de resistência, e pode ser codificada por genes cromossômicos ou localizados em plasmídeos. Entre as enzimas que degradam antibióticos, destacam- se as penicilinases, cefalosporinases, cefamicinases, β-lactamases de espectro estendido (ESBL), e carbapenemases. Já entre as enzimas capazes de modificar os antibióticos destacam-se as enzimas modificadoras de aminoglicosídeos (Nordmann, Naas et al. 2011, Munoz- Price, Poirel et al. 2013). Os mecanismos de aquisição de material genético por transferência horizontal incluem conjugação (transferência de plasmídeos ou transposons), transdução (mediado por vírus que infectam bactérias) e transformação (captação de material genético disponível no meio ambiente) (Tenover 2006, Holmes, Moore et al. 2016). É importante ressaltar que elementos móveis, como plasmídeos, são capazes de se replicar de forma independente do DNA cromossômico, proporcionando um número elevado de cópias na célula bacteriana, que podem ser transferidas para outras bactérias por conjugação, facilitando a disseminação da resistência. Antibióticos na Medicina Veterinária e emergência da resistência Os antibióticos são amplamente utilizados em medicina veterinária, sendo empregados de forma terapêutica (com objetivo de controlar infecções bacterianas), profilática (por exemplo, para evitar infecções em procedimentos cirúrgicos, e ao final do período de lactação), e como promotores de crescimento (fornecidos em doses subterapêuticas como suplementos alimentares). Sua utilização como promotores de crescimento foi intensificada a partir da década de 1950, tendo importância fundamental para o aumento da produção de alimentos no mundo. Os agentes antimicrobianos fornecidos em doses subterapêuticas melhoraram a conversão alimentar, resultando em um crescimento mais acelerado, e demonstraram ter um papel na prevenção de doenças, especialmente na avicultura e suinocultura (Dibner and Richards 2005). No entanto, algumas décadas após a intensificação do uso dos antibióticos em medicina humana e veterinária, bactérias de origem clínica, ambiental e de alimentos estão se tornando cada vez mais resistentes. Inicialmente, a preocupação com a emergência da resistência estava centrada em bactérias Gram-positivas, como Staphylococcus aureus resistente à meticillina (MRSA) e Enterococcus spp resistente à vancomicina (VRE). A preocupação com VRE levou a proibição do uso da avoparcina (que pertence à classe dos glicopeptídeos) como promotor de crescimento em toda União Europeia (EU) em 1997, que foi seguido pela proibição da bacitracina, espiramicina, tilosina e virginiamicina em 1999 (Maron, Smith et al. 2013). Após estes agentes antimicrobianos terem uso descontinuado para promoção de crescimento, houve uma diminuição na prevalência de resistência entre Enterococcus spp. em vários países na EU (Aarestrup 2005). A proibição total do uso de antimicrobianos como promotores de crescimento na EU foi determinada em 2006. As contínuas restrições reduziram o consumo total de antibióticos. No entanto, a frequência de resistência em bactérias zoonóticas como Salmonella, Campylobacter jejuni, e Escherichia coli continuaram relativamente altas em países como a Dinamarca, o que pode estar relacionado ao aumento do uso terapêutico de antibióticos, e também a maior importação de alimentos de origem animal ( Jensen and Hayes 2014). Atualmente existe um consenso de que a disseminação da resistência em bactérias Gram-negativas representa um importante risco, pois genes de resistência presentes em plasmídeos podem se espalhar facilmente entre populações bacterianas em nível global, devido ao intenso trânsito de pessoas e produtos. Exemplos recentes incluem identificação global de bactérias resistentes as carbapenemas, o que colocou estes micro-organismos no topo de uma lista de prioridade estabelecida pela Organização Mundial da Saúde, em relação a necessidade de desenvolvimento de novos antibióticos para fins terapêuticos (Tabela 1) (WHO, 2017). Tabela 1. Lista de patógenos prioritários listados pela Organização Mundial da Saúde para pesquisa e desenvolvimento de novos antibióticos. PRIORIDADE RESISTÊNCIA ASSOCIADA CRÍTICA 1- Acinetobacter baumannii carbapenemas 2- Pseudomonas aeruginosa carbapenemas 3- Enterobacteriaceae (ex: Klebsiella, E. coli, Serratia e Proteus) carbapenemas, produtoras de β-lactamase de espectro estendido (ESBL) ALTA 1- Enterococcusfaecium vancomicina 2- Staphylococcus aureus meticilina e vancomicina 3- Helicobacter pylori claritromicina 4- Campylobacter spp. fluoroquinolonas 5- Salmonella fluoroquinolonas 6- Neisseria gonorrhoeae fluoroquinolonas e cefalosporinas MÉDIA 1- Streptococcus pneumoniae penicilina 2- Haemophilus influenzae ampicilina 3- Shigella spp. fluoroquinolonas Fonte: WHO, 2017. 23 BACTERIOLOGIA ISSN 2358-5145 www.vetsciencemagazine.com.br BACTERIOLOGIA VETERINÁRIA MANUAL DE BOAS PRÁTICAS PARA O CLÍNICO Número 19 MAGAZINEum benefício para o cliente TECSA A resistência as carbapenemas é mediada por diferentes classes de β-lactamases, que podem estar presentes em plasmídeos (Kumarasamy, Toleman et al. 2010, Munoz-Price, Poirel et al. 2013). As β-lactamases catalisam a hidrólise de penicilinas, cefalosporinas, monobactamas, carbapenemas, e até mesmo de inibidores de β-lactamase. Na maioria dos casos as cepas produtoras de β-lactamases permanecem suscetíveis à colistina. De acordo com Nordmann, Naas et al. (2011) a detecção a nível global de enterobactérias como Klebsiella pneumoniae e Escherichia coli resistentes a carbapenemas tem levado a falhas nos tratamentos clínicos. O desenvolvimento dessa resistência demanda um monitoramento cada vez mais intenso (para identificar e controlar a disseminação de cepas multirresistentes), e necessidade da pesquisa e aprovação de novas drogas antibacterianas. Durante muitos anos a colistina teve seu uso suspenso na medicina humana, devido a sua elevada toxicidade. Mas voltou a ser empregada como um antibiótico de último recurso para tratamento de infecções causadas por bactérias multirresistentes. Atualmente, a colistina é utilizada principalmente para tratamento de infecções causadas por enterobactérias resistentes as carbapenemas e cefalosporinas (ESBL). Porém, estudos recentes identificaram a ocorrência de resistência a colistina (polimixina E e polimixina B) em diversos países, incluindo o Brasil (Fernandes, Moura et al. 2016, Liu, Wang et al. 2016, Aires, da Conceição-Neto et al. 2017). A colistina foi amplamente utilizada na medicina veterinária nas últimas décadas, sendo fornecida principalmente em níveis subterapêuticos na alimentação animal, com objetivo de controlar enterobactérias. Porém, devido a emergência de cepas bacterianas resistentes a colistina, a utilização desse antibiótico na alimentação animal passou a ser banida em diversos países. A disseminação da resistência a colistina é uma preocupação global, e entre os mecanismos envolvidos no desenvolvimento dessa resistência destacam-se mutações em genes cromossomais e a transferência de plasmídeos (Carattoli, Villa et al. 2017, Otter, Doumith et al. 2017). A situação se tornou ainda mais alarmante após Haenni, Poirel et al. (2016) relatarem a co-ocorrência de genes de resistência a colistina (mcr-1) e cefalosporinas (ESBL genes) em plasmídeos identificados em sete isolados de Escherichia coli. Monitoramento e controle da disseminação de resistência Os estudos de vigilância bacteriológica são fundamentais para determinar as tendências de sensibilidade aos antibióticos e evitar falhas no tratamento de doenças. Neste contexto, o Codex Alimentarius, a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), a Organização Mundial da Saúde (WHO) e a Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) tem encorajado os países membros a implementarem programas de vigilância e controle para minimizar a disseminação da resistência. A WHO adotou em 2015 um plano de ação global para enfrentar a crise da resistência aos antibióticos. Os objetivos do plano incluem: 1- melhorar a conscientização e a compreensão a respeito da resistência aos antibióticos por meio de comunicação, educação e formação; 2 - reforçar os conhecimentos e a base científica por meio da vigilância e da pesquisa; 3 - reduzir a incidência de infecções através de medidas eficazes de saneamento, higiene e prevenção de infecções; 4 - utilizar de forma racional os medicamentos antimicrobianos na saúde humana e animal; 5 - preparar argumentos econômicos voltados para um investimento sustentável e aumentar os investimentos em novos medicamentos, meios diagnósticos, vacinas e em outras intervenções (WHO, 2015). Vários países já implementaram programas de monitoramento e controle da resistência a antibióticos. A partir de 2004, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) passou a monitorar o perfil de suscetibilidade a diferentes antibióticos em Enterococcus e Salmonella obtidos de carcaças de frango comercializadas no Brasil, através do Programa Nacional de Monitoramento da Prevalência e da Resistência Bacteriana em Frango (Prebaf ). Os resultados indicaram vários níveis de resistência/multirresistência a antibióticos de importância clínica e necessidade de implementar a pesquisa para outras bactérias (BRASIL, 2012). A preocupação com a emergência da resistência, levou o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) a proibir diversos antibióticos 24 BACTERIOLOGIA utilizados como promotores de crescimento, incluindo o sulfato de colistina. A partir de 2017, novas regras sobre os promotores de crescimento também foram adotadas nos Estados Unidos. Antibióticos de relevância na clínica médica passaram ter uso restrito para o tratamento terapêutico, podendo ser utilizados como preventivos apenas em casos específicos, sob a supervisão de um veterinário (CIDRAP, 2017). Essas restrições estão sendo conduzidas baseadas em pesquisas cientificas que demonstram o impacto do desenvolvimento da resistência aos antibióticos. Como consequência, o MAPA e a Anvisa lançaram em 2017 os programas “Plano de Ação Nacional para Prevenção e Controle da Resistência aos Antimicrobianos” e “Plano Nacional para a Prevenção e o Controle da Resistência Microbiana nos Serviços de Saúde”. Esses programas foram desenvolvidos considerando o conceito de “saúde única” (One Health), que reconhece a interdependência entre a saúde humana, animal e meio ambiente, e visam promover educação sanitária, monitorar da resistência através da vigilância, fortalecer as boas práticas de saúde, promover o uso responsável de antibióticos, reduzir a incidência de infecções com medidas eficazes de prevenção, fortalecer e incentivar pesquisas e o desenvolvimento de novos agentes antimicrobianos. Os planos possuem interface direta com a inocuidade dos alimentos, sustentabilidade, produtividade e competitividade da agropecuária brasileira. Considerações finais O uso terapêutico dos antibióticos em medicina veterinária deve ser otimizado, e baseado sempre nos resultados de testes de susceptibilidade (antibiograma). Em animais de produção, seu uso como promotores de crescimento deve ser empregado de acordo com as recomendações dos órgãos oficiais, a fim de reduzir a pressão seletiva e o surgimento e disseminação de novos micro-organismos resistentes. Somado ao uso racional, o monitoramento dos perfis de susceptibilidade através de ensaios laboratoriais se apresenta como estratégia crucial para identificar e conter a disseminação de cepas resistentes. 25 MEDICINA LAB. DE FELINOS ISSN 2358-5145 www.vetsciencemagazine.com.br BACTERIOLOGIA VETERINÁRIA MANUAL DE BOAS PRÁTICAS PARA O CLÍNICO Número 19 MAGAZINEum benefício para o cliente TECSA TRITRICHOMONAS FOETUS E SUA IMPORTÂNCIA NA CLÍNICA MÉDICA DE FELINOS Rafael Gariglio Clark Xavier - Médico Veterinário CRMV-MG 16040 Nathália Rose Vieira Santos - Médica Veterinária CRMV-MG 10438 E-mail para correspondência: rafael.clark@hotmail.com crônica em gatos no Brasil. Este trabalho objetivou descrever a importância do agente na clínica médica de felinos, os testes diagnósticos e tratamento utilizado. Sinais clínicos Após colonização, ocorre a replicação na mucosa do intestino grosso, onde os trofozoítos são
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