Prévia do material em texto
Demências 1 Demências O diagnóstico de síndrome demencial é eminentemente clínico, baseado em avaliação objetiva do desempenho cognitivo e funcional. A identificação da causa de demência, por sua vez, depende de investigação complementar, constituída por exames laboratoriais e de neuroimagem estrutural (tomografia computadorizada ou ressonância magnética de crânio). Em situações específicas, outros exames, como eletroencefalograma, exame do líquido cefalorraquidiano (LCR), exames de neuroimagem funcional (como a tomografia de emissão de fóton único [SPECT] ou a tomografia por emissão de pósitrons [PET], entre outros, são também indicados. A avaliação cognitiva inicial de indivíduos com suspeita de demência deve idealmente incluir testes de rastreio. Entre os diversos testes disponíveis, o Miniexame do Estado Mental (MEEM) é certamente o mais empregado. Os pacientes que apresentam mau desempenho no MEEM, particularmente aqueles com suspeita diagnóstica de demência leve ou incipiente, devem ser submetidos à avaliação neuropsicológica, realizada por profissional habilitado. Essa avaliação pode iniciar com o emprego de baterias ou conjuntos de testes neuropsicológicos, como a bateria NEUROPSI, a bateria de testes do CERAD, a escala CAMCOG do CAMDEX, a escala de demência de Mattis ou o Exame Cognitivo de Addenbrooke – versão revisada , entre outros, e complementada pela administração de testes específicos direcionados às diferentes funções cognitivas, como atenção, memória, linguagem, funções executivas, além de habilidades visuoespaciais e construtivas. Testes breves, como fluência verbal semântica (p. ex., número de animais falados em um minuto), teste de memória de figuras ou de listas de palavras da bateria CERAD e desenho do relógio, são outros exemplos muito úteis, que podem ser administrados pelo próprio médico sem prejuízo significativo do tempo de consulta e que aumentam a acurácia diagnóstica da demência. A avaliação funcional em pacientes com suspeita de demência inicia-se na anamnese, buscando, por meio de entrevista com algum familiar que tenha suficiente contato com o paciente, evidências de que os déficits cognitivos acarretam interferência significativa sobre o desempenho do indivíduo em atividades da vida diária, seja nos âmbitos profissional (no caso de paciente que ainda trabalhe), social, domiciliar ou de lazer. Nas fases iniciais da demência, particular atenção deve ser dada às atividades instrumentais cotidianas, como gerenciamento das finanças, uso de aparelhos eletrodomésticos, ato de cozinhar, entre outras. É recomendável também o emprego de algum questionário ou escala específicos para avaliação do desempenho funcional. Um exemplo de instrumento simples e de rápida aplicação é o Questionário de Atividades instrumentais de Pfeffer, e o índice de barthel para as atividades basicas de vida diária. Inúmeras doenças podem causar demência. De forma simplificada, é possível classificar as causas de demência em dois grandes grupos: demências sem e com comprometimento estrutural do sistema nervoso central (SNC). As demências sem comprometimento estrutural do SNC são decorrentes de transtornos de origem tóxica ou metabólica que ocorrem secundariamente a doenças sistêmicas (p. ex., doenças endócrinas, hepáticas ou renais) ou à ação de fármacos sobre o SNC (p. ex., substâncias anticolinérgicas, antipsicóticas, antiepilépticas ou hipnóticas). Dessa forma, o diagnóstico etiológico nesse grupo de demências depende essencialmente de exames laboratoriais (identificação das demências metabólicas, muitas potencialmente reversíveis) e de história clínica detalhada, buscando relacionar o uso de determinados medicamentos com o aparecimento da síndrome demencial. EXAMES LABORATORIAIS SOLICITADOS EM PACIENTES COM DEMÊNCIA Hemograma completo Vitamina B12 Ureia e creatinina Ácido fólico Proteínas totais e frações Cálcio sérico Enzimas hepáticas Sorologia para sífilis T4 livre e TSH Sorologia para HIV (em pacientes com idade inferior a 60 anos ou com sintomas atípicos). A lista de exames é relativamente ampla, pois a principal finalidade é evitar que demências potencialmente reversíveis deixem de ser identificadas e tratadas. Além disso, a realização desses exames laboratoriais também é justificada pela frequência elevada de comorbidades na população idosa, que podem estar presentes em pacientes com demências de diferentes etiologias, como degenerativa ou vascular. Sífilis e AIDS, embora façam parte das chamadas demências secundárias, decorrentes de comprometimento estrutural do SNC, devem também ser investigadas por meio de exames laboratoriais pertinentes e pelo exame do LCR. Este último é ainda indicado em situações especiais, podendo também auxiliar no diagnóstico da doença de Creutzfeldt-Jakob por meio da detecção da chamada proteína 14-3-3. Cabe ressaltar que esse é um método diagnóstico importante na investigação etiológica de algumas formas específicas de demência rapidamente progressiva, as encefalopatias imunomediadas, por meio da detecção de anticorpos específicos. As demências secundárias decorrem de um conjunto variado de condições clínicas, como doença cerebrovascular, hidrocefalia, infecções e tumores. Nesses casos, o diagnóstico específico depende fundamentalmente de exames de neuroimagem estrutural (tomografia Demências 2 computadorizada ou ressonância magnética de crânio). A tomografia tem como vantagens o custo mais baixo e a maior rapidez na sua realização. A ressonância magnética, por sua vez, permite avaliação mais detalhada da substância branca, importante para o diagnóstico de demência vascular secundária à doença de pequenos vasos, além de possibilitar a identificação de padrões focais de atrofia (p. ex., atrofia hipocampal), o que pode ser útil para o diagnóstico de condições neurodegenerativas como a DA, a demência frontotemporal e a afasia progressiva primária. O último grupo etiológico corresponde às demências primárias ou degenerativas. Dele fazem parte doenças que, embora possam cursar com síndrome demencial como manifestação clínica principal, em geral têm como característica clínica predominante a presença de sinais motores, alterações de equilíbrio e de marcha, entre outros. Nesses casos, portanto, o exame neurológico constitui a principal ferramenta diagnóstica, podendo revelar bradicinesia, rigidez, tremor, instabilidade postural ou alterações de marcha características nos indivíduos com doença de Parkinson, alteração da motricidade ocular extrínseca na paralisia supranuclear progressiva, movimentos coreicos na doença de Huntington ou síndrome cerebelar nas ataxias espinocerebelares. Finalmente, existe a forma de demência primária ou degenerativa, em que a síndrome demencial constitui a manifestação clínica principal. Aqui se encontra a causa mais frequente de demência em idosos, que é a DA. Outras causas incluídas neste grupo são a demência frontotemporal e a demência com corpos de Lewy. Ressônancia magnética de campo com foco no hipocampo (MTA) Escala de Atrofia Global A escala de atrofia global (EAG) ou escala de Pasquier, tem como finalidade avaliar o grau de atrofia cortical global (ACG). Não tem como objetivo avaliar atrofias focais. Quando for avaliada por ressonância magnética, é importante usar sempre as mesmas sequências (por exemplo: FLAIR ou imagens ponderadas em T1). Na sequência ponderada em T2 a imagem tende a superestimar o grau de atrofia real. A escala de ACG é graduada através de inspeção visual e sua classificação varia entre 0 a 3. Legenda: 0- Ausência de atrofia cortical; 1- leve atrofia, abertura dos sulcos; 2- atrofia moderada, perda do volume dos giros e 3- atrofia severa, tipo “lâmina de faca”. Escala de Atrofia do Lobo Temporal Medial - Scheltens Escala visual para avaliar o grau de atrofia da porção mesial do lobo temporal. Ressonância magnética de encéfalo com corte coronal perpendicular ao hipocampo, estudo dedicado para avaliar as formações hipocampais. Demências3 Escore 0 = sem atrofia Escore 1 = apenas alargamento da fissura coroidea Escore 2 = alargamento da fissura coroidea e do corno do ventrículo lateral Escore 3 = perda moderada do volume hipocampal (redução da sua altura) Escore 4 = perda acentuada do volume hipocampal Análise: Pacientes com 75 anos ou menos. Score =2 ou mais => anormal Pacientes com mais de 75 anos. Score = 3 ou mais => anormal O diagnóstico diferencial desse grupo de demências primárias é auxiliado pela identificação de perfis específicos de comprometimento cognitivo ou comportamental. Quatro perfis principais são descritos, evocando determinadas possibilidades diagnósticas: síndrome amnéstica progressiva (DA), disfunção viso-espacial progressiva (demência com corpos de Lewy ou DA), alteração progressiva de linguagem(afasia progressiva primária ou, eventualmente, DA, sobretudo nos casos de início pré-senil) e transtorno progressivo de comportamento (demência frontotemporal); Dessa forma, a avaliação neuropsicológica formal é um recurso importante para o diagnóstico diferencial das demências primárias. A maioria das demências se desenvolve por mecanismos fisiopatológicos multifatoriais. Portanto, são vários os fatores de risco envolvidos, modificáveis ou não, sendo alguns deles com maior especificidade para determinadas etiologias. Raramente, mutações genéticas específicas podem estar associadas ao desenvolvimento da demência. Propedêutica História clínica Pela história clínica, podemos caracterizar o padrão de acometimento neuropsicológico e a velocidade de instalação dos sintomas, identificar fatores de risco, rever as medicações em uso e afastar outras causas de distúrbio cognitivo. Deve ser obtida diretamente com o paciente e com informantes qualificados (parentes, cuidadores). As manifestações clínicas iniciais e sua evolução costumam fornecer dados relevantes para a formulação das hipóteses etiológicas mais prováveis e para a escolha dos exames complementares pertinentes. Alguns casos de demência em fase inicial podem confundir-se até mesmo com o envelhecimento normal, pois o desempenho funcional ainda pode estar relativamente bem preservado. O diagnóstico pode ser dificultado em casos com apresentação clínica atípica, início dos sintomas em idade abaixo dos 65 anos, velocidade rápida de progressão ou comprometimentos cognitivos isolados. Nesses casos, avaliações mais extensas podem ser necessárias. Também é preciso estar atento a possíveis armadilhas que podem induzir ao erro no diagnóstico das demências Dilírium Instalação aguda, implica déficit acentuado de atenção e cognição, curso flutuante; frequente em pacientes com demência, mas não é exclusivo dessa condição; deve ser afastado Escolaridade Indivíduos com demência inicial e alta escolaridade tenderão a ter melhor desempenho nos testes cognitivos e habilidades funcionais, enquanto indivíduos normais com baixa escolaridade tenderão a um pior desempenho Déficits sensoriais Um ou mais déficits sensoriais pode acarretar dificuldades na correlação de causalidade entre perdas funcionais e possível comprometimento cognitivo Depressão Pode cursar com alterações cognitivas em idosos; é frequente nas demências e pode acentuar perdas funcionais e superestimar o comprometimento cognitivo (pseudodemência) Abuso de substâncias Pode afetar atenção, memória, aprendizado e capacidade executiva, além de superestimar o grau de comprometimento cognitivo existente Doenças psiquiátricas Histórico de doença psiquiátrica de longa data, em especial se em uso prolongado de medicamentos neurotóxicos Medicamentos Podem alterar a cognição e a capacidade funcional (p.ex., benzodiazepínicos, anticolinérgicos, anticonvulsivantes, opioides) Demências 4 Exame neurológico No diagnóstico diferencial de uma síndrome demencial, o exame neurológico é mandatório e fundamental para a definição etiológica. Nas demências corticais, em geral, este se mantém normal até a fase tardia de doença, com preservação de marcha, tônus, postura e reflexos. Já nas demências frontossubcorticais, a função motora é geralmente comprometida nas fases iniciais. Os principais sinais e sintomas a serem pesquisados estão descritos a seguir. Idade História familiar Mutações genéticas TNL Cardiovasculares Doença de Alzheimer Sim Sim ApoE4,PSEN1, PSEN2e APP Améstico Sim Demência vascular Sim Sim ApoE4(?) NOTCH3 Não amnéstico Sim DCL Sim Sim Não amnéstico DFT Sim Sim MAPT, GRN e C9ORF72 Não amnéstico Disfunção autonômica A disfunção autonômica é mais comumente vista na demência comcorpos de Lewy e na doença de Parkinson (DP), mas também pode estar associada a doenças priônicas e à atrofia de múltiplos sistemas (AMS), que é caracterizada por disfunção autonômica, parkinsonismo e disfunção cerebelar (DSM-5, 2013). Alterações oculares e visuais Dentre as síndromes demenciais associadas a anormalidades dos movimentos oculares está a doença de Huntington (DH) e a paralisia supranuclear progressiva (PSP). A DH está associada ao comprometimento das sacadas, exigindo a movimentação compensatória da cabeça. Já na PSP, podem ocorrer distúrbios de visão (diplopia, borramento visual, fotofobia), sacadas lentas e hipométricas, convergência anormal, incapacidade de conter o reflexo vestibulocular e, principalmente, alentecimento da abertura e do fechamento dos olhos. A oftalmoparesia supranuclear é característica da doença e está relacionada com a perda dos movimentos verticais dos olhos. A opsoclonia (movimentos oculares rápidos e involuntários, irregulares, não estereotipados) pode ser encontrada em pacientes comencefalite pós-viral ou nas síndromes paraneoplásicas. Distúrbios piramidais Sinais piramidais (neurônio motor superior), como espasticidade, hiperreflexia e sinal de Babinski, são comuns em doenças cerebrovasculares e também podem ser vistos em pacientes com demência frontotemporal, atrofia de múltiplos sistemas e lesões estruturais do sistema nervoso central. Parkisonismo O parkinsonismo é definido pela presença de dois dos seguintes sinais: tremor de repouso, bradicinesia e rigidez. Esses sinais são inespecíficos e podem ser encontrados na doença de Parkinson, na demência com corpos de Lewy, na paralisia supranuclear progressiva, na Demências 5 atrofia de múltiplos sistemas, no parkinsonismo vascular e na hidrocefalia de pressão normal (HPN). Também podem ocorrer na fase avançada da doença de Alzheimer e da demência frontotemporal. Sinais cerebelares A disfunção cerebelar pode estar associada à ataxia da marcha e é proeminente na demência relacionada com o álcool e a doença de Creutzfeldt-Jakob (DCJ). A variante cerebelar da atrofia de múltiplos sistemas é caracterizada por nistagmo, dismetria apendicular e ataxia da marcha juntamente à disfunção autonômica. Neuropatias Evidências de neuropatia podem ser vistas em condições sistêmicas associadas à demência, tais como: alcoolismo, diabetes, disfunção renal, deficiência de vitamina B12 e síndromes paraneoplásicas. Distúrbios da marcha Demências com alteração precoce da marcha incluem: demência na doença de Parkinson, demência vascular, demência com corpos de Lewy e hidrocefalia por pressão normal. Mioclonias São comuns na DCJ e também podem ser encontradas na doença de Alzheimer e na degeneração corticobasal. Critérios diagnósticos Transtorno Neurocognitivo Leve (i.e Comprometimento Cognitivo Leve) – [DSM-V] A- Evidência de declínio cognitivo pequeno A1- Preocupação do indivíduo ou informante e A2- Prejuízo pequeno no desempenho cognitivo (z escore entre -1 e -2) B- Sem interferência na independência cotidiana C- Os déficits não ocorrem apenas no contexto de delirium D- Os déficits não são melhor explicados por outro transtorno mental (p. ex. Transtorno depressivo maior) Transtorno Neurocognitivo Maior (i.e demência ) - [DSM-V] A- Evidência de declínio cognitivo importante A1- Preocupação do indivíduo ou informante e A2- Prejuízo substancial no desempenho cognitivo (z escore < -2) B- Cominterferência na independência cotidiana C- Os déficits não ocorrem apenas no contexto de delirium D- Os déficits não são melhor explicados por outro transtorno mental (p. ex. Transtorno depressivo maior) Demência vascular ou TNC vascular (TNC-V) - [DSM-5) A- Preenche critérios para TNC leve ou maior B- Aspectos clínicos consistentes com etiologia vascular, conforme sugerido por um dos seguintes: B1- O surgimento dos déficits está temporalmente relacionado com um ou mais de um evento cerebrovascular; B2- Evidências de declínio são destacadas na atenção complexa (incluindo velocidade de processamento) e na função executiva frontal. C- Há evidências da presença de doença cerebrovascular a partir da história, do exame físico e/ou de neuroimagem, consideradas suficientes para responder pelos déficits cognitivos D- Os sintomas não são mais bem explicados por outra doença cerebral ou transtorno sistêmico. OBS: TNC -Vascular Provável: Se um dos abaixo estiver presente. Caso nenhum esteja, chama-se TNC-Vascular possível 1- Evidência de neuroimagem de lesão parenquimatosa significativa 2- Sintomas cognitivos temporalmente relacionados com um ou mais eventos cerebrovasculares documentados 3- Evidências clínicas e genéticas de doença cerebrovascular estão presentes (p.ex. CADASIL) Classificação Demências 6 Uma vez estabelecido o diagnóstico de demência, a próxima etapa é a definição etiológica. Primeiramente, é importante classificar as demências de acordo com o seu potencial de reversibilidade (reversíveis ou irreversíveis), a fim de que o tratamento para o primeiro grupo seja instituído prontamente. No passado, as demências eram geralmente classificadas em corticais (afasia, apraxia, agnosia e amnésia) ou subcorticais (bradifrenia, distúrbios do humor e alterações da personalidade). Entretanto, por ser insuficiente, essa divisão dicotômica tem sido criticada, já que algumas formas de demência, como a frontotemporal, podem apresentar padrão misto, afetando tanto estruturas corticais quanto subcorticais. Outra forma de classificação, com base na fisiopatologia, distingue as demências em degenerativas e não degenerativas. As primeiras estão associadas a processos patológicos que causam dano cerebral progressivo, como a doença de Alzheimer, a doença de Creutzfeldt-Jakob e a demência na doença de Parkinson. As demências não neurodegenerativas são aquelas decorrentes de lesão cerebral, como acidente vascular encefálico (AVE) e traumatismo cranioencefálico. Porém, essa classificação está sujeita a diferentes interpretações. Por exemplo, a demência vascular pode representar uma causa óbvia de demência não degenerativa; entretanto, alguns questionam o fato de que a doença aterosclerótica subjacente à demência vascular represente, na verdade, um processo degenerativo (Agronin, 2014). Diagnóstico diferencial etiológico das demências Degenerativas Doença de Alzheimer, demência com corpos de Lewy, demência na doença de Pakinson, paralisia supranuclear progressiva, atrofia de múltiplos sistemas, degeneração corticobasal, demência frontotemporal Vasculares Doença difusa de substância branca, isquemias cerebrais, hematoma subdural crônico, lesão por hipóxia Infecciosas HIV, Tuberculose, Neurossífilis, leucoencefalopatia multifocal progreessiva Neoplásicas Tumores primários, metástases, síndromes paraneoplásicas Autoimunes Vasculites, esclerose múltipla, sarcoidose Endocrinopatias Hipo/hipertireoidismo, insuficiência adrenal, hipercorticolismo, hipo/hiperparatireoidismo Metabólicas Nefropatias, hepatopatias, encefalopatia de Wernicke, deficiência de vitamina B12 Traumáticas Lesão axônico-difusa, demência puglistica Tóxicas Alcoolismo, drogas e medicamentos, metais pesados A demência é uma síndrome caracterizada pelo comprometimento cognitivo persistente e progressivo com diminuição significativa de funcionalidade e alteração em, pelo menos, dois domínios cognitivos. Dentre os domínios são destacados alterações na memória e mais um domínio como linguagem, capacidade de atenção, perceptomotoras, capacidade de abstração ou funções executivas. Essas alterações são características de comprometimento do sistema nervoso central (SNC). Domínios Cognitivos A memória e aprendizagem são elementos-chave na caracterização de demência, mas não estão sós, sendo necessário pelo menos mais um comprometimento cognitivo. De maneira geral o principal comprometimento de memória está relacionado à dificuldade de memorização ainda em estágios iniciais, então há comprometimento na amnésia anterógrada (paciente não consegue se lembrar de novas informações, como coisas que aconteceram recentemente). Mas não obstante, com o avanço dos danos cerebrais há também comprometimento da memória remota (informações armazenadas há meses ou anos). Distúrbios de linguagem são comumente encontrados e os mais evidentes são para nomeação de objetos com substituição de sílabas ou fonemas e pela diminuição da fluência verbal. Alterações na capacidade de escrita são percebidas também no início da síndrome demencial, porém deve-se questionar sobre a escolaridade do paciente porque isso pode interferir e gerar dificuldade de escrita pelo contexto de vida e não necessariamente pela síndrome demencial. Uma opção é solicitar que o paciente desenhe algo, reproduza um objeto ou faça uma mímica para avaliar os distúrbios práxicos. A capacidade de atenção é evidenciada pela concentração em uma atividade cotidiana como cozinhar ou estudar e que pode ser facilmente alterada no avanço da demência. A atenção pode ser sustentada (capacidade do indivíduo de sustentar seu foco em uma atividade repetitiva e contínua, por um longo período de tempo, sem distrações), dividida (capacidade do indivíduo de realizar mais de uma atividade simultaneamente) ou seletiva (concentração das funções cerebrais em apenas uma atividade, excluindo todos os estímulos ao redor, ou seja, a capacidade de “selecionar” o estímulo para o qual sua atenção estará direcionada) e estabelece nossa capacidade de realizar uma tarefa e aprendizado. As agnosias definem dificuldade/incapacidade em reconhecer um elemento/objeto com o uso de um ou mais sentidos e podem acontecer, por exemplo, com a orientação topográfica. Esse é um ponto de preocupação e, por muitas vezes, destaca a atenção dos familiares porque o paciente pode se perder em ruas pelas quais passou a vida inteira, no caminho do trabalho, ou ao levar um neto na escola. Menos comum Demências 7 em fases iniciais da doença, mas evidente com o avanço dos danos cerebrais é o não reconhecimento de membros familiares e pessoas próximas, caracterizando as alterações perceptomotoras. As funções executivas são alteradas quando já não há um planejamento adequado das atividades, o paciente sente dificuldade em organizar seus horários e afazeres domésticos como o horário do jantar, por exemplo. Por fim, temos a cognição social, esta caracterizada pela percepção de si e do outro, pela forma como processamos as informações e entendemos o funcionamento social, por exemplo. Trata-se de alterações importantes nas emoções, por exemplo, perda de empatia configuram diminuição da cognição social. Síndromes geriátricas As síndromes geriátricas são as principais síndromes relacionadas ao adoecimento no indivíduo idoso, por isso devem ser investigadas e reconhecidas para uma abordagem eficaz. Principais síndromes geriátricas: insuficiência cognitiva, instabilidade postural, imobilidade, incapacidade comunicativa, incontinências, insuficiência familiar e iatrogenias. Insuficiência cognitiva - está relacionada ao comprometimento de funções encefálicas capazes de gerar prejuízo funcional de forma contínua e progressiva. A síndrome demencial e as alterações psiquiátricas são os principais elementos constituintes da insuficiência cognitiva. As alterações psiquiátricas têm etiologias diversas como uso de drogas de forma contínua ou em doses suficientes para gerar alterações psicológicas, por traumasou até mesmo por herança genética. Instabilidade postural – a mobilidade é significativamente reduzida com o avanço da idade, principalmente associada a fatores como sedentarismo, obesidade, doenças crônicas ósseas e ligamentares ou pelo próprio envelhecimento orgânico. Nesse caso, afeta diretamente na capacidade de independência para realização de atividades diárias e é um elemento preocupante quando evidenciada, pois gera acidentes graves em indivíduos idosos. Em casos de eventos prévios de quedas por instabilidade postural a sensação de medo pode se tornar tão presente na vida do idoso que exacerba a instabilidade prévia e favorece a imobilidade. Esta acaba se tornando ainda mais grave e prejudicial às atividades funcionais do idoso. Imobilidade – a imobilidade associa-se à dificuldade de movimentação no espaço, pode ser total ou parcial a depender da região corporal acometida. É um termo entendido como qualquer limitação de movimento. A imobilidade pode gerar repercussões clínicas graves como, por exemplo, úlceras de pressão, retenção urinária e alterações respiratórias. Incapacidade comunicativa – esta é uma síndrome que determina muitas limitações na vida do idoso por dificultar sua autonomia e funções básicas como solicitar alimentos, bebidas, ir ao banheiro e, sobretudo, por dificultar as relações afetivas como falar o que sente ou simplesmente ter um momento de conversa com um familiar. Dificuldade de comunicação é causa frequente de diminuição da independência e expressão das vontades, desejos, podendo ser uma das causas de depressão no idoso. Incontinências – a incontinência urinária interfere diretamente na qualidade de vida do idoso e é caracterizada por qualquer perda urinária involuntária. Sua prevalência aumenta com a idade e pode estar relacionada, por exemplo, ao estresse, incontinência mista ou de esforço. Insuficiência familiar – este aspecto entra na fragilidade de muitas relações familiares, afastamento domiciliar, diminuição do contato e cuidado do idoso por parte de seus familiares. Assim, é essencial reconhecer uma possível fragilidade no âmbito familiar e estabelecer uma rede de cuidado interdisciplinar e horizontal para assegurar os direitos do idoso no âmbito da saúde física, social e cultural. Iatrogenias – significa alteração patológica causada por intervenção médica. Pode acontecer em situações como internação sem real necessidade; uso de fármacos; solicitação de exames; prescrição de intervenções sem comprovação científica, dentre outros. Indivíduos idosos já são vulneráveis pelo comprometimento fisiológico e orgânico com envelhecimento celular e fragilidade corporal, mas também por questões socioculturais que podem estar envolvidas como dificuldade em encontrar empregos ou não ser mais o “chefe” da família. Assim, toda prescrição/orientação médica deve seguir cuidadosamente os princípios éticos e técnicos evitando a iatrogenia. Insuficiência cognitiva Instabilidade postural Imobilidade Incapacidade comunicativa Incontinências Insuficiência familiar Iatrogenias Comprometimento encefálico → prejuízo funcional Mobilidade reduzida (tontura - queda) Limitação no movimento (cadeirantes/acamados, etc) Dificuldade na comunicação, seja na fala ou gestual Incontinência fecal/urinária (esforço/urgência/estresse etc.) Fragilidades em relações familiares e grupo de apoio Alteração patológica por intervenção médica É uma doença altamente prevalente em países com envelhecimento populacional exponencial que ocorre, principalmente, em países desenvolvidos ou em desenvolvimento. Contudo, países em desenvolvimento nem sempre possuem recursos técnicos e humanos adequados Demências 8 para diagnóstico e acompanhamento dos pacientes com demência, podendo se tornar um problema de saúde pública. Dentre os fatores de risco para demência destacam-se, por exemplo: baixa escolaridade; menor nível socioeconômico; uso abusivo de substâncias psicoativas como álcool e/ou tóxicas como tabaco; doenças crônicas como aterosclerose, diabetes mellitus e neoplasias que propiciam eventos vasculares patogênicos; doenças infecciosas progressivas como HIV e sífilis; baixo contato social e abandono familiar. Principais etiologias A demência possui etiologias diversas e para melhor entender as causas subdividimos em situações que causam comprometimento estrutural ao SNC e aquelas que não causam comprometimento, pelo menos em fases iniciais da doença. Com comprometimento estrutural do SNC Demências primárias (neurodegenerativas) Doença de Alzheimer (DA) É uma doença neurodegenerativa progressiva caracterizada por deterioração de memória e cognição com importantes efeitos na funcionalidade, principalmente em estágios moderados e avançados da doença. É a principal causa de demência no mundo e tem prevalência elevada com o avanço da idade. Sua causa é desconhecida, mas acredita-se que seja uma doença geneticamente determinada, associada à hereditariedade. Corpúsculos de Lewy A demência por corpúsculos de Lewy é marcada pela degeneração e morte neuronal. Estruturas esféricas anormais que se desenvolvem no interior das células nervosas são denominadas corpúsculos de Lewy. Não existe uma causa conhecida para essa doença e, ao contrário da DA, não há exemplificação de fatores de risco bem estabelecidos. Também é uma causa importante de demência em idosos. Demência Frontotemporal A DFT é determinada por doenças hereditárias que afetam os lobos cerebrais frontal e temporal. É responsável por cerca de 10% das demências e ocorre, em geral, nos pacientes mais jovens, em torno de 45 e 65 anos de idade. As alterações patológicas características da DTP são conhecidas como doença de Pick e inclui perda neuronal, gliose, grave atrofia, presença de neurônios anormais e inclusões que são, respectivamente, as células de Pick e corpos de Pick. Doença de Parkinson A doença de Parkinson é caracterizada por distúrbios neurológicos do movimento com alterações degenerativas progressivas. É comum em indivíduos idosos, acima dos 60 anos, mas pode ocorrer em indivíduos mais jovens, em menor proporção. Pelo caráter progressivo torna-se incapacitante para atividades básicas diárias como escovar os dentes ou pentear o cabelo até atividades mais complexas como realização de movimentos finos. Os quatro principais sintomas da doença são tremores, rigidez de membros e articulações, bradicinesia e instabilidade postural. Em torno de 40% das pessoas com doença de Parkinson desenvolvem a demência de Parkinson. Nesses casos há alteração lenta e progressiva das funções cognitivas. Há formação e deposição dos Corpos de Lewy, bem como ocorre na doença de Lewy, mas nesse caso os corpos encontram-se na substância negra – localizada no tronco cerebral. A grande diferenciação diagnóstica ocorre, pois na doença de Parkinson, a função mental começa a deteriorar anos após o início dos sintomas motores supracitados. O diagnóstico segue a partir da avaliação clínica detalhada, aplicação dos scores de avaliação mental e exame físico. Exames como tomografia computadorizada e ressonância magnética também podem ser indicados. O tratamento para DP é realizado com dopaminérgicos, como exemplo o levodopa. Além disso, o acompanhamento multidisciplinar e rede de apoio familiar são essenciais para os cuidados com prevenção de acidentes e fortalecimento emocional/acolhimento. Doença de Hutington (DH) Demências 9 É uma doença hereditária rara e progressiva do sistema nervoso central, caracterizada pela perda de células dos gânglios da base, sendo a região mais afetada o corpo estriado. Não há preferência entre os sexos ou grupos étnicos e os sintomas se iniciam em idades mais jovens entre os 30 e 50 anos, podendo atingir também crianças e adolescentes. A doença é caracterizada por mutação no gene que codifica a proteína chamada Huntingtina e ocasiona morte celular cerebral. Os principais sintomas são alterações motoras (espasmos, rigidez e contração muscular, disfagia, movimentosoculares lentos ou anormais), cognitivas (pensamento desorganizado, amnésia, impulsividade, dificuldade de aprendizagem e dificuldades no julgamento/discernimento) e psiquiátricas com alteração de humor, insônia, perda de energia e diminuição do equilíbrio emocional, por exemplo. Quando os sintomas são iniciados em pacientes jovens podem ser percebidos por perda de energia para atividades habituais como exercícios físicos regulares, menor desempenho nos estudos, tremores e dificuldades na escrita. Os exames de imagem são solicitados, após completa avaliação da história clínica e exame físico, e podem evidenciar, por exemplo, pela ressonância magnética, alterações cerebrais estruturais específicas como perda neuronal e consequente atrofia na região dos núcleos da base. Não há tratamento curativo ou que possa alterar o curso da doença, mas medicamentos como antipsicóticos e antidepressivos podem ser prescritos para controle sintomático. Paralisia progressiva supranuclear (PSP)/ Degeneração corticobasal (DCB)/ Atrofia de Múltiplos Sistemas (AMS) A PSP é uma doença neurodegenerativa rara, também conhecida como síndrome de Richardson. Tem manifestação tardia, em torno dos 60 ou 70 anos, com instabilidade postural, diminuição dos movimentos oculares verticais e lentificação cognitiva. Outros sintomas são associados com o avanço da doença como olhos secos, diplopia, fotofobia, ações impulsivas, fala lentificada e dificuldade na deglutição. A fisiopatologia é baseada na gliose com formação de placas astrocíticas, acúmulo de emaranhados neurofibrilares imunorreativos à proteína tau. É então uma tauopatia 4R que se estende progressivamente ao longo das ligações neurônio-neurônio a partir do tronco cerebral para o estriado, depois a área motora frontal, e mais tarde para a maioria das outras áreas neocorticais. Ocorrem perdas neuronais mais proeminentes nas regiões do núcleo subtalâmico e substância negra. O diagnóstico ocorre pela associação do quadro clínico e avaliação neuropsicológica e exames de imagem como ressonância magnética e tomografia computadorizada. Não há tratamento curativo ou que evite a progressão da doença e esses pacientes classicamente não respondem a levodopa. A amantadina é indicada na tentativa de controlar os sintomas da marcha e outros medicamentos anticolinérgicos melhoraram, ocasionalmente, as alterações da voz e da fala. A DCB é também uma doença rara que acomete indivíduos entre a sexta e sétima décadas de vida. É constituída por um conjunto complexo de sinais e sintomas que, em geral, afetam mais proeminentemente um lado do corpo do que outro. Ocorre lentificação, dificuldade de movimentação e rigidez dos movimentos do pescoço e membros; instabilidade postural; contração muscular; diminuição de sensibilidade e identificação pelo toque; sensação de “membro alienígena”. A AMS ocorre pela degeneração de células nervosas de forma progressiva, de etiologia desconhecia. Sabe-se que ocorrem lesões em várias áreas do encéfalo e essas determinam o padrão de alterações clínicas. É caracterizada por ser uma sinucleinopatia, porque há deposição de sinucleína, esta que é uma fosfoproteína pré-sináptica abundante no encéfalo e é um dos principais componentes dos corpos Demências 10 de Lewy. De maneira geral, ocorre disfunção cerebelar (parkinsonismo não responsivo a levodopa); piramidal (anormalidades cerebelares) e autonômica (disfunções autonômicas). Sintomas parkinsonianos: rigidez, bradicinesia, instabilidade postural e tremores. Anormalidades cerebelares: atrofia olivopontocerebelar com dismetria, ataxia, disdiadococinesia, coordenação deficiente e alteração de movimentos oculares. Sintomas autonômicos: hipotensão ortostática, retenção ou incontinência urinária, constipação intestinal e disfunção erétil. Podem ocorrer também distúrbios no sono REM, diminuição da sudorese e dificuldades para respirar e deglutir. Demências secundárias Doença cerebrovascular (macro AVC ou micro AVC) A demência cerebrovascular é caracterizada por ocorrer após eventos vasculares, sejam eles isquêmicos ou hemorrágicos; com microinfartos ou deposição aterosclerótica. É a segunda causa mais comum de demência associada ao envelhecimento, ficando atrás da DA. Dentre os fatores de risco para desenvolvimento da demência cerebrovascular após acidente vascular cerebral (AVC) destacam-se: síndrome pós-AVC importante; história prévia de doença cerebrovascular; baixo nível educacional; idade mais avançada; tabagismo; insuficiência cardíaca e AVC localizado no hemisfério esquerdo, por exemplo. Veremos mais detalhes no tópico – demências secundárias. Tumores do SNC O tumor cerebral é definido pelo crescimento e desenvolvimento anormal de células que podem ter características benignas ou malignas. O local de surgimento bem como sua extensão determinam os sinais e sintomas característicos nos pacientes, logo, entende-se que há possibilidade de recuperação a depender do tipo de tumor e localização/extensão tumoral. Os sintomas iniciais podem ser cefaleia, dificuldade de concentração e alterações de personalidade com progressão pelo avanço da doença. Os tumores causam sintomas demenciais de início e intensidade rápidos ao contrário de outras doenças como a DA ou doença de Lewy, por exemplo. O declínio cognitivo pode ser evidenciado por alteração nas atividades básicas de casa ou trabalho, alterações comportamentais como apatia, irritabilidade, distração bem como distúrbios da marcha e instabilidade postural. A avaliação deve seguir protocolos de investigação associando história clínica, exame físico e exames laboratoriais e de imagem, este pode evidenciar o local e extensão tumoral. Tumores são considerados causas reversíveis de demência pela possibilidade de ressecção ou tratamento quimioterápico, em alguns casos, e há reversão da demência após tratamento. Logo sua identificação e tratamento precoce indicam melhor prognóstico e qualidade de vida aos pacientes. Hidrocefalia de pressão normal (HPN) Hidrocefalia denomina o aumento de líquido intracraniano. A HPN é caracterizada pelo aumento do líquido nos ventrículos por diminuição da reabsorção. O principal sintoma é a instabilidade postural com perda de equilíbrio, consequentemente ocorrem alterações na marcha, com caminhar lentificado e instável, marcha alargada na tentativa de reequilibrar e estabilizar o corpo, bem como passadas próximas ao chão. Veremos mais detalhes no tópico – demências secundárias. Infecções As infecções do SNC ocorrem pela agressão patogênica (viral, bacteriana, fúngica ou parasitária) que atingem regiões de meninges, parênquima encefálico ou parênquima medular ocasionando, respectivamente, meningites, encefalites e mielites. Há também o acometimento da região subaracnoídea com parênquima encefálico, denominado meningoencefalite. As manifestações clínicas decorrem da ação direta do patógeno e das reações inflamatórias subsequentes. O quadro, em geral, evidencia infecção por febre, prostração e sintomas neurológicos. Alterações cognitivas ocorrem, por exemplo, em: Infecção por sífilis: conhecida como demência sifilítica que gera quadro demencial cerca de 10 a 20 anos após infecção primária; possui início subagudo ecurso progressivo. Dentre as alterações cognitivas destacam-se a personalidade, afeto, inteligência, linguagem e memória. Associada ao HIV: tem manifestação como quadro demencial subcortical com alterações motoras finas e alterações neuropsiquiátricas, além de ataxia. Para diagnóstico é essencial a solicitação de exames sorológicos gerais, incluindo sempre o VDRL e anti-HIV, demais sorologias são indicadas de acordo com suas suspeitas clínicas. O estudo do líquido cefalorraquidiano que evidencia tanto o padrão de reação inflamatória (linfocítica, neutrofílica, basofílica), quando alteração de glicose, proteínas etc.. Com a cultura do líquido o patógeno em si pode ser identificado. Além disso, exames de imagem como tomografia computadorizada evidenciam lesões característicasde determinadas infecções. Fique atento, em sinais de hipertensão intracraniana é indicada a realização de exame de imagem antes da punção liquórica para evitar herniações. O tratamento é instituído de forma empírica desde que suspeitado Demências 11 de infecção ativa do SNC e seguido após confirmação diagnóstica de forma direcionada ao patógeno e sintomas gerais do paciente como febre e dor, por exemplo. Sem comprometimento estrutural do SNC Causas tóxico-metabólicas Hipotireoidismo O hipotireoidismo constitui uma causa rara de demência, mas se trata de uma causa reversível, sendo essencial seu diagnóstico e tratamento precoce para evitar danos progressivos aos pacientes. A alteração endócrina com diminuição dos hormônios tireoidianos, por etiologias diversas, pode ocasionar alterações neuropsiquiátricas como distúrbios de comportamento (oscilações de humor, desinibição, agressividade e comportamento inadequado); alucinações visuais (frequentemente no período diurno); delírios megalomaníacos e insônia; diminuição de memória e desânimo. Em geral o comprometimento cognitivo é leve, principalmente em fases iniciais, por isso o diagnóstico e intervenção precoce têm excelentes resultados prognósticos. O diagnóstico ocorre pela evidência do hipotireoidismo com exames laboratoriais, inicialmente apenas o TSH é suficiente, e, se existir alteração, complemente com T3 e T4 livres. Estes deverão estar diminuídos comprovando o hipotireoidismo; avaliação ultrassonográfica de tireoide pode ser indicada evidenciando possíveis nódulos tireoidianos e hipofuncionamento glandular. A avaliação da demência ocorre também com história clínica e aplicação de testes para avaliação do estado mental. O tratamento deve ter efeito na patologia de base normalizando os hormônios tireoidianos e, consequentemente, suas funções homeostáticas. Insuficiência renal. insuficiência hepática; insuficiência cardíaca; deficiência de vitamina B12 Alterações na função renal têm impacto em sistemas corporais como cardíaco e cerebrovascular tanto por doenças coexistentes como hipertensão arterial quanto pelo possível acúmulo de substâncias tóxicas ao organismo como, por exemplo, a amônia. A principal correlação ocorre pelo maior risco de doenças vasculares como os AVCs que, como víamos acima, constituem uma causa de demência. O comprometimento cognitivo condiz com síndrome demencial a depender do estágio da doença, mas de maneira geral não tem implicações tão evidentes na memória e ações executivas como as demais demências. A DA tem maior prevalência em pacientes com limitações funcionais prévias como diálise crônica, limitação de movimentos (cadeirantes e pacientes acamados) e com pouco aparato social e familiar. A intervenção eficaz evitando progressão da doença renal ou controle de outras doenças concomitantes se faz essencial para evitar a progressão da demência. A insuficiência cardíaca segue a progressão lógica das alterações renais e demência, visto que pode ter relação direta com doenças como hipertensão arterial sistêmica e arteriosclerose que são fatores de risco para demência por causas vasculares. A hepatopatia crônica por cirrose hepática, de etiologias diversas (virais, autoimunes, vasculares, metabólicas etc), pode ser a gênese de alterações neuropsicológicas e cognitivas como a encefalopatia hepática, demências e psicoses. Dentre os sinais e sintomas ocorrem irritabilidade ou lentificação do pensamento e projeção de ações; confusão mental; amnésia retrógrada; dificuldade de concentração; limitações na linguagem verbal e escrita, dentre outras. A intervenção com eliminação de fatores desencadeantes como, por exemplo, uso de drogas psicoativas que agridem o sistema hepático e outros elementos tóxicos como drogas podem minimizar os efeitos deletérios. Esses pacientes necessitam de acompanhamento frequente com avaliação da função mental para considerar prognóstico e evitar fatores de piora. A vitamina B12 é um dos principais elementos para manutenção e funcionamento cerebral. Deficiência dessa vitamina ocasiona desordem na síntese de neurotransmissores e consequentes déficits no processamento de informações cerebrais. Os sintomas gerais incluem anemia, fraqueza muscular, desordens da coordenação motora e equilíbrio, parestesias e espasmos. Com o surgimento de confusão mental, déficits de memória e dificuldade em executar atividades diárias deve-se suspeitar de demência. O diagnóstico precoce e tratamento com reposição da vitamina B12 e controles sintomáticos são definidores de melhor prognóstico, visto que esta é uma causa reversível de demência. Demência mista A demência mista é uma condição ainda não tão bem definida na literatura, mas caracterizada pela presença de diferentes etiologias para a demência como a DA e demência vascular, por exemplo. Ocorre com frequência em indivíduos idosos pela coexistência de doenças crônicas e presença de fatores de risco para ambas, tanto pelo próprio envelhecimento orgânico quanto por hereditariedade. A fisiopatologia envolve a formação de placas senis e hiperfosforilação da proteína TAU como ocorre na DA e localização variada de trombos micro ou macrovasculares determinando a demência vascular. Assim, as manifestações clínicas dependem tanto da evolução da doença quanto dos locais cerebrais acometidos variando os déficits neurológicos. O diagnóstico segue a avaliação dos eventos clínicos, exame físico, aplicação dos testes de rastreio para demência e exames de imagem que caracterizam a localização das lesões, bem como sua extensão e, para isso, a Demências 12 tomografia computadorizada e ressonância magnética podem ser indicadas. O tratamento ocorre com medidas de suporte geral para prevenção de acidentes e suporte psicológico e social aos pacientes, bem como tratamento específico em caso de evidencia de trombos cerebrais com anticoagulantes e antiagregantes plaquetários. Em caso de sintomas neuropsiquiátricos como irritabilidade, heteroagressividade, desinibição social, dentre outros, a avaliação psiquiátrica é essencial para abordar tais sintomas com aparato medicamentoso, sempre precavendo efeitos colaterais e iatrogênicos. Causas reversíveis Nem toda demência é irreversível. Existem causas que, se identificadas em fases iniciais e tratadas de maneira adequada, podem não evoluir com alterações irreversíveis. O mnemônico DEMENTIA, evidenciado abaixo, representa essas causas: D rugs - Medicamentos e álcool E motional depression - Depressão M etabolic - Metabólico, hipotireoidismo E yes and ears declining - Sensorial N ormal pressure hydrocefhalus - Hidrocefalia T umor or other space-occupyng lesion - Tumores I nfection - Infecções A nemia - Deficiência de vitamina B12 e folato As etiologias reversíveis da demência ocupam apenas 2% das causas totais, mas apesar de serem bastante infrequentes necessitam de atenção especial e intervenção eficaz, pois podem ser controladas e evitar danos progressivos e irreversíveis se houver intervenção ainda em fases iniciais. Logo, há um evidente potencial de benefício ao paciente, sobretudo em prognóstico e qualidade de vida. Um dos principais aspectos da demência reversível é que pode ser facilmente identificada pelo clínico desde que o mesmo avalie o paciente de forma ampla, associando história clínica, exame físico e, se necessários, laboratoriais e de imagem, sempre de forma direcionada. Critérios diagnósticos DSM-V - caracteriza a síndrome demencial como um declínio cognitivo importante avaliado em: 1 ou mais domínios cognitivos Devem ser investigadas as queixas dos pacientes ou dos familiares/acompanhantes que relatam esquecimentos, comportamento desinibido, irritabilidade, dentre outros. Prejuízo funcional – atividades instrumentais de vida diária (AIVD — utilizar meios de transporte, manipular medicamentos, utilizar telefone, preparar refeições e cuidar das finanças) e atividades básicas de vida diária (ABVD — alimentar-se, banhar-se, vestir-se, mobilizar-se, deambulare manter o controle sobre suas necessidades fisiológicas). A também as atividades avançadas de vida diária que consistem em atividades realizadas de forma independente, mas que não podem ser generalizadas, pois envolvem condições sociais e econômicas individuais. Excluir delirium e doenças psiquiátricas – delirium pode ser um elemento confundidor e a eliminação da causa base do delirium faz o paciente retomar a função mental. Mas isso não exclui a possibilidade do paciente já ter iniciado um quadro e demência antes da alteração aguda que é o delirium e o acompanhamento do mesmo desse prosseguir. O diagnóstico é clínico, associando anamnese adequada e avaliação cognitiva. Domínios cognitivos são: 1) linguagem; 2) memória e aprendizagem; 3) função executiva; 4) atenção complexa; 5) perceptomotor; 6) cognição social. Mas também: Capacidade de nomeação, fluência verbal, gramática, sintaxe, interação de linguagem receptiva; Memória imediata como ao discar um número telefônico ou dizer o endereço onde mora; memória recente ao lembrar o que fez no dia anterior ou nas últimas semanas e memória em longo prazo (semântica), do significado dos elementos; Capacidade de planejar, organizar e executar funções com flexibilidade mental; Sustentada (atenta a um elemento); dividida (atenda a algo focal e algo que “distraiu por um momento”); seletiva (tentativa de concentração em algo); velocidade de processamento mental; Percepção visual, visoconstrutiva, dos elementos a sua volta seja material ou de acontecimentos físicos. Está relacionada também à praxia e gnosia que, respectivamente, representam a capacidade de realizar algo e reconhecer algo; Demências 13 Reconhecimento de emoções de si e do outro e relaciona a capacidade de empatia. A avaliação desses elementos é realizada com testes específicos e avaliação especializada. Escalas de avaliação Para completa avaliação e diagnóstico de demência, o DSM-V indica avaliação a partir do comprometimento funcional de atividades instrumentais de vida diária e atividades básicas de vida diária. Vejamos quais aspectos estão relacionados. Atividades instrumentais de vida diária Atividades báscias de vida diária AIVD - Escala de Lawton ABVD - Escala de Katz Gerenciar finanças Alimentar-se Lidar com transporte (dirigir ou transporte público) Ir ao banheiro Fazer compas Escolher a roupa Preparar refeições Arrumar-se e manter higiene pessoal Usar telefone e aparelhos de comunicação Manter-se continente (comportamento contido, moderado nas palavras e no gestos) Manutenção das tarefas domésticas Vestir-se Tomar banho Andar e transferir (cama para cadeira de rodas, por exemplo) Observa-se que as ABVD são tarefas cotidianas com aprendizado desde a infância até a vida adulta, que fazem parte do dia a dia de todos os indivíduos. Enquanto isso, as atividades instrumentais são um pouco mais complexas e relacionadas a compromissos e manutenção de uma vida independente. Nas AIVDS a pontuação varia de 0 (ZERO) a 9 (NOVE) pontos, onde 9 (NOVE) indica dependência (parcial ou total) para o desempenho de todas as atividades e 0 (ZERO) indica independência na realização de todas as atividades propostas. A pontuação intermediária indica a dependência total ou parcial em quaisquer das atividades e deverá ser avaliada individualmente. O resultado das ABVDS varia de zero a seis, sendo zero completamente independente para atividades básicas e seis completamente dependente. Após identificadas alterações o diagnóstico clínico deve seguir com a aplicação de testes cognitivos e avaliação complementar. Exames subsidiários no rastreio de demências reversíveis Lembre-se que existem causas secundárias de demência, associada a progressão tumoral, alterações endocrinometabólicas, infecções, dentre outras, como estudamos no mnemônico “DEMENTIA”. Sendo assim, é essencial a avaliação minuciosa com exames laboratoriais que possam evidenciar tais distúrbios. Principais exames a serem solicitados: Laboratorial: hemograma e VHS; Bioquímica geral (eletrólitos, Na, K+, Ca+, função renal); Função tireoidiana (TSH inicialmente); Vitamina B12; VDRS; FTA-Abs (Sífilis) e HIV. Além de estudo do líquor em situações especificas como suspeita de infecções, por exemplo. Para localizar as lesões e determinar sua extensão no SNC os exames de imagem são essenciais. A tomografia computadorizada sem contraste pode evidenciar lesões se não existirem recursos mais avançados. A ressonância magnética tem prioridade pela capacidade de detalhamento das lesões e estruturas anatômicas envolvidas, logo, se possível, este é escolhido. Em alguns casos de dúvida diagnóstica, por exemplo, por alteração ainda pouco significativa de memória e mais evidente de outros domínios, pode ser solicitada avaliação neuropsicológica que é realizada por um neuropsicólogo, especialista no assunto, realizando baterias de testes cognitivos. Eletroencefalograma e PET CT ou SPECT avaliam a função do SNC. Hipóteses diagnósticas Demências 14 Declínio cognitivo subjetivo Clinicamente, os pacientes ou familiares percebem perdas sutis de domínio cognitivo, por exemplo, capacidade intelectual para aprender ou ensinar algo percebido facilmente em pacientes com maior escolaridade. Quando o paciente percebe o declínio, mas não há alteração nos testes aplicados é denominado Declínio Cognitivo subjetivo. Declínio cognitivo leve Caracteriza-se pela queixa de alteração cognitiva, especialmente de memória, e são evidenciadas alterações leves nos testes neuropsicológicos. Contudo, essas alterações ainda não afetam a funcionalidade e por isso determinam o comprometimento cognitivo leve. Demência Alguns pacientes com declínio cognitivo leve evoluem para demência porque além das queixas e alterações nos testes cognitivos a funcionalidade é alterada. Inicialmente são elementos pontuais, mas que progridem para condições ameaçadoras aos pacientes como a possibilidade de se perder em ruas, de esquecer algo no fogão e gerar um acidente, bem como comprometimentos de marcha, fala e relações sociais. Assim, esses pacientes são diagnosticados com síndrome demencial. Demências 15 Síndrome demencial A graduação da demência é realizada pelo comprometimento funcional. Leve: ainda não há alteração funcional ou se existir está relacionado a atividades instrumentais; Moderada: perda importante de atividades instrumentais e atividades básicas moderadamente afetadas. Grave: perda da capacidade de realizar atividades básicas. Graduação da demência ex Caso 1: Paciente Maria Arcanja, 73 anos, casada, católica, professora aposentada, natural e procedente de Salvador (BA). QP: Consulta de rotina na unidade básica de saúde. HMA: Paciente refere que há quatro meses tem sentido dificuldade para organizar as contas e pagamentos, inclusive, no mês passado não pagou as contas de luz e água, mas disse aos filhos que estavam pagas. Conta que neste último não conseguiu mais fazer a feira sozinha, precisando voltar para casa e pedir ajuda à filha mais velha. Não sabe explicar exatamente qual foi a dificuldade encontrada. Queixa-se também de esquecer todos os números telefônicos que tinha em mente há alguns esses. Sem alteração de linguagem, ou perceptomotora. Nos testes aplicados perdeu pontos nas AIVDs, sem comprometimento de ABVDS. Dona Maria possui comprometimento leve de atividades instrumentais como na organização de contas para pagar e a feira do mês. As atividades básicas de vida estão sem alteração, logo, ainda é uma demência leve, mas necessita de acompanhamento contínuo e, sobretudo, cuidados para evitar acidentes que você certamente saberá explicar aos familiares. Como retirar tapetes da casa, solicitar que Dona Maria não faça mais o almoço sozinha, pois há risco de se queimar, solicitar que outra pessoa a ajude nas contas de casa também. Caso 2: Paciente Francisco Ambrósio, 85 anos, viúvo, evangélico, ex-carpinteiro, natural e procedente de Niterói (RJ). QP: Neto afirma que o avô não consegue se alimentarsozinho há dois meses e não toma banho sozinho desde o último mês. HMA. Neto de seu Francisco conta que no último mês o avô já não quer tomar banho e quando tenta realizar não consegue mais, pois passa sabonete antes de ligar o chuveiro e se molhar, ou apenas olha a água cair e não consegue executar o ato em si. Também não quer que ninguém o ajude, brigando e utilizando palavras agressivas. Além disso, não consegue se alimentar porque deixa todo alimento cair na mesa ou não aceita mais o que lhe oferecem. Esquece constantemente o nome dos filhos e fugiu de casa na última semana, sendo encontrado por vizinhos sem saber explicar onde morava ou quem é. Você aplica os testes e seu Francisco não realiza mais nenhuma atividade instrumental, além disso, realiza poucas atividades básicas de vida diária, com limitação grave na maioria. Há comprometimento grave de Francisco, tanto nas AIVDs quanto nas ABVDs, inclusive que há grande risco a sua vida se não estiver com acompanhamento constante de familiares. É evidenciado comportamento de risco pela saída de casa sozinho e negligência com higiene pessoal e própria alimentação. Neste caso, há uma demência grave, em curso progressivo acelerado. Demências degenerativas Doença de Alzheimer (DA) Fatores de risco e fatores protetores Demências 16 A DA representa 70 a 80% dos casos de demência, sendo uma causa extremamente prevalente. Acredita-se que há tendência de aumento nesse número devido ao evidente envelhecimento populacional. Inúmeros fatores associados a maior propensão ao desenvolvimento da DA tem sido estudados e evidenciados, bem como fatores protetores, estes que ainda são controversos na literatura. Os fatores de risco mais importantes para DA são: idade; história familiar; grupo genético ApoE4, SORL1, PSEN1 e PSEN2; doenças vasculares e metabólicas como hipertensão arterial, AVC e diabetes; estilo de vida como tabagismo e sedentarismo e elementos sociodemográficos como escolaridade. Dentre os fatores protetores destacam-se atividade física regular, atividades intelectuais e sociais; alta escolaridade; dieta rica em antioxidantes; uso de estatinas e anti-inflamatórios de forma moderada durante a vida. Fatores de risco Fatores protetores Idade avançada Atividade física regular Grupo genético ApoE4, SORL1, PSEN1 e PSEN2 Estímulo intelectua/escolaridade Doenças vasculares Dieta rica em antioxidantes Doenças metabólicas Uso de estatinas Tabagismo Uso de anti-inflamatórios durante a vida Sedentatrismo Elementos sociodemográficos Fisiopatologia A Doença de Alzheimer envolve inúmeras alterações anatomopatológicas com achados clássicos extracelulares e intracelulares, com atrofia cerebral progressiva, formação de placas senis ou neuríticas e emaranhados neurofibrilares. As placas senis são formadas por acúmulo de extracelular de proteína B-amiloide. Existem dois efeitos sequentes, a clivagem anormal da proteína precursora (PRA), gerando erro enzimático, oxidação e peroxidação lipídica, formação de placas neuríticas, inflamação, ativação de apoptose e morte neuronal, além de mudança na função colinérgica e de outros neurotransmissores ocasionando prejuízo no processo de informações neuronais. Ainda na fisiopatologia da DA entra o papel da proteína TAU que, quando hiperfosforilada culmina na formação de inclusões filamentares intracitoplasmáticas, emaranhados neurofibrilares, morte neuronal e aumento do líquido cefalorraquidiano (LCR). Demências 17 Demências 18 Quadro clínico São evidentes as alterações cognitivas envolvendo memória, linguagem, praxia, gnosia e função executiva. Dentre esses, a memória costuma ser o principal elemento alterado com esquecimentos cotidianos como uma panela no fogão ou um número de celular que antes havia gravado na memória. Com o avanço da doença há amnésia retrógrada e remota evidenciadas. Há prejuízo no aprendizado e na retenção de informações novas. Manifestações não cognitivas como sintomas comportamentais e sintomas psicológicos também podem estar em associação, por exemplo, a depressão, ansiedade, apatia e irritabilidade. Tais sintomas ocorrem em cerca de 80 a 90% dos pacientes, sendo muitas vezes mais evidentes do que as alterações de memória. Existem três estágios da doença: estágio 1, com amiloidose assintomática; estágio 2 com amiloidose + sinais de neurodegeneração e estágio 3 quando há amiloidose, sinais de neurodegeneração e declínio cognitivo. Fase leve Fase moderada Fase Grave Progressão Estágio 1 Amiloidose assintomática Traços de amilóide no PET CAN Redução da beta amilóide no LCR Estágio 2 Amiloidose + sinais de neurodegeneração Demências 19 Disfunção neuronal em exames de neuroimagem funcional Aumento da proteína TAU no LCR Atrofia hipocampal na RMN Estágio 3 Amiloidose + neurodegeneração + declínio cognitivo Mudança na cognição basal Dsempenho ruim em tarefas mais complexas A progressão da DA pode ser também avaliada pelo tempo de instalação das alterações. A fase pré-clínica cursa com comprometimento cognitivo leve. Nos primeiros anos (1-3 anos) é denominada fase leve; 2 a 8 anos caracteriza a fase moderada e 6 a 12 anos a fase grave já com comprometimento avançado com funcionalidade prejudicada. Evolução de 8 à 23 anos A doença de Alzheimer inicia-se com comprometimento cortical e progride para comprometimento subcorticais (núcleos da base — planejamento motor) Diagnóstico Sempre avaliar a história clínica de forma detalhada, aplicar os testes de cognição e, se necessário, auxiliar com exames complementares como ressonância magnética que poderá evidenciar atrofia hipocampal. Atenção, pois o diagnóstico é clínico. O PET –CT também é um exame importante, pois mede a atividade de glicose no SNC, logo, regiões atrofiadas terão diminuição importante da glicose. Tratamento Não há tratamento com evidência de cura ou interrupção de avanço da doença. Dentre os mais utilizados são anticolinesterásicos e memantina. A estimulação cognitiva é o principal aspecto do tratamento, pois favorece o retardamento da perda de funcionalidade. Demência vascular (secundárias) As manifestações clínicas dependem do tipo de AVC, bem como localização: DEMÊNCIA POR MÚLTIPLOS INFARTOS Ocorrem infartos cerebrais múltiplos, envolvendo áreas corticais e subcorticais, com início abrupto, progressão rápida, sinais piramidais, hemiparesia, perda hemi-sensorial, déficits neuropsicológicos e prejuízo de memória. DEMÊNCIA POR INFARTO ÚNICO EM POSIÇÃO ESTRATÉGICA Demências 20 Deve-se a danos em áreas funcionalmente importantes, sendo a sintomatologia definida de acordo com a área lesada. DOENÇA DOS PEQUENOS VASOS Pode ocasionar lesões corticais e subcorticais. Os infartos subcorticais ocorrem com frequência na substância branca do cérebro e há sintomas como prejuízo de memória, função executiva anormal, retardo psicomotor, euforia, psicose, hemiparesia, dentre outros. A doença de Binswanger é conhecida pela afecção com múltiplos infartos na substância branca frontal gerando sinais pseudobulbares, abulia, alterações do comportamento, sinais piramidais bilaterais, distúrbios de memória e de atenção, retardo psicomotor, distúrbios de marcha, incontinência urinária e parkinsonismo. HIPOPERFUSÃO Ocorre afasia transcortical, prejuízo de memória, apraxia e déficits visoconstrutivos. “DEMÊNCIA HEMORRÁGICA” Ocorre por hematomas subdurais crônicos, hematoma intracerebral ou hemorragia subaracnóidea. Para diagnóstico é essencial à associação entre história clínica, exame físico, avaliação neuropsicológica e exames complementares, tanto laboratoriais quanto de imagem. Dentre os exames de imagem destacam-se a ultrassonografia de carótidas, tomografia computadorizada e ressonância magnética para avaliar lesões cerebrais. São elencados três critérios diagnósticos: 1- diagnóstico de demência; 2) evidência da presença de doença cerebrovascular, demonstrada pela história, pelo exame clínico ou pelos exames de neuroimagem; 3) a demência e a doençacerebrovascular precisam estar relacionadas. Após identificada a patologia o tratamento é iniciado com prevenção de riscos e agravamento da doença como cuidados em casa e apoio familiar; combate a fatores de risco para outros eventos embólicos isquêmicos como cessar o tabagismo e controle de doenças crônicas como diabetes mellitus, se presentes. Há indicação de anticoagulantes se evidenciado risco de trombose elevado para evitar outros eventos isquêmicos associados a drogas antiplaquetárias como aspirina que também são uteis na prevenção de AVC. Acompanhamento interdisciplinar com fisioterapia e psicologia, por exemplo, são essenciais para a recuperação de déficits focais e definem melhor prognóstico. Recomendações Intervenções que promovem a atividade física Deve ser recomentado a atividade físicas a todosos adultos com uma função cognitica normal para reduzir o risco de deteriorização cognitiva Pode ser recomendado a atividade física aos adultos com deteriorização cognitiva leve para reduzir os risco de progressão Intervenções quanto ao uso de tabaco Deve ser oferecido intervenções para abandonar o consumo de tabaco por todos os adultos que usam pois isso pode reduzir os riscos de deteriorização cognitiva e demencia. Intervenções nutricionais Recomenda-se uma alimentação similar a mediterrânea ou conforme as recomendações da OMS a todos os adultos com função cognitiva normal ou com deteriorização cognitiva leve para reduzir o risco de deteriorização cognitiva o de demência Não deve ser recomendado vitaminas B e E, ácidos graxos poliinsaturados, suplementos multicomplexos para reduzir o risco de deteriorização cognitiva e demência Intervenções para os transtornos por consumo de alcool Deve-se oferecer intervenções dirigidas à redução ou cesação do consumo perigoso e nocivo de bebidas alcoolicas aos adultos com uma função cognitiva normal ou com deteriorização cognitiva leve para reduzir o risco de deteriorização cognitiva e o de demencia, ademais, pode fornecer outros benefícios para a saúde Intervenções cognitivas Pode-se oferecer treinamento cognitivo para idosos com função comprometimento cognitivo normal ou comprometimento cognitivo leve para reduzir o risco de comprometimento cognitiva ou demência Atividade social Evidências sobre a atividade social em relação à redução do risco de comprometimento cognitivo ou demência é insuficiente. A participação social e o apoio social estão altamente ligados a uma boa saúde e ao bem-estar ao longo da vida, devendo a inclusão Demências 21 social ser apoiada ao longo da vida curso da vida Manejo do peso Intervenções para sobrepeso ou obesidade podem ser oferecidas na meia-idade para reduzir o risco de declínio cognitivo ou demência. Manejo da hipertensão Tratamento anti-hipertensivo deve ser oferecido a adultos com hipertensão, de acordo com diretrizes atuais da OMS. O tratamento anti-hipertensivo pode ser oferecido a adultos com hipertensão, a fim de reduzir o risco de declínio cognitivo ou demência. Manejo da Diabetes Adultos com diabetes devem receber tratamento com medicamentos ou intervenções no estilo de vida, de acordo com as diretrizes atuais da OMS. Adultos com diabetes podem receber tratamento para reduzir o risco de declínio cognitivo ou demência. Manejo da dislipidêmia O tratamento da dislipidemia pode ser oferecido na meia-idade para reduzir o risco de comprometimento cognitivo ou demência. Manejo da depressão Atualmente, as evidências são insuficientes para recomendar o uso de drogas antidepressivos para reduzir o risco de declínio cognitivo ou demência. O tratamento da depressão que consiste em medicamentos deve ser fornecido antidepressivos ou intervenções psicológicas para adultos com depressão, de acordo com diretrizes atuais do mhGAP da OMS. Manejo da hipoacusia As evidências são insuficientes para recomendar o uso de aparelhos auditivos para reduzir o risco de comprometimento cognitivo ou demência. Triagem seguida de fornecimento de aparelhos auditivos deve ser oferecida a pessoas idosas para detecção e tratamento oportunos de perda auditiva, de acordo com as diretrizes da OMS sobre Atenção Integrada ao Idoso (AIPM). Também é importante ressaltar a importância da utilização de ações, estratégias e tecnologias capazes de auxiliar cuidadores e idosos na realização das ABVD e AIVD. Dentre as tecnologias, aponta-se a Tecnologia Assistiva (TA), utilizada para manutenção ou melhoria da capacidade funcional de pessoas portadoras de alguma deficiência, compreende o uso de dispositivos, equipamentos e processos. Ademais, tem o potencial de melhorar a qualidade de vida, gerenciando riscos e personalizando o suporte. As TA têm potencial promissor para o cuidado de idosos com demência, possibilitando avanços na forma de cuidar e diminuição da sobrecarga do cuidador. Neste sentido, pesquisas apontam a importância do preparo e da inclusão do cuidador no processo de avaliação e capacitação do uso de TA. A inclusão do cuidador em pesquisas envolvendo idosos com demências fornece benefícios para paciente, cuidador e pesquisador, uma vez que confere valor adicional às intervenções. “Tecnologia Assistiva é uma área do conhecimento, de característica interdisciplinar, que engloba produtos, recursos, metodologias, estratégias, práticas e serviços que objetivam promover a funcionalidade, relacionada à atividade e participação, de pessoas com deficiência, incapacidades ou mobilidade reduzida, visando sua autonomia, independência, qualidade de vida e inclusão social”. Outras definições internacionais sobre o tema também foram incluídas, como a categorização das TAs, que se dividem em 12 classes: 1. Auxílio para a vida diária e prática; 2. Comunicação aumentativa e/ou alternativa; 3. Recursos de acessibilidade ao computador; 4. Sistemas de controle de ambiente; 5. Projetos arquitetônicos para acessibilidade; 6. Órteses e próteses; 7. Adequação de postura; Demências 22 8. Auxílio de mobilidade; 9. Auxílios para qualificação da habilidade visual e recursos que ampliam a informação para pessoas com baixa visão ou cegas; 10. Auxílios para ampliação da habilidade auditiva e para autonomia na comunicação de pessoas com déficit auditivo, surdez ou surdocegueira; 11. Adequação em veículos e em ambientes de acesso ao veículo; 12. Esporte e lazer. Tais tecnologias são desenvolvidas com o objetivo de tornar a vida de pessoas mais fácil e agradável. A partir disso, algumas alternativas tecnológicas foram criadas pensando na equidade de acesso das pessoas com deficiência às novas tecnologias. Leitores de tela e ampliadores de imagem (para pacientes com deficiências visuais) Hand talk (comunicação alternativa para pacientes que utilizam Libras) Be my eyes (voluntários “videntes” para pessoas com deficiência visual) Bengala eletrônica (auxiliar as pessoas com dificuldades motoras a se movimentar com mais facilidade e com mais segurança em ambientes, como as grandes cidades, que possuem obstáculos e podem gerar um impasse na locomoção) Pernas robóticas (auxliar pessoas sem pernas) STAND TABLE (auxilio de mobilidade e adequação da postura) Para idosos com demência Sistema de monitoramento noturno. Estímulos por comandos verbais. Sistema de monitorização de atividades e de localização. Assistência de navegação robotizada de idosos. Enfatiza-se que as TA devem ser propostas no estágio prodrômico da demência, pois poderá ajudar a promover a independência e maximizar a qualidade de vida, sendo adaptáveis às fases da demência. Também reforça-se a importância da aplicação das tecnologias na residência. Há crescente corpo de evidências que sugere o potencial das tecnologias para apoiar os cuidados de idosos com demência em casa e, assim, melhorar a qualidade de vida dos cuidadores, além de reduzir custos de assistência e cuidados institucionais precoces. O sistema de monitoramento noturno consiste em potencial solução, pois permite a redução do risco de ocorrência de quedas,possibilita maior tempo de descanso ao cuidador, diminuindo a sobrecarga, além de reduzir a probabilidade de institucionalização. Todavia, sugere- se que estudos com maior rigor metodológico sejam desenvolvidos e que a mensuração dos eventos noturnos, como lesões por quedas e saídas noturnas, seja aprimorada. As tecnologias de monitoramento aliviam preocupações com a segurança de pacientes em períodos de ausência do cuidador, tendo como objetivos o acompanhamento das AVD, a vigilância em caso de quedas e a detecção de mudanças no estado de saúde. Quanto aos sistemas de localização, constata-se que o uso do GPS aumenta a capacidade dos idosos de se deslocar de maneira independente, promovendo diminuição do estresse da díade. No que se refere ao uso de intervenções com comandos verbais, estudo reforça que a intervenção com maior potencial para melhorar o desempenho das atividades diárias em pessoas com demência é o treinamento orientado para tarefa. O treinamento orientado à tarefa (TOT) é fundamentado pela neuroplasticidade e tem sido estudado em indivíduos com acidente vascular cerebral (AVC), devido sua influência na recuperação da função motora. Terapia Orientada à Tarefa é uma abordagem terapêutica desenvolvida pelas Fisioterapeutas Australianas Roberta Shepherd e Janet Carr na década de 1980. Seu embasamento científico tem respaldo na teoria de sistemas de controle motor e teorias contemporâneas de aprendizagem motora. O modelo de sistemas propõe que o desempenho de ações motoras emerge da interação e cooperação das características do indivíduo, da tarefa, e do ambiente. Para a Fisioterapia, a aplicação desta abordagem terapêutica é através da avaliação físico-funcional dos componentes biomecânicos determinantes do sucesso da tarefa e seu treinamento dentro do contexto específico da ação motora avaliada. O treinamento orientado à tarefas inclui uma ampla gama de intervenções, como treinamento em esteira, treinamento de caminhada no chão, treinamento de resistência e treinamento em circuito, exercícios de sentar e levantar e tarefas para melhorar o equilíbrio. Além Demências 23 disso, é usado o treinamento dos componentes motores do membro superior, necessários para a realização de tarefas como alcançar e pegar objetos. Porém há também outras terapias como: Orientação para a realidade É uma técnica terapêutica utilizada para ajudar a pessoa com demência a restabelecer o contato com o seu meio envolvente (com a sua realidade). A orientação para a realidade não deve ser aplicada de uma forma muito rigorosa. Quer isto dizer que a orientação deve ser trabalhada de forma sútil nas tarefas do dia-a-dia. Não existem evidências de que o treino isolado da data (dia, mês, ano) seja eficaz para melhorar a orientação temporal. Em vez disso, podemos introduzir na conversa comentários tais como “Estou tão cheia depois deste almoço!” (trabalhar a noção da hora do dia), “Hoje está um dia tão chuvoso… Nem parece que estamos na primavera!” (trabalhar a noção da estação do ano). Diga o nome da pessoa com demência frequentemente. Pode colocar calendários/quadros de orientação (preferencialmente de grande dimensão) em várias divisões da casa, de maneira a que sejam visíveis. Ao utilizar estas pistas de orientação, é importante não por a pessoa à prova. Evite perguntar “Em que ano estamos?”, “Quando é que faz anos?”, “Que horas são?” É muito provável que a pessoa não consiga responder e que fique frustrada com um contato dessa natureza. Em vez disso, comente as horas: “Está quase na hora do almoço. Vamo-nos arranjar?”. Promova a discussão em torno de temas da atualidade. Para esse efeito, retire notícias do jornal do dia e adapte-as para facilitar a sua compreensão (ex: apresente apenas o título e faça um breve resumo oral da notícia). Faça perguntas que não estão associadas a uma resposta certa ou errada de modo a promover a partilha de opiniões independentemente do conteúdo da resposta. A orientação para a realidade nunca é aplicada de forma isolada mas é frequentemente introduzida em sessões de intervenção não farmacológica. A pessoa pode ser orientada para a época do ano através da simples utilização de alimentos sazonais (ex: castanhas; cerejas) numa sessão de culinária. Também é de referir que nem todos os momentos são oportunos para fazer uma orientação para a realidade. Devemos escolher a abordagem que mais se adequa ao estado emocional da pessoa naquele momento e à sua personalidade. Por exemplo, se a pessoa com demência nos pergunta “Onde está a minha mãe?”, não é benéfico responder “A sua mãe já morreu há 30 anos. Estamos em 2016.” Neste caso, será mais adequado validar o sentimento que está por detrás desta pergunta – possivelmente a pessoa está a perguntar pela mãe porque tem saudades dela. “Fale-me um bocadinho da sua mãe…O que é que mais gostava nela?” Assim, a aplicação desta técnica requer alguma sensibilidade e, por isso, é desejável que seja realizada por um profissional ou, alternativamente, que o cuidador informal seja orientado para a aplicar da melhor forma em casa. O treinamento em circuito orientado para tarefa (TCOT) é baseado em estações de trabalho que reproduzem atividades físicas executadas no dia-a-dia do indivíduo, ou seja, caminhar, subir escadas, manter equilíbrio, vestir-se, com o objetivo de aprendizagem motora e retenção da tarefa. O TCOT é considerado uma boa opção de tratamento, pois além de proporcionar a prática intensiva das necessidades individuais; pode englobar dinâmicas de grupo que auxiliam na interação social que promove benefícios psicossociais, melhora do humor e da autoconfiança. Pode ter como objetivos primários a qualidade da execução, o tempo de execução ou a progressão das atividades; além disso, os pacientes, talvez pela vontade de se superarem, ficam mais engajados com a terapia em comparação aos tratamentos tradicionais. Reabilitação Neuropsicológica aplicada as Demências (RNAD) Conjunto de intervenções diagnósticas e terapêuticas com objetivo de restaurar a capacidade funcional do indivíduo, otimizando o potencial individual e minimizando os riscos de disfuncionalidade. Ela visa melhorar dificuldades cognitivas, emocionais e comportamentais decorrentes de lesão cerebral e ajuda a integrar um senso de identidade baseado em elementos da personalidade pré e pós-lesão. A reabilitação neuropsicológica auxilia, ainda, o enfrentamento da doença pela família e pelo paciente e prepara ambos para o futuro. Seus conteúdos são a reabilitação emocional, a autoconsciência e o self. Para isso, o paciente deve desempenhar um papel ativo em seu processo reabilitativo, atuando como co-terapeuta. Desta maneira, o paciente deve auxiliar no estabelecimento de metas e estratégias, na avaliação dos resultados e deve engajar-se no desenvolvimento das estratégias estabelecidas. Para que o paciente possa contribuir ativamente em seu tratamento três condições devem ser consideradas: seu nível de insight, a tomada de decisão para a mudança do comportamento e a motivação para a terapia A determinação do nível de insight do paciente relaciona-se, em grande parte, com a natureza e o nível de comprometimento da doença, com o nível intelectual pré-mórbido e com a reação psicológica ao adoecimento (choque, ansiedade, negação, depressão, Demências 24 raiva internalizada, hostilidade externalizada, aceitação intelectual ou adaptação). A dificuldade de autopercepção e de introspecção autocrítica pode gerar um excessivo apego aos objetivos da vida anterior e forte recusa às atividades mais simples, redução das expectativas e mau uso das estratégias compensatórias. A segunda condição, a tomada de decisão para mudanças relaciona-se com a percepção e a avaliação dos déficits e do problema. Ou seja, a decisão de participar ou não de um programa terapêutico depende do equilíbrio entre potencial de melhora e volume de esforços necessários para a melhora. Assim, o processo de tomada de decisão pode ser compreendido através