Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
CONCEITO A doença de Alzheimer (DA) é um transtorno neurodegenerativo progressivo e fatal que se manifesta por deterioração cognitiva e da memória, comprometimento progressivo das atividades de vida diária e uma variedade de sintomas neuropsiquiátricos e de alterações comportamentais. EPIDEMIOLOGIA Considerando a prevalência de demência no Brasil e a população de idosos de aproximadamente 15 milhões de pessoas, a estimativa de demência na população brasileira é de 1,1 milhão. Uma revisão sistemática recente encontrou taxas de demência na população brasileira variando de 5,1% a 17,5%, sendo a DA a causa mais frequente. No Brasil, a depressão tem uma prevalência de até 7% em idosos com demências. Os sintomas raramente surgem antes dos 50 anos de idade, acometendo 5% a 10% dos pacientes acima de 65 anos e 20% a 405 em idosos acima dos 85 anos. Geralmente os casos são de apresentação isolada, porém, em 5% a 10% dos casos tem ocorrência familiar. Antes da idade de 65 anos, a prevalência ou a proporção de indivíduos com doença de Alzheimer é inferior a 1% de todos os pacientes com a doença, mas isso aumenta rapidamente para um nível entre 5 e 10% à idade de 65 anos e até 30 a 40% à idade de 85 anos ou mais. A incidência especifica por idade, ou o número de casos novos ocorrendo em um período de tempo especffi.co, também aumenta agudamente, de menos de 1% por ano antes da idade de 65 anos para 6,0% por ano para indivíduos com idade de 85 anos ou mais. A duração média dos sintomas até a morte pode ser de 10 anos, com uma faixa de variação de 4 a 16 anos. As mulheres sobrevivem por mais tempo à doença que os homens. As taxas de incidência da doença de Alzheimer também são um pouco mais elevadas em mulheres, especialmente depois da idade de 85 anos. Em famílias com pelo menos um indivíduo afetado, mulheres que sejam familiares em primeiro grau têm um risco maior em toda a vida de vir a apresentar doença de Alzheimer que os homens. FATORES DE RISCO Os fatores de risco bem estabelecidos para DA são idade e história familiar da doença (o risco aumenta com o número crescente de familiares de primeiro grau afetados). Outros fatores de risco relatados são: ➢ Fatores genéticos (alelo APOE4) ➢ Comprometimento cognitivo leve ➢ Estilo de vida (uso de álcool e outras drogas, lícitas e ilícitas, alimentação, obesidade, entre outros) ➢ Relacionados às doenças cardiovasculares (DCVs). Vários fatores de risco antecedentes foram associados à doença de Alzheimer. A doença depressiva e os traumas cranioencefálicos se associam a um risco aumentado. Os antecedentes para doenças cardíacas e doenças cerebrovasculares aumentam com a idade, e dados tanto clínicos como de necropsia sugerem que esses fatores vasculares também se associam a um risco mais alto de doença de Alzheimer. Os – mecanismos propostos incluem uma doença cerebrovascular ou lesão concomitante, estresse oxidativo, geração de produtos finais com glicosilação avançada ou hiperinsulinemia. A resistência à insulina aumenta com a idade e confere um risco aumentado de evoluções finais cardiovasculares e cerebrovasculares em comparação aos indivíduos que não apresentam resistência à insulina. Enquanto alguns fatores de risco ambientais, demográficos e relacionados com a saúde ainda podem emergir como antecedentes consistentes da doença de Alzheimer, é mais provável que esses fatores sejam modificadores de riscos genotípicos (Quadro 113.2). TIPOS DE DEMÊNCIA Demência é um estado na qual o indivíduo pode apresentar diversos sintomas associados como: perda de memória progressiva e frequente, confusão, mudança de personalidade, apatia e afastamento, perda da habilidade de executar tarefas do dia a dia, entre outros. Vale ressaltar que a demência não é uma doença, mas se caracteriza pela agregação de sintomas desenvolvidos por distúrbios no cérebro, a principal característica é a diminuição da habilidade cognitiva. A maioria das pessoas que apresentam demência são idosos, entretanto a demência pode acometer diferentes faixas etárias, embora incomum. Indivíduos que desenvolvem demência antes dos 65 anos tem o que chamam de younger onset dementia. Os variados tipos de demência hereditários são de portadores que possuem uma mutação específica em um gene. O diagnóstico de demência é feito quando em uma avaliação médica se tem a constatação que duas ou mais funções cognitivas foram significativamente prejudicadas. Essas funções geralmente são: a memória, linguagem, entendimento de informações, noções de espaço, julgamento e atenção, a função comprometida depende de qual região do cérebro foi afetada. A demência tem caráter progressivo, e se diferencia, por exemplo, em alguns tipos de demência as células cerebrais ficam inativas, em outras, essas células perdem conexão com outras células e morrem. As principais doenças que causam a demência são: Mal de Alzheimer, Demência vascular, Demência com corpos de Lewy e Demência frontotemporal. O mal de Alzheimer também chamado de Doença de Alzheimer (DA) se classifica como a forma mais frequente de demência que acometem idosos. Causa declínio gradual das habilidades cognitivas, que tem como início a perda de memória, sendo inclusive o que leva ao indivíduo ou parentes próximos procurarem auxílio médico. A DA tem por característica duas alterações cerebrais: placa de beta- amiloide e emaranhado neurofibilares. As placas de beta- amiloide fazem parte de um grupo anormal de proteínas, e os emaranhados são formados por filamentos “torcidos” da proteína tau. Segundo o Ministério da Saúde os principais sintomas que acometem os indivíduos com DA são: falta de memória, dificuldade para acompanhar conversações ou pensamentos complexos, incapacidade de elaborar estratégias para resolver problemas, dificuldade para dirigir automóvel e encontrar caminhos conhecidos, dificuldade para encontrar palavras que exprimam ideias ou sentimentos pessoais, irritabilidade, suspeição injustificada, agressividade, passividade, interpretações erradas de estímulos visuais ou auditivos, tendência ao isolamento. A Demência vascular é uma doença cerebrovascular que causa uma deficiência cognitiva, e se caracteriza por possuir danos nos vasos sanguíneos cerebrais. A causa para seu desenvolvimento pode advim de um derrame ou após muitos derrames. A hipertensão arterial, diabetes mellitus, dislipidemia e tabagismo são os principais fatores de risco para a demência vascular. Os sintomas dependem do local afetado, como por exemplo, nos infartos subcorticais: alterações de funções executivas, alterações de memória, linguagem, praxias, alucinações, delírios, alterações da marcha e esfincterianas. O diagnóstico depende da comprovação de alterações nos vasos sanguíneos do cérebro por exame neurológico ou por exames de imagem, também a partir de sinais clínicos de comprometimento de funções especificas que começam a causar prejuízos na rotina do indivíduo. A Demência com Corpos de Lewy (DLC) como o nome remete tem sua principal característica pela presença de corpos de Lewy no cérebro. As células nervosas passam a conter aglomerados anormais de proteína alfa-sinucleína (os chamados corpos de Lewy). Esses aglomerados começam a causar distúrbios cerebrais que ocasionam em mudanças no movimento, pensamento e comportamento, tais como flutuações na atenção e pensamento, um dos sintomas muito comum na DCL são as alucinações visuais. Infelizmente os indivíduos portadores que possuíam um desempenho quase normal, podem simplesmente começar a apresentar severa confusão. Alguns autores defendem que a DCL é uma variante do Mal de Alzheimer (DA), e outros acreditam que seja uma patologia distinta. Diantedessa polemica foi feita uma conferência para que pudesse unificar os dados e obter clareza na questão dos principais sintomas de DLC e principalmente qual são os critérios para diagnóstico. Desse modo para o provável diagnóstico foi definido que precisaria possuir no mínimo a presença de duas dos três critérios clínicos: a) cognição flutuante com variações pronunciadas na atenção e alerta, b) alucinações visuais recorrentes, as quais caracteristicamente são bem formadas e detalhadas, c) características motoras espontâneas de parkinsonismo. As características suportivas ao diagnóstico de DCL são: quedas repetidas, síncope, perda transitória da consciência, sensibilidade a antipsicóticos, delírios sistematizados e alucinações de outras modalidades. A demência frontotemporal também chamada de Degeneração Lobar FrontoTemporal (DLFT), é de grande importância quando falamos de demência degenerativa em idosos, pois é bem frequente. A DLFT tem como característica modificações de comportamento, bem como da personalidade, e de acordo com os testes psicométricos tradicionais que são realizados, também se observa disfunção executiva, mas o funcionamento cognitivo se mantém preservado de forma relativa, principalmente a memória e habilidades visuoespaciais. Ela pode se dividir, caso as principais alterações forem as comportamentais, é chamada de variante comportamental da DLFT, já se as principais alterações forem das habilidades linguísticas, têm-se as afasias progressivas primárias (demência semântica e afasia progressiva não fluente). Os principais sintomas decorrentes de lesão em áreas de lobo pré-frontal são: redução de empatia, afeto inapropriado, irritabilidade e perda de autocrítica. Lesão na parte anterior do giro de cíngulo: apatia. Lesão orbitofrontal: alterações da preferência alimentar, hipersexualidade e comportamento de utilização. Lobo temporal direito: comportamento antissocial, hiperreligiosidade e comportamento compulsivo. E em 20% dos casos pode-se encontrar sinais e sintomas de parkinsonismo. No que se diz respeito ao aspecto hereditário, um estudo apontou que 40% dos pacientes possuíam casos no histórico familiar, e 10-20% se encaixam no perfil de herança autossômica dominante. ETIOLOGIA A etiologia de DA permanece indefinida, embora progresso considerável tenha sido alcançado na compreensão de seus mecanismos bioquímicos e genéticos. É sabido que o fragmento de 42 aminoácidos da proteína precursora B-amiloide tem alta relevância na patogênese das placas senis e que a maioria das formas familiais da doença é associada à superprodução dessa proteína. Algumas proteínas que compõem os enovelados neurofibrilares, mais especialmente a proteína Tau hiperfosforilada e a ubiquitina, foram identificadas, mas a relação entre a formação das placas, a formação do enovelado neurofibrilar e a lesão celular permanece incerta. Sabe-se que o alelo E4 do gene da apolipoproteína E (ApoE) é cerca de três vezes mais frequente nas pessoas com DA do que nos sujeitos-controle pareados por idade e que pessoas homozigotas para esse gene apresentam maior risco para a doença do que as não homozigotas. Entretanto, a especificidade e a sensibilidade do teste da ApoE são muito baixas para permitir seu uso como teste de rastreamento na população geral. FISIOPATOLOGIA A DA se instala, em geral, de modo insidioso e se desenvolve lenta e continuamente por vários anos. As suas alterações neuropatológicas e bioquímicas podem ser divididas em duas áreas gerais: mudanças estruturais e alterações nos neurotransmissores ou nos sistemas neurotransmissores. As mudanças estruturais incluem os enovelados neurofibrilares, as placas neuríticas e as alterações do metabolismo amiloide, bem como as perdas sinápticas e a morte neuronal. As alterações nos sistemas neurotransmissores estão ligadas às mudanças estruturais (patológicas) que ocorrem de forma desordenada na doença. Alguns neurotransmissores são significativamente afetados ou relativamente afetados, indicando um padrão de degeneração de sistemas. Porém, sistemas neurotransmissores podem estar afetados em algumas áreas cerebrais, mas não em outras, como no caso da perda do sistema colinérgico córtico-basal e da ausência de efeito sobre o sistema colinérgico do tronco cerebral. Efeitos similares são observados no sistema noradrenérgico. Além da degeneração do sistema colinérgico, ocorre também aumento da perda dos neurônios glutaminérgicos, com distúrbios nos receptores N-metil-Daspartato (NMDA – receptor glutaminérgico) e na expressão do receptor do ácido α-amino-3-hidroxi-5- metil-4- isoxazolepropiônico no córtex cerebral e hipocampo ao longo da evolução da DA. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS A progressão da DA compromete as funções cognitivas, emocionais e funcionais, interferindo em todo o cenário biopsicossocial do portador, tornando-o mais vulnerável ao surgimento de sinais e sintomas depressivos. COMPLICAÇÕES E PROGNÓSTICO A evolução das demências primárias é inexorável, com piora progressiva e alguns momentos de estabilização. As demências secundárias, quando seu tratamento for possível, podem estabilizar-se e até ter alguma recuperação. Pneumonia, episódios febris e transtornos alimentares são complicações frequentes em pessoas com demência avançada. Essas complicações estão associadas a maiores taxas de mortalidade em um prazo de 6 meses. A adequação dos serviços e das equipes de saúde envolvidos no cuidado dessas pessoas, junto às famílias, pode evitar intervenções agressivas e desnecessárias. Como é uma síndrome fortemente associada à idade, é frequente a medicalização, com uso abusivo de medicamentos, bem como a realização excessiva de exames. O reconhecimento de que as demências são, em geral, irreversíveis causa um sentimento de impotência e desejo de intervenção, porém a busca excessiva por diagnósticos e tratamentos traz mais desconforto e descontentamento. É bastante polêmica a questão sobre a manutenção em vida de uma pessoa profundamente demenciada. A humanização do cuidado muitas vezes conflita com a escolha da hora certa para morrer e ganhos secundários obtidos a partir de eventuais benefícios vitalícios. Maus-tratos e abandono derivam da rede social e da história de vida, devendo-se estar atento à falta de cuidados. A identificação de fatores de risco e da doença em seu estágio inicial e o encaminhamento ágil e adequado para o atendimento especializado dão à Atenção Básica um caráter essencial para um melhor resultado terapêutico e prognóstico dos casos. CONDUTA DIAGNÓSTICA O processo de investigação diagnóstica para preencher os critérios inclui história completa (com paciente e familiar ou cuidador): • Avaliação clínica – incluindo a escala de avaliação clínica da demência (CDR, Apêndice 2) • Rastreio cognitivo – testes cognitivos como o Mini-Exame do Estado Mental (MEEM, Apêndice 1). • Exames laboratoriais – hemograma completo, eletrólitos (sódio, potássio, cálcio), glicemia, ureia e creatinina, TSH e alaninoaminotransferase (ALT/TGP), aspartato-aminotransferase (AST/TGO), vitamina B12, ácido fólico –, sorologia sérica para sífilis (VDRL) e HIV (em pacientes com menos de 60 anos). • Imagem cerebral (TC sem contraste ou RM). Demência é diagnosticada quando há sintomas cognitivos ou comportamentais (neuropsiquiátricos) que: (a) interferem com a habilidade no trabalho ou em atividades usuais; (b) representam declínio em relação a níveis prévios de funcionamento e desempenho; (c) não são explicáveis por delirium (estado confusional agudo) ou doença psiquiátrica maior. O comprometimento cognitivo é detectado e diagnosticado mediante a combinação de anamnese com paciente e informanteque tenha conhecimento da história do paciente e de avaliação cognitiva objetiva, mediante exame breve do estado mental ou avaliação neuropsicológica. Os comprometimentos cognitivos ou comportamentais devem afetar no mínimo 2 dos seguintes campos: Memória → caracterizado por comprometimento da capacidade para adquirir ou evocar informações recentes, com sintomas que incluem repetição das mesmas perguntas ou assuntos e esquecimento de eventos, compromissos ou do lugar onde guardou seus pertences; Funções executivas → caracterizado por comprometimento do raciocínio, da realização de tarefas complexas e do julgamento, com sintomas como compreensão pobre de situações de risco e redução da capacidade para cuidar das finanças, de tomar decisões e de planejar atividades complexas ou sequenciais; Habilidades vísuo-espaciais → com sintomas que incluem incapacidade de reconhecer faces ou objetos comuns ou de encontrar objetos no campo visual, ou dificuldade para manusear utensílios ou para vestir-se, inexplicáveis por deficiência visual ou motora; Linguagem → (expressão, compreensão, leitura e escrita), com sintomas que incluem dificuldade para encontrar ou compreender palavras, erros ao falar e escrever, com trocas de palavras ou fonemas, inexplicáveis por déficit sensorial ou motor; Personalidade ou comportamento, com sintomas que incluem alterações do humor (labilidade, flutuações incaracterísticas), agitação, apatia, desinteresse, isolamento social, perda de empatia, desinibição e comportamentos obsessivos, compulsivos ou socialmente inaceitáveis. ANAMNESE Fazer um questionário breve de 8 perguntas aos informantes/cuidadores, e ver se houve aumento ou aparecimento dos seguintes déficits? (dois ou mais): ► Problemas com julgamento. ►Diminuição do interesse em hobbies/atividades ► Repetição de perguntas, histórias, sentenças ►Dificuldades em aprender a usar uma ferramenta ou aparelho. ► Esquecer-se do mês ou ano. ► Dificuldades em lidar com dinheiro e contas. ► Dificuldades em se lembrar de compromissos e de horários. ► Problemas com o pensamento e a memória. EXAME FÍSICO GERAL É importante para buscar sinais de demências secundárias, bem como para a avaliação integral da pessoa, que, em geral, tem múltiplas comorbidades. Deve-se realizar um exame neurológico cuidadoso em busca de alterações neurológicas focais; entretanto, a sobreposição de doenças degenerativas do SNC é muito comum. Ectoscopia – Estado geral (bom/mau/regular); Orientação do paciente ao tempo e espaço; Colaboração ao exame médico (ativo/irresponsivo. Colaborativo/não- colaborativo); Padrão respiratório (com/sem sinal de desconforto respiratória); Mucosas (palidez/corado hidratado/desidratado, cianotico/acianotico: icterico/anicterico). Sinais vitais – pressão arterial; frequência cardíaca, frequência respiratória, temperatura axilar. Ausculta – ruídos respiratórios: murmúrio vesicular (bem distribuído/reduzido em algum segmento), ruídos adventícios: roncos, sibilos, cornagem, atrito pleural e sons crepitantes. Inspeção – presença de lesões ou não. Palpação – a procura de pontos dolorosos, ou alterações: avaliar dor e sensitividade bilateral. Percussão – som claro pulmonar/maciço/timpânico. Olhos: Inspecionar os globos oculares, córnea, esclerótica: tamanho pupilas e sua reação a luz, inspecionar e palpar as pálpebras; verificar a acuidade visual. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL MINI EXAME DO ESTADO MENTAL (MEEM) É importante realizar uma primeira avaliação mental. Para isso, pode-se utilizar o miniexame do estado mental (ver Quadro 229.4), bem como o teste do desenho do relógio e testes de fluência verbal. Esses testes são úteis para avaliação e acompanhamento clínico. O miniexame pode contribuir com o diagnóstico de demências em contextos de baixa prevalência, não devendo ser usado isoladamente para definição do diagnóstico. Outras duas ferramentas são comumente utilizadas, o Montreal Cognitive Assessment (MoCA) (Avaliação Cognitiva de Montreal) e o Informant Questionnaire on Cognitive Decline in the Elderly (IQCODE) (Questionário do informante sobre declínio cognitivo em idosos). No entanto, eles carecem tanto de respaldo científico quanto de validação para o contexto brasileiro. Uma dica com alto grau de subjetividade é observar como a pessoa com demência tenta realizar os testes com mais vigor e responde incorretamente às questões, ao passo que a pessoa com depressão empenha-se menos para respondê-las. O miniexame do estado mental também pode ser usado para verificar a competência da pessoa em tomar decisões sobre seu próprio tratamento. O teste do desenho do relógio é realizado solicitando-se que a pessoa desenhe um relógio analógico corretamente, desenhando os ponteiros na hora referida pelo examinador. É importante ater-se a detalhes do relógio que são significativos para sua leitura, como a diferença de tamanho entre o ponteiro das horas e dos minutos e a correta marcação das horas ao redor do círculo. Esse teste pode ser repetido ao longo do tempo e servir como referência para as perdas cognitivas progressivas. O teste de fluência verbal é realizado solicitando-se que a pessoa cite, ao longo de um minuto, todas as palavras relacionadas a um determinado tema que conseguir lembrar. Por exemplo, pede-se que ela diga o nome de todos os animais que lembrar enquanto o examinador confere o tempo. Considera-se normal a lembrança de 15 itens. A longitudinalidade é crucial na atenção primária à saúde (APS), e o contato prolongado com o médico de família e comunidade desde antes do aparecimento dos primeiros sinais facilita a percepção das perdas cognitivas. EXAMES COMPLEMENTARES Exame de imagem cerebral Tomografia computadorizada (TC) ou ressonância magnética (RM) – é útil para excluir lesões estruturais que podem contribuir para a demência, como infarto cerebral, neoplasia e coleções de líquido extracerebral. Exames laboratoriais ✓ Hemograma completo ✓ Eletrólitos (sódio, potássio, cálcio) ✓ Glicemia ✓ Ureia e creatinina ✓ TSH e alaninoaminotransferase (ALT/TGP) ✓ Aspartato-aminotransferase (AST/TGO) ✓ Vitamina B12, ácido fólico ✓ Sorologia sérica para sífilis (VDRL) e HIV (em pacientes com menos de 60 anos), e imagem cerebral (TC sem contraste ou RM). A punção lombar deve ser procedida apenas nos casos de suspeita de: • Câncer metastático • Infecção do sistema nervoso central (SNC) • Pacientes com sorologia sérica reativa para sífilis • Hidrocefalia • Idade menor de 55 anos • Demência rapidamente progressiva ou não usual • Imunossupressão e suspeita de vasculite do SNC. CLASSIFICAÇÃO ESTATÍSTICA INTERNACIONAL DE DOENÇAS E PROBLEMAS RELACIONADOS À SAÚDE (CID-10) • G30.0 Doença de Alzheimer de início precoce • G30.1 Doença de Alzheimer de início tardio. • G30.8 Outras formas de doença de Alzheimer • F00.0 Demência na doença de Alzheimer de início precoce. • F00.1 Demência na doença de Alzheimer de início tardio. F00.2 Demência na doença de Alzheimer, forma atípica ou mista CONDUTA TERAPÊUTICA ATENÇÃO!!! A depressão é uma comorbidade comum e tratável em pacientes com demência e deve ser rastreada. A deficiência de vitamina B12 é comum em idosos, devendo a dosagem de nível sérico de B12 ser incluída na rotina de avaliação. Devido à frequência, o hipotireoidismo deve ser pesquisado nos pacientes idosos. Após 3 a 4 meses do início do tratamento, o paciente deve ser submetido a uma reavaliação. Após esse período, ela deve ocorrera cada 6 meses, para estimar o benefício e a necessidade de continuidade do tratamento pela avaliação clínica e aplicação do MEEM e da Escala CDR. ESQUEMAS DE ADMINISTRAÇÃO Donepezila: iniciar com 5 mg/dia por via oral. A dose pode ser aumentada para 10 mg/dia após 4- 6 semanas, devendo ser administrada ao deitar. Os comprimidos podem ser ingeridos com ou sem alimentos. Galantamina: iniciar com 8 mg/dia, por via oral, durante 4 semanas. A dose de manutenção é de 16 mg/dia por, no mínimo, 12 meses. A dose máxima é de 24 mg/dia. Como se trata de cápsulas de liberação prolongada, devem ser administradas uma vez ao dia, pela manhã, de preferência com alimentos. Em caso de insuficiência hepática ou renal moderada, a dose deve ser ajustada considerando a dose máxima de 16 mg/dia. Rivastigmina: iniciar com 3 mg/dia por via oral. A dose pode ser aumentada para 6 mg/dia após 2 semanas. Aumentos subsequentes para 9 mg/dia e para 12 mg/dia devem ser feitos de acordo com a tolerabilidade e após um intervalo de 2 semanas. A dose máxima é de 12 mg/dia. As doses devem ser divididas em duas administrações, junto às refeições. É desnecessário realizar ajuste em casos de insuficiência hepática ou renal, mas deve-se ter cautela em caso de insuficiência hepática (administrar as menores doses possíveis). No uso de adesivos transdérmicos, inicia-se com a apresentação de 5 cm2 e, se houver boa tolerância em pelo menos 4 semanas de uso, a dose deve ser aumentada para 10 cm2, que é a dose efetiva. Aplica-se um adesivo a cada 24 horas em um dos lados da parte superior do braço, do peito ou da parte superior ou inferior das costas. Pacientes tratados com rivastigminavia oral podem ser transferidos para o tratamento com adesivos transdérmicos da seguinte forma: pacientes que estão recebendo uma dose menor de 6 mg/dia de rivastigmina oral podem ser transferidos para a apresentação de 5 cm2; já os que estão recebendo uma dose de 6- 12mg/dia de rivastigmina via oral podem ser diretamente transferidos para a apresentação de 10 cm2. Recomenda-se que a aplicação do primeiro adesivo seja feita um dia após a última dose oral. Memantina: iniciar com 5 mg/dia por via oral (1/2 comprimido), aumentar 5 mg/semana nas 3 semanas subsequentes até chegar à dose de 20 mg/dia (1 comprimido de 10mg duas vezes por dia) na quarta semana e manter esta dose. CRITÉRIOS PARA USO DE MEDICAMENTOS CRÍTERIOS DE INCLUSÃO PARA INIBIDORES DA ACETILCOLINESTERASE (DONEPEZILA, GALANTAMINA, RIVASTIGMINA): Serão incluídos os pacientes que preencherem todos os critérios abaixo: ➢ Diagnóstico de DA provável, segundo os critérios do NIA-AA e ABN; ➢ MEEM com escore entre 12 e 24 para pacientes com mais de 4 anos de escolaridade ou entre 8 e 21 para pacientes com até 4 anos de escolaridade; ➢ Escala CDR = 1 ou 2 (demência leve ou moderada); ➢ TC ou RM do encéfalo e exames laboratoriais que afastem outras doenças frequentes nos idosos que possam provocar disfunção cognitiva: hemograma completo (anemia, sangramento por plaquetopenia), avaliação bioquímica (dosagem alterada de sódio, potássio, cálcio, glicose, ALT/AST, creatinina), avaliação de disfunção tiroidiana (dosagem de TSH), sorologia para lues (VDRL) e HIV (em pacientes com menos de 60 anos) e nível sérico de vitamina B12 e ácido fólico. PARA MEMANTINA Memantina combinada aos inibidores da acetilcolinesterase: Serão incluídos os pacientes que preencherem todos os critérios abaixo: ➢ Diagnóstico de DA provável, segundo os critérios do NIA-AA, ABN; ➢ TC ou RM do encéfalo e exames laboratoriais que afastem outras doenças frequentes nos idosos que possam provocar disfunção cognitiva: hemograma completo (anemia, sangramento por plaquetopenia), avaliação bioquímica (dosagem alterada de sódio, potássio, cálcio, glicose, creatinina e transferases hepáticas - ALT/TGP e AST/TGO), avaliação de disfunção tiroidiana (dosagem de TSH), sorologia para lues (VDRL) e HIV (em pacientes com menos de 60 anos) e nível sérico de vitamina B12 e ácido fólico. ➢ Escore na escala CDR= 2 (demência moderada); ➢ Escores no MEEM entre 12 e 19, se escolaridade maior que 4 anos, ou entre 8 e 15, se escolaridade menor ou igual a 4 anos. Memantina em monoterapia: Serão incluídos os pacientes que preencherem todos os critérios abaixo: Diagnóstico de DA provável, segundo os critérios do NIA-AA, ABN; TC ou RM do encéfalo e exames laboratoriais que afastem outras doenças frequentes nos idosos que possam provocar disfunção cognitiva: hemograma completo (anemia, sangramento por plaquetopenia), avaliação bioquímica (dosagem alterada de sódio, potássio, cálcio, glicose, creatinina e transferases hepáticas - ALT/TGP e AST/TGO), avaliação de disfunção tiroidiana (dosagem de TSH), sorologia para lues (VDRL) e HIV (em pacientes com menos de 60 anos) e nível sérico de vitamina B12 e ácido fólico. Escore na escala CDR = 3 (demência grave); MEEM com escore entre 5 e 11, para escolaridade maior que 4 anos, ou entre 3 e 7, quando escolaridade menor ou igual a 4 anos. CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO PARA INIBIDORES DA ACETILCOLINESTERASE (DONEPEZILA, GALANTAMINA E RIVASTIGMINA): Serão excluídos os pacientes que apresentarem pelo menos uma das condições abaixo: ➢ Identificação de incapacidade de adesão ao tratamento; ➢ Evidência de lesão cerebral orgânica ou metabólica simultânea não compensada (conforme exames do item Critérios de Inclusão); ➢ Insuficiência ou arritmia cardíaca graves; ➢ Hipersensibilidade ou intolerância aos medicamentos; ➢ Demência de Alzheimer grave (CDR = 3); ➢ Escores no MEEM < 8 para sujeitos com escolaridade ≤ 4 anos de estudo; ou ➢ Escores no MEEM < 12 para sujeitos com escolaridade > 4 anos de estudo. Além dos citados acima, o uso de galantamina está contraindicado em casos de insuficiência hepática ou renal graves. PARA MEMANTINA Serão excluídos os pacientes que apresentarem pelo menos uma das condições abaixo: ➢ Demência de Alzheimer de gravidade leve (CDR = 1); ➢ Escores no MEEM < 3 para sujeitos com escolaridade ≤ 4 anos de estudo; ➢ Escores no MEEM < 5 para sujeitos com escolaridade > 4 anos de estudo; ➢ Incapacidade de adesão ao tratamento; ou ➢ Hipersensibilidade ao fármaco ou a componente da fórmula Fluxograma de Tratamento da Doença de Alzheimer CONDUTA EDUCACIONAL Na prática clínica, muitas vezes, o médico de família e comunidade é interpelado sobre a possibilidade de uma pessoa assintomática vir a desenvolver uma demência ao longo da vida, sobretudo quando há história familiar. Deve-se considerar a importância desse momento na consulta, pois é um divisor de águas no relacionamento e na formação de vínculo naquele e nos próximos encontros. Dessa forma, tanto as atividades de prevenção primária quanto as de educação baseiam-se em mudanças de estilos de vida e na compreensão do indivíduo e do seu entorno. É importante não se esquecer das vacinas recomendadas para o grupo de pessoas com doenças crônicas. Na prevenção para demência, associam-se as atividades social, mental e física, porém com dados não muito consistentes. Deve-se ter em mente que o rastreamento de demências e de comprometimento cognitivo leve não é suportado por evidências. Existe grande risco de sobre diagnóstico de pessoas com comprometimento cognitivo leve, ou “pré- demência”. A minoria das pessoas com comprometimento cognitivo leve evolui para demência. Não existe nenhum medicamento que impeça a progressão da doença. Além disso, o controle de fatores de risco, revisão de medicaçõesque possam causar problemas cognitivos e estímulo a atividades sociais e físicas são boa prática médica que deve ser oferecida a todas as pessoas. A prevenção quaternária é item fundamental na agenda do médico de família e comunidade, principalmente no cuidado às pessoas com doenças crônicas, incuráveis, progressivas e sem tratamento notoriamente benéfico, uma vez que essas são vítimas frequentes dos abusos realizados pelo comércio de saúde. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. Ministério da Saúde. Saúde Secretaria de Atenção à Saúde. Portaria Conjunta nº 13, de 28 de novembro de 2017. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas da Doença de Alzheimer. Diário Brasília, 2017. GUSSO, Gustavo; LOPES, José Mauro Ceratti. Tratado de Medicina de Família e Comunidade. 2ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2019. AUSTRALIA, dementia. ABOUT DEMENTIA WHAT IS DEMENTIA? O que é demência?. Disponivel em: https://www.dementia.org.au/files/helpsheets/Helps heetAboutDementia01- WhatIsDementia_portuguese.pdf. Parmera JB. Nitrini R. Demências: da investigação ao diagnóstico / Investigation and diagnostic evaluation of a patient with dementia. Rev Med (São Paulo). 2015 jul.- set.;94(3):179-84 Disponível em: https://www.revistas.usp.br/revistadc/article/dow nload/108748/107177.
Compartilhar