Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
MIELOMA MÚLTIPLO AUTOR: PEDRO V.F. MEDRADO - É uma doença de natureza linfoide, mas não linfoproliferativa - É uma doença maligna de linfócitos B com produção de plasmócitos monoclonais que produzem imunoglobulinas ou parte destas em larga escala. - Primeiro caso descrito em 1844 no Thomas Hospital em Londres – Drº Samuel Solly “Pathology of Mollities Ossium with cases” · Primeira paciente oficialmente descrita – Sara Newburry (fraturas patológicas) · O tratamento descrito para ela foi – pílula de casca de laranja, pílula de ruibarbo, pipula de Araruta, 01 litro de cerveja preta/dia. - Em 1847, Drº Henry Bence Jones descreveu uma proteína na urina que foi chamada de “Proteína de Bence Jones” (precipitação e cristalização da urina) · Tratou pacientes com Mieloma, fazendo sangria Terapêutica na fase inicial e manutenção com uso de “sangue-suga” (1kg de sangue – melhorou parcialmente com sangria) · Posteriormente passou a usar compostos a base de aço e quimimo com descrição de “melhora sintomática”. EPIDEMIOLOGIA - Representa 1% das neoplasias de um modo geral, e perfaz 10% das neoplasias hematológicas - Incidência de 15.000 casos/ano nos EUA - A mediana de idade é de 65-70 anos (é uma doença de idoso), mas 35% dos pacientes estão abaixo dos 65 anos. Professor “criança de 8 anos, foi o indivíduo mais jovem a fechar o diagnóstico de mieloma múltiplo”. - É uma doença com preferência na raça negra 9,5/100.000 afro americanos, 4,1/100.000 casos em causasianos. · Predomina em homens e na raça negra - Sobrevida média é maior em faixas etárias menores, e a partir do século XX, teve uma melhoria significativa da sobrevida nessas faixas etárias por uma melhoria das terapias. Por outro lado, em indivíduos mais idosos, praticamente a sobrevida não mudou desde o século XIX. - O maior problema do mieloma no mundo é o tratamento do idoso, em especial o idoso frágil PATOGÊNESE - O mieloma é uma doença de plasmócito, ou plasmocitária, e por definição vou ter uma infiltração plasmocitária - Folículo linfoide – é um aglomerado de linfócitos (B e T), e dentro um centro germinativo os linfócitos B maduros vão ser apresentados a antígenos e se especializam (hipermutação somática) produzindo anticorpos contra um epítopo específico do antígeno. · O CG é circundado por uma zona escura de pequenos linfócitos, chamada zona do manto e por outra mais fina, a zona marginal. Essas zonas são de passagem de células virgens (entram) e linfócitos B de memória (saem). · A célula B ativada ao entrar na zona escura se transforma em centroblastos, e tais continuam o refinamento na zona clara, ondem os centroblastos se transformam em centrócitos. - Zonas – o centro germinativo é polarizado · Clara – constituída por centrócitos (voltados para periferia do linfonodo) · Localizam-se a maior parte dos linfócitos T foliculares (CD4) e os macrófagos de corpos tingíveis · Centrócitos – núcleos de cromatina mais condensada e contorno amassado que lembra uma uva passa · Escura – constituída por centroblastos (voltados para o centro do linfonodo) · Centroblasto – núcleo grande com cromatina frouxa e nucléolos pequenos e múltiplos, geralmente cerca de três e situados próximos à membrana nuclear. · Na patologia do mieloma, em algum momento dessa especialização, vai haver mutações patológicas não debeladas e a formação de clones produtores de globulina. Fisiopatologia - É uma doença com comportamentos clínicos diferentes a cada recidiva, isso é explicado pela teoria da evolução clonal. · Existem vários subclones da doença que geram características clínicas preponderantes · Num primeiro momento o paciente pode abrir um quadro de fratura patológica. Mas em um segundo momento, apenas com uma anemia inexplicada. Isso porque o clone inicial que gerava o fenótipo ósseo foi debelado com o tratamento, mas um subclone não manifesto pode vir a se manifestar com uma anemia inexplicada. · Ou seja, os subclones possuem manifestações clínicas diferenciadas. - Interação da carga tumoral (plasmócitos) com o microambiente (observe figura acima, e note as vias de interação em especial as destacadas aqui abaixo) · Interação plasmócito x estroma via produto de adesão (VCAM1, ICAM1 e CD40) · Aumento da IL6, VEGF, IGF1 e angiogênese · **Isso tem permitido diversas terapias-alvo - Diante da interação plasmócito x microambiente (conforme imagem), deve-se haver um equilíbrio entre osteoclasto/osteoblasto. · A doença óssea/fraturas patológicas resulta de uma ruptura dessa interação. · Essa ruptura ocorre por conta de uma inibição de uma osteoproteina, a osteoprotegerina que é um fator estimulador do osteoblasto (adição de matriz óssea). · E por outro lado, teremos uma hiperativação de um receptor RANK, que vai levar a um hiperestimulo do osteoclasto. · Osteoclasto elevado, osteoblasto baixo resulta num ambiente propicio ao desequilíbrio ósseo com lesões líticas. - Em cerca de 60% dos pacientes terão uma tubulopatia distal, ou rim do mieloma. O que vai resultar numa hipersaturação das cadeias leves no túbulo, que junto das Proteínas de Tam-Horsfall formam um precipitado proteico que se deposita na região distal do túbulo renal. · IRA com pouca proteinúria - Fanconi like – é uma tubulopatia proximal, uma lesão no TCP associado a drogas como anti-inflamatórios. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS - Anemia - Doença óssea · É a principal comorbidade associado ao Mieloma Múltiplo · 70-90% dos pacientes abrem o quadro com doença óssea · No Brasil, a doença óssea foi encontrada em 59% dos pacientes · No mieloma teremos apenas a lesão lítica · Sem lesão blastica ou esclerótica, exceto num subtipo (mieloma osteoesclerótico, ou síndrome de Poems) que gera a esclerótica. · Dor óssea - Insuficiência renal aguda · Complicação que ocorre em cerca de 30% ao diagnóstico, mas até 50% dos pacientes terão IRA ao longo do tratamento e da evolução da doença. · Principal causa de óbito precoce · Impacto em sobrevida e qualidade de vida do paciente. · Mortalidade de 25% em 60 dias · No mieloma múltiplo não secretor, a causa da IRA vai ser a hipercalcemia maligna ou vai ser drogas (AINE) - Hipercalcemia · Síndrome de Fanconi like – TCP · Rim Mieloma – tubulopatia distal · Hipercalcemia maligna em cerca de 24-31% DIAGNÓSTICO Critérios diagnósticos - Infiltração plasmocitária maior ou igual a 10% - Comprovação de monoclonalidade através da expressão de proteína monoclonal (PM) – o seu estudo da sua expressão é feito pela identificação de imunoglobulinas, por isso vamos ter que identificar o padrão de eletroforese · Porém, cerca de 1-2% dos mielomas múltiplos não secretas proteína monoclonal (não secretores). Logo, se fizéssemos uma eletroforese de imunoglobulinas, vai dá normal. Portanto, a monoclonalidade deve ser identificada nos plasmócitos por meio de uma imuno-histoquímica (biopsiar a medula) ou uma imunofenotipagem que é uma variação citológica. · Mieloma oligoclonal – se pensava que era não secretor, mas descobriu-se que produzem uma quantidade muito pequena da proteína monoclonal (cadeia kappa e lambda) e a metodologia do exame era incapaz de identificar. · Para caracterizar o Mieloma não secretor, a infiltração plasmocitária precisa ser necessariamente superior a 30%. Investigação - Mielograma (exame citológico) e/ou Biopsia de medula óssea · Agulha de Jamshidi, biselada c/ mandril e uma trava e afastador de proteção – no osso do esterno ou manúbrio ou com o paciente em DLE faz na crista ilíaca póstero-superior · Feito ambulatorialmente · Agulha de trefina (ou cilíndrico) grande – é um exame doloroso, mas mesmo assim é feito ambulatorial - Esfregaço da medula óssea · Infiltração de células basofilicas em anel de sinete com núcleo redondo, e a presença de uma zona clara perinuclear chamada de zona de Golgi - Presença da proteína monoclonal – eletroforese de proteínas do soro (ou da urina de 24h) · Princípio – vai ser criado um campo eletromagnético em uma cuba com o soro do paciente imerso numa solução com gel de agarose. Assim, com base no peso da proteína (kDa) e carga iônica, as proteínas vão“correr” em direção ao polo de sinal contrário, e assim vão se depositando em locais específicos. · Albumina -> alfa1 -> alfa2 -> beta -> gama · A Albumina é uma PTN mais leve que se apresenta com um pico, como figura abaixo. Uma inversão albumina-globulina é comum no Mieloma múltiplo, mas não é obrigatório. · Em Beta (B) e Gama (y), teremos as globulinas (IgA, IgG, IgD, IgE e IgM). Cada imunoglobulina é formada por 4 cadeias, duas cadeias leves (kappa e lambda) e duas pesadas. · Hipergamaglobulinemia com curva apiculada – é monoclonal, pois um tipo de imunoglobulina está aumentado isoladamente, derivado de plasmócitos idênticos. · Hipergamaglobulinemia com base larga – é policlonal, pois são várias imunoglobulinas diferentes estão gerando uma hipergama, ou derivados de plasmócitos diferentes, e tem pesos (molecular e carga) iônicos diferentes. · Um exemplo é a leishmaniose visceral ou calazar, mas qualquer doença infecciosa/inflamatória pode causar uma hipergama policlonal · Quando o paciente tem uma suspeita clínica de mieloma (fratura patológica, IRA, anemia não explicada ou hipercalcemia maligna) e é encontrado uma hipogamaglobulinemia, isso reforça a suspeita de mieloma. No entanto, esse achado nos faz pensar num mieloma de cadeias leves, e normalmente as PTN desse tipo são detectadas na urina. Por isso, solicitamos uma eletroforese de soro e urina de 24h. Classificação do Mieloma Múltiplo e Manifestações clínicas - Classificação em dois grandes grupos · Mieloma Múltiplo – é o mieloma com repercussão clínica · Mieloma Smoldering ou assintomático – tem critério clínico, mas não tem critério laboratorial ou lesão de órgão alvo/repercussão clínica. - Como são definidas as lesões de órgão alvo? · C – Hipercalcemia (cálcio total >11,5mg/dL) · R – Insuficiência Renal (creatinina >2mg/dL) · A – Anemia (Hg<10g/dL OU >=2g/dL abaixo do limite de normalidade) · B (Bone) – Doença óssea (lesões líticas ou fraturas patológicas ou osteopenia grave com fraturas compressivas) · Outros – síndrome de hiperviscosidade, amiloidose associada, infecções bacterianas recorrentes (>2 episódios em 12 meses). - O subtipo do mieloma múltiplo mais comum é o IgG/kappa · As imunoglobulinas possuem 4 cadeias, duas cadeias leves (kappa e lambda) e duas pesadas. As imunoglobulinas inteiras são a IgG e IgA. · O Mieloma de IgA tende a cursar mais com visceromegalia, e o aspecto do plasmócito tem uma coloração alaranjada. RESUMO DE CONDUTA PROGNÓSTICO - Existe uma classificação de prognóstico que a ISS (International Staging System), mas não é tão importante decorar. - Existe também a estratificação de risco de acordo com o padrão genético da doença TRATAMENTO - É uma doença incurável, a doença vai acompanhar o paciente pelo resto da vida. E durante toda a vida, ele terá períodos de remissão e recaídas da doença · O objetivo do tratamento é aumentar a sobrevida livre em progressão e qualidade de vida do paciente. - O paciente que é elegível ao transplante de medula óssea, associamos a quimioterapia com o transplante autólogo de células tronco hematopoiéticas (TCTH autólogo). - Quando o paciente é muito frágil e possui muitas comorbidades, o tal é inelegível para TCTH. Então, esse só vai ser submetido a tratamento Qt ou Rt ou terapia alvo (Ag monoclonais). Terapia de suporte - Bisfosfonatos (Zoledronato e Pamidronato) - reduz complicações óssea e corrige hipercalcemia · Deve-se orientar quanto a boa higiene bucal e não realização de procedimentos dentários invasivos, por risco de osteonecrose de mandíbula - Radioterapia local - tratamento paliativo da dor óssea - Cirurgia - usadas para fraturas patológicas, assim como a vertebroplastia percutânea é uma opção no tratamento do colapso vertebral. - Eritropoetina recombinante humana - paciente que mantém anemia mesmo diante de tratamento - Antibióticos se suspeita de infecção ativa · Todo paciente que faz uso do Bortezomibe (inibidor de protease) precisa usar Aciclovir. - Analgesia - importante para conforto do doente, abolindo os AINES (nefrotoxicidade) - Plasmaférese - para pacientes com síndrome de hiperviscosidade - Tratamento da insuficiência renal no MM? · Combinação de Bortezomibe e Dexametasona associado a ciclofosfamida é eficaz para mover rapidamente a depuração das cadeias leves em circulação · Se hipercalcemia em IRA, o que fazer? · Hidratação adequada, diuréticos, glicocorticoides de bisfosfonatos
Compartilhar