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Gabrielle Nogueira – Med 3°período UniFG Proliferação celular OBJETIVOS 1- Descrever a origem, processo e desenvolvimento da linhagem hematopoiética. 2- Compreender a epidemiologia, fisiopatologia, fatores de risco, curso clínico, fatores de hereditariedade, diagnóstico, estadiamento, tratamento e tipos de leucemia e suas complicações. (explicar desvio a esquerda e destacar eventual semelhança com outras doenças menos graves) 3- Definir e diferenciar tumores sólidos e não sólidos. Gabrielle Nogueira – Med 3°período UniFG Descrever a origem, processo e desenvolvimento da linhagem hematopoiética A hematopoese é um processo fisiológico responsável pela produção das células presentes no sangue periférico, que possuem características especiais, sendo em sua grande maioria células maduras com funções definidas, vida limitada e sem capacidade de divisão celular. De forma geral, temos que o sangue periférico é formado por diferentes populações de glóbulos brancos (granulócitos, linfócitos e monócitos), que são responsáveis por diversas funções na imunidade, além das plaquetas que atual na hemostasia primária e como indutoras da homeostasia secundária, e os glóbulos vermelhos ou eritrócitos, que são essenciais no transporte de oxigênio aos tecidos. A vida média dessas células na circulação é limitada, com as plaquetas vivendo aproximadamente 7 dias, os leucócitos de horas (granulócitos) a anos (linfócitos), e os glóbulos vermelhos de 100 a 120 dias. Essas células são originadas de uma pequena população de progenitores totipotentes indiferenciados que são chamadas de células-tronco (stem cells) hematopoiéticas e estão presentes na medula óssea (MO). É essa medula óssea que vai ser o órgão principal responsável pela hematopoese no ser humano, produzindo e regulando a liberação ordenada das células sob influência de fatores estimulantes e inibidores, permitindo também a reciclagem de diferentes moléculas. A proliferação e a sobrevida das células hematopoiéticas são governadas por dois mecanismos altamente relacionados: (1) O padrão de expressão genética da célula (2) Equilíbrio entre sinais externos provenientes do meio ambiente e da MO – que evitam expansão inadequada, com depleção das células-tronco ou proliferação insuficiente das células da medula óssea. A eficiência da hematopoese é baseada na união entre o ambiente medular, células progenitoras e fatores de crescimento. • Medula óssea e microambiente medular Dependendo do desenvolvimento embrionário e fetal, ocorre uma mudança de sítio de hematopoese, em que, nos organismos vertebrados pode estar presente no saco vitelínico, na área mesodérmica do feto chamada de AGM (aorta-gonad mesonephoros), no fígado no baço e na medula óssea fetais. A hematopoese é dividida em primitiva ou embrionária que ocorre durante a vida fetal ou hematopoese definitiva que está presente na vida adulta, tendo diferenças principalmente em relação aos padrões morfológicos e à variedade celular. Inicialmente, o processo de hematopoiese se inicia nas ilhotas sanguíneas do saco vitelínico por volta do 15° dia da gestação, cessando por volta da 6° semana de vida intrauterina. Durante essa fase primitiva da hematopoese, os precursores eritróides são os mais presentes, apesar de haver precursores megacariócitos e monocíticos. Isso por que a função básica é a de prover oxigênio aos tecidos embrionários em rápida expansão. A hematopoese embrionária é caracterizada pela alta taxa de proliferação e pela ausência do estágio G0 no ciclo celular. Além de as hemácias circulantes serem nucleadas em sua maioria de grande tamanho (volume corpuscular médio > 140fl) e com hemoglobinas do tipo embrionária em seu interior: Gower I, Gower II e Portland. Simultaneamente à hematopoese do saco vitelínico, começa a produção de células hematopoéticas na região AGM (área mesodérmica do feto) do feto, em que nesse local já se observa células com características da hematopoese definitiva, caracterizada pela presença de todos os Gabrielle Nogueira – Med 3°período UniFG tipos celulares observadas no adulto e já com hemácias anucleadas, observando também a presença já da fase G0 do ciclo celular. A vida média das hemácias na vida intrauterina é menor que a do adulto, sendo de aproximadamente 45 a 75 dias. Aliada à expansão hematopoética da ordem de 34 vezes no 2o trimestre da gestação, essa vida média menor torna esse período especialmente vulnerável a agravos que perturbam a hematopoese, como infecções e hemólise imune. A hemoglobina preponderante nesse estágio é a hemoglobina fetal (alfa2gama2). Na vida pós-natal e adulta, a hemoglobina preponderante é a hemoglobina A (alfa2beta2), com alguns vestígios de hemoglobina fetal e pequena proporção de hemoglobina A2 (alfa2delta2)6 As primeiras plaquetas morfologicamente reconhecíveis surgem no sangue periférico em torno da 8° semana de gestação, chegando ao número parecido do adulto em torno de da 18° semana (+/- 250.000/mm3). Os neutrófilos são as últimas células não- eritróides a surgirem, e os macrófagos, provavelmente as primeiras. O principal sítio da hematopoese definitiva no feto é o fígado. A hematopoese neste órgão inicia-se no final do primeiro mês de vida intra-uterina, sucedida pelo estágio medular, que começa entre a 16° e 18° semanas de gestação. Somente no último mês do desenvolvimento fetal, a medula óssea, que é o principal tecido hematopoético na maioria dos vertebrados, passa a ser o sítio predominante da formação do sangue. • Período da hemopoese As primeiras células sanguíneas do homem vão surgir no período embrionário por volta da sétima ou oitava semana de vida com células redondas agrupadas no saco vitelínico – Chamado de período embrionário da hematopoese. Após esse período, temos o período hepatoesplênico da hematopoiese, que ocorre do quarto ao sexto mês de vida fetal com as células sendo formadas no baço e no fígado. E, somente, após esses períodos, temos o período medular, em que as células passam a ser formadas na porção esponjosa dos ossos durante a infância e vida adulta. Nos dois primeiros anos toda a medula óssea é hematopoiética, mas durante o resto da infância há substituição progressiva da medula dos ossos longos por gordura, de modo que a medula hematopoiética no adulto é confinada ao esqueleto central e as extremidades proximais do fêmur e do úmero. Mesmo nessas regiões hematopoiéticas, cerca de 50% da medula é composta de gordura. OBSERVAÇÃO! A medula óssea gordurosa remanescente é capaz de reverter para hematopoiética e em muitas doenças, também pode haver expansão da hematopoese em ossos longos. Além disso, o fígado e o baço podem retomar seu papel hematopoiético fetal, que é chamada de hematopoese extra medular. É importante relatar que estudos mostraram que ainda há uma hematopoese inicial por volta da terceira semana (15 a 18 dias), que ocorrem no mesoderma do saco vitelino do embrião e que produzem células nucleadas que são capazes de secretar cadeias globínicas de tipo alfa e não alfa. Gabrielle Nogueira – Med 3°período UniFG • Células-tronco hematopoiéticas e células progenitoras. A hematopoese se inicia com uma célula- tronco pluripotente (Stern-cell hematopoética), que tem duas opções: pode se autorrenovar ou pode dar origem a diferentes linhagens celulares. A partirdessa autorrenovação é possível manter a celularidade da medula de forma constante em condições estáveis de saúde e, em caso de agravos, como irradiação e quimioterapias letais, essas células troncos são capazes de repovoar uma medula cujas células-tronco tenham sido eliminadas por esses processos. As células tronco hematopoiéticas ainda possuem um fenótipo exato não conhecido, mas ao exame imunológico têm aparência de um linfócito de tamanho pequeno ou médio, sendo CD34+, CD38-. Elas residem em “nichos” especializados com um microambiente medular especializado formado por células estromais e uma matriz extracelular, sendo capazes de responder a fatores de crescimento hematopoético para produção de uma determinada linhagem celular ou outro dependendo das necessidades para formar as células maduras, que podem ser eritrócitos, granulócitos, monócitos, megacariócitos e linfócitos. • Estroma da medula óssea A medula óssea forma um ambiente adequado para os processos de sobrevida, autorrenovação e formação de células progenitoras diferenciadas. Ou seja, vai ser esse local que vai fornecer um ambiente propício para manutenção, multiplicação e diferenciação celular. Esse ambiente é formado por dois constituintes básicos: as células do estroma e uma rede microvascular. 1 – As células do estroma são as células que vão ser responsáveis tanto por expressar fatores de crescimento necessários para a sobrevivência das células tronco, quanto as moléculas de adesão. De modo significado, são elas que permitem a fixação das células pluripotentes, trazidas pela circulação periférica, ao estroma medular, fazendo com que ocorra o contato entre essas células pluripotentes e os fatores de crescimento hemopoiéticos secretados pelas células do estroma que vão entrar em contato com os receptores de membrana. Essas células são adipócitos, fibroblastos, células endoteliais e macrófagos, que secretam moléculas extracelulares, como colágeno, glicoproteínas (fibronectina e trombospondina) e glicosaminoglicanos (ácido hialurônico e derivados condroitínicos) para formar uma matriz extracelular. As células do estroma são advindas de células específicas, chamadas de células- tronco mesenquimais ou células estromais mesenquimais ou células mesenquimais aderentes, que juntamente com os osteoblastos formam nichos e fornecem os fatores de crescimento, moléculas de adesão e citocininas que dão suporte às células- tronco por meio da ligação entre proteínas das células estromais a receptores na células- tronco, como o receptor NOTCHI1, que é um fator de transcrição envolvido no ciclo celular. Um exemplo da importância da importância desse nicho para as células-tronco é que elas são encontradas em pequeno número no sangue periférico e para deixarem a medula óssea, precisam atravessar o endotélio vascular por meio de um processo chamado de mobilização, que é aumentado pela administração de fatores de crescimento como o FATOR ESTIMULANTE DE COLÔNICAS GRANULOCÍTICAS (G-CSF). 2 – Além dessas células estromais, temos a rede microvascular, que em grande parte fornece oxigênio para as células e fatores nutricionais necessários, sustentando o parênquima rico em células. Gabrielle Nogueira – Med 3°período UniFG • Células-tronco tecido específicas As células-tronco são pluripotentes e podem gerar diversos tipos de tecidos e são elas que possibilitam a formação do processo de hematopoese. Elas se fixam no estroma medular por moléculas de adesão e os receptores nas membranas dessas células, que podem ser CD44, CD11, CD18 e a fibronectina. A partir da interação das células tronco com os receptores, elas começam com mitoses e em cada divisão, pode realizar o processo de reposição de uma célula-filha por célula- tronco chamado de autorregulação, ou pode se direcionar ao processo de diferenciação em que dar origem a diferentes linhagens de células sanguíneas. Quando elas se direcionam ao processo de diferenciação, passam a ser chamadas de células progenitoras comprometidas, que passam a ter baixos níveis dos fatores de transcrição para que elas sejam direcionadas a linhagens específicas apesar de ainda indiferenciadas. Posteriormente, as células comprometidas passam a se tornar unipotentes e são capazes de dar origem a apenas uma específica série sanguínea. Pode haver a formação de: - Eritrócitos ou hemácias que são carregados das trocas gasosas (o2 e co2) entre os tecidos e o meio ambiente por meio da hemoglobina presente neles. - Células granulocíticas que são os elementos de defesa contra agentes externos, como bactérias, fungos, parasitas e partículas inertes estranhas ao meio interno - Os monócitos e macrófagos que também são encarregados da defesa do organismo por meio da capacidade de fagocitar qualquer corpúsculo estranho e ainda participar das reações imunológicas. - Os linfócitos e os plasmócitos que são as células envolvidas nas reações de reconhecimento de agentes que vem do meio externo, agindo diretamente sobre eles (linf. T) ou por intermédio da secreção de anticorpos (linf. B e Plasmócitos) - As plaquetas que são de fundamental importância para hemostasia. • Fatores de crescimento hematopoiéticos Para que todo o processo de hematopoiese aconteça, é necessário que ocorre a sua regulação por meio de FATORES DE CRESCIMENTO HEMATOPOIÉTICOS, que determinam a proliferação, a diferenciação, a maturação, além de também atuar prevenindo a apoptose e atuando nas funções das células sanguíneas já maduras. Esses fatores do crescimento hematopoiéticos são hormônios glicoproteicos, que podem agir no local em que são produzidos por contato célula a célula ou podem agir circulando pelo plasma. Eles também podem se ligar à matriz extracelular, formando nichos aos quais aderem as células-tronco e as células progenitoras. Esses fatores acabam compartilhando propriedades específicas, agindo em diferentes etapas da hematopoese. De maneira geral eles: • Agem em concentrações muito baixas • Atuam hierarquicamente A hematopoese ocorre em microambiente adequado (“nicho”) fornecido pela matriz do estroma na qual as células-tronco crescem e se dividem. Há locais de reconhecimento específico e de adesão; glicoproteínas extracelulares e outros componentes estão envolvidos na ligação. Gabrielle Nogueira – Med 3°período UniFG • São produzidos por muitos tipos celulares • Afetam mais de uma linhagem • Exercem efeito sobre as células- -tronco e as células funcionais finais • Tem interações sinérgicas ou aditivas com outros fatores de crescimento As células dos estromas são as principais células responsáveis pela formação de fatores de crescimento, com exceção da eritropoetina – que é 90% sintetizado pelo rim e a trombopoetina, que é sintetizada principalmente no fígado. Um aspecto importante é que a ação dos fatores de crescimento pode agir no estímulo da proliferação ou diferenciação celular ou ainda estimular a produção de outro fator de crescimento ou de um receptor de fator. Um dessa última ação, é o G-CSF (fator estimulante de colônias granulocíticas) e a trombopoetina que aumenta os efeitos do SCF (fator de célula tronco), FTT-L, IL-3 e GM- CSF (fator estimulante de colônias granulocíticas e macrofágicas) na sobrevida e na diferenciação das células hematopoiéticas primitivas. Isso é importante por que esses fatores acabam mantendo um pool (como se fosse um armazenamento) de células-tronco e células progenitoras hematopoiéticas em que pode agir os fatores de ação tardia, a eritropoetina, o G-CSF, o M-CSF, a IL-5 e a trombopoetina,para aumentar a produção de uma ou outra linhagem em resposta às necessidades do organismo. A formação de granulócitos e monócitos, por exemplo, pode ser estimulada por infecção ou inflamação por meio da liberação de IL-1 e fator de necrose tumoral (TNF), que estimulam células do estroma a produzir fatores de crescimento em uma rede interativa. Mas pode haver fatores, como citocininas, como o fator de crescimento transformador- beta e o interferon gama, que podem ter um efeito negativo na hematopoiese e podem acabar atuando no desenvolvimento de anemia aplástica. Gabrielle Nogueira – Med 3°período UniFG • Fatores que inibem a hematopoiese Durante o processo de hematopoiese há também fatores que atuam como se fossem “os freios” da hematopoiese, podendo ser chamadas de “regulares ou modulares”, uma vez que impedem a produção de excessiva de células. Elas são produzidas por vários tipo celulares que estão presente no próprio estroma da medula óssea: • Interferon Gama (INF-γ): É uma linfocina produzida por linfócitos T que tem efeito inibidor sobre a proliferação das células imaturas normais. • Prostaglandina E: É produzida por macrófagos e tem ação inibidora sobre as CFU-GM (unidade ou célula formadora de colônias constituídas apenas de neutrófilos [G] e monócitos [M].) • Lactoferrina: É um constituinte normal das granulações citoplasmáticas específicas dos segmentados neutrófilos. Sua eliminação a partir dessas granulações tem efeito inibidor sobre a proliferação das células jovens da medula óssea • Fator de Necrose Tumoral Alfa (TNF-α): Tem ação inibidora sobre precursores da mielopoiese quando colocado em cultura de medula óssea. Esse efeito parece ser sinérgico com o do INF-γ. • Fatores Transformadores de Crescimento (TGF-ẞ): Constituem um grupo de polipeptídeos de ação reguladora, tanto de mielopoiese como da linfopoiese (TGF ẞ1, ẞ2, ẞ3). Essas citocinas são produzidas por várias células da medula óssea e liberas no processo de degranulação das plaquetas. Têm efeito inibidor intenso sobre a megacariocitopoiese, mas inibem também a eritropoiese e a granulocito-monocitopoiese. • Distribuição espacial das células na medula óssea. As células precursoras medulares estão distribuídas no interior da medula óssea, obedecendo a um arranjo preferencial. As células pluripotentes têm localização preferencial junto ao tecido ósseo, na chamada região subendosteal das trabéculas ósseas do esterno ou do osso ilíaco. Elas se tornam cada vez menos numerosas à medida que aumenta a distância que as separa do osso. Nas regiões centrais do espaço medular (região axial) predominam os precursores já mais diferenciados, as células comprometidas e as células maduras, que passam à circulação através dos vasos sinusóides venosos centrais. Tal distribuição ocorre tanto com precursores pouco diferenciados de linhagem granulocítica como com as células eritroblásticas, monocitárias e megacariocitárias. Essa distribuição zonal dos precursores medulares reflete as diferenças que existem no microambiente da medula óssea, que são fundamentais para a proliferação e diferenciação normal das células do sangue. Gabrielle Nogueira – Med 3°período UniFG Introdução ao estudo das Leucemias As leucemias são um grupo de doenças que são caracterizadas pelo acúmulo de leucócitos malignos na medula óssea e no sangue, em que essas células anormais causam diversos sintomas tanto por insuficiência da medula óssea (anemia, neutropenia, trombocitopenia), quanto por infiltração de outros órgãos, que pode ser fígado, baço, linfonodos, meninges, cérebro, pele ou testículos. • Classificação As leucemias são classificadas em quatros tipos – Agudas e Crônicas, que se subdivide ainda em linfoides e mieloides. Leucemias agudas: são doenças agressivas, uma vez que a transformação maligna aconteceu em células-tronco da hematopoese ou em progenitores primitivos, ocorrendo acumulo de células jovens mieloides (LMA) ou linfoides (LLA). O dano genético advém de conjunto de passos bioquímicos básicos que não agiram de maneira adequada: aumento da velocidade de produção, diminuição do apoptose e bloqueio na diferenciação celular. Juntos esses eventos causam um acúmulo de células hematopoéticas primitivas, chamadas células blásticas, ou apenas blastos, que não são funcionais e possuem um alto poder de divisão e multiplicação. Por conta do fato de que a produção de blastos vai ocupar boa parte da medula óssea, a produção de células hematológicas é reduzida, causando pancitopenia – diminuição do número de todas as células do sangue, o que predispõe o paciente: astenia (pela anemia), infecções (pela leucopenia/neutropenia) e hemorragia (pela trombocitopenia). As leucemias agudas são, geralmente, rapidamente fatais se não forem tratadas, mas são mais fáceis de curar do que as leucemias crônicas. TRÍADE DAS LEUCEMIAS AGUDAS Astenia + Hemorragia + Febre a) A leucemia mieloide aguda (LMA) é caracterizada pela produção descontrolada de blastos mieloides pela medula óssea. Além da tríade clássica, a LMA pode causar adenopatia, hepatoesplenomegalia, hiperplasia gengival decorrente da infiltração desses órgãos pelos blastos. b) A leucemia linfoide aguda (LLA) é a mais comum da infância, possuindo quadro clinico semelhante à LMA. No Entanto, difere em alguns aspectos como a maior ocorrência de adenopatia e dor óssea. Além disso, não se observa a hiperplasia gengival. E é mais comum o acometimento do sistema nervoso central e testículos. Leucemia crônicas: É caracterizada pelo acumulo lento e gradativo de clones neoplásicos leucocitários na medula óssea e no sangue. A patogênese é semelhante ao das leucemias agudas, porém não há o bloqueio da maturação com células neoplásicas produzidas pela medula seguindo seu desenvolvimento, podendo-se observar graus diferentes de maturação. a) A leucemia mieloide crônica (LMC) contém como achado mais marcante a leucocitose neutrofilica acentuada e uma esplenomegalia devido a infiltração do órgão pelas células neoplásicas. Outros achados comuns são febre vespertina, sudorese noturna, astenia e desconforto abdominal. Infecções não são frequentes, já que os leucócitos neoplásicos são funcionantes. b) A leucemia linfoide crônica (LLC) é uma doença característica de pacientes mais velhos, sendo o tipo de leucemia mais comum em idosos. Gabrielle Nogueira – Med 3°período UniFG O clone neoplásico corresponde a um linfócito B maduro que, não se diferencia em plasmócito, ou seja, não passa à fase de produção de anticorpos. A evolução da doença leva ao acumulo desses linfócitos clonais na medula óssea, que passa para o sangue periférico e infiltram linfonodos, baço e fígado. É caracterizada por linfocitose acentuada, adenopatia. Dentre as leucemias da infância, 75% dos casos correspondem à leucemia linfoide aguda (LLA), 20- 25% à leucemia mieloide aguda (LMA) e o restante de 1 a 3% à leucemia mieloide crônica (LMC). Gabrielle Nogueira – Med 3°período UniFG Compreender a epidemiologia, fisiopatologia, fatores de risco, curso clínico, fatores de hereditariedade, diagnóstico, estadiamento, tratamento e tipos de leucemia e suas complicações. (explicar desvio a esquerda e destacar eventual semelhança com outras doenças menos graves). Leucemia Mieloide Aguda • Incidência A leucemia mieloide aguda (LMA) é a forma comum de leucemia aguda em adultos, mas ainda assim se apresente rara, correspondendoa cerca de 1% de todos os cânceres. É observado a incidência aumenta com a idade, principalmente, com começo mediano aos 65 anos, sendo os pacientes masculinos mais atingidos se comparados com os do sexo feminino, É mais dificilmente encontrada na infância, com uma fração pequena de 10 a 15% das leucemias na infância. • Classificação e fisiopatologia A LMA é uma doença maligna que é caracterizada pela proliferação alterada dos precursores granulocíticos da medula óssea. Ou seja, durante o processo de diferenciação das células pluripotentes (stem-cells) da medula óssea ocorre parada ou dificuldade de maturação, de modo que se acumulam células jovens que nunca chegam ao amadurecimento completo. Como essa parada de maturação pode ocorrer em qualquer etapa da granulocitogênese, as células podem ter aspectos variados desde a forma muito indiferenciadas (blastos) até aspectos bem diferenciados. São essas variações que acabam servindo de base para a classificação morfológica dos vários tipos de Leucemia Mieloide Aguda. Acredita-se que a doença é resultante de pelo menos duas classes de mutações: uma que confere vantagem proliferativa e a outra que interfere na diferenciação hematopoiética. - Mutações de classe I: vão ser as mutações em genes codificadores de tirosina-quinases, que produzem ativação anormal desses codificadores resultando em vantagens proliferativas e/ou resistentes a apoptose. - Mutações de classe II: ocorrem quando há perda de função dos fatores de transcrição que são importantes para a diferenciação, resultando no bloqueio da diferenciação hematopoiética. No entanto, devemos entender que os tipos de LMA são diversos e não se trata de uma doença única, mas uma doença heterogênea que é caracterizada por inúmeras anormalidades cromossômicas e mutações genéticas. Antigamente, as leucemias eram classificadas segundo o sistema de estadiamento FAB (Francês, Americano e Britânico), a classificação das leucemias mieloides agudas era separada de M0 a M7, de acordo com o desenvolvimento das células: • M0 – Leucemia mieloblástica aguda indiferenciada • M1 – Leucemia mieloblástica aguda com maturação celular mínima • M2 – Leucemia mieloblástica aguda com maturação • M3 – Leucemia promielocítica aguda (conhecida também por LPA) • M4 – Leucemia mielomonocítica aguda (conhecida também por LMMA) • M4 eos – Leucemia mielomonocítica aguda com eosinofilia • M5 – Leucemia monocítica aguda • M6 – Leucemia eritroide aguda • M7 – Leucemia megacarioblástica aguda Gabrielle Nogueira – Med 3°período UniFG Dentre os tipos de LMA, a leucemia promielocítica (LPA) tem um mecanismo fisiopatológico particular que faz com que ela mereça um destaque entre as outras. Nesse tipo de leucemia, ocorre uma translocação do cromossomo 15 com o 17, fazendo com que ocorra a fusão do gene PML (gene da leucemia promielocítica, no cromossomo 15) com o gene RARα (gene do receptor do ácido transretinoico – 17). Esse novo gene de fusão codifica a síntese da proteína Pml-Rar, que tem a função de bloquear a diferenciação celular. O tratamento desse tipo de LMA é feito com o ácido all-transretinoico (tretinoína – ATRA), que se liga ao receptor e promove a diferenciação celular. A LPA cursa com coagulação intravascular disseminada, devido à liberação de proteínas com capacidade de ativação do sistema de coagulação pelos promielócitos neoplásicos. Hoje em dia, a LMA é classificada segundo a alteração citogenética ou molecular encontrada ao diagnóstico, que definirá o prognóstico e o risco de recaída da doença. Informações sobre o subtipo de LMA ajudam o médico recomendar um melhor plano de tratamento. Hoje a classificação da Organização Mundial da Saúde (OMS) é o principal sistema usado para classificar a LMA em subtipos, sendo revisada a cada 8 anos com a última atualização no ano de 2016. Essa classificação inclui anomalias cromossômicas e mutações genéticas que interferem no prognóstico e na previsão de resposta ao tratamento. Hoje ela divide as leucemias em sete categorias principais com suas subcategorias: • Leucemia mieloide aguda com anormalidades genéticas Reúne subtipos com translocações cromossômicas ou mutações genéticas específicas. A detecção dessas anormalidades já define o tumor como LMA e, assim, o critério de diagnóstico dispensa a necessidade de haver mais do que 20% de blastos na medula, tendo, geralmente, um prognóstico melhor. • Leucemia mieloide aguda com alterações relacionadas à mielodisplasia Há sinais de mielodisplasia à microscopia em mais de 50% das células em duas linhagens pelo menos, ou seja, se percebe a superpovoação das células jovens. O prognóstico desses pacientes é pior que o de anormalidades genéticas. • Leucemia mieloide aguda relacionada à quimioterapia ou radioterapia prévia Acontecem posteriormente a tratamentos utilizados em vários tipos de câncer ou de linfomas tanto em indivíduos adultos como em crianças. • Leucemia mieloide aguda não especificada Não há anormalidades citogenéticas e constitui cerca de 30% de todos os casos. Mutações nos genes NPM e FLT3 são vistas respectivamente em 50 e 30% dos casos de LMA, sendo mais frequente nos que têm citogenética normal, como no caso da leucemia mieloide aguda não especificada. • Sarcoma mieloide ou sarcoma granulocítico ou cloroma É um tumor raro sólido composto por blastos mieloides. • Proliferações mieloides relacionadas com a síndrome de Down As crianças com síndrome de down têm risco de leucemia consideravelmente aumentado, principalmente por conta da mielopoese anormal transitória, no qual há uma leucocitose leucemoide autolimitada e por conta da própria leucemia mieloide aguda. • Leucemias agudas indiferenciadas e bifenotípica Gabrielle Nogueira – Med 3°período UniFG • Fatores de risco A etiologia da LMA é desconhecida na maioria dos pacientes, em especial naqueles de causa primaria, ou seja, sem causa aparente. Numa minoria de casos, a LMA está relacionada a doenças genéticas, como a Síndrome de down, síndrome de Patau e síndrome de Klinefelter. Além dessas, as síndromes que evoluem com falência medular congênita. Estão relacionados também a exposição ambiental ou ocupacional a agentes carcinogênicos, tabagismo, benzeno, derivados de petróleo, radiação ionizante (sobreviventes da bomba atômica, radiologistas) e também altas doses de radiação para tratamento de canceres. Os maiores resultantes de danos da radioterapia são aqueles em alta dose, administrada em períodos mais curtos, nos pacientes mais jovens. • Aspectos clínicos A evolução dos sintomas pode ser aguda (dias) ou subaguda (semanas), embora metade dos pacientes apresente queixas inespecíficas nos últimos três meses. Grande parte dos aspectos clínicos são determinados pelo quadro de insuficiência da medula óssea, uma vez que há acúmulo de células blasticas leucêmicas, reduzindo os constituintes normais do sangue (hemácias, leucócitos e plaquetas). Há, então, a tríade sintomática da leucemia aguda: astenia, hemorragia e febre. Observação! Diagnóstico diferencial. Essa tríade é a mesma da anemia aplasica, sendo o diagnostico diferencial importante, pois se não houver leucocitose é indicativo de anemia aplasica. É observado nos pacientes geralmente nos como primeiros sintomas, cansaço, fraqueza, palidez cutânea e de mucosas. Além disso, ocorre a presença de sangramentos decorrentes do quadro de plaquetopenia grave com presença de sangramento mucoso (sangramento nas gengivas, epistaxe, hemorragia digestiva), sangramentos cutâneos (petequias e equimoses). Em decorrência à neutropenia, ocorre a propensão a processosinfecciosos que podem se cursar com febre por infecções bacterianas e fúngicas sistêmicas. Há presença de infiltração de órgãos e tecidos pelos clones leucêmicos, podendo ser achado ao exame físico, esplenomegalia e hepatomegalia, além de infiltrados em gengivas, pele e tecidos moles, vistos mais nos subtipos de leucemias monocíticas. Cerca de 5% dos pacientes podem apresentar sintomas de hiperleucocitose (> 100.000/mm³), representados por cefaleia, visão turva, zumbido, alterações do estado mental, paralisia de nervos cranianos, dispneia, dor torácica e priapismo. • Diagnóstico O diagnóstico de leucemia mielóide aguda é feito pelo estudo do hemograma e do mielograma. - O hemograma mostra anemia normocrômica e normocítica, plaquetopenia e habitualmente leucocitose por conta dos blastos, ou número normal ou diminuído de leucócitos normais com a presença de blastos. Observação! DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Quando a anemia presente é de tipo macrocítica ou megaloblástico, deve-se fazer o diagnóstico diferencial entre LMA e as anemias megaloblásticas, sendo importante a dosagem do ácido fólico e da vit.B12 no soro, além de imunofenotipagem das cpelulas atípicas do sangue periférico e/ou da medula óssea. - O mielograma mostra uma medula com mais de 20% de mieloblastos e diminuídas células de outras linhagens Na leucemia mielóide aguda, os blastos têm uma relação núcleo-citoplasma mais baixa, com cromatina frouxa, presença de vários Gabrielle Nogueira – Med 3°período UniFG nucléolos e citoplasma granular, com a presença de bastonete de Auer (lisossomos fundidos), vistos como pequenas linhas dentro do citoplasma celular. É importante a determinação da origem mielóide do blasto, já que isso define o prognóstico e o tratamento a ser feito. Com este intuito, deve-se fazer imunofenotipagem dos blastos por meio de citometria de fluxo, que é um processo que analisa as características físicas e químicas de células isoladas. Nesse caso, ele é realizado na presença de certos marcadores ou antígenos de membrana, como CD13, CD14, CD33, que permitem definir a origem mielóide do blasto. Na ausência de citometria de fluxo, deve ser feita a citoquímica dos blastos, pois a presença de grãos peroxidase positivos ou sudan black positivos ou uma reação de ANAE positiva permitem definir se o blasto é mielóide ou não, e ainda se há componente monocítico. No diagnóstico, também é necessário colher material de medula óssea para fazer cariótipo, já que, dependendo das anomalias cromossômicas encontradas, é possível classificar as leucemias mielóides agudas em três grupos prognósticos, assim como é necessária a pesquisa do gene BCR/ABL por PCR para, junto com o resultado do cariótipo, fazer o adequado planejamento terapêutico. • Tratamento O tratamento de qualquer tipo de leucemia aguda se baseia em dois pontos principais: - Medidas de suporte - Tratamento específico Medidas de suporte Visa a melhora das condições gerais do paciente, diminuindo os riscos de complicações. Incluem: - Hidratação adequada de forma oral ou por meio da introdução de um cateter venoso central - Transfusões de hemácias e/ou plaquetas - Desinfecção de pele e orifícios naturais, descontaminação de possíveis focos infecciosos e, eventualmente, antibioticoterapia preventiva contra bactérias e fungos. - Evitar a ingestão de verduras e frutas cruas - Isolamento ou semi-isolamento - Evitar a hiperuricemia (excesso de ácido úrico no sangue) que aparece por lise celular (medicamentosa) Tratamento específico Tem o objetivo de eliminar ou pelo menos controlar a proliferação das células leucêmicas. É realizado com o uso de quimioterápicos em combinação, uma vez que o uso de agente quimioterápicos isolados foi abandonado devido levarem à uma pequena remissão da porcentagem dos casos. Esses quimioterápicos atual de preferência nas células que se encontram nos períodos ativos do ciclo celular, na fase de síntese do DNA e do RNA. Hoje os esquemas atuais incluem drogas em associação basedas no uso da citarabina (Ara-C), daunomicina (DRM) e tioguanina (6TG) com as duas primeiras aplicadas por via endovenosa e a terceira é administrada via oral. A leucemia promielocítica (APL ou M3) responde bem ao uso do ácido transretinóico e ao trióxido de arsênico (A2O3), acompanhado ou não de ciclos de quimioterapia clássica. Gabrielle Nogueira – Med 3°período UniFG Esse tratamento quimioterápico, ou quimioterapia (QT), da LMA apresenta duas fases: tratamento de indução da remissão e tratamento pós-indução ( 1 )tratamento de indução da remissão É nessa fase que se procurar obter e levar o paciente à uma remissão total ou completa (RC) da leucemia. Essa remissão completa é entendida quando há ausência de blastos no sangue periférico ou a presença de </= de 5% de blastos em esfregaços de medula óssea, obtidos por meio da punção. Se esse número de blastos for superior a 5% se fala de uma remissão parcial (RP). A REMISSÃO COMPLETA (RC) é obtido por meio de esquemas de poliquimioterapia em porcentagem variável e depende de uma séria de fatores. Dependendo do tipo da LMA e de condições do próprio paciente, como a idade, grau de infiltração leucêmica e condições físicas gerais. É importante ressaltar que a idade é um prognóstico de grande importância, uma vez que pacientes com mais de 60 anos de idade acabam respondendo mal à quimioterapia e, assim, raramente alcançam a remissão completa, já que não possuem condições físicas para suportar os esquemas agressivos de tratamento. ( 2 ) tratamento pós-indução Esse tratamento é realizado com o objetivo de manter com a remissão completa, pode utilizar uma terapêutica menos agressiva ou não. Ela é formada pela consolidação da remissão e no tratamento da manutenção. A consolidação da remissão consiste no uso de dois a seis ciclos de QT adicionais parecidas com as que eram usadas para a indução, com intervalo mínimo de 2 semanas. Já A QT de manutenção é feita com doses baixas das mesmas drogas antileucêmicas usadas inicialmente com ciclos mensais que podem durar de 2-3 anos. Há também alguns protocolos que incluem terapia de manutenção sequencial com drogas diferentes das iniciais. Além dessas duas, tem sido usada também a intensificação tardia, que corresponde a uma terapêutica de consolidação dada em fase tardia (> 6 meses), em pacientes que continuam em Remissão completa. Ela tem o objetivo principal de prolongar a remissão, tentando manter o paciente livre da recidiva por proliferação de células leucêmicas residuais, dificilmente detectadas por exames de rotina e em locais comumente denominados de santuários (SNC, testículos), que são os locais que rotineiramente a quimioterapia não penetra, não alcançando níveis terapêuticos eficazes. Leucemia Mielóide Crônica Essa leucemia é caracterizada por uma proliferação de células mieloides granulocíticas, que mantém sua capacidade de se diferenciar em outras células, mas que surgiram em decorrência de uma anomalia da célula primordial ou indiferenciada (Stem- cell) da medula óssea. Esse clone alterado que advém da célula primordial se expande e infiltra o parênquima medular, de modo lento, mas progressivo em detrimento da proliferação das células normais. • Epidemiologia Essa doença é mais comum em homens do que em mulheres e acomete principalmente paciente com idade acima de 55 anos, sendo não comum o aparecimento em crianças. Ela representa cerca de 14% de todas as leucemias e, no Brasil, possui uma incidência de 1,6 casos a cada 100 mil habitantos por ano. Quando presente na infância e na adolescência, a doença tem evolução clínica mais severa,cursando com quadro de hemorragias, que é muito raro na forma do adulto. Geralmente são casos de LMC com Ph negativo. Depois do advento da terapia com inibidores da tirosina quinase (TKIs) houve uma melhora no prognóstico com chance de sobrevida Gabrielle Nogueira – Med 3°período UniFG dos pacientes semelhança à população em geral. • Fisiopatologia Percebeu-se que a LMC era advinda de uma falha na resposta das células jovens aos fatores reguladores (inibidores e estimuladores) da granulocitogênese. Entre os principais achados, temos que a anomalia cromossômica denomina de translocação t(9;22) está presente em mais de 90% dos casos de LMC típica, sugerindo esse fator como o principal causador da doença. FATORES DE RISCO! É importante ressaltar que várias situações poderiam levar a essa alteração cromossômica, como: RADIAÇÕES (raio-x, radiação atômica), intoxicações por drogas (benzeno) e até infecção viral. Essa mutação genética também é conhecida como cromossomo Philadelphia (Ph), em que a translocação t(9;22) (q34;q11) entre os cromossomos 9 e 22, que faz com que parte do oncogene ABL1 seja transferido para o gene BCR no cromossomo 22 e parte do cromossomo 22 seja transferido para o cromossomo 9. É exatamente o cromossomo 22 anormal que é o cromossomo Ph, que determina um gene quimérico BCR-ABL1, que codifica uma proteína de fusão de tamanho 210kDa com atividade de tirosinoquinase excessiva, que é uma enzima importante na regulação da proliferação celular, o que faz com que essas células se proliferem de maneira excessiva. Além disso, por meio de um mecanismo complexo, a proteína bcr-abl também é capaz de interferir no apoptose das células, fazendo com que elas sobrevivam por um tempo maior que o normal, se acumulando no sangue, na medula óssea e em outros tecidos. Esses fatores se processam de modo lento, sendo necessário vários anos para que se instale o quadro típico da LMC. Durante esse tempo, os clones de células normais da medula óssea permanecem em sua diferenciação normal, mas em determinada fase, eles são derrubados em número pelas células leucêmicas. É por esse motivo que o diagnóstico da LMC em fase precoce é muito difícil de ser realizado, por que a morfologia das células normais e das leucêmicas são praticamente a mesma. Outro ponto importante de se relatar, é que o gene híbrido bcr/abl promove ainda a ativação de, pelo menos, dois outros oncogenes: c-mys e ras, além das mutações de outros genes (p53, RB) que com a progressão da doença ocorrem em número cada vez maior na stem-cells e, depois de alguns anos, faz com que a doença se modifique, deixando de ter características de cronicidade e se transformando em forma aguda. Há uma pequena porcentagem de casos em que não é encontrado o cromossomo Ph, chamados de LMC Ph Negativos, tendo uma evolução clínica diferente e menos favorável que os Ph+. • Quadro Clínico A doença evolui de forma lenta, mas de forma progressiva, frequentemente sendo diagnosticada em média de 12 meses após a doença já ter instalado com os pacientes referindo fraqueza progressiva, aumento do baço e, mais raramente, aumento dos gânglios. As queixas de febre e hemorragias são menos frequentes, mas, em muitos casos, a hepatomegalia já está presente de forma variável. Gabrielle Nogueira – Med 3°período UniFG O quadro clínico é caracterizado ainda por uma hiperplasia mieloide acompanhada de leucocitose, neutrofilia e basofilia. Em alguns pacientes que apresentam leucocitose elevada podem ter queixas de dor intensa ligada a priapismo, que é uma ereção persistente involuntária. Sistematicamente a doença vai evoluir para uma fase de agravamento que termina por se transformar numa forma de leucemia mieloide aguda. De modo geral, há três fases da LMC: Fase crônica, fase de aceleração, fase de agudização (1) Fase crônica: As características de evolução crônicas da LMC persistem por um tempo médio de 3-5 anos, sendo geralmente pouco sintomática. (2) Fase de aceleração: há o aparecimento de mais sintomas. Corresponde à fase em que a doença se torna refratária à terapêutica (resistente) e ocorre um aumento de precursores granulocíticos no sangue e na medula. A hepato e a esplenomegalia, que haviam desaparecido com o tratamento apropriado na fase crônica, voltam e se intensifica a trombocitopenia ou a trombocitose. Nessa fase, os pacientes ainda podem estar assintomáticos ou então começar a apresentar febre, sudorese noturna, perda ponderal e dores ósseas. (3) Fase de agudização ou crise blástica: A doença passa a se comportar como uma leucemia aguda, mas com um quadro mais grave que a observada na LMA. A anemia se intensifica, havendo quadro hemorrágico com variada gravidade, febre e queda do estado geral. Além disso, há piora na esplenomegalia e pode haver infiltração extramedular dos blastos, podendo atingir a pele, linfonodos, os ossos e o sistema nervoso central. Os blastos se encontram em grande número no sangue e na medula óssea, geralmente com a evolução costuma ser geralmente fatal, com pouco sucesso terapêutico e com uma sobrevida sem tratamento de 3 a 6 meses. DESVIO À ESQUERDA Corresponde ao aparecimento, no sangue periférico, de precursores granulocíticos (bastonetes, mielócitos e metamielócitos), que normalmente se localizam na medula óssea. Ou seja, quando os neutrófilos são jovens, isto é, quando ainda estão em fase de desenvolvimento, eles são chamados de bastões. Quando estão maduros, eles são chamados de segmentados No entanto, quando estamos sendo infectados por algum fator patogênico, o sistema imunológico tenta de forma mais rápida controlar a infecção através do aumento da produção e liberação de maior número de neutrófilos para a corrente sanguínea, não tendo tempo para esperar com que os bastões fiquem maduros. Em situações normais, apenas 4% a 5% dos neutrófilos circulantes são bastões. A presença de um percentual maior dessas células jovens, associado a uma leucocitose com neutrofilia, sugere fortemente a existência de uma infecção aguda. Quando o paciente apresenta muitos bastões no sangue, dizemos que ele tem um “desvio à esquerda”. Esta denominação deriva do fato dos laboratórios fazerem no hemograma a listagem dos diferentes tipos de leucócitos colocando seus valores um ao lado do outro. Como os bastões costumam estar à esquerda na lista, quando há um aumento do seu número, dizemos que há um desvio para a esquerda no hemograma. Pode ser classificado como desvio escalonado (“respeita” o fluxo de produção sanguínea. Ex: quantidade de PMN (granulócitos) > quantidade de bastões > quantidade de metamielócitos...) ou não Gabrielle Nogueira – Med 3°período UniFG escalonado (não obedece a maturação esperada. Ex: quantidade de blastos > quantidade de PMN). • Diagnóstico O diagnóstico da LMC é feito, muitas vezes, ainda nos pacientes assintomáticos na fase crônica da doença por meio da realização de exames de rotina. Isso por que nesses pacientes, encontramos no hemograma uma leucocitose, geralmente acima de 25.000 células/mm3 com desvio à esquerda, eosinofilia e basofilia. A contagem de plaquetas frequentemente se encontra alta, mas pode se encontrar normal ou baixa. Além de ser comum a existência de anemia normocítica e normocrômica e aumento da desidrogenase láctica (DHL) e do ácido úrico. Quando realizado o mielograma (punção aspirativa da medula óssea) para confirmação do diagnóstico, observamos na medula óssea de um paciente em fase crônica uma hiperplasia granulocítica de morfologia normal. Há presença de blastos, porém menor que 10% (encontramos mais de 20% de blastosna leucemia mieloide aguda). Por fim, pode também ser observada, em alguns casos, uma monocitose absoluta. Na fase acelerada, podemos encontrar no hemograma uma trombocitose, que pode evoluir para uma trombocitopenia. Também pode haver evolução da doença com um quadro de mielofibrose. É importante lembrar que as células mudam conforme o avanço da doença, havendo uma evolução clonal genética. Além disso, é necessário realizar testes citogenéticos para pesquisar a presença do cromossomo Philadelphia que, além de ser um marcador da doença, é um marcador prognóstico da evolução do tratamento da doença. Fora isso, pode ser feita a pesquisa do gene BCR-ABL por meio de PCR. Gabrielle Nogueira – Med 3°período UniFG • Prognóstico Em 1981, foi avaliada a importância de alguns dados clínicos e laboratoriais para que pudesse indicar o pior prognóstico em casos de LMC: - Esplenomegalia (>15 cm do rebordo costal) - Hepatomegalia (> 6cm do rebordo costal) - Leucócitos no sangue em número superior a 100.000/mm3 - Células blásticas (nucleoladas) no sangue acima de 1% - Plaquetas em número inferior a 150.000/ mm3 - Plaquetas em número superior a 500.000/ mm3 De acordo com o número de fatores de mau prognóstico que o paciente tivesse, ele seria classificado em um determinado grupo, que poderia ser: Grupo I: presença de 0 a 1 fator Grupo II: presença de 2 a 3 fatores Grupo III: presença de 4 a 6 fatores Já em 1984, foi publicado o escore de sokal, que derivava de uma análise multivariada de sobrevida de 813 pacientes com LMC em fase crônica, avaliados entre 1962 e 1981. A maioria dos pacientes sendo tratado com quimioterapia com agente único, que era o bussulfato. Hoje em dia muitos dos fatores de prognósticos adversos são levados em conta no sistema de sokal, que desenvolve uma pontuação utilizada no prognóstico do paciente. Os fatores são: • Fase acelerada ou fase blástica. • Aumento do baço. • Áreas de dano ósseo devido ao avanço da leucemia. • Aumento do número de basófilos e eosinófilos em amostras de sangue. • Contagem de plaquetas muito alta ou muito baixa. • Idade (60 anos ou mais). • Múltiplas alterações cromossômicas nas células leucêmicas. É esse sistema que ajuda a classificar os pacientes em grupos de risco (baixo, intermediário ou alto). Além dele, há outro sistema, chamado de Sistema Euro, que inclui além dos fatores de Sokal, a contagem no número de basófilos e eosinófilos. • Tratamento Todos os pacientes diagnosticados com LMC podem fazer uso de agentes citostáticos (ou seja, drogas que se opõe ao crescimento, desenvolvimento e multiplicação) como a hidroxiureia ou o bussulfano. Esse é um tratamento paliativo para a doença, uma vez que proporciona apenas uma resposta hematológica de melhora do hemograma e diminuição de sintomas, mas que não apresenta benefícios para a sobrevida do paciente. O alfa-interferon era a medicação mais utilizada antigamente. Ele promove uma remissão hematológica completa em até 90% dos pacientes, melhorando a LMC por um mecanismo ainda desconhecido. Contudo, ele deve ser aplicado por via subcutânea e ocasiona frequentes efeitos colaterais e, por isso, atualmente é raramente usado. Dessa forma, as drogas de escolha mais atuais para o tratamento da LMC são os inibidores de tirosina-quinases. Essas medicações agem justamente onde a LMC causa mais problemas, uma vez que a doença é caracterizada pela multiplicação celular alterada por uma proteína tirosina quinase, codificada pelo gene BCR-ABL. A medicação de primeira escolha é o mesilato de imatinibe, que atua inibindo especificamente a fosforilação da tirosina- - quinase produzida pelo BCR-ABL. Ele induz uma resposta hematológica de maneira rápida e completa, sendo o tratamento inicial de escolha para LMC recém-diagnosticada. Como efeitos colaterais, essa droga pode ocasionar náuseas, diarreia, erupções cutâneas, Gabrielle Nogueira – Med 3°período UniFG câimbras e alterações transitórias das transaminases. Na fase crônica, o mesilato de imantinibe é administrado por via oral, na dose de 400mg/dia. Caso o paciente esteja na fase acelerada da doença, administra-se a dose de 600mg/dia, sendo possível alcançar respostas em 25% dos casos, porém os resultados são inferiores aos encontrados quando a droga é utilizada em pacientes na fase crônica. Por fim, se o paciente já se encontra na fase blástica, a administração do medicamento apresenta somente resultados parciais e de curta duração. Nesse estágio, o medicamento costuma ser utilizado antes de o paciente receber um transplante de medula óssea, que será o que de fato irá ajudar nessa fase. Caso o mesilato de imatinibe falhe, temos outras opções de medicamentos, chamadas de inibidores de tirosina-quinase de 2ª geração. Geralmente são usadas quando o gene BCR-ABL1 sofreu mutações que o tornaram resistente ao imatinibe. Entre eles temos o desatinibe e o nilotinibe. - O desatinibe é utilizado pela via oral, com administração de 100mg/ dia na fase crônica e de 140mg/dia na fase avançada. Como efeitos colaterais, podemos observar retenção de fluidos, derrame pleural, diarreia, sangramentos, prolongamento do intervalo QT e toxicidade hematológica. - O nilotinibe é administrado por via oral, em forma de comprimido de 400mg, que deve ser tomado de 12 em 12 horas, próximo às refeições. Seus principais efeitos colaterais são toxicidade hematológica, aparecimento de rash cutâneo, náuseas, prurido, prolongamento do intervalo QT e hiperglicemia. Observação! Critérios de falha de acordo com o tempo de tratamento. - Se aos 3 meses de tratamento o paciente não apresentar resposta hematológica ou se o cromossomo Ph estiver presente em mais de 95% das células, podemos afirmar que o tratamento falhou. - Aos 6 meses, há falha do tratamento se a avaliação da PCR demonstrar mais de 10% do gene BCR-ABL ou se o cromossomo Ph se manifestar em mais de 35% das células. - Quando o paciente já realiza tratamento há um ano, ele não deve possuir o gene BCR-ABL em mais de 1% e não deve ser detectada a presença do cromossomo Ph. Caso contrário, há falha de tratamento. Além desses critérios, relacionados ao tempo de tratamento, podemos dizer que há falha se, a qualquer momento a partir dos 3 meses, houver perda da resposta hematológica. Isso porque, se o tratamento estiver funcionando adequadamente, um paciente que faz uso de inibidores da tirosina quinase Gabrielle Nogueira – Med 3°período UniFG precisa apresentar hemograma e baço normais. Caso nenhum dos medicamentos funcione, é necessário realizar o transplante de medula óssea alogênico, ou seja, a medula deve vir idealmente de um irmão ou irmã com a composição genética semelhante. Esse é o método mais eficaz na indução das remissões citogenética e molecular completas, além de ser A ÚNICA FORMA CURATIVA DE TRATAMENTO da doença, curando 70% dos pacientes. Entretanto, apesar disso, a realização do transplante apresenta uma alta taxa de mortalidade, de cerca de 15 a 20%. Frente a isso, a realização de transplantes é reservada apenas aos pacientes que apresentam falha no tratamento com uso dos inibidores da tirosina quinase. Leucemia Linfoide Aguda A leucemia linfoide aguda é uma doença maligna que é derivada de células indiferenciadas linfoides que se acumulam na medula óssea, no timo e nos gânglios linfáticos. Essas células leucêmicas, assim como na LMA, mantem a capacidade de multiplicação, mas não chegam a se diferenciar até as formas maduras e normais, acumulando oslinfoblastos ou as células jovens em diferentes etapas de maturação. Ela pode ainda ser do tipo B ou do tipo T, em que a determinação desse tipo de linfócito que prolifera é importante até mesmo para orientação da terapêutica e pro próprio prognóstico, sendo a maioria das LLA do tipo pré-B ou ainda de células mais ainda diferenciadas. • Epidemiologia Essa doença é mais comum durante a infância entre 3 e 7 anos com 75% dos casos ocorrendo antes dos 6 anos, mas também pode atingir indivíduos adultos com elevação secundária maior após os 40 anos. 85% dos casos são de linhagem B (LLA-B), tendo incidência igual entre os dois sexos, enquanto os outros 15% são de linhagem T (LLA-T) com predominância masculina. No Brasil, a LLA tem incidência de 6,5 casos a cada um milhão de pessoas, por ano. • Fisiopatologia O que ocorre na LLA, é que as células malignas deixam de responder à ação controladora dos fatores estimuladores e inibidores da hemopoese normal, fazendo com eles atuem independente e permaneçam cristializadas ou eternizadas em alguma fase de maturação. Essa parada de resposta está frequentemente relacionada diretamente a mutações de genes secundárias a uma virose ou à ação de agentes físicos ou químicos. Em certo número de casos, o evento inicial vai acontecer no feto, in utero, com o evento secundário desencadeado na infância, por uma infecção ou outro agente. O primeiro evento seria a translocação (p. ex, t[12;21]), ou uma mutação pontual e o segundo seria uma um evento que causa alterações no número de cópias de todo genoma, sendo atingidos locais que codificam funções relevantes à leucemogênese. Foi visto que, por exemplo, os vírus podem alterar genes que codificam fatores estimulantes do crescimento celular ou receptores de membrana para esses fatores, tornando-os em oncogenes. Além disso, verificou-se que os retrovírus (vírus que contém a transcriptase reversa) pode ainda integrar o DNA de seuas células hospedeiras e transformá-las em células leucêmicas. Outro ponto importante, é que outras anomalias cromossômicas, como doença de Fanconi, a síndrome de Down e a síndrome de Bloom, também pode ser responsável pela maior incidência de LLA, uma vez que nessas patologias estão presentes os chamados “sítios frágeis” em alguns cromossomos, que Gabrielle Nogueira – Med 3°período UniFG se tornam locais de fácil quebra e de difícil reparo do DNA após uma exposição do indivíduo a agentes mutagênicos ambientais. Nós temos alguns oncogenes que estão mapeados exatamente nesses sítios frágeis ou próximos a eles. Temos o oncogene mos na LMA com t(8;21), o oncogene abl, translocado na LMC com t(9;22) e a translocações do cromossomo 11q23, envolvendo o oncogene mll, na LLA da criança. • Classificação A LLA é classificada de acordo com a morfologia das células leucêmicas, além da fenotipagem e da citogenética. A classificação da doença é indicativa de fatores prognósticos e também ajuda na detecção de recaídas precoces. Antigamente, era utilizada a classificação Franco-Américo-Britânica (FAB), que levava em conta apenas características morfológicas. Atualmente, utiliza-se também os parâmetros de citogenética e imunofenotipagem. Pela imunofenotipagem, é possível identificar o tipo de linfócito afetado, B ou T, através dos marcadores celulares, e também o estágio de maturação em que as células se encontram, informação muito importante da definição do prognóstico do paciente. Pela citogenética, identifica-se alterações genéticas presentes especificamente nas células alteradas, o que também auxilia no prognóstico. Na LLA, anormalidades cromossômicas são encontradas em 60 a 80% dos adultos e em cerca de 90% das crianças. • Diagnóstico clínico – Diagnóstico Diferencial O quadro clínico não permite o diagnóstico diferencial entre a LLA e LMA, uma vez que nas duas há queixas de fraqueza, palidez progressiva, hemorragias e um quadro infeccioso. Logo, observaremos a anemia (palidez, letargia e dispneia), neutropenia (febre, mal- estar, infecções da boca, da garganta, da pele, das vias aéreas, da região perianal, ou outras), trombocitopenia (equimoses espontâneas, púrpura, sangramento gengival e menorragia)). Na LLA é mais frequente o crescimento de tecidos linfoides, provocando adenomegalia e esplenomegalia, além de fenômenos compressivos por conta do crescimento de gânglios linfáticos (mediastino e no timo), mas de forma mais rara. Pode ocorrer uma infiltração do sistema nervoso central, que resulta em quadro semelhante ao da meningite, com paralisia de nervos cranianos, chamado de neuroleucemia. No sexo masculino é visto com mais frequência a infiltração leucêmica dos testículos e é por conta disso que a biópsia testicular é preconizada nos pacientes que estão em remissão dessa doença. Além disso, alguns casos de LLA correspondem à fase de agudização da LMC, aparecendo a alteração citogenética clássica: o cromossomo Ph. Esse achado é mais frequente na LLA do adulto e indica sempre um pior prognóstico. Observação! Algumas viroses da infância costumam causar uma reação linfocitária intensa com o aparecimento de pequena porcentagem de linfócitos jovens circulando (linfoblastos e prolinfócitos) e algumas atipias celulares que levam à uma suspeita de LLA. Nesse caso, quando houver uma adenomegalia muito acentuada com um baço grande palpável associado a quadro purpúrico (plaquetopenia), é indicado um mielograma Gabrielle Nogueira – Med 3°período UniFG para o diagnóstico diferencial entre a reação linfocitária e LLA. Se houver predomínio de massas sólidas linfonodais ou extranodais com <20% de blastos na medula óssea, a doença é chamada de linfoma linfoblástico, mas é tratada como LLA. • Diagnóstico No hemograma desses pacientes, normalmente encontramos anemia normocrômica e trombocitopenia com contagem de leucócitos pode ser baixo, normal ou alta, atingindo 200.000/ml com presença de blastos de número variável. Contudo, pode ser observado também em alguns pacientes uma leucopenia, ou seja, ausência de blastos na circulação, em que as células leucêmicas somente na medula óssea e o hemograma indica pancitopenia, ou seja diminuição de todas as células do sangue. Quando realizado o mielograma, observa-se a presença de mais de 20% de blastos. Faz-se também a fenotipagem e a citogenética do material de medula óssea coletado para a definição do diagnóstico. A punção lombar para exame do líquor não é mais feita rotineiramente, pois foi constatato que pode causar transferência de células leucêmicas para o SNC. A bioquímica do sangue mostra aumento de ácido úrico, de desidrogenase láctica e, às vezes, hipercalcemia. Exames radiológicos podem mostrar lesões ósseas líticas e massa mediastinal causada por aumento do timo e/ou linfonodos mediastinais, característica da LLA-T • Tratamento Alguns fatores têm importância na orientação do tratamento, procurando identificar os casos que há alto risco e aqueles para os quais existe risco padrão. Os fatores são os seguintes: - Idade: a LLA da infância é diferente da no adulto. Isso por que a leucemia linfoblástica que incide em crianças com idade entre 2-10 anos tem um melhor prognóstico do que aquela que aparece antes dos 12 meses de idade ou nos indivíduos adultos. Aparentemente, o pior prognóstico nas crianças antes dos 12 meses ocorre por conta do maior número das leucemias indiferenciadas ou híbridas, ou seja, as com marcadores de linhagem linfóide e mieloide nas células blásticas. - Número de leucócitos: quanto maior a massa de células leucêmicas, pior o prognóstico. Além disso, quando o número é elevado, há também aumentode lactodesidogenase no soro. - Sexo: o prognóstico costuma ser pior no sexo masculino - Tipo imunológico: a LLA tipo B predomina em crianças (80%), sendo a maior parte tipo pré-B indiferenciado, também chamada de LLA comum. Em adultos, esse tipo comum incide em menor proporção (50%). A LLA tipo T parece ter um pior prognóstico em crianças, já nos adultos parece ser esse tipo que responde de melhor forma à terapêutica intensiva usada atualmente. O tratamento é baseado em dois: tratamento de suporte e tratamento específico. • Tratamento de suporte É realizado quando se tem insuficiência da medula óssea e visa a melhora das condições gerais do paciente, diminuindo os riscos de complicações. Incluem: Gabrielle Nogueira – Med 3°período UniFG - Hidratação adequada de forma oral ou por meio da introdução de um cateter venoso central – para manter a diurese a 100ml por hora - Transfusões de hemácias e/ou plaquetas, principalmente quando o paciente apresenta sangramentos ou plaquetas abaixo de 20.000 por microlitro - Prevenção da síndrome de lise tumoral - É feita com o uso de quimioterápico, como o alopurinol em doses de 200 a 300 mg/m2 de área corpórea do paciente. - Tratamento imediato de qualquer episódio febril – uma vez que é indicativo de infecção, além da prevenção de infecção com antibióticos, antifúngicos e antivirais. Isso por que o sistema imune já se encontra duplamente comprometido, tanto pela leucemia, quanto pela quimioterapia. • Tratamento específico Tem como objetivo principal conseguir eliminar o clone leucêmico para que assim se consiga chegar à cura do paciente. Ela é realizada por meio da quimioterapia quando está em fase de indução de resposta (que é a fase que tem o objetivo de eliminar os blastos do sangue e reduzir o número na medula óssea), de profilaxia do sistema nervoso central e de consolidação (destruir as células leucêmicas que restaram depois que o paciente se recupera da indução) e de manutenção (administrar uma baixa dose de determinada droga durante meses ou anos após a consolidação) Geralmente nos adultos há uma maior chance de remissão de cerca de 70 a 90% dos casos em comparação com as crianças, mas costuma durar apenas um período de 15 a 32 meses e depois do terceiro ano, só 30 a 45% dos pacientes costumam manter a remissão. Há inúmeros opções de protocolos de quimioterápicos que podem ser seguidos e que, muitas vezes, utilizam drogas semelhantes. - Na fase de indução, utiliza-se prednisona, vincristina e antraciclina. Alguns protocolos adicionam também a asparaginase e alguns realizam logo uma intensificação precoce, utilizando ciclofosfamida, metotrexato e arabinosídeo- C. - Depois realiza a consolidação pós-remissão, que dependendo do prognóstico do paciente pode ser com ou sem a realização de transplante de medula ósse, geralmente se usa as mesas drogas da fase de indução. - Já a manutenção do tratamento dura em média de 2 anos em meninas e adultos e 3 anos em meninos, com doses diárias de mercaptopurina e metotrexato uma vez por semana de forma oral. É importante ressaltar que se tem um alto risco de varicela e sarampo durante o tratamento de manutenção em crianças sem imunidade e, se por acaso, tiver a exposição a essas infecções deve ser feita a imunoglobulina profilática. Os pacientes que tiveram recaídas ou que foram refratários ao tratamento, possuem um prognóstico ruim, uma vez que só 50% conseguem atingir uma remissão completa da doença, havendo sempre uma doença residual mínima. Nesse caso, o indicado é um transplante de medula óssea alogênica (geralmente de um irmão ou irmã) do que a utilização de novas quimioterapias. - A profilaxia do SNC é importante por que em grande parte das vezes ele não consegue ser atingido pelas drogas do tratamento por conta da barreia hemato-encefálica e, por conta disso pode acabar abrigando os blastos leucêmicos, Nesse caso, pode se fazer a prevenção por meio de radioterapia, quimioterapia intratecal (injeção do medicamento no líquor) ou por altas doses de quimioterapia sistêmica, que é administrada na corrente sanguínea. Gabrielle Nogueira – Med 3°período UniFG Leucemia Linfocítica Crônica É originada nas células linfoides maduras, que começam a se multiplicar descontroladamente, passando a ocupar a medula óssea, prejudicando a produção de células normais e podendo se infiltrar em órgãos linfoides, como baço e linfonodos. • Epidemiologia A leucemia linfocítica crônica (LLC) é a mais comum das leucemias linfoides, correspondendo a 30% dos casos de leucemias, tendo uma maior incidência entre os 60 e 80 anos de idade. Atualmente a incidência é de 2 a 6 casos a cada 100 mil habitantes, aumentando com o aumento da faixa etária analisada. A doença é mais prevalente no sexo masculino em uma proporção de dois homens afetados para cada mulher. É a leucemia mais comum no Ocidente, mas é rara no Extremo Oriente. É importante ressaltar que, ao contrário das outras leucemias, a incidência não aumenta com a radioterapia e a quimioterapia prévia, mas o risco de ela aparecer e maior em familiares próximos de pacientes com a doença. Indicando uma possível disposição genética da doença. • Fisiopatologia Ela se origina de uma proliferação neoplásica indiferenciada que é responsável pelo aparecimento do clone leucêmico, sendo em mais de 90% dos casos de tipo B e em raríssimos casos de tipo T. No sangue periférico e nos esfregaços de medula óssea ocorre um aumento de linfócitos de tipo maduro e raramente prolinfócitos e blastos. A alteração inicial que origina a LLC ainda não está definitivamente esclarecida, principalmente pelo fato de que as células leucêmicas apresentam baixo índice mitótico, dificultando o avanço nos estudos citogenéticos. A LLC é considerada uma linfoproliferação com características próprias, em que o aumento progressivo de linfócito em circulação não ocorre por excesso de proliferação, mas sim por acúmulo das células, já que os linfócitos leucêmicos da LLC têm pequeno índice de proliferação e se acumulam na circulação ou nos órgãos linfóides na fase G0 do ciclo celular. Alguns estudos genéticos a partir da década de 90, conseguiram detectar algumas anomalias genéticas na LLC, como: (1) trissomia do 12(+12q), que tá presente em 50% dos casos (2) deleção do 13(-13q14), considerada a anomalia mais frequente (3) deleção do 11(-11q22) (4) deleção do 6(-6q21-23) (5) deleção do 17(17p13) com mutação do gene p53 Além disso, a LLC tipo T tem incidência relativamente elevada em portadores de ataxia teleangiectasia, uma doença imunológica. Como já foi visto anteriormente, isso ocorre por conta da maior susceptibilidade a quebras de cromossomos, translocações e inversões. Gabrielle Nogueira – Med 3°período UniFG • Fatores de riscos Há alguns agentes que em estudos epidemiológicos aparecem atuar positivamente na origem da LLC. Podemos citar o caso das substâncias químicas usadas como pesticidas (organofosfatados) na zona rural. Além disso, solventes químicos derivados do petróleo, substâncias químicas de várias naturezas utilizadas em indústrias de plástico e agentes físicos, como exposição a compôs elétricos e magnéticos. Outrossim, doenças hereditárias com alterações cromossômicas (mutações e etc) e doenças autoimunes parecem também atuar positivamente no aparecimento da LLC. • Diagnóstico clínico A maioria dos pacientes com LLC é totalmente assintomática, sendo a doença eventualmente descoberta em exames de rotina, por achado de linfocitose importante em hemograma de rotina, o que leva a uma investigação mais apurada. Quando o pacienteapresenta sintomas, os mais comuns de serem encontrados são: linfadenopatia generalizada, perda de peso e queixas de cansaço decorrente de anemia. A linfadenopatia caracteriza-se pela presença de pequenos linfonodos palpáveis (em alguns casos podem ser maiores), de consistência fibroelástica, móveis e indolores, sem sinais flogísticos. A presença de hepatomegalia é observada em cerca de 50% dos pacientes, assim como esplenomegalia não volumosa, isto é, o baço encontra-se apenas discretamente aumentado. Pode haver também infiltração leucêmica em outros órgãos, como nas tonsilas, nas meninges e na pele. Pode haver quadro de surgimento de petéquias e equimoses devido à plaquetopenia, apesar de ser um cenário mais raro. Por fim, as infecções bacterianas, como pneumonias, são frequentes devido ao desequilíbrio da imunidade provocado pela produção de linfócitos anormais e à neutropenia frequentemente observada. Os pacientes com LLC frequentemente apresentam quadros autoimunes associados. Cerca de 10 a 25% cursam com anemia hemolítica autoimune, 2% estão associados a quadros de trombocitopenia imune, 60% dos pacientes apresentam hipogamaglobulinemia e em 5% dos casos há hipergamaglobulinemia monoclonal. • Estadiamento Primeiramente se utilizou a escala Rai como referência do estado evolutivo da doença, que divide o estadiamento em cinco categorias de 0 a 4. - Estágio 0: Observa-se linfocitose no sangue e medula óssea com 40% ou mais de células infiltradas. Há sobrevida mediana de mais de 150 meses. - Estágio I: Há linfocitose com linfadenopatia localizada ou generalizada. A sobrevida mediana é de aproximadamente 101 meses. - Estágio II: Além da linfocitose, há esplenomegalia e/ou hepatomegalia. A sobrevida costuma ser de 71 meses. - Estágio III: Há linfocitose e anemia (hemoglobina abaixo de 11g/ dL independentemente do sexo). Sobrevida de 19 meses. A anemia pode ser de qualquer tipo, inclusive a hemolítica. - Estágio IV: Há linfocitose com trombocitopenia. A sobrevida mediana também é de 19 meses. Em 1987, essa classificação de Rai foi alterada, sendo dividido os estágios em três níveis de risco: - Risco baixo: Quando há somente linfocitose no sangue e na medula óssea. A sobrevida é de mais de 10 anos. - Risco intermediário: A linfocitose é acompanhada por linfadenomegalia e por esplenomegalia, com ou sem Gabrielle Nogueira – Med 3°período UniFG hepatomegalia. A sobrevida mediana é de aproximadamente 7 anos. - Risco alto: Há linfocitose, anemia e trombocitopenia. A sobrevida costuma ser de 2 anos. Esse estadiamento foi revisado em 1981 (Binet), sendo proposto uma nova classificação clínica, baseada nos níveis de hemoglobina, na contagem de plaquetas e no número de áreas ganglionares aumentas de tamanho. - Estágio A: Quando o paciente possui menos de 3 áreas de envolvimento linfoide, na ausência de anemia ou trombocitopenia. A sobrevida mediana costuma ser maior de 10 anos. - Estágio B: Quando há 3 ou mais áreas de envolvimento linfoide, porém na ausência de anemia ou trombocitopenia. A sobrevida é de aproximadamente 7 anos. - Estágio C: Quando os níveis de hemoglobina estão menores que 10g/dL ou as plaquetas estão abaixo de 100.000 por microlitro. A sobrevida mediana é de 2 anos. • Prognóstico • Diagnóstico No hemograma de um paciente com LLC encontramos linfocitose persistente, com mais de 5.000 células por microlitro por mais de três meses (exclui-se a possibilidade de quadro infeccioso). Além disso, aproximadamente 20% dos pacientes também apresentam quadro de anemia ou de trombocitopenia. O diagnóstico é feito pela análise das características morfológicas das células presentes no sangue periférico e pela realização de mielograma, para análise das células em esfregaço da medula óssea. Em alguns casos, pode ser necessária a análise histológica da medula óssea, dos gânglios linfáticos ou do baço. Além disso, pode-se fazer a complementação do diagnóstico com estudos citogenéticos e de biologia molecular que, além da função diagnóstica, auxiliam na definição do prognóstico da doença. Para a definição do diagnóstico de LLC são verificados alguns critérios: - O paciente deve possuir leucocitose acima de 5.000 linfócitos B/microlitro - Deve haver predomínio de linfócitos pequenos e maduros - A imunofenotipagem deve ser característica de LLC Em alguns casos, quando é realizado o mielograma, deve-se encontrar infiltração de medula óssea por linfócitos maduros maior que 30%. Em 80% dos pacientes com LLC estão presentes anormalidades citogenéticas. Para avaliá-las, realiza-se um exame chamado FISH. Nele, podemos encontrar a deleção do 13q em 50% dos pacientes, a deleção do 11q em 23%, a trissomia do cromossomo 12 em 20%, a deleção do 17p em 14% e o 14q32 em 28% dos casos. Gabrielle Nogueira – Med 3°período UniFG • Tratamento A LLC é uma doença incurável por quimioterapia, sendo geralmente esse tratamento realizado como forma de suporte. Para curar essa doença, é necessário a realização de um transplante de medula óssea alogênico, mas esse procedimento ainda apresenta alta taxa de mortalidade. • Em pacientes no estadiamento A, RAI 0 ou então com prognóstico de baixo risco realiza-se, inicialmente, um período de observação clínica. O paciente deve ser acompanhado, com realização de hemogramas e exames laboratoriais gerais de 3 a 6 meses. Nesse período, deve-se avaliar se a doença é estável ou se há piora progressiva do quadro. Se a doença permanecer estável nesse período, não se deve realizar tratamentos, mas apenas continuar monitorando o paciente. Caso seja observada piora, inicia-se então o tratamento. • Entre os pacientes de estadiamento intermediário, isto é, RAI I ou II ou Binet B, cerca de 1/3 possui doença estável. Nesses casos, também vale a conduta de observação e acompanhamento, sem nenhuma terapêutica. Observação! Em 2/3 desses pacientes, há progressão da doença nos primeiros 2 anos, sendo observado rápido aumento de gânglios, do baço ou dos linfócitos. Nessas situações, opta-se pelo tratamento a fim de melhorar a qualidade de vida do paciente. • Nos pacientes de Binet C, RAI III ou IV ou que possuem fatores prognósticos de alto risco, é sempre necessário o tratamento. Ele consiste na realização de quimioterapia, em 6 ciclos, com três drogas: fludarabina, cliclofosfamida e rituximabe. Em 95% dos casos há resposta global e remissão completa em 52% dos pacientes. Observação 1: Contudo, antes de iniciar o tratamento, é necessário avaliar as condições clínicas do paciente. Muitas vezes, os pacientes mais idosos não aguentam esse esquema de quimioterapia. Nesses casos, esses pacientes mais frágeis podem receber um tratamento com intensidade reduzida, com administração de clorambucil, associado ou não ao rituximabe. Caso o paciente possua muitas comorbidades e não houver condições de se realizar quimioterapia, são instituídos os cuidados paliativos. Observação 2: A não ser que seja realizado transplante, a recaída da doença é muitas vezes inevitável. - Se a remissão tiver sido prolongada, ou seja, o paciente ficou mais de dois anos sem necessitar de tratamento, a terapia feita inicialmente pode ser repetida. - Caso a remissão tenha sido curta, é melhor optar pelo uso de outras drogas, além de considerar a realização de transplante de medula óssea não-mieloablativo, isto é, um transplante em que não há a destruição completa da medula óssea do paciente. Gabrielle Nogueira – Med 3°período UniFG Definir e diferenciar tumores sólidos e não sólidos.
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