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Modificações fisiológicas da gravidez -Postura e marcha Marcha anserina com pés afastados, passos oscilantes e curtos. Postura alterada, com descolamento do centro de equilíbrio, lordose lombar evidente. Articulações com maior mobilidade, pela liberação placentária da da relaxina, “afrouxando os ligamentos”. O principal benefício é a disjunção sinfisária e o aumento da capacidade pélvica. -Metabolismo Alterações necessárias para suprir as necessidades da mãe e do feto. Glicose: pela alta demanda fetal de glicose, o organismo materno altera-se em função disso, reduzindo a utilização periférica de glicose e com certa resistência à insulina, o que pode levar ao quadro de diabetes gestacional, pelo efeito diabetogênico dos hormônios. Muitos hormônios contribuem: o hormônio lactogênico placentário (hPL): aumenta a mobilização de ácidos graxos livres para utilização da mãe, “poupando” glicose ao feto o hormônio do crescimento placentário humano (hPGH) o adipocinas (leptina, adiponectina, TNF-α, IL-6) O efeito da insulina sob a lipólise é reduzida (quando tem insulina presente, a lipólise é diminuida), nesse caso para que ocorra realmente a lipólise e “poupe” glicose. Ocorre a difusão facilitada da glicose da mãe para o feto. Lipídeo: é quem paga a conta da “poupança” de glicose. A grávida tem sua reserva lipídica aumentada fisiologicamente (lipogênese aumentada), a fim de suprir os gastos energéticos do feto. O aumento da atividade lipolítica do tecido adiposo eleva a liberação de ácidos graxos livre e de glicerol na circulação materna, que alcançam grandes concentrações no plasma. A transferência placentária de produtos lipolíticos é baixa, e o fígado materno é o principal receptor. Assim, pós conversão no fígado, os produtos podem ser utilizados para a esterificação, na síntese dos triglicerídeos, para a produção de corpos cetônicos ou para a formação de glicose no que concerne ao glicerol. Corpos cetônicos vão para o feto apenas em condições de jejum materno (cetogênese aumentada). Ao fim da gravidez, a gliconeogênese a partir do glicerol está aumentada, poupando aquela proveniente dos aminoácidos que são transportados para o feto. Hiperlipiemia materna: como há o aumento da síntese e utilização dos triglicerídeos, todas as frações de lipoproteínas ficam aumentadas na mãe. Além disso, a lipoproteína lipase (LPL) tem sua atividade diminuída, preservando mais o triglicerídeo no plasma. Próximo ao parto, a LPL é induzida nas mamas, dirigindo triglicerídeos circulantes para as glândulas, visando à produção de leite. No jejum, atividade da lipoproteína lipase é aumentada, quebrando os triglicerídeos em frações que serão usadas como substrato para a síntese de corpos cetônicos (atravessa a barreira placentária) e o feto pode utilizar. A lipase da placenta hidrolisa os triglicerídeos maternos e os ácidos graxos livres, que alcançam o feto para serem reconvertidos em triglicerídeos. Ácidos graxos essenciais: são os que vem da alimentação (ômega 3 e 6) são necessários para transporte de oxigênio, armazenamento de energia, atuação na membrana celular e regulação da inflamação e da proliferação celular. São precursores de EPA e DHA (ácidos graxos poli-insaturados de cadeia longa), que o feto não é capaz de sintetizar através dos ômegas, logo, a mãe sintetiza e o feto recebe. São benéficos para a mãe, prevenindo doenças cardiovasculares, câncer de colo e doenças imunológicas, e são indispensáveis para o desenvolvimento cerebral e visual do feto. Proteína: a concentração de aminoácidos na mãe está reduzida na gravidez. As proteínas aumentam em quantidade, mas pelo aumento do volume sanguíneo, reduzem em concentração. Albumina reduz. Equilíbrio hidroeletrolítico: há retenção de líquido intra e extra celular, que é responsável por aumentar o volume plasmático. A retenção também aumenta o débito cardíaco e o fluxo plasmático renal, importantes na gravidez. Para isso, há retenção de sódio (que puxa água) pela maior secreção de aldosterona pela suprarrenal (em oposição ao efeito natriurético da progesterona). O equilíbrio fica mais deslocado para a retenção do que para a eliminação. Hiperaldosteronismo secundário à gravidez: filtração glomerular aumenta para conservar o sódio no corpo, além de ativar o mecanismo compensatório renina-angiotensina. A renina estimula a secreção de aldosterona via angiotensina. A aldosterona aumenta a reabsorção tubular de sódio. Aceitando-se que o ganho total de peso na gravidez seja de cerca de 11 kg, dos quais 70% são de água, para se manter a isotonicidade, tornam-se necessários 25 g de sódio ou 60 g de cloreto de sódio. Outros fatores responsáveis pela retenção de líquido: retenção de sódio, novo nível de osmolaridade, diminuição do limiar da sede, redução da pressão oncótica. As consequências da retenção de líquido são: redução na concentração de hemoglobina, redução do hematócrito, diminuição da concentração de albumina, aumento do débito cardíaco, elevação do fluxo plasmático renal, edema periférico. Cálcio: mantido em nível normal pelo paratormîno (PHT) e pela vitamina D. Estimulado pela hipocalcemia e inibido pela hipercalcemia, o PTH influencia o metabolismo do cálcio diretamente pela reabsorção óssea e pela formação de vitamina D3. A absorção intestinal de cálcio dobra na gravidez (em consequência de sua importância e dos níveis elevados de D3- da mãe e da placenta). O transporte de cálcio também depende do aumento da concentração da proteína de ligação ao cálcio, que atinge máxima concentração no 3º trimestre, quando é marcante o crescimento fetal. A calcitonina é um hormônio sintetizado pelas células parafoliculares da tireoide e age como antagonista fisiológico de PTH, impedindo que o cálcio se eleve acima dos níveis normais. Durante a lactação, a perda diária de cálcio pelo leite é de 220 a 340 mg. -Sistema cardiovascular Aumento do débito cardíaco Aumento do volume sanguíneo, pelo aumento do volume plasmático Aumento da frequência cardíaca progressiva, que auxilia no aumento do débito cardíaco Redução da resistência vascular periférica Redução da pressão arterial, consequentemente O início da gravidez é caracterizado por vasodilatação periférica, consequência do aumento de óxido nítrico, fator vasoativo, relaxante, elaborado pelo endotélio vascular. Síndrome de hipotensão supina: a partir de 20 semanas de gestação, o útero gravídico impede o retorno venoso ao coração, quando a gestante assume a posição supina pela compressão da veia cava inferior. Ao se adotar o decúbito lateral esquerdo, o débito cardíaco é restaurado quase automaticamente. Pode perder a consciência. A pressão venosa nos membros inferiores aumenta cerca de três vezes, em virtude da compressão que o útero determina nas veias pélvicas, em particular na posição de pé, parada, quando há maior aprisionamento de sangue nas pernas e nas coxas. Há, na gravidez, tendência à hipotensão, lipotimia ortostática, edema dos membros inferiores, varicosidades e hemorroidas. No parto: cada contração uterina leva à autotransfusão de sangue de volta para o sistema circulatório. O débito cardíaco aumenta cerca de 35% durante as contrações e 10% nos intervalos. No período expulsivo, por ocasião dos puxos, o débito cardíaco aumenta ainda mais, cerca de 50%. A resposta simpática à dor e à ansiedade durante o parto causa maior elevação na frequência cardíaca e na pressão arterial. No pós-parto imediato, o útero contrai-se firmemente, e mais uma vez há autotransfusão sanguínea, que aumenta o débito cardíaco em 60 a 80%. -Sistema sanguíneo Como o volume plasmático aumenta, a maioria dos fatores circulantes diminuem. As hemácias por exemplo aumentam em quantidade, mas não em concentração. Os índices hematológicosque dependem do volume plasmático tendem a decrescer: contagem de hemácias, hematócrito, concentração de hemoglobina. Anemia fisiológica da gravidez: a concentração de hemoglobina reduz de 13 g/dL para 11 g/dL no 1º trimestre e 10,5 g/dL, no 2º/3º trimestre da gravidez. Necessidade de suplementação de ferro. Os leucócitos aumentam, podendo chegar até 20 mil/mm3. A concentração de plaquetas reduz pouco (250 para 210 mil/mm3, valores médios). Há trombocitopenia gestacional, no 3º trimestre, com níveis de 80 a 150 mil/mm3. Também ocorrem alterações importantes na coagulação sanguínea durante a gravidez e, nesse contexto, elas são caracterizadas por estado de hipercoagulabilidade, que é um risco durante a gravidez para trombose. Diminuição: do número de hemácias, da concentração de hemoglobina e de hematócrito. Aumento: de leucócitos e da concentração de fibrinogênio. -Sistema urinário: Rins vão para cima pelo volume uterino e aumentam cerca de 1 cm pelo acréscimo de volume vascular renal (rins trabalha mais na gestação) Dilatação do sistema urinário superior, pela hidronefrose fisiológica e também pelos hormônios. Útero comprime os ureteres. Progesterona inibe a musculatura lisa de contrair, dilatando os ureteres (ureteroectasia). Como o útero faz uma dextrorrotação, a dilatação é mais pronunciada do lado oposto, o direito. A dilatação do sistema urinário superior pode aumentar a estase urinária, predispondo a gestante a infecções urinárias, pielonefrite. A bexiga fica distorcida, deslocada anteriormente e comprimida. O estrogênio faz congestão da mucosa uretral e vesical. Excreção renal alterada e reabsorção tubular também. Hipercalciúria é comum na gravidez pelo aumento da absorção do cálcio intestinal. Formação de cálculos renais permanece inalterada. Glicosúria fisiológica pelo aumento da taxa de filtração glomerular que excede o limite da reabsorção tubular (logo, não é indicativo de diabetes gestacional) Volume urinário é o mesmo Proteinúria (microalbuminúria) é fisiológica na gravidez, sendo normais valores de proteína na urina de até 300 mg/dia. -Sistema respiratório Avaliação anteparto da vitabilidade fetal Indicada especialmente nas gestações que cursam com insuficiência placentária, capaz de determinar sofrimento fetal crônico. Principais testes: Contagem dos movimentos fetais Cardiotocografia (CTG) Perfil biofísico fetal (PBF)/volume do líquido amniótico (vLA) Doppler Segundo o livro, o Doppler da artéria umbilical foi o único procedimento que mostrou real benefício nas investigações. Além de algumas evidências de que a percepção dos movimentos fetais possa ser benéfica em todas as gestações, não há dados de que qualquer dos testes antenatais deva ser aplicado de rotina em gestações consideradas de baixo-risco. Iniciar pós 23 semanas e não fazer em conceptos com malformações incompatíveis com a vida. Frequência: 1 a 2 semanas (se indicação de parto pré-termo, avaliação diária) Em mães diabéticas insulinodependentes, iniciar a partir de 32 a 36 semanas. Se a diabetes for mal controlada, iniciar a partir das 26 semanas. Em mulheres com gravidez prolongada, sem outras complicações, a CTG e o vLA devem ser iniciados a partir de 41 semanas, embora seja melhor induzir o parto. Condições associadas a risco elevado perinatal que necessitam de avaliação anteparto: História obstétrica: hipertensão, descolamento prematuro da placenta, crescimento intrauterino restrito, natimorto. Gravidez atual: gravidez prolongada, hipertensão, diabetes pré- gestacional, diabetes gestacional com uso de insulina, ruptura prematura das membranas pré-termo, descolamento prematuro da placenta crônico, aloimunização Rh, sangramento vaginal, obesidade mórbida, idade materna avançada, gravidez após reprodução assistida, diminuição do movimento fetal, restrição do crescimento uterino, oligoidramnia, polidramnia, gestação múltipla, parto pré-termo. Contagem dos movimentos fetais: se a contagem de movimentos fetais distintos não alcançar 6 movimentos a cada 2h, o resultado deve ser considerado anormal, necessitando completa avaliação materna e fetal. Todavia, o critério mais aceito é aquele que considera como normal 10 ou mais movimentos feitos em 12 horas. Cardiotocografia: dedicado ao crescimento intrauterino restrito. Indicada apenas no diabetes sem complicação vascular, na pós- maturidade e no descolamento prematuro da placenta crônico. A frequência cardíaca fetal basal normal está situada entre 110 e 160 bpm; acima de 160 bpm, taquicardia, e abaixo de 110 bpm, bradicardia, ambos indicativos de sofrimento fetal. É reativa quando apresenta ≥ 2 acelerações ao movimento fetal, com amplitude ≥ 15 bpm e duração ≥ 15 s, em 20 min de traçado e indica boa vitabilidade fetal. Em particular, no pré-termo (< 32 semanas), considera-se normal a aceleração com amplitude ≥ 10 bpm e duração ≥ 10 s. É não reativa quando mostra < 2 acelerações em 20 min de traçado (podendo o exame ser estendido para 40 min), indicando comprometimento da vitabilidade fetal. Em geral, a frequência do teste da aceleração é de 1 a 2/semana. Perfil biofísico fetal | Volume do líquido amniótico: o perfil biofísico avalia o movimento respiratório fetal, movimento fetal, tônus e volume de líquido amniótico. Se houver membranas intactas, rim funcionante e sistema urinário desobstruído, a diminuição do volume significa redução da filtração renal pela redistribuição do débito cardíaco com prejuízo do rim, em resposta à hipóxia crônica. Os componentes sonográficos do perfil e a inclusão da CTG recebem nota 2 (presente) ou 0 (ausente). A contagem 8 a 10 (desde que o vLA receba 2) é considerada normal; 6, equivocada e ≥ 4, anormal. O vLA avalia a existência de oligoidramnia. O diâmetro vertical do maior bolsão de LA é normal quando mede entre 2 e 8 cm; < 2 cm, configura a oligoidramnia e > 8 cm, a polidramnia. Doppler da artéria uterina: avalia a resistência dos vasos que suprem a placenta. Está incorporado à ultrassonografia de 20 a 24 semanas. O resultado é considerado anormal quando a média das duas uterinas mostra índice de resistência (RI) > 0,58 e caso haja incisuras diastólicas em ambas as artérias. O Doppler uterino anormal está associado a risco 4 a 8 vezes maior de pré- eclâmpsia e crescimento intrauterino restrito. Ao contrário, o Doppler uterino normal exibe valor preditivo negativo de 99%, praticamente excluindo essas complicações da gravidez. O Doppler da artéria umbilical à semelhança ao da aorta, pode ser dividido em 3 classes normal, classe I (diástole diminuída), classe II (diástole/zero) e classe III (diástole reversa). Como teste de vitabilidade fetal, o Doppler da artéria umbilical foi o único procedimento que melhorou a mortalidade perinatal em estudos randomizados.
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