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Mesa de comunicações 03: Globalização e Relações Internacionais O Tráfico de Seres Humanos e as Relações Internacionais: uma introdução a situação brasileira Isabela da Cunha Prado (UNESP/Franca)1 Priscila Freires Rosso (UNESP/Franca)2 Palavras chave: Tráfico de Seres Humanos; Relações Internacionais; Tráfico com fins de exploração sexual. Este trabalho objetiva destacar a importância de se discutir o tema do Tráfico de Seres Humanos (TSH) dentro da área de Relações Internacionais, devido a sua relevância, sua correlação com os Direitos Humanos e busca torná-lo mais recorrente. Isto decorre do fato que este tema é negligenciado pela mesma e melhor desenvolvido na área do Direito, especialmente, no âmbito do Direito Internacional. Assim, sua importância nas Relações Internacionais é evidenciada por ser um crime transnacional que afeta diretamente todos os Estados, afinal está inserido em todos os contextos mundiais, colocando em xeque a questão das fronteiras. Ademais, a falta de regramento jurídico internacional somada a pouca efetividade dos tratados internacionais já existentes, além das desigualdades socioeconômicas, são fatores que corroboram a existência desses crimes e que merecem um destaque maior na área de Relações Internacionais. Para tal intuito, foram utilizados documentos e publicações da Organização das Nações Unidas (ONU) e da Organização Internacional do Trabalho, de forma a constituir uma introdução sobre o tema, já que a bibliografia a respeito ainda é escassa. Nesse sentido, é preciso mencionar que os dados publicados pela ONU e suas secretarias dão uma importante noção sobre a extensão e o impacto de tal crime em todo o globo terrestre, inclusive no Brasil, país que não constitui exceção nesse sentido. Mediante a isto, faz-se importante definir o tráfico de pessoas, que de acordo com o Protocolo Adicional à Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional (Palermo, 2000), ratificado pelo Brasil em 29 de janeiro de 2004, o considera como sendo: o recrutamento, o transporte, a transferência, o alojamento ou o acolhimento de pessoas, recorrendo à ameaça ou uso de força ou a outras formas de coação, ao rapto, à fraude, ao engano, ao abuso de autoridade ou à situação de vulnerabilidade ou à entrega ou aceitação de pagamentos ou benefícios para obter o consentimento de uma pessoa que tenha autoridade sobre outra, para fins de exploração. (p. 3) Complementarmente, a exploração inclui, no mínimo, a prostituição de outrem ou demais formas de exploração sexual, os trabalhos ou serviços forçados, escravidão ou práticas similares à escravatura, a servidão ou a remoção de órgãos. (PALERMO, 2000). Ainda, o TSH é caracterizado por fatores circunstanciais e causais, sendo os primeiros a globalização e a pobreza; e os segundos a ausência de oportunidades de trabalho, discriminação de gênero, instabilidade política, econômica e civil em regiões de conflito, violência doméstica emigração sem documentação, turismo sexual, e corrupção de funcionários públicos. Todos esses fatores funcionam como propulsores do TSH ao redor 1R. Francisco de Goya, 621, apto 621, Franca, SP, com e-mail isabela.cunha.prado@gmail.com e telefone (16)991432559. 2 Bolsista PIBIC/CNPq desde 2013. Domiciliada no endereço Av. José Rodrigues da Costa Sobrinho, 2384, apto 03, Franca, SP, com e-mail prirosso.f@gmail.com e telefone (16)982123205. do mundo, inclusive no Brasil, e acabam criando populações vulneráveis aos criminosos, o que faz dessas questões importantes campos de estudo a serem desenvolvidos na pesquisa que originou esse trabalho, tendo em vista que somente a globalização e a instabilidade política são temas consagrados dentro das RI. É importante destacar que o TSH é o terceiro crime transnacional que mais rende lucros, ficando atrás apenas do tráfico de drogas e de armas e sua alta rentabilidade é explicada devido à falta de um regramento jurídico internacional. Segundo dados da ONU (2013), a indústria do tráfico fatura, aproximadamente, 32 bilhões de dólares anualmente e vitima cerca de 2,5 milhões de pessoas em todas as partes do globo. E, de acordo com o Global Report on Trafficking in Persons 2014 da United Nations Office on Drugs and Crime (UNODC), as vítimas são: 49% mulheres; 18% homens; 21% meninas; e, 12% meninos, sendo consideradas como crianças pelo Protocolo de Palermo aqueles com idade inferior a dezoito anos. Como já mencionado, a realidade brasileira não difere do que ocorre no restante do mundo. Somente neste país, cerca de 59 pessoas foram traficadas em 2010 e 145 em 2012, todas com a finalidade de exploração sexual3. Sendo que, as vítimas brasileiras, quando mulheres, “possuem de 15 a 17 anos, e de 22 a 24, sendo provenientes de periferias, pertencentes a classes mais baixas e que possuem menos escolaridade.”4 Nesse sentido, é importante lembrar que o tráfico para fins de exploração sexual se diferencia do tráfico com fins de trabalho sexual, pois quando prostitutas sabem que irão trabalhar nesse ramo, mas são enganadas sobre as condições de trabalho, vivenciando condições análogas à escravidão, com jornadas de trabalho excessivas, sem a possibilidade de escolha dos seus parceiros, com pouca ou nenhuma remuneração, dentre outras características, é uma questão de tráfico para fins de trabalho sexual. Porém, quando pessoas que não tem ligação com a prostituição, ou seja, não sabem que irão trabalhar nesse ramo, são levadas para fora de seu país de origem ou deslocadas dentro de seu próprio país, sendo traficadas para tal intuito, o crime é caracterizado como tráfico de pessoas para fins de exploração sexual. Feita essa distinção, outro fator relevante para a análise é o perfil socio-econômico das vítimas, o que parece ser um aspecto central. Por um lado, as vítimas, normalmente, já estão inseridas em atividades de alta rotatividade e baixa remuneração ou, até mesmo, envolvidas com a prostituição, enquanto, por outro lado, possuem traumas psicológicos, pois, inúmeras vezes, as vítimas já haviam sofrido violência intrafamiliar como abandono e estupro. Por estas razões, essas mulheres, que acabam por pertencer às classes sociais menos favorecidas, são os alvos dos aliciadores que lhe prometem uma vida melhor e mais digna em outros países, garantindo-lhes trabalho, boa remuneração e possibilidade de ajuda as suas famílias. Pois, na situação em que se encontram não conseguem enxergar novas perspectivas e uma melhora em sua condição de vida, fazendo com que optem pela proposta feita pelos aliciadores, já que lhes parece à única alternativa para se distanciar daquela conjuntura. Além de tudo o que já foi apresentado, o TSH causa prejuízos aos países, os quais são elencados pela OIT como a expansão e a diversificação do crime organizado; a corrupção do setor público; a desestabilização econômica; a corrupção do sistema público; a desestabilização demográfica; e a desestabilização dos mercados de trabalhos ilegais. 3 Disponível em: <http://www.unodc.org/documents/data-and- analysis/glotip/GLOTIP14_Country_profiles_South_America.pdf>. Acesso em 01.08.2015. 4 Disponível em: <.wordpress.com/2013/09/16/o-trafico-humano-na-america-do-sul-uma-analise-sobre- brasil-e-colombia>. Acesso em 01.08.2015. Nesse sentido, o Brasil tem buscado alternativas para, senão solucionar, arrefecer tal situação, através da ratificação do tratado internacional que versa sobre o tema (o Protocolo Adicional à Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional) e, por meio de leis, políticas e campanhas governamentais - as quais estão muito ligadas, a UNODC. Dentro desse escopo, destacam-se o estabelecimento de planos nacionais de enfrentamento ao tráfico de pessoas; a formulação de leis, como o artigo 231 do Código Penal, que faz referência ao crime de TSH para finsde exploração sexual, prevendo pena de reclusão de 3 a 8 anos; e a campanha desenvolvida ao longo da semana do dia 30 de julho, já que a data mencionada corresponde ao dia internacional do combate ao tráfico de pessoas. Diante da realidade apresentada até este ponto é perceptível à importância do debate a respeito do tema do TSH e, consequentemente, do Tráfico de Mulheres. Pois, com a incorporação cada vez maior da defesa aos Direitos Humanos pelos Estados, os crimes que infringem tais direitos ganham cada vez mais visibilidade e notoriedade, incluindo o tema em voga neste trabalho. No entanto, ainda há um longo caminho a ser percorrido, e é preciso que haja maior efetividade das ações tanto dos Estados, inclusive do Brasil, quanto das Organizações Internacionais no combate a este crime.
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