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ó – 638 sagrado é que se opõe ao profano‖ (ELIADE, 1992, p.17). Cabe lembrar que outros autores trataram a análise religiosa em dicotomia entre sagrado e profano, entre eles está um dos fundadores da sociologia da religião Émile Durkheim (1996). A obra de Eliade, contudo, apresenta contribuições mais diretas a esse trabalho, no que diz respeito aos diferentes espaços que os indivíduos atribuem ao mundo, o autor escreve: ―para o homem religioso, o espaço não é homogêneo: o espaço apresenta roturas, quebras; há porções de espaço qualitativamente diferentes das outras‖ (ELIADE, 1992, p.25). Iniciamos nossa distinção, ainda que de forma ampla, a distinção entre o espaço da igreja e da rua, a primeira como um espaço sagrado para o homem religioso, e em contrapartida, a rua como seu oposto, um espaço profano. Contudo, é importante entendermos o que diferencia um espaço sagrado de um espaço profano, nas palavras de Eliade: ―a revelação de um espaço sagrado permite que se obtenha um ―ponto fixo‖, possibilitando, portanto, a orientação na homogeneidade caótica, a fundação do mundo, o viver real‖ (ELIADE, 1992, p.27). O espaço sagrado seria definido por determinar um centro, um ponto fixo, em oposição ao mundo que em sua essência é profano e caótico. A igreja, para o homem religioso, quebraria a homogeneidade do mundo, determinando entre suas paredes um ponto fixo, a moral cristã, a salvação. Em oposição a rua seria uma multiplicidade de espaços, com funções e morais diversas, dando a sensação de uma homogeneidade e da falta de um ponto guia, características de um espaço típico profano. Não é por um acaso que se faz importante rememorar constantemente esse centro do mundo para os indivíduos religiosos. O filósofo romeno preocupa-se em analisar os espaços limiares entre o profano e o sagrado, para essa percepção ele utiliza o exemplo da igreja, que tem em suas portas a função de separar duas formas de viver o mundo: [...] igreja faz parte de um espaço diferente da rua onde ela se encontra. A porta que se abre para o interior da igreja significa, de fato, uma solução de continuidade. O limiar que separa os dois espaços indica ao mesmo tempo a distância entre os dois modos de ser, profano e religioso. O limiar é ao mesmo tempo o limite, a baliza, a fronteira que distingue e opõem dois mundos [...] (ELIADE, 1992, p.29). A afirmação de Eliade ilustra bem a hipótese desse estudo, a distinção entre o espaço da rua e da igreja é observável nas atitudes dos indivíduos religiosos ao entrar na igreja. As portas das igrejas representam a transição de mundos, e mais bem observável que isso, a passagem pelas portas da igreja representa a transformações nas atitudes e no