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O PAPEL DA REALIDADE PSÍQUICA E DA REALIDADE MATERIAL NA CONSTITUIÇÃO DO SUJEITO PSÍQUICO: UM ESTUDO DA TEORIA DO TRAUMA EM FREUD E FERENCZI A PARTIR DA TEORIA DA SEDUÇÃO GENERALIZADA Juliana Baracat‐ Discente da Pós‐Graduação em Psicologia, Unesp/Assis‐ Doutorado e‐mail: jbbaracat@hotmail.com Prof. Dr. Jorge Luís Ferreira Abrão Docente e Pesquisador do Programa de Pós‐Graduação em Psicologia, Unesp/Assis e‐mail: jlfabrao@gmail.com Resumo A Teoria da Sedução Generalizada, de Jean Laplanche, originou‐se no trabalho epistemológico sobre a obra de Freud e outros autores clássicos da Psicanálise. Foi a própria teoria da sedução freudiana que inspirou Laplanche a fazer um resgate de uma perspectiva endógena da constituição do psiquismo humano. Sua TSG postula que, diante do desamparo físico e psíquico com o qual o infante nasce, os cuidados e afetos por parte de um adulto cuidador (mãe, pai, ou qualquer pessoa) são imprescindíveis à sobrevivência da criança. Desta forma o autor recupera o termo sedução para apontar o caráter geral, e não focal, da relação primordial entre o adulto e a criança. Nesta relação, haveria uma dissimetria fundante, já que o adulto tem um inconsciente e a criança não, sendo o psiquismo adulto fonte de mensagens enigmáticas até para ele: conflitos, fantasias sintomas. Tais mensagens operam um excesso libidinal na criança que, com seu desenvolvimento, dará início ao processo tradutivo, o qual oferecerá simbolizações mais ou menos coerentes para o pulsional implantado pelo outro. Há um outro viés do papel do outro primordial neste processo, já que o mesmo adulto que desestabiliza a criança com seu excesso libidinal, pode ser aquele que lhe oferece os assistentes de tradução para auxiliar na contenção do pulsional/sexual. Assim, notamos que Laplanche concilia tanto o aspecto material quanto psíquico em sua teoria, apontando para os primórdios endógenos do inconsciente. A realidade psíquica seria aquela instaurada a partir do nascimento do processo tradutivo, o qual implica certo grau de fracasso. Ou seja, nada pode ser traduzido completamente, sempre haverá um resto a traduzir, sendo que este a traduzir ligar‐se‐á a pulsão. O aspecto focal da sedução não deixa de existir para este autor, sendo que a sedução focal, aquela da primeira teoria freudiana, é denominada por ele de intromissão. Aqui trata‐se de relativizar as possíveis relações engendradas entre o adulto e a criança que depende deste, pois que na intromissão haveria um excesso libidinal feroz e destrutivo com uma fraca participação do adulto ao oferecer traduções possíveis à criança para organizar tais conteúdos. Há de se notar que para Laplanche, sendo por meio da implantação ou da intromissão, a relação com o outro primordial gera um trauma na criança, trauma que poderá ser melhor contido com o processo de tradução, o qual implica a participação do adulto. É desta forma que pretendemos resgatar as ideias de trauma em Freud e Ferenczi, na discussão acerca do papel da realidade material e da realidade psíquica na constituição do psiquismo humano. Em Freud temos as ideias de sua teoria da sedução a qual abarcava o aspecto traumático da sexualidade, o papel do outro como gerador do trauma e do processo de recalcamento em dois tempos, balizados pelo après‐coup. Não obstante o descarte desta teoria, observamos que Freud manteve‐se reticente por toda a vida sobre o problema da realidade factual ou não nas origens psíquicas. Com Ferenczi notamos uma preocupação com os eventos vivenciados de fato, os quais em seus pacientes ganham uma tonalidade trágica, tendo como consequência fortes problemas no processo de simbolização, sendo que tais pacientes eram de fato vítimas de perturbações psíquicas mais graves do que a neurose. Buscaremos discutir que tais autores complementam suas visões, sendo que os pacientes freudianos nos parecem parasitados por mensagens implantadas, ao passo que os de Ferenczi seriam vítimas de uma intromissão. Palavras‐chave: Psicanálise, sujeito psíquico, trauma.
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