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Censo Escola Digna: Construção de Escolas em Comunidades Rurais

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Ângela Maria Pinheiro da Silva
Universidade Estadual do Maranhão
angela_arquitetura@hotmail.com
CENSO ESCOLA DIGNA: a construção de escolas de alvenaria como agente 
transformador em comunidades rurais
Lívia Antunes Furtado
Universidade Estadual do Maranhão
liviaffurtado505@gmail.com
Gabriel Oliveira de Carvalho Azevedo
Universidade Estadual do Maranhão
eng.azev.civil@gmail.com
João Victor Vieira Silva
Universidade Estadual do Maranhão
vieira.joaosilva@outlook.com
Vinícius Capistrano de Paiva Veras
Universidade Estadual do Maranhão
vcapistrano05@gmail.com
821
 
 
9o CONGRESSO LUSO-BRASILEIRO PARA O PLANEJAMENTO URBANO, 
REGIONAL, INTEGRADO E SUSTENTÁVEL (PLURIS 2021 DIGITAL) 
Pequenas cidades, grandes desafios, múltiplas oportunidades 
07, 08 e 09 de abril de 2021 
 
 
 
 
 
 
 
CENSO ESCOLA DIGNA: A CONSTRUÇÃO DE ESCOLAS DE ALVENARIA 
COMO AGENTE TRANSFORMADOR EM COMUNIDADES RURAIS 
 
A. M. P. Silva, G. O. C. Azevedo, J. V. V. Silva, L. A. Furtado e V. C. P. Veras 
 
 
 
 
RESUMO 
 
O Programa Escola Digna trata de uma macropolítica educacional, executada no Maranhão, 
que tem como uma de suas premissas substituir escolas de taipa e/ou materiais precários do 
Estado, promovendo a universalização do ensino com a oferta de escolas de qualidade. 
Partindo do pressuposto que um prédio melhor estruturado propicia uma educação de 
qualidade, que a escola é o centro agregador de uma comunidade pequena e sua construção 
pode propiciar uma cadeia de mudanças sociais, surgiu o Censo Escola Digna. A pesquisa 
realizada durante a construção das escolas e perfuração dos poços artesianos mapeou 10 
povoados rurais, contemplados com o referido Programa, a partir do levantamento de 
informações acerca da população, renda, nível de escolaridade, tipo construtivo das casas e 
acesso à infraestrutura básica dessas localidades. Um ano depois, a pesquisa foi reaplicada, 
com o objetivo de verificar se tal construção foi um agente transformador nessas 
comunidades. 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
A educação no campo tem como principal objetivo construir uma sociedade socialmente 
equânime, na qual os trabalhadores rurais buscam “garantir o direito à escolarização e ao 
conhecimento, sem com isso perder seus territórios de vida, trabalho e identidade” 
(MOLINA e FREITAS, 2011, p. 11), tendo acesso a uma escola com condições físicas e 
pedagógicas que possibilitem alcançar um ensino de qualidade. Contudo, a educação na zona 
rural brasileira sempre esteve associada à precariedade na infraestrutura física das escolas e 
à ausência de saneamento básico naquelas. Neste sentido, Gonçalves (1999, p. 48) aponta 
que as arquiteturas dos prédios escolares são mais pobres, à medida que estão mais distantes 
dos centros urbanos. 
 
Destacamos que no Brasil, de acordo com o Censo (IBGE, 2010), a população residente em 
localidades rurais é de 29,9 milhões de habitantes, o que representa 15,65% da totalidade do 
país. As regiões Norte e Nordeste concetram a maior parte deste contigente, e o Maranhão é 
o ente federado com mais pessoas vivendo em situação rural (63,07% pop. Urbana / 36,93 
pop. Rural). Salientamos, ainda, que o Maranhão ocupa a 26ª posição do Brasil em relação 
ao IDHM, com índice de 0,639, ficando à frente apenas do Estado de Alagoas. Em relação 
aos dados da educação, o Estado apresenta índice de 0,562, ocupando a 19ª posição. 
Conforme o Censo Escolar de 2018, o Brasil possui 56.954 escolas rurais, dentre as quais 
 
 
 
8.318 dessas estão localizadas em municípios maranhenses (Censo Escolar Maranhão, 
2017). 
 
Segundo a Secretaria de Estado da Educação do Maranhão – SEDUC/MA, no ano de 2014 
havia no Estado 1.245 escolas funcionando em instalações precárias (galpão, rancho, paiol, 
barracão etc.) e identificadas como inadequadas para a prática do ensino. Apontamos que a 
maior parte destas escolas estavam situadas em zona rural. Para melhorar os índices 
educacionais do Estado como um todo, o Programa Escola Digna, que integra o Plano Mais 
IDH, foi instituído com a prerrogativa de substituir escolas inadequadas por escolas de 
alvenaria, além de garantir o abastecimento de água potável com a perfuração de poços 
artesianos. Afinal, de acordo com Molina e Freitas (2011, p. 25), “a escola do campo pode 
ser uma das protagonistas na criação de condições que contribuam para a promoção do 
desenvolvimento das comunidades camponesas.” Relevante citar que para que a Educação 
Básica aconteça, conforme incumbências descritas pela Lei de Diretrizes e Bases (LDB), 
cabe aos Estados e Distrito Federal assegurar o Ensino Fundamental. Entretanto, para que 
este ensino aconteça de forma plena e justa, citamos Gonçalves (1999), que declara o espaço 
escolar enquanto elemento significativo do currículo proporcionando possibilidades de 
interação entre a forma (arquitetura) e a função (pedagógica). 
 
Diante desse cenário de precariedade nos edifícios escolares na zona rural e com a 
possibilidade de substituição de grande parte dessas escolas inadequadas, surgiu a pesquisa 
intitulada de Censo Escola Digna, que se propôs a investigar por meio de um estudo 
exploratório quantitativo as localidades contempladas com os programas Escola Digna e 
Mais IDH1. Aqui fazemos um adendo sobre a necessidade de perfuração de poços artesianos 
em alguns desses lugares, visto a indisponibilidade de água, inclusive para a construção das 
escolas. A pesquisa consistiu no levantamento de informações através de instrumentos 
padronizados (questionários), em que foram observados aspectos referentes aos povoados, a 
partir da construção da escola, tomando como base a importância e necessidade desse 
empreendimento na comunidade. As fontes de coletas de dados utilizadas foram: entrevistas 
por meio de questionários fechados, estruturado com perguntas claras e objetivas; visitação; 
história de vida; notas de campo; pesquisa bibliográfica. 
 
De acordo com Maquiavel (2010, p. 33), “uma mudança sempre lança as bases para a 
edificação de outra.” Dessa forma, o objetivo da pesquisa é verificar se a escola e perfuração 
do poço artesiano foi um agente transformador nestas comunidades, buscando apreender se 
com a implantação de escolas em alvenaria houve: (a) melhoria nas condições sociais de 
vida dessas populações, ao permitir que famílias, antes sazonais, fixassem suas residências 
alterando suas condições habitacionais com o aumento na construção de casas de alvenaria 
e redução do número de casas de taipa; b) melhoria no fornecimento dos serviços básicos, e, 
consequentemente, impulsionando o desenvolvimento socioeconômico local. 
 
O resultado dessa pesquisa é um retrato destas 10 comunidades rurais, através de um banco 
de dados contendo informações sobre a população atual destes povoados, presença de 
serviços básicos de infraestrutura, dinâmica socioeconômica, dados acerca do nível de 
 
1 Com vistas a superar o baixo Índice de Desenvolvimento Humano, foi instituído o Plano de Ações do “Mais 
IDH”, criado em 02 de janeiro de 2015 através do Decreto nº 30.612, que sintetiza a atual política do Governo 
do Estado do Maranhão em promover projetos e ações com objetivo de superar a pobreza e a extrema pobreza, 
bem como reduzir a desigualdade social no meio urbano e rural, utilizando estratégia de desenvolvimento 
territorial sustentável, a partir de uma grande mobilização dos poderes públicos e sociedade civil (SEDIHPOP, 
2015). 
 
 
escolaridade, além de registro fotográfico e mapas georreferenciados de moradias e demais 
equipamentos públicos presente nas localidades. O presente trabalho faz ainda um 
comparativo entre a primeira fase da pesquisa, realizada em 2018 e a segunda fase, realizada 
em 2019. Buscamos com esse estudo subsidiar pesquisas futuras que analisem as 
transformações ocorridas, se é que existiram, em decorrência da construção das escolas e, 
em alguns casos, da perfuração de poços artesianos. Permitindoa apreensão do cenário 
socioeconômico predominante no conjunto investigado, pois somente a partir da pesquisa, 
alicerçando-nos em mecanismos científicos, poderemos responder e constatar se houve 
aumento no Índice de Desenvolvimento Humano (IDHM) em municípios do Estado do 
Maranhão e elevação no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB). 
 
2 CENSO ESCOLA DIGNA 
 
Segundo Marshal (1967), o direito à educação é um direito social de cidadania genuíno 
porque o objetivo da educação durante a infância é moldar o adulto em perspectiva. 
Basicamente, deveria ser considerado não como o direito de a criança frequentar a escola, 
mas como o direito de o cidadão adulto ter sido educado. Na Constituição Federal de 1988, 
artigo 6º, a educação é reconhecida como um direito fundamental de natureza social 
(grifo nosso). Ou seja, é um dever do Estado, assegurá-la para todo o povo brasileiro. Molina 
e Freitas (2011) apontam que sem ação-política-programa esses direitos são letra morta. 
Neste sentido, Gonçalves (1999, p. 47) corrobora ao indicar que é na “concretização destas 
condições que o direito declarado não se efetiva” tendo em vista que o “direito à educação, 
para tornar-se realidade, precisa materializar-se em um sistema que comporte programa, 
currículo, métodos, espaços físicos, professores e condições de trabalho, entre outros.” 
 
Com o objetivo de elevar o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) e Índice 
de Desenvolvimento Humano (IDH) para o subíndice educação, foi instituído em 02 de 
janeiro de 2015, por meio do Decreto nº 30.620, o Programa Escola Digna, com objetivo de 
promover ações voltadas para a qualificação da educação no Maranhão, sendo estas: (a) 
erradicar as instalações inadequadas para o funcionamento do sistema educacional do 
Estado; (b) universalizar o acesso para crianças, jovens, adultos e idosos, ao direito 
fundamental a uma escola de qualidade; (c) acesso à infraestrutura necessária para formação 
das pessoas como cidadãos livres, conscientes e preparados para atuar profissionalmente nos 
mais diversos campos da atividade social (SEDUC/MA, 2014). 
 
De acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), em parceria com o 
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e com a Fundação João 
Pinheiro, o Maranhão já apresenta uma melhora significativa quanto ao IDHM, com o 
aumento do índice de 0,682 para 0,687, entre 2016 e 2017. No subíndice educação, que mede 
escolaridade e frequência escolar, o desempenho relativo do Maranhão foi o 3º melhor do 
Brasil, com variação de 11,99% - de 0,609 a 0,682 (SEDIHPOP, 2019). A Secretaria de 
Direitos Humanos e Participação Popular do Maranhão indica que isso se deve ao resultado 
positivo de políticas públicas de enfrentamento às desigualdades sociais, em especial ao 
Programa Escola Digna que já entregou mais de 800 escolas, considerando construção, 
reconstrução e reformas de prédios escolares. 
 
A pesquisa visa avaliar o papel transformador das escolas na melhora das condições sociais 
de 10 comunidades rurais, localizadas em 10 Municípios distintos do Maranhão (Vide 
Tabela 1). O estudo se enquadra no exploratório quantitativo, em que para análise e avaliação 
dos resultados do programa, foram realizadas pesquisas in-loco, com o objetivo de 
 
 
identificar: (a) escola inadequada substituída, condições e capacidade de atendimento de 
alunos e localização em relação ao povoado; (b) avaliação do marco zero, nesse caso sendo 
considerado a instalação da Escola Digna e sua localização dentro do povoado, além da 
capacidade de atendimento e se houve aumento ou diminuição de demanda de alunos; (c) 
existência de serviços básicos de infraestrutura, sendo estes: água, energia, tratamento de 
esgoto, coleta de resíduos sólidos, telefonia e transporte público; (d) dados demográficos do 
povoado quando da implantação da escola (número de famílias/pessoas, faixa etária, 
quantidade de casas, tipo construtivo dessas casas e disposição destas em relação ao 
povoado); (e) presença de equipamentos/serviços públicos de saúde e segurança. 
 
Tabela 1 Relação de municípios pesquisados 
 
Censo Escola Digna 
Ranking 
IDHM Brasil 
Posição IDHM 
Maranhão 
Município 
Ano de 
Emancipação 
Povoado 
5.490* 205** Aldeias Altas 1961 Laranjeiras 
5.473* 201** São João do Sóter 1994 Jenipapeiro 
5.432 191** Santa Filomena do MA 1994 Assentamento Biéi I 
5.081 139 Bom Jesus das Selva 1994 Com. Nova Vida 
5.027 133 Turiaçu 1870 Bananal 
4.965 127 Peritoró 1994 Bacuri 
4.881 111 Barreirinhas 1938 Mangas 
4.841 111 Vitorino Freire 1952 Centro Novo 
4.718 107 Tuntum 1955 Placa Violão 
4.718 74 Lago da Pedra 1954 Centro dos Colados 
*Município entre os 100 com pior IDHM do Brasil / ** Município entre os 30 com pior IDHM do Maranhão 
*Fonte: PNUD, IPEA, FJP, 2010 
 
Na Tabela 2 são apresentados IDHM para renda, longevidade, educação, além de dados 
sobre a oferta de abastecimento de água, esgoto e coleta de resíduos sólidos nos municípios 
pesquisados. Destacamos o baixíssimo IDHM – Educação, uma vez que, de acordo com 
parâmetros do PNUD o índice de 0,499 já é considerado um valor muito baixo. 
 
Tabela 2 Dados do IDHM 
 
Censo Escola Digna 
Dados do IDHM Dados dos serviços de básicos de infraestrutura* 
Município IDHM 
IDHM 
Renda 
IDHM 
Longev. 
IDHM 
Educação 
Abastec. 
de água 
Esgotamento 
Sanitário 
(fossa séptica) 
Coleta de 
Resíduos 
Sólidos 
Aldeias Altas 0,513 0,500 0,720 0,374 37,68 7,83 29,55 
São João do Sóter 0,517 0,486 0,711 0,401 72,18 2,63 12,30 
Santa Filomena 
do Maranhão 
0,525 0,461 0,722 0,435 88,93 9,87 25,57 
Bom Jesus das 
Selvas 
0,558 0,537 0,751 0,431 68,73 22,00 96,05 
Turiaçu 0,561 0,493 0,776 0,461 49,79 7,40 58,27 
Peritoró 0,564 0,499 0,774 0,464 73,65 9,70 45,85 
Barreirinhas 0,570 0,515 0,752 0,479 81,35 15,70 81,91 
Vitorino Freire 0,570 0,563 0,688 0,477 83,11 10,10 83,31 
Tuntum 0,572 0,534 0,726 0,483 87,83 11,40 83,67 
Lago da Pedra 0,589 0,561 0,724 0,502 80,59 16,90 92,28 
*Fonte: IMESC, 2016 
 
 
2.1 Caracterização Geral 
 
Os 10 povoados contemplados com a substituição de escolas de taipa por escolas de 
alvenaria, caracterizam-se por estarem na zona rural, alguns distantes cerca de 50 km da sede 
municipal, com acessos de asfalto, piçarra e/ou leito natural que em alguns períodos do ano, 
em decorrência das chuvas na região, ficam intrafegáveis (Vide Figuras 1 e 2). A idade das 
comunidades varia de 20 a 50 anos, tendo de 20 até 150 núcleos familiares. Foram 
entrevistadas 432 pessoas, sendo 212 na primeira fase em 2018 e 220 na segunda fase, que 
ocorreu em 2019. Foram construídas 9 escolas com 2 salas de aula e 1 escola com 4 salas de 
aula, esta última no povoado Mangas, em Barreirinhas, comunidade com o maior números 
de famílias (Vide Figura 3). A seguir, detalharemos os dados da pesquisa, divididos entre o 
antes e depois das escolas, indicando o projeto arquitetônico executado e suas alterações ao 
longo do programa; dados sobre a população, nível de escolaridade e renda; da 
disponibilidade de energia elétrica, água, esgoto e coleta de resíduos sólidos ofertados nestas 
comunidades. Por fim, a percepção dos moradores quanto à construção da escola. 
 
 
 
Fig. 1 Acesso ao povoado Laranjeiras, 
município de Aldeias Altas 
Fonte: autora, 2019 
 
Fig. 2 Acesso ao povoado Mangas, 
município de Barreirinhas 
Fonte: autora, 2019 
 
 
 
Fig. 3 Distribuição das casas no povoado Mangas, em Barreirinhas 
Fonte: autora, 2018 
 
 
2.2 Do projeto arquitetônico 
 
O Programa Escola Digna se configura como o maior programa de substituição de escolas 
de taipa e/ou materiais precários do Estado do Maranhão. Contudo, segundo Zarvos (2019) 
um prédio não pode existir somente para quem mora ou trabalha nele, precisa servir a quem 
convive com ele. Nesse sentido, Bacelar (2015, p. S/N) aponta que “é essencial ter a 
compreensãocerta do que é o mundo rural (grifo nosso) para o desenvolvimento adequado 
de políticas públicas para os moradores dessas regiões”, “construindo estratégias que sejam 
capazes de considerar as especificidades da vida no campo [...] sobretudo, ao garantir o 
direito à educação aos sujeitos do campo” (Molina e Freitas, 2011, p. 30). 
 
Nesse aspecto, o projeto arquitetônico elaborado inicialmente não considerou as 
características rurais dos lugares onde seriam implantadas. Apesar de ser inegável a melhoria 
na estrutura física da escola, conforme Figuras 4 e 5, em que foram disponibilizadas duas ou 
mais salas de aula para se evitar as turmas multisseriadas2, 4 banheiros, sendo dois PCD3, 
cozinha, despensa, área de serviço, secretaria e pátio escolar. As ressalvas que fazemos ao 
projeto estão desde o custo da obra, uma média de R$ 375.110,41 por escola, o dobro do 
custo previsto para a construção de uma escola de duas salas de aula pelo padrão FNDE4. Os 
inúmeros aditivos por conta de falhas no projeto, a dificuldade em transportar alguns 
materiais para os locais da obra, dentre eles: a estrutura metálica do telhado, que exigia mão 
de obra especializada para sua execução (atualmente a estrutura do telhado é em madeira); 
forro de gesso, cujas placas quebravam durante o transporte, foram substituídas por forro de 
PVC; placas de granito que serviam de divisórias para os banheiros, foram substituídas por 
divisória em alvenaria, pois durante o transporte as placas apresentavam avarias. 
 
 
 
Fig. 4 Antes – UEM Juarez Nunes, 
Bacuri, município de Peritoró 
Fonte: autora, 2018 
 
Fig. 5 Depois – UEM Juarez Nunes, 
Bacuri, município de Peritoró 
Fonte: autora, 2018 
 
Outros dois pontos que merecem destaque sobre o projeto arquitetônico estão relacionados 
à forma do telhado e à forma da escola. Conforme Figura 6, podemos verificar que o telhado 
do pátio está sobreposto à cobertura das salas de aula. Com isso, a queda d’água dessa 
estrutura faz com que sempre haja goteiras nas salas de aula, inviabilizando, em alguns 
 
2 As classes multisseriadas são uma forma de organização de ensino na qual o professor trabalha, na mesma 
sala de aula, com várias séries do Ensino Fundamental simultaneamente, tendo de atender a alunos com idades 
e níveis de conhecimento diferentes. 
3 Pessoa com deficiência. 
4 Dados dos projetos licitados no ano de 2013 pela SEDUC/MA (COBRAPE-STPC, 2015). 
 
 
períodos do ano, que as salas de aula sejam utilizadas. O segundo destaque está relacionado 
ao partido arquitetônico, cuja escola é toda aberta, permitindo que tanto a água da chuva 
invada o pátio coberto, quanto possibilite o acesso de animais às dependências das escolas. 
 
 
 
Fig. 6 Telhado do pátio sobre o telhado das salas de aula 
Fonte: autora, 2018 
 
2.3 Sobre a população, nível de escolaridade e renda e tipo construtivo das casas 
 
No que concerne à população, nível de escolaridade e renda, apontamos que não houve 
mudança significativa nos números, tendo em vista que o intervalo entre as pesquisas foi de 
apenas um ano. No Gráfico 1 apresentamos o percentual de pessoas por faixa etária, em que 
verificamos que a maioria das pessoas possui idade entre 30 e 59 anos. Também é alto o 
número de crianças, dessa forma se confirma a demanda pela escola nessas localidades. 
 
Gráfico 1 Dados referentes ao nível de escolaridade 
 
 
 
 
Fonte: autora, 2020 
 
 
No Gráfico 2 são apresentados os dados sobre o nível de escolaridade por série. Apontamos 
para o alto nível de não alfabetizados nos povoados, representando 18% da totalidade. Nesse 
ponto destacamos que 13 entrevistados mostraram interesse para que seja ofertada a 
modalidade de Ensino para Jovens, Adultos e Idosos (EJAI) nas escolas. Outros 9 
questionaram a viabilidade de turmas para o Ensino Médio. 
 
Gráfico 2 Dados referentes ao nível de escolaridade 
 
 
 
 
Fonte: autora, 2020 
 
No Gráfico 3 verificamos que a maioria das pessoas vive da agricultura de subsistência, 
seguido pelo auxílio do Bolsa Família, aposentadoria e demais. 
 
Gráfico 3 Dados referentes à renda 
 
 
Fonte: autora, 2020 
 
Em relação ao tipo construtivo das casas, a nossa hipótese é que com a melhoria das 
condições da escola, ela se torne o prédio mais importante da localidade, possibilitando a 
criação de uma nova centralidade em seu entorno, havendo também uma mudança no tipo 
construtivo das casas. Para levantarmos essas informações, na pesquisa de 2018 foram 
identificadas todas as casas e demais construções do povoado, identificando-as por sua 
coordenada geográfica, seu tipo construtivo, registro fotográfico e o nome do responsável 
 
 
pela residência. No ano seguinte, fizemos quadrantes nos mapas de cada povoado para 
localizarmos as edificações registradas anteriormente, com o objetivo de verificar se houve 
alteração no tipo construtivo das casas (Vide Figuras 7 e 8). Em relação ao tipo construtivo, 
verificamos uma pequena variação no número de casas de alvenaria e de taipa (Vide Tabela 
3). Cabe ressaltar que na pesquisa de 2018 foram mapeadas 212 edificações, para 220 
identificadas posteriormente, em 2019. 
 
Tabela 3 Tipo construtivo das casas 
 
Censo Escola Digna 
Faixa etária da população 2018 2019 
Alvenaria 153 158 
Taipa 54 60 
Madeira 2 0 
Outro Material 3 2 
TOTAL 212 220 
Fonte: autora, 2020 
 
 
 
Fig. 7 Identificação das casas no povoado de Mangas, em Barreirinhas 
 
 
 
Fig. 8 Identificação das casas no povoado de Laranjeiras, Aldeias Altas 
Fonte: autora, 2020 
 
 
2.4 Do acesso aos serviços de infraestrutura 
 
De acordo com o Censo (IBGE, 2010) a falta de água potável, o atendimento precário ou 
mesmo a ausência de abastecimento atinge pelo menos 34,5% da população residente em 
localidades rurais. Para as escolas rurais, o Censo Escolar (2014) aponta que apenas 27% 
daquelas possuem rede com abastecimento de água, 59% dependem de poços artesianos, 
poço cacimbão ou fontes naturais e 14% não dispõe de qualquer serviço de água. No que se 
refere ao esgotamento sanitário e manejos de resíduos sólidos nas comunidades rurais, estes 
números são ainda piores, em que as áreas atendidas representam apenas 17,1% e 26,9%, 
respectivamente. Já em relação aos prédios escolares apenas 5% desses possuem esgoto 
encanado, 80% utilizam fossas e 15% não dispõe de qualquer estrutura para tratar os 
resíduos. Sobre a pesquisa, em 2018 e 2019, verificamos que o fornecimento de energia 
elétrica ocorre em 100% das casas dos povoados. Em relação à água, na Tabela 3 são 
indicados os tipos de fornecimento em relação às casas. Destacamos que para o poço da 
comunidade, em três localidades a água somente foi disponibilizada a partir da perfuração 
do poço para atendimento da escola, sendo nos povoados de Jenipapeiro (São João do Sóter), 
Bananal (Turiaçu) e Mangas (Barreirinhas). 
 
Tabela 4 Dados referentes ao abastecimento de água 
 
Censo Escola Digna 
Tipo de fornecimento de água 2018 2019 
Água da chuva armazenada em cisterna 5 4 
Poço próprio 12 39 
Poço da comunidade* 179 151 
Rede de abastecimento 3 10 
Poço cacimbão 13 16 
TOTAL 212 220 
 
Cabe destacar que quando questionados sobre a percepção de melhorias advindas com a 
construção da escola, 22 entrevistados citaram que a perfuração da poço e, 
consequentemente, o fornecimento de água foi mais relevante que a construção da própria 
escola. Na Tabela 5 são apresentados os dados de esgotamento sanitário. Chama atenção o 
elevado número de fossas rudimentares e de residências sem qualquer tipo de tratamento 
para o esgoto. Nesse ponto, ressaltamos uma curiosidade relatada pela gestora da Escola 
Municipal Gonçalves Dias5, cujas crianças precisaram ser ensinadas pelas professoras a 
utilizar o vaso sanitário, visto ser a primeira vez que estavam tendo contato com tal objeto. 
Essa situação desencadeou outra, pois as crianças agora se recusam a fazersuas necessidades 
fisiológicas no quintal. Elas relatam ter medo de serem importunadas pelas galinhas, patos, 
porcos e outros animais. Com isso, tem sido constante os pedidos aos pais para instalarem 
banheiros com bacias sanitárias e chuveiros em suas casas. 
 
Tabela 5 Dados referentes ao esgotamento sanitário 
 
Censo Escola Digna 
Tipo de esgotamento sanitário 2018 2019 
Fossa rudimentar (fossa negra) 114 114 
Fossa séptica 91 96 
Sem informação 7 10 
TOTAL 212 220 
 
5 Nas proximidades do povoado, nasceu o romancista Antônio Gonçalves Dias, poeta maranhense. 
 
 
Em relação ao resíduo sólido, apontamos que a maior parte deste é queimada (Vide Tabela 
6), visto que os povoados são distantes das sedes municipais. Apenas o povoado de Centro 
dos Colados, em Lago da Pedra, dispõe do serviço de coleta pela Prefeitura Municipal. 
Destacamos que esta comunidade dista apenas 5 quilômetros da sede municipal. 
 
Tabela 6 Dados referentes aos resíduos sólidos 
 
Censo Escola Digna 
Quando ao destino dos resíduos 2018 2019 
Coletado na porta 39 35 
Enterrado 18 3 
Jogado em terreno baldio 21 13 
Queimado 134 169 
TOTAL 212 220 
Fonte: autora, 2020 
 
2.5 Da percepção dos moradores quanto à construção da escola 
 
Na Figura 9, apresentamos um infográfico sobre a percepção das pessoas em relação à 
construção da escola. 
 
 
Fig. 9 Infográfico com a percepção das pessoas quanto à construção da escola 
Fonte: autora, 2020 
 
 
 
4 CONSIDERAÇÕES 
 
Somente através de políticas públicas no meio rural, que priorizem a agricultura familiar e o 
modo de vida da população do campo, será possível permitir às pessoas viverem em 
comunidades estruturadas, nas quais seja fomentada a economia local, educação e/ou 
serviços básicos de infraestrutura. Analisando os primeiros dados do Censo Escola Digna, 
percebemos que a construção das escolas nos povoados tem sido apreendida como favorável, 
ao possibilitar melhorias a essas comunidades e aumento na frequência dos alunos nas salas 
de aula. Outro fator crucial de transformação ocorre naquelas localidades onde houve a 
perfuração do poço artesiano, pois a água é essencial para a vida e sua reprodução, 
principalmente, ao se constatar que mais da metade das pessoas entrevistadas tem como 
principal fonte de renda a agricultura, que depende essencialmente da água para a sua 
produção. Contudo, ainda não é possível mensurar se a escola desempenha o papel de agente 
transformador nas comunidades, uma vez que esta avaliação necessita de um intervalo maior 
de utilização do prédio escolar pela população. 
 
Todos os dados dessa pesquisa estão arquivados num banco de dados, para subsidiar futuras 
pesquisas, tornando possível pensar em políticas públicas que atendam a essas populações 
desassistidas, almejando que as Escolas Dignas sejam agentes de transformação e, 
consequentemente, impulsionem o desenvolvimento socioeconômico local e os Índices de 
Desenvolvimento Humano Municipais (IDHM). 
 
5 REFERÊNCIAS 
 
BRASIL (1988). Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 5 de 
outubro de 1988. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 1990. 
 
Censo IBGE (2010). Disponível em:<https://cidades.ibge.gov.br/brasil/ma/panorama> 
Acesso em 14 de novembro de 2019. 
 
Censo SEDUC 2014, 2015, 2016 e 2017. (Disponibilizado pela Secretaria de Estado da 
Educação do Maranhão). 
 
Decreto nº 30.612, de 02 de janeiro de 2015. Disponível 
em:<http://www.cpisp.org.br/htm/leis/page.aspx?LeiID=547> Acesso em Acesso em 14 de 
novembro 2019. 
 
GONÇALVES, Rita de Cássia. A Arquitetura Escolar como materialidade do direito 
desigual à educação. Ponto de Vista v. 1 • n. 1 • julho/dezembro de 1999. Disponível em: 
https://periodicos.ufsc.br/index.php/pontodevista/article/view/1520/1529 
 
MAQUIAVEL, N. (1996) O Príncipe. Tradução de Maria Lucia Cumo. Rio de Janeiro. 
 
MARSHALL, T. H (1967) Cidadania, Classe Social e Status. Rio de Janeiro. 
 
MOLINA, M. C.; FREITAS, H. C. D. A. (2011) Educação do campo. Em aberto, Brasília, 
v. 24, n. 85, p. 177, abr 2011. 
 
PNUD Brasil IDH. Disponível em: <http://www.br.undp.org/content/brazil/pt/home/post-
2015/sdg-overview1/mdg2/. Acesso em 14 de novembro de 2019. 
https://cidades.ibge.gov.br/brasil/ma/panorama
http://www.cpisp.org.br/htm/leis/page.aspx?LeiID=547
http://www.br.undp.org/content/brazil/pt/home/post-2015/sdg-overview1/mdg2/
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