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DIREITO CONSTITUCIONAL PARA CONCURSOS 
PROF. MALU ARAGÃO 
 
1 
 
 
ÍNDICE: 
 
1. Poder Constituinte..........................................................................................................01 
2. Princípios Fundamentais.................................................................................................04 
3. Direitos e Garantias Fundamentais................................................................................06 
 3.1. Direitos e Deveres Individuais e Coletivos..............................................................09 
 
 
 
 
Capítulo 1 
 
 
Poder Constituinte 
 
 
1. CONCEITO DE PODER CONSTITUINTE E TITULARIDADE 
 
É o poder de elaborar ou atualizar uma Constituição, é a 
manifestação soberana da vontade política de um povo, 
social e juridicamente organizado. 
Para a doutrina moderna a titularidade do poder constituinte 
pertence ao povo, embora seja exercido ou por uma 
assembleia nacional constituinte (convenção) ou outorgada 
por um movimento revolucionário. Vale lembrar que o abade 
Emmanuel Joseph Sieyès, que traçou as linhas mestras da 
Teoria do Poder Constituinte através da sua obra “¿Que é o 
terceiro Estado?” (“Quést-ce que le tiers État?”), apontava 
como titular do poder constituinte a nação. 
 
2. ESPÉCIES DE PODER CONSTITUINTE 
 
2.1. Originário (inicial, inaugural, genuíno, instituidor, ou 
de 1º grau) 
 
Instaura um novo Estado, organizando-o, rompendo por 
completo com a antiga ordem jurídica. Tanto haverá poder 
constituinte no surgimento de uma primeira constituição, 
quanto na elaboração de qualquer constituição posterior. 
Pode ser subdividido em histórico (o primeiro) ou 
revolucionário (todos os posteriores ao histórico), como pode 
ser material ou formal. O material é o sentimento de elaborar 
uma nova ordem e o formal é aquele que se exterioriza por 
meio de um procedimento que tem como objetivo elaborar 
uma constituição. O formal deve estar de acordo com as 
ideias do poder constituinte originário material. Ex: Decreto 
n. 1 de 1899. 
O poder constituidor caracteriza-se por ser inicial, já que a 
sua obra, a constituição, é a base da ordem jurídica, por ser 
ilimitado juridicamente e autônomo porque não está de 
modo algum limitado pelo direito anterior, não tendo que 
respeitar os limites postos pelo direito positivo antecessor, 
por ser incondicionado, pois não está sujeito a qualquer 
forma prefixada para manifestar sua vontade e por ser 
permanente porque não desaparece com a realização de sua 
obra, continua latente, manifestando-se novamente 
mediante uma nova assembleia nacional constituinte ou um 
ato revolucionário. 
Embora o Brasil tenha adotado a corrente positivista, onde 
nem mesmo o direito natural limitaria o poder constituinte 
originário contrapondo-se a corrente jusnaturalista, destaca-
se entre a doutrina moderna a visão de Canotilho, o qual 
observa que o poder constituinte originário “... obedece a 
padrões e modelos de conduta espirituais, culturais, éticos e 
sociais, radicados na consciência jurídica geral da 
comunidade e, nesta medida, considerados como ‘vontade 
do povo’”. 
 
2.2. Derivado (instituído, constituído, secundário, ou de 2º 
grau ou remanescente) 
 
Está inserido na própria constituição, pois decorre de uma 
regra jurídica de autenticidade constitucional (poder 
constituinte originário), portanto conhece limitações 
constitucionais expressas e implícitas e é passível de controle 
de constitucionalidade. Caracteriza-se por ser derivado, uma 
vez que retira sua força do poder constituinte originário, por 
ser subordinado, pois se encontra limitado pelas normas 
explícitas e implícitas do texto constitucional e por ser 
condicionado, porque seu exercício deve seguir regras 
previamente estabelecidas no texto da constituição federal. 
Subdivide-se em: poder constituinte derivado revisor 
(competência de revisão), Poder constituinte derivado 
reformador (competência reformadora) e poder 
constituinte derivado decorrente. 
 
2.2.1. Poder Constituinte Derivado Revisor 
 
Vinculado ao poder constituinte originário, foi estabelecido 
no art. 3º do ADCT, que reza: 
“A revisão constitucional será realizada após cinco anos, 
contados da promulgação da Constituição, pelo voto da 
maioria absoluta dos membros do Congresso Nacional, em 
sessão unicameral”. 
Desta competência, que adotou um procedimento 
simplificado, surgiram 6 (seis) Emendas Constitucionais de 
Revisão, valendo destacar que a Resolução 1-RCF do 
Congresso Nacional fixou as mesmas limitações materiais 
(cláusulas pétreas) do art. 60, § 4º, da CF/88. 
Dito poder não poderá mais se manifestar em razão da 
eficácia exaurida e aplicabilidade esgotada da regra 
constitucional. 
 Jurisprudência relacionada ao tema: 
EMENTA. AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. 
RESOLUÇÃO N. 1 - RCF, DO CONGRESSO NACIONAL, DE 
18.11.1993, QUE DISPÕE SOBRE O FUNCIONAMENTO DOS 
TRABALHOS DE REVISÃO CONSTITUCIONAL E ESTABELECE 
NORMAS COMPLEMENTARES ESPECIFICAS. AÇÃO DE 
INCONSTITUCIONALIDADE AJUIZADA PELO GOVERNADOR 
DO ESTADO DO PARANA. ALEGAÇÕES DE OFENSA AO 
PARÁGRAFO 4. DO ART. 60 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL, EIS 
QUE O CONGRESSO NACIONAL, PELO ATO IMPUGNADO, 
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PROF. MALU ARAGÃO 
 
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"MANIFESTA O SOLENE DESIGNIO DE MODIFICAR O TEXTO 
CONSTITUCIONAL", MEDIANTE "'QUORUM' DE MERA 
MAIORIA ABSOLUTA", "EM TURNO ÚNICO" E "VOTAÇÃO 
UNICAMERAL". SUSTENTA-SE, NA INICIAL, ALÉM DISSO, QUE 
A REVISÃO DO ART. 3. DO ADCT DA CARTA POLÍTICA DE 1988 
NÃO MAIS TEM CABIMENTO, POR QUE ESTARIA 
INTIMAMENTE VINCULADA AOS RESULTADOS DO 
PLEBISCITO PREVISTO NO ART. 2. DO MESMO INSTRUMENTO 
CONSTITUCIONAL TRANSITORIO. "EMENDA" E "REVISÃO", 
NA HISTORIA CONSTITUCIONAL BRASILEIRA. EMENDA OU 
REVISÃO, COMO PROCESSOS DE MUDANCA NA 
CONSTITUIÇÃO, SÃO MANIFESTAÇÕES DO PODER 
CONSTITUINTE INSTITUIDO E, POR SUA NATUREZA, 
LIMITADO. ESTA A "REVISÃO" PREVISTA NO ART. 3. DO ADCT 
DE 1988 SUJEITA AOS LIMITES ESTABELECIDOS NO 
PARÁGRAFO 4. E SEUS INCISOS, DO ART. 60, DA 
CONSTITUIÇÃO. O RESULTADO DO PLEBISCITO DE 21 DE 
ABRIL DE 1933 NÃO TORNOU SEM OBJETO A REVISÃO A QUE 
SE REFERE O ART. 3. DO ADCT. APÓS 5 DE OUTUBRO DE 1993, 
CABIA AO CONGRESSO NACIONAL DELIBERAR NO SENTIDO 
DA OPORTUNIDADE OU NECESSIDADE DE PROCEDER A 
ALUDIDA REVISÃO CONSTITUCIONAL, A SER FEITA "UMA SÓ 
VEZ". AS MUDANCAS NA CONSTITUIÇÃO, DECORRENTES DA 
"REVISÃO" DO ART. 3. DO ADCT, ESTAO SUJEITAS AO 
CONTROLE JUDICIAL, DIANTE DAS "CLAUSULAS PETREAS" 
CONSIGNADAS NO ART. 60, PAR. 4. E SEUS INCISOS, DA LEI 
MAGNA DE 1988. NÃO SE FAZEM, ASSIM, CONFIGURADOS OS 
PRESSUPOSTOS PARA A CONCESSÃO DE MEDIDA LIMINAR, 
SUSPENDENDO A EFICACIA DA RESOLUÇÃO N. 01, DE 1993 - 
RCF, DO CONGRESSO NACIONAL, ATÉ O JULGAMENTO FINAL 
DA AÇÃO. MEDIDA CAUTELAR INDEFERIDA. (STF - ADI-MC: 
981 PR, Relator: NÉRI DA SILVEIRA, Data de Julgamento: 
16/12/1993, TRIBUNAL PLENO, Data de Publicação: DJ 05-08-
1994 PP-19299 EMENT VOL-01752-01 PP-00030) 
 
2.2.2. Poder Constituinte Derivado Reformador 
 
Consiste na possibilidade de se alterar o texto constitucional, 
respeitando-se a regulamentação especial prevista na 
própria constituição federal e será exercitado por 
determinados órgãos com caráter representativo. Além das 
limitações expressas ou explícitas, existem as limitações 
implícitas (a titularidade do poder constituinte e as limitações 
expressas) 
A Carta de Outubro prevê em seu art. 60, a única maneira de 
se modificar as normas constitucionais originárias, vejamos: 
Art. 60. A Constituição poderá ser emendada mediante 
proposta: 
I - de um terço, no mínimo, dos membros da Câmara dos 
Deputados ou do Senado Federal; 
II - do Presidente da República; 
III - de mais da metade das Assembleias Legislativas das 
unidades da Federação, manifestando-se, cada uma delas, 
pela maioria relativa de seus membros. 
§ 2º A proposta será discutida e votada em cada Casa do 
Congresso Nacional, em dois turnos, considerando-se 
aprovada se obtiver, emambos, três quintos dos votos dos 
respectivos membros. 
§ 4º Não será objeto de deliberação a proposta de emenda 
tendente a abolir: 
I - a forma federativa de Estado; 
II - o voto direto, secreto, universal e periódico; 
III - a separação dos Poderes; 
IV - os direitos e garantias individuais. 
 
2.2.3. Poder Constituinte Derivado Decorrente 
 
Diz respeito a possibilidade que os Estados-membros têm, 
em virtude de sua autonomia político-administrativa, de se 
auto organizarem por meio de suas respectivas constituições 
estaduais, sempre respeitando as regras limitativas 
estabelecidas pela constituição federal, nos termos do art. 
25, caput e do art. 11 do ADCT: 
Art. 25. Os Estados organizam-se e regem-se pelas 
Constituições e leis que adotarem, observados os princípios 
desta Constituição. 
Art. 11. Cada Assembleia Legislativa, com poderes 
constituintes, elaborará a Constituição do Estado, no prazo 
de um ano, contado da promulgação da Constituição 
Federal, obedecidos os princípios desta. 
No que diz respeito ao “observados os princípios desta 
Constituição” constante no caput do art. 25 da Constituição 
Federal, deve ser entendido por princípios constitucionais 
sensíveis (apontados ou enumerados), que se encontram 
positivados na constituição, mais precisamente no art. 34, 
VII, princípios constitucionais estabelecidos (organizatórios), 
que segundo Bulos “são aqueles que limitam, vedam, ou 
proíbem a ação indiscriminada do Poder Constituinte 
Decorrente”, como exemplo, tem-se as regras de repartição 
de competência (arts. 21, 22, 23 e 24), do sistema tributário 
nacional (arts. 145 e ss), da organização dos poderes (arts. 44 
e ss), dos direitos e garantias individuais (art. 5º) etc, e os 
princípios constitucionais extensíveis, que ainda segundo 
Bulos “são aqueles que integram a estrutura da federação 
brasileira, relacionando-se, por exemplo, com a forma de 
investidura em cargos eletivos (art. 77), o processo legislativo 
(arts. 59 e ss), os orçamentos (arts. 165 e ss), os preceitos 
lidados à Administração Pública (arts. 37 e ss) etc.”. 
No que se refere aos Municípios, sabe-se que há divergência 
doutrinária quanto a existência da competência derivada 
decorrente, considerando o art. 29, caput, da CF/88 (texto 
permanente) e § único do art. 11 do ADCT. Entretanto, a 
doutrina majoritária se posiciona no sentido de que o poder 
constituinte derivado decorrente dado aos Estados 
Federados não se estende aos Municípios, principalmente no 
que tange ao critério jurídico-formal. 
Art. 29. O Município reger-se-á por lei orgânica, votada em 
dois turnos, com o interstício mínimo de dez dias, e aprovada 
por dois terços dos membros da Câmara Municipal, que a 
promulgará, atendidos os princípios estabelecidos nesta 
Constituição, na Constituição do respectivo Estado e os 
seguintes preceitos: 
Art. 11. Cada Assembleia Legislativa, com poderes 
constituintes, elaborará a Constituição do Estado, no prazo 
de um ano, contado da promulgação da Constituição 
Federal, obedecidos os princípios desta. 
Parágrafo único. Promulgada a Constituição do Estado, 
caberá à Câmara Municipal, no prazo de seis meses, votar a 
Lei Orgânica respectiva, em dois turnos de discussão e 
votação, respeitado o disposto na Constituição Federal e na 
Constituição Estadual. 
 
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No caso do Distrito Federal, como a derivação da 
competência é direta da Norma Constitucional, apesar de ser 
regido por Lei Orgânica (critério jurídico-formal), a 
Jurisprudência Pátria tem entendido pela existência da 
manifestação do poder constituinte derivado decorrente, nos 
termos do art. 32, caput: 
 
“O Distrito Federal, vedada sua divisão em Municípios, 
reger-se-ão por lei orgânica, votada em dois turnos com 
interstício mínimo de dez dias, a aprovada por dois terços da 
Câmara Legislativa, que a promulgará, atendidos os 
princípios estabelecidos nesta Constituição”. 
 
 Jurisprudência relacionada ao tema: 
EMENTA. A Lei Orgânica do Distrito Federal constitui 
instrumento normativo primário destinado a regular, de 
modo subordinante – e com inegável primazia sobre o 
ordenamento positivo distrital – a vida jurídico-
administrativa e político-institucional dessa entidade 
integrante da Federação brasileira. Esse ato representa, 
dentro do sistema de direito positivo, o momento inaugural 
e fundante da ordem jurídica vigente no âmbito do Distrito 
Federal. Em uma palavra: a Lei Orgânica equivale, em força, 
autoridade e eficácia jurídicas, a um verdadeiro estatuto 
constitucional, essencialmente equiparável às Constituições 
promulgadas pelos Estados-membros. (Rcl 3.436, 01.08.05). 
EMENTA. (...) 3. Conquanto submetido a regime 
constitucional diferenciado, o Distrito Federal está bem mais 
próximo da estruturação dos Estados-membros do que da 
arquitetura constitucional dos Municípios. (ADI 3.756/DF, 
Rel. Min. Carlos Britto, DJ 19.10.2007). 
 
2.3. Poder Constituinte Difuso 
 
Uadi Lammêgo Bulos cita o poder constituinte difuso, 
chamado assim porque não vem formalizado nas 
constituições, embora esteja presente nos ordenamentos 
jurídicos. É caracterizado como um poder de fato e se 
concretiza por meio das mutações constitucionais, uma vez 
que se manifesta de maneira informal e espontânea, em 
decorrência de fatores sociais, políticos e econômicos, 
sempre observando os princípios estruturantes da 
Constituição. 
 
2.4. Poder Constituinte Supranacional 
Segundo Kildare Gonçalves Carvalho, o poder constituinte 
supranacional tem sua fonte de validade na cidadania 
universal, no pluralismo de ordenamentos jurídicos, na 
vontade de integração e em um conceito remodelado de 
soberania. Cria uma ordem jurídica de cunho constitucional, 
haja vista que passa a aderir ao direito comunitário dos 
Estados Nacionais. 
 
2.5. Poder Constituinte Originário e a teoria da 
Retroatividade Mínima. 
Quando nasce uma nova ordem aplica-se a Teoria da 
Retroatividade Mínima, salvo se a própria norma dispuser em 
sentido contrário (Retroatividade Média ou Máxima). A 
Jurisprudência do Suprem Tribunal Federal conceituou os 
institutos quando do julgamento do Recurso Extraordinário 
242.740. 
 Jurisprudência relacionada ao tema: 
EMENTA (...). Já se firmou a jurisprudência desta Corte no sentido 
de que os dispositivos constitucionais têm vigência imediata, 
alcançando os efeitos futuros de fatos passados (retroatividade 
mínima). Salvo disposição expressa em contrário - e a Constituição 
pode fazê-lo -, eles não alcançam os fatos consumados no passado 
nem as prestações anteriormente vencidas e não pagas 
(retroatividades máxima e média). (...). (RE 242.740/GO, Rel. Min. 
Moreira Alves, 1ª. Turma, DJ 18.05.2001). 
 
Capítulo 2 
 
 
Princípios Fundamentais 
 
 
O termo princípio traduz-se na ideia de início, origem, 
começo, e ainda, numa outra acepção, em mandamento, 
norma nuclear de um sistema. Nesse contexto, os princípios 
fundamentais nada mais são que as diretrizes básicas que 
produzem decisões políticas imprescindíveis à estruturação 
do Estado. São alicerce, a base, as linhas mestras sociais e 
políticas que norteiam e inspiram os conteúdos positivados 
pelo legislador constituinte originário. 
No art. 1º estão estabelecidos os fundamentos da República 
Federativa do Brasil, como se vê a seguir: 
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união 
indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, 
constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como 
fundamentos: 
I - a soberania; 
II - a cidadania; 
III - a dignidade da pessoa humana; 
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; 
V - o pluralismo político. 
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce 
por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos 
termos desta Constituição. 
Nesse dispositivo tem-se a definição da República Federativa 
do Brasil sob o aspecto territorial, ou físico, a República é 
composta dos Estados,do Distrito Federal e dos Municípios. 
Há de se observar que República Federativa do Brasil é o 
nome do Estado Brasileiro, que adota o federalismo, por isso 
a designação Estado Federal. Este, por sua vez, compõe-se de 
coletividades regionais autônomas denominadas Estados-
membros ou federados. 
Para Celso Bastos, soberania é atributo que se confere ao 
poder do Estado em virtude de ser juridicamente ilimitado 
(todo o poder). Já autonomia é margem de discrição de que 
uma pessoa goza para decidir sobre seus negócios (parcela 
do poder). 
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A Constituição adotou como Forma de Estado o Federalismo, 
que no conceito de Dalmo Dallari é uma “aliança ou união de 
Estados”, baseada em uma constituição e onde “os Estados 
que ingressam na federação perdem sua soberania no 
momento mesmo do ingresso, preservando, contudo, uma 
autonomia político-administrativa”. Assim, não se admite 
secessão, separação ou segregação. Lembre-se, o legislador 
constituinte determinou a impossibilidade de qualquer 
deliberação sobre proposta de emenda constitucional 
tendente a abolir a Federação (art. 60, § 4º, I da CF). 
A República foi a Forma de Governo assumida pelo país, 
tendo como características: a eletividade, temporariedade e 
responsabilidade do governante perante os governados. 
O Princípio da indissolubilidade do vínculo federativo, em 
nosso Estado Federal, foi consagrado em nossas 
constituições republicanas desde 1891 e tem duas finalidades 
básicas: a unidade nacional e a necessidade 
descentralizadora. Inadmissível, portanto, qualquer 
pretensão de separação de um Estado-membro, do Distrito 
Federal ou de qualquer Município da Federação, inexistindo 
em nosso ordenamento jurídico o denominado direito de 
secessão, pois a mera tentativa de secessão permitira a 
decretação de intervenção federal (art. 34, I da CF). 
O Estado Democrático de Direito é mais amplo que Estado 
de Direito. A expressão “Estado de Direito” na sua origem 
significa governo a partir de leis, porém quaisquer leis. Com 
a introdução da característica de ser democrático na 
Constituição Federal de 1988, impõe-se a todas as normas a 
observância a tal princípio; não sendo suficientes apenas as 
leis, mas principalmente que nestas esteja inserido o 
conteúdo democrático, uma vez que o regime político 
adotado é a democracia. 
A soberania significa poder ilimitado na ordem interna e 
independente na ordem internacional. 
A cidadania está relacionado com a titularidade de direitos 
políticos, implicando, assim, na parcela detentora de 
capacidade eleitoral ativa. 
A dignidade da pessoa humana compreende o direito de 
nascer com vida e permanecer vivo com uma vida digna. 
Deve ser interpretado com o máximo de amplitude possível 
na hora de conceituá-lo, aplicando o princípio da máxima 
efetividade ou eficiência. 
Os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa são 
características do sistema capitalista: valorização do 
trabalho, único responsável pela subsistência e 
desenvolvimento dos indivíduos e do país e a prevalência da 
livre iniciativa, a qual afasta os ideais socialistas de 
planificação da economia. 
O pluralismo político não significa apenas pluripartidarismo, 
sendo este uma espécie do gênero daquele. Caracteriza-se 
pela aceitação de diversidade de opiniões, participação plural 
na sociedade do mais diversos modos, abrangendo 
associações, sindicatos, partidos políticos, igrejas, 
universidades, escolas etc. 
O Regime Político adotado no Brasil é o democrático, ou seja, 
governo do povo, para o povo, pelo povo. O poder advém do 
povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou 
diretamente (democracia semidireta ou participativa). 
Dispositivo correspondente: art. 170, CF. 
 Jurisprudência relacionada ao tema: 
EMENTA. (...) Ninguém é obrigado a cumprir ordem ilegal, ou 
a ela se submeter, ainda que emanada de autoridade judicial. 
Mais: é dever de cidadania opor-se à ordem ilegal; caso 
contrário, nega-se o Estado de Direito. (STF HC 73.454/RJ). 
EMENTA. (...) O princípio da livre iniciativa não pode ser 
invocado para afastar regras de regulamentação do mercado 
e de defesa do consumidor. (STF RE 349.686, 14.06.2005). 
Art. 2º São Poderes da União, independentes e harmônicos 
entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário. 
Defende a doutrina que a divisão é de Funções, e não de 
Poderes, considerando que o Poder é uno, além de ser 
indivisível e indelegável. 
A Tripartição de Poderes foi esboçada por Aristóteles e 
firmada por Montesquieu e Locke. 
Os poderes participam, por vezes, das atribuições uns dos 
outros, a fim de que se garanta a harmonia entre eles, a 
inocorrência de abusos e a consequente realização do bem 
da coletividade, através do sistema de freios e contrapesos – 
checks and balances. Assim as funções administrativa, 
legislativa e judiciária não são exercidas com exclusividade, 
mas apenas preponderantemente por cada “Poder”. Daí a 
denominação em funções típicas e atípicas (secundárias ou 
subsidiárias). 
Os Poderes são harmônicos e independentes, ou seja, entre 
os órgãos há cortesia no trato recíproco e na atuação do 
exercício de suas atribuições não há ingerência dos demais, 
com liberdade para organizar serviços e tomar decisões, 
apesar da doutrina indicar na própria constituição exceções a 
separação dos poderes, como por exemplo, o art. 50, § 1º. 
Como exemplo, tem-se a competência de legislar do Poder 
Legislativo. O Congresso aprova os projetos de leis, que 
podem ser sancionados ou vetados pelo Presidente da 
República e no caso de haver sanção, poderá o Poder 
Judiciário declarar a inconstitucionalidade. 
Ressalte-se que a Separação dos Poderes é cláusula pétrea 
(art. 60, § 4º, III). 
Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República 
Federativa do Brasil: 
I - construir uma sociedade livre, justa e solidária; 
II - garantir o desenvolvimento nacional; 
III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as 
desigualdades sociais e regionais; 
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, 
raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de 
discriminação. 
Não se trata de um rol taxativo, mas exemplificativo. 
Dispositivo correspondente: art. 170, CF. 
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Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas 
relações internacionais pelos seguintes princípios: 
I - independência nacional; 
II - prevalência dos direitos humanos; 
III - autodeterminação dos povos; 
IV - não intervenção 
V - igualdade entre os Estados; 
VI - defesa da paz; 
VII - solução pacífica dos conflitos; 
VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo; 
IX - cooperação entre os povos para o progresso da 
humanidade; 
X - concessão de asilo político. 
Parágrafo único. A República Federativa do Brasil buscará a 
integração econômica, política, social e cultural dos povos 
da América Latina, visando à formação de uma comunidade 
latino-americana de nações. 
Os dez princípios de relações internacionais que devem ser 
hermeneuticamente analisados e concretizados com o 
intuito de lograr o objetivo constante no parágrafo único e 
consistem em verdadeiros desafios das relações 
internacionais rumo a efetiva implantação de uma 
comunidade latino-americana de nações. 
O princípio da independência nacional retrata, segundo 
Cretela Júnior, a afirmativa da soberania como fundamento 
da República, previsto no art. 1º da Lei Maior. O princípio da 
autodeterminação dos povos também está marcado pela 
Soberania, pois diz respeito aos limites a todo e qualquer 
poder colonizante. Ainda no campo da soberania, o princípio 
da não intervenção consiste na proibição de um Estado 
interferir sobre outro em assuntos de natureza interna. 
Acerca do princípio da prevalência dos direitos humanos, 
tem-se a lição de Pedro Dallari: "a prevalência dos direitos 
humanos, enquanto princípio norteador das relaçõesexteriores do Brasil e fundamento colimado pelo País para a 
regência da ordem internacional não implica tão-somente o 
engajamento no processo de edificação de sistemas de 
normas vinculados ao Direito Internacional Público. Impõe-se 
buscar a plena integração das regras de tais sistemas à ordem 
jurídica interna de cada Estado". 
O princípio da igualdade prevê que todos os Estados são 
iguais perante a lei brasileira. 
O princípio da solução pacífica dos conflitos determina como 
o Brasil se posiciona em relação aos conflitos. O desinteresse 
em envolver-se em um conflito e a falta de incentivo a prática 
da guerra estão relacionados ao princípio da defesa da paz, 
um objetivo supranacional. 
O princípio do repúdio ao racismo e ao terrorismo é um 
compromisso ético-jurídico assumido pelo Estado Brasileiro, 
quer perante a sua própria Constituição, quer em face da 
comunidade internacional. Há adesão do Brasil a tratados e 
acordos multilaterais que repudiam quaisquer 
discriminações raciais, de cor, credo, descendência ou origem 
inspiradas na pretensa superioridade de um povo sobre 
outro. 
Sobre o princípio da cooperação para o progresso da 
humanidade, o legislador pretende alcançar uma cooperação 
entre países para um desenvolvimento unilaterial ou bilateral 
ou multilateral. Nesse sentido, o Brasil já possui relações 
internacionais de cooperação, tais como: a Declaração de 
Princípios sobre a Cooperação entre o Governo da República 
Federativa do Brasil e o Governo do Canadá para a 
Manutenção da Paz e da Segurança Internacionais, realizado 
em Brasília, em 15 de janeiro de 1998, e o Tratado de 
Amizade, Cooperação e Consulta entre a República 
Portuguesa e a República Federativa do Brasil, aprovado pela 
Resolução da Assembléia da República 83/2000, de 14 de 
dezembro de 2000. 
Partindo do conceito, segundo o mestre Rezec, asilo político 
“... é o acolhimento, pelo Estado, de estrangeiro perseguido 
alhures – geralmente, mas não necessariamente, em seu 
próprio país patrial –, por causa de dissidência política, de 
delitos de opinião, ou por crimes que, relacionados com a 
segurança do Estado, não configuram quebra do direito penal 
comum”, verifica-se que não há incompatibilidade entre o 
instituto do asilo político e o da extradição passiva, na exata 
medida em que o Supremo Tribunal Federal não está 
vinculado ao juízo formulado pelo Poder Executivo na 
concessão administrativa daquele benefício. A condição 
jurídica de asilado político não suprime, só por si, a 
possibilidade de o Estado brasileiro conceder, presentes e 
satisfeitas às condições constitucionais e legais que a 
autorizam, a extradição que lhe haja sido requerida. O 
estrangeiro asilado no Brasil só não será passível de 
extradição quando o fato ensejador do pedido assumir a 
qualificação de crime político ou de opinião. 
É importante, ainda, comentar sobre a relativização da 
soberania em prol dos direitos humanos. A teoria da 
soberania absoluta e plena foi sendo transformada até se 
alcançar o que se denomina de princípio da soberania. Os 
princípios da não-intervenção e da igualdade formal dos 
Estados não exercem papel imperativo no contexto 
internacional, tendo em vista as justificativas dadas pelas 
grandes forças mundiais, tais como o terrorismo, os Direitos 
Humanos e até mesmo a busca pela justiça e pela paz, na 
tomada de medidas que interferem fora do âmbito daquilo 
que poderíamos chamar de soberania interna dos Estados. 
No Brasil, um novo conceito de soberania surgiu frente os 
avanços trazidos pela Constituição Federal de 1988 e as 
jurisprudências do Supremo Tribunal Federal, em que 
prevalece a dignidade humana nas relações internacionais. 
Exemplo disso é a submissão do Brasil ao Tribunal Penal 
Internacional (art. 5º, § 4º, da CF/88). 
 
 
 
Capítulo 3 
 
 
Direitos e Garantias Fundamentais 
 
 
DIREITO CONSTITUCIONAL PARA CONCURSOS 
PROF. MALU ARAGÃO 
 
6 
 
1. BREVE EVOLUÇÃO DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS 
 
A história dos direitos fundamentais está diretamente ligada 
ao aparecimento do constitucionalismo no final do 
século XVIII, que, entretanto, herdou da idade média as 
ideias de contenção do poder do Estado em favor do 
cidadão, tendo como ponto ápice a célebre Magna 
Carta, escrita na Inglaterra, em 1215, pela qual o Rei 
João Sem Terra reconhecia alguns direitos dos nobres, 
limitando o poder do monarca. 
Com a Revolução Francesa, em 1789, se acentuaram os 
movimentos e documentos escritos que buscavam 
garantir aos cidadãos os seus direitos elementares em 
face da atuação do poder público. Destaque-se a 
denominada Declaração dos Direitos do Homem e do 
Cidadão, de 1789, produto daquela revolução ocorrida 
em território francês. 
Pouco antes disso, porém, outro documento entrava para a 
história, como resultado da revolução Americana, a 
Declaração de Virgínia, elaborada em 1776, 
estabelecendo os direitos fundamentais do povo norte-
americano, tais como a liberdade, a igualdade, eleição 
de representantes, dentre outros. 
Em 1948, logo após a 2a Guerra Mundial, a Organização das 
Nações Unidas fazia editar a Declaração Universal dos 
Direitos do Homem, estendendo para praticamente 
todo o mundo o respeito e a proteção aos direitos 
fundamentais do ser humano. 
Paulo Bonavides, comentando sobre a importância das 
declarações dos direitos do homem, enaltecendo 
aquela nascida na França, em mais uma lição magistral, 
ensina que: “Constatou-se então com irrecusável 
veracidade que as declarações antecedentes de ingleses 
e americanos podiam talvez ganhar em concretude, 
mas perdiam em espaço de abrangência, porquanto se 
dirigiam a uma camada social privilegiada (os barões 
feudais), quando muito a um povo ou a uma sociedade 
que se libertava politicamente, conforme era o caso das 
antigas colônias americanas, ao passo que a Declaração 
francesa de 1789 tinha por destinatário o gênero 
humano. Por isso mesmo, e pelas condições da época, 
foi a mais abstrata de todas as formulações solenes já 
feitas acerca da liberdade”. 
 
2. DISTINÇÃO ENTRE DIREITO E GARANTIA 
 
Muitos doutrinadores diferem “Direitos” de “Garantias” 
Fundamentais. Essa distinção, no direito brasileiro, foi feita 
por Rui Barbosa, ao separar as disposições declaratórias, e as 
garantias, disposições assecuratórias. Em outras palavras, o 
direito é o “bem” protegido pela norma e a garantia é o 
mecanismo criado pela norma para defender o direito. Em 
contrapartida, Sampaio Dória, defende a tese de que as 
Garantias também são Direitos. 
Os direitos e garantias fundamentais, consagrados na 
constituição federal, não são ilimitados, absolutos, uma vez 
que encontram seus limites nos demais direitos igualmente 
consagrados pela Carta Magna (Princípio da relatividade ou 
convivência das liberdades públicas). 
Na lição de Canotilho, os direitos fundamentais exercem a 
função de defesa do cidadão sob dupla perspectiva: a) no 
plano jurídico-político, funcionam como normas de 
competência negativa para os Poderes Públicos, proibindo-os 
de atentarem contra a esfera individual da pessoa; b) no 
plano jurídico-subjetivo, implicam o poder de exercer 
positivamente os direitos fundamentais (liberdade positiva), 
e de exigir omissões dos poderes públicos. 
 
3. CLASSIFICAÇÃO HISTÓRICA DOS DIREITOS 
FUNDAMENTAIS 
 
A doutrina, baseada na ordem histórica cronológica em que 
passam a ser institucionalmente reconhecidos, classifica os 
direitos fundamentais em dimensões (gerações). Em primeira 
análise, Paulo Bonavides, os classificou em: 
Direitos de primeira dimensão: são os direitos civis e 
políticos, e compreendem as liberdades clássicas (liberdade, 
propriedade, vida, segurança). São direitos do indivíduo 
perante o Estado, são limites impostos à atuação do Estado, 
resguardando direitos considerados indispensáveis a cada 
pessoa humana. Significa uma prestação negativa, um não 
fazer do Estado, em prol do cidadão. 
Direitos de segunda dimensão: correspondem aos direitos 
sociais, que são direitosde conteúdo econômico e cultural 
que visam melhorar as condições de vida e de trabalho da 
população. Significa uma prestação positiva, um fazer do 
Estado em prol dos menos favorecidos pela ordem social e 
econômica. Esses direitos nasceram em razão de lutas de 
uma nova classe social, os trabalhadores. 
Direitos de terceira dimensão: corresponde aos direitos 
difusos e coletivos, são os direitos de solidariedade e 
fraternidade, considerados transindividuais, os direitos de 
pessoas coletivamente consideradas. São direitos coletivos, 
como a proteção ao meio ambiente, à qualidade de vida 
saudável, ao progresso, à paz, à autodeterminação dos povos 
e a defesa do consumidor, da infância e da juventude. 
Note-se que há um comparativo desses direitos ao lema da 
Revolução Francesa: liberdade, igualdade e fraternidade. 
Em outra oportunidade, o mencionado autor cita ainda os 
direitos de quarta dimensão: “são direitos da quarta geração 
o direito à democracia, o direito à informação e o direito ao 
pluralismo. Deles depende a concretização da sociedade 
aberta ao futuro, em sua dimensão de máxima 
universalidade, para a qual parece o mundo inclinar-se no 
plano de todas as relações de convivência”. 
Embora alguns doutrinadores afirmem que o direito à paz 
esteja inserido entre os direitos de terceira dimensão, Paulo 
Bonavides o desloca para a quinta dimensão, em virtude de 
suas características próprias e independentes, pois estaria 
em um “patamar superior”, merecendo visibilidade superior 
aos demais direitos fundamentais. E para tanto, afirma 
expressamente que “A dignidade jurídica da paz deriva do 
reconhecimento universal que se lhe deve enquanto 
pressuposto qualitativo da convivência humana, elemento de 
conservação da espécie, reino de segurança dos direitos”. 
 Jurisprudência relacionada ao tema: 
DIREITO CONSTITUCIONAL PARA CONCURSOS 
PROF. MALU ARAGÃO 
 
7 
 
EMENTA. (...). Enquanto os direitos de primeira geração 
(direitos civis e políticos) – que compreendem as liberdades 
clássicas, negativas ou formais – realçam o princípio da 
liberdade e os direitos de segunda geração (direitos 
econômicos, sociais e culturais) – que se identifica com as 
liberdades positivas, reais ou concretas – acentuam o 
princípio da igualdade, os direitos de terceira geração, que 
materializam poderes de titularidade coletiva atribuídos 
genericamente a todas as formações sociais, consagram o 
princípio da solidariedade e constituem um momento 
importante no processo de desenvolvimento, expansão e 
reconhecimento dos direitos humanos, caracterizados, 
enquanto valores fundamentais indisponíveis, nota de uma 
essencial inexauribilidade. (...) (STF MS 22.164, 17/11/95). 
 
4. EFICÁCIA VERTICAL E HORIZONTAL DOS DIREITOS 
FUNDAMENTAIS (EFICÁCIA PRIVADA OU EXTERNA) 
 
Quando se fala da relação entre particulares, vê-se que existe 
eficácia horizontal dos direitos fundamentais, mas quando se 
está diante da relação entre particular e Estado, passa a 
existir eficácia vertical dos direitos fundamentais. 
 Jurisprudência relacionada ao tema: 
EMENTA. (...) Eficácia dos direitos fundamentais nas relações 
privadas. As violações a direitos fundamentais não ocorrem 
somente no âmbito das relações entre o cidadão e o Estado, 
mas igualmente nas relações travadas entre pessoas físicas e 
jurídicas de direito privado. Assim, os direitos fundamentais 
assegurados pela Constituição vinculam diretamente não 
apenas os poderes públicos, estando direcionados também à 
proteção dos particulares em face dos poderes privados. Os 
princípios constitucionais como limites à autonomia privada 
das associações. (...). (STF RE 201.819, 27/10/06). 
 
5. EFICÁCIA “IRRADIANTE” DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS 
 
Dimensão subjetiva é a visão clássica dos Direitos 
Fundamentais. Consiste em enxergá-los como um direito da 
pessoa em face do Estado, o qual deve exercer um papel 
negativo (abstenção de intervir para que não viole os direitos 
previstos, notadamente os direitos e garantias 
individuais) ou positivo (prestações que o Estado faz para as 
pessoas de forma a garantir condições mais dignas de 
sobrevivência, notadamente os direitos sociais). 
A dimensão objetiva dos direitos fundamentais tem como 
consequência a eficácia irradiante dos direitos para o 
legislativo na função de legislar, para o executivo na função 
de administrar e para o Judiciário na função jurisdicional. É a 
nova visão, onde os Direitos Fundamentais devem ser 
enxergados não só sob a ótica dos “direitos das pessoas 
frente ao Estado”, mas como enunciados que contém alta 
carga valorativa. Valores, princípios, regras que norteiam a 
aplicação do ordenamento jurídico e assumem um papel 
central no constitucionalismo. Nesse aspecto, a visão 
objetiva cumpre com o papel de: estruturar, regulamentar, 
concretizar, estruturar, impor o cumprimento das normas o 
mais rápido possível (visto que os direitos fundamentais têm 
aplicação imediata); em suma, devem ser observados pelas 
normas jurídicas futuras. Importante lembrar que esses 
direitos podem ser condicionados uns em relação aos outros 
(caso, de sigilo de dados, por exemplo), preservando-se os 
núcleos essenciais de cada um. 
 
6. CARACTERÍSTICAS DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS 
 
As características dos direitos fundamentais é um tema 
doutrinário, assim dá ensejo a muitas discussões jurídicas. Há 
um rol enumerativo das características, mas nunca deixando 
de existir divergências entre as teses dogmáticas 
apresentadas. Com fundamento nas doutrinas 
constitucionalistas e nos reconhecimentos jurisprudenciais, 
as características mais importantes no que tange aos direitos 
e garantias fundamentais são: universalidade, 
indivisibilidade, interdependência, interrelacionaridade, 
imprescritibilidade, complementaridade, individualidade, 
inviolabilidade, indisponibilidade, inalienabilidade, 
historicidade, irrenunciabilidade, vedação ao retrocesso, 
efetividade e limitabilidade. 
1. Universalidade: os direitos e garantias fundamentais 
vinculam-se ao princípio da liberdade, conduzido pela 
dignidade da pessoa humana, os mesmos devem ser 
destinados a todos os indivíduos, independente da raça, 
credo, nacionalidade, convicção política, a coletividade 
jurídica em geral. 
2. Indivisibilidade: os direitos compõem um único 
conjunto, uma totalidade, pois não são analisados de 
maneira isolada, separada. O desrespeito a um deles 
constitui a violação de todos. 
3. Interdependência: os direitos fundamentais são 
intrinsecamente relacionados, pois para atingirem suas 
principais finalidades possuem intersecções. 
4. Interrelacionaridade: a evolução da proteção nacional e 
internacional dos direitos fundamentais assegurou 
maior abrangência a inviolabilidade dos direitos e 
garantias fundamentais no âmbito regional e mundial. 
Dita característica concede a pessoa a opção da 
proteção da inviolabilidade do seu direito fundamental, 
a global ou regional. 
5. Imprescritibilidade: os direitos fundamentais não se 
perdem com o tempo, não prescrevem, apesar de existir 
exceções a essa regra. 
6. Inalienabilidade: os direitos são intransferíveis, 
inegociáveis e indisponíveis, sem cunho patrimonial. Tal 
inalienabilidade resulta da dignidade da pessoa 
humana. 
7. Historicidade: os direitos fundamentais nasceram de 
uma única evolução e desenvolvimento histórico e 
cultural. Como afirmava o saudoso professor Norberto 
Bobbio: “os direitos do homem, por mais fundamentais 
que sejam, são direitos históricos, ou seja, nascidos em 
certas circunstâncias, caracterizadas por lutas em 
defesa de novas liberdades contra velhos poderes, e 
nascidos de modo gradual, não todos de uma vez e nem 
de uma vez por todas. (...) o que parece fundamental 
numa época histórica e numa determinada civilização 
não é fundamental em outras épocas e em outras 
cultuas”. 
DIREITO CONSTITUCIONAL PARA CONCURSOS 
PROF. MALU ARAGÃO 
 
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8. Irrenunciabilidade: parte da premissa de que os direitos 
fundamentais nãopodem ser renunciados pelo seu 
titular, que não pode fazer com eles o que quiser, uma 
vez que os mesmos possuem uma eficácia objetiva no 
sentido de que não importa apenas ao sujeito ativo, mas 
interessam a toda coletividade. Entretanto, a suprema 
Corte Constitucional (STF) vem admitindo a renúncia do 
exercício dos direitos. 
9. Vedação ao retrocesso: os direitos fundamentais uma 
vez estabelecidos não se admite o retrocesso visando a 
sua limitação ou diminuição, existindo parte da doutrina 
afirmando que tais direitos constituem uma limitação 
metajurídica ao poder constituinte originário, atuando 
como critério de aferição da legitimidade do conteúdo 
constitucional. A referida característica impede a 
revogação de normas garantidoras de direitos 
fundamentais e impede a implementação de políticas 
públicas de enfraquecimento de direitos fundamentais. 
A exegese constitucional assegurada a proteção do 
núcleo essencial e intangível dos direitos fundamentais, 
tendo origem no próprio Estado Democrático de Direito 
que se define pela proteção extremada da dignidade do 
Homem e plena eficácia das normas implementadas, 
sendo que os direitos sociais já realizados e efetivados 
pela legislação devem ser tidos como 
constitucionalmente garantido, tendo como 
consequência a invalidade das medidas que visam 
anular ou cancelar o núcleo dos direitos fundamentais, 
devendo as mesmas ser consideradas inconstitucionais. 
10. Efetividade: o Estado deve exercer o papel de garantir 
a máxima efetividade dos direitos fundamentais. 
11. Limitabilidade ou relatividade: reza que nenhum 
direito fundamental poderá ser considerado absoluto, 
mas devem ser interpretados e aplicados levando-se em 
consideração os limites fáticos e jurídicos existentes, 
especialmente quando estão diante de outros direitos 
fundamentais. Conforme ressalta Paulo Gustavo Gonet 
Branco: “(...) os direitos fundamentais podem ser objeto 
de limitações, não sendo, pois, absolutos. (...) Até o 
elementar direito à vida tem limitação explícita no 
inciso XLVII, a, do art. 5º, em que se contempla a pena 
de morte em caso de guerra formalmente declarada”. 
Ademais, as limitações aos direitos fundamentais não 
são ilimitadas, só podendo ser limitado o estritamente 
necessário, uma vez que com os preceitos 
constitucionais devem respeitar os princípios da 
razoabilidade e proporcionalidade. Segundo Konrad 
Hesse: “A limitação de direitos fundamentais deve, por 
conseguinte, ser adequada para produzir a proteção do 
bem jurídico, por cujo motivo ela é efetuada. Ela deve 
ser necessária para isso, o que não é o caso, quando um 
meio mais ameno bastaria. Ela deve, finalmente, ser 
proporcional em sentido restrito, isto é, guardar relação 
adequada com o peso e o significado do direito 
fundamental.” 
12. Inviolabilidade: impõe a observância dos direitos 
fundamentais por normas infraconstitucionais ou por 
atos das autoridades públicas. 
13. Complementaridade: os direitos fundamentais 
constitucionais se complementam e não há hierarquia 
entre eles. 
14. Concorrência: podem ser exercidos cumuladamente 
por um mesmo sujeito ativo. 
15. Aplicação imediata (eficácia direta, imediata e 
vinculante): com base no art. 5º, § 1º da Constituição 
Federal que diz: “As normas definidoras dos direitos e 
garantias fundamentais têm aplicação imediata”, 
assevera que cabe aos poderes públicos (Judiciário, 
Legislativo e Executivo) promover o avanço desses 
direitos. 
Para o professor José Afonso da Silva, afirmar que as 
normas tem “aplicação imediata” significa que as 
normas são aplicáveis até onde possam, até onde as 
instituições ofereçam condições para seu atendimento. 
“Aplicabilidade”, por outro lado, é um conceito 
desenvolvido pelo referido professor que se refere ao 
fato de as normas já poderem ser aplicadas às situações 
quando da promulgação da Constituição. Assim, todas 
as normas são aplicáveis, mas nem todas têm aplicação 
imediata. 
 Jurisprudência relacionada ao tema: 
 
EMENTA. OS DIREITOS E GARANTIAS INDIVIDUAIS NÃO TÊM 
CARÁTER ABSOLUTO. Não há, no sistema constitucional 
brasileiro, direitos ou garantias que se revistam de caráter 
absoluto, mesmo porque razões de relevante interesse 
público ou exigências derivadas do princípio de convivência 
das liberdades legitimam, ainda que excepcionalmente, a 
adoção, por parte dos órgãos estatais, de medidas restritivas 
das prerrogativas individuais ou coletivas, desde que 
respeitados os termos estabelecidos pela própria 
Constituição. O estatuto constitucional das liberdades 
públicas, ao delinear o regime jurídico a que estas estão 
sujeitas - e considerado o substrato ético que as informa - 
permite que sobre elas incidam limitações de ordem jurídica, 
destinadas, de um lado, a proteger a integridade do interesse 
social e, de outro, a assegurar a coexistência harmoniosa das 
liberdades, pois nenhum direito ou garantia pode ser 
exercido em detrimento da ordem pública ou com 
desrespeito aos direitos e garantias de terceiros. (STF RMS 
23.452/RJ, Relator Ministro Celso de Mello, DJ de 
12.05.2000). 
EMENTA. A PROIBIÇÃO DO RETROCESSO SOCIAL COMO 
BSTÁCULO CONSTITUCIONAL À FRUSTRAÇÃO E 
AO INADIMPLEMENTO, PELO PODER PÚBLICO, DE DIREITOS 
PRESTACIONAIS. - O princípio da proibição do 
retrocesso impede, em tema de direitos fundamentais de 
caráter social, que sejam desconstituídas as conquistas já 
alcançadas pelo cidadão ou pela formação social em que ele 
vive. - A cláusula que veda o retrocesso em matéria de 
direitos a prestações positivas do Estado (como o direito à 
educação, o direito à saúde ou o direito à segurança pública, 
v.g.) traduz, no processo de efetivação desses direitos 
DIREITO CONSTITUCIONAL PARA CONCURSOS 
PROF. MALU ARAGÃO 
 
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fundamentais individuais ou coletivos, obstáculo a que os 
níveis de concretização de tais prerrogativas, uma vez 
atingidos, venham a ser ulteriormente reduzidos ou 
suprimidos pelo Estado. Doutrina. Em consequência desse 
princípio, o Estado, após haver reconhecido os direitos 
prestacionais, assume o dever não só de torná-los efetivos, 
mas, também, se obriga, sob pena de transgressão ao texto 
constitucional, a preservá-los, abstendo-se de frustrar - 
mediante supressão total ou parcial - os direitos sociais já 
concretizados. (...) (STF ARE 639337 AgR, Relator(a): Min. 
CELSO DE MELLO, Segunda Turma, julgado em 23/08/2011, 
DJe-177 DIVULG 14-09-2011 PUBLIC 15-09-2011 EMENT VOL-
02587-01 PP-00125). 
 
3.1. DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E 
COLETIVOS 
 
DIREITOS. DESTINATÁRIOS. PRINCÍPIO DA ISONOMIA. 
 
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de 
qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos 
estrangeiros residentes no país a inviolabilidade do direito 
à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à 
propriedade, nos termos seguintes: 
Os destinatários dos direitos e deveres ora mencionados são 
os brasileiros e estrangeiros residentes no país, devendo a 
expressão “residentes no país” ser interpretada no sentido 
de que tais direitos só serão assegurados dentro do território 
brasileiro, não excluindo o estrangeiro em trânsito pelo 
território nacional, segundo entendimento defendido pela 
doutrina e pela jurisprudência pátria. 
Tais direitos são extensíveis às pessoas jurídicas, no que 
couber, bem como ao próprio Estado. 
O princípio da Igualdade ou princípio da isonomia está 
previsto no caput desse artigo, prescrevendo que toda 
pessoa tem o direito de tratamento idêntico pela lei, em 
concordância com os critérios albergados pelo ordenamento 
jurídico. Entretanto, deve-se buscar não somente a igualdade 
formal, direcionada ao legislador, mas a igualdade real ou 
material ou substancial, direcionada ao operador do direito, 
ao intérprete. Parte-se da premissa de que a verdadeira 
igualdade está em tratar igualmente os iguais e 
desigualmente os desiguais. 
O referido princípio não veda o tratamento diferenciado 
estabelecido pela lei, proíbe as diferenças arbitrárias,as 
discriminações absurdas, já que o tratamento desigual aos 
desiguais é uma questão de justiça, sendo justificável pelo 
objetivo que se pretende atingir pela lei, conforme a Súmula 
683 do STF que reza: “O limite de idade para a inscrição em 
concurso só se legitima em face do art. 7º, XXX, da 
Constituição, quando possa ser justificado pela natureza do 
cargo a ser preenchido”. Entretanto somente serão possíveis 
tais distinções se estiverem previstas em lei. 
Vale destacar as discriminações positivas (affirmative 
actions), proveniente do direito norte americano, que cuida 
em estabelecer medidas de compensação para reduzir as 
desigualdades sociais. É neste escólio que traz a lição do 
Ministro do Supremo Tribunal Federal, Joaquim B. Barbosa 
Gomes, que ensina: As ações afirmativas 'consistem em 
políticas públicas (e também privadas) voltadas à 
concretização do princípio constitucional da igualdade 
material e à neutralização dos efeitos da discriminação racial, 
de gênero, de idade, de origem nacional e de compleição 
física. Impostas ou sugeridas pelo Estado, por seus entes 
vinculados e até mesmo por entidades puramente privadas, 
elas visam a combater não somente as manifestações 
flagrantes de discriminação de fundo cultural, estrutural, 
enraizada na sociedade'. 
A discriminação reversa deve-se revestir de uma índole 
compensatória e não meramente garantir uma repartição de 
bens, sem levar em conta o uso da liberdade das pessoas e o 
esforço e mérito de cada um. Avaliadas sob o teste do 
princípio da proporcionalidade, as medidas de discriminação 
reversa devem ser adequadas para superar os obstáculos que 
o preconceito gerou para o grupo. Para isso devem-se dirigir 
a propiciar condições de acesso a bens e serviços que a 
discriminação vedou. Devem ter em mira o restabelecimento 
de uma igualdade de oportunidades tão efetiva quanto 
possível. 
 Jurisprudência relacionada ao tema: 
EMENTA. (...) O súdito estrangeiro, mesmo o não domiciliado 
no Brasil, tem plena legitimidade para impetrar o remédio 
constitucional do “habeas corpus”, em ordem a tornar 
efetivo, nas hipóteses de persecução penal, o direito 
subjetivo, de que também é titular, à observância e ao 
integral respeito, por parte do Estado, das prerrogativas que 
compõem e dão significado à cláusula do devido processo 
legal. - A condição jurídica de não-nacional do Brasil e a 
circunstância de o réu estrangeiro não possuir domicílio em 
nosso país não legitimam a adoção, contra tal acusado, de 
qualquer tratamento arbitrário ou discriminatório. (...). (STF 
HC 94.404/SP. Min. Rel. Celso de Mello. DJ 18.06.2010). 
EMENTA. (...) Inexistência de ofensas ao direito à vida e da 
dignidade da pessoa humana, pois a pesquisa com células-
tronco embrionárias (inviáveis biologicamente ou para os fins 
a que se destinam) significa a celebração solidária da vida e 
alento aos que se acham à margem do exercício concreto e 
inalienável dos direitos à felicidade e do viver com dignidade 
(Ministro Celso de Mello). (...) A potencialidade de algo para 
se tornar pessoa humana já é meritória o bastante para 
acobertá-la, infra constitucionalmente, contra tentativas 
levianas ou frívolas de obstar sua natural continuidade 
fisiológica. Mas as três realidades não se confundem: o 
embrião é o embrião, o feto é o feto e a pessoa humana é a 
pessoa humana. Donde não existir pessoa humana 
embrionária, mas embrião de pessoa humana. O embrião 
referido na Lei de Biossegurança (“in vitro” apenas) não é 
uma vida a caminho de outra vida virginalmente nova, 
porquanto lhe faltam possibilidades de ganhar as primeiras 
terminações nervosas, sem as quais o ser humano não tem 
factibilidade como projeto de vida autônoma e irrepetível. 
(...) Ação direta de inconstitucionalidade julgada totalmente 
improcedente. (STF ADI 3510/DF, Rel. Min. AYRES BRITTO. 
29/05/2008). 
EMENTA. (...). Na espécie, aduziu inescapável o confronto 
entre, de um lado, os interesses legítimos da mulher em ver 
DIREITO CONSTITUCIONAL PARA CONCURSOS 
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respeitada sua dignidade e, de outro, os de parte da 
sociedade que desejasse proteger todos os que a 
integrariam, independentemente da condição física ou 
viabilidade de sobrevivência. (...) Afirmou que, conforme a 
Resolução 1.480/1997 do Conselho Federal de Medicina 
(CFM), os exames complementares a serem observados para 
a constatação de morte encefálica deveriam demonstrar, de 
modo inequívoco, a ausência de atividade elétrica cerebral 
ou metabólica deste órgão ou, ainda, inexistência de 
perfusão sanguínea nele. Elucidou que, por essa razão, o 
CFM, mediante a Resolução 1.752/2004, consignara serem os 
anencéfalos natimortos cerebrais. Desse modo, eles jamais 
se tornariam pessoa. Nessa senda, sintetizou que não se 
cuidaria de vida em potencial, porém, seguramente, de 
morte. (...). Exprimiu, pois, que a anencefalia mostrar-se-ia 
incompatível com a vida extrauterina, ao passo que a 
deficiência, não. (...) Observou que seria improcedente a 
alegação de direito à vida dos anencéfalos, haja vista que 
estes seriam termos antitéticos. (...). Destarte, a interrupção 
de gestação de feto anencefálico não configuraria crime 
contra a vida, porquanto se revelaria conduta atípica. (...). Por 
derradeiro, versou que atuar com sapiência e justiça, 
calcados na Constituição e desprovidos de qualquer dogma 
ou paradigma moral e religioso, determinaria garantir o 
direito da mulher de manifestar-se livremente, sem o temor 
de tornar-se ré em possível ação por crime de aborto. (STF 
ADPF 54, Rel. Min. Marco Aurélio, julgamento em 12-4-2012, 
Plenário). 
EMENTA. (...). Sabemos, tal como já decidiu o STF (RTJ 
136/444, Rel. p/ o ac. Min. Celso de Mello), que o princípio 
da isonomia – cuja observância vincula todas as 
manifestações do Poder Público – deve ser considerado, em 
sua precípua função de obstar discriminações e de extinguir 
privilégios (RDA 55/114), sob duplo aspecto: a) o da 
igualdade na lei e b) o da igualdade perante a lei. A igualdade 
na lei – que opera numa fase de generalidade puramente 
abstrata – constitui exigência destinada ao legislador, que, no 
processo de formação do ato legislativo, nele não poderá 
incluir fatores de discriminação responsáveis pela ruptura da 
ordem isonômica. (...) A igualdade perante a lei, de outro 
lado, pressupondo lei já elaborada, traduz imposição 
destinada aos demais poderes estatais, que, na aplicação da 
norma legal, não poderão subordiná-la a critérios que 
ensejem tratamento seletivo ou discriminatório. A eventual 
inobservância desse postulado pelo legislador, em qualquer 
das dimensões referidas, imporá, ao ato estatal por ele 
elaborado e produzido, a eiva de inconstitucionalidade. (STF 
AI 360.461 AgR, Rel. Min. Celso de Mello, 2ª T, DJ de 28-3-
2008). 
EMENTA. Ementa: Direito Constitucional. Ação Direta de 
Constitucionalidade. Reserva de vagas para negros em 
concursos públicos. Constitucionalidade da Lei n° 
12.990/2014. Procedência do pedido. 1. É constitucional a 
Lei n° 12.990/2014, que reserva a pessoas negras 20% das 
vagas oferecidas nos concursos públicos para provimento 
de cargos efetivos e empregos públicos no âmbito da 
administração pública federal direta e indireta, por três 
fundamentos. 1.1. Em primeiro lugar, a desequiparação 
promovida pela política de ação afirmativa em questão está 
em consonância com o princípio da isonomia. Ela se funda 
na necessidade de superar o racismo estrutural e 
institucional ainda existente na sociedade brasileira, e 
garantir a igualdade material entre os cidadãos, por meio da 
distribuição mais equitativa de bens sociais e da promoção 
do reconhecimento da população afrodescendente. 1.2. Em 
segundo lugar, não há violação aos princípios do concurso 
público e da eficiência. A reserva de vagas para negros não 
os isenta da aprovação no concurso público. Como qualquer 
outro candidato, o beneficiário da política deve alcançar a 
nota necessária para que seja considerado apto aexercer, 
de forma adequada e eficiente, o cargo em questão. Além 
disso, a incorporação do fator “raça” como critério de 
seleção, ao invés de afetar o princípio da eficiência, 
contribui para sua realização em maior extensão, criando 
uma “burocracia representativa”, capaz de garantir que os 
pontos de vista e interesses de toda a população sejam 
considerados na tomada de decisões estatais. 1.3. Em 
terceiro lugar, a medida observa o princípio da 
proporcionalidade em sua tríplice dimensão. A existência de 
uma política de cotas para o acesso de negros à educação 
superior não torna a reserva de vagas nos quadros da 
administração pública desnecessária ou desproporcional 
em sentido estrito. Isso porque: (i) nem todos os cargos e 
empregos públicos exigem curso superior; (ii) ainda quando 
haja essa exigência, os beneficiários da ação afirmativa no 
serviço público podem não ter sido beneficiários das cotas 
nas universidades públicas; e (iii) mesmo que o concorrente 
tenha ingressado em curso de ensino superior por meio de 
cotas, há outros fatores que impedem os negros de 
competir em pé de igualdade nos concursos públicos, 
justificando a política de ação afirmativa instituída pela Lei 
n° 12.990/2014. 2. Ademais, a fim de garantir a efetividade 
da política em questão, também é constitucional a 
instituição de mecanismos para evitar fraudes pelos 
candidatos. É legítima a utilização, além da autodeclaração, 
de critérios subsidiários de heteroidentificação (e.g., a 
exigência de autodeclaração presencial perante a comissão 
do concurso), desde que respeitada a dignidade da pessoa 
humana e garantidos o contraditório e a ampla defesa. 3. 
Por fim, a administração pública deve atentar para os 
seguintes parâmetros: (i) os percentuais de reserva de vaga 
devem valer para todas as fases dos concursos; (ii) a reserva 
deve ser aplicada em todas as vagas oferecidas no concurso 
público (não apenas no edital de abertura); (iii) os concursos 
não podem fracionar as vagas de acordo com a 
especialização exigida para burlar a política de ação 
afirmativa, que só se aplica em concursos com mais de duas 
vagas; e (iv) a ordem classificatória obtida a partir da 
aplicação dos critérios de alternância e proporcionalidade 
na nomeação dos candidatos aprovados deve produzir 
efeitos durante toda a carreira funcional do beneficiário da 
reserva de vagas. 4. Procedência do pedido, para fins de 
declarar a integral constitucionalidade da Lei n° 
12.990/2014. Tese de julgamento: “É constitucional a 
reserva de 20% das vagas oferecidas nos concursos públicos 
para provimento de cargos efetivos e empregos públicos no 
âmbito da administração pública direta e indireta. É 
legítima a utilização, além da autodeclaração, de critérios 
subsidiários de heteroidentificação, desde que respeitada a 
DIREITO CONSTITUCIONAL PARA CONCURSOS 
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11 
 
dignidade da pessoa humana e garantidos o contraditório e 
a ampla defesa”. (STF ADC 41, Rel. Min. Luís roberto Barroso, 
julgamento em 08.06.2017, Plenário). 
I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, 
nos termos desta Constituição; 
Somente poderá existir tratamento diferenciado entre os 
dois sexos quando a finalidade pretendida for atenuar os 
desníveis, constantes na constituição e nas leis 
infraconstitucionais. Exemplos: arts. 7º, XVIII e XIX, 40, III, 
143, §§ 1º e 2º, 202, I e II, da CF. 
 Jurisprudência relacionada ao tema: 
EMENTA. (...). No mérito, prevaleceu o voto proferido pelo 
Min. Ayres Britto, relator, que dava interpretação conforme 
a Constituição ao art. 1.723 do CC para dele excluir qualquer 
significado que impeça o reconhecimento da união contínua, 
pública e duradoura entre pessoas do mesmo sexo como 
entidade familiar, entendida esta como sinônimo perfeito de 
família. Asseverou que esse reconhecimento deveria ser feito 
segundo as mesmas regras e com idênticas consequências da 
união estável heteroafetiva. (...). (STF ADI 4.277/DF, rel. Min. 
Ayres Britto, DJ 5.5.2011). (ADPF 132). 
EMENTA. Violência doméstica. (...) O art. 1º da Lei 
11.340/2006 surge, sob o ângulo do tratamento diferenciado 
entre os gêneros – mulher e homem –, harmônica com a CF, 
no que necessária a proteção ante as peculiaridades física e 
moral da mulher e a cultura brasileira. (STF ADC 19, Rel. Min. 
Marco Aurélio, julgamento em 9-2-2012, Plenário). 
PRINCÍPIO DA LEGALIDADE. PRINCÍPIO DA RESERVA 
LEGAL. PRINCÍPIO DA ESTRITA LEGALIDADE. 
 
II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma 
coisa senão em virtude de lei; 
XXXIX - não há crime sem lei anterior que o defina, nem 
pena sem prévia cominação legal; 
Consagração do princípio da legalidade. Tal princípio visa 
combater o poder arbitrário do Estado, pois somente 
mediante espécies normativas elaboradas segundo as regras 
do processo legislativo pátrio podem-se criar obrigações para 
os indivíduos. O princípio da legalidade se difere do princípio 
da reserva legal nesse ponto, pois este consiste em dizer que 
a regulamentação de determinada matéria há de fazer-se 
necessariamente pelo poder legislativo, aparecendo na 
constituição sob a forma: “nos termos da lei” ou “na forma 
da lei” e aquele é a submissão e o respeito à lei. 
A Constituição Federal estabelece essa reserva de lei, de 
modo absoluto ou relativo. Assim, temos a reserva legal 
absoluta quando a norma constitucional exige para sua 
integral regulamentação a edição de lei formal, entendida 
como ato normativo emanado do Congresso Nacional 
elaborado de acordo com o devido processo legislativo 
constitucional. Por outro lado, temos a reserva legal relativa 
quando a Constituição Federal, apesar de exigir edição de lei 
formal, permite que este fixe tão somente parâmetros de 
atuação para o órgão administrativo, que poderá 
complementa-la por ato infralegal, sempre, porém, 
respeitados os limites ou requisitos estabelecidos pela 
legislação. 
Existe ainda a reserva legal simples e a qualificada. A reserva 
legal simples ocorre no caso de a Constituição Federal 
estabelecer, em seus artigos, que determinado assunto seja 
objeto de lei (“na forma da lei”, “nos termos da lei”). A lei não 
pode limitar o conteúdo da Constituição ou suprimi-lo, ou 
seja, há limites implícitos na lei que será elaborada. A reserva 
legal qualificada ocorre no caso de, além de estabelecer qual 
assunto será objeto de lei, o dispositivo da Constituição 
estabelece as condições ou fins que devem ser objeto da 
norma (“para fins de”). Como exemplos pode se indicar os 
incisos VII e XII, ambos do presente artigo. 
Além do princípio da reserva legal, previsto no inciso XXXIX, 
tem-se o princípio da anterioridade, que diz: não há crime 
sem lei “anterior” que o defina e não há pena sem “prévia” 
cominação legal (nullun crimem, nulla poena sine praevia 
lege). 
Vale ressaltar que a Administração Pública é regida pela 
legalidade estrita (art. 37, caput), pois não pode atuar contra 
a lei, nem na ausência da lei. 
 Jurisprudência relacionada ao tema: 
SÚMULA VINCULANTE 44. Só por lei se pode sujeitar a exame 
psicotécnico a habilitação de candidato a cargo público. 
EMENTA. (...). A reserva de lei em sentido formal qualifica-se 
como instrumento constitucional de preservação da 
integridade de direitos e garantias fundamentais. O princípio 
da reserva de lei atua como expressiva limitação 
constitucional ao poder do Estado, cuja competência 
regulamentar, por tal razão, não se reveste de suficiente 
idoneidade jurídica que lhe permita restringir direitos ou criar 
obrigações. Nenhum ato regulamentar pode criar obrigações 
ou restringir direitos, sob pena de incidir em domínio 
constitucionalmente reservado ao âmbito de atuação 
material da lei em sentido formal. (STF ACO 1.048-QO, 
31/10/07). 
 
LIBERDADE DE EXPRESSÃO 
 
IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o 
anonimato; 
V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao 
agravo, além da indenização por dano material, moral ou à 
imagem;IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, 
científica e de comunicação, independentemente de 
censura ou licença; 
XIV - é assegurado a todos o acesso à informação e 
resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao 
exercício profissional; 
Segundo o ilustre Alexandre de Morais, “a proteção 
constitucional abrange não só o direito de expressão oral ou 
por escrito, mas também o direito de ouvir, assistir e ler”. 
A vedação do anonimato é ampla, inclui todos os meios de 
comunicação. 
DIREITO CONSTITUCIONAL PARA CONCURSOS 
PROF. MALU ARAGÃO 
 
12 
 
O direito de resposta aplica-se em relação às ofensas, 
configurem ou não infrações penais, tendo como requisito a 
proporcionalidade, devendo o desagravo ter o mesmo 
destaque, a mesma duração e o mesmo tamanho que a 
notícia geradora da lesão. A responsabilidade pela divulgação 
do direito de resposta é do órgão de comunicação. O dano 
pode ser material (danos sofridos e lucros cessantes), moral 
(à intimidade da pessoa) e à imagem (dano produzido contra 
a pessoa em suas relações externas). 
Dispositivos correspondentes: art. 220, caput e § 2º, da CF. 
 Jurisprudência relacionada ao tema: 
EMENTA. (...). Programas humorísticos, charges e modo 
caricatural de pôr em circulação ideias, opiniões, frases e 
quadros espirituosos compõem as atividades de ‘imprensa’, 
sinônimo perfeito de ‘informação jornalística’ (§ 1º do art. 
220). Nessa medida, gozam da plenitude de liberdade que é 
assegurada pela Constituição à imprensa. Dando-se que o 
exercício concreto dessa liberdade em plenitude assegura ao 
jornalista o direito de expender críticas a qualquer pessoa, 
ainda que em tom áspero, contundente, sarcástico, irônico 
ou irreverente, especialmente contra as autoridades e 
aparelhos de Estado. Respondendo, penal e civilmente, pelos 
abusos que cometer, e sujeitando-se ao direito de resposta a 
que se refere a Constituição em seu art. 5º, V. A crítica 
jornalística em geral, pela sua relação de inerência com o 
interesse público, não é aprioristicamente suscetível de 
censura. Isso porque é da essência das atividades de 
imprensa operar como formadora de opinião pública, lócus 
do pensamento crítico e necessário contraponto à versão 
oficial das coisas, conforme decisão majoritária do STF na 
ADPF 130. Decisão a que se pode agregar a ideia de que a 
locução ‘humor jornalístico’ enlaça pensamento crítico, 
informação e criação artística. (...). (STF ADI 4.451-MC - REF, 
rel. min. Ayres Britto, Plenário, DJ de 24-8-2012). 
EMENTA. (...). Não é proibindo, recolhendo obras ou 
impedindo sua circulação, calando-se a palavra e 
amordaçando a história que se consegue cumprir a 
Constituição. (...). A norma infraconstitucional não pode 
amesquinhar preceitos constitucionais, impondo restrições 
ao exercício de liberdades”. (...). O que não me parece 
constitucionalmente admissível é o esquartejamento das 
liberdades de todos pela censura de uns, especialmente no 
caso de obras biográficas que dizem respeito não apenas ao 
biografado, mas que diz respeito a toda coletividade pela sua 
natureza de referenciabilidade do que precisa ser 
aproveitado. (...). (STF ADI 4815, Min. Rel. Cármem Lúcia, DJ 
10/06/2015). 
EMENTA. Editais de concurso público não podem estabelecer 
restrição a pessoas com tatuagem, salvo situações 
excepcionais em razão de conteúdo que viole valores 
constitucionais. Com base nesse entendimento, o Plenário, 
por maioria, deu provimento a recurso extraordinário em que 
se discutia a constitucionalidade de proibição, contida em 
edital de concurso público, de ingresso em cargo, emprego 
ou função pública para candidatos que possuam 
tatuagem. No caso, o recorrente fora excluído de concurso 
público para provimento de cargo de soldado da polícia 
militar por possuir tatuagem em sua perna esquerda. (...) A 
opção pela tatuagem relacionar-se-ia, diretamente, com as 
liberdades de manifestação do pensamento e de expressão 
(CF, art. 5º, IV e IX). Na espécie, estaria evidenciada a 
ausência de razoabilidade da restrição dirigida ao candidato 
de uma função pública pelo simples fato de possuir 
tatuagem, já que seria medida flagrantemente 
discriminatória e carente de qualquer justificativa racional 
que a amparasse. Assim, o fato de uma pessoa possuir 
tatuagens, visíveis ou não, não poderia ser tratado pelo 
Estado como parâmetro discriminatório quando do 
deferimento de participação em concursos de provas e 
títulos para ingresso em carreira pública. Entretanto, 
tatuagens que representassem obscenidades, ideologias 
terroristas, discriminatórias, que pregassem a violência e a 
criminalidade, discriminação de raça, credo, sexo ou origem, 
temas inegavelmente contrários às instituições 
democráticas, poderiam obstaculizar o acesso a função 
pública. Eventual restrição nesse sentido não se afiguraria 
desarrazoada ou desproporcional. Essa hipótese, porém, não 
seria a do recorrente que teria uma tatuagem tribal, medindo 
14 por 13 cm. (STF RE 898.450, rel. min. Luiz Fux, j. 
17.08.2016). 
EMENTA. Ação direta de inconstitucionalidade. Expressão 
“em horário diverso do autorizado”, contida no art. 254 da 
Lei 8.069/90 (Estatuto da Criança e do Adolescente). 
Classificação indicativa. Expressão que tipifica como infração 
administrativa a transmissão, via rádio ou televisão, de 
programação em horário diverso do autorizado, com pena de 
multa e suspensão da programação da emissora por até dois 
dias, no caso de reincidência. Ofensa aos arts. 5º, inciso IX; 
21, inciso XVI; e 220, caput e parágrafos, da Constituição 
Federal. Inconstitucionalidade. 1. A própria Constituição da 
República delineou as regras de sopesamento entre os 
valores da liberdade de expressão dos meios de comunicação 
e da proteção da criança e do adolescente. Apesar da 
garantia constitucional da liberdade de expressão, livre de 
censura ou licença, a própria Carta de 1988 conferiu à União, 
com exclusividade, no art. 21, inciso XVI, o desempenho da 
atividade material de “exercer a classificação, para efeito 
indicativo, de diversões públicas e de programas de rádio e 
televisão”. A Constituição Federal estabeleceu mecanismo 
apto a oferecer aos telespectadores das diversões públicas e 
de programas de rádio e televisão as indicações, as 
informações e as recomendações necessárias acerca do 
conteúdo veiculado. É o sistema de classificação indicativa 
esse ponto de equilíbrio tênue, e ao mesmo tempo tenso, 
adotado pela Carta da República para compatibilizar esses 
dois axiomas, velando pela integridade das crianças e dos 
adolescentes sem deixar de lado a preocupação com a 
garantia da liberdade de expressão. 2. A classificação dos 
produtos audiovisuais busca esclarecer, informar, indicar aos 
pais a existência de conteúdo inadequado para as crianças e 
os adolescentes. O exercício da liberdade de programação 
pelas emissoras impede que a exibição de determinado 
espetáculo dependa de ação estatal prévia. A submissão ao 
Ministério da Justiça ocorre, exclusivamente, para que a 
União exerça sua competência administrativa prevista no 
inciso XVI do art. 21 da Constituição, qual seja, classificar, 
para efeito indicativo, as diversões públicas e os programas 
de rádio e televisão, o que não se confunde com autorização. 
DIREITO CONSTITUCIONAL PARA CONCURSOS 
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13 
 
Entretanto, essa atividade não pode ser confundida com um 
ato de licença, nem confere poder à União para determinar 
que a exibição da programação somente se dê nos horários 
determinados pelo Ministério da Justiça, de forma a 
caracterizar uma imposição, e não uma recomendação. Não 
há horário autorizado, mas horário recomendado. Esse 
caráter autorizativo, vinculativo e compulsório conferido pela 
norma questionada ao sistema de classificação, data venia, 
não se harmoniza com os arts. 5º, IX; 21, inciso XVI; e 220, § 
3º, I, da Constituição da República. 3. Permanece o dever das 
emissoras de rádio e de televisão de exibir ao público o avisode classificação etária, antes e no decorrer da veiculação do 
conteúdo, regra essa prevista no parágrafo único do art. 76 
do ECA, sendo seu descumprimento tipificado como infração 
administrativa pelo art. 254, ora questionado (não sendo 
essa parte objeto de impugnação). Essa, sim, é uma 
importante área de atuação do Estado. É importante que se 
faça, portanto, um apelo aos órgãos competentes para que 
reforcem a necessidade de exibição destacada da informação 
sobre a faixa etária especificada, no início e durante a 
exibição da programação, e em intervalos de tempo não 
muito distantes (a cada quinze minutos, por exemplo), 
inclusive, quanto às chamadas da programação, de forma 
que as crianças e os adolescentes não sejam estimulados a 
assistir programas inadequados para sua faixa etária. Deve o 
Estado, ainda, conferir maior publicidade aos avisos de 
classificação, bem como desenvolver programas educativos 
acerca do sistema de classificação indicativa, divulgando, 
para toda a sociedade, a importância de se fazer uma escolha 
refletida acerca da programação ofertada ao público infanto-
juvenil. 4. Sempre será possível a responsabilização judicial 
das emissoras de radiodifusão por abusos ou eventuais danos 
à integridade das crianças e dos adolescentes, levando-se em 
conta, inclusive, a recomendação do Ministério da Justiça 
quanto aos horários em que a referida programação se 
mostre inadequada. Afinal, a Constituição Federal também 
atribuiu à lei federal a competência para “estabelecer meios 
legais que garantam à pessoa e à família a possibilidade de se 
defenderem de programas ou programações de rádio e 
televisão que contrariem o disposto no art. 221” (art. 220, § 
3º, II, CF/88). 5. Ação direta julgada procedente, com a 
declaração de inconstitucionalidade da expressão “em 
horário diverso do autorizado” contida no art. 254 da Lei 
8.069/90. (STF ADI 2.404/DF, Relator(a): Min. Dias Toffoli, 
Julgamento: 31/08/2016, Plenário). 
 
LIBERDADE DE CONSCIÊNCIA E DE CRENÇA 
 
VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, 
sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e 
garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e 
as suas liturgias; 
A Constituição de 1824, em seu art. 179, V, já assegurava os 
direitos religiosos, desde que respeitasse a do Estado, nos 
seguintes termos: 
“Art. 179. A inviolabilidade dos Direitos Civis, e Políticos dos 
Cidadãos Brasileiros, que tem por base a liberdade, a 
segurança individual, e a propriedade, é garantida pela 
Constituição do Império, pela maneira seguinte. 
V. Ninguém pode ser perseguido por motivo de Religião, 
uma vez que respeite a do Estado, e não ofenda a Moral 
Publica”. 
 
A partir da Constituição Federal de 1891, estabeleceu-se o 
Estado Laico ou Leigo, que não adota qualquer religião como 
oficial. Como ensina José Afonso da Silva, “na liberdade de 
crença entra a liberdade de escolha de religião, a liberdade 
de aderir à qualquer seita religiosa, a liberdade (ou o direito) 
de mudar de religião, mas também compreende a liberdade 
de não aderir à religião alguma, assim como a liberdade de 
descrença, a liberdade de ser ateu e de exprimir o 
agnosticismo”. 
Bom lembrar que o livre exercício dos cultos é assegurado 
enquanto não forem contrários à ordem, tranquilidade e 
sossego públicos, bem como compatíveis aos bons costumes. 
E a liberdade religiosa não é absoluta, uma vez que não será 
permitido a qualquer religião ou culto atos atentatórios à lei, 
sob pena de responsabilidade civil e criminal. 
Recentemente, o Supremo Tribunal Federal julgou 
improcedente a Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 
4439, na qual a Procuradoria-Geral da República questionava 
o modelo de ensino religioso nas escolas da rede pública de 
ensino do país. Por maioria dos votos, os ministros 
entenderam que o ensino religioso nas escolas públicas 
brasileiras pode ter natureza confessional, ou seja, vinculado 
às diversas religiões. 
Dispositivos correspondentes: arts. 210, § 1º; 215, § 2º, da 
CF. 
PREÂMBULO 
Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em 
Assembleia Nacional Constituinte para instituir um Estado 
Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos 
sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, 
o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores 
supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem 
preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, 
na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das 
controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a 
seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO 
BRASIL. 
Segundo posicionamento jurisprudencial, o Preâmbulo não 
constitui norma central, não se trata de norma de 
reprodução obrigatória na Constituição do Estado, já que não 
tem força normativa. 
Entretanto, o Preâmbulo faz parte da estrutura da 
Constituição Federal, que se divide em Preâmbulo, texto 
permanente e texto temporário (Ato das Disposições 
Constitucionais Transitórias - ADCT). 
 Jurisprudência relacionada ao tema: 
EMENTA. CONSTITUCIONAL. CONSTITUIÇÃO: PREÂMBULO. 
NORMAS CENTRAIS. Constituição do Acre. I. Normas centrais 
da Constituição Federal: essas normas são de reprodução 
obrigatória na Constituição do Estado-membro, mesmo 
porque, reproduzidas, ou não, incidirão sobre a ordem local. 
Reclamações 370-MT e 383-SP (RTJ 147/404). II. Preâmbulo 
DIREITO CONSTITUCIONAL PARA CONCURSOS 
PROF. MALU ARAGÃO 
 
14 
 
da Constituição: não constitui norma central. Invocação da 
proteção de Deus: não se trata de norma de reprodução 
obrigatória na Constituição estadual, não tendo força 
normativa. III. Ação direta de inconstitucionalidade julgada 
improcedente. (ADI 2.076/AC. Rel. Min. Carlos Velloso, DJ 
08.08.2003). 
VII - é assegurada, nos termos da lei, a prestação de 
assistência religiosa nas entidades civis e militares de 
internação coletiva; 
Hospitais, asilos (públicos e privados), presídios e quartéis 
são locais de internação coletiva. 
VIII - ninguém será privado de direitos por motivo de crença 
religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as 
invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e 
recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei; 
A escusa de consciência e de crença aplica-se às obrigações 
legais de forma genérica e não somente ao serviço militar 
obrigatório, embora esse seja o exemplo mais indicado pelos 
doutrinadores quando enfocam o assunto. 
O art. 143 da Constituição Federal, prescreve: 
Art. 143. O serviço militar é obrigatório nos termos da lei. 
§ 1º às Forças Armadas compete, na forma da lei, atribuir 
serviço alternativo aos que, em tempo de paz, após 
alistados, alegarem imperativo de consciência, entendendo-
se como tal o decorrente de crença religiosa e de convicção 
filosófica ou política, para se eximirem de atividades de 
caráter essencialmente militar. 
 
O serviço alternativo no caso de descumprimento do serviço 
militar obrigatório por imperativo de consciência é 
estabelecido pela Lei 8.239/91. 
Caso não seja cumprida a prestação alternativa, ocorrerá a 
privação dos direitos políticos, nos termos do art. 15, IV, da 
CF/88: 
Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda 
ou suspensão só se dará nos casos de: 
IV - recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou 
prestação alternativa, nos termos do art. 5º, VIII; 
 
INVIOLABILIDADES 
 
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a 
imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização 
pelo dano material ou moral decorrente de sua violação; 
Princípio da exclusividade. A intimidade, como exigência 
moral da personalidade para que em determinadas situações 
seja o indivíduo deixado em paz, constituindo um direito de 
controlar a indiscrição alheia nos assuntos privados que só a 
ele interessa, tem como um de seus fundamentos o princípio 
da exclusividade, formulado por Hannah Arendt com base em 
Kant. 
Os conceitos de intimidade e vida