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Renata Braga Aguilar da Silva Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho renataaguilar@hotmail.com.br AVALIAÇÃO DA QUALIDADE ESPACIAL E VITALIDADE DE PRAÇAS Renata Cardoso Magagnin Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho renata.magagnin@unesp.br Maria Solange Gurgel de Castro Fontes Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho solange.fontes@unesp.br 938 9o CONGRESSO LUSO-BRASILEIRO PARA O PLANEJAMENTO URBANO, REGIONAL, INTEGRADO E SUSTENTÁVEL (PLURIS 2021 DIGITAL) Pequenas cidades, grandes desafios, múltiplas oportunidades 07, 08 e 09 de abril de 2021 AVALIAÇÃO DA QUALIDADE ESPACIAL E VITALIDADE DE PRAÇAS R. B. A. Silva, R. C. Magagnin e M. S. G. de C. Fontes RESUMO A praça é constituída de diversos significados (estético, histórico, filosófico, econômico e cultural) que refletem os costumes e a cultura de uma sociedade ao longo dos tempos. Formada por uma composição de elementos físicos e morfológicos distintos, esses componentes, associados ao uso e apropriação espacial dos usuários, contribuem positiva ou negativamente para sua qualidade espacial e vitalidade. Nesse contexto, este artigo apresenta um instrumento de avaliação da qualidade espacial e vitalidade de praças, aplicado na praça central de Paraguaçu Paulista, Brasil. Os resultados evidenciam que aspectos relacionados ao conforto, segurança e acessibilidade, juntamente com a presença de eventos culturais, podem contribuir para ampliar o grau de qualidade espacial e proporcionar maior vitalidade ao espaço. O instrumento proposto possibilita: i) contribuir com intervenções espaciais mais assertivas nos espaços avaliados, ii) servir de parâmetros de comparação entre praças, e iii) subsidiar o planejamento e projeto de espaços similares. 1 INTRODUÇÃO As praças são locais utilizados por diferentes pessoas, em horários distintos para desenvolver atividades de permanência (encontro e lazer) e de passagem. A permanência no local exige espaços com boa qualidade espacial e acessíveis a todo tipo de usuários. Os estudos realizados ao longo dos últimos anos por Maia (2018) e Silva (2020) evidenciam a importância destes locais para a vida das pessoas. O espaço da praça necessita incorporar diferentes características sociais, naturais e físicas para atender todas as necessidades humanas. A carência de uma dessas características pode refletir em um esvaziamento, ou seja, a diminuição de sua utilização, apropriação e, consequentemente, sua degradação espacial. Em relação às características físicas, além da qualidade espacial oferecida, a presença de diferentes serviços em seu entorno podem contribuir para a criação de um ambiente agradável, possibilitar a vitalidade local em função da apropriação e a permanência dos usuários de forma contínua (MEHTA, 2013). Quando a praça está inserida em áreas centrais, um dos fatores que contribuem para a sua vitalidade é a inserção de alguns elementos, para que as pessoas se sintam pertencentes e convidadas ao uso desse espaço. Gehl (2015) destaca a necessidade dos espaços públicos terem locais para que as pessoas possam sentar (assentos com encostos, bancos, cadeiras) e se apoiar (degraus, monumentos, pedestais, pedras e até mesmo o próprio chão). Além disso, o seu entorno deve haver mistura de usos (residencial, comercial e serviço), para permitir o movimento de usuários em diferentes horários do dia. Outro aspecto importante, que esses espaços deve contemplar, é a acessibilidade, que é estudada por diferentes autores (MONTEIRO, 2015; PRADO, 2016; ITDP, 2018; MAIA, 2018, PIRES, 2018; TONON, 2019), conforto (BRANDÃO, 2002; DE ANGELIS et al., 2004; MONTEIRO, 2015; HEEMANN; SANTIAGO, 2015; PPS, 2018), diversidade de uso (DE ANGELIS et al., 2004; MORA, 2009; HEEMANN; SANTIAGO, 2015; GEHL, 2015), segurança (BRANDÃO, 2002; DE ANGELIS et al., 2004; MORA, 2009; GEHL, 2010; MONTEIRO, 2015; HEEMANN; SANTIAGO, 2015; MAIA, 2018; PPS, 2018; TONON, 2019) em trabalhos de avaliação desses espaços. Destaca-se, ainda, a importância da legibilidade espacial (KOHLSDORF, 1996), e esses dois aspectos contribuem para o usuário permanecer e usufruir do local. Além de estudos que avaliam a qualidade física dos espaços público (BRANDÃO, 2002; DE ANGELIS et al., 2004; GEHL, 2015; HEEMANN; SANTIAGO, 2015), problemas associados a mobilidade urbana, tais como presença de faixa de pedestre, conflito entre veículos e pedestres e acessibilidade (MONTEIRO, 2015; PRADO, 2016; ITDP, 2018; PIRES, 2018; SASTRE, 2018; TONON, 2019), além do espaço tridimensional que envolve os espaços públicos, podem contribuir de forma positiva ou negativamente para permanência de pessoas no local (NYC, 2013). O ambiente tridimensional é percebido pelo usuário ao caminhar pelo espaço público, pois ele fica em contato com os planos que o envolvem, e com os elementos morfológicos presentes na configuração urbana. Estes elementos, por sua vez, proporcionam diferentes percepções e sensações aos usuários e podem ou não contribuir para sua orientação espacial (KOHLSDORF, 1996; MAGAGNIN, 1999; SASTRE, 2018; TONON, 2019). Assim, a visibilidade das edificações é outro fator importante para a avaliação do espaço público, pois pode contribuir para a sua vitalidade. A forma como as pessoas enxergam e se apropriam das edificações pode contribuir com um maior fluxo de indivíduos no local e incentivar encontros. Por outro lado, a não visibilidade pode ocasionar repulsão e falta de pertencimento ao local. Fachadas ao nível térreo, com portas que se abrem para a rua, ou espaços de transição, são elementos que podem proporcionar um maior fluxo de movimento, e são extremamente relevantes para as áreas centrais, pois as pessoas se sentem atraídas e tendem a parar, observar e passar por esses edifícios que mantém uma relação com o exterior (GEHL, 2015). Diante deste contexto, a contribuição deste artigo está relacionada à proposição de um instrumento para avaliar o nível de qualidade espacial e vitalidade de espaços públicos como as praças, a partir dos elementos físicos e morfológicos que compõe os quatros planos bidimensionais deste espaço (ex. praça) e seu entorno imediato (praça, calçada, fachada e rua) e que envolvem os usuários no espaço púbico. 2 METODOLOGIA A proposta de um instrumento de avaliação da qualidade espacial e vitalidade de praças incorpora três técnicas complementares: (i) análise dos aspectos físicos dos planos bidimensionais que envolvem os usuários (praça, calçada, rua e fachada), por meio de indicadores de desempenho e um índice denominado Índice de Qualidade Espacial de Praças (IQEP); (ii) identificação da influência dos aspectos e elementos morfológicos da praça e de seu entorno imediato relacionados a legibilidade espacial (desempenho topoceptivo); e (iii) uso da praça por meio da observação sistêmica. 2.1 Índice de Qualidade Espacial de Praças (IQEP) O Índice proposto, denominado Qualidade Espacial de Praças (IQEP), tem o objetivo de contribuir para a análise dos aspectos físicos e morfológicos internos e externos das praças e é composto por sete etapas: (i) delimitar a praça e seu entorno; (ii) definir a unidade de análise; (iii) estruturar a hierarquia dos indicadores e forma de avaliação; (iv) levantar dados por meio de auditoria técnica; (v) calcular o índice, por plano de análise; (vi) calcular o índice da área; e (vii) calcular as notas máximas de cada etapa. Delimitação da praça e seu entorno - além da quadra da praça, são avaliadas as quadras adjacentes a ela, pois ambos espaços podem interferir direta ou indiretamente no uso da praça (Figura 1a). Cada trecho deve ser numerado (‘FP’ - Face Praça, ‘FQEP’ - Face Quadra Entorno Praça e ‘R’ - Rua, todas as siglas devem ser seguidas de numeração). Sugere-se iniciara numeração no sentido horário, a partir da quadra superior (Norte) em relação ao eixo Norte/Sul (Figura 1a). Fig. 1 Exemplo de definição de recorte espacial e numeração das faces de quadra (a) e Planos de análise do espaço público – a praça e seu entorno(b). Definição das unidades de análise - A partir dos estudos relativos a análise do espaço público desenvolvidos por Romero (2001), Brandão (2002), De Angelis et al. (2004), Mora (2009), PPS (2012), NYC (2013), Gehl (2015), Monteiro (2015), Heemann e Santiago (2015), Lopes (2016), Prado (2016), ITDP (2018), Maia (2018), Pires (2018), Sastre (2018), Tonon (2019), definiu-se 4 planos como unidades de análise: (i) Plano horizontal da praça - delimitado pela área da praça, onde são avaliados os elementos internos a praça; (ii) Plano horizontal da calçada - plano abaixo dos pés dos pedestres, delimitado pela calçada adjacente a área interna da praça e as calçadas das quadras do entorno da praça; (iii) Plano horizontal da rua - são avaliadas as ruas e intersecções viárias e; (iv) Plano vertical da fachada - representado pelas fachadas das edificações localizadas no entorno das quadras da praça (Figura 1b). Definição dos indicadores e respectiva forma de avaliação – Com base em pesquisas que analisaram o ambiente do usuário (FERREIRA; SANCHES, 2001; ROMERO, 2001; PRADO, 2016; ITDP, 2018; PIRES, 2018; SASTRE, 2018; TONON, 2019); e do espaço público (BRANDÃO, 2002; DE ANGELIS et al., 2004; BENEDET, 2008; MORA, 2009; PPS, 2012; GEHL, 2015; HEEMANN; SANTIAGO, 2015; MONTEIRO, 2015; LOPES, 2016; MAIA, 2018; SASTRE, 2018) foram definidos os indicadores utilizados neste estudo. A determinação dos indicadores levou em consideração a fácil aplicação, além daqueles que podem interferir nas escolhas dos usuários em se deslocar no espaço público e em seu entorno ou mesmo permanecer no espaço público. Foram definidos no total 56 indicadores, com os correspondentes critérios de avaliação, forma de coleta de dados e respectivas pontuações (SILVA, 2020), distribuídos entre 4 unidades de análise (Figura 2). Fig. 2 Indicadores para avaliar da Qualidade Espacial de Praças, por plano. Os indicadores são avaliados por meio de auditoria técnica, aplicada por pesquisadores ou técnicos/especialistas previamente treinados. Os critérios de avaliação e respectivas pontuações foram definidos com base em literatura internacional e nacional (FERREIRA; SANCHES, 2001; ROMERO, 2001; BRANDÃO, 2002; DE ANGELIS et al., 2004; BENEDET, 2008; MORA, 2009; PPS, 2012; GEHL, 2015; HEEMANN; SANTIAGO, 2015; MONTEIRO, 2015; LOPES, 2016; PRADO, 2016; ITDP, 2018; MAIA, 2018; PIRES, 2018; SASTRE, 2018; TONON, 2019). As notas (pontuações) dos indicadores encontram- se em uma escala de 0,00 (pior nota) a 1,00 ponto (melhor nota). Definiu-se por adotar quatro intervalos de pontuação: (i) 0,00; 1,00; ou (ii) 0; 0,50; 1,00; ou (iii) 0,00; 0,33; 0,66; 1,00; ou (iv) 0,00; 0,25; 0,50; 0,75; 1,00. Cálculo do Índice de Qualidade Espacial de Praças (IQEP) - Para a formulação do índice, foi utilizado como referência as pesquisas desenvolvidas por Prado (2016), ITDP (2018), Maia (2018), Pires (2018) e Tonon (2019). Para o cálculo os procedimentos são definidos em 2 etapas: i) cálculo do IQEP com dados de campo e ii) cálculo do IQEP com pontuação máxima dos indicadores (Figura 3). A relação entre a nota aferida em campo e a nota máxima obtida em cada etapa resultará no percentual de alcance da nota real, e poderá ser comparada com cinco níveis de classificação da qualidade espacial (Figura 4), que indicará o quanto a qualidade espacial da praça e o uso de seu entorno pode ser favorável ou não para o uso e permanência de pessoas nesse local. Em síntese, o IQEP proposto permite avaliar a qualidade espacial das praças de forma individual, por trecho do entorno, e para todo o recorte espacial. Possibilita, ainda, identificar quais indicadores necessitam de intervenção para garantir maior qualidade espacial e consequentemente, um maior uso e permanência no espaço público. Fig. 3 Síntese dos cálculos o IQEP. Fonte: adaptado de Silva (2020). 0% a 20% 21% a 40% 41% a 60% 61% a 80% 81% a 100% PÉSSIMO RUIM REGULAR BOM ÓTIMO Muito desfavorável Desfavorável Parcialmente favorável Favorável Muito favorável Fig. 4 Classificação em níveis das notas dos indicadores, planos e índices. 2.2 Avaliação topoceptiva A avaliação topoceptiva é composta por três etapas: i) Definição das unidades de análise, ii) Definição das Estações e dos Campos Visuais; e iii) Identificação e análise dos efeitos topológicos. Para a definição da unidade de análise, deve-se considerar o espaço tridimensional compreendido entre a praça (área interna/externa) e as quadras (fachadas) adjacentes, ou seja, são analisados os elementos morfológicos pertencentes aos planos vertical e horizontal que envolvem a praça, as calçadas e ruas do entorno da praça. Na sequência, definem-se as estações e campos visuais. Estes elementos devem permitir identificar a visão do pedestre no entorno da praça. As estações são posicionadas no eixo da calçada, no cruzamento de todas as esquinas das calçadas das quadras do entorno da praça (MAGAGNIN, 1999), conforme mostra a Figura 5. São denominadas com a letra “E” precedida de numeração (1, 2, 3, n) e o pesquisador deve permanecer parado na estação para realizar os registros dos campos visuais. Os registros dos campos visuais são realizados a partir da captura de uma imagem Frontal, Lateral Direita e Lateral Esquerda do espaço a ser avaliado em cada Estação (KOLHSDORF, 1996), Figura 5. As estações cujo campo visual não tem registro da área do entorno da praça, devem ser desconsideradas na avaliação. O registro de cada imagem é realizado por meio de fotografia (MAGAGNIN, 1999; SASTRE, 2018; TONON, 2019). A avaliação do desempenho topoceptivo dos elementos morfológicos é realizada por meio da identificação dos elementos que causam diferentes sensações no observador (KOHLSDORF, 1996). Essa análise é realizada por meio de fotografias de cada campo visual, onde são identificados: i) a quantidade de efeitos topológicos e perspectivos; e ii) a predominância de um efeito em relação aos outros. Esses elementos devem ser inseridos em um mapa da área através de identificação por pictogramas, Figura 6 (TONON, 2019). Fig. 5 Campos visuais do percurso no trecho. Fig. 6 Pictogramas dos efeitos visuais Topológicos e Perspectivos. 2.3 Mapa comportamental O mapa comportamental objetiva identificar as atividades, a movimentação das das pessoas em determinados locais (o que fazem e como fazem) do espaço público, os fluxos, a frequência de uso e as relações espaciais. Contribui para a identificação de zonas ou áreas que possam “atrair” ou “coibir” determinados usos ou atividades, e identificar os principais tipos de comportamentos (RHEINGANTZ et al., 2009). A partir de uma planta atualizada da praça são definidas as atividades que poderiam ser identificadas nesse local. Neste estudo foram definidas 8 atividades, conforme mostra a Figura 7. Fig. 7 Pictogramas referente as atividades da praça. As visitas sistematizadas devem ser realizadas em dois dias úteis no mínimo e nos finais de semana. A definição dos horários de observação devem levar em consideração o uso do solo predominante do entorno. Uma região com predomínio comercial, os horários de avaliação durante a semana deve incorporar o horário de funcionamento das lojas e nas observações aos finais de semana o horário de missa, se no entorno houver uma Igreja. 2.4 Aplicação do instrumento O instrumento de avaliação proposto foi aplicado na Praça 9 de Julho, situada na região central do município de Paraguaçu Paulista (Lat. 22° 25' 9'' Sul e Long. 50° 35' 32'' Oeste), cidade do estado de São Paulo,no ano de 2019. Ela possui aproximadamente 8.207,41 m2 de área e seu entorno é composto predominantemente por comércios e edifícios públicos (Igreja e Polícia Civil), que interferem no uso da praça (Figura 8). Fig. 8 Mapa da localização do município no estado de São Paulo e a área de estudo (sem escala). Fonte: Adaptado do Google Maps, 2019. O espaço interno da praça apresenta mobiliário urbano que em sua maioria são bancos, lixeira e coreto (Figura 8). Uma importante modificação, datada de 05/12/2009, é a junção da praça com um dos quarteirões adjacentes, onde se localiza o Centro Histórico e Cultural Isidoro Baptista. Seu entorno possui uso do solo diversificado (residencial, comercial, serviço e institucional) e é composto por edifícios públicos e particulares (Prefeitura, Hotel, Secretaria Regional de Ensino, e Igreja São Pedro), que interferem no uso da praça (Figura 8). 3 ANÁLISE DOS RESULTADOS 3.1 Índice de Qualidade Espacial de Praças (IQEP) A aplicação do IQEP na Praça 9 de Julho evidencia uma avalição “regular”, ou seja, esse local apresenta uma qualidade espacial “Parcialmente Favorável” ao uso e permanência dos usuários. Dos 5 planos de análise da Praça, os da Praça e da Rua foram avaliados como “regulares” e os demais planos foram classificados como “bom” (Tabela 1). Tabela 1 Resultados do IQEP da Área da Praça. Planos PRAÇA 1 (Praça 9 de Julho) Total obtido em campo Resultado Máximo possível Plano Praça 11,00 58% 19,00 Plano Calçada Praça 46,42 61% 76,00 Plano Calçada entorno 36,13 63% 57,00 Plano Fachada 27,29 68% 40,00 Plano da Rua 14,25 45% 32,00 IQEP área 135,09 224,00 IQEP área máx 60% 100% Classificação Parcialmente Favorável Legenda Péssimo Ruim Regular Bom Ótimo 0% a 20% 21% a 40% 41% a 60% 61% a 80% 81% a 100% Em relação ao Plano da Praça, dos 19 indicadores, onze obtiveram “ótima” pontuação. A condição física do piso, limpeza, presença de bancos, condição de manutenção dos bancos, lixeiras, estado de conservação das lixeiras, palco/coreto, vegetação, sombreamento natural (facilita a permanência dos usuários por mais tempo, principalmente em dias ensolarados), segurança pública, atrativos econômicos (carrinho de lanche) e ausência de moradores de rua foram os aspectos positivos desta praça. Os aspectos negativos, associados aos indicadores que menos pontuaram, foram: tipo de piso, equipamentos de lazer, lixeira para coleta seletiva, bebedouro, presença de sanitários, estado de conservação do espelho d’água e/ou chafariz e, presença de segurança pública. No Plano da Calçada da Praça, dos 19 indicadores, oito obtiveram “ótima” pontuação e contribuíram para uma avaliação positiva da praça: largura efetiva da calçada, condições da superfície da calçada, ausência de obstrução temporária na faixa de circulação do pedestre, desníveis, conflito entre veículos e pedestre, inclinação longitudinal e transversal e, altura livre dos obstáculos. Os indicadores que menos pontuaram nesse plano foram: tipo de piso, piso tátil nos rebaixamentos de guia, sinalização vertical de travessia, sinalização vertical de velocidade máxima dos veículos e, visibilidade de aproximação dos veículos, estes contribuem negativamente para a segurança dos usuários. Dos 19 indicadores do Plano da Calçada do Entorno, onze indicadores obtiveram a classificação “ótimo” (largura efetiva da calçada, condição da superfície da calçada, obstrução permanente na faixa de circulação do pedestre, obstrução temporária na faixa de circulação do pedestre, desníveis, conflito de veículos e pedestres, inclinação longitudinal, inclinação transversal, altura livre dos obstáculos e, presença de zona de amortecimento). Os indicadores que menos pontuaram foram tipo de piso, piso tátil nos rebaixamentos de guia, sinalização vertical de travessia, sinalização vertical de velocidade máxima de veículos e, visibilidade de aproximação de veículos. Assim como na avaliação do plano anterior, esses indicadores contribuíram negativamente para a segurança do usuário. No Plano da Fachada, dos dez indicadores, quatro obtiveram “ótima” pontuação (estado de conservação dos edifícios, fachadas, aspectos de abandono, poluição visual e, dimensão da quadra). Os indicadores que menos pontuaram foram uso público noturno e diurno e, cor e textura. Em relação ao Plano da Rua, dois indicadores foram melhor pontuados, exposição ao tráfego e, redutor de velocidade nas vias coletares e/ou arteriais. Em relação aos indicadores que menos pontuaram todos estão associados a segurança do usuário (largura da rua, travessia e estacionamento). 3.2 Avaliação topoceptiva A praça da 9 de julho possui predominância (em 25%) de efeitos Perspectivos em detrimento dos Topológicos (Figura 9). Inúmeros fatores podem estar ligados a esta avaliação, como o formato da praça, decorrentes de sua inserção na malha urbana, porte das árvores e presença de densa vegetação. Alguns aspectos considerados positivos nessa avaliação referem-se a presença de caminhos largos (são mais utilizados) e, embora muitas vezes envolvidos por vegetação, permite que o pedestre possa observar de forma total ou quase totalmente os elementos em segundo plano. Os caminhos menos utilizados pelos usuários são as áreas onde há impedimento completo da visão do observador. Nesses locais, os usuários não costumam passar ou permanecer por longos períodos. A Figura 9 apresenta a distribuição dos efeitos topológicos e perspectivos por Estação. Os pictogramas com círculos em azul representam os efeitos visuais que obtiveram uma classificação acima de 50%, e os na cor laranja representam uma baixa classificação. Fig. 9 Efeitos topológicos e perspectivos em cada estação. A análise mostra que três efeitos (estreitamento, estreitamento lateral e, mirante) não foram identificados, quatros dos efeitos (emolduramento, conexão, amplidão e mirante) foram pontuados como muito baixos (até 10%), e três deles foram pontuados acima de 50% (direcionamento, envolvimento e, impedimento visual) Figura 9. Fato que pode ser justificado pela densa massa de vegetação em quase toda a praça. 3.2 Mapa comportamental Os resultados das observações (ocorridas no mês de outubro de 2019, nos períodos da manhã e da tarde) mostram que o fluxo predominante de usuários está localizado em frente à igreja. A partir desse destino, os fluxos se diluem em função do destino de cada pedestre, e são menos expressivos nos fins de semana. Os períodos de maior utilização e frequência de pessoas na praça são nos horários da missa, que ocorrem pela manhã e tarde (Figura 10). Fig. 10 Síntese dos fluxos de usuários da praça observados durante a semana e aos finais de semana. Durante os dias úteis, os usuários utilizam o local para descanso, espera de transporte público, ponto de referência para encontros e passagem. Entretanto, nos finais de semana as atividades não são muito diferentes, pois o espaço da praça é utilizado para encontros, descanso e passagem. Aos domingos, duas atividades são mais frequentes: pessoas que caminham com cachorros (pela manhã) e famílias utilizam o espaço para brincar com as crianças, tomar sorvete e tirar fotos (final da tarde). Fig. 11 Principais pontos de permanência e atividades desenvolvidas na praça. Observou-se uma diferença no número de pessoas que utilizam a praça como espaço de permanência e passagem. Como permanência foi contabilizado uma média 29 pessoas durante dias úteis e 16 pessoas nos finais de semana por hora. Enquanto local de passagem este número se alternou bastante, pois foi identificado um fluxo médio de 40 a 80 pessoas durante a semana e 20 a 40 pessoas aos finais de semana por hora. De uma forma geral, a apropriação da praça ocorre devido à variedade de usos dos edifícios,tanto de seu entorno quanto do comércio próximo, que propicia um grande fluxo de usuários que permanecem por períodos curtos, mas que entram e saem do local em diferentes horários. Aos domingos, quando esses locais estão fechados o movimento reduz significativamente, mas é possível observar a presença de algumas famílias em busca de locais para brincar com seus filhos e passear. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS A proposta de um instrumento de avaliação da qualidade espacial de espaços públicos busca contribuir para um diagnóstico exploratório no âmbito quantitativo e qualitativo, com base em três abordagens de avaliação: indicadores de desempenho e um índice (IQEP), análise topoceptiva e mapa comportamental. A aplicação em uma praça contribuiu para compreender como os elementos locais e do entorno imediato podem influenciar na qualidade e vitalidade desse espaço. Na primeira etapa da aplicação do instrumento, os resultados permitiram identificar pontualmente os principais problemas que afetam o conforto, a segurança e determinam o grau de qualidade espacial. Problemas esses que mostram a necessidade de intervenções mais assertivas em cada unidade de análise (plano da praça, plano das calçadas, plano da fachada e plano da rua), para permitir maior uso do espaço público. Na segunda etapa, constituída da determinação do desempenho topoceptivo dos elementos morfológicos do espaço público, ficou evidente que os estímulos visuais podem contribuir (ou não) para a atração dos usuários e consequente vitalidade do espaço. Enquanto a aplicação da terceira etapa, composta pela análise dos principais fluxos e atividades no espaço, permitiu identificar as principais atividades e uso do espaço. A partir da aplicação do instrumento fica evidente a importância em associar múltiplas abordagens na construção de um método de avaliação de espaços de uso público em função da sua complexidade de avaliação: qualidade espacial e a vitalidade urbana. Nesse sentido, o instrumento pode contribuir como uma ferramenta importante de auxílio para gestores públicos na proposição de futuras intervenções em praças. AGRADECIMENTOS A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001. 5 REFERÊNCIAS Benedet, M. S. (2008) Apropriação de praças públicas centrais em cidades de pequeno porte. Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo. Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis. Brandão, P. (2002) O Chão da Cidade-Guia de avaliação do design de espaço público. Lisboa, Editora Centro Português de Design. De Angelis, B. L. D.; Castro, R. M.; De Angelis Neto, G. (2004) Metodologia para levantamento, cadastramento, diagnóstico e avaliação de praças no Brasil. Engenharia Civil, n. 20, p. 57-70, 2004. Ferreira, M.; Sanches, S. (2001) Índice de Qualidade das Calçadas – IQC. Revista dos Transportes Públicos. Ano 23. n. 91. p. 47-60. Gehl, J. 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