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Raquel Reia Pinheiro Universidade Federal de São Carlos - Departamento de Ciências Ambientais raquelreiapinheiro@gmail.com Análise de instrumentos como subsídio ao planejamento e gestão de Parques Urbanos no Brasil. Renata Bovo Peres Universidade Federal de São Carlos - Departamento de Ciências Ambientais renataperes@ufscar.br 1046 9o CONGRESSO LUSO-BRASILEIRO PARA O PLANEJAMENTO URBANO, REGIONAL, INTEGRADO E SUSTENTÁVEL (PLURIS 2021 DIGITAL) Pequenas cidades, grandes desafios, múltiplas oportunidades 07, 08 e 09 de abril de 2021 ANÁLISE DE INSTRUMENTOS COMO SUBSÍDIO AO PLANEJAMENTO E GESTÃO DE PARQUES URBANOS NO BRASIL R. R. Pinheiro, R. B. Peres RESUMO Poucas são as referências de instrumentos de planejamento de Parques Urbanos no Brasil. Visando subsidiar essa lacuna, o objetivo deste artigo foi analisar documentos de planejamento de Unidades de Conservação (UCs), para contribuir na formulação de um material voltado ao contexto dos Parques Urbanos. Os documentos analisados foram os Roteiros Metodológicos para elaboração de Planos de Manejo do ICMBio e do Estado de São Paulo. Os métodos utilizados foram: pesquisa bibliográfica e análise documental. Os resultados indicaram que existem elementos essenciais para a elaboração de um plano de manejo. Diversos elementos podem ser incorporados no contexto de Parques Urbanos, como: formulação de categorias, compreensão das dinâmicas socioambientais do parque e entorno, zoneamento interno, elaboração de programas e ações aplicáveis ao parque e gestão participativa. Tais subsídios podem incentivar a elaboração de Planos de Gestão de Parques Urbanos, além de proporcionarem instrumentos inovadores que possibilitem o aprimoramento da gestão municipal. 1 INTRODUÇÃO A relação entre o uso dos parques e espaços verdes urbanos e os benefícios à qualidade de vida das pessoas vem sendo cada vez mais objeto de estudos em diversos campos científicos. Roe et al. (2013) observaram que os moradores de bairros residenciais com maior quantidade de espaços verdes, tiveram ganhos relacionados à saúde mental. O aumento do número de parques em meio urbano também é visto por Fajersztajn et al., (2016) como uma estratégia de promoção de saúde. Sicard et al. (2018) comprovaram que espaços públicos que utilizam técnicas de infraestrutura verde atuam na remoção do ozônio nas camadas mais baixas da atmosfera, proporcionando um ar de melhor qualidade. São muitos os serviços ecossistêmicos prestados pelos parques e áreas verdes nas cidades. A vegetação urbana e as áreas permeáveis podem reduzir o escoamento de águas pluviais e maximizar o potencial de drenagem urbana (Mcpherson et al., 2011; De Groot et al., 2010); mitigar as ilhas de calor e proporcionar maior conforto térmico (Brown et al, 2015; Nascimento et al., 2019); e formar corredores ecológicos promovendo a biodiversidade em ambiente urbano (Santos et al., 2018). Grande parte desses estudos indica que o planejamento urbano deve promover a criação e a conservação de parques e espaços verdes, pois a cidade será capaz de proporcionar melhor qualidade de vida para seus moradores em harmonia com os recursos naturais. Os Parques Urbanos, são categorias de espaços verdes e espaços livres nas cidades, e devem ser pensados, não apenas como um equipamento isolado, mas sim, como parte de um sistema, inter-relacionado com outros sistemas urbanos. Macedo et al. (2018) defendem um planejamento urbano que proporcione a construção de uma paisagem onde os elementos possuam conectividade. Para Akamine (2018), sendo os Parques Urbanos uma categoria de espaços livres, eles possuem papel importante no Sistema de Espaços Livres (SEL), uma vez que um Parque, com seu entorno, representa um subsistema composto por praças, ruas, jardins e quintais. Em âmbito mundial a criação de novos Parques Urbanos vem aumentando em algumas cidades, sobretudo pela valorização do uso dos seus espaços públicos. Contudo, Wolch et al. (2014), identificaram que a distribuição de Parques Urbanos na paisagem beneficia, de maneira desproporcional, as diferentes classes sociais, onde predominantemente as comunidades brancas e ricas têm maior acesso ao espaço verde. Estratégias que visam aumentar a oferta de espaços verdes em bairros mais pobres estão sendo empregadas em cidades dos EUA e da China, porém os autores atentam para um efeito paradoxal destas medidas, uma vez que, com o aumento de espaços verdes, os bairros se tornam mais valorizados, o que pode aumentar os custos de moradia e os valores das propriedades, favorecendo o que vem sendo chamado de “gentrificação verde”, processo que impulsiona o deslocamento dos próprios moradores que deveriam se beneficiar com as medidas. No Brasil, essa questão não vem sendo diferente. Também está ocorrendo um aumento na criação de Parques Urbanos, principalmente em cidades que buscam proporcionar novos espaços de preservação, de valorização do bairro e de incremento das possibilidades de lazer (Sakata, 2015). Entretanto, ainda há uma série de desafios para sua efetiva implementação e gestão adequada. Dentre os desafios, podemos destacar: a inexistência de padrões e metodologias para a hierarquização e a definição de áreas prioritárias para implantação (Morero et al., 2007); a construção de alianças entre os diversos atores visando sistemas de governança mais participativos (Cardoso et al., 2015); além da falta de instrumentos específicos voltados ao planejamento, gestão e monitoramento dos Parques Urbanos (Bitar e Oliveira, 2009). Considerando as lacunas e desafios acima destacados, o objetivo deste artigo foi analisar dois instrumentos de planejamento e gestão de Unidades de Conservação, de modo a subsidiar a formulação de Planos de Gestão voltados ao contexto dos Parques Urbanos. A análise destes instrumentos pode contribuir para estruturar modelos e Roteiros Metodológicos de Planejamento de Parques Urbanos, sugerir categorias e usos compatíveis, delimitar zonas de uso, apontar programas e projetos interessantes, definir procedimentos e estruturas administrativas e indicar como promover uma gestão mais compartilhada nesses espaços. Podem, assim, proporcionar o aprimoramento constante da gestão e do planejamento municipal, em articulação com outros instrumentos regionais. 2 OS PARQUES URBANOS NO ÂMBITO DO SISTEMA DE ESPAÇOS LIVRES A concepção de parques nas cidades origina-se desde a revolução industrial europeia e há uma ampla literatura que analisa as inúmeras transformações desses espaços ao longo da história, a partir de seus múltiplos usos, finalidades e percepções (Bartalini, 1999; Schenk, 2016). No Brasil, desde os anos de 1970, vêm se desenvolvendo estudos e pesquisas referentes à paisagem urbana, nos quais espaços livres e parques urbanos estão intimamente associados (Macedo et al., 2018). Segundo Magnoli (1982): “o espaço livre é todo espaço não ocupado por um volume edificado (espaço-solo, espaço-água, espaço-luz) ao redor das edificações e que as pessoas têm acesso”; e os principais exemplos de espaços livres públicos urbanos no Brasil são as ruas, as calçadas, as praças e os parques. Taylor e Hochuli (2017) buscaram compreender as principais definições de espaços verdes, e concluíram que, do ponto de vista da ecologia urbana, áreas verdes referem-se a parques urbanos e zonas úmidas que compreendem alguma vegetação, já sob a ótica do planejamento urbano refere-se a pequenos parques urbanos, incluindo parques públicos, margens de ruas, cemitérios e áreas esportivas. Mais recentemente a ideia de pensar os espaços livres a partir de uma abordagem sistêmica vem sendo reconhecida como uma referência e como uma base metodológica para se propor um desenho e um planejamento urbano que possam contribuir, cada vezmais, com a conectividade da paisagem, com a biodiversidade, com os serviços ecossistêmicos, com a integração de infraestruturas e sistemas urbanos, com a valorização do uso público e de aspectos históricos e socioculturais (Macedo et al., 2018). Os parques urbanos são compreendidos então, como uma categoria de espaço livre, e que devem ser considerados enquanto sistema. O conceito de Parque Urbano apresenta múltiplas definições. Kliass (1993) define Parques Urbanos como “espaços públicos com dimensões significativas e predominância de elementos naturais, principalmente cobertura vegetal, destinado à recreação”. O Ministério do Meio Ambiente (2020) conceitua Parque Urbano como: “área verde urbana com função ecológica, estética e de lazer, no entanto, com uma extensão maior que as praças e jardins públicos.” Com o surgimento de diferentes tipos e categorias de Parques Urbanos atualmente (como os lineares, históricos, de lazer ou naturais etc.), se tornou necessária uma maior reflexão e aprimoramento de mecanismos de planejamento e gestão, de acordo com a especificidade de cada área (Whately et al., 2008). De acordo com Campos et al. (2018), novos tipos, como os parques lineares, são realidade em inúmeras cidades e denotam a força do discurso ambiental corroborado por legislação específica. Além disso, às tradicionais funções como lazer e recreação realizadas nesses espaços, somam-se ações impulsionadas por meio das redes sociais. Por outro lado, Macedo et al. (2018) refletem que as transformações dos espaços livres têm sido drásticas nestes últimos trinta anos, devido às relevantes transformações sociais e econômicas, com novas formas de habitação, de estruturas locacionais e com os fatos derivados da dispersão urbana, tanto formal como funcional em andamento. Pensar, portanto, quais seriam os desenhos urbanísticos e institucionais, considerando os novos usos dos Parques nas cidades e quais legislações e instrumentos amparam o planejamento e a gestão desses espaços no país atualmente, torna-se uma prerrogativa importante e necessária. 3 OS PARQUES URBANOS E SUAS INTERFACES COM INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO E GESTÃO O Brasil é um país no qual as políticas ambientais e as políticas urbanas foram, historicamente, constituídas sob lógicas distintas e com poucas articulações entre seus instrumentos (Costa, 2008). Além disso, ainda que alguns planos urbanos venham incorporando princípios de preservação e conservação ambiental, estes princípios dificilmente se materializam em instrumentos mais específicos e efetivos. Na trajetória da política ambiental, um dos grandes marcos regulatórios foi a criação da Política Nacional do Meio Ambiente (Lei Federal no 6.938/1981), que estabeleceu uma série de instrumentos, cuja aplicação interfere diretamente nos espaços urbanos e rurais. Em relação aos parques, esta política definiu a criação dos espaços territoriais especialmente protegidos pelo Poder Público Federal, Estadual e Municipal. No ano de 2000 este instrumento foi regulamentado pela Lei Federal no 9.985/2000, que institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC). O SNUC define dois grupos diferentes de Unidades de Conservação (UCs). O primeiro grupo são as Unidades de Proteção Integral, cujo principal objetivo é a manutenção de ecossistemas livres de alterações causadas por interferência humana. Nessas Unidades são admitidos apenas usos indiretos, como pesquisa científica ou visitações para fins educacionais. O segundo grupo de UCs são as Unidades de Uso Sustentável, essas têm como objetivo compatibilizar a conservação da natureza com o uso sustentável dos recursos naturais. Considerando os dois grupos, o SNUC definiu doze categorias de UCs, que após serem criadas, todas devem elaborar um Plano de Manejo. O Plano de Manejo é um instrumento obrigatório, que estabelece objetivos, zoneamentos, normas de uso e o manejo dos recursos naturais de cada UC (Brasil, 2000). A elaboração do Plano de Manejo deve ser feita pelo órgão gestor da Unidade, de forma participativa, e aprovada por conselhos deliberativos. O documento, após aprovado, é transformado em Portaria ou Resolução e deve estar disponível para consulta pública. Estudos destacam uma série de desafios para a implementação desse instrumento no país. Medeiros e Pereira (2011) observam dificuldades como: o não cumprimento dos prazos de elaboração, publicação e revisão dos Planos de Manejo; problemas na execução do planejamento e na compatibilização com o zoneamento proposto. Complementarmente, Iwama et al. (2014) ressaltam que a questão fundiária, a luta pela terra de populações tradicionais e as pressões do entorno têm sido um dos grandes desafios para a gestão das UCs, sobretudo aquelas situadas em meio urbanizado. Vitalli et al. (2009) destacam conflitos quanto à zona de amortecimento de UCs adjacentes a núcleos urbanos, pois estas zonas devem impor restrições ao exercício do direito de propriedade, com vistas à proteção dos recursos naturais. Sugerem que os Planos Diretores Municipais incorporem as diretrizes contidas nos Planos de Manejo e atribuam zonas especiais, voltadas a mitigar os impactos sobre os recursos naturais das Unidades de Conservação. Lima e Ranieri (2019) também apontam que, por meio de instrumentos de ordenamento territorial, como o plano diretor e o zoneamento ambiental, o município pode definir uma ocupação antrópica mais adequada à conservação ambiental no entorno das áreas protegidas, presentes em seu território. Contudo, há dificuldades, como a articulação entre os governos locais e os órgãos responsáveis pelas UCs. Mais recentemente, a partir do Estatuto da Cidade, os planos diretores e as leis de uso e ocupação do solo, ganharam novos instrumentos capazes de interferir na dinâmica da urbanização, incentivando a agenda da reforma urbana, e incorporando princípios do campo ambiental. Em pesquisa realizada sobre a abordagem ambiental nos planos diretores brasileiros (Costa et al., 2011), apontam que, apesar da incorporação do discurso, não são previstos mecanismos ou instrumentos capazes de dar concretude à política ambiental. Alguns planos chegam a delimitar os espaços livres e parques que precisam ser preservados, contudo não estabelecem instrumentos específicos e critérios de uso e ocupação claramente diferenciados para essas zonas de interesse ambiental, cujos objetivos se perdem na efetividade das políticas de uso e ocupação do solo. Jorge e Franco (2019) também destacam que novos parâmetros de desenho urbano começaram a se difundir dentro e fora do Brasil, buscando construir cidades para pessoas, sobretudo nas relações entre espaços públicos e privados, com maior fruição pública. No entanto, mostram que a maioria das legislações brasileiras ainda tem dificuldades para incorporar e tornar aplicáveis tanto os instrumentos, quanto os parâmetros de um novo urbanismo que valoriza a esfera pública e a qualificação ambiental. Segundo Sampaio (2016), os Parques Urbanos são instrumentos de efetivação do direito a cidade. Contudo, para que possam ser efetivos na promoção desse direito coletivo, devem oferecer elementos necessários como a garantia de acesso e fruição, e a melhor definição de instrumentos para uma gestão eficiente. Há, portanto, uma lacuna a ser melhor investigada e explorada, tanto no campo teórico, quanto nas práticas relacionadas à implantação de parques nas cidades brasileiras. Essa lacuna refere-se à real necessidade de reflexão sobre as novas tipologias e categorias, sobre as formas e localizações urbanas, e sobre os mecanismos de gerenciamento municipais em articulação com outras escalas administrativas. 4 METODOLOGIA Considerando o surgimento de novas categorias de parques e a necessidade de construção de mecanismosinovadores para sua gestão, o presente trabalho procurou analisar dois documentos, tidos como referência nacional, para o planejamento e gestão de Unidades de Conservação, de modo a oferecer subsídios para a construção de Planos de Gestão de Parques Urbanos. A definição de “Plano de Gestão de Parque Urbano” foi embasada pelos trabalhos de Whately et al., (2008), publicados no documento “Subsídios para a gestão dos parques urbanos municipais de São Paulo”. Este documento define como objetivos principais do Plano de Gestão de Parque Urbano: subsidiar políticas públicas municipais; ampliar áreas verdes; assegurar usos compatíveis com a proteção ambiental; promover a gestão compartilhada; disciplinar o uso nos parques, compatibilizando-os ao caráter essencial desses espaços. Tomando como referência as abordagens teórico-conceituais fundamentadas no artigo, a pesquisa possuiu abordagem qualitativa e os procedimentos metodológicos utilizados foram: pesquisa bibliográfica e análise documental. 4.1. Análise documental Para atingir os objetivos do trabalho os documentos analisados foram: Roteiro metodológico para elaboração e revisão de planos de manejo das Unidades de Conservação Federais, publicado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), em 2018; e o Roteiro Metodológico para Planos de Manejo das Unidades de Conservação do Estado de São Paulo, publicado pelo Sistema Ambiental Paulista, em 2018. O Roteiro do ICMBio, aprovado pela Portaria nº 1.163, de 27 de Dezembro de 2018, é um instrumento que surgiu a partir da reestruturação metodológica e revisão de procedimentos do Roteiro Metodológico de Planejamento de Unidades de Conservação, publicado em 2002 pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), e que, desde então, foi um marco referencial das diretrizes necessárias para o gerenciamento dessas áreas. O Governo do Estado de São Paulo visando aumentar a eficiência, celeridade e efetividade dos Planos de Manejo, constituiu, por meio da Resolução SMA n°. 95, de 8 de dezembro de 2016, o Comitê de Integração dos Planos de Manejo (Estado de São Paulo, 2016). Este comitê dedicou-se à elaboração de um roteiro onde, a partir da revisão de procedimentos, visou um instrumento mais objetivo, dinâmico e aplicado à gestão das UCs paulistas (Sistema Ambiental Paulista,2018). 4.2. Categorias analíticas Os conteúdos dos roteiros foram sistematizados e comparados. A partir da leitura e análise dos documentos, foram estabelecidas as seguintes categorias analíticas para que fosse possível identificar as compatibilidades e as divergências entre os dois roteiros: 1. Legislação correlata; 2. Objetivos propostos; 3. Itens do Diagnóstico; 4. Tipos de Zoneamento; 5. Programas e Ações; 6. Formas de Participação Social e 7. Monitoramento e Revisão. 5 RESULTADOS E DISCUSSÃO Os contextos de Unidade de Conservação e Parques Urbanos são muito diferentes, portanto, coube a este artigo problematizar e relativizar as questões inerentes a cada espaço. Assim, buscou-se de maneira constante a identificação das características e dos aspectos essenciais para elaboração de um instrumento aplicado aos parques urbanos, levando em consideração suas especificidades. A análise dos roteiros demonstrou a importância de um planejamento minucioso para manejo e gestão dos espaços verdes. Ambos instrumentos dão os subsídios necessários para elaboração de planos de manejo de maneira clara e detalhada. Porém, o Roteiro Metodológico para Planos de Manejo das Unidades de Conservação do Estado de São Paulo, apresentou um formato mais objetivo para aplicação. Abaixo segue a tabela 1 com a síntese analítica dos roteiros. Tabela 1 Síntese analítica dos Roteiros Metodológicos para Planos de Manejo de UCs Categorias de análise Roteiro ICMBio (2018) Roteiro SAP (2018) Legislação correlata Dec. Federal nº84.017, de 21/09/1979 Lei Federal n° 9.985, de 18/07/2000 Portaria nº 1.163, de 27/12/2018 Decreto Estadual n° 60.302, de 27/03/2014 Resolução SMA n°. 95, de 8/12/2016 Objetivos propostos Trazer segurança e agilidade para o planejamento e gestão das UCs Necessidade de um modelo mais objetivo, integrado e aplicado à gestão. Itens do Diagnóstico Componentes Fundamentais - Propósito, significância, recursos e valores fundamentais da UC. Componentes dinâmicos - Análise da necessidade de dados e planejamento, subsídios para interpretação ambiental, mapeamento e banco de dados geoespaciais da UC Componentes normativos - Atos legais e administrativos, normas gerais e zoneamento Informações complementares - Planos e estudos específicos da UC Meio biótico - Vegetação e fauna Meio físico - Geologia, geomorfologia, risco aos processos geodinâmicos, clima, mineração, recursos hídricos (subterrâneos e superficiais) e pedologia Meio antrópico - História e patrimônio, ocupação humana e populações residentes, dinâmica demográfica, econômica, social territorial Aspecto jurídico institucional - Instrumentos de ordenamento territorial e Políticas públicas Tipos de Zoneamento Propõe 14 categorias de zonas de manejo, classificadas por Grau de Intervenção humana (nenhuma ou baixa/media/ alta) e usos diferenciados Propõe 10 categorias de zonas de manejo - Usa termos como “maiores efeitos da intervenção humana” ou “pequena intervenção humana” Programas e Ações Internos: proteção e manejo, pesquisa e monitoramento, educação ambiental e operacionalização interna. Externos: integração externa, conscientização ambiental e operacionalização externa. Programas: Manejo e Recuperação, Uso Público, Interação Socioambiental, Proteção e Fiscalização, Desenvolvimento Sustentável, Pesquisa e Monitoramento Formas de Participação Social Prevê reuniões abertas para envolvimento da sociedade civil, buscando compreender sua visão e expectativas em relação a UC. Prevê Conselho Deliberativo. Tem como uma das premissas da metodologia participação social permeando todo o processo. Prevê Conselho Gestor Deliberativo ou consultivo. Monitoramento e Revisão Monitoramento continuo Revisão quando necessária Monitoramento continuo Revisão quando necessária A Lei Federal n° 9.985, de 18 de julho de 2000, que institui o SNUC e estabelece critérios e normas para a criação, implantação e gestão das unidades de conservação, determina que o plano de manejo da unidade de conservação deve ser elaborado no prazo de cinco anos a partir da data de sua criação. Para Sampaio et. al. (2016), os parques urbanos estão à luz do direito brasileiro, ou seja, não existe um regime jurídico aplicável para estes espaços, como é o caso das UCs que estão inseridas na lei do SNUC. O que evidencia a necessidade de instrumentos que disciplinem a criação e gestão dos espaços verdes urbanos. As Unidades de Conservação possuem 12 tipos diferentes de categorias estabelecidas pelo SNUC, são muito bem definidas e auxiliam com clareza o enquadramento das unidades. Os parques urbanos, não possuem uma categorização unificada e definidas por lei como neste caso. Whately et al. (2008) sugerem um enquadramento que considere: as dimensões dos parques, a disponibilidade de recursos naturais e grau de integridade dos mesmos, presença de equipamentos ou monumentos de relevância histórica e principais usos dos parques. Nesse sentido, estabeleceram a seguintes categorias de Parques Urbanos: Naturais, Históricos, Lazer e Lineares. Considerando tais categorias o documento propôs quatro instrumentos para a gestão de parques: Programas Gerais; Planos de Manejo; Zoneamentos e Programas Específicos, que podem ser usados de forma combinada e adaptados às categorias propostas (Whately et al., 2008). Essa definição dá suportepara identificação das potencialidades e riscos que o parque urbano possui de acordo com a sua tipologia, auxiliando na proposição de instrumentos de gestão mais adequados. A partir da análise dos Roteiros Metodológicos foi possível identificar que existem elementos essenciais para a elaboração de um plano de manejo, são eles: a compreensão da importância do contexto da área em questão; a caracterização dos elementos bióticos e abióticos que compõem aquele espaço; a origem legal da área; como ela está inserida nos instrumentos de ordenamento territorial e políticas públicas; relações com o ambiente lindeiro; distribuição do espaço interno; suas necessidades internas e externas; identificação de atores chave que possam contribuir para elaboração do plano e manutenção daquele espaço; definição de ações necessárias; e, por fim, estratégias de monitoria e revisão do plano. Porém, de acordo com D’Amico (2016), esse levantamento de dados deve ser realizado de maneira estratégica, pois, por muitas vezes, nesta fase de diagnóstico, os elaboradores levantam uma grande quantidade dados que por fim podem não ser utilizadas no momento de efetivação do plano de manejo. Para Moraes (2018), em vez de querer entender tudo sobre a UC para aproveitar só 10% dos dados, é necessário inverter a lógica: fazendo um levantamento de bibliografia, de dados secundários, e a partir disso definir quais informações ainda precisam ser levantadas para responder às questões práticas de planeamento e manejo. Iwama et al. (2014) sugerem que a utilização de dados de imagens de satélite, do Censo Demográfico e o levantamento em campo apoiem a etapa de diagnóstico, indicando que o uso de geotecnologias pode ser uma importante ferramenta de planejamento. Para os mesmos autores, é fundamental, também observar as dinâmicas sociais e fundiárias do entorno desses espaços, pois as circunstâncias e o contexto social em que são criadas as áreas protegidas, influenciam toda a gestão de sua área de abrangência. Os roteiros apresentam, também, diretrizes para o zoneamento, e ressaltam que ele é de suma importância para a garantia da continuidade do manejo com o passar do tempo, pois como as equipes de trabalho mudam na UC, as zonas e seus atributos associados continuam a proporcionar um quadro geral e orientações no processo de tomada de decisões de manejo a curto e longo prazo. O zoneamento em unidade de conservação possui um caráter bastante detalhado, com mais de 10 tipos de zona definidas, e devido à complexidade daquele sistema é necessário que as delimitações sejam muito bem definidas e cada zona seja restrita ao uso previsto no plano de manejo. Visando a adaptação para parque urbano, o zoneamento também pode ser fundamental neste contexto. Porém, este zoneamento pode ser feito de maneira mais simples, levando em consideração a intensidade de intervenção humana na área. Uma vez que os parques urbanos são espaços abertos à visitação e possuem em geral características bem distintas das unidades de conservação. Zanin (2002), propõe para o parque urbano Municipal Longines Malinowski, em Erechim-RS, um zoneamento interno, composto por 5 categorias: Zona Natural de Uso Restrito e de Uso Extensivo; Zona de Uso Especial; Zona de Recuperação e Zona de Uso Recreacional Intensivo. No âmbito da elaboração dos programas e ações, os roteiros indicam a avaliação dos pontos fortes e fracos da UC, identificando situações de oportunidades e ameaças. O que dará subsídios para a proposição de estratégias que visem minimizar ou reverter os conflitos, e potencializar o uso daquele espaço, prevendo medidas internas e externas. As medidas internas referem-se, em geral, a ações de planejamento voltadas à conservação do espaço, proteção, manejo, pesquisa, monitoramento, programas de educação ambiental e operacionalização interna. Já as medidas externas estão mais voltadas aos pactos sociais, as parcerias e identificação de agentes externos que podem colaborar para uma gestão compartilhada e mais eficiente daquela área. Whately et al. (2008), apontam como alguns de seus objetivos específicos, a identificação das possibilidades de influência mútua entre cada parque e seu respectivo entorno, definição de procedimentos administrativos mais adequados ao cotidiano do parque e encaminhamento de programas e projetos específicos. Em ambos os roteiros foi possível identificar que a participação social é condição imprescindível para a legitimidade dos Planos de Manejo. É prevista a construção de conselhos gestores e a sua atuação deve permear todo o processo de elaboração do documento e sua implementação. Nesse sentido, Carbone et. al. (2015), indicam que a mobilização e a participação da sociedade são vistas como potencialidade para a ampliação da oferta de áreas verdes no município de São Paulo, porém inferem que a participação da sociedade civil na gestão de áreas verdes, ainda ocorre de forma pontual e necessita ser fortalecida. O monitoramento e revisão dos planos de manejo, é uma etapa prevista em ambos os roteiros, e constitui estratégia essencial para sua eficácia. Através da análise da efetividade e compatibilidade do zoneamento; e o acompanhamento das ações e dos programas desenvolvidos na unidade; os órgãos gestores buscam identificar ajustes ou revisões necessárias. As revisões ocorrem quando o Plano de manejo for considerado significativamente defasado e inadequado para orientar a gestão, ou quando ocorrerem mudanças relevantes do contexto da UC, como a alteração de limites ou a mudança de categoria da UC (ICMBio, 2018). A Coordenação de Elaboração e Revisão de Planos de Manejo (COMAN-ICMBio), disponibiliza uma planilha de monitoria para a realização da avaliação dos planos de manejo (ICMBio, 2018). Esta planilha deve ser preenchida pelos funcionários da unidade, e apresentadas aos órgãos superiores de gestão, para que juntos estabeleçam novas propostas e novas ações necessárias, baseadas no desempenho apresentado nesses documentos. A monitoria dos planejamentos específicos deve ser realizada por meio do Sistema de Análise e Monitoramento de Gestão (SAMGe), na parte de avaliação das ações de manejo. Medeiros e Pereira (2011) ressaltam que o processo de elaboração de um Plano de Manejo deve apresentar maior objetividade e simplificação no processo, com foco no planejamento das ações de gestão e sua avaliação periódica. 6 CONCLUSÕES Planos de Gestão de Parques Urbanos devem ser pensados e estruturados no âmbito das áreas verdes e espaços livres urbanos, de modo a assegurar e planejar usos compatíveis, definir procedimentos administrativos, delimitar zonas de uso, apontar programas e projetos necessários e promover a gestão compartilhada destes espaços. Além disso, podem indicar a formação de um sistema de parques e espaços livres nas cidades e subsidiar políticas públicas. Tais iniciativas podem incentivar a implantação de novos parques e contribuir para valorização de suas especificidades, além de proporcionarem instrumentos inovadores que possibilitem o aprimoramento constante da gestão e planejamento municipal. 7 AGRADECIMENTOS À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e ao Grupo de Trabalho de Planejamento dos Parques Urbanos (GTPU) de São Carlos-SP. 8 REFERÊNCIAS Akamine, R. (2018). Sistemas de Espaços Livres: Análise do uso e apropriação de parques na cidade de São Paulo. In: Macedo, S. S., Custodio, V., Donoso, V. G. (org.) Reflexões sobre espaços livres na forma urbana. São Paulo: FAUUSP, 164-173. Bartalini, V. (1999) Parques Públicos Municipais de São Paulo: A ação da municipalidade no provimento de áreas verdes de recreação. Tese (Doutorado) - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. São Paulo. Brasil. (2000) Lei Federal nº 9.985,de 18 de Julho de 2000. 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