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105 VOL 19 No 2 SET/OUT/NOV 2010
O grande desafio eleitoral de Obama
Carlos Eduardo Lins da Silva
President Barack Obama is facing his most important electoral challenge this November. Midterm elections usually 
are unfavorable for incumbent Presidents, but sometimes can be dramatically harmful for them, such as the 
1994 one, when Bill Clinton’s Democrats lost the majority in both House and Senate. This is the risk for Obama 
now. His approval ratings are not good, the economy has not fully recovered, the opposition to him is particu-
larly hostile, the business community is apart from his government and he has not much to show as effective 
results, although he has obtained significant parliamentary victories having passed an overhaul of the health 
care system and the most important financial reform since the Great Depression. The size of his defeat and the 
way he will react to it will define his chances of getting reelected in 2012.
Só ingênuos ou ignorantes podem ter 
achado seriamente que Barack Obama se-
ria capaz de cumprir todas ou ao menos a 
maior parte das mudanças que prometeu 
ao longo da memorável campanha presi-
dencial de 2008.
O grau de seriedade dos problemas 
que herdou da desastrosa gestão de Geor-
ge W. Bush, o nível de ousadia das pro-
messas feitas, o enorme contingente de 
pessoas que defendem pontos de vista 
muito conservadores na sociedade ameri-
cana e – fator nada desprezível – a cor de 
sua pele num país em que uma expressiva 
e virulenta minoria ainda é racista torna-
vam fácil prever que Obama teria imensas 
difi culdades para chegar ao sucesso.
Em novembro, o presidente enfrentará 
o seu primeiro grande teste eleitoral. O 
pleito de meio de mandato é tradicional-
mente cruel nos Estados Unidos para 
quem está na Casa Branca. É corriqueiro 
que o partido político que detém o contro-
le do Poder Executivo sofra perda em suas 
bancadas na Câmara (que se renova intei-
ramente) e no Senado (que tem um terço 
de suas cadeiras em jogo). Não será dife-
rente desta vez.
O êxito ou fracasso é medido em geral 
pelo tamanho da derrota. Quando é de 
grande porte, pode signifi car o presidente 
ser obrigado a literalmente dividir seu 
governo com uma espécie de primeiro-
-ministro informal e virtual, como Bill 
Clinton teve de fazer com Newt Gingrich, 
o líder republicano que comandou o mo-
vimento “Contrato com a América”, em 
1994, que levou a oposição republicana ao 
controle do Congresso.
“Toda política é local”, o mantra cria-
do por Tip O’Neill (1912-1994), um dos 
mais poderosos caciques políticos da his-
tória dos EUA e presidente da Câmara 
entre 1977 e 1987, permanece verdadeiro. 
Muitos dos motivos que levarão os cida-
dãos a escolher seu candidato ao Con-
gresso continuarão sendo, como sempre 
são, os problemas dos seus distritos elei-
torais e estados. Mas de vez em quando, 
em especial em situações de crise econô-
Carlos Eduardo Lins da Silva é o editor da revista 
Política Externa, presidente do Conselho Acadêmico do 
IEEI/UNESP, membro do Gacint/USP e diretor do Espaço 
Educacional Educare.
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106 POLÍTICA EXTERNA
ARTIGOS
mica, como a atual, a eleição de meio de 
mandato pode ser dominada pelos gran-
des temas nacionais e virar uma espécie 
de plebiscito do governo federal. Parece 
ser este o caso em 2010.
Obama nem fez pouco nem foi mal em 
18 meses à frente da administração do 
país. A maior reforma do sistema na-
cional de saúde da história (que deu abri-
go a 32 milhões de pessoas que não ti-
nham nenhum tipo de cobertura em caso 
de precisar de cuidados médicos) e a 
mais radical mudança dos controles pú-
blicos sobre o sistema fi nanceiro desde a 
Grande Depressão foram os pontos altos 
nesse período.
Mas a aprovação desses projetos revo-
lucionários não só ajudou a mobilizar a 
oposição conservadora contra o presiden-
te como fragilizou o apoio da parte dos 
setores liberais da opinião pública: muitos 
acham que Obama fez concessões demais 
para consegui-la e que o resultado fi nal 
das leis sancionadas fi cou muito aquém 
das necessidades e dos sonhos.
Como é comum ocorrer na política, 
Obama seguiu a regra que o ex-governa-
dor de Nova York Mario Cuomo tornou 
famosa: fez campanha na base da poesia, 
mas governa na base da prosa. Pragmático 
e tendo como sua prioridade absoluta a 
sobrevivência no cargo, o presidente de-
sencantou boa parte dos que mais traba-
lharam para sua vitória em 2008, em espe-
cial negros, jovens e os que se situam mais 
à esquerda do espectro ideológico. São 
esses os setores demográfi cos que menos 
se demonstram dispostos a votar este ano 
(nos EUA o voto não é obrigatório), en-
quanto seus antônimos estão eletrizados 
com a possibilidade de infringir-lhe uma 
grande derrota, a ponto de colocar em 
risco desde já sua reeleição em 2012.
O fenômeno mais aparente, embora 
não o mais importante, da oposição a 
Obama é o movimento de ultradireita cha-
mado “Tea Party” (evocativo dos princí-
pios da revolta de colonos ingleses na 
América contra impostos abusivos que a 
sede do império lhes impunha na impor-
tação de chá e que foi precursora da noção 
de independência), que insufl a a insatisfa-
ção crescente com as condições do país 
entre aqueles que até duas gerações atrás 
eram maioria (brancos protestantes de 
classe média).
A situação econômica
A economia é a primeira e a mais im-
portante fonte de frustrações para os elei-
tores. É claro que Obama não é o respon-
sável pela situação catastrófi ca em que ele 
a encontrou quando assumiu o poder. Até 
que Obama foi bem-sucedido no controle 
de danos que erros acumulados por déca-
das provocaram a ponto de resultar na 
virtual falência nacional registrada em 
meados de 2008. Nem o país nem a maio-
ria das grandes empresas quebraram. Par-
te dos aportes fi nanceiros feitos pelo Esta-
do (no valor de US$ 787 bilhões) para 
salvar grandes companhias e bancos já foi 
devolvida aos cofres públicos. O perigo de 
insolvência generalizada deixou de ser 
uma possibilidade de curto prazo.
Mas a retomada da atividade econômi-
ca ainda é modesta e, por isso, criam-se 
menos empregos do que os necessários. O 
índice de desemprego continua alto para 
os padrões americanos (9,5% em meados 
de julho). Embora inferior aos 10,2% regis-
trados em 1982, muitos analistas afi rmam 
que o número atual é o pior desde a Se-
gunda Guerra Mundial, porque o de 28 
anos atrás registrava uma situação atípica 
e passageira, enquanto o de agora é mais 
estrutural. A falta de vagas é particular-
mente grande para jovens que deixam as 
faculdades e acabam tendo de voltar a 
morar com seus pais.
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107 VOL 19 No 2 SET/OUT/NOV 2010
O GRANDE DESAFIO ELEITORAL DE OBAMA
Além do desemprego, o nível médio 
de renda do trabalhador continua menor 
do que era antes da crise de 2008. Os cor-
tes de salários afetam um quarto da mão 
de obra, especialmente entre os que têm 
vencimentos familiares inferiores a US$ 75 
mil por ano, ou seja, o núcleo da classe 
média. É a primeira vez em cinquenta 
anos que a renda média do americano so-
fre queda.
Esses problemas afetam mais os elei-
tores de Obama que os de oposição. O 
desemprego, por exemplo, é de 15,4% en-
tre os negros e de 8,6% entre os brancos. 
Isso pode levar menos pessoas que ainda 
acreditam nele às urnas e ajuda a organi-
zar os que não lhe dão apoio e têm obtido 
êxito em convencer grande número de 
pessoas de que o ritmo da recuperação da 
economia tem sido mais lento do que o 
desejado, porque o presidente executa po-
líticas de excessiva ingerência do Estado 
nos negócios.
As coisas pareciam estar indo bem até 
junho, quando – na expressão do grande 
frasista Alan Greenspan, o ex-presidente 
do Banco Central americano (FED) – a eco-
nomia “bateu num muro invisível”, em 
parte como refl exodo agravamento da 
crise europeia, mas basicamente porque se 
esgotaram os efeitos dos créditos fi scais 
concedidos para estimular o consumo e 
porque a confi ança do consumidor e em 
especial dos empresários não aumenta, im-
pedindo que o ritmo da retomada econô-
mica se acelere, já que as pessoas ainda es-
tão com dívidas para pagar e receiam fazer 
novas compras vultosas (em casas, por 
exemplo), e os executivos preferem segurar 
investimentos porque se sentem inseguros 
em relação ao futuro. Embora não tenha 
ocorrido um agravamento da situação eco-
nômica, a maioria ainda não dá sinais de 
estar vendo a luz no fi m do túnel.
O pior para Obama é que a situação 
econômica não vai mudar de modo dra-
mático até novembro. Mesmo que ele ain-
da dispusesse de recursos para estimular 
a atividade econômica, os efeitos das me-
didas não seria sentido na vida dos eleito-
res antes da eleição.
Pesquisa de opinião pública feita pela 
rede de TV ABC e pelo jornal The Wa-
shington Post, divulgada em 13 de julho, 
mostrava que só 43% dos americanos 
aprovam as políticas econômicas de Oba-
ma e 54% as desaprovam. Mesmo entre os 
fi liados ao seu partido, o Democrata, 33% 
o condenam pela maneira como conduz
a economia.
A oposição empresarial
Se não há mais muito a ser feito que 
resulte em ganhos para a eleição de no-
vembro de 2010, Obama sabe que ainda 
há espaço para refazer sua imagem visan-
do ao pleito presidencial de 2012, de modo 
a impedir que ele se torne o terceiro presi-
dente americano depois da Segunda Guer-
ra a não conseguir a reeleição (depois de 
Jimmy Carter e George H. Bush).
Para isso, é essencial ganhar a adesão 
dos empresários. Sem ela, é provável que 
o nível de investimentos vá se manter 
aquém do necessário para a economia 
real mente se aprumar. E não há muita
razão material, objetiva, para os executi-
vos permanecerem tão reticentes. As 500 
maiores empresas não fi nanceiras dos Es-
tados Unidos acumularam reservas da or-
dem de US$ 1,8 trilhão desde o início do 
governo Obama. Isso representa uma por-
centagem dos seus ativos superior à que 
tiveram em cinquenta anos. No entanto, 
esse dinheiro não está sendo gasto em 
instalações, equipamentos ou criação de 
empregos. Por quê?
Em parte, trata-se de precaução natural 
diante do quadro ainda incerto da econo-
mia global, em particular a situação da 
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108 POLÍTICA EXTERNA
ARTIGOS
Europa. Mas em parte também essa reti-
cência tem a ver com as desconfi anças dos 
empresários em relação a Obama, visto 
pela maioria como um político propenso a 
ações extremas de regulação econômica 
pelo Estado. As bem-sucedidas reformas 
do sistema de saúde e de fi nanças e a pro-
posta de lei de energia e clima são usadas 
como exemplos dessa tendência e razões 
para cautela na hora de investir.
As críticas de empresários de expres-
são ao governo Obama têm sido intensas e 
explícitas. Por exemplo, Ivan Seindenberg, 
presidente da Verizon e do grupo Business 
Roundtable, que congrega 170 CEOs de 
grandes companhias, acusou-o publica-
mente de impedir a retomada da econo-
mia por controlar demais e taxar demais a 
iniciativa privada.
Menos adjetivamente, a Câmara de 
Comércio dos EUA argumenta que as em-
presas não podem fazer planejamento de 
longo prazo porque não sabem prever a 
que regime fi scal vão estar submetidas 
devido à indefi nição do governo no que 
diz respeito a impostos.
Entre as evidências da má vontade de 
Obama em relação às empresas, é com 
frequência lembrado o fato de que, dife-
rentemente de quase todos os seus ante-
cessores, ele não nomeou nenhum líder de 
negócios para o seu Ministério. E, também 
diversamente de quase todos os presiden-
tes dos últimos cem anos, não consta de 
sua biografi a nenhuma passagem pela ini-
ciativa privada nem contatos estreitos com 
ela (Obama foi professor universitário, lí-
der de organizações não governamentais e 
político em sua vida profi ssional).
Mas os críticos parecem subestimar
o fato de que o presidente Obama ajudou 
a salvar da falência a indústria automobi-
lística e o sistema fi nanceiro com generoso 
aporte de dinheiro público que lhe criou 
um défi cit fabuloso, um dos seus maiores 
problemas administrativos. E tampouco 
levam em consideração que a situação em 
2008 era tão calamitosa que até George W. 
Bush, nos estertores da sua malfadada 
Presidência, adotou políticas de inspira-
ção keynesiana, as quais ele condenara 
durante toda a vida.
Tanto Obama quanto os empresários 
são acima de tudo pragmáticos e têm 
consciência de que para os dois lados é 
fundamental que a economia cresça con-
sistentemente. Por isso, haverão de tentar 
chegar a um modo de convivência pacífi ca 
que será benéfi co a ambos. Mas não até 
novembro.
A perda do centro
A lei da reforma fi nanceira foi prova-
velmente a iniciativa do governo Obama 
que mais o colocou mal diante do empre-
sariado. Mas, apesar dos seus argumentos 
de que ela garante “a proteção fi nanceira 
mais forte da história” e que a nova agên-
cia regulatória que cria “vai proteger as 
pessoas contra práticas abusivas que de-
ram notoriedade às companhias de car-
tões de crédito e aos fi nanciadores de
hipotecas domiciliares”, ela não foi sufi -
ciente para lhe garantir o apoio decidido 
dos que provavelmente se benefi ciarão 
quando estiver em vigor, embora a maio-
ria da população a tenha aprovado.
Em parte, isso decorre da experiência 
pregressa. Segundo pesquisa de opinião 
pública divulgada em julho pela rede de 
TV CBS, apenas 13% dos americanos dis-
seram ter sentido pessoalmente algum 
efeito das medidas econômicas adotadas 
por Obama (23% disseram que se sentiram 
prejudicados por elas e 63% que elas não 
tiveram nenhum efeito sobre sua vida).
É impossível que alguém se dê conta 
de que essa lei lhe é favorável até novem-
bro, e improvável que isso ocorra mesmo 
nos próximos dois anos, porque muitos 
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109 VOL 19 No 2 SET/OUT/NOV 2010
O GRANDE DESAFIO ELEITORAL DE OBAMA
detalhes ainda terão de ser resolvidos en-
tre governo e iniciativa privada, já que 
foram deixados em aberto para facilitar a 
aprovação fi nal.
Obama tem demonstrado que – ao 
contrário do que muitos temiam, devido 
à sua pequena experiência prévia no
Senado – ele é um presidente que conse-
gue aprovar legislação audaciosa no
Con gresso, num ritmo que chega a ser 
comparável ao de Lyndon Johnson, con-
siderado um mestre na negociação parla-
mentar e, depois de Franklin Roosevelt, 
quem mais obteve sucesso em sua relação 
com o Legislativo.
Mas como o eleitor americano é prag-
mático e calibra a avaliação dos governan-
tes pelo sucesso de suas políticas confor-
me o resultado percebido em seu próprio 
bolso, Obama não tem recebido os divi-
dendos que se poderia esperar do êxito 
que vem conseguindo no Congresso, on-
de, aliás, seu partido desfruta de folgada 
maioria, que certamente não será mantida 
a partir do ano que vem, sendo possível 
até que fi que em minoria pelo menos na 
Câmara e talvez também no Senado.
Como, tanto no caso da reforma fi nan-
ceira quanto do sistema de saúde, ele ar-
cou com o ônus de ter energizado a oposi-
ção conservadora com novos argumentos 
sobre suas supostas inclinações socialistas 
sem ter ao menos conseguido arregimen-
tar o entusiasmo dos setores liberais, que 
ainda o consideram excessivamente mo-
derado, a agenda legislativa da Casa Bran-
ca já está passando por reformulação, na 
qual a mais expressiva decisão foi o aban-
dono do seu terceiro e mais ambicioso 
projeto, a lei de energia e clima.
O mais grave para Obama não é nem o 
recrudescimento da oposição da direita 
nem a falta de adesão decidida da esquer-
da, mas sim a perda de apoio do centro, 
sempre o agrupamento eleitoral-ideológi-
co decisivo nos Estados Unidos.
É da corrosão de prestígiojunto aos 
centristas que decorre o declínio da ima-
gem de Obama como unifi cador do país: 
em fevereiro de 2009, logo após a posse, 
77% dos americanos o consideravam “um 
líder forte”; em julho de 2010, só 53%, de 
acordo com Pew Research Center. Pior: a 
campanha dos conservadores contra ele 
está dando certo em outros segmentos. 
Segundo pesquisa de um instituto ligado 
ao Partido Democrata, o Democrat Corps, 
55% dos eleitores concordam com a afi r-
mação de que Obama é “socialista”.
A hostilidade da direita
O movimento do Tea Party, que galva-
niza a minoria de extrema direita da socie-
dade americana, não é importante em si 
mesmo. Ele provavelmente nunca será ca-
paz de ir além de infl uenciar os grupos 
mais conservadores do Partido Republica-
no. Mas é signifi cativo como refl exo da 
insatisfação cada vez maior dos setores 
demográfi cos que até meio século atrás 
dominavam a política e a sociedade ame-
ricanas e que agora se sentem desalojados 
de todo poder e vítimas da discriminação 
dos que então eram marginais no país.
Talvez nada seja mais representativo 
dessa incrível mudança do que o fato de a 
atual composição da Suprema Corte dos 
Estados Unidos não incluir nenhum ho-
mem branco protestante. O WASP (white 
anglo-saxan protestant), que era o protóti-
po de quem mandava no país até os anos 
1960, não está representado na mais alta 
instância da Justiça nacional. Nem o presi-
dente nem o vice-presidente da República 
é branco protestante (Joe Biden é católico). 
E a participação da WASPs no Congresso 
nunca foi menor do que é agora.
A presença de um mulato na chefi a do 
Poder Executivo por si só é um dado que 
alimenta os instintos mais primitivos de 
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110 POLÍTICA EXTERNA
ARTIGOS
parcela desse conjunto de pessoas. Obama 
individualmente tem pouco ou nada a ver 
com a dinâmica social que fez as coisas 
chegarem ao estado atual; de fato, ele é 
mais resultado delas do que seu motor. 
Mas o simbolismo da cor de sua pele na 
pessoa do presidente da República é um 
elemento muito poderoso para, mesmo 
inconscientemente (mas às vezes muito 
deliberadamente), galvanizar emoções 
que explicam o inédito grau de hostilida-
de entre alguns americanos contra o seu 
chefe de Estado e de governo.
Décadas de aplicação de políticas de 
ação afi rmativa (implantadas por nin-
guém menos do que o arquiconservador 
Richard Nixon) fi zeram que passasse a 
haver razões objetivas para explicar as 
frustrações, ansiedade e pessimismo de 
parte dos brancos americanos, em especial 
os mais pobres e os mais conservadores. 
Estudos acadêmicos de comprovado rigor 
científi co demonstram que o grupo demo-
gráfi co mais sub-representado nos campi 
das melhores universidades em relação à 
sua participação na população nacional é 
o dos brancos de famílias operárias ou de 
fazendeiros e de afi liação religiosa protes-
tante de estados que votam sistematica-
mente no Partido Republicano.
Esses fatos alimentam a paranoia esti-
mulada pelos novos líderes da extrema-
-direita americana, como o radialista Gary 
Beck, que disseminam a noção de que Ba-
rack Obama é um marxista nascido no 
exterior que pretende implantar um Esta-
do totalitarista no país. Não é à toa que 
entre os brancos, nos Estados Unidos, o 
índice de aprovação de Obama seja de 
31%, enquanto na população como um 
todo, segundo a mais recente pesquisa do 
Pew Research Center, seja de 48% (em fe-
vereiro de 2009, era de 64%).
Em consequência, talvez como forma 
de tentar impedir que a impressão de ra-
cista às avessas se espraie ainda mais, 
Obama tem feito muito pouco para ajudar 
a promover as minorias étnicas, o que aca-
ba por aumentar a insatisfação entre os 
que originalmente estavam mais dispos-
tos a apoiá-lo. Não deve ser por mera 
coincidência que entre os mais próximos 
assessores de Obama e em seu Ministério 
haja muito menos negros do que havia na 
administração de Bill Clinton e que ocor-
ram episódios como o de Shirley Sherrod, 
alta funcionária do Ministério da Agricul-
tura, demitida após uma acusação feita 
pela rede de TV Fox (que afi nal se provou 
falsa) de que ela havia recusado auxílio 
fi nanceiro legal a um fazendeiro do estado 
da Georgia porque ele era branco.
A frustração da esquerda
Entre os ingênuos e ignorantes citados 
na abertura deste artigo que acreditavam 
na possibilidade de Obama realizar (e ra-
pidamente) todos os sonhos que ele ali-
mentou com seus inspiradores discursos 
de campanha, estavam seguramente mui-
tos que se fi liam às correntes mais esquer-
distas do pensamento político americano.
Para estes, as decepções começaram 
logo e não tendem a terminar tão cedo: a 
intensifi cação da guerra no Afeganistão, 
os sucessivos adiamentos do fechamento 
da prisão de Guantánamo, o perdão tácito 
aos responsáveis na administração de Ge-
orge W. Bush por incontáveis crimes e que 
não foram nem serão investigados pelo 
atual governo, a manutenção de instru-
mentos legais de legitimidade duvidosa 
criados ou excessivamente usados pelo 
predecessor, a desistência de instituir um 
provedor estatal de seguro-saúde que era 
um dos pilares do projeto de reforma do 
setor, a inércia na tramitação do projeto de 
lei que ampliaria a formação de sindicatos 
no país, a passividade e depois o abando-
no formal do projeto de lei que daria prio-
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111 VOL 19 No 2 SET/OUT/NOV 2010
O GRANDE DESAFIO ELEITORAL DE OBAMA
ridade às fontes renováveis de energia e 
limitaria a emissão de gases-estufa, a per-
missão (provisoriamente cancelada de-
pois do acidente com a BP no Golfo do 
México) de explorar petróleo em regiões 
do alto mar de alto risco ecológico, o atra-
so e falta de entusiasmo na apresentação 
de novos projetos de lei para regularizar a 
situação de imigrantes ilegais no país. E 
esta nem é uma lista exaustiva.
O drama para o presidente é que se ele 
resolver levar adiante algumas dessas 
promessas de campanha que empolgaram 
os liberais na campanha de 2008, a reação 
da maioria dos americanos será muito 
negativa, o que lhe trará ainda maiores 
prejuízos eleitorais em novembro deste 
ano e em 2012.
Guantánamo, por exemplo. As pesqui-
sas de opinião mais recentes dizem que 
60% dos eleitores são contra o fechamento 
da prisão, onde ainda se encontram 181 
prisioneiros no limbo legal em que o go-
verno de George W. Bush os colocou. Vale 
a pena confrontar quase dois terços do 
eleitorado para resolver o problema de 
181 estrangeiros suspeitos de terrorismo?
Ou a questão dos imigrantes. A admi-
nistração Obama resolveu desafi ar na Jus-
tiça a lei estadual promulgada pela gover-
nadora do Arizona que permite à polícia 
exigir documentos de pessoas julgadas 
suspeitas de serem ilegais no país, além 
de acelerar o seu processo de deportação 
caso não comprovem sua legalidade por 
considerá-la inconstitucional. A lei do Ari-
zona se tornou um símbolo da intolerân-
cia com os imigrantes e um dos grandes 
divisores entre liberais e conservadores. 
Mas 64% dos eleitores, de acordo com o 
Pew Research Center a apoiam. Neste ca-
so também, Obama corre o risco de bater 
de frente com dois terços do país ao de-
fender princípios que são caros para o 
núcleo inicial de seu apoio político e pro-
vavelmente de suas convicções.
Por não agir ou agir de modo que seus 
aliados originais consideram tímido (em 
1o de julho ele enviou ao Congresso um 
projeto de lei sobre o tema da imigração, 
que deve passar por longa e desgastante 
tramitação), Obama vai perdendo suporte 
entre grupos da população que lhe eram 
totalmente leais. A sua avaliação positiva 
na comunidade hispânica, por exemplo, 
caiu de 71% em janeiro de 2010 para 58% 
em julho, de acordo com a pesquisa do 
Pew Research Center. O mais grave é que 
os setores que mais se mobilizaram para 
elegê-lo em 2008, em especialos eleitores 
que pela primeira vez foram às urnas na-
quele ano, agora não demonstram dispo-
sição de votar em novembro.
O apoio no exterior
Embora isso não resolva seus proble-
mas mais imediatos e prioritários, o presi-
dente Obama talvez encontre alguma con-
solação ao constatar que em outros países 
seu prestígio se mantém praticamente 
inalterado desde a sua eleição. Segundo o 
Pew Research Center, 90% dos alemães, 
87% dos franceses, 84% dos britânicos, por 
exemplo, têm atitude positiva em relação 
a ele. A imagem dos Estados Unidos nes-
tes e em outros países, que era muito ne-
gativa no governo de George W. Bush, 
benefi cia-se desse sentimento favorável 
em relação ao presidente e também é ago-
ra majoritariamente boa.
Entre os americanos, a área de política 
externa é aquela em que Obama consegue 
seus melhores índices de aprovação (45%) 
entre os seis temas mais importantes do 
país (energia, economia, saúde, défi cit pú-
blico e imigração são os outros cinco).
Mas também na política externa, o ní-
vel de realizações concretas de Obama até 
agora é modesto. Como tem sido comum 
nos primeiros 18 meses de seu governo, 
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112 POLÍTICA EXTERNA
ARTIGOS
seu discurso e intenções recebem grandes 
aplausos, mas as ações nem tanto. Aliados 
tradicionais dos EUA, como os europeus e 
os japoneses, acham que a atual adminis-
tração americana lhes dá pouca atenção e 
preferência à China, com quem, no entan-
to, Washington ainda não chegou a ne-
nhum acordo signifi cativo para nenhum 
dos dois nem para o mundo.
A questão crucial do confl ito entre
Is rael e palestinos continua sem nenhu-
ma perspectiva clara de resolução. Obama 
deu demonstrações de estar disposto a 
demover o governo israelense de sua in-
transigência obstinada, mas nada se viu 
de resultado real até agora.
A condução da guerra no Afeganistão, 
que o presidente colocou no topo de suas 
prioridades externas, está sendo crescen-
temente questionada por líderes militares 
americanos, como fi cou demonstrado no 
constrangedor episódio do comandante 
das forças dos EUA naquele país, general 
Stanley McCrystal, após a entrevista que 
ele deu à revista Rolling Stone, com críticas 
devastadoras a algumas das pessoas mais 
próximas de Obama, inclusive o vice-pre-
sidente Joe Biden.
O vazamento de 91 mil documentos 
militares secretos sobre a política da Casa 
Branca para o Afeganistão, que pode ser 
resultado dessa mesma insatisfação que o 
general McCrystal candidamente revelou, 
traz ainda mais difi culdades para Obama 
naquele que é o principal item de sua 
agenda externa. No Congresso, muitos 
acham que não se deve mais fi nanciar os 
projetos do Executivo para a guerra. Na 
opinião pública, questiona-se mais e mais 
as opções do presidente naquela região.
O “Eixo do Mal” de George W. Bush 
(Iraque, Irã e Coreia do Norte) está sendo 
tratado de modo diferente, mais construti-
vo, mas as coisas não mudaram de modo 
substancial em nenhuma das três frentes, 
o que resulta em saraivadas de críticas dos 
conservadores americanos que acusam o 
atual governo de ser frouxo com os maio-
res inimigos da nação.
No hemisfério, os problemas deriva-
dos da situação a cada mês mais grave do 
narcotráfi co no México também permane-
cem longe de solução, as relações dos Es-
tados Unidos com o Brasil se tornaram 
mais amargas, depois do acordo que o 
presidente Lula fi rmou com o Irã e a Tur-
quia para tentar resolver a questão do en-
riquecimento de urânio iraniano, do que 
jamais haviam sido durante o governo de 
Bush, e o poder de infl uência americano 
em situações como os confrontos entre 
Colômbia e Venezuela diminuiu.
O presidente divulgou uma nova es-
tratégia de segurança nacional, baseada, 
ao contrário da do predecessor, em princí-
pios de multilateralidade e de diálogo, 
mas ela ainda não foi colocada à prova 
para se provar efi ciente.
Para piorar as coisas para Obama, a 
secretária de Estado Hillary Clinton vem 
demonstrando grande desenvoltura no 
cargo e recebido elogios dos grupos políti-
cos de centro e conservadores, o que faz da 
sua adversária nas primárias de 2008 no-
vamente uma ameaça interna no partido.
Conclusões
O presidente Barack Obama enfrenta 
seu primeiro grande teste eleitoral em 
condições muito desfavoráveis. A oposi-
ção tenta fazer desse pleito um referendo 
de seu governo até agora e tudo indica 
que vai conseguir, ao menos em parte. 
Que seu partido vai perder muitas cadei-
ras na Câmara e no Senado é seguro e não 
chega a ser surpreendente: esta tem sido a 
regra em eleições na metade do primeiro 
mandato de todos os presidentes.
O tamanho da derrota é que pode ser 
signifi cativa, caso represente a perda da 
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113 VOL 19 No 2 SET/OUT/NOV 2010
O GRANDE DESAFIO ELEITORAL DE OBAMA
maioria nas duas casas do Congresso, o 
que difi cultaria muito a segunda metade 
de seu governo e ameaçaria seriamente 
suas chances de reeleição. Em julho de 
2010, o partido de Obama, o Democrata, 
tinha 257 cadeiras na Câmara contra 178 
dos republicanos de oposição e 57 no Se-
nado contra 41 (e duas de independentes).
O cenário mais provável com os dados 
do fi nal de julho era de Obama iniciar 2011 
com uma estreita margem de maioria no 
Senado e minoria em algumas cadeiras
na Câmara, onde – no entanto – a sobrevi-
vência de algumas dezenas de blue dog 
Democrats, os deputados que embora de 
seu partido se situam bem mais à direita, 
próximos dos republicanos, de fato o colo-
caria em situação de enorme fragilidade.
Por absoluta necessidade e conveniên-
cia, esse quadro político o forçará a uma 
mudança de rumo em suas políticas na 
direção do centro. Foi o que fez Bill Clin-
ton em 1994, com resultados – pelo menos 
do ponto de vista de sua própria carreira 
– auspiciosos, já que ele se reelegeu em 
1998 e terminou o mandato, apesar da 
ameaça de impeachment, com altos índices 
de aprovação.
Se fi zer esta opção, Obama terá de lidar 
rapidamente com o problema do défi cit 
público federal (cortando despesas e possi-
velmente aumentando impostos), arquite-
tar alguma aliança com os líderes empresa-
riais que agora o hostilizam para aumentar 
os investimentos da iniciativa privada e, 
com isso, criar empregos e estimular a eco-
nomia, ser mais agressivo no comércio ex-
terior para acelerar exportações (se as con-
dições econômicas globais o permitirem) e 
contar com o pragmatismo dos liberais e 
da esquerda, que difi cilmente terão em 
2012 alternativa melhor do que ele próprio 
na eleição presidencial e, assim, terão que 
lhe dar suporte, mesmo a contragosto.
Há exemplos históricos para lhe dar 
esperança. Em 1982, o presidente Ronald 
Reagan tinha níveis de aprovação pública 
quase idênticos aos atuais de Obama, en-
frentava uma recessão econômica grave e 
viu diminuídas ainda mais suas já minori-
tárias bancadas na Câmara e no Senado, 
mas foi capaz de dar a volta por cima na 
segunda metade do primeiro mandato, 
ganhar a eleição de 1984 de forma esma-
gadora e deixar o governo com grande 
popularidade. Nos dois anos fi nais de seu 
primeiro mandato, mesmo após sofrerem 
derrotas na eleição parlamentar, Bill Clin-
ton e Dwight Eisenhower conseguiram 
aprovar suas mais importantes propostas 
de governo no Congresso.
Talento e capacidade de liderar não 
faltam a Barack Obama para se sair bem 
no futuro imediato e de médio prazo. O 
tamanho das difi culdades não é desprezí-
vel. Mas quem diria em 2007 que o sena-
dor júnior por Illinois, mulato, com pai e 
padrasto muçulmanos, um sobrenome que 
se parecia com o nome do inimigo público 
número um da América (Obama/Osama) 
e um nome do meio idêntico ao sobrenome 
do inimigo público número dois (Hussein) 
seria capaz de se eleger presidente contra 
os donos da máquina do Partido Democra-
ta (os Clinton) e contra a CasaBranca sob 
controle dos republicanos?
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