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DIREITO PROCESSUAL CIVIL III Maytê Ribeiro Tamura Meleto Barboza Espécies de execução Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Explicar os elementos da execução para entrega de coisa certa. Descrever a execução para entrega de coisa incerta. Resumir a execução da obrigação de fazer ou não fazer. Introdução Os títulos executivos judiciais ou extrajudiciais são documentos que contêm em si uma determinada obrigação, que deve ser cumprida pelo devedor no prazo estipulado. Uma vez descumprida a obrigação, o credor tem a possibilidade de ingressar com um processo executório contra o inadimplente, no intuito de fazê-lo cumprir a sua parte do acordo. A execução tem, portanto, a finalidade de satisfazer o direito do credor a partir do cumprimento da obrigação pela parte devedora. Existem diversas espécies de execução e cada uma delas se destina à realização de uma obrigação diferente, tendo características peculiares, que serão vistas ao longo deste capítulo. Aqui, você vai ler sobre as várias espécies de execução, os elementos da execução para entrega de coisa certa e a execução para entrega de coisa incerta. Por fim, você verá um resumo sobre a execução da obrigação de fazer ou não fazer. Execução para entrega de coisa certa Sabe-se que, no nosso ordenamento jurídico, não é permitido que se faça jus- tiça com as próprias mãos. Assim, quando as pessoas se sentem injustiçadas, devem buscar o auxílio do judiciário para corrigir tal injustiça. A execução é o meio pelo qual o credor pode ver satisfeito o seu direito. Uma vez que o devedor deixa de cumprir a obrigação estabelecida no título executivo, torna-se inadimplente, e para o credor surge a prerrogativa de executá-lo. Execução é a atividade processual de transformação da realidade prática. Trata-se de uma atividade de natureza jurisdicional, destinada a fazer com que aquilo que deve ser, seja. Dito de outro modo: havendo algum ato certificador de um direito (como uma sentença, ou algum ato cuja eficácia lhe seja comparada), a atividade processual, destinada a transformar em realidade prática aquele direito, satisfazendo o seu titular, chama-se execução. É, pois, uma atividade destinada a fazer com que se produza, na prática, o mesmo resultado prático ou um equivalente do que se produziria se o direito tivesse sido voluntariamente realizado pelo sujeito passivo da relação jurídica obrigacional. Em princípio, o que se espera é que o devedor da obrigação a realize voluntariamente, adimplindo com o seu dever jurídico (ou seja, executando voluntariamente a prestação). Caso não ocorra a execução voluntária, porém, é lícito ao credor postular a execução forçada (CÂMARA, 2015). A execução postulada após o inadimplemento do devedor é chamada de execução forçada. Afinal, o devedor teve a oportunidade de cumprir volun- tariamente a sua obrigação e não o fez, de modo que o seu inadimplemento gera ao credor a possibilidade de ingressar contra ele com um processo de execução. O credor não pode ser prejudicado pela má-fé do inadimplente. Existem várias espécies de execução. Neste capítulo, estudaremos a execu- ção para entrega de coisa certa, para entrega de coisa incerta e para obrigação de fazer ou não fazer, respectivamente. A análise se iniciará pela execução para entrega de coisa certa: Mais uma vez, o legislador utiliza a expressão “obrigação”, especificando-a como sendo de “entrega de coisa”. Obrigação, já vimos diversas vezes neste Curso, é ape- nas uma espécie do gênero dever jurídico que tem sua gênese vinculada ao chamado direito obrigacional. Mas há outros tipos de deveres, como aqueles vinculados aos direitos reais, aos direitos de família e aos direitos sucessórios. A referência que o legislador faz ao termo “obrigação” deve ser entendida num sentido mais amplo, como referência a “dever jurídico”, porque não apenas a prestação de entregar coisa fundada em vínculo obrigacional pode ser objeto de execução; também o pode a prestação de entregar coisa fundada em vínculo de outra natureza. Esse alerta tem importância prática. Há títulos executivos extrajudiciais que podem versar sobre deveres não obrigacionais, como, por exemplo, o termo de ajustamento de conduta, previsto no §6º do art. 5º da Lei n. 7.347/1985. Assim, por exemplo, é possível que se tenha ajustado o dever de o ente público fornecer medicamentos e insumos para tratamentos de saúde, prestação que pode ser cobrada mediante processo autônomo de execução para entrega de coisa, fundada nesse título exe- cutivo extrajudicial. Além disso, têm o mesmo sentido as expressões “entrega de coisa”, “dar coisa” ou “dar coisa distinta de dinheiro”. Utilizaremos todas elas como expressões sinônimas (DIDIER JR., 2017, p. 1.059-1.060). Espécies de execução2 Para ingressar com um processo de execução fundado em título executivo extrajudicial para entrega de coisa certa, deve o exequente apresentar a sua petição inicial, que, por sua vez, deverá seguir certos requisitos: Quando se trata de execução para entrega de coisa certa, fundada em título executivo extrajudicial, a demanda deve ser proposta por petição inicial que deverá preencher os requisitos estabelecidos pelos arts. 77, V, 319, 320 e 798. Estando corretamente elaborada a petição inicial, será determinada a citação do executado para, no prazo de quinze dias, satisfazer a obrigação, entregando a coisa devida (art. 806). No mesmo despacho que ordena a citação, deverá o juízo da execução fixar multa por dia de atraso, ficando seu valor sujeito a alteração de insuficiente ou excessivo (art. 806, §1º). Vale recordar, aqui, que a modificação desta multa (astreinte) só pode produzir efeitos para o futuro, alterando-se apenas o valor da multa vincenda (art. 537, §1º). Do mandado de citação constará, desde logo, a ordem para imissão na posse (caso a coisa a ser entregue seja imóvel) ou busca e apreensão (no caso de se tratar de bem móvel), cujo cumprimento se dará de imediato se o executado não promover a entrega da coisa no prazo (806, §2º) (CÂMARA, 2015, p. 373). O devedor, a seu turno, será citado para que cumpra a prestação devida, satisfa- zendo a obrigação. Caso haja atraso no cumprimento, o juiz poderá fixar astreintes, multa por dia de atraso, para forçar o cumprimento da respectiva obrigação. A execução para entrega de coisa certa, quando o título executivo é extrajudicial, está prevista no Código de Processo Civil (CPC) de 2015 a partir do art. 806: Art. 806 O devedor de obrigação de entrega de coisa certa, constante de título executivo extrajudicial, será citado para, em 15 (quinze) dias, satisfazer a obrigação. § 1º Ao despachar a inicial, o juiz poderá fixar multa por dia de atraso no cumprimento da obrigação, ficando o respectivo valor sujeito a alteração, caso se revele insuficiente ou excessivo. § 2º Do mandado de citação constará ordem para imissão na posse ou busca e apreensão, conforme se tratar de bem imóvel ou móvel, cujo cumprimento se dará de imediato, se o executado não satisfizer a obrigação no prazo que lhe foi designado (BRASIL, 2015, documento on-line). Portanto, o devedor desse tipo de obrigação, constante em título executivo extrajudicial, é citado para que a satisfaça no prazo de 15 dias. É importante dizer que o valor da multa por dia de atraso (astreinte) está sujeito à altera- ção quando se revele insuficiente ou excessivo, de modo que o juiz poderá modificá-lo. 3Espécies de execução Em se tratando de bem imóvel ou móvel, no mandado de citação, já deve estar contida ordem para imissão na posse ou busca e apreensão. O cumpri- mento do mandado deve ocorrer imediatamente caso o executado não cumpra a obrigação no prazo estabelecido pelo juiz. O art. 807 do CPC de 2015, por sua vez, afirma que: “Art. 807 Se o executado entregar a coisa, será lavrado o termo respectivo e considerada satisfeita a obrigação, prosseguindo-se a execução para o pagamento de frutos ou o ressarcimento de prejuízos, se houver” (BRASIL, 2015, documento on-line). Isso porque, uma vez que o executado entrega a coisa litigiosa, a obrigação se considera cumprida. A execução prosseguirá apenas em relação ao pagamento dos frutos ou para que sejam ressarcidos os eventuais prejuízos. Caso não haja frutos ou ressarcimento de prejuízos, a obrigação será considerada satisfeita e findada a execução. Caso o objeto da obrigação tenha sido alienado, será expedido mandado contra o terceiro adquirente, que deverá depositá-la, para então ser ouvido (art. 808) (BRASIL, 2015). É direito do exequente receber “[...] além de perdas e danos, o valor da coisa, quando essa se deteriorar, não lhe for entregue, não for encontrada ou não for reclamada do poder de terceiro adquirente”, de acordo com o art. 809, caput, do CPC (BRASIL, 2015, documento on-line). O exequente deverá, com o processo de execução, receber a coisa pela qual está pleiteando. Caso não seja possível, por algum motivo, a entrega do bem, seja porque ele se deteriorou, porque ele se perdeu, ou por não ter sido reclamado do poder de terceiro adquirente, ele terá o direito de receber o valor da coisa, somado às perdas e danos decorrentes dessa perda. Caso o valor da coisa não conste no título nem seja possível a sua ava- liação, o exequente deverá apresentar uma estimativa, que estará sujeita ao arbitramento judicial (art. 809, § 1º) (BRASIL, 2015). Tanto o valor da coisa quanto os prejuízos serão apurados em liquidação (art. 809, § 2º) (BRASIL, 2015). Ou seja, se o valor da coisa não for constante do título ou, ainda, caso não seja possível avaliá-la, é obrigação do exequente a apresentação de uma estimativa desse valor, que deverá, inclusive, adicionar os prejuízos. Caso o Espécies de execução4 executado ou ainda terceiros tenham feito benfeitorias indenizáveis na coisa, é obrigatório que se faça uma liquidação prévia (art. 810 do CPC de 2015). O parágrafo único do art. 810 estabelece que: Art. 810 [...] Parágrafo único. Havendo saldo: I — em favor do executado ou de terceiros, o exequente o depositará ao requerer a entrega da coisa; II — em favor do exequente, esse poderá cobrá-lo nos autos do mesmo processo (BRASIL, 2015, documento on-line). Vale lembrar que o procedimento descrito é referente à execução para entrega de coisa certa, ou seja, a coisa deve estar previamente determinada e totalmente individualizada. Segundo Didier Jr. (2017, p. 1.061): Para compreender o mecanismo da execução de obrigação de entrega de coisa, é importante compreender que, a depender da coisa a ser entregue, as obrigações podem ser classificadas em obrigação de entrega de coisa certa e obrigação de entrega de coisa incerta. Considera-se coisa incerta aquela determinada ao menos em relação ao gênero e à quantidade (art. 243, Código Civil), sem menção à qualidade. É o caso, por exemplo, do pedido para que o executado entregue seiscentas sacas de café, sem que se diga o tipo ou a procedência dos grãos. Coisa certa, por sua vez, é aquela perfeitamente individualizada em relação ao gênero, quantidade e qualidade. É o que se dá quando se pede, por exemplo, que o executado entregue seiscentas sacas de café arábica, tipo exportação, produzido em determinada região. A entrega de coisa certa é aquela entrega de coisa que já está perfeitamente individu- alizada, tanto em relação ao gênero, quanto em relação à quantidade e à qualidade. O que se viu até agora foi em relação à execução para entrega de coisa certa quando o título executivo é extrajudicial. Porém, se se tratar de cumprimento de sentença que reconhece a obrigação de entregar coisa, o procedimento é diferente. No tocante à execução de sentença que reconheça a exigibilidade de obriga- ção de entregar coisa, o art. 538, caput, do Novo CPC prevê tão somente o procedimento inicial, em especial para a hipótese de entrega de coisa incerta. 5Espécies de execução Novamente o legislador deixou de prever um procedimento específico para a fase de cumprimento de sentença, como já havia feito no cumprimento de sentença de obrigação de fazer e não fazer. Caberá ao juiz adotar o procedi- mento que parecer mais adequado no caso concreto para a efetiva satisfação do direito do credor, em nítida adoção das técnicas de tutela diferenciada. Aduz o art. 538, §3º, do Novo CPC que se aplicam ao cumprimento de sentença de obrigação de entregar coisa as disposições sobre o cumprimento de obrigação de fazer e não fazer. Dessa forma, aplicam-se a essa espécie de execução todas as considerações feitas no Capítulo 47, item 47.3, a respeito da conversão em perdas e danos, da atipicidade dos meios executivos e da multa coercitiva. Também se aplicam a essa execução os comentários a respeito do direito de defesa do executado, feitos no mesmo capítulo. Como o dispositivo prevê a aplicação naquilo que couber, não se aplica ao cumprimento de sentença que reconheça a exigibilidade de obrigação de entregar coisa a regra do art. 536, caput, do Novo CPC, porque na hipótese de execução para entrega de coisa é inviável a obtenção de resultado prático equivalente e, uma vez inviável a obtenção da tutela específica no caso concreto, a conversão em perdas e danos será a única alternativa restante (NEVES, 2017, p. 1.203). Diz o art. 538, caput, do CPC de 2015 que “Art. 538 Não cumprida a obrigação de entregar coisa no prazo estabelecido na sentença, será expedido mandado de busca e apreensão ou de imissão na posse em favor do credor, conforme se tratar de coisa móvel ou imóvel” (BRASIL, 2015). De acordo com os arts. 513 e 771 do CPC, as regras dos arts. 806 a 813 se aplicam subsidiariamente ao cumprimento de sentença que reconheça a exigibilidade de obrigações de entregar coisa (execução fundada em título executivo extrajudicial). Por sua vez, as regras sobre cumprimento de sen- tença, que estão alocadas no Livro I da Parte Especial do CPC, aplicam-se subsidiariamente à execução fundada em título executivo extrajudicial (art. 771, par. ún., CPC). (DIDIER JR., 2017, p. 1.060). O procedimento da execução para entrega de coisa certa e incerta se di- ferenciam em relação à sua fase inicial. Vejamos, a partir de agora, como se dá o procedimento para entrega de coisa incerta. Execução para entrega de coisa incerta Afi nal, o que pode ser considerada como coisa incerta? Coisa incerta deve ser considerada coisa indeterminada, mas determinável, cuja escolha importa em razão da diferente qualidade entre os bens que poderão ser escolhidos. Espécies de execução6 Exemplificativamente, é possível lembrar de uma obrigação de entregar um filhote de cachorro proveniente da cria de uma cadela específica, quando jamais todos os filhotes serão iguais. Certamente haverá o mais dinâmico, o mais magro, o mais belo, o mais alegre, o mais bravo, o mais dengoso, etc. Aqui, certamente a escolha é fundamental, então estaremos diante de execução de coisa incerta (NEVES, 2017). Assim, portanto, a coisa incerta é aquela que não está individualizada; ou seja, só se sabe o seu gênero e a sua quantidade, mas não, por exemplo, a sua qualidade. Segundo Câmara (2015, p. 374): Vale, aqui, recordar o que é a obrigação de dar coisa incerta. Esta é a obrigação de dar coisas que são indicadas “ao menos, pelo gênero e pela quantidade” (art. 243 do CC). Pense-se, por exemplo, no caso de alguém que é obrigado a entregar um dos cavalos de um haras, ou um dos cães de um canil. Pois neste caso há bens diferentes entre si, mas que são determinados pelo gênero (cavalo, cão) e pela quantidade a ser entregue. Portanto, ao encontro do exemplo anterior, se houver uma gata prenha e alguém deseje um dos filhotes, poderá dizer que quer um filhote macho daquela gata. Porém, poderá ser qualquer filhote, uma vez que não se sabe ao certo, de antemão, as características que cada um deles terá. Desse modo, será possível determinar o filhote pelo seu gênero (masculino) e pela sua quantidade (um). Diz-se que a coisa é indeterminada porque não há como saber, previamente, de que filhote se trata. Isso só se poderá saber após o nascimento da ninhada. O título pode especificar a quem cabe a escolha do filhote, no caso do exemplo acima. Se a escolha couber ao exequente, este deve indicar logo na petição inicial qual filhote deseja. Se a escolha, por outro lado, couber ao executado, este será citado para entregá-la de forma individualizada. O art. 811 dispõe que: “Art. 811 Quando a execução recair sobre coisa determinada pelo gênero e pela quantidade, o executado será citado para entregá-la individualizada, se lhe couber a escolha. Parágrafo único. Se a escolha couber ao exequente, esse deverá indicá-la na petição inicial” (BRA- SIL, 2015, documento on-line). Segundo Câmara (2015, p. 375), “Dito de outro modo, se a escolha couber ao credor, este só poderá escolher a coisa melhor se o executado livremente aceitar entregá-la. De outro lado, se a escolha 7Espécies de execução couber ao executado, este só poderá entregar ao exequente a coisa pior se o demandante aceitar recebê-la”. Desse modo, pode-se concluir que a coisa incerta é a que não foi pre- viamente determinada, mas que pode ser facilmente determinada, como no exemplo acima, em que não se especificou exatamente qual cachorro deveria ser entregue, mas era possível determinar que deveria ser de uma ninhada específica, de determinada cadela. Afinal, os filhotes são todos diferentes uns dos outros, por isso diz-se que a coisa é incerta; é, porém, determinável, por ser possível estabelecer a sua origem, a sua proveniência, etc. É importante dizer que o direito de escolha deve estar previsto no título executivo, pois, do contrário, tal escolha será do devedor. Se a escolha for do credor, ou seja, do exequente, este deverá indicá-la logo na petição inicial. Se houver omissão, a escolha é transmitida ao executado, pois se subentende que o exequente renunciou ao direito de escolher. Porém, se o executado também deixar de fazer a tal escolha, ela retorna automaticamente ao exequente (NEVES, 2017). Em geral, no próprio título, estará estipulado se a escolha cabe ao devedor ou ao credor. Caso seja o credor o responsável por individualizar a coisa, deverá fazê-lo desde logo na petição inicial. O art. 812 do CPC de 2015 afirma que: “Art. 812 Qualquer das partes poderá, no prazo de 15 (quinze) dias, impugnar a escolha feita pela outra, e o juiz decidirá de plano ou, se necessário, ouvindo perito de sua nomeação (BRASIL, 2015, documento on-line). As respectivas partes poderão impugnar a escolha feita pela outra. Para julgar, caso considere necessário, o juiz poderá ouvir um perito, de sua nomeação, a respeito da esco- lha das partes. Poderá decidir de plano também, caso se sinta apto para tanto. Em outras palavras, se a escolha do credor ou do devedor não agradou a parte contrária, esta poderá impugná-la no prazo de 15 dias. O juiz tem a possibilidade de decidir de plano a respeito dessa matéria ou, se preferir, ouvir um perito de sua nomeação. O art. 813 complementa, dizendo que: “Art. 813 Espécies de execução8 Aplicar-se-ão à execução para entrega de coisa incerta, no que couber, as disposições da Seção I deste Capítulo” (BRASIL, 2015, documento on-line). São essas basicamente as diferenças entre os procedimentos de execução para entrega de coisa certa e incerta. Execução da obrigação de fazer ou não fazer Como pode ser conceituada, afi nal, este tipo de obrigação? Trata-se de dever que tem sua gênese vinculada ao chamado direito obrigacional, no que se distingue de outros tipos de deveres, como aqueles vinculados aos direitos reais, aos direitos de família e aos direitos sucessórios. Ao fazer refe- rência ao termo “obrigação”, contudo, o legislador o utiliza num sentido amplo conferindo-lhe o significado de “dever jurídico”. Desse modo, as execuções de que ora tratamos têm por objeto a satisfação de prestação de fazer e de não fazer, pouco importa se elas decorrem de uma obrigação, em sentido estrito, ou de uma outra espécie de dever jurídico (DIDIER JR., 2017, p. 1.039-1.040). Portanto, obrigação deve ser entendida como dever jurídico, sendo que as prestações podem ser de fazer ou não fazer determinada coisa. Os arts. 814 a 823 do CPC de 2015 tratam da execução da obrigação de fazer e não fazer. Diz o art. 814 que: Art. 814 Na execução de obrigação de fazer ou de não fazer fundada em título extrajudicial, ao despachar a inicial, o juiz fixará multa por período de atraso no cumprimento da obrigação e a data a partir da qual será devida. Parágrafo único. Se o valor da multa estiver previsto no título e for excessivo, o juiz poderá reduzi-lo (BRASIL, 2015, documento on-line). A multa referida no art. 814, que ocorre em decorrência dos dias de atraso no cumprimento da obrigação, é chamada de astreinte (CÂMARA, 2015). O art. 815 estipula que: “Art. 815 Quando o objeto da execução for obrigação de fazer, o executado será citado para satisfazê-la no prazo que o juiz lhe designar, se outro não estiver determinado no título executivo” (BRASIL, 2015, documento on-line). 9Espécies de execução Caso o executado seja citado e cumpra a obrigação, é extinto o processo. Caso contrário, isto é, se o executado não cumprir a obrigação no prazo estabelecido, o exequente deverá requerer, nos próprios autos, a satisfação da obrigação à custa do executado ou, ainda, perdas e danos, que serão apurados em liquidação e consequentemente convertendo-se em execução por quantia certa (art. 816, caput, e parágrafo único) (BRASIL, 2015). De acordo com o art. 817, é facultado, ainda, a um terceiro o cumprimento da obrigação. Nesse caso, o exequente deverá requerer, e o juiz poderá autorizar. O art. 818 dispõe que: “Art. 818 Realizada a prestação, o juiz ouvirá as partes no prazo de 10 (dez) dias e, não havendo impugnação, considerará satisfeita a obrigação. Parágrafo único. Caso haja impugnação, o juiz a decidirá” (BRASIL, 2015, documento on-line). As obrigações de fazer e de não fazer podem ser assim classificadas (DI- DIER JR., 2017). 1. Conforme a natureza da prestação que têm por objeto: obrigações com prestação positiva (fazer) e obrigações com prestação negativa (não fazer); 2. Conforme a possibilidade de a prestação ser realizada por terceiro, ou não: obrigações fungíveis (que admitem a realização por terceiro) e obrigações infungíveis (não admitem a realização por terceiro; são personalíssimas). Optando o exequente por ver realizada a prestação (fungível) por terceiro, deverá requerer ao juiz que autorize o terceiro a satisfazê-la à custa do execu- tado (art. 817). Caberá ao juiz, então, aprovar uma proposta de terceiro, o que só poderá fazer depois de ouvir as partes. Aprovada a proposta, incumbirá ao exequente adiantar os valores necessários para o pagamento do terceiro (art. 817, parágrafo único). O exequente, porém, terá direito de preferência, podendo ele próprio executar — ou mandar executar, sob sua direção e vigilância — as obras e os trabalhos necessários à realização da prestação, desde que o faça nas mesmas condições estabelecidas na proposta do terceiro que tenha sido aprovada pelo juiz (art. 820). Para exercer este direito de preferência, o exequente terá de manifestar sua intenção no prazo de cinco dias a contar da intimação da decisão que aprovou a proposta de terceiro (art. 820, parágrafo Espécies de execução10 único). Realizado o serviço por terceiro, o juiz ouvirá as partes no prazo de dez dias e, não havendo impugnação, considerará satisfeito o direito do exequente (art. 818). Caso haja alguma impugnação, porém, o juiz deverá decidi-la desde logo (art. 818, parágrafo único). (CÂMARA, 2015, p. 375-376). Porém, caso a obrigação seja infungível, isto é, se só puder ser satisfeita pelo próprio executado, o que pode se dar por suas qualidades únicas, para conse- guir com que a obrigação seja satisfeita, o juiz poderá se valer de astreintes, a multa diária, ou ainda outras medidas de pressão psicológica (NEVES, 2017). Se esse terceiro que deveria cumprir a obrigação não o fizer ou fizer de forma defeituosa ou incompleta, o exequente pode requerer ao juiz que, no prazo de 15 dias, autorize a concluí-la ou a repará-la à custa do contratante, ou seja, do executado (art. 819 do CPC de 2015). O parágrafo único do art. 819 complementa ao dizer que: “Art. 819 [...] Parágrafo único. Ouvido o contratante no prazo de 15 (quinze) dias, o juiz mandará avaliar o custo das despesas necessárias e o condenará a pagá-lo” (BRASIL, 2015, documento on-line). De acordo com o art. 820 do CPC de 2015, é possível, ainda, que o exequente execute ou mande executar as obras e os trabalhos para que a prestação seja paga; nesse caso, terá preferência, em igualdade de condições de oferta, em relação ao terceiro. O parágrafo único do art. 820 acrescenta que: “Art. 820 [...] Parágrafo único. O direito de preferência deverá ser exercido no prazo de 5 (cinco) dias, após aprovada a proposta do terceiro” (BRASIL, 2015, documento on-line). O art. 821 trata da possibilidade de o título estabelecer o cumprimento da obrigação pessoalmente pelo executado. O juiz deverá fixar um prazo para o seu cumprimento. O parágrafo único do mesmo artigo informa que, em caso de recusa ou mora do executado, a obrigação se converterá em perdas e danos, e o procedimento deverá ser o da execução por quantia certa (BRASIL, 2015). Há casos em que o exequente faz questão de que a prestação seja cumprida pelo próprio executado, pessoalmente. Imaginemos um cantor muito famoso que tenha sido contratado para fazer um show ou ainda um ilustre e renomado pintor de quadros. Nesse caso, se o executado se recusa ou demora a cumprir a sua obrigação, é possível que o juiz a converta em perdas e danos. 11Espécies de execução A execução da obrigação de não fazer consiste na abstenção do indivíduo de não fazer o que estava obrigado por lei ou por contrato, de modo que o exequente deve requerer ao juiz que fixe um prazo ao executado para que este possa desfazê-lo (art. 822) (BRASIL, 2015). Entretanto, caso haja recusa ou mora do executado, o exequente requererá ao juiz que mande desfazer o ato à custa daquele, que responderá por perdas e danos (art. 823) (BRASIL, 2015). No que diz respeito à assim chamada “execução das obrigações de não fazer”, impende fazer uma consideração. É que não existe mora nas obrigações de não fazer. Afinal, como são obrigações negativas, não há como se cogitar de atraso no descumprimento. O que pode haver é o inadimplemento, o qual ocorrerá quando o devedor praticar o ato que estava obrigado a se abster de realizar. Será, então, o caso de se buscar, através do processo judicial, o desfazimento daquilo que não poderia ter sido feito (o que é uma prestação positiva). Perceba-se, então, que a execução de obrigação de não fazer é, a rigor, uma execução da obrigação de desfazer o que não poderia ter sido feito (CÂMARA, 2015, p. 376). Caso não seja possível proceder ao desfazimento da obrigação, esta será convertida em perdas e danos e, após a liquidação, deve ser observado o procedimento da execução por quantia certa. O diploma processual privilegia a execução das obrigações de não fazer per- manentes, prevendo as formas de desfazimento de tal fato. Havendo recusa do devedor em desfazer aquilo que não deveria ter feito, por proibido, o credor requererá ao juiz que mande desfazer o ato à custa do executado. Nesse caso, o devedor responderá por esse ato e também por perdas e danos, por meio da conversão do processo executivo em execução de pagar quantia certa (após a necessária liquidação incidente) (NEVES, 2017, p. 1.223). Ou seja, caso não seja possível o desfazimento da obrigação que não deveria ter sido feita ou mesmo havendo recusa do devedor em desfazer tal coisa, o exequente deverá requerer ao juiz que o desfazimento seja realizado às custas do executado, que pagará não apenas pelo desfazimento da obrigação, mas também pelas perdas e danos que houver causado ao exequente. Espécies de execução12 BRASIL. Lei nº. 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Brasília, 2015. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105. htm. Acesso em: 23 dez. 2019. CÂMARA, A. F. O novo processo civil brasileiro. São Paulo: Atlas, 2015. DIDIER JR., F. Curso de Direito Processual Civil: execução. 7. ed. Salvador: JusPodivm, 2017. NEVES, D. A. A. Manual de Direito Processual Civil — Volume único. 9. ed. Salvador: JusPodivm, 2017. Os links para sites da Web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun- cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. 13Espécies de execução
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