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NÚCLEO DE PÓS GRADUAÇÃO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO Coordenação Pedagógica – IBRA DISCIPLINA CONTEXTUALIZAÇÃO E FUNDAMENTOS DA FÍSICA 2 Sumário UNIDADE 1 - APRESENTAÇÃO ................................................................................ 3 UNIDADE 02 – INTRODUÇÃO ................................................................................... 4 2.1 - CONTEXTUALIZAÇÃO E FUNDAMENTOS DA FÍSICA: o Estado da Arte .... 5 UNIDADE 03 - TEMPO, ESPAÇO E REFERENCIAIS ............................................. 11 – O Tempo ............................................................................................................... 11 - O desenvolvimento dos relógios............................................................................ 12 . ESPAÇO E REFERENCIAIS ......................................................................... 17 UNIDADE 04 - AS ORIGENS DA MECÂNICA (RACIONAL) NEWTONIANA ......... 21 4.1 - OS PRIMEIROS ESTUDOS SOBRE A DINÂMICA DOS MOVIMENTOS CIRCULARES ........................................................................................................ 27 UNIDADE 06 - UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA SOBRE A ÁREA DE PESQUISA “FÍSICA MODERNA E CONTEMPORÂNEA NO ENSINO MÉDIO”: artigo ............ 34 6.1- Introdução ....................................................................................................... 34 - Justificativas .................................................................................................. 35 - Questões metodológicas, epistemológicas, históricas, referentes ao ensino de FMC; estratégias de ensino e currículos ........................................................... 40 - As três vertentes principais ..................................................................... 40 - Outras propostas metodológicas ............................................................. 43 - Temas de FMC apresentados na literatura como divulgação científica ou como bibliografia de consulta para professores e alunos ...................................... 49 - Apresentação de temas de FMC............................................................. 50 - Apresentação de alguns aspectos de um tema de FMC e discussão sobre questões de ensino ......................................................................... 53 - Propostas testadas em sala de aula com apresentação de resultados de aprendizagem ........................................................................................................ 56 Trabalhos sobre Mecânica Quântica ......................................................... 56 Trabalho sobre armas nucleares ............................................................... 58 Trabalho sobre raios cósmicos.................................................................. 59 - Livros didáticos que inserem temas de FMC ................................................. 59 REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS CONSULTADAS............................................. 68 ANEXOS ................................................................................................................... 70 ANEXO 01 - A LINGUAGEM DE LIVROS DIDÁTICOS DE FÍSICA: uma análise no contexto do estudo da mecânica ........................................................................... 70 ANEXO 02 - UMA PROPOSTA CONTEXTUALIZADA PARA DISCUTIR OS CONCEITOS DE LUZ E ENERGIA UTILIZANDO MATERIAIS RECICLADOS ..... 76 3 UNIDADE 1 - APRESENTAÇÃO Esta apostila foi preparada com o intuito de apoiar e oferecer subsídios à disciplina CONTEXTUALIZAÇÃO E FUNDAMENTOS DA FÍSICA. O objetivo do curso é fornecer um conjunto de elementos conceituais, teóricos e empíricos que permitam, a você, desenvolver seus estudos e obter o conhecimento que você espera, com sucesso. Em sendo, pretendemos demonstrar e discutir o Estado da Arte da contextualização e dos Fundamentos da Física, analisando as pesquisas realizadas, acerca destes temas, a partir dos grandes centros de pesquisas, nacionais e estrangeiros, bem como, utilizando- se dos maiores autores dos temas abordados. Em seguida falaremos do tempo, do espaço e dos referenciais da Física, tratando, também, das Origens da Mecânica Racional Newtoniana, numa perspectiva histórica. E, devido às novas abordagens dos novos tempos, acerca dos diversos paradigmas tecnológicos, analisaremos o uso e a dimensão dessas novas tecnologias, no ensino e aprendizagem da Física, bem como, no fazer docente. Nesse sentido, transcrevemos, integralmente, dois trabalhos, a saber: Novas Tecnologias, O Redimensionamento do Espaço e do Tempo e os Impactos no Trabalho Docente e Uma Revisão Bibliográfica sobre a Área de Pesquisa “Física Moderna e Contemporânea no Ensino Médio”. Ao final, disponibilizamos diversos anexos para leitura, análise e possíveis futuros estudos e aprofundamento dos temas abordados: ANEXO 01 - A linguagem de livros didáticos de física: uma análise no contexto do estudo da mecânica; ANEXO 02 - Uma proposta contextualizada para discutir os conceitos de luz e energia utilizando materiais reciclados; ANEXO 03 - Hipermídias: dinâmica dos fluidos contextualizada nas escolas técnicas e ANEXO 04 - Contextualização do ensino de física: utilização da questão ambiental. Por tudo isso, esperamos que você faça uma excelente leitura e que tenha sucesso em seu curso. 4 UNIDADE 02 – INTRODUÇÃO Segundo Gobara e Piubéli (2008), em seu artigo “Contextualização do ensino de física: iluminando o acampamento”, descrevem o seguinte sobre a disciplina de Física: A física é uma disciplina cujo caráter experimental é indissociável do seu conteúdo quando associado aos fenômenos da natureza e suas formas de observações. Esse caráter é naturalmente considerado no campo da pesquisa, mas, a sua transposição para o campo da educação não é tarefa fácil. As pesquisas em ensino de ciências, por um lado, têm contribuído com inovações que influenciam os currículos de Física (Carvalho, 1996) e por outro lado têm apontado os obstáculos e as dificuldades que os alunos apresentam para a aprendizagem dos conceitos de Física. Há pesquisas que investigam o processo de aprendizagem de conceitos científicos e formas alternativas que contribuam para a superação desses obstáculos evidenciados pelas pesquisas, com proposições utilizáveis em sala de aula. (GOBARA e PIUBÉLI, 20081). A contextualização do ensino de Física está relacionada a teoria de Brousseau, que defende uma proposta fundamentada sob uma hipótese relativa a construção do sentido de uma noção matemática pelo aluno. O sentido de uma noção não se pode dar ao aluno; ele deve construí-lo dentro de um conjunto de problemas onde ela funcione de uma maneira mais ou menos local...Uma noção apreendida é somente utilizável na medida em que ela é relacionada a outras, estas ligações constituindo sua significação, sua etiqueta, seu método de ativação. Mas ela é somente apreendida na medida que ela é utilizável e usada efetivamente, isto é somente se ela é uma solução de um problema.(BROUSSEAU, 1983). Gobara e Piubéli (2008) afirmam que, para que haja aprendizagem, o professor deve efetuar não uma comunicação de um conhecimento, mas propor uma situação permitindo a devolução de um bom problema ao aluno onde esse conhecimento é necessário à obtenção da solução. Quanto ao aluno, ele aprende por adaptação ao meio (PERRIN-GLORIAN, 1991) que é um fator de dificuldades e desequilíbrios, isto é, o aluno deve adequar seu conhecimento à situação problemática na qual ele se encontra. Para o aluno tudo se passa como um jogo, se 1 http://74.125.155.132/scholar?q=cache:TRlAuYtqTwcJ:scholar.google.com/+Gobara+e+Piub%C3%A9li,+em +seu+artigo+%E2%80%9CContextualiza%C3%A7%C3%A3o+do+ensino+de+f%C3%ADsica:+iluminando+o+ campamento%E2%80%9D,&hl=pt-BR&as_sdt=0,5. 5 a devolução se realiza,o aluno entra no jogo e se ele ganha este jogo, a aprendizagem se realiza. 2.1 - CONTEXTUALIZAÇÃO E FUNDAMENTOS DA FÍSICA: o Estado da Arte Alguns trabalhos (VIANNA E OLIVEIRA, 2007; OSTERMANN e MOREIRA, 2000) apontam a necessidade de atualização do currículo escolar quanto ao ensino de Física Moderna e, por outro, a precariedade das condições atuais do nosso sistema público de ensino que parece dificultar essa tarefa. Por outro lado, muitas pesquisas argumentam a favor da utilização de conceitos históricos no ensino da Física, o que contribuiria para a compreensão, por parte dos alunos, de que o conhecimento da ciência se desenvolve com o passar do tempo, como resultado de uma construção diária e gradativa de novos conhecimentos. Pesquisadores em Ensino de Física (GAGLIARDI e GIORDAN, 1986; GIL-PEREZ, 1993) concluíram que a inserção da história da ciência permite uma maior compreensão, tanto por parte dos alunos quanto do professor, sobre o que vem a ser Física e sobre a forma com que ela progride, adotando assim um sentido de construtivismo filosófico. Gagliardi e Giordan (1986) apontam a necessidade de aproximar os alunos da realidade vivida pelos pensadores e cientistas, através da contextualização do conhecimento científico na época em que ele foi produzido, dentro da visão de mundo e dos costumes correspondentes. Na III Conferência Interamericana sobre Educação em Física, foi organizada uma discussão sobre o ensino da Física Moderna, através da qual Barojas (1988, citado por OSTERMANN e MOREIRA, 2000) denunciou que os estudantes muitas vezes desconhecem pesquisas e descobertas feitas depois de 1900. Assim, Ostermann e Moreira sugerem que há necessidade de: despertar a curiosidade deles, mostrando-lhes que a Física Moderna é muito próxima a eles; atrair mais adolescentes para a carreira científica; e investir esforços na formação de professores, para que as duas necessidades anteriormente colocadas possam ser supridas. Kalmus (1992, apud OSTERMANN e MOREIRA, 2000) relatou sobre um levantamento feito em 1984 junto a calouros de Física, que revelou a Física Moderna como um dos tópicos que mais influenciaram a escolha pela carreira de físico. 6 Elegemos o conceito de atividade de Alexey Leontiev (LEONTIEV, 1978; RODRIGUES et al., 2007) como ponto de partida para abordar o ensino de Física, posto que, o autor faz uma distinção muito importante entre atividade‟ e „ação‟, afirmando que somente no primeiro conceito coincidem „motivo‟ e „objetivo‟ da aprendizagem. Assim, se, diante da tarefa de planejar o trabalho de sala de aula, o professor não se esforçar para alcançar as motivações dos estudantes, não poderá envolvê-los em uma atividade, negando-lhes o direito ao sentido do que está ocorrendo na prática social. De acordo com Marcelo David Silva de Mesquita (2011) em seu texto “Lições de Física Matéria e Radiação: Uma Abordagem Contextualizada ao Ensino de Física2”, na primeira metade da década de 1990, propostas e trabalhos apresentados em diversos encontros científicos nacionais e internacionais sobre o ensino de Física (SNEF, EPEF, RELAEF, REF, ENSEÑANZA, GIREP3) levantaram discussões acerca das possíveis inovações e tendências necessárias ao currículo do Ensino Médio (CARVALHO e VANNUCCHI, 1995). Nesses encontros começavam a se delinear as tentativas de inclusão da Física Moderna e Contemporânea (FMC) no currículo do Ensino Médio, deixando evidente a necessidade de a escola integrar-se ao mundo atual e, ao mesmo tempo, preparar o aluno para conviver em uma sociedade em que os conhecimentos científicos e a capacidade de utilizar diferentes tecnologias são fundamentais. A proposta dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) para o Ensino Médio (BRASIL, 1999) estabelece como objetivo principal o desenvolvimento pelo aluno de competências específicas em Física, em decorrência do aprendizado dessa disciplina e das tecnologias a ela relacionadas, sendo, dessa forma, imprescindível que o estudante do Ensino Médio (EM) conheça os fundamentos da tecnologia atual, já que ela atua diretamente em sua vida. É só imaginar como temos o mundo ao 2 http://74.125.155.132/scholar?q=cache:sM1hyffFkPgJ:scholar.google.com/+CONTEXTUALIZA%C3%87% C3%83O+E+FUNDAMENTOS+DA+F%C3%8DSICA+&hl=pt-BR&as_sdt=0, 2011. 3 SNEF: Simpósio Nacional de Ensino de Física, EPEF: Encontro de Pesquisadores em Ensino de Física, RELAEF: Reunião Latino-Americana sobre Educação em Física, REFs: Reunión Nacional de Educación en la Física , Revista Enseñanza de las Ciencias, GIREP: Groupe International de Recherche sur l‟enseignement de la Physique . 7 alcance de nossos dedos com um pequeno telefone celular, coisa que foi possível com o advento de técnicas sofisticadas, que utilizam materiais de alta tecnologia desenvolvidos a partir do século XX. Daí, a importância de se introduzir conceitos básicos de FMC como forma de proporcionar ao aluno uma compreensão do mundo. No entanto, o ensino de Física, atualmente, ainda está dissociado do que há de mais tecnológico em nossa sociedade, sendo pouco abordado em sala de aula, não permitindo ao aluno uma leitura da realidade Física. Então, como ensinar Física? Tomamos como base as análises de Mesquita (2011), acerca das questões pedagógicas e epistemológicas, quando o autor toma, como base, as concepções de Paulo Freire (1978-2005) e Bachelard (1996). No que tange ao aspecto pedagógico, Mesquita vale-se de Freire (2005), e sua ênfase quanto à importância do diálogo como elemento fundacional do processo educativo, afirmando que, em contraposição à “educação bancária”, que situa o educando como um mero receptor de informações advindas do professor, Freire nos remete a uma “educação libertadora”, aquela que é alicerçada no diálogo como elemento norteador do processo educativo, nos objetos de conhecimentos como mediador desse diálogo e na necessidade de inserção do educando como sujeito das ações educativas. Segundo Freire, nela (na educação bancária), o educador aparece como seu indiscutível agente, como o seu real sujeito, cuja tarefa indeclinável é “encher” os educandos dos conteúdos de sua narração. Conteúdos que são desconectados da totalidade em que se engendram e em cuja visão ganhariam significação. (FREIRE, 2005, p. 65). Uma educação nesses termos, além de conduzir os educandos à memorização mecânica do conteúdo narrado, torna-se um ato de mero depósito de supostos saberes, em que os educandos são os depositários e o educador o depositante (FREIRE, 2005). Sobre esse aspecto, “o educador não tem o senso do fracasso justamente porque se acha um mestre.” (Bachelard, 1996, p. 24). 8 Freire afirma que quanto mais se exercitem os educandos no arquivamento dos depósitos que lhes são feitos, tanto menos desenvolverão em si a consciência crítica de que resultaria a sua inserção no mundo, como transformadores dele. Como sujeitos. (FREIRE, 2005, p. 68). Ao contrário da educação bancária, a educação libertadora, problematizadora é realizada pelo professor com o aluno, considerando o educando como sujeito da ação educativa, ou seja, a educação é com o educando e não sobre educando, em que o diálogo deve ser uma constante na educação problematizadora. É por meio do diálogo que os homens são capazes de construir o mundo, sendo o diálogo, uma exigência existencial (FREIRE, 1978). Em “A formação do Espírito Científico”, Bachelard aborda, sobretudo, a noção de "obstáculo epistemológico", apontando as condições psicológicas do processo de construção do conhecimento científico, o psiquismo humano apresentando fortes resistências em abandonar velhas ideias e aceitar as novas. “Por isso é grande nosso mau humor quando vêm contradizer nossos conhecimentos primários, quando querem mexer no tesouro pueril obtido por nosso esforço escolar.” (BACHELARD,1996, p. 51). Nesse processo, observam-se lentidões e conflitos que representam obstáculos na aquisição do conhecimento científico. É contra esses obstáculos que o “espírito” deve lutar, pois é aí que mostraremos causas de estagnação e até de regressão, detectaremos causas da inércia às quais daremos o nome de obstáculos epistemológicos (...) o ato de conhecer dá-se contra um conhecimento anterior, destruindo conhecimentos mal estabelecidos, superando o que, no próprio espírito, é obstáculo à espiritualização. (BACHELARD, 1996, p.17) Ele defende também que o conhecimento real nunca é imediato e pleno, pois existem obstáculos que se incrustam no que cremos saber, em conhecimentos mal questionados, e acabam ofuscando o que deveríamos saber, afirmando que o conhecimento do real é luz que sempre projeta algumas sombras. Bachelard aponta para a questão do ensino, embora não tenha se dedicado a escrever nenhum livro tratando especificamente da educação, menciona que o trabalho educativo consiste essencialmente em uma relação dialógica, em que “todo 9 conhecimento é resposta a uma pergunta. Se não há pergunta, não pode haver conhecimento cientifico” (BACHELARD, 1996, p. 18). Esse conhecimento não deve se dar por meio de um intercâmbio de ideias, mas sim a partir de sua construção, que não deve basear-se na opinião, sendo antes de tudo, preciso destruí-la. Este é o primeiro obstáculo a ser superado. Dessa forma, vemos mais uma vez, a educação não podendo basear-se no ato de depositar ideias de um sujeito no outro, nem tampouco tornar-se simples troca de ideias a serem consumidas pelos permutantes. (FREIRE, 1978). É necessário ainda que formulemos com clareza as questões, pois o espírito científico proíbe que tenhamos uma opinião sobre que questões que não conhecemos. Assim, “[...] na vida científica os problemas não se formulam de modo espontâneo [...] Nada é evidente. Nada é gratuito. Tudo é construído” (BACHELARD, 1996, p.18). Em consequência do exposto acima, a aprendizagem não deve possuir o caráter em que os educandos sentam-se passivamente para ver e ouvir. Assim podemos notar que há uma conexão entre a dimensão epistemológica de Bachelard e a dimensão pedagógica de Freire, estando estas em contraposição a educação bancária, que se prende pelo acúmulo de informações. Na forma dialógica é necessária reconstrução do conceito a ser transmitido, não existindo a passagem do conceito por mera repetição do dito, como informações percorrendo uma correia de transmissão. E na educação, a noção de obstáculo epistemológico é desconhecida, sendo alvo de crítica o desconhecimento de tais obstáculos por parte dos professores. Bachelard afirma: Acho surpreendente que os professores de Ciências, mais do que os outros se possível fosse, não compreendam que alguém não compreenda. (...) Não levem em conta que o adolescente entra na aula de Física com conhecimentos empíricos já constituídos; não se trata, portanto de adquirir uma cultura experimental, mas sim de mudar de cultura experimental, de derrubar os obstáculos já sedimentados pela vida quotidiana. (BACHELARD, 1996, p. 23). 10 A construção de uma abordagem contextualizada da Física, na qual privilegia o diálogo, pode fazer uma adequada articulação entre diferentes conteúdos da Física no ensino médio, superando a tradicional perspectiva centrada na mera inclusão de novos tópicos agregados a organizações curriculares já existentes. A contextualização no ensino vem sendo defendida por diversos educadores, pesquisadores e grupos ligados à educação como um meio de possibilitar ao aluno uma educação para a cidadania. Os PCN (BRASIL, 2002) ampliaram a discussão da contextualização no ensino de Ciências. O documento traz orientações que reforçam o estudo de contextos como ponto de partida para a articulação entre conhecimentos das disciplinas de cada uma das áreas. Em 2006, foram publicadas as Orientações Curriculares para o Ensino Médio (BRASIL, 2006). Esse documento contribui para o debate sobre a contextualização como um pressuposto importante no ensino de Ciências, uma vez que tem o papel de mediar o diálogo entre as disciplinas, principalmente daquelas que tomam como objeto de estudo o contexto real, situações de vivência dos alunos, os fenômenos naturais e artificiais e as aplicações tecnológicas. Em função disso, a contextualização pensada por nós, se apresenta como forma de buscar a integração entre o saber científico e o cotidiano das pessoas, articulando diferentes dimensões do conhecimento científico. 11 UNIDADE 03 - TEMPO, ESPAÇO E REFERENCIAIS Conforme Isaac Newton afirma em seu livro Princípios Matemáticos da Filosofia Natural: "tempo, espaço, lugar e movimento são palavras conhecidas de todos. Há de se observar contudo que o leigo só concebe estas quantidades partindo da relação que guardam com as coisas observáveis". Espaço é uma região tridimensional estacionária, na qual os objetos existem e se movem com respeito uns aos outros, de maneira que não existe nenhuma interação entre o espaço e os objetos. Cada objeto existe como um "ponto" particular no espaço e no tempo. Um objeto em movimento no espaço, experimenta uma mudança contínua da sua posição com o tempo. – O TEMPO A Terra gira em torno de seu próprio eixo. Esse movimento é chamado de ROTAÇÃO e dura aproximadamente 24 horas. Portanto, durante mais ou menos 12 horas, o hemisfério ocidental, onde está o Brasil, fica virado para o lado do Sol; e, durante as outras 12 horas, volta-se para o lado escuro. A partir deste movimento é que surge o DIA e a NOITE. Meridianos e paralelos Meridianos são linhas imaginárias que cortam o globo terrestre, longitudinalmente, ou seja, de cima para baixo. O ponto inicial para contagem da longitude fica em Greenwich, na Inglaterra. Um meridiano tem a longitude fixa e varia em latitude. Paralelos são linhas imaginárias que cortam o globo terrestre, transversalmente, ou seja, de lado. Um paralelo tem a latitude fixa e varia em longitude. O ponto inicial para contagem da latitude é a linha do Equador, que divide a Terra ao meio em hemisférios sul e norte. O cruzamento entre latitude e longitude pode determinar a localização de qualquer objeto no planeta. 12 Considerando-se que uma volta completa da Terra equivale a 24 horas e 360 graus, podemos dizer que cada 15 graus equivalem à passagem de 1 hora. Assim, as variações horárias no globo podem ajudar a determinar a longitude de determinado lugar no globo, medida importantíssima, por exemplo, para a navegação marítima. - O DESENVOLVIMENTO DOS RELÓGIOS Relógio de sol Desde remotos tempos, o homem percebeu que o Sol criava as sombras dos objetos e que, ao longo do dia, o tamanho destas variava. Em um primeiro momento, o homem primitivo usou sua própria sombra para estimar as horas (sombras moventes). Logo depois, percebeu que podia fazer essa estimativa através de uma vareta fincada no chão na posição vertical. Estava criado o pai de todos os relógios de sol, o famoso gnômon. 13 Relógio de sol em Tangarog, Rússia. Foto: Alexandre Mirgorodski. Relógio de sol em Saint Rémy, França. Através da sombra projetada pelo gnômon, pode-se observar seu movimento durante o dia: ao amanhecer, a sombra está bem longa , ao meio-dia atinge seu tamanho mínimo e, ao entardecer, volta a alongar-se. Associando-se o movimento da sombra com o passar do tempo durante o dia, podia-se saber quanto tempo de luz ainda restava antes de chegar o anoitecer. Assim o homem primitivo deu origem ao relógio de sol e à contagem do tempo. Relógio de Sol encontrado em um convento em João Pessoa (PB). 14 Clepsidra Junto com o relógio de sol, a clepsidra (do grego kleptein, roubar, e hydor, água)ou relógio de água foi um dos primeiros sistemas criados pelo homem para medir o tempo. Uma das vantagens em relação ao relógio de sol é que a clepsidra permite a medição do tempo à noite! Um relógio de água básico constitui-se de dois recipientes marcados com escalas convencionadas de tempo. O líquido escorre de um pote para outro, permitindo que se meça o tempo de forma mais ou menos preciso. As clepsidras eram usadas em tribunais, nos lares e em processos científicos. Alguns dos relógios de água mais antigos foram encontradas no Egito, na Grécia e na China. Há indícios de que os chineses já conheciam a clepsidra em 2679 a.c. Ampulheta Também chamado de “relógio de areia”, acredita-se que a ampulheta foi inventada no século VIII, por um monge francês chamado Luipraud, para substituir a clepsidra (relógio de água) nos meses de inverno, quando a água congelava! As primeiras ampulhetas eram feitas de areia. Mas esta era muito abrasiva e acabava por aumentar o diâmetro do furo por onde passava, desregulando o instrumento. Resolveu-se então substituir a areia por pó de casca de ovo. Relógios mecânicos No século XVII, Galileu Galilei estabeleceu as leis do pêndulo e viu nesse instrumento a possibilidade de utilizá-lo como medidor de tempo. Galileu observou que, mesmo que o movimento do pêndulo mudasse de amplitude, o tempo de oscilação permanecia sempre o mesmo. Descobriu, assim, uma maneira isocrônica (regular) inédita de se medir fenômenos com precisão de segundos. Em 1656, o holandês Christian Huygens construiu o primeiro relógio mecânico baseado no modelo pendular de Galileu. O primeiro relógio de Huygens tinha uma margem de erro de 1 minuto por dia – uma insignificância para os padrões da época. 15 Reprodução de relógio projetado por Galileu em 1641 Relógios elétricos e outros Os relógios elétricos seguem o mesmo princípio pendular de Galileu, baseando-se nas vibrações de um diapasão e nas oscilações de um circuito elétrico. Um relógio elétrico atual tem precisão parecida com a do relógio mecânico inventado por um carpinteiro inglês chamado John Harrison. Ele venceu um concurso promovido pelo governo inglês, em 1714, com um cronômetro marítimo que tinha margem de erro de 1 segundo por mês! Seu feito foi muito importante, já que, na época, um relógio à base de movimentos pendulares não conseguia ser muito preciso em alto-mar devido ao balanço dos navios. A precisão do relógio de Harrison significou um grande progresso para a navegação mundial. Com os instrumentos da época, era muito 16 mais fácil medir a latitude do que a longitude de um lugar, o que dificultava a determinação da posição, por exemplo, de um navio no mar. Graças ao relógio de Harrison, tornou-se possível medir a longitude mais acuradamente. Funcionava assim: acertava-se o relógio segundo a hora de Greenwich (hora zero); a bordo, esperava-se o meio-dia, quando o cálculo horário do relógio de sol é muito preciso, e comparava-se a hora marcada por este com a hora padrão de Greenwich. Cada hora a mais ou a menos em relação ao horário de Greenwich significava uma diferença de 15 graus de longitude. Além dos relógios mecânicos e elétricos, outro tipo bastante comum atualmente é o relógio de quartzo, que se baseia na oscilação de um cristal do minério submetido a uma corrente elétrica. Os mais precisos mecanismos existentes, no entanto, são os relógios atômicos, cuja margem de erro é de 1 segundo a cada 30 mil anos! O primeiro relógio atômico, construído em 1949 pelo Instituto Nacional de Padrões e Tecnologia (NIST, na sigla em inglês), nos EUA. 13 . Construindo um relógio de sol Você vai precisar de: • Um pedaço de madeira de 2 cm de espessura e 1m de lado • Uma haste de ferro ou de madeira de cerca de 15 cm de altura e 1,5 cm de espessura • Um esquadro • Uma régua • Um lápis • Um caderno Em um lugar onde haja boa incidência de sol, posicione a base de madeira. Encaixe ou cole a haste (gnômon) no centro do apoio de madeira. Com a ajuda do esquadro, verifique se a haste está perpendicular à base. 17 De hora em hora, marque, na base, o ponto onde está a sombra formada pela haste e a hora equivalente àquele instante. Depois de 12 horas, use uma régua para traçar retas que interliguem o centro (haste) e os pontos demarcados. Você pode ainda observar as variações das sombras no decorrer do ano. Para isso, escolha um dia de cada mês e anote as diferenças que você perceber, mantendo um relatório em um caderno. . ESPAÇO E REFERENCIAIS Na Física Clássica o espaço imutável e estático, é chamado euclidiano, porque pode ser mapeado através de três números ou coordenadas: latitude, longitude e altitude (ou cota), ou mais matematicamente, coordenadas ( x, y, z ). O movimento de um objeto é analisado no espaço relativo, porque medimos as posições em instantes de tempo conhecidos. Como já concluía Newton: "... as partes do espaço não podem ser vistas ou distinguidas entre si, por nossos sentidos, por isto em seu lugar usamos medidas observáveis dele... Assim, em lugar de posições e movimentos absolutos, usamos relativos... Por isso pode ser que não existam corpos realmente em repouso, em relação aos quais possamos referir as posições e os movimentos dos outros corpos". Outro conceito que se faz necessário é aquele de sistema de referência. Em geral quando observamos o movimento dos corpos, este é relacionado a algum "ponto" ou algum "outro objeto". É o sistema de referência, em relação ao qual determinamos se um corpo está em movimento ou está em repouso (entendido aqui como ausência de movimento). A propósito, entenderemos o movimento como a mudança de posição de um objeto (móvel ) no tempo, com respeito ao referencial. Este ainda pode ser 18 entendido como uniforme ou constante, e variado ou acelerado. Estas conceituações se farão com mais propriedade posteriormente. Definimos um referencial inercial como aquele que é fixo , no tempo e no espaço, por exemplo, as estrelas duplas, distantes da Terra. Também se o movimento de um móvel é uniforme (constante), ele pode ser considerado um referencial inercial. Podem existir referenciais não-inerciais, quando estes estão em movimento acelerado. Lembre-se: a Terra não é um referencial inercial! Como espaço e tempo são trabalhados de modo relativo, nós medimos para um objeto apenas o intervalo de tempo entre duas posições sucessivas no tempo, chamando a sua diferença de deslocamento, que também é uma grandeza física vetorial. O símbolo grego "Δ" representa matematicamente "diferença”, "variação", e quando associado ao símbolo representativo de uma grandeza física qualquer, significará a variação desta mesma grandeza física. Ao observarmos o movimento dos corpos, sendo o espaço euclidiano, podemos associar ao mesmo uma trajetória, que seria o conjunto de pontos do espaço sucessivamente ocupados pelo móvel, no tempo. A trajetória pode ter várias formas, sendo linear quando descrita ao longo de uma reta; curva quando tem-se pelo menos duas dimensões, e qualquer ( tridimensional ). Os corpos em interação no tempo e no espaço têm as suas dimensões e formas próprias, e estas são comparadas entre si, quando nas suas interações. Um corpo ou objeto será considerado "partícula" quando suas dimensões são pequenas comparadas com as dimensões do referencial ou do outro objeto com o qual esteja interagindo. Geralmente um corpo de massa m será considerado uma partícula quando comparado com outro de dimensões muito maiores, e massa M. A Terra e o Sol, em função das distâncias entre eles, são ambos considerados partículas. O comprimento de um automóvel, quando comparado com comprimento de um trem, pode torná-lo uma partícula. Características do movimento A caracterização deum movimento se dá pela sua continuidade, uniformidade ou variação. Em conseqüência, definimos algumas grandezas físicas, qualquer quantidade mensurável ou medida, para caracterizar o movimento. 19 A primeira grandeza física que caracteriza um movimento uniforme é a velocidade média de um móvel, definida como a razão entre a deslocamento realizado num determinado intervalo de tempo, e este intervalo de tempo. Dizemos que um movimento é retilíneo uniforme, quando em trajetória retilínea, o móvel percorre espaços iguais em intervalos de tempos iguais, sendo a sua velocidade média, constante. Do ponto de vista da análise dimensional, a velocidade é dada em unidades de [m/s] no SI. Sendo o movimento uniforme, com velocidade constante, isto significa que a cada instante a sua velocidade média é a mesma. Portanto, a partir de condições iniciais de tempo e espaço, podemos encontrar a posição do móvel em qualquer instante, pela expressão: X = X0 + vt ( relação linear ), onde, X0 é a posição com respeito ao referencial, no instante inicial t0 = 0. Lembre- se, sempre começamos a contar o tempo a partir do "zero". Além disso, a expressão acima leva em consideração apenas uma única dimensão, ou direção, o movimento sendo unidimensional. Entretanto, o conceito pode ser expresso do ponto de vista tridimensional, caracterizando-se mais propriamente a propriedade vetorial das grandezas físicas velocidade e posição. A segunda grandeza física, que caracteriza um movimento variado, ou acelerado, uniformemente ou não, é a aceleração média, definida como a razão entre a variação de velocidade do móvel em um intervalo de tempo, e este intervalo de tempo. Dizemos que um movimento é uniformemente acelerado quando a sua aceleração é constante. Do ponto de vista da análise dimensional, a aceleração é dada em unidades de [m/s2] no SI. Sendo o movimento uniformemente acelerado aquele no qual a aceleração é constante, isto significa que a cada instante, a aceleração média é a mesma. Então, a partir de condições iniciais de tempo e espaço, podemos encontrar a velocidade da partícula ou do corpo, em qualquer instante, pela expressão: V = V0 + a t (relação linear), 20 onde, V0 é a velocidade no instante inicial, ou seja, no instante em que começamos a contar os tempos, visto que o mesmo sempre é contado a partir do "zero". Aqui consideramos o movimento sendo unidimensional, apenas uma dimensão ou direção. Entretanto o conceito não perde a sua característica de propriedade vetorial, com respeito as grandezas físicas aceleração e velocidade. Há que se considerar a direção da velocidade e da aceleração. Se as duas tem o mesmo sentido e direção, estaremos tratando de um movimento uniformemente acelerado, ou seja, a velocidade cresce uniformemente com o tempo t. Se as duas tem sentidos contrários, dizemos ter um movimento uniformemente retardado, neste caso, a velocidade decresce uniformemente com o tempo t. Uma terceira grandeza física caracterizando o movimento é a força, representativa da interação entre os corpos, ou agindo sobre os corpos, visto que as forças externas atuantes são as causas em si do movimento. Entretanto, a sua definição formal deixaremos para quando do estabelecimento das leis do movimento de Newton. O campo da Física que trata do movimento dos corpos, sem identificar as causas dos mesmos, é a Cinemática. Já a Dinâmica tenta estabelecer as leis do movimento, conforme as forças atuantes entre os corpos. Desde já indicamos diferenças entre a Física clássica ou newtoniana, e a Física relativista ou einsteniana, com respeito ao espaço e ao tempo. As distâncias medidas no espaço e no tempo, na Física clássica, não estão correlacionadas, são independentes entre si. Estejamos parados, ou andando, ou dentro de um móvel, o tempo registrado pelo relógio é sempre o mesmo. Na Física relativista, tem-se a contração do espaço e a dilatação do tempo. Na Mecânica newtoniana, o espaço é euclidiano, sendo o tempo independente; o espaço é plano, independentemente dos objetos e interações. Na Relatividade Geral, o espaço é deformável, é curvo, com configurações complexas, de acordo com os objetos e as interações presentes. 21 UNIDADE 04 - AS ORIGENS DA MECÂNICA (RACIONAL) NEWTONIANA Nas palavras de Garcia4 (2009), os primeiros estudos que Newton realizou sobre mecânica na década de 1660 estavam ligados à filosofia natural de Descartes, principalmente à sua “doutrina do movimento”. Ao longo da segunda metade dessa década, Newton redigiu uma série de estudos, que foram todos anotados num único caderno de notas, hoje conhecido entre os comentadores pelo título de Waste Book. Nesse manuscrito encontra-se uma série de estudos sobre as colisões (dos corpos) e o movimento circular, onde é possível constatar a influência do Principia Philosophiae (1644) de Descartes. No início da quarta parte do WasteBook (IId) Newton enuncia seus primeiros axiomas e proposições, afirmando que: 1. Se uma quantidade antes movia-se, ela nunca cessará de se mover, a menos que seja impedida por alguma causa externa. 2. Uma quantidade mover-se-á sempre em uma linha reta (não mudando a determinação nem a velocidade de seu movimento), a menos que uma causa externa a desvie.(HERIVEL, 1965, p. 141). Um pouco mais à frente, Newton inicia novos estudos antecedidos por uma série de novos axiomas, com destaque para o primeiro: Ax: 100: Todas as coisas devem preservar-se naturalmente naquele estado em que se encontram, a menos que sejam interrompidas por alguma causa externa, por isso os axiomas 1 e 2. Uma vez que um corpo é movido, ele manterá sempre a mesma velocidade, quantidade e determinação do seu movimento.”(Idem, p. 153). Ainda que os três axiomas acima possuam uma grande semelhança com as Leis do Movimento de Descartes, Newton promove uma mudança fundamental ao tratar quantitativamente as “causas externas” responsáveis pelas mudanças no estado de movimento ou de repouso dos corpos. O essencial para ele foi, a partir dos princípios e noções físicas de Descartes, ter desenvolvido nesse período um “modelo geométrico” que lhe possibilitou analisar as forcas do movimento dos 4 Valdinei Gomes Garcia. A gravitação universal na filosofia da natureza de Isaac Newton. Dissertação de Mestrado. 2010. Disponível em: (http://dspace.c3sl.ufpr.br/dspace/bitstream/handle/1884/24235/Dissertacao_Nei.pdf;jsessionid=1E0E7E62561F 05DAFA477EA2C5C83F2D?sequence=1). (http:/dspace.c3sl.ufpr.br/dspace/bitstream/handle/1884/24235/Dissertacao_Nei.pdf;jse http://dspace.c3sl.ufpr.br/dspace/bitstream/handle/1884/24235/Dissertacao_Nei.pdf%3Bjsessionid%3D1E0E7E62561F 22 corpos nas colisões e calcular de modo mais preciso as ações das “causas externas”. Além do mais, esse “modelo de análise” permitiu-lhe tratar de um outro tipo de movimento essencial em suas futuras investigações: o movimento circular (dos corpos). Naquele período de investigação, Newton empregou o termo “força” pela primeira vez, associando-o as “causas externas”. Ele a definiu como sendo “a pressão ou a compressão de um corpo sobre outro” e adiante, no Axioma 3, estabelece a proporcionalidade entre forca e a mudanca de movimento produzido por ela: “Se o corpo bacd adquire o movimento q pela força d, e o corpo f o movimento p pela força g, então d:q::g:p” (HERIVEL, 1965, pp. 138 e 150). A razão acima reúne do mesmo lado movimento (q e p) e força (d e g), denotando que Newton, como um bom geômetra euclidiano (que respeita o princípio da homogeneidade das grandezas dispostas em relação de proporcionalidade) e um bom cartesiano, não faz ainda nenhuma diferenciação entre tais propriedades da matéria: “força” é apenas uma maneira de falar, sendo ontologicamente idêntica ao movimento. No entanto, os termos irão mudar drasticamente depois do De Gravitatione.A presença desse modelo de análise no Waste Book tornar-se-á importante nas investigações que Newton realizará a respeito dos movimentos circulares e da atuação de uma forca, uma vez que nesse manuscrito ele explica as mudanças de movimento geradas pelas colisões dos corpos com base no pressuposto conceitual de que “causa externa” dessas mudanças deve ser chamada de “força ou poder capaz de impedir ou mudar a continuação dos corpos em seus estados” (HERIVEL, 1965, p. 156). O problema de determinar a medida do “conatus [tendência, esforço] dos corpos que giram para afastarem-se do centro de seus movimentos”, que Descartes tratou de investigar na Terceira Parte do Principia Philosophiae, tornou-se objeto de interesse de Newton entre os anos de 1665 a 1670. Em seu tratado, Descartes postula que os corpos tendem a afastarem-se dos centros, em torno dos quais são movidos circularmente, em decorrência da “segunda lei da natureza”, que estabelece a determinação retilínea de todos os movimentos realizados sem nenhum impedimento externo. 23 Descartes introduz essa noção em virtude do que ele mesmo afirma um pouco mais a frente: “Pois, esta é uma lei da natureza, que todos os corpos que se movem numa órbita, na medida em que dependem de si mesmos, afastam-se do centro de seus movimentos” (Art. 55, vers. latina-1982-p.108). Tal disposição dos corpos que giram para afastarem-se de seus respectivos centros, Descartes denominou de conatus recendendi a centro (esforço para afastar-se do centro). Segundo ele, esse esforço que surge nos corpos está intimamente ligado ao movimento ao qual foram submetidos e que produz seu efeito apenas se o corpo não for impedido de mover-se em linha reta por alguma outra causa. O objetivo de Descartes era identificar esse “esforço” que um corpo realiza para se afastar do centro com a “força de seu movimento”. O aspecto mais significativo dessa discussão promovida por Descartes, que impulsionará Newton poucos anos depois em suas pesquisas, é o problema de determinar quantitativamente a tendência dessa “força” presente nos corpos. O texto cartesiano sugere uma maneira pela qual se pode determinar a quantidade dessa “força” ao mencionar que quanto mais veloz uma pedra é girada por uma funda, mais retesada ficará a corda que a prende. A tensão originada apenas da força pela qual a pedra se esforça para se afastar do centro de seu movimento evidencia a quantidade dessa força (Art. 59, versão latina, 1982, p. 112). Figura 01 24 Ainda que Newton tenha se ocupado dessa discussão, ao ponto de considerar quase todas as possibilidade abertas por Descartes, ele não cuidará de seguir de modo rigoroso a sugestão referida acima; ao contrario disso, fará uma interessante adaptação do modelo das interações dos corpos nas colisões para o tratamento quantitativo do conatus a centro. É no próprio manuscrito, citado há pouco, que Newton faz as primeiras referências ao conatus recendendi a centro analisado por Descartes. No Axioma 20, ele afirma: “Se uma esfera oc [fig. 01] move-se circularmente sobre a superfície côncava de um corpo cilíndrico edf em torno do centro m, ela deverá pressionar def (...)” (HERIVEL, 1965, 147/8). Pois, quando a esfera oc está em c “a determinação do seu movimento é na direção de g” e, se o corpo edf cessasse de detê-la, “ela mover-se-ia continuamente na linha cg (pelos Axiomas 1 2) obliquamente a partir do centro m”. Deste modo, o corpo edf mantém a esfera oc eqüidistante do centro m em virtude de “um impedimento ou reflexão contínua dela a partir da linha tangente em todos os pontos do círculo cbh”. Portanto, segue-se aquilo que foi afirmado acima, pois “o corpo edf não pode impedir e encurvar a determinação do corpo oc, a menos que eles continuamente pressionem-se entre si” (Idem, p. 148). A demonstração do Axioma 20 torna-se ainda mais importante por se referir às noções utilizadas no tratamento das colisões: reflexão, impedimento e pressão; além dos próprios princípios que regulam os movimentos dos corpos nas colisões (Axiomas 1 e 2). O interessante é notar que Newton irá derivar desse modelo das colisões dos corpos o sentido físico das noções e princípios que emprega na análise dos movimentos circulares. É, pois, nesse sentido que ele apresenta o Axioma 21: “Portanto, isto mostra que todos os corpos movidos circularmente realizam um esforço (endeavour) a partir do centro em torno do qual são movidos; caso contrário, o corpo oc não pressionaria continuamente edf” (Idem). A “pressão” que o corpo oc exerce sobre o corpo edf, cuja resistência a esse conatus de oc impede seu movimento através da tangente cg, é a única e principal evidência para o conatus a centro que Descartes havia postulado. Após ter definido o significado físico desse “esforço”, o próximo passo será a tentativa de avaliá-lo quantitativamente. O Axioma 22 procura cumprir tal exigência: “a força total através da qual o corpo oc esforça-se a partir do centro m, na metade 25 de uma revolução, é de mais que o dobro da força capaz de gerar ou destruir seu movimento, isto é, mais que o dobro da força com a qual é movido” (Idem). O argumento acima tem sua importância dentro do contexto mencionado; no entanto, a medida “mais que o dobro” revela, de certo modo, a imprecisão nas análises que Newton realiza. O que ele apenas se limita a dizer é que a “metade” de uma revolução sendo a trajetória do corpo oc do ponto c até o ponto b passando pelo ponto h, e a “força capaz de gerar ou destruir seu movimento” (pelo Axioma 4) sendo a resistência do corpo edf, essa ao mesmo tempo em que destrói a força do corpo oc para afastar-se do centro m, gera nele uma tal quantidade de movimento capaz de movê-lo no sentido inverso de b para h. Contudo, o significado mais importante nessa primeira tentativa de Newton é o uso do princípio da proporcionalidade entre forca e mudança da quantidade de movimento, que está implícito no Axioma 23 e servirá para a realização das futuras análises do conatus a centro. Passado algum tempo desde os primeiros estudos, Newton introduziu novas proposições no Waste Book, que foram marcadas pela superação do “modelo” cartesiano de uma pedra girando ao ser impulsionada por uma funda (adaptado para uma esfera movendo-se no interior de uma superfície côncava) que influenciou as suas primeiras investigações. Nessa nova série de estudos, Newton concebeu uma esfera que percorre os lados de um quadrado inscrito num círculo, em torno do qual existe um outro quadrado circunscrito (figura 02). Figura 26 A passagem abaixo expressa a relação a ser demonstrada: (...) a força pela qual ela [a esfera] esforça-se a partir do centro n gerará tanto movimento em um corpo quanto existe em b no tempo em que o corpo b percorre a distancia do semidiâmetro bn (como b é movido com um grau de movimento através de bn em um segundo de uma hora, então a força a partir do centro n sendo continuamente (como a força da gravidade) imprimida sobre um corpo durante um segundo, gerará um grau de movimento nesse corpo). Ou, a força a partir de n está para a força dos movimentos dos corpos :: periferia : raio.” (HERIVEL, 1965, p. 129). Pois, se a esfera b move-se de a para b. Então 2fa:ab::ab:fa:: força ou pressão de b sobre fg para sua reflexão : força do movimento de b. Logo, “em uma revolução completa”, 4ab:fa:: força das reflexões em b, c, d, a: força do movimento de b. Ou seja, soma total das colisões nos 4 lados soma dos lados do quadrado = força do movimento da esfera raio do círculo Mas, se aumentarmos o número de lados do polígono circunscrito e, conseqüentemente, os lados de reflexão, até quando exista “um número infinitos de lados” iguais, podendo então ser tomado pelo próprio círculo, segue-se que “a força de todas asreflexões está para a força do movimento dos corpos assim como todos os lados (id est, o perímetro) estão para o raio”. (HERIVEL, 1965, p. 130). Dito de outro modo, se aplicarmos o resultado acima a qualquer polígono regular de “infinitos lados”, teremos: soma total das colisões em todos os lados soma de todos os lados do polígono = força do movimento da esfera raio do círculo 27 O raciocínio utilizado até aqui revela que, na passagem ao limite, a soma das forças das reflexões no polígono inscrito tende a zero e muda continuamente, tornando-se muito difícil atribuir-lhe qualquer sentido físico (Idem, p. 09). Newton adverte então que as “forças de todas as reflexões” realizadas no mesmo tempo em que a esfera b percorre no círculo uma distância igual ao raio do círculo, devem ser tomadas como aplicadas continuamente sobre um corpo, sendo capaz de gerar nele, no mesmo tempo, a mesma quantidade de movimento que a esfera b possui. Certamente Newton operou de modo intuitivo nessa altura dos seus estudos mecânicos, tratando de proceder das forças instantâneas pelas quais os corpos interagem nas colisões para as forcas continuas, ou seja, aquelas forças cujos efeitos devem ser avaliados com respeito ao tempo em que agem sobre os corpos. Tudo isso indica que Newton ainda não tinha a mesma consciência das implicações desse procedimento analítico que demonstra ter alcançado nos seus trabalhos posteriores, tal como acontecerá ao desenvolver um método para passar das forcas impulsivas para as forcas continuas que obviamente constituiu a base da sua teoria dinâmica no Principia Mathematica (1687). Mas um dos aspectos de singular importância é o fato de que a partir do Waste Book o “modelo” dessas forcas continuas é, para Newton, a forca da gravidade (que aparecerá mais tarde no Principia), cujos efeitos sobre os corpos na superfície da Terra certamente ele aprendeu a medir na mesma época em que desenvolvia seus estudos sobre o conatus a centro. - OS PRIMEIROS ESTUDOS SOBRE A DINÂMICA DOS MOVIMENTOS CIRCULARES Enquanto trabalhava com os principais problemas mecânicos apresentados por Descartes, Newton tomou contato com as teorias astronômicas mais importantes de sua época, nas quais figuravam autores como Copérnico, Kepler e Galileu. Observando as notas manuscritas de um período pouco anterior ao dos seus estudos mecânicos, intitulados Questiones Quaedam Philosophicae, vê-se que ele se introduziu nos problemas astronômicos de sua época a partir das leituras que fez da Astronomia Carolina (1661) de Thomas Street. Na Astronomia, Street apresenta as hypotheses copernicanaea (termo usado no século XVII para referir ao sistema copernicano modificado no qual se aplicavam a Primeira e a Terceira Leis de Kepler) 28 que Newton tomou conhecimento e pode, a partir dos dados da astronomia kepleriana, aplicar corretamente a “proporção sesquilátera” (2/3) entre os respectivos períodos de revolução e as distâncias médias dos planetas até o Sol, a ponto de afirmar, após o enunciado dessa proporção, que: Por exemplo, o período de revolução da Terra transformados em minutos de tempo sendo 525968½ e o de Marte, 989247½. Então, como o quadrado de 525968½ está para o quadrado de 989247½, assim também o cubo de 100000, a distância média da Terra, está para o cubo de 152369, a distancia média de Marte a partir do Sol. (McGUIERE eTAMNY, 1985, p. 362). Todavia, por mais que a passagem acima se refira à Terceira lei de Kepler, ela deve ser considerada apenas dentro de um contexto astronômico e não conduzindo às conclusões sobre os movimentos circulares, algo que Newton realizará algum tempo depois quando derivar a lei do inverso do quadrado das distancias para o conatus a centro dos planetas. No Vellum Manuscript, texto produzido nos anos de 1665/6, Newton relaciona a forca da gravidade terrestre com os conatus a centro que surgem dos movimentos diurno e anual da Terra. Os resultados obtidos nesse período não são tão precisos, mas revelam o problema a partir do qual ele desenvolveu os primeiros cálculos astronômicos. A conclusão apresentada no Vellum é que a “força da gravidade” terrestre é 300 vezes maior que a “força centrífuga” originada pelo movimento diurno da Terra “como 1:300::vis a centro terrae: vim gravitatis.” (HERIVEL, 1965, p. 185). Tudo indica que esta foi uma tentativa de responder a um dos argumentos difundidos contra o sistema copernicano, mostrando que a rotação da Terra não lança os corpos no ar porque a força da gravidade, medida pela aceleração da queda dos corpos, é maior que a força que surge a partir da rotação (cf. WESTFALL, 1980, p. 150). Pouco tempo depois do Waste Book, Newton substitui o “tratamento poligonal” pelo “tratamento desviacional”, que resultou em um retorno ao sentido original do conatus a centro de Descartes, desvinculando, assim, suas investigações dos movimentos circulares das noções derivadas das colisões entre os corpos. Essa última conduta de Newton liga-se ao fato de que ele passou a considerar com maior 29 freqüência as analogias entre o caráter continuo da “força da gravidade” e a ação do conatus a centro nos movimentos circulares uniformes (cf. HERIVEL, 1965, p. 12). Em um manuscrito (U.CL.MS Add. 3958.5) composto algum tempo depois do Vellum Manuscript, o conatus a centro será medido pela distância DB [figura 03] entre a trajetória circular AD e a trajetória inercial pela qual o corpo se desviará do círculo ADEA, se se movesse livremente na tangente AB no mesmo tempo em que percorre AD. Esse conatus, pela extensão da lei do quadrado do tempo de Galileu para qualquer força que produz uma aceleração contínua, “se somente impelisse continuamente uma linha reta à maneira da gravidade, impeliria os corpos através de espaços que são como o quadrado dos tempos”. (Idem, p. 193). Então, para que possa ser determinado o conatus a centro em uma revolução completa, deve-se procurar a linha que esteja para o tempo de uma revolução completa ADEA na mesma proporção em que a distância BD está para o tempo representado pelo arco AD, isto é, a distância x que satisfaz a seguinte proporção: x: ADEA2::BD:AD2 Pela Proposição 36 do Livro III dos Elementos de Euclides, temos que BE:BA::BA:BD E como a diferença entre BE e DE e entre BA e DA é suposta “ser infinitamente pequena”, então, DE:DA::DA:DB Logo, DA2 (ou DExDB): ADEA2::DB:ADEA2/DE A linha procurada é, portanto, “a terceira proporcional na razão da circunferência para o diâmetro”, isto é, (2πR)2/2R, ou, 2π2R. Figura 03. 30 A essa demonstração segue o Corolário que possibilitou as tentativas mais bem sucedidas de Newton de aplicar os resultados alcançados aos movimentos circulares da Terra e da Lua: Daí os conatus a centris nos diversos círculos são como os diâmetros divididos pelos quadrados dos tempos de revolução, ou como os diâmetros multiplicados pelo [quadrado] número de revoluções feitas no mesmo tempo qualquer que seja este. (HERIVEL, 1965, p. 194). Newton deriva a regra do conatus a centro “D/T2” (onde D é a distância, e T o tempo) pela aplicação da lei do quadrado do tempo de Galileu para a distância que o corpo se move sob a ação de uma força constante; pois, se no tempo T de uma revolução completa, o conatus move um corpo à distância 2π2R, ele moverá o corpo à distância 2π2R/T2 numa unidade de tempo (Idem: 12, 198 nota 6). Inicialmente, nesse novo passo, Newton utilizará o resultado acima exposto numa tentativa de solucionar o problema que encontrou no Dialogo de Galileu5, calculando a distância que o conatus a centro no equador terrestre, provocado pelo movimento diurno da Terra, impeliria um corpo se fosse tanto quanto é o “esforço para aproximar-se do centro [da Terra] em virtude da gravidade” (conatus accedendiad centrun virtute gravitates). Considerando que a unidade de tempo é um “dia periódico”, ou uma revolução completa da Terra, pela proposição provada anteriormente, o conatus a centro no equador terrestre impeliria um corpo por 2π2R, ou “19¾ semidiâmetros terrestre ou 69.087 milhas. Em uma hora, por 120 milhas; em um minuto, por 500/3 pés (1/30 milhas); em um segundo, 5/108 pés.” (HERIVEL, 1965, p. 194). Logo à frente, Newton comparará esse resultado com a medida da distância (16 pés por segundo) que realmente a “força da gravidade” (vis gravitatis) impele os corpos para baixo: “em torno de 350 vezes mais longe no mesmo tempo que o esforço a partir do centro”, e conclui que “a força da gravidade é muitas vezes maior, de tal modo que 5 Newton tomou conhecimento de vários problemas apresentados por Galileu ao ler sua obra através da edição de Thomas Salusbury (The Systeme of the World in four Dialogues. By Galileus Galileus, 1661). Provavelmente essa foi a única obra de Galileu que ele conheceu antes de escrever o Principia (Cf. COHEN, 1980, p. 133 e p. 319 nota 11; WESTFALL, 1971, p. 47 nota 3). 31 não permite que a Terra girando faça os corpos afastarem-se e lançarem-se no ar.” (Idem). O passo seguinte será comparar a forca da gravidade com o conatus da Lua para afastar-se a partir do centro da Terra. Tal relação é introduzida logo em seguida ao Corolário I onde enuncia a regra “D/T²”. Como o tempo de revolução completa da Lua é de “27 dias, 7 horas e 43 minutos, ou 27, 3216 dias (cujo quadrado será 746½)” e “está distante da Terra 59 a 60 semidiâmetros da Terra”, então, pela segunda parte do Corolário exposto há pouco (“os conatus... são... como os diâmetros multiplicados pelo [quadrado do] número de revoluções...”), a proporção entre “os conatus da Lua e da superfície da Terra para afastarem-se do centro da Terra” é: 60 x 1² , 1 x 27, 3216² ou “60 para 746½”. Logo, considerando que o conatus no equador da Terra é 12½ (isto é, 746/60) vezes maior que o conatus da Lua e 350 vezes menor que a força da gravidade, a força da gravidade “é mais de 4000 vezes maior que o conatus da Lua para afastar-se do centro da Terra.” (HERIVEL, 1965, p. 194). Em seguida, Newton estabelece as proporções entre o conatus da Terra para afastar-se do Sol (devido ao seu movimento anual) e o conatus na superfície da Terra no equador (devido ao seu movimento diurno), e entre aquele e a gravidade na superfície da Terra. Ao calcular essas proporções, ele conclui: “Por fim, como nos Planetas primários os cubos das distâncias do Sol estão reciprocamente como o quadrado do número de revoluções num dado tempo: os esforcos [conatus] para afastarem-se do Sol estarão reciprocamente como o quadrado da distância a partir do Sol.” (HERIVEL,1965, p. 195). O raciocínio empregado acima considera que a Terceira Lei de Kepler implica a lei do inverso do quadrado da distância para os “esforços [dos Planetas] para afastarem-se do Sol”. Analisada a partir de um ponto de vista matemático, a implicação torna-se evidente, pois sendo C o conatus recedendi a centro, D a distância e T o período de revolução, então, se C D/T2 e T2 D3, logo C 1/D2. 32 Comparado com o Principia Mathematica, os resultados alcançados por Newton aqui são bem significativos. O manuscrito citado há pouco (U.C.L.MS Add. 3958.5, folios 87, 89), que contém a regra “1/D2” para o conatus centrífugo, não traz qualquer referência a este respeito, mas indiretamente nos leva a pensar que tais acontecimentos teriam ocorrido tão logo Newton encontrou essa regra. Como vimos, Newton inferiu através da regra “D/T2” que a “força da gravidade é mais de 4000 vezes [precisamente, 350 x 12 12 = 4375 vezes] maior que o conatus da Lua para afastar-se do centro da Terra”. Por outro lado, esse resultado é um tanto diferente do valor teórico fornecido pela regra “1/D2”, ou seja, que a razão entre o conatus da Lua e a força da gravidade na superfície da terra é a razão inversa do quadrado da distância da ua ao centro da Terra para o quadrado do raio da Terra. Assumindo que a distância entre a Lua e o centro da Terra é igual a 60 raios da Terra, a força da gravidade é 3600 vezes maior que o conatus centrífugo da Lua. Portanto, uma diferença de aproximadamente 25% em relação ao resultado anterior. Essa diferença deveu-se ao fato de Newton ter assumido o valor de 3500 milhas italianas para o raio da Terra. Mas, se tomarmos essa medida como sendo de 4000 milhas (inglesas), pela regra “2π2R” teremos que o conatus centrífugo na superfície da Terra será 286,72 vezes maior que a força da gravidade. Então, a força da gravidade será 3584 vezes maior que o conatus centrífugo da Lua. Algo que se aproxima bastante do valor teórico de 3600 vezes. No entanto, Newton não percebeu imediatamente o erro que cometera nem há qualquer evidência no manuscrito supracitado de que ele tenha feito essa “comparação” dos resultados obtidos pelas duas regras e, portanto, constatado a diferença entre eles. Todos esses fatos fornecem indícios de que Newton, nessa época, não poderia jamais ter cogitado a idéia de uma “força” (centrípeta, atrativa) agindo sobre a Lua e continuamente equilibrando com sua tendência centrífuga. É somente após suas correspondências com Robert Hooke (1679/80) que surgem em seus escritos as primeiras referências a forcas centrais atrativas, mas, antes disso, qualquer referência sobre as forças centrais não ultrapassam os limites conceituais do conatus recedendi a centro de Descartes. Nesse sentido, a “comparação” feita no manuscrito analisado acima não é exatamente entre “a força necessária para manter 33 a Lua em sua órbita” e a forca da gravidade na superfície da Terra, mas entre esta e o conatus da Lua para afastar-se do centro da Terra. A própria derivação da regra “1/D2” indica que ela se aplicava apenas aos efeitos dos conatus a centro nos movimentos circulares dos planetas. E mesmo considerando que Newton, ao estendê-la para o conatus centrífugo da Lua, constatou a diferença com o cálculo feito anteriormente, nada indicaria que ele passou a considerar que outra causa além da gravidade seria a responsável pela manutenção da Lua em sua órbita, mesmo porque tal questão nem tinha sido colocada em suas investigações astronômicas dessa época. A simples referência aos vortices de Descartes fornece dados importantes para deixarmos de acreditar em qualquer possibilidade de Newton ter em mente uma noção próxima do conceito de gravitação universal que postulará no Principia Mathematica. 34 UNIDADE 06 - UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA SOBRE A ÁREA DE PESQUISA “FÍSICA MODERNA E CONTEMPORÂNEA NO ENSINO MÉDIO”: artigo (A review on the “Modern and Contemporary Physics at High School” research area) Fernanda Ostermann [fernanda@if.ufrgs.br] Marco Antonio Moreira [moreira@if.ufrgs.br] Instituto de Física - Universidade Federal do Rio Grande do Sul C.P 15051 - 91501-970 Porto Alegre, RS Resumo Neste trabalho é apresentada uma revisão da literatura sobre a linha de pesquisa “Física Moderna e Contemporânea (FMC) no ensino médio” realizada com consulta a artigos em revistas, livros didáticos, dissertações, teses, projetos e navegações pela internet, que abordam essa questão. A pesquisa concentrou-se em publicações direcionadas ao ensino da Física e engloba os primeiros trabalhos publicados nessa linha (final da década de 70). Os trabalhos encontrados foram classificados em seis grandes grupos. Foi possível verificar, por exemplo, que há uma grande concentração de publicações que apresentam temas de FMC, em forma de divulgação, ou como bibliografia de consulta para professores do ensino médio. Por outro lado, existe uma escassez de trabalhos sobre concepções alternativas de estudantes acerca de tópicos de FMC, bem como pesquisas que relatampropostas testadas em sala de aula com apresentação de resultados de aprendizagem. Palavras-chave: Física no ensino médio, Física Moderna e Contemporânea. 6.1- INTRODUÇÃO A presente revisão envolveu consulta a artigos em revistas, livros didáticos, dissertações, teses, projetos e navegações pela Internet, que abordam a questão da Física Moderna e Contemporânea (FMC) no ensino médio. A pesquisa concentrou- se em publicações direcionadas ao ensino da Física e foi um importante subsídio para o desenvolvimento de uma pesquisa sobre o tema (Ostermann, 1999, 2000; mailto:fernanda@if.ufrgs.br mailto:fernanda@if.ufrgs.br mailto:moreira@if.ufrgs.br 35 Ostermann e Cavalcanti, 1999; Ostermann e Moreira, 1998, 1999; Ostermann et al, 1998 a e b). Os seguintes aspectos foram destacados nas referências consultadas: justificativas para a inserção de Física Moderna e Contemporânea (FMC) no ensino médio; questões metodológicas, epistemológicas, históricas referentes ao ensino de FMC; estratégias de ensino e currículos; concepções alternativas dos estudantes acerca de tópicos de FMC; temas de FMC apresentados como divulgação ou como bibliografia de consulta para professores de nível médio; propostas testadas em sala de aula com apresentação de resultados de aprendizagem; livros didáticos de nível médio que inserem temas de FMC. Nos Estados Unidos e, provavelmente, em nível internacional, a preocupação com o ensino de FMC nas escolas e nos cursos universitários introdutórios começou, ou intensificou-se, com a “Conferência sobre o Ensino de Física Moderna”, realizada no Fermi National Accelerator Laboratory, Batavia, Illinois, em abril de 1986, na qual, aproximadamente, 100 professores interagiram com cerca de 15 físicos. O objetivo específico da conferência era promover a abordagem de tópicos de pesquisa em Física, em especial Física de Partículas e Cosmologia, no ensino médio e em cursos introdutórios de graduação (AUBRECHT, 1986). - JUSTIFICATIVAS Para Terrazzan (1992,1994), a tendência de atualizar-se o currículo de Física justifica-se pela influência crescente dos conteúdos contemporâneos para o entendimento do mundo criado pelo homem atual, bem como a necessidade de formar um cidadão consciente e participativo que atue nesse mesmo mundo. Na III Conferência Interamericana sobre Educação em Física (BAROJAS, 1988), foi organizado um grupo de trabalho para discutir o ensino de Física 36 Moderna. Na discussão, foram levantadas inúmeras razões para a introdução de tópicos contemporâneos na escola média. Dentre elas destacam-se: despertar a curiosidade dos estudantes e ajudá-los a reconhecer a Física como um empreendimento humano e, portanto, mais próxima a eles; os estudantes não têm contato com o excitante mundo da pesquisa atual em Física, pois não vêem nenhuma Física além de 1900. Esta situação é inaceitável em um século no qual idéias revolucionárias mudaram a ciência totalmente; é do maior interesse atrair jovens para a carreira científica. Serão eles os futuros pesquisadores e professores de Física; é mais divertido para o professor ensinar tópicos que são novos. O entusiasmo pelo ensino deriva do entusiasmo que se tem em relação ao material didático utilizado e de mudanças estimulantes no conteúdo do curso. É importante não desprezar os efeitos que o entusiasmo tem sobre o bom ensino; Física Moderna é considerada conceitualmente difícil e abstrata; mas, resultados de pesquisa em ensino de Física têm mostrado que, além da Física Clássica ser também abstrata, os estudantes apresentam sérias dificuldades conceituais para compreendê-la. Stannard (1990) justifica a atualização curricular ao relatar um levantamento feito com estudantes universitários que mostrou que é a Física Moderna - relatividade restrita, partículas elementares, teoria quântica, astrofísica - que mais os influencia na decisão de escolher Física como carreira. Em outro estudo, com o objetivo de preparar um livro introdutório sobre relatividade geral, o autor entrevistou 250 crianças de cerca de 12 anos para saber o que elas conheciam sobre tópicos relevantes ao assunto (gravidade, aceleração). Surpreendentemente, encontrou que um terço já havia ouvido falar em buracos negros e tinha uma vaga idéia do que se tratava. Um número razoável relacionava Big Bang com origem do universo. Elas mostraram-se intrigadas por estes tópicos e desejavam saber mais a respeito. O que sabiam, haviam aprendido pela televisão e através de filmes de ficção científica (e não sabiam que tais idéias interessantes vêm “sob o rótulo” de Física). Stannard, ao analisar os currículos secundários de Física, critica-os por darem a impressão de terem sido escritos há cem anos (como se nada tivesse 37 ocorrido na Física deste século). O autor sugere que sejam escritos livros e textos com abordagens inovadoras de FMC como forma de encorajar a revisão curricular. Torre (1998a) enuncia várias razões para justificar a necessidade de ensinar FMC na escola: conectar o estudante com sua própria história; protegê-lo do obscurantismo, das pseudociências e das charlatanias pós- modernas; que o aluno possa localizar corretamente o ser humano na escala temporal e espacial da natureza; FMC possui múltiplas e evidentes conseqüências tecnológicas; por sua beleza, pelo prazer do conhecimento, porque é uma parte inseparável da cultura, porque o saber nos faz livres e valoriza a humanidade. Gil et al. (1987) acreditam que o ensino de FMC a alunos secundaristas se reveste de grande importância, uma vez que a introdução de conceitos atuais de Física pode contribuir para dar uma imagem mais correta desta ciência e da própria natureza do trabalho científico. Esta imagem deve superar a visão linear, puramente cumulativa do desenvolvimento científico. Paulo (1997) considera pertinente a introdução de FMC no ensino médio, visto que esta faz parte do cotidiano da sociedade contemporânea. Ao ter noções de tópicos de FMC, o aluno dará sentido à Física, fazendo relações com o mundo que o cerca. Acredita, também, que a introdução da FMC no currículo das escolas pode proporcionar a superação de certas barreiras epistemológicas fundamentais para o conhecimento do indivíduo sobre a natureza. Para esse autor, o entendimento de FMC fará o indivíduo ter uma capacidade cognitiva maior. Eijkelhof et al. (1984) defendem que o tema “armas nucleares” seja ensinado nas aulas de Física do ensino secundário, considerando que o objetivo central é que os estudantes possam ter um maior entendimento acerca do debate público que acontece em torno desta questão. Aubrecht (1989) justifica a necessidade da atualização curricular nas escolas, nos “colleges” e nas universidades norte- americanas, atestando a existência de uma dicotomia, proposta por dois físicos da Universidade de Maryland: 38 se um físico do século XIX fosse solicitado a ensinar Física em um nível introdutório usando um texto atual, ele o faria sem grandes dificuldades. Mas se este mesmo físico tentasse ler Physical Review Letters ou Physical Review ou falar sobre pesquisas atuais de Física, isto seria impossível para ele. Em um estudo feito em 1964, comparando textos desta época com um de 1850, encontrou-se pouca diferença entre eles quanto à organização de conteúdos (op. cit., 1989). Aubrecht (ibid.) também comenta que a introdução de aspectos de FMC nos cursos de Física pode servir para renovar o ensino. O uso de tópicos de FMC pode permitir que o professor mantenha ou até mesmo desperte o interesse pelas ciências que as crianças trazem para a escola. Kalmus (1992) relata um levantamento feito, no ano de 1984, junto a calouros de Física. Através de um questionário (enviado a todos os departamentos de Física do Reino Unido)os estudantes foram solicitados a listar, em ordem de preferência, três tópicos que mais os influenciaram na escolha pela carreira de físico. Os três tópicos mais listados foram: relatividade, astronomia e partículas elementares, isto é, temas de FMC. Wilson (1992), que leciona em escolas londrinas no nível A (A-Level)6 , temas de FMC ressalta a importância da inclusão de tópicos “up to the minute” nas escolas. O entusiasmo dos estudantes em aprender, na própria escola, assuntos que lêem em revistas de divulgação ou em jornais justifica, definitivamente, a necessidade da atualização curricular, segundo o autor. Além disso, FMC pode ser instigante para os jovens, pois não significa somente estudar o trabalho de cientistas que viveram centenas de anos atrás, mas também assistir cientistas falando na televisão sobre seus experimentos e expectativas para o futuro. Estudar problemas conceituais existentes na FMC envolve os estudantes nos desafios filosóficos de alguns aspectos da Física. O fato de que nem tudo, no mundo científico, é sabido ou entendido, modifica a idéia que os estudantes em geral têm de Física - um assunto que é uma “massa” de conhecimentos e fatos, um livro fechado. Ou são mostrados 6 “A-Level” é um curso pré-universitário dirigido a estudantes entre 16 e 18 anos. 39 aos alunos os desafios a serem enfrentados pela Física no futuro, ou eles não serão encorajados a seguir carreiras científicas. Wilson concorda com Stannard (1990), Aubrecht (1989) e Kalmus (1992) quanto ao interesse que assuntos de FMC nas escolas podem provocar nos alunos, acabando por atraí-los para as carreiras de Física. Swinbank (1992) comenta que temas como Física de Partículas e Cosmologia despertam interesse nos jovens e pergunta qual professor que nunca foi solicitado a “explicar” quarks e a expansão do universo. Pereira (1997) coloca que o mundo contemporâneo é altamente tecnológico e que para compreendê-lo é função da escola, principalmente dos programas de Ciências Naturais e Sociais e de Física, Química e Biologia, incluir no seu currículo os assuntos relevantes para a formação de um cidadão esclarecido sobre o que o cerca. Uma pessoa que é capaz de tomar suas decisões, assim como desempenhar sua função social e econômica de forma condizente com a época em que vive. Em uma pesquisa realizada pelo Museu de Astronomia e Ciências Afins do CNPq, em 1988, sobre a imagem da ciência e da tecnologia junto à população urbana brasileira (27 perguntas do tipo aberto respondidas por 2892 pessoas de todas as regiões urbanas brasileiras), verificou-se, por exemplo, que 25% acreditavam que uma usina nuclear só serve para fabricar bomba atômica e 21% não acreditavam ainda que o homem já conseguiu chegar à lua (idem). Esses resultados, para Pereira (1997), ilustram a desinformação da população brasileira e reforçam a necessidade da inserção de tópicos relacionados à Física Contemporânea nos currículos escolares. Valadares e Moreira (1998) também concordam que é imprescindível que o estudante do ensino médio conheça os fundamentos da tecnologia atual, já que ela atua diretamente em sua vida e pode definir seu futuro profissional. É importante a introdução de conceitos básicos de FMC e, em especial, fazer a ponte entre a física da sala de aula e a física do cotidiano. Por outro lado, Laburú et al. (1998) ressaltam, de uma forma irônica, que “devem os alunos secundaristas estudar FMC do século XX, antes que ela acabe”. 40 Carvalho et al (1999) apresentam o papel da Mecânica Quântica na cultura científica, tecnológica e filosófica do século XX como justificativa para sua introdução no ensino médio. Assim, pode-se constatar que há muitas justificativas na literatura que nos permitem lançar uma hipótese: há uma tendência nacional e internacional de atualização dos currículos de Física e muitas justificativas para tal. No entanto, como veremos a seguir, ainda é reduzido o número de trabalhos publicados que encaram a problemática sob a ótica do ensino e, mais ainda, os que buscam colocar, em sala de aula, propostas de atualização. - QUESTÕES METODOLÓGICAS, EPISTEMOLÓGICAS, HISTÓRICAS, REFERENTES AO ENSINO DE FMC; ESTRATÉGIAS DE ENSINO E CURRÍCULOS A grosso modo, têm sido consideradas três vertentes representativas de abordagens metodológicas para a introdução de FMC no ensino médio: exploração dos limites dos modelos clássicos; não utilização de referências aos modelos clássicos; escolha de tópicos essenciais (e.g., Alvetti e Delizoicov, 1998; Terrazzan, 1994; Pereira, 1997; Camargo, 1996; Paulo, 1997). - As três vertentes principais A primeira vertente - exploração dos limites clássicos - deve-se aos trabalhos de Gil e Solbes da Universidade de Valência, Espanha. Estes autores, em um de seus trabalhos (Gil et al., 1988), mostram, a partir de uma análise de 42 livros didáticos de Física da Espanha, que a maioria destes não fazia nenhuma referência: ao caráter não linear do desenvolvimento científico; às dificuldades que originaram a crise da Física Clássica; às profundas diferenças conceituais entre a Física Clássica e a Moderna. Para os autores, esta visão simplista com que a Física Moderna é ensinada nas escolas provoca sérias concepções alternativas. Através de um questionário respondido por 536 alunos, entre 16 e 18 anos, eles verificaram que a grande maioria ignorava a existência de uma crise no desenvolvimento da Física Clássica, 41 desconhecia a diferença entre Física Moderna e Clássica e apresentava uma série de confusões conceituais sobre questões acerca da dualidade onda-partícula, equação de Einstein (E = mc2), partícula elementar. Gil e Solbes (1993) sugerem, então, uma abordagem construtivista para o ensino de FMC na qual a orientação tradicional de ensino-aprendizagem, que enfatiza a simples transmissão/recepção de conhecimento, é substituída por um currículo que envolve os alunos em “atividades” e os coloca em situações problemáticas através das quais o conhecimento pode ser (re)construído. Os conceitos de FMC foram introduzidos tendo-se como referencial um modelo construtivista de ensino-aprendizagem na perspectiva da mudança conceitual e metodológica (Gil e Solbes, 1993; Gil et al., 1987; Solbes et al., 1987). As quatro primeiras atividades, que constituem a introdução ao programa completo, envolveram: 1. revisão das principais contribuições da Física Clássica; 2. formação de uma imagem do conceito de matéria compatível com a Física Clássica; 3. reconhecimento de que a Física é uma construção e que pode não resolver alguns problemas relevantes. Reconhecimento, ao mesmo tempo, que a física pré- galileana foi substituída pelo novo paradigma clássico; 4. concepção da Física Clássica como um corpo coerente de conhecimentos que consegue explicar quase todos os fenômenos conhecidos no século XIX, falhando em uns poucos casos. Enumeração destes problemas não resolvidos. O programa completo de atividades foi aplicado em 180 alunos (entre 16 e 18 anos) e os resultados obtidos foram satisfatórios (GIL et al., 1988). Também nessa vertente metodológica, Carvalho et al (1999) defendem a exploração dos limites clássicos como estratégia para a introdução dos novos tópicos, e apresentam resultados de experiência didática implementada. A segunda vertente - não utilização de referências aos modelos clássicos - é atribuída às pesquisas de Fischler e Lichtfeldt da Universidade Livre de Berlim, Alemanha. Em grande parte como oposição à corrente anterior, Fischler e Lichtfeldt (1992) consideram que a aprendizagem de Física Moderna é dificultada porque o ensino, freqüentemente, usa analogias clássicas. Por exemplo, o átomo de Bohr, 42 uma vez aprendido, passa a ser um obstáculo para o entendimento de idéias modernas. Uma nova concepção de abordagem
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