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Autora: Profa. Vânia Cristina Lamônica Colaboradoras: Profa. Mônica Teixeira Profa. Carolina Kurashima Nutrição Integrada Professora conteudista: Vânia Cristina Lamônica Nutricionista graduada pela Unisagrado de Bauru em 1985. Mestrado concluído em 2006 e doutorado, em 2013, ambos pelo Programa de Bases Gerais da Cirurgia da Faculdade de Medicina de Botucatu – Unesp, Botucatu/SP (FMB-Unesp). Possui os cursos de Especialização em Administração de Serviços de Alimentação e Nutrição (Unisagrado-1985), Especialização em Cuidados Nutricionais do Paciente Hospitalizado (FMB-UNESP-2003) e Especialização em Formação de Professores para o Ensino Superior (UNIP-2016). Atualmente, é professora titular da Universidade Paulista. © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) L324n Lamônica, Vânia Cristina. Nutrição Integrada / Vânia Cristina Lamônica. – São Paulo: Editora Sol, 2022. 112 p., il. Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ISSN 1517-9230. 1. Nutrição clínica. 2. Estudo de caso. 3. Avaliação. I. Título. CDU 613.2 U514.04 – 22 Prof. Dr. João Carlos Di Genio Reitor Profa. Sandra Miessa Reitora em Exercício Profa. Dra. Marilia Ancona Lopez Vice-Reitora de Graduação Profa. Dra. Marina Ancona Lopez Soligo Vice-Reitora de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Claudia Meucci Andreatini Vice-Reitora de Administração Prof. Dr. Paschoal Laercio Armonia Vice-Reitor de Extensão Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento e Finanças Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora de Unidades do Interior Unip Interativa Profa. Elisabete Brihy Prof. Marcelo Vannini Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Prof. Ivan Daliberto Frugoli Material Didático Comissão editorial: Profa. Dra. Christiane Mazur Doi Profa. Dra. Angélica L. Carlini Profa. Dra. Ronilda Ribeiro Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista Profa. Deise Alcantara Carreiro Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Aline Ricciardi Lucas Ricardi Sumário Nutrição Integrada APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................8 Unidade I 1 UNIDADE DE NUTRIÇÃO E ALIMENTAÇÃO ...............................................................................................9 1.1 Estudo de caso – UAN. Temas para discussão: dimensionamento de pessoal; jornada de trabalho; dimensionamento físico; ergonomia; legislação ....................................9 1.2 Estudo de caso – UAN. Temas para discussão: segurança alimentar (higiene e legislação, Manual de Boas Práticas); sistema APPCC ............................................ 16 1.3 Estudo de caso – UAN. Temas para discussão: gestão de UAN (planejamento de cardápios, compras, estoque, contabilidade de custos); PAT; sustentabilidade na produção de refeições coletivas ................................................................... 21 2 NUTRIÇÃO CLÍNICA DA GESTANTE, DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE ..................................... 26 2.1 Estudo de caso – nutrição clínica. Temas para discussão: avaliação e diagnóstico nutricional de gestantes; orientação/conduta nutricional para gestantes com desnutrição, eutróficas, com sobrepeso e obesas; recomendação e suplementação de macro/micronutrientes para essa população (DRIs, indicações, biodisponibilidade) ........... 26 2.2 Estudo de caso – nutrição clínica. Temas para discussão: avaliação nutricional e diagnóstico de crianças (lactentes, fase escolar, adolescentes); orientação/conduta nutricional para crianças com desnutrição, eutróficas, com sobrepeso e obesas; suplementação de micronutrientes para essa população (indicações, doses e biodisponibilidade); programas de saúde para essa população ................................................... 32 3 NUTRIÇÃO CLÍNICA DO ADULTO E DO IDOSO ...................................................................................... 39 3.1 Estudo de caso – nutrição clínica. Temas para discussão: avaliação e diagnóstico nutricional de adultos (homens e mulheres); orientação/conduta nutricional para adultos desnutridos, eutróficos, com sobrepeso e obesos; conduta nutricional para as doenças crônicas não transmissíveis (DCNT); suplementação de micronutrientes para essa população (indicações, doses e biodisponibilidade); programas de saúde para essa população ....................................................................................................................................................... 39 3.2 Estudo de caso – nutrição clínica. Temas para discussão: avaliação e diagnóstico nutricional de idosos; orientação/conduta nutricional para idosos desnutridos, eutróficos, com sobrepeso e obesos; conduta nutricional para as doenças relacionadas ao envelhecimento; suplementação de micronutrientes para essa população (indicações, doses e biodisponibilidade); programas de saúde para essa população ............... 45 4 NUTRIÇÃO CLÍNICA PARA PACIENTES CRÍTICOS ................................................................................ 49 4.1 Estudo de caso – nutrição clínica. Temas para discussão: equipe de terapia nutricional hospitalar. Avaliação e diagnóstico nutricional de pacientes críticos; prescrição dietética para doenças do trato digestório, trato pulmonar, sistema endócrino e renal, casos cirúrgicos, doenças imunossupressoras (câncer e quimio/radioterapia), nutrição enteral e parenteral ...................................................................................................................... 49 Unidade II 5 NUTRIÇÃO EM SAÚDE PÚBLICA: DA FOME À TRANSIÇÃO NUTRICIONAL ............................... 59 5.1 Estudo de caso – saúde pública. Temas para discussão: doenças crônicas não transmissíveis – DCNT (panorama brasileiro); transição nutricional; programas de saúde pública de suplementação de nutricional (legislação, indicação, procedimentos) ....... 59 5.2 Estudo de caso – saúde pública. Temas para discussão: programas de saúde pública pertinentes ao combate à fome (programas de segurança alimentar e nutricional) ............... 65 6 NUTRIÇÃO NA ATENÇÃO PRIMÁRIA DA SAÚDE ................................................................................. 69 6.1 Estudo de caso – saúde pública. Temas para discussão: atuação do nutricionista na atenção primária da saúde (SUS, gestão de programas de saúde pública) ................... 69 6.2 Estudo de caso – saúde pública. Temas para discussão: atenção nutricional em serviços públicos na síndrome metabólica: obesidade, hipertensão, dislipidemias, diabetes mellitus (avaliação, conduta, recomendação nutricional, educação nutricional); programas de saúde para essa população................................................................... 73 6.3 Estudo de caso – saúde pública. Temas para discussão: atenção nutricional em serviços públicos para gestantes, nutrizes e lactentes (recomendação nutricional, educação nutricional); programas de saúde para essa população .......................................... 77 7 NUTRIÇÃO ESCOLAR ...................................................................................................................................... 83 7.1 Estudo de caso – temas para discussão: atenção nutricional na merenda escolar (planejamento de cardápio, sistema de compras, treinamento de merendeiras), recomendação nutricional e educação nutricional para crianças em fase escolar; legislaçãoatual............................................................................................................................................... 83 8 NUTRIÇÃO NO ESPORTE ............................................................................................................................... 88 8.1 Estudo de caso – nutrição esportiva. Temas para discussão: avaliação e orientação/conduta nutricional para o atleta e o desportista amador; suplementação de nutrientes ................................................................................................................. 88 7 APRESENTAÇÃO Esta disciplina promove a integração e correlação técnico-científica das disciplinas do curso de Nutrição e o desenvolvimento de habilidades para a atuação prática do profissional, possibilitando-o atuar de forma global, interdisciplinar e multiprofissionalmente. Ela tem por objetivos promover a percepção crítica do aluno para a atuação do nutricionista em todas as áreas da nutrição e formar um profissional com autonomia intelectual, que facilite sua inclusão profissional e/ou acadêmica no mercado. Para tanto, pretende-se: • capacitar o aluno para identificar e atuar na promoção, proteção e recuperação da saúde de indivíduos e coletividades, integrando as diversas áreas das ciências; • propiciar a integração multidisciplinar, bem como o trabalho interdisciplinar e transdisciplinar; • habilitar o aluno na aprendizagem do reconhecimento de doenças nutricionais; • revisar o papel do nutricionista no interior da política nacional de saúde. • aplicar a prática dos conhecimentos teóricos e habilidades adquiridas nas disciplinas relacionadas à administração em Unidades de Alimentação e Nutrição (UANs), capacitando o aluno para a atuação em todas as etapas envolvidas na administração dos diferentes tipos de UANs; • rever e aplicar conhecimentos sobre a constituição e propriedades dos alimentos e seu aproveitamento no organismo humano; • aprimorar as habilidades de percepção das linguagens envolvidas na leitura. A disciplina trabalha as competências necessárias para a prática do nutricionista com a integração interdisciplinar e multiprofissional nas principais áreas de atuação: • planejar, organizar, dirigir, supervisionar e avaliar os serviços de alimentação e nutrição, dimensionando equipes profissionais, espaço físico e ergonomia em UAN; • prestar assistência nutricional e dietoterápica; • promover educação nutricional; • planejar, coordenar, supervisionar e avaliar estudos dietéticos; • prescrever suplementos nutricionais; • solicitar exames laboratoriais; 8 • prestar assistência e treinamento especializado em alimentação e nutrição às coletividades e a indivíduos, sadios e enfermos, em instituições públicas e privadas, em consultório de nutrição e dietética e em domicílio; • conhecer e atuar em programas de saúde pública pertinentes ao combate à fome, atenção primária da saúde, programas de saúde para as diversas populações e alimentação escolar. INTRODUÇÃO Este livro-texto tem a intenção de contribuir de forma qualitativa com a formação do graduando em Nutrição. O objetivo principal é que o aluno tenha acesso a estudos de caso comentados que contribuam para integrar os diversos conteúdos trabalhados durante as aulas teóricas, favorecendo a construção do conhecimento pleno. A discussão se inicia com conceitos aprendidos sobre gerenciamento de UANs, tais como dimensionamento de pessoal e físico, jornada de trabalho, planejamento de cardápios e outras atividades pertinentes a essa área de atuação. A gestão de unidades de alimentação é uma atividade dinâmica que envolve conceitos de outras áreas do saber, como administração e gestão de recursos humanos, podendo ser cozinhas destinadas para uma coletividade específica, como restaurantes industriais e hospitais, bem como para cozinhas de restaurantes comerciais. Em seguida, serão trabalhados conceitos importantes para a condução de avaliação, o diagnóstico e a orientação nutricional para as diversas fases da vida e doenças mais comuns, ressaltando a participação do nutricionista na equipe de terapia nutricional nos hospitais e na prescrição e monitoramento de pacientes com nutrição enteral e parenteral. Posteriormente, serão apresentados os conceitos sobre a atuação do nutricionista em saúde pública com foco na atenção primária básica e os diversos programas de saúde para o enfrentamento das doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) no Brasil nas diversas fases da vida. Finalizando, serão abordados conceitos que envolvem avaliação e conduta nutricional para atletas e desportos, uma atividade do nutricionista em evidência no Brasil e no mundo. Espera-se que ao final do livro-texto, o aluno consiga integrar os diversos conceitos da ciência da nutrição para o desenvolvimento de sua atividade laboral de forma segura e eficaz. 9 NUTRIÇÃO INTEGRADA Unidade I 1 UNIDADE DE NUTRIÇÃO E ALIMENTAÇÃO Organizar e administrar uma UAN é uma atividade que requer esforço colaborativo com interesses comuns, para que os objetivos da empresa sejam atingidos com eficácia e economia de ação e recursos. Esse conceito é aplicável em qualquer tipo ou tamanho de organização, seja ela industrial ou prestadora de serviços. Dependendo do quadro de pessoal e da distribuição de tarefas, o nutricionista responsável técnico de uma UAN poderá definir, eficientemente, as necessidades nutricionais de sua clientela, estabelecer padrões, planejar cardápios, analisar índices de aceitação e sobras, enfim, executar atividades técnicas pertinentes ao cargo (TEIXEIRA et al., 2007). Os estudos de caso 1.1, 1.2 e 1.3 abordam conceitos sobre a área de conhecimento em gestão de UAN. 1.1 Estudo de caso – UAN. Temas para discussão: dimensionamento de pessoal; jornada de trabalho; dimensionamento físico; ergonomia; legislação Caso: você foi contratado para planejar e administrar uma UAN para uma empresa que pretende aderir ao Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT). A empresa fabrica peças automotivas e tem por objetivo estruturar uma UAN com capacidade para distribuir 1600 refeições/dia (café da manhã e almoço) de segunda-feira a sábado. Qual o número de funcionários fixos necessários para esse setor? A) Serão necessários, aproximadamente, 50 a 55 funcionários fixos para o serviço de alimentação da indústria. B) Serão necessários, aproximadamente, 25 a 29 funcionários fixos para o serviço de alimentação da indústria. C) Serão necessários, aproximadamente, 27 a 30 funcionários fixos para o serviço de alimentação da indústria. D) Serão necessários, aproximadamente, 35 a 40 funcionários fixos para o serviço de alimentação da indústria. E) Serão necessários, aproximadamente, 33 a 35 funcionários fixos para o serviço de alimentação da indústria. Resposta correta: alternativa C. 10 Unidade I Comentários e discussão: considerando que a jornada de trabalho seja de 8 horas, são necessários 480 minutos/dia/pessoa. Baseando-se na tabela 1 (“Número de minutos necessários para produzir uma refeição”, na sequência), que estabelece o tempo de 8 a 9 minutos para produzir uma refeição em UANs, as quais servem de 1300 a 2500 refeições/dia, considerando o Índice de Pessoal Fixo - IPF: • IPF = 1600 refeições x 8 minutos/480 minutos/dia/pessoa = 27 • IPF = 1600 refeições x 9 minutos/480 minutos/dia/pessoa = 30 Vale ressaltar que o IPF reflete apenas um número como ponto de partida, pois pode sofrer alterações para mais ou para menos considerando os seguintes fatores: tipo de serviço (self-service, bandeja, transportada); tipo de cardápio (básico, sofisticado, misto-básico/sofisticado); equipamentos e instalações da cozinha. A Unidade de Alimentação e Nutrição (UAN) é um conjunto de áreas com o objetivo de operacionalizar o provimento nutricional de coletividades. Consiste em um serviço organizado, compreendendo uma sequência e sucessão de atos destinados a fornecer refeições balanceadas dentro dos padrõesdietéticos e higiênicos, visando, assim, atender às necessidades nutricionais de seus clientes, de modo que ajuste aos limites financeiros da Instituição (ABREU; SPINELLI; PINTO, 2013, p. 13). De acordo com a Resolução CFN n. 600/2018 do Conselho Federal de Nutrição (CFN) (2018), as UANs compreendem os segmentos: • Unidades de alimentação e nutrição institucionais públicas e privadas, com os subsegmentos: serviços de alimentação coletiva (autogestão e concessão) em empresas e instituições, hotéis, hotelaria marítima, comissarias, unidades prisionais, clínicas em geral, hospitais-dia, Unidades de Pronto-Atendimento (UPAs), SPAs clínicos, serviços de terapia renal substitutiva, instituições de longa permanência para idosos e similares. • Alimentação e nutrição em ambiente escolar, com os subsegmentos: Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE); Alimentação e Nutrição em Ambiente Escolar (rede privada de ensino). • Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT), com os subsegmentos: empresas fornecedoras de alimentação coletiva (produção de refeições – autogestão e concessão); empresas prestadoras de serviços de alimentação coletiva (refeição-convênio); empresas fornecedoras de alimentação coletiva (cestas de alimentos). • Serviço comercial de alimentação, com os subsegmentos: restaurantes comerciais e similares; bufê de eventos; serviço ambulante de alimentação. Dada a extensa diversidade dos setores em envolvem a área de atuação do nutricionista em UAN e considerando que essas unidades devem ser áreas planejadas e gerenciadas de acordo com fluxograma 11 NUTRIÇÃO INTEGRADA de produção de alimentos que garantem a produção e distribuição de produtos com qualidade higiênico-sanitária, a percepção de todos os problemas técnicos-operacionais torna-se uma tarefa árdua, necessitando da capacitação do profissional para que ele tenha uma visão mais aprimorada para as atividades desse segmento. A variedade de tarefas, a concomitância de atividades, o imediatismo de processos e de produtos, a larga lista de insumos para cada atividade, a heterogeneidade de hábitos e a necessidade de constantes treinamentos e adequação dos colaboradores tornam a rotina de uma UAN um contexto complexo (MUTTONI, 2017). Uma administração eficiente compreende, de acordo com Muttoni (2017): • capacidade administrativa de produzir o máximo de resultado com o mínimo de recursos, energia e tempo; • capacidade de produzir o máximo com o mínimo de desperdício; • produtividade operacional; • eficácia relacionada à racionalidade/produtividade (ação, força, virtude de produzir). O nutricionista que atua em UAN deve estar ciente das legislações mais importantes e pertinentes a essa área de atuação, por exemplo: • Resolução CFN n. 600/2018: “Dispõe sobre a definição das áreas de atuação do nutricionista e suas atribuições, indica parâmetros numéricos mínimos de referência, por área de atuação, para a efetividade dos serviços prestados à sociedade e dá outras providências” (CFN, 2018). • Portaria CVS 5/2013: “Aprova o regulamento técnico sobre boas práticas para estabelecimentos comerciais de alimentos e para serviços de alimentação, e o roteiro de inspeção” (SÃO PAULO, 2013). Saiba mais Acesse os links a seguir. CFN. Resoluções. Brasília, [s.d.]. Disponível em: https://bityli.com/vptUIH. Acesso em: 12 nov. 2021. SÃO PAULO (Estado). Portaria CVS 5, de 09 de abril de 2013. Aprova o regulamento técnico sobre boas práticas para estabelecimentos comerciais de alimentos e para serviços de alimentação, e o roteiro de inspeção, anexo. São Paulo, 2013. Disponível em: https://bityli.com/2zZyP2. Acesso em: 4 nov. 2021. 12 Unidade I Cabe ao nutricionista/gestor realizar o cálculo para dimensionamento de pessoal considerando o número de refeições servidas, a modalidade de refeição, a qualidade de serviço, o padrão de cardápio, a jornada de trabalho e o nível tecnológico dos equipamentos e serviços (ABREU; SPINELLI; PINTO, 2013; MEZZOMO, 2015; TEIXEIRA et al., 2007). Para Mezzomo (2015), o cálculo para a determinação de número de funcionários para UANs de unidades hospitalares deverá estar de acordo com o número de leitos, o número de funcionários e ainda o número de refeições diárias servidas no hospital. Existem vários índices para estimar o número de funcionários de um hospital, contudo eles variam entre 1,5 a 4 funcionários por número de leitos, considerando uma jornada de trabalho de 44 horas semanais, sendo que a partir do valor total de funcionários, recomenda-se 10 a 15% para o serviço de UAN (TEIXEIRA et al., 2007). Para UANs não hospitalares, recomenda-se o cálculo de pessoal baseado no tempo gasto para produzir, higienizar e distribuir uma refeição, segundo uma estimativa de número de refeições servidas por dia (TEIXEIRA et al., 2007), conforme apresentado na tabela seguinte. Tabela 1 – Número de minutos necessários para produzir uma refeição Número de refeições Número de minutos 300 500 15 14 500 700 14 13 700 1.000 13 10 1.000 1.300 10 9 1.300 2.500 9 8 2.500 ou mais 7 Fonte: Gandra e Gambardela apud Teixeira et al. (2007, p. 156). Para o cálculo do número de refeições/dia, considera-se almoço e jantar de refeição noturna. A partir do número de refeições/dia e com o conhecimento da jornada de trabalho, a jornada média a ser identificada no serviço deve ser ponderada, considerando que há diferentes jornadas de trabalho entre os funcionários de uma unidade. Assim, o número de minutos necessários para produzir uma refeição mostrará o número de pessoal fixo de uma UAN (TEIXEIRA et al., 2007). Exemplo de aplicação Se a jornada média de trabalho for de 480 minutos/dia (8 horas/dia), o número de pessoal fixo necessário para produzir 1.000 refeições/dia (10 minutos/dia) em uma UAN será: IPF (Índice de Pessoal Fixo) = 1000 X 10 min./480 min. = 20 funcionários fixos 13 NUTRIÇÃO INTEGRADA Saiba mais Mais informações sobre a operacionalização do PAT, acesse a Secretaria Especial de Previdência e Trabalho: BRASIL. Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT). Brasília, [s.d.]. Disponível em: https://bityli.com/nm5MzT. Acesso em: 16 nov. 2021. O CFN dispõe as diretrizes sobre a responsabilidade técnica do PAT. Acesse o link a seguir. CFN. Alimentação do trabalhador (PAT). Brasília, 3 abr. 2015. Disponível em: https://bityli.com/7iSF30. Acesso em: 12 nov. 2021. Estrutura física A função primordial de um nutricionista/gestor em uma UAN é a tomada de decisão, por isso o planejamento é um processo com características específicas que o auxiliam a atingir seus objetivos (MEZZOMO, 2015). A elaboração de organogramas, funcionogramas e fluxogramas em uma UAN corroboram para a gestão eficiente, pois esses instrumentos tornam claras as divisões das unidades administrativas, a delegação de autoridades entre as unidades e suas respectivas funções (TEIXEIRA et al., 2007). Entende-se por organograma a representação gráfica da organização formal de uma unidade empresarial. Existem diversos tipos de organograma, desde os clássicos, os de setores e os de barra. Cada um deles apresenta uma funcionalidade caracterizando os graus de hierarquia e poderes para a tomada de decisão. Os organogramas mais comuns são os clássicos, pois eles formalizam o grau de hierarquia e subordinação (MUTTONI, 2017), como exemplificado na figura seguinte. Técnico de nutrição Chef de cozinha Nutricionista Auxiliar de limpeza Auxiliar de cozinhaCopeiro Cozinheiro Figura 1 – Exemplo um organograma clássico de uma UAN 14 Unidade I Além do organograma, há outro elemento gráfico importante que evidencia as atividades da unidade, o chamado funcionograma. O funcionograma é, portanto, a representação gráfica das funções, de forma estativa, respeitando a estrutura delineada pelo organograma. Tem por objetivo demonstrar detalhadamente as principais atividades desempenhadas em cada setor do organograma, justificando sua existência. Assim, o funcionograma é o gráfico que retrataas funções delineadas pelo organograma (ABREU; SPINELLI; PINTO, 2013), como exemplificado na figura seguinte. Setor de abastecimento — Recebimento e inspeção de mercadorias — Previsão e controle de estoque — Controle de temperatura e prazos de validade de alimentos armazenados Setor de produção — Elaboração da lista de alimentos para o preparo do cardápio — Pré-preparo e preparo dos alimentos — Distribuição dos alimentos Setor técnico — Elaboração e análise de cardápios — Compras e prestação de contas — Treinamentos dos colaboradores — Supervisão técnica Unidade de alimentação e nutrição Figura 2 – Exemplo de um funcionograma de uma UAN O fluxograma é a representação dos caminhos (fluxos de serviços) com o objetivo de evitar cruzamentos indevidos que podem favorecer atrasos na execução das atividades, contaminação dos alimentos e acidentes de trabalho. Em uma UAN, os setores de abastecimento, preparo, distribuição e descarte de resíduos constituem um considerável problema, dado o volume de operações a serem efetuadas concomitantemente. Assim, o fluxograma disciplina e facilita as operações no setor (MEZZOMO, 2015), exemplificado na figura seguinte: 4 - Controle de qualidade e vencimento 5 - Alimentação do sistema computacional de estoque 1 - Recebimento de gêneros 6 - Retirada das mercadorias de acordo com o cardápio do dia 2 - Inspeção da mercadoria (aspectos gerais e temperatura) recebida 7 - Checklist para previsão de compras e controle de notas 3 - Organização nas prateleiras, gôndolas e câmaras frias. Figura 3 – Exemplo de um fluxograma do setor de estoque uma UAN Além do estabelecimento das características e das relações funcionais do setor de alimentação, o planejamento da estrutura física também auxilia na gestão eficiente. O planejamento físico é voltado para cooperar com a melhor utilização dos recursos humanos, com maior racionalização das funções e, consequentemente, menor fadiga (TEIXEIRA et al., 2007). 15 NUTRIÇÃO INTEGRADA Existem vários aspectos a serem considerados no planejamento físico, como localização, configuração geométrica, material de revestimento de paredes/tetos/pisos, iluminação, ventilação, dissipação do vapor, umidade, sonorização, tamanho de divisórias/portas/janelas, instalações hidráulicas, instalações elétricas, instalações mecânicas/equipamentos, suprimento de gás e outros. É importante considerar todos os elementos que interferem diretamente no pré-preparo, na produção e na distribuição (TEIXEIRA et al., 2007; MEZZOMO, 2015). Um planejamento físico respaldado no conhecimento das características específicas do funcionamento das UANs, além de economia de movimentos e evidente racionalização das ações, poderá evitar fatores negativos de operacionalização, dentre os quais: interrupções no fluxo de operações, cruzamentos desnecessários de gêneros e funcionários, má utilização de equipamentos, limitação no planejamento de cardápio por falta de equipamentos apropriados, equipamentos ociosos ou mal localizados causando congestionamento na circulação, ocorrência de filas, por falta de dimensionamento e localização dos pontos de distribuição, deficiência no sistema de ventilação e, inclusive, aumento de custos (TEIXEIRA et al., 2007, p. 81). Ainda compete ao gestor de uma UAN, além de planejamento e organização funcional, a função de administrador de recursos humanos, sendo responsável, geralmente, pela seleção de pessoal, descrição de funções, aperfeiçoamento da mão de obra, desenvolvimento das capacidades individuais, avaliação de desempenho, determinação de normas e de segurança do trabalho (ABREU; SPINELLI; PINTO, 2013). Por conseguinte, as ações a serem realizadas para uma organização de pessoal adequada impõem proatividade, antecipando-se nas decisões para prevenir desvios comportamentais e de desempenho profissionais que podem prejudicar a qualidade do serviço prestado. Saiba mais Sugestão de leitura complementar: CAMPOS, J. R.; IKEDA, V.; SPINELLI, M. G. N. Otimização de espaço físico em unidade de alimentação e nutrição (UAN) considerando avanços tecnológicos no segmento de equipamentos. Revista Univap, São José dos Campos, v. 18, n. 32, p. 31-41, dez. 2012. Disponível em: https://bityli.com/dTHHxq. Acesso em: 4 nov. 2021. Basta acessar o link e baixar o arquivo. 16 Unidade I Em uma UAN, a qualidade do serviço está associada a fatores como valor nutricional dos alimentos, qualidades higiênico-sanitárias, relação cliente-fornecedor e preço de produção dos alimentos. De acordo com Akutsu et al. (2005, p. 421): A qualidade é aquilo que satisfaz o cliente, e o controle de qualidade é a manutenção dos produtos e serviços dentro dos níveis de tolerância aceitáveis para o consumidor ou comprador. Desse modo, para avaliar a qualidade de um produto alimentar, deve ser mensurado o grau em que o produto satisfaz os requisitos específicos, sendo que esses níveis de tolerância e requisitos se expressam por meio de normas, padrões e especificações. No setor de alimentação, a qualidade de produção significa competência e profissionalismo e, sobretudo, sobrevivência no mercado. A cadeia de produção de alimentos compreende desde a produção de matérias ao preparo e distribuição dos alimentos prontos para o consumo, por isso o controle de qualidade em uma UAN deve assegurar a qualidade e inocuidade dos produtos oferecidos (SILVA JÚNIOR, 2014). Frente a isso, o estudo de caso seguinte oferece temas para discussão sobre as principais ferramentas de controle de qualidade na produção e distribuição de alimentos. 1.2 Estudo de caso – UAN. Temas para discussão: segurança alimentar (higiene e legislação, Manual de Boas Práticas); sistema APPCC Caso: a UAN pela qual você é responsável técnico foi notificada sobre um surto de doenças gastrointestinais em seus colaboradores cujos sintomas são dores abdominais intensas seguidas de diarreia. Considerando que sua UAN fornece 1.600 refeições/dia e possui 30 colaboradores, sendo que destes, 10 pessoas já foram acometidas, você, junto à equipe de serviço médico do local, iniciou um estudo epidemiológico para verificar a procedência do problema e eliminá-lo. Para tanto, é importante que a equipe destacada para estudo estabeleça: I – O agente etiológico, sua ecologia e mecanismos de transmissão. II – Ambientes favoráveis para a propagação do agente. III – Doença, tratamento e prevenção. IV – Elaboração ou revisão de Manual de Boas Práticas. V – Fechamento da UAN. Das afirmativas anteriores: A) As afirmativas I, II, III e IV. B) As afirmativas II, III, IV e V. 17 NUTRIÇÃO INTEGRADA C) Somente as afirmativas III e IV. D) Somente as afirmativas IV e V. E) Somente a afirmativa V. Resposta correta: alternativa A. Comentários e discussão: considerando a origem microbiológica do problema apresentado, devemos relembrar que existem diversos tipos de microorganismos que se proliferam nos alimentos, alguns podem ser benéficos para a saúde, como é o caso de alguns fungos usados na fabricação de queijos, tipo gorgonzola, outros microorganismos podem trazer prejuízo à saúde do homem em maior ou menor grau, dependendo de suas características biológicas, condições ideais para sua proliferação. Fatores como a forma de estocagem dos alimentos podem favorecer meio ótimo para proliferação de microorganismos patogênicos que podem causar doenças em graus variados e, até mesmo, a morte do ser humano. Para controle e prevenção de problemas sanitários em uma UAN, é importante aplicar medidas preventivas de conduta e elaboração e atualização constante do Manual de Boas Práticas de Manipulação e Processamento de Alimentos, além da aplicação do sistema Análise de Perigos e Determinação de Pontos Críticos de Controle (APPCC ou HACCPP). O fechamento da UAN não resolve o problema, uma vez que é muito importante a descoberta de sua origem, pois isso poderia levar ao desenvolvimento de medidas saneadoras com o intuito de evitar queo problema retorne no futuro e que não haja prejuízo para a organização, garantindo sua posição no mercado. Para a Organização Mundial de Saúde (OMS), existem algumas regras fundamentais para a proteção e preservação dos alimentos (apud ABREU; SPINELLI; PINTO, 2013): • escolher os alimentos processados quanto à segurança; • cozinhar completamente os alimentos; • consumir imediatamente os alimentos cozidos; • armazenar com cuidado os alimentos cozidos; • reaquecer completamente os alimentos cozidos que foram armazenados; • evitar contato entre alimentos crus e cozidos; • lavar as mãos repetidamente durante todo o período de manipulação dos alimentos; • manter as superfícies da cozinha meticulosamente limpas; • proteger os alimentos de insetos, roedores e outros animais; • usar água limpa para cozinhar e higienizar a cozinha. 18 Unidade I Há vários instrumentos utilizados no controle de qualidade para a produção e distribuição de alimentos. Os mais utilizados são o Manual de Boas Práticas para Fabricação de Alimentos; Padrões e Procedimentos Operacionais de Sanitização (PPOS/SSOP); Sistema de Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC), conhecido internacionalmente como Hazard Analysis and Critical Control Point System-HACCP (ABREU; SPINELLI; PINTO, 2013). A elaboração e adoção de um Manual de Boas Práticas favorecem a atualização constante de procedimentos para compra de matérias-primas, seleção de fornecedores, transporte, armazenagem de alimentos perecíveis e não perecíveis, treinamento dos colaboradores para as fases de pré-preparo, preparo, controle de restos, higiene e sanitização na manipulação de alimentos. Para a elaboração do Manual de Boas Práticas, é necessário o conhecimento da legislação relacionada ao controle higiênico-sanitário dos alimentos (ABREU; SPINELLI; PINTO, 2013). Entre as legislações, citam-se a Resolução n. 216/2004 e a Portaria CVS 5/2013, apresentadas no quadro seguinte. Quadro 1 – Definições da Resolução n. 216/2004 no Regulamento Técnico de Boas Práticas para Serviços e Alimentação Alimentos preparados Alimentos manipulados e preparados em serviços de alimentação, expostos à venda embalados ou não, subdividindo-se em três categorias: — Alimentos cozidos, mantidos quentes e expostos ao consumo — Alimentos cozidos, mantidos refrigerados, congelados ou à temperatura ambiente, que necessitam ou não de aquecimento antes do consumo — Alimentos crus, mantidos refrigerados ou à temperatura ambiente, expostos ao consumo Antissepsia Operação que visa a redução de microrganismos presentes na pele em níveis seguros, durante a lavagem das mãos com sabonete antisséptico ou por uso de agente antisséptico após a lavagem e secagem das mãos Boas práticas Procedimentos que devem ser adotados por serviços de alimentação a fim de garantir a qualidade higiênico-sanitária e a conformidade dos alimentos com a legislação sanitária Contaminantes Substâncias ou agentes de origem biológica, química ou física, estranhos ao alimento, que sejam considerados nocivos à saúde humana Controle integrado de vetores e pragas urbanas Sistema que incorpora ações preventivas e corretivas destinadas a impedir a atração, o abrigo, o acesso e/ou a proliferação de vetores e pragas urbanas que comprometam a qualidade higiênico-sanitária do alimento Desinfecção Operação de redução, por método físico e ou agente químico, do número de microrganismos em nível que não comprometa a qualidade higiênico-sanitária do alimento Higienização Operação que compreende duas etapas: a limpeza e a desinfecção Limpeza Operação de remoção de substâncias minerais e/ou orgânicas indesejáveis, como terra, poeira, gordura e outras sujidades Manipulação de alimentos Operações efetuadas sobre a matéria-prima para obtenção e entrega ao consumo do alimento preparado, envolvendo as etapas de preparação, embalagem, armazenamento, transporte, distribuição e exposição à venda. Manipuladores de alimentos Qualquer pessoa do serviço de alimentação que entra em contato direto ou indireto com o alimento 19 NUTRIÇÃO INTEGRADA Manual de Boas Práticas Documento que descreve as operações realizadas pelo estabelecimento, incluindo, no mínimo, os requisitos higiênico-sanitários dos edifícios, a manutenção e higienização das instalações, dos equipamentos e dos utensílios, o controle da água de abastecimento, o controle integrado de vetores e pragas urbanas, a capacitação profissional, o controle da higiene e saúde dos manipuladores, o manejo de resíduos e o controle e garantia de qualidade do alimento preparado Medida de controle Procedimento adotado com o objetivo de prevenir, reduzir a um nível aceitável ou eliminar um agente físico, químico ou biológico que comprometa a qualidade higiênico-sanitária do alimento Produtos perecíveis Produtos alimentícios, alimentos in natura, produtos semipreparados ou produtos preparados para o consumo que, pela sua natureza ou composição, necessitam de condições especiais de temperatura para sua conservação Registro Consiste em anotação em planilha e/ou documento, apresentando data e identificação do funcionário responsável pelo seu preenchimento Resíduos Materiais a serem descartados, oriundos da área de preparação e das demais áreas do serviço de alimentação Saneantes Substâncias ou preparações destinadas à higienização, desinfecção ou desinfestação domiciliar, em ambientes coletivos e/ou públicos, em lugares de uso comum e no tratamento de água Serviço de alimentação Estabelecimento onde o alimento é manipulado, preparado, armazenado e/ou exposto à venda, podendo ou não ser consumido no local Procedimento Operacional Padronizado (POP) Procedimento escrito de forma objetiva que estabelece instruções sequenciais para a realização de operações rotineiras e específicas na manipulação de alimentos Adaptado de: Anvisa (2004). Os documentos oficiais regulamentadores publicados via Ministério da Saúde visam melhorar as condições higiênico-sanitária para a produção e distribuição de alimentos e para garantir um bom entrosamento entre a unidade produtora de alimentos e a fiscalização pela vigilância sanitária. Portanto, é obrigatória a presença de um profissional responsável técnico que se responsabilize pela elaboração de Manual de Boas Práticas de Manipulação e pela aplicação das técnicas de controle descritas no manual. Para Silva Júnior (2014) e Germano e Germano (2015), as boas práticas e os procedimentos operacionais padrão constituem pré-requisitos básicos para a implantação do sistema APPCC. Esses autores consideram que boas práticas consistem em: • controlar a saúde dos funcionários; • controlar a água para consumo; • controlar as pragas; • regras para visitantes; • controlar matérias-primas; • adequação estrutural do estabelecimento; 20 Unidade I • higiene pessoal, do ambiente e dos alimentos; • manipulação e processamento dos alimentos em todas as etapas de preparo (desde o recebimento de matérias-primas até a distribuição da refeição pronta). O Manual de Boas Práticas de Manipulação deve relatar a realidade dos procedimentos técnicos de produção dos alimentos e devem ser seguidos, concomitantemente, com os POPs (Procedimentos Operacionais Padronizados) de cada setor envolvido. Os POPs devem ser aprovados, datados e assinados pelo responsável técnico, responsável pela operação, responsável legal ou proprietário do estabelecimento, firmando compromisso de implementação, monitoramento, avaliação, registro e manutenção (GERMANO; GERMANO, 2015). A adoção de boas práticas e o POPs compreendem o controle higiênico das operações dentro de um serviço de alimentação. Porém, é importante também que se adotem medidas de controle de pontos críticos com ênfase no controle sanitário dos alimentos, como o sistema APPCC, o qual deve contemplar as seguintes etapas para sua elaboração, de acordo com Silva Júnior (2014): • formação da equipe APPCC: constitui-se de um grupo de profissionaisque se responsabilize pelo desenvolvimento e implantação do sistema; • descrição dos produtos e ingredientes; • construção do fluxograma; • verificação do fluxograma in loco. Obedecendo os seguintes princípios: 1 – Análise de perigos e medidas de controle. 2 – Determinação dos pontos críticos de controle. 3 – Definição dos limites de controle. 4 – Realização da monitorização. 5 – Ações corretivas. 6 – Procedimento de verificação. 7 – Procedimentos e planilhas de registro. 21 NUTRIÇÃO INTEGRADA Saiba mais Sugestão de leitura complementar: ALMEIDA, G. L.; COSTA, S. R. L.; GASPAR, A. A gestão da segurança dos alimentos em empresa de serviço de alimentação e os pontos críticos de controle dos seus processos. B. CEPPA, Curitiba, v. 30, n. 1, p. 135-146, jan./jun. 2012. Disponível em: https://bityli.com/1gYm4e. Acesso em: 12 nov. 2021. QUINTINO, S. S.; RODOLFO, D. Um estudo sobre a importância do APPCC – Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle – na indústria de alimentos. Interface Tecnológica, Taquaritinga, [s.d.] p. 196-207. Disponível em: https://bityli.com/2BA7bd. Acesso em: 12 nov. 2021. Além de um controle de qualidade rígido, que garantirá a produção e distribuição de alimentos dentro dos padrões higiênico-sanitárias ideais para a saúde, o responsável técnico de uma UAN enfrentará ainda outros desafios em sua atividade laboral, como elaboração de cardápios dentro dos padrões exigidos pelo PAT e obediência aos princípios da sustentabilidade ambiental, itens que vão ser debatidos no estudo de caso seguinte. Lembrete O Manual de Boas Práticas é um documento que visa reduzir o risco de contaminação dos alimentos, bem como diminuir as chances de proliferação de microrganismos patogênicos nos alimentos. 1.3 Estudo de caso – UAN. Temas para discussão: gestão de UAN (planejamento de cardápios, compras, estoque, contabilidade de custos); PAT; sustentabilidade na produção de refeições coletivas Caso: a empresa pela qual você é o responsável técnico do serviço de alimentação determina que todos os setores desenvolvam ações relacionadas à sustentabilidade com o objetivo de se tornar mais competitiva no mercado internacional, exigente quanto a um desenvolvimento sustentável. Em sua unidade, após levantamento de dados, ficou evidente que um dos pontos mais vulneráveis com relação à sustentabilidade é o resto-ingestão. O volume de resíduo orgânico (restos de alimentos) é muito elevado dependendo do cardápio do dia. Considerando que para a elaboração de cardápios, alguns fatores devem ser observados, como obediência às diretrizes do PAT; controle de custos; equipamentos disponíveis; hábitos alimentares da clientela, analise as afirmativas e assinale a alternativa mais coerente, considerando melhoria do resto-ingestão, visando um possível projeto de sustentabilidade a ser apresentado para a diretoria a qual pertence sua UAN: 22 Unidade I I – Fazer um levantamento junto aos clientes/consumidores sobre os alimentos preferidos e os rejeitados para elaborar cardápios, considerando somente alimentos preferidos pelos comensais. II – Modificar as diretrizes do PAT para que se possam elaborar cardápios somente com alimentos sabidamente preferidos pelos clientes/consumidores. III – Elaborar programa de educação nutricional objetivando o consumo consciente dos alimentos. Das afirmativas anteriores: A) Somente a afirmativa I. B) Somente a afirmativa II. C) Somente a afirmativa III. D) Somente as afirmativas I e II. E) Somente as afirmativas II e III. Resposta correta: alternativa C. Comentários e discussão: a educação nutricional é uma das diretrizes do PAT, que tem por objetivo melhorar a qualidade da alimentação do trabalhador, principalmente de baixa renda. Um projeto de educação nutricional sobre o consumo consciente contribui para a manutenção da saúde do trabalhador promovendo escolhas saudáveis e ingestão controlada de alimentos, o que contribui, substancialmente, para o incentivo de adoção de um estilo de vida saudável e sustentável, proporcionando a diminuição de DCNT e estimulando hábitos para melhorar as condições do meio ambiente. Elaborar cardápios considerando somente os alimentos preferenciais dos clientes, além de diminuir número de alimentos e preparações para a composição do cardápio, proporciona a monotonia do cardápio e o aumento de custos da unidade. Um parâmetro comum na elaboração de cardápios é o PAT, cujas diretrizes foram propostas desde seu surgimento em 1976, sofrendo algumas adequações ao longo do tempo, mas mantendo sempre os princípios de melhoria na qualidade alimentar dos trabalhadores. Os objetivos primários de uma UAN é fornecer uma alimentação saudável e segura para seu cliente. Primeiramente, deve-se assegurar as necessidades calóricas totais e a distribuição percentual em relação aos macronutrientes do cardápio. Para a obtenção dos valores de calorias totais, podem-se usar dados da população local (clientes), porém quando não é possível estimar ou calcular esses dados, o responsável técnico pode basear-se nas recomendações do PAT, que estipula um VET (valor energético total) de 2.000 kcal, considerando de 600 a 800 kcal para grandes refeições (almoço, jantar e ceia) – o que corresponde de 30% a 40% do VET diário –, e 300 a 400 kcal para o desjejum e lanches – correspondendo de 15% a 20% do VET diário (TEIXEIRA et al., 2007). 23 NUTRIÇÃO INTEGRADA O Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT) foi instituído pela Lei n. 6.321, de 14 de abril de 1976 e regulamentado pelo Decreto n. 5, de 14 de janeiro de 1991, que priorizam o atendimento aos trabalhadores de baixa renda, isto é, aqueles que ganham até cinco salários-mínimos mensais. Este Programa, estruturado na parceria entre Governo, empresa e trabalhador, tem como unidade gestora o Departamento de Segurança e Saúde no Trabalho da Secretaria de Inspeção do Trabalho (BRASIL, s.d.d). Observação O primeiro programa de alimentação voltada para trabalhadores nasceu na Inglaterra no início dos anos 1950. O incentivo baseava-se em vouchers (papéis emitidos) pelas empresas em troca de incentivos fiscais. Essa iniciativa serviu de exemplo para outros países, entre eles, o Brasil, que criou o PAT. Na prática, o PAT oferece para as empresas que aderirem ao programa diversos benefícios e incentivos fiscais com o objetivo de garantir uma alimentação de qualidade ao trabalhador. Por meio desse programa, a empresa pode solicitar redução no imposto de renda em valor equivalente ao benefício fornecido ao trabalhador, como cestas básicas, vale-refeição, vale-compras e serviço de alimentação, bem como é possível obter isenção de alguns encargos sociais, considerando que investir na qualidade de vida dos seus colaboradores pode servir de estratégia para motivar e aumentar a produtividade. Saiba mais Um pouco mais sobre a evolução da alimentação para o trabalhador pode ser encontrada no seguinte texto: ARAÚJO, M. P. N.; COSTA-SOUZA, J.; TRAD, l. A. B. A alimentação do trabalhador no Brasil: um resgate da produção científica nacional. História, Ciência, Saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro, v. 17, n. 4, p. 975-992, out./dez. 2010. Disponível em: https://bityli.com/UaoclP. Acesso em: 12 nov. 2021. Ao planejar um padrão de cardápio, os hábitos alimentares dos clientes, obviamente, devem ser considerados. No entanto o cardápio também deve ser compatível com a disponibilidade financeira da empresa, disponibilidade dos gêneros no mercado, recursos humanos para confecção, distribuição e limpeza da unidade, disponibilidade da área destinada para a UAN e os equipamentos disponíveis no local, além de outros fatores, como clima da região em que se localiza a empresa, equilíbrio de cores de alimentos, repetição de alimentos e preparações e políticas de compras (TEIXEIRA et al., 2007). Contemplando, assim os princípios clássicos de Pedro Escudeiro (apud ABREU; SPINELLI; PINTO, 2013): 24 Unidade I • Lei da quantidade: fornecer aoindivíduo a quantidade de alimentos necessárias ao funcionamento do organismo, preservação da espécie e manutenção da saúde. • Lei da qualidade: fornecer, diariamente, ao indivíduo a qualidade de nutrientes necessária ao organismo, considerando, ainda, o grau de maturação e conservação e as condições de consumo dos alimentos. • Lei da harmonia: deve favorecer o equilíbrio na ingestão dos alimentos e nutrientes, considerando macro e micronutrientes e, ainda, deve ter harmonia entre as cores, sabores e texturas dos alimentos que compõem o cardápio. • Lei da adequação: o cardápio deve ser adequado ao indivíduo, considerando fatores como altura e peso, idade, clima, sexo, disponibilidade de alimento, poder aquisitivo, gasto energético e estados fisiológicos (gestação, nutriz, infância, idoso, comorbidades etc.), e à coletividade. Observação O médico argentino Pedro Escudero foi um dos grandes mentores da ciência da nutrição na América Latina, enquanto, no Brasil, Francisco Pompeu do Amaral implantou em 1939 os estudos de “Auxiliares de Alimentação” e “Dietética para Donas de Casa” no curso de Economia Doméstica da primeira Escola Profissional Feminina do Estado de São Paulo, o que propiciou o surgimento da profissão dietista, atualmente, nutricionista. Observando a variedade de tipos de serviços de alimentação e a diversidade de alimentos disponíveis para os clientes, é possível que suas escolhas sejam inadequadas, com refeições muito calóricas ou pobres em alimentos naturais ou minimamente processados, acarretando problemas de saúde e desperdício de alimentos. Embora os cardápios apresentem uma grande variedade de preparações, não é raro os clientes reclamarem de monotonia alimentar. Em geral, as pessoas tendem a manter uma certa rotina, inclusive na alimentação, ou seja, buscar os mesmos alimentos diariamente. Portanto, é importante, na confecção do cardápio, procurar ter menor número de opções e maior variedade de preparações ao longo da semana (ABREU; SPINELLI; PINTO, 2013). Um projeto de educação alimentar junto aos clientes é uma ferramenta importante para a incrementação de cardápios mais variados que preencham os requisitos necessários para a promoção da saúde e, também, auxilia na redução dos custos da produção com a possibilidade de inclusão de alimentos sazonais e regionais. O Guia alimentar para a população brasileira, proposto pelo Ministério de Saúde, pode auxiliar o nutricionista no planejamento de cardápios e na realização de educação nutricional (BRASIL, 2014b), uma vez que o guia foi elaborado a partir do levantamento dos hábitos alimentares da nossa população. 25 NUTRIÇÃO INTEGRADA Com um cardápio mais adequado e a conscientização dos clientes da importância de se alimentar de forma mais balanceada, evitando excessos, é possível estabelecer metas para a redução de resíduos, favorecendo uma UAN mais sustentável. As UANs geralmente são grandes geradoras de resíduos – restos de alimentos dos clientes, aparas de alimentos impróprias para o consumo e embalagens e descartáveis. O planejamento da gestão de resíduo deverá ser considerado no momento da elaboração do Manual de Boas Práticas e dos Procedimentos Operacionais Padronizados, para que ele seja factível (ABREU; SPINELLI; PINTO, 2013). Dentro de uma UAN, a sustentabilidade vai além de apenas elaborar cardápios mais saudáveis e de boa aceitação. Envolve conhecer o agricultor, os fornecedores, o transporte, as embalagens de produtos, o treinamento de manipuladores e trabalhar com esses aspectos e, ainda, observar a otimização do projeto arquitetônico do restaurante a fim de estabelecer os usos de energia elétrica e a utilização de água (VASCONCELLOS; VOGEL; MARINHO, 2017). Numa UAN, encontramos três pontos críticos geradores de resíduo, segundo Abreu, Spinelli e Pinto (2013): • Preparo: decorrente da remoção das partes não comestíveis dos alimentos. • Sobras: decorrente dos alimentos que foram preparados e não distribuídos para os clientes. • Restos: decorrentes dos alimentos distribuídos e não consumidos pelos clientes. Assim, considerando os pontos mais propensos à geração de resíduos, pode-se estabelecer algumas práticas saneadoras com o objetivo de otimizar a sustentabilidade na UAN (quadro seguinte). Quadro 2 – Ações propostas por Abreu, Spinelli e Pinto (2013) em setores predominantes de geração de resíduos Fase anterior ao preparo Boa relação de fornecedores e compra adequada de produtos Capacitação de funcionários para o recebimento dos produtos e armazenamento em relação às técnicas corretas para evitar perdas Transferência dos produtos de forma correta e em tempo hábil para o setor de armazenamento Armazenamento e controle adequado dos produtos Capacitação dos funcionários quanto aos cuidados na remoção das partes não comestíveis, procedimento de dessalgue e de reidratação, e controle de temperaturas adequadas em todos os processos Utilização de utensílios e equipamentos apropriados Separação de materiais passíveis de serem reciclados 26 Unidade I Área de preparo Seguimento de receituário padrão Observação das temperaturas exigidas pela legislação Controle do processo produtivo de acordo com a demanda Manutenção dos equipamentos Área de distribuição Declaração de quantidades e calorias das poções estimadas Adequação do cardápio aos hábitos dos clientes Adequação do tamanho dos utensílios Área de recepção das bandejas Observação da quantidade de restos, procurando identificar possíveis erros decorrentes do preparo ou da compra de produtos de qualidade inferior Identificação dos restos atribuídos ao porcionamento inadequado Preparação do plano de conscientização de controle de resíduo Fonte: Abreu, Spinelli e Pinto (2013, p. 229-230). Saiba mais Sugestão de leitura complementar: DIAS, N. A.; OLIVEIRA, A. L. Sustentabilidade nas Unidades de Alimentação e Nutrição: desafios para o nutricionista do século XXI. Higiene Alimentar, Juiz de Fora, v. 30, n. 254/255, p. 26-31, mar./abr. 2016. Disponível em: https://bityli.com/QDidkd. Acesso em: 12 nov. 2021. 2 NUTRIÇÃO CLÍNICA DA GESTANTE, DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE 2.1 Estudo de caso – nutrição clínica. Temas para discussão: avaliação e diagnóstico nutricional de gestantes; orientação/conduta nutricional para gestantes com desnutrição, eutróficas, com sobrepeso e obesas; recomendação e suplementação de macro/micronutrientes para essa população (DRIs, indicações, biodisponibilidade) Caso: uma gestante é encaminhada para seu consultório para orientação e acompanhamento nutricional. A queixa principal é a dificuldade de ganhar peso devido a náuseas e vômitos. Baseando-se nesse enunciado, qual das alternativas apresenta a melhor sequência para realizar a consulta nutricional para essa mulher? A) Efetuar a avaliação antropométrica, a anamnese dietética e a prescrição nutricional e refazer todos os passos rotineiramente até o final da gestação. B) Efetuar apenas a anamnese dietética e a prescrição nutricional considerando que no encaminhamento já constavam dados antropométricos, e encaminhar a gestante para a assistência pré-natal com a equipe médica e de enfermagem. 27 NUTRIÇÃO INTEGRADA C) Efetuar somente a prescrição nutricional, pois no encaminhamento constavam os dados antropométricos e a anamnese nutricional feitos pela equipe de enfermagem. D) Efetuar somente a antropometria para monitoramento futuro, pois a prescrição nutricional será fornecida pela assistência médica e de enfermagem, que fará o acompanhamento no pré-natal de rotina. E) Efetuar a avaliação antropométrica para monitoramento e passar o caso para a equipe médica-assistente, considerando que os sintomas só poderão ser resolvidos com o auxílio medicamentoso. Resposta correta: alternativa A. Comentários e discussão: toda pessoa encaminhada para o nutricionista deve ser submetida a uma sequência lógica de atendimento para que se possa efetuar o diagnóstico nutricional e, consequentemente,realizar a conduta nutricional e monitorar sua evolução. Essa sequência (avaliação antropométrica, avaliação bioquímica, anamnese nutricional, prescrição dietética e monitoramento da evolução) é comum a todos os pacientes independentemente de estado fisiológico, gênero, idade, escolaridade, renda ou classe social. Considerando esse caso, uma gestante com dificuldades para ganhar peso, a avaliação nutricional e dietética, bem como a prescrição e o acompanhamento, são fundamentais para uma evolução satisfatória até o final da gestação. A dieta e o estado nutricional da mãe têm impacto direto na evolução da gestação e no crescimento normal do feto. A desnutrição nos primeiros meses da gestação pode afetar a capacidade de sobrevivência do embrião (COMINETTI; COZZOLINO, 2013). A gestação promove diversas alterações fisiológicas no organismo que influenciam diretamente nas necessidades nutricionais da mulher. Essas mudanças incluem alterações do metabolismo, na função do trato gastrointestinal e no peso. O nutricionista é um profissional capacitado para conduzir o processo de ganho de peso e garantir que as necessidades nutricionais da mãe e do feto sejam supridas durante todo o processo, por isso ele não deve delegar para outros profissionais a função de prescrição ou avaliação nutricional. É muito importante que o nutricionista participe ativamente de equipes de atendimento pré-natal para garantir um desfecho normal da gestação sem prejuízos à saúde da mãe e da criança (COMINETTI; COZZOLINO, 2013). A orientação/conduta nutricional inicia-se pela avaliação nutricional, que será composta por anamnese, avaliação clínica, avaliação bioquímica, avaliação IMC (Índice de Massa Corporal) pré-gestacional e antropometria gestacional (COMINETTI; COZZOLINO, 2013). 28 Unidade I A avaliação nutricional na gestante possibilita o monitoramento e a intervenção precoce para correção de desvios nutricionais. A determinação do IMC pré-gestacional favorece a programação do ganho de peso da gestante. Seu cálculo é obtido baseando-se no peso habitual da mulher antes da concepção e para interpretação e estimativa do ganho ponderal. A partir do segundo trimestre, utilizam-se os valores contidos na tabela seguinte, considerando que o ganho de peso esperado no 1º trimestre deve ser entre 0,5 e 2 kg (BRASIL, 2012a; BRASIL, 2013e). Tabela 2 – Classificação do IMC pré-gestacional e a estimativa para ganho de peso trimestral em gestante de feto único IMC – pré-gestacional (kg/m²) Ganho de peso semanal a partir do 2º e 3º trimestres (g) Ganho de peso total (kg) < 18,5 (baixo peso) 453 a 589 13 a 18 18,5 a 24,9 (eutrofia) 362 a 453 11 a 16 25 a 29,9 (sobrepeso) 227 a 317 7 a 11 ≥ 30 (obesidade) 181 a 272 5 a 9 Fonte: WHO apud Brasil (2012c, p. 77). Para facilitar a orientação e o aconselhamento nutricional para a gestante sobre o ganho de peso, pode ser utilizado um gráfico para monitoramento (figura seguinte), composto por um eixo horizontal indicando a semana gestacional e um eixo vertical com os valores do IMC. Assim, de forma didática, é possível a gestante visualizar sua evolução ponderal. 29 NUTRIÇÃO INTEGRADA 40 40 39,5 39,5 39 39 38,5 38,5 38 38 37,5 37,5 37 37 36,5 36,5 36 36 35,5 35,5 35 35 34,5 34,5 34 34 33,5 33,5 33 33 32,5 32,5 32 32 31,5 31,5 31 31 30,5 30,5 30 30 29,5 29,5 29 29 28,5 28,5 28 28 27,5 27,5 27 27 26,5 26,5 26 26 25,5 25,5 25 25 24,5 24,5 24 24 23,5 23,5 23 23 22,5 22,5 22 22 21,5 21,5 21 21 20,5 20,5 20 20 19,5 19,5 19 19 18,5 18,5 18 18 17,5 17,5 17 17 6 10 14 18 22 26 30 34 388 12 16 20 24 28 32 36 40 S A BPBP OO Figura 4 – Gráfico para monitoramento da evolução ponderal em gestantes Fonte: Atalah et al. apud Brasil (2012a, p. 78). 30 Unidade I Na figura seguinte, pode-se observar a exemplificação do monitoramento ponderal utilizando o gráfico de monitoramento ponderal da gestante. Exemplo Exemplo Estado nutricional da gestante Gestante com baixo peso S A BPBP OO Estado nutricional da gestante Gestante com peso adequado S A BPBP OO Estado nutricional da gestante Gestante com sobrepeso S A BPBP OO Estado nutricional da gestante Gestante obesa S A BPBP OO Figura 5 – Exemplos de aplicação do gráfico de monitoramento ponderal da gestante Adaptada de: Brasil (2012a, p. 79). Além do monitoramento ponderal, as gestantes devem ser orientadas quanto ao consumo adequado de macro e micronutrientes (quadro seguinte), pois este é um período da vida da mulher em que as modificações fisiológicas e morfológicas alteram o metabolismo dos nutrientes favorecendo a ocorrência de deficiências nutricionais que poderão interferir no bom desenvolvimento fetal e na saúde da mulher. As principais recomendações e orientações foram resumidas nos quadros seguintes. 31 NUTRIÇÃO INTEGRADA Quadro 3 – Recomendações nutricionais para gestante do baixo risco de acordo com a DRI Nutriente Recomendação Carboidratos 45% a 65% do VET, no mínimo 175 g/dia Proteínas 1,1 g/kg (peso pré-gestacional), com oferta mínima de 71 g/dia Lipídios 30 a 35% do VET Cálcio 1.000 mg/dia Vitamina D 1.500 a 2.000 UI/dia Vitamina A 750 µg/dia Vitamina C 85 mg/dia Iodo 220 µg/dia Zinco 11 mg/dia Selênio 60 µg/dia Suplementação de ferro (Fe) Gestante com Fe sério dentro da normalidade: 40 mg/dia Gestante com deficiência de Fe: 120 mg/dia Suplementação de ácido fólico 400 µg/dia Adaptado de: Brasil (2012a). Quadro 4 – Principais orientações para minimizar queixas e dúvidas das gestantes Sintoma/queixa Orientações Náuseas, vômitos, azia e refluxo Estimular o fracionamento e reduzir o volume das refeições Mastigar bem os alimentos Evitar deitar-se após a ingestão de alimentos Evitar excesso de café ou alimentos ricos em cafeína Reduzir o consumo de gordura, principalmente as saturadas Iniciar as refeições com alimentos secos Utilizar alimentos cítricos ou mentolados Manter adequadamente a hidratação Problemas intestinais Manter a ingestão de água adequadamente Consumir fibras dentro das recomendações da DRI para gestante Consumir probióticos Se necessário, evitar alimentos fermentativos Salivação em excesso Aumentar o consumo de água Evitar alimentos muito secos Chupar gelo ao longo do dia Consumo hídrico Ingestão hídrica recomendada: 3 L considerando 20% provenientes dos alimentos e 80% em forma de água, chás ou sucos Adaptado de: Brasil (2012a). 32 Unidade I Saiba mais A Rede Cegonha foi criada por meio das Portarias ns. 1.459/2011 e 2.351/2011 com o objetivo de assegurar à mulher e à criança atenção humanizada durante o pré-natal, nascimento, puerpério e atenção infantil em todos os serviços do SUS. BRASIL. Manual instrutivo das ações de alimentação e nutrição na Rede Cegonha. Brasília: Ministério da Saúde, 2013. Disponível em: https://bityli.com/gbBDkO. Acesso em: 12 nov. 2021. Sugestão de leitura complementar: BRASIL. Atenção ao pré-natal de baixo risco. Brasília: Ministério da Saúde, 2012. (Cadernos de Atenção Básica, n. 32). Disponível em: https://bityli.com/T7LOe. Acesso em: 12 nov. 2021. BARROS, D. C.; SAUNDERS, C.; LEAL, M. C. Avaliação nutricional antropométrica de gestantes brasileiras: uma revisão sistemática. Revista Brasileira de Saúde Materno-Infantil, Boa Vista, v. 8, n. 4, p. 363-376, 2008. Disponível em: https://bityli.com/EJd7ip. Disponível em: 12 nov. 2011. 2.2 Estudo de caso – nutrição clínica. Temas para discussão: avaliação nutricional e diagnóstico de crianças (lactentes, fase escolar, adolescentes); orientação/conduta nutricional para crianças com desnutrição, eutróficas, com sobrepeso e obesas; suplementação de micronutrientes para essa população (indicações, doses e biodisponibilidade); programas de saúde para essa população Caso: uma mãe comparece ao consultório do nutricionista com seu filho de 5 anos de idade. A queixa principal é a falta de apetite da criança. Após a avaliação nutricional, verifica-se que a criança encontra-sedentro do peso e altura normal para a idade. Qual é a melhor conduta nutricional a ser tomada? A) Dispensar a mãe visto que a criança se encontra no estado nutricional de eutrofia e não há muito a orientar. B) Conversar com a mãe e tentar acalmá-la e dispensá-la, considerando que muitas mães ficam muito ansiosas com relação à alimentação dos filhos. C) Conversar com a criança para conhecer melhor a situação. 33 NUTRIÇÃO INTEGRADA D) Verificar os exames bioquímicos da criança e fazer anamnese nutricional para conhecer seus hábitos e preferências alimentares a fim de poder estabelecer uma conduta e propor um esquema de monitoramento para verificar a evolução. E) Conversar com o médico que assiste a criança e encaminhá-la para uma consulta médica. Resposta correta: alternativa D. Comentários e discussão: verificar os últimos exames bioquímicos da criança no início do caso é importante para afastar a possibilidade de alguma doença de base que poderia estar interferindo no apetite da criança. Se não houver princípios de alterações metabólicos ou fisiológicas, proceder a uma boa anamnese com a criança será de grande valia para interpretar o cenário infantil no qual a criança está inserida e realiza suas refeições. Importante ressaltar que é de responsabilidade do nutricionista zelar pelo desenvolvimento alimentar adequado da criança, portanto não se deve dispensar o atendimento ou transferi-lo para outros profissionais, bem como não se deve menosprezar a queixa da mãe ou dos cuidadores da criança. A infância é um período importante para a promoção de bons hábitos alimentares a fim de prevenir doenças crônicas na idade adulta. Por ser uma fase de intenso desenvolvimento sociocognitivo e motor, a fase pré-escolar (de 2 a 6 anos) é um período de grande importância nutricional devido ao processo de maturação biológica e período em que as crianças são muito influenciadas pelos comportamentos dos adultos, mídia, amigos e escola. Doenças carenciais, como deficiência de ferro e vitamina A, são epidemiologicamente associadas a esse período da vida, assim como hábitos alimentares errôneos podem favorecer o desenvolvimento de sobrepeso e obesidade precocemente (COMINETTI; COZZOLINO, 2013; SILVEIRA, 2015). Os primeiros mil dias de uma criança, período que compreende a soma dos 270 dias da gestação, 365 dias do primeiro ano e os 365 dias do segundo ano de vida, há um intenso desenvolvimento metabólico que promove forte impacto na programação de vida da pessoa adulta (MOZETIC; SILVA; SANEN, 2016). O aleitamento materno é de extrema importância para o recém-nascido, sendo uma de suas primeiras experiências nutricionais. Este tem mostrado grandes benefícios na redução de alguns parâmetros da síndrome metabólica, como dislipidemias, diabetes mellitus e hipertensão arterial sistêmica além de efeito protetor contra doenças cardiovasculares. A introdução de novos alimentos deve complementar as qualidades do LH a partir dos 6 meses de vida e a adoção de estilo de vida saudável, principalmente neste período, poderá determinar sua condição de saúde futura e até mesmo de seus descendentes (MOZETIC; SILVA; SANEN, 2016. p. 82). A introdução de alimentos sólidos concomitantemente ao leite materno, também conhecida como alimentação complementar, deve ser variada, com oferta de alimentos ricos em macro e micronutrientes com baixos teores de açúcares, sódio e condimentos fortes. Deve ter fácil consumo, de boa aceitação 34 Unidade I pela criança e de acordo com os alimentos consumidos pela família (BODINSKI, 2001; BRASIL, 2021; MOZETIC; SILVA; SANEN, 2016). O Ministério da Saúde lançou em 2021 o Guia alimentar para crianças brasileiras menores de 2 anos: versão resumida (BRASIL, 2021). Esse guia faz parte de uma série de manuais que tem como objetivo estimular e orientar hábitos alimentares saudáveis para a população brasileira. O Guia alimentar para crianças brasileiras menores de 2 anos: versão resumida auxilia profissionais da saúde e familiares na promoção da alimentação saudável para crianças, estimulando o aleitamento exclusivo até o 6º mês de vida e a introdução da alimentação complementar de forma mais tranquila e segura. Resumidamente, as recomendações do Ministério da Saúde (BRASIL, 2021) sobre a alimentação para crianças menores de 2 anos são: • dar somente leite materno até o 6º mês de vida, sem oferecer água ou outro alimento qualquer; • introduzir novos alimentos a partir dos 6 meses de maneira lenta e gradual, sem rigidez de horários e sempre que a criança sentir vontade; • a consistência deve ser pastosa e ser oferecida na colher desde o início da introdução, aumentando a espessura gradativamente até chegar na consistência da alimentação da família; • oferecer alimentos de forma variada e colorida; • estimular o consumo de frutas, legumes e verduras nas refeições; • evitar café, enlatados, frituras, refrigerantes, guloseimas e salgadinhos; • usar temperos com moderação. As recomendações de alguns nutrientes importantes na primeira infância que devem estar contemplados na alimentação complementar estão resumidas no quadro seguinte. Quadro 5 – Recomendações de alguns nutrientes para introdução à alimentação complementar de crianças até os 2 anos de idade Nutrientes Recomendações Carboidratos O pequeno volume do estômago do bebê (30-40 ml/kg de peso) pode impedi-lo de alcançar suas necessidades energéticas se a dieta for de baixa densidade energética. Essa densidade deve variar de acordo com a idade da criança, com o quanto ela ingere de leite materno, com a concentração de gordura no leite materno e com a frequência com que a criança recebe os alimentos complementares Para criança com ingestão média de leite materno e que consome, pelo menos, três refeições diárias com alimentos complementares, a densidade energética recomendada da dieta é de 0,6 kcal/g dos 6 aos 8 meses e de 1 kcal/g dos 12 aos 23 meses Quando a ingestão de leite materno é menor ou a criança apresenta retardo no crescimento, a densidade energética deve ser maior, variando de 0,8 a 1,2 kcal/g 35 NUTRIÇÃO INTEGRADA Nutrientes Recomendações Proteínas De 5 a 24 meses: 0,7 g/100 kcal Lipídeos De 30 a 45% da energia total, sendo de 4 a 10% de ω-6 e de 1 a 2% de ω-3, menos de 10% de gordura saturada, menos de 300 mg/dia de colesterol e menos de 2% de gordura trans Ferro De 6 a 8 meses: 4 mg/100 kcal De 9 a 11 meses: 2,4 mg/100 kcal De 12 a 24 meses: 0,8 mg/100 kcal Vitamina A Até 6 meses: 400 μg/dia De 7 a 12 meses: 500 μg/dia Vitamina D Até 12 meses: 5 μg/dia Fonte: Mozetic, Silva e Sanen (2016, p. 882). Saiba mais Leitura complementar: BRASIL. Guia alimentar para crianças brasileiras menores de 2 anos: versão resumida. Brasília: Ministério da Saúde, 2021. Disponível em: https://bityli.com/IveAnJ. Acesso em: 4 nov. 2021. Com o objetivo de conscientizar os profissionais de saúde sobre a importância dos mil dias na vida da criança, a Sociedade de Pediatria do Estado de São Paulo (SPSP) lançou em janeiro de 2021 a campanha “Fevereiro Safira – os primeiros mil dias: pelo futuro das crianças”. SPSP. Fevereiro safira – primeiros mil dias: pelo futuro das crianças. São Paulo, 29 jan. 2021. Disponível em: https://bityli.com/Fp9ld3. Acesso em: 4 nov. 2021. A fase pré-escolar apresenta um ritmo de crescimento mais lento se comparada com a fase da primeira infância, o que favorece a redução do apetite devido à diminuição das necessidades nutricionais. Gandra (1981) aponta que aos 2 anos de idade, o peso da criança é quatro vezes maior que o peso de seu nascimento, aumentando cerca de 2 kg por ano de idade; quando a criança atinge os 6 anos de idade, seu peso é seis vezes maior e seu perímetro encefálico é muito próximo ao do adulto, o que implica num grande desenvolvimento neurológico. Nessa fase, o consumo alimentar pode ser variado e a oferta de alimentos favoritos pode prejudicar o estado nutricional e o desenvolvimento saudável da criança.Por isso, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) ressalta que: 36 Unidade I Existe, ainda nesta faixa etária, a preferência pelo sabor doce, que é inato no ser humano, e que o dos demais sabores precisam ser “aprendidos”. Não deve ser encorajado comportamentos, tipo recompensa ou castigo, para forçar a criança a comer, pois na maioria das vezes esta recusa pode ser reforçada. É fundamental que as refeições e os lanches sejam servidos em horários determinados, adotando uma rotina alimentar, evitando os “beliscos”. É essencial estimular que as refeições sejam realizadas à mesa, de preferência com outros membros da família, com talheres adequados. Para despertar interesse da criança pelo alimento, uma refeição deve ter variedade de textura, cores e formas, evitando a monotonia alimentar. Recomenda-se de 5 a 6 refeições diárias: café da manhã, lanche matinal, almoço, lanche vespertino, jantar e, se necessário, ceia. Deve-se estabelecer tempo definido para as refeições e encerrá-la após, independente da ingestão da criança, não devendo haver substituições, caso a refeição não tenha sido consumida adequadamente. Não é recomendado o estímulo a “raspar” o prato, uma vez que a criança pode começar a perder a capacidade da saciedade pela mensagem neurológica e sim pela distensão gástrica. A oferta de líquidos deve ser controlada nas refeições, evitando distensão gástrica e saciedade precoce. Se a criança necessitar de ingestão hídrica, a água deverá sempre ser priorizada. Limitar o consumo de alimentos com excesso de gordura, sal e açúcar, assim como o consumo excessivo de bebidas à base de soja, pela oferta excessiva de proteínas, fitoestrógenos e açúcares. Estimular o consumo de alimentos ricos em ferro e zinco (carnes, mas preferencialmente magras), cálcio (leite e derivados), vitamina A (legumes amarelo-alaranjados, carnes, ovos) (SBP, 2012, p. 13). A fase escolar, que compreende a faixa etária de 7 a 10 anos de idade, consiste em um período de transição para a adolescência e de intensa atividade física, ganho de peso e altura acentuados. Dependendo do estilo de vida da criança e da família, há maior propensão ao desenvolvimento da obesidade. A escola é um dos locais de grande estímulo ao aprendizado alimentar, embora a família continue a influenciar na alimentação da criança. Nessa faixa etária, é importante estimular o consumo de leite para fornecer a quantidade de cálcio necessária para o desenvolvimento ósseo, desestimular o consumo de refrigerantes e salgadinhos e restringir as atividades sedentárias. Para facilitar a orientação à SBP (2012), foram elaboradas algumas diretrizes que servem de guia para a alimentação da criança em fase escolar: • priorizar o consumo de carboidratos complexos em detrimento dos simples (inferior a 25% do valor energético total); • estimular o consumo diário e variado de frutas, verduras e legumes (> 5 porções por dia); 37 NUTRIÇÃO INTEGRADA • restringir o consumo de gorduras saturadas (30% do valor energético total): < 300 mg de colesterol e 10% de poliinsaturadas; • estimular o consumo de peixes duas vezes por semana (200 g por semana); • controlar a ingestão de sal (< 6 g/dia); • orientar a importância de ler e interpretar os rótulos dos alimentos industrializados; • controlar o ganho excessivo de peso pela adequação da ingestão de alimentos ao gasto energético e pelo desenvolvimento de atividade física regular; • evitar a substituição de refeições por lanches; • estimular a prática de atividade física. Saiba mais O Governo Federal possui um programa que fornece alimentação para estudantes de toda a Educação Básica conhecido como Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). Por meio dele, é possível estimular a educação nutricional e a alimentação saudável. Para maiores informações, acesse: BRASIL. Sobre o PNAE. Brasília, 2017. Disponível em: https://bityli.com/g68RPA. Acesso em: 4 nov. 2021. A adolescência, período que compreende entre 10 a 19 anos de acordo com a OMS, é uma fase de grandes transformações biopsicossociais que interferirão profundamente no estado nutricional do indivíduo. A alimentação do adolescente sofre forte influência da mídia com a imposição de ideais de beleza que estimulam uma composição corporal muitas vezes inatingível. Para alcançar seus objetivos de magreza, muitos adolescentes optam por alternativas não saudáveis, como dietas restritivas, e por comportamentos compensatórios de compulsões alimentares, uso de anabolizantes ou medicamentos emagrecedores e de suplementos esportivos sem a orientação de profissionais capacitados para tal prescrição (SILVA; TEIXEIRA; FERREIRA, 2014). O adolescente busca praticidade e palatabilidade na hora da escolha de seu alimento. Quanto mais rápido o preparo e mais palatável, maior será a chance de esse alimento estar presente na sua rotina alimentar, o que favorece o desenvolvimento de carências nutricionais associadas à obesidade (ROSSI; POLTRONIERI, 2019). 38 Unidade I Para uma orientação alimentar eficiente para o adolescente, é importante realizar uma anamnese alimentar completa que aborde o estilo de vida e a rotina de atividades, como estudo, práticas esportivas e outras atividades complementares. Algumas particularidades devem ser consideradas no momento de estabelecer o plano alimentar, como período de concursos, além de conhecer as principais preocupações do adolescente, não se esquecendo de que o plano alimentar deve ser apresentado com uma linguagem acessível (ROSSI; POLTRONIERI, 2019). Algumas observações importantes de acordo com Silva, Teixeira e Ferreira (2014): • não assumir um perfil autoritário nas orientações; • fornecer sugestões alimentares práticas e rápidas; • não usar referenciais alimentares de adultos (usar os pais como exemplo); • o plano alimentar deve ser flexível e se adaptar à rotina do adolescente; • verificar o consumo de bebidas alcoólicas e drogas ilícitas de forma sutil e confidencialmente; • sempre que possível, trabalhar em equipe multidisciplinar e envolver a família no diálogo com o adolescente. Para elaboração do plano alimentar e aconselhamento nutricional do adolescente, recomenda-se a adoção das orientações do Guia alimentar para a população brasileira (BRASIL, 2014b), que preconiza: • favorecer dieta variada com todos os grupos alimentares; • evitar alimentos ultraprocessados, refrigerantes e sucos artificiais; • orientar o consumo de carboidratos complexos; • orientar o consumo de cinco porções diárias de frutas, legumes e verduras; • estimular o consumo de peixes marinhos; • estimular o controle do consumo de sódio; • estimular o consumo de alimentos ricos em cálcio, zinco e ferro; • orientar quanto aos possíveis fatores de risco, como poucas horas de sono, ingestão de álcool e energéticos; • estimular a leitura e interpretação dos rótulos dos alimentos industrializados; • estimular a prática de atividades físicas. 39 NUTRIÇÃO INTEGRADA Saiba mais O Guia alimentar para população brasileira está disponível em: BRASIL. Guia alimentar para a população brasileira. 2. ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2014. Disponível em: https://bityli.com/sxxtG. Acesso em: 12 nov. 2021. O resumo das principais orientações está disponível em Dez passos para uma alimentação adequada e saudável: BRASIL. Dez passos para uma alimentação adequada e saudável. Brasília: Ministério da Saúde, jun. 2015. (1 folder). Disponível em: https://bityli.com/dgLxQ0. Acesso em: 12 nov. 2021. 3 NUTRIÇÃO CLÍNICA DO ADULTO E DO IDOSO 3.1 Estudo de caso – nutrição clínica. Temas para discussão: avaliação e diagnóstico nutricional de adultos (homens e mulheres); orientação/conduta nutricional para adultos desnutridos, eutróficos, com sobrepeso e obesos; conduta nutricional para as doenças crônicas não transmissíveis (DCNT); suplementação de micronutrientes para essa população (indicações, doses e biodisponibilidade); programas de saúde para essa população Caso:
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