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DIREITO DO CONSUMIDOR D E B O R A H C . A L V E S Origem do Direito do Consumidor Conceitos iniciais; Perspectiva histórica; Direitos do Consumidor e Constituição Federal Deborah C. Alves Advogada, especialista em Administração Pública 1. Conceitos iniciais Podemos conceituar o Direito do Consumidor como o ramo do Direito que normatiza e disciplina as relações de consumo, aquelas estabelecidas entre fornecedores (que disponibilizam produtos ou serviços ao mercado) e consumidores (que são aqueles que consomem produtos ou serviços como destinatário final). No Brasil, o seu regramento concentra-se, principalmente, no Código de Defesa do Consumidor (CDC – Lei nº 8.078/1990). Na lição de MARQUES in BENJAMIN, MARQUES e BESSA (2013, 5ª edição, pág. 31), o Direito do Consumidor é um ramo novo do direito, disciplina transversal entre o direito privado e o direito público, que tem como objetivo proteger um sujeito de direitos – o consumidor –, em todas as suas relações jurídicas frente ao fornecedor – que é um profissional, um empresário ou comerciante. Pelas palavras da autora, podemos notar que a característica principal do Direito do Consumidor é a sua natureza protetiva em relação à parte mais vulnerável da relação de consumo, que é o consumidor. A novidade do Direito do Consumidor deve-se, principalmente, ao fato de que a figura do consumidor em si, como sujeito de interesses individuais e coletivos, também só foi reconhecida recentemente. A autora destaca (pág. 31) que, no decorrer da História, este sujeito de direitos era identificado com denominações diversas, eminentemente neutras, como “contratante”, “cliente”, “comprador”, como aquele que é o transportado, o mutuário, quem contrata um serviço, o “terceiro” beneficiário de um seguro – em suma, o cocontratante ou o terceiro-vítima do fato de um produto e de um serviço. Outro ponto notável é que, em todas as situações citadas, a perspectiva era predominantemente individual; apenas de modo raro era considerado um possível aspecto coletivo ou relativo a um grupo social, em relação àqueles envolvidos em uma relação de aquisição de um produto ou de um serviço com os mesmos problemas e dificuldades (interesses metaindividuais). A relação em si, estabelecida entre o agente econômico e esses indivíduos, era considerada de maneira específica e individualizada. Vale também apontar que o Direito do Consumidor é um ramo do Direito privado, mas que apresenta um forte elemento social, personificado na ideia de proteção ao consumidor, tanto de forma individualizada quanto coletiva, com fundamento na questão da dignidade da pessoa humana. Ou seja, o Direito do Consumidor assume um forte caráter de transversalidade entre os campos público e privado. Diante dessas informações iniciais, devemos analisar como o consumo se tornou objeto de necessária disciplina jurídica, e como a figura do consumidor passou a ser considerada o cerne das relações de consumo. 2. Perspectiva histórica O Direito do Consumidor é um ramo do Direito que, pelos padrões históricos, ainda é recente, uma vez que disciplina tópicos originados principalmente em razão do desenvolvimento tecnológico e científico dos dois últimos séculos. A percepção da necessidade de uma disciplina jurídica específica relativa às relações de consumo só surgiu com o advento da industrialização e o nascimento da chamada sociedade de consumo. O consumo sempre existiu, sendo considerado parte indissociável do cotidiano social. Motivado por fatores tão diversos quanto a necessidade de sobrevivência e a busca pela ostentação de riqueza, a compreensão do fenômeno do consumo extrapola as barreiras biológicas e transforma-se em condição essencial da existência humana, na pedra fundamental da chamada sociedade de consumo – compreendida esta como o tipo de sociedade que se encontra em uma etapa avançada de desenvolvimento industrial capitalista, na qual a elevada produção de bens e serviços consequentemente aumenta o consumo massivo. A sociedade de consumo é caracterizada pela produção em série, pela distribuição em massa de produtos e serviços, pela publicidade em grande escala, pela formalização das aquisições por meio de contratos de adesão e pela oferta generalizada de crédito. Conforme FERRACIOLLI in LENZA et al (2020, 7ª edição, pág. 2.410), apesar de tais características serem facilmente identificadas em nosso cotidiano, nem sempre foi assim; somente a partir da segunda metade do século XX que os cidadãos passaram a conviver com a complexa sociedade de consumo com esses traços, os quais acentuam o desequilíbrio de forças existente entre os que detêm os meios de produção (fornecedores) e os que deles dependem (consumidores). Tais peculiaridades também conduzem ao surgimento de uma situação de verdadeira desigualdade entre fornecedores e consumidores, o que deu causa à necessidade de criação de legislação cujo cerne é a defesa do consumidor. Assim como outros ramos jurídicos surgidos no Séc. XX, o Direito do Consumidor procura satisfazer as necessidades de uma sociedade em mudança. O fator que alavancou essa mudança social – cujos efeitos ditam as características que até hoje marcam a nossa sociedade – foi a chamada Revolução Industrial. A Revolução Industrial se iniciou na Inglaterra, no Séc. XVIII, com a mecanização da indústria e da agricultura, e que gerou uma intensa migração da população residente nas áreas rurais para os centros urbanos; esse novo contingente populacional começou, no decorrer do tempo, a manifestar ávido interesse pelo consumo de novos produtos e serviços capazes de satisfazer suas necessidades materiais (ALMEIDA, 2020, 8ª edição, pág. 46). As relações de consumo evoluíram, deixando de ser pessoais e diretas, centradas na mera troca de mercadorias por valores, e assumindo conformações mais complexas, fundamentadas em contratos e tornando-se mais impessoais, uma vez que a identidade do fornecedor vai perdendo importância. A produção deixa de ter um caráter bilateral (em que as partes contratantes discutiam cláusulas contratuais e eventual matéria-prima que seria utilizada na confecção de determinado produto) e passa a ser unilateral: uma das partes, o fornecedor, é o responsável exclusivo por ditar os caminhos da relação de consumo, sem a participação efetiva do consumidor (ALMEIDA, pág. 46). Os bens de consumo passaram a ser produzidor em série, para um número cada vez maior de consumidores, estabelecendo assim uma das maiores características das sociedades capitalistas. Essa alteração substancial do teor da relação de consumo também deixou em evidência a fragilidade do consumidor diante dos grandes conglomerados industriais e das novas situações decorrentes do desenvolvimento – e a subsequente necessidade de uma resposta legal protetiva. O excesso de força e de influência que os fornecedores detêm, amplificados pela publicidade e pela criação opressiva de falsas necessidades, repercutem de forma negativa sobre os consumidores, evocando a demanda por um arcabouço legal protetivo. Conforme GIANCOLI e ARAUJO JUNIOR (2012, 3ª edição, pág. 23), nos Estados Unidos, a proteção ao consumidor havia começado em 1890 com a Lei Shermann, que é a lei antitruste americana; e, ao final do século XIX e início do século XX, surgiram os primeiros movimentos consumeristas em países como a França, a Alemanha, a Inglaterra e, principalmente, os Estados Unidos, manifestando uma tendência de proteção jurídica às relações de consumo e representando uma reação social de conscientização do consumo – o qual permitiu o surgimento de sistemas normativos de proteção. No entanto, somente a partir dos anos 60 do Séc. XX é que essa questão tomou um novo fôlego. MARQUES in BENJAMIN, MARQUES e BESSA (pág. 32) cita que se considera que foi um discurso de JohnKennedy, em 1962, em que o presidente norte-americano enumerou os direitos do consumidor e os considerou como novo desafio necessário para o mercado, é que se deu o início de reflexões jurídicas mais profundas sobre este tema. Posteriormente, já na década de 70, foi a vez da Europa se manifestar sobre o assunto, especialmente pelo Conselho da Europa em 1973 e da Comunidade Econômica Europeia em 1975. A defesa do consumidor é um tema supranacional, que abrange todos os países, sejam estes desenvolvidos ou em via de desenvolvimento – o que ficou evidenciado pelas manifestações da Organização das Nações Unidas (ONU) em relação a esse tópico. Em ocasiões diversas, a partir de 1969, a ONU manifestou-se acerca da questão da defesa dos consumidores, sendo os principais exemplos os seguintes: A Resolução nº 2.542/1969, que proclamou a Declaração das Nações Unidas sobre o progresso e desenvolvimento social; A Comissão de Direitos Humanos da ONU, em 1973, enunciou e reconheceu os direitos fundamentais e universais do consumidor. A Resolução nº 39/248 de 1985, que traz normas sobre proteção do consumidor, positivando o princípio da vulnerabilidade no plano internacional ao considerar que os consumidores se deparam com o desequilíbrio em termos econômicos, níveis educacionais e poder aquisitivo. No Brasil, a proteção ao consumidor desenvolveu-se de forma lenta. Fomos um país preponderantemente rural até quase a metade do século passado, momento no qual se inicia um período de forte industrialização e urbanização não planejada, o que reforçou muitos conflitos decorrentes do desequilíbrio natural presente nas relações de consumo (FERRACIOLLI in LENZA, pág. 2.411). O autor destaca (pág. 2.411) que, até a década de 1980, a figura do consumidor não encontrava proteção legal específica além de alguns tipos penais criados na década de 1940 para regular o crescente comércio; o diploma que regulava as relações no campo do direito privado era o Código Civil de 1916, norma concebida para disciplinar situações cujo ponto de partida era a suposição de igualdade entre as partes, realidade cada vez mais distante na sociedade de consumo da década de 1980. Assim, a norma civil era caracterizada por disciplinar situações predominantemente individuais, não sendo suficiente para atender de maneira adequada as questões relativas ao consumo, frequentemente dotadas de caráter coletivo. Os próprios elementos tipicamente contratuais, como os princípios do pacta sunt servanda (obrigatoriedade dos termos pactuados), da autonomia da vontade e da responsabilidade fundada na culpa mostravam-se absolutamente inadequados para tratar das questões consumeristas (ALMEIDA, pág. 48). Somente com o advento da Constituição Federal de 1988 é que foi reconhecida – e normatizada – a questão do reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor e sua necessária proteção pelo ente estatal. 3. Direitos do Consumidor e Constituição Federal A Constituição é a norma máxima de um ordenamento jurídico, fundamentando-o e lhe dando validade, além de ser diploma capaz de definir a estrutura política fundamental de um Estado, seus princípios políticos, e estabelecer a estrutura, procedimentos, poderes e direitos de um governo, reunindo as regras a serem seguidas em sociedade. Após uma longa ditadura militar, o Brasil viveu, entre os anos de 1975 e 1985, o período chamado de “redemocratização”, um processo de restauração da democracia. Em 1985, foi convocada a Assembleia Constituinte, com a finalidade de elaborar novo texto constitucional para expressar a realidade social pela qual passava o país. Datada de 5 de outubro de 1988, a Constituição inaugurou um novo arcabouço jurídico-institucional no país, com ampliação das liberdades civis e os direitos e garantias individuais. A nossa atual Constituição Federal trata, de maneira pormenorizada, da proteção a vários direitos fundamentais. A sua designação de “Constituição Cidadã” advém da vastidão de direitos fundamentais por ela resguardada. Em relação ao consumidor, a Constituição Federal traz dois comandos em seu corpo principal: os arts.5º, XXXII, e 170, V. O art. 5º, XXXII, prevê que o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor. Já o art. 170, V, estabelece a defesa do consumidor como princípio da ordem econômica, de modo que o aspecto protetivo da norma em relação ao consumidor deve ser observado em todos os aspectos do exercício da atividade econômica. Assim, por previsão constitucional, o Direito do Consumidor passa a ser um direito social fundamental, atribuindo ao Estado a responsabilidade obrigatória de promover a defesa do vulnerável da relação jurídica de consumo (ALMEIDA, pág. 56). A Constituição Federal também impôs ao legislador ordinário a necessidade de elaboração de um Código de Defesa do Consumidor no prazo de 120 (cento e vinte) dias a contar de sua promulgação (art. 48, Ato das Disposições Constitucionais Transitórias – ADCT). FERRACIOLLI in LENZA (pág. 2.412) destaca que o prazo não foi cumprido – mas a determinação constitucional foi fundamental para pressionar o Congresso Nacional a editar a Lei Federal nº 8.078/1990, o denominado Código de Defesa do Consumidor. GARCIA in GARCIA et al (2019, 6ª edição, pág. 2.490) destaca que a Constituição determinou a elaboração de um Código de Defesa do Consumidor, e não de um mero código de relações de consumo; em razão desta previsão, as normas trazidas pelo CDC concedem certas prerrogativas e vantagens em favor do consumidor, tratando-o de maneira especial em relação ao fornecedor, com o objetivo de deixar mais equilibrada a relação jurídica entre os dois. Bibliografia Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilad o.htm. Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990. Dispõe sobre a proteção do consumidor e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8078compilado.htm. ALMEIDA, Fabricio Bolzan de. Direito do consumidor esquematizado. – Coleção esquematizado® / coordenador Pedro Lenza – 8. ed. – São Paulo: Saraiva Educação, 2020. MARQUES, Claudia, in BENJAMIN, Antonio Herman de Vasconcellos; MARQUES, Claudia Lima, e BESSA, Leonardo Roscoe. Manual de Direito do Consumidor - 5ª Ed. – São Paulo: Thomson Reuters Brasil (Editora Revista dos Tribunais), 2013. FERRACIOLLI, Renan, in LENZA, Pedro... [et al.]. OAB primeira fase: volume único. (Coleção esquematizado ® / coordenador Pedro Lenza) – 7. ed. – São Paulo: Saraiva Educação, 2020. GARCIA, Wander in GARCIA, Wander… [et al.]. Super-revisão concursos jurídicos (Organização Wander Garcia, Ana Paula Garcia, Renan Flumian). - 6. ed. - Indaiatuba, SP: Editora Foco, 2019. GIANCOLI, Brunno Pandori e ARAUJO JUNIOR, Marco Antonio. Direito do Consumidor. Coleção Elementos do Direito. 3ª edição revista, atualizada e ampliada. – São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2013. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8078compilado.htm Destaques do Direito do Consumidor Introdução; Destaques do Direito do Consumidor 1. Introdução As previsões legais trazidas pelo Direito do Consumidor já fazem parte de nosso cotidiano social. A considerável popularização da norma – especialmente em razão da atuação de órgãos que integram o Sistema Nacional de Defesa do Consumidor (SNDC), que abranges órgãos federais, estaduais, do Distrito Federal e municipais e as entidades privadas de defesa do consumidor – trouxe consigo a implantação de uma nova cultura entre as relações de fornecedores e consumidores. Todavia, com o avançodo conhecimento do tema pelas pessoas, também surgiram uma série de ideias preconcebidas acerca dos direitos dos consumidores, e que nem sempre correspondem à realidade – ou são decorrentes dá má interpretação dos pormenores jurídicos relativos ao tema. Assim, neste material, a ideia é procurar esclarecer alguns dos “mitos” mais comuns em relação à aplicação do Direito do Consumidor. 2. Destaques do Direito do Consumidor Valor mínimo para compras no cartão de crédito ou de débito: É uma prática comum, nos estabelecimentos comerciais, impor um valor mínimo para compras pagas por meio de cartão de crédito ou de débito. A prática, porém, é considerada abusiva pelo Código de Defesa do Consumidor (CDC – Lei nº 8.078/1990). O art. 39, I do CDC prevê que é vedado ao fornecedor de produtos ou serviços condicionar o fornecimento de produto ou de serviço ao fornecimento de outro produto ou serviço, bem como, sem justa causa, a limites quantitativos. Embora os estabelecimentos não sejam obrigados a aceitar o cartão como meio de pagamento, se aceitarem, não podem impor um preço mínimo. Por configurar-se igualmente como uma forma dos estabelecimento de impor ao consumidor que ele adquira produtos e serviços além do planejado, a prática também viola o art. 39, V, do CDC, que veda ao fornecedor de produtos exigir do consumidor vantagem manifestamente excessiva. Desistência de compras feitas pela internet: O comércio pela internet cresce no mesmo ritmo dos avanços tecnológicos. Entre 2013 e 2019, a parcela da população brasileira que realizou compras pela internet quase dobrou, passando de 23% para 42% (Diário do Comércio, 2020). O CDC permite ao consumidor desistir de compras feitas pela Internet, dentro do prazo de sete dias – período contado a partir da assinatura do contrato ou do recebimento do produto, conforme previsto no artigo 49 do Código de Defesa do Consumidor (CDC) e no Decreto nº 7.962/2013. Se o consumidor exercitar o direito de arrependimento, os valores eventualmente pagos, a qualquer título, durante o prazo de reflexão, serão devolvidos, de imediato, monetariamente atualizados. Em tais casos, o fornecedor deve devolver quaisquer valores extras pagos pelo comprador, como o frete, uma vez que o CDC prevê que o direito de arrependimento deve ser exercido sem ônus. Prazo para reclamações acerca de defeitos de produtos: Nem sempre tudo ocorre como esperado ao adquirir um produto ou serviço. O art. 26 do CDC prevê que o direito de reclamar pelos vícios aparentes ou de fácil constatação caduca em trinta dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de produtos não duráveis; ou noventa dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de produtos duráveis. São exemplos de serviço e de produtos não duráveis os alimentos, a lavagem de automóveis, serviços de lavanderia etc. Já como exemplo de fornecimento de serviço e de produtos duráveis podemos citar móveis, eletrodomésticos ou consertos e reparos. Os vícios aparentes ou de fácil constatação são aqueles cuja identificação não exige qualquer conhecimento especializado por parte do consumidor. No caso de defeito (vício) oculto, onde o problema se manifesta após certo tempo de uso, o prazo para reclamar inicia-se a partir do momento em que ele ficar caracterizado, até o prazo máximo de cento e oitenta dias, em se tratando de bens móveis, e de um ano, para os imóveis. Não sendo o vício sanado no prazo máximo de 30 dias, o consumidor tem o direito de exigir, em alternativa à sua escolha, um dos seguintes procedimentos: a) A substituição do produto por outro da mesma espécie em perfeitas condições de uso b) A restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos. c) O abatimento proporcional do preço. d) A Complementação do peso ou medida. Responsabilidade dos estacionamentos: é extremamente comum nos deparamos, em estacionamentos, com uma placa que afirma que o estabelecimento não se responsabiliza por itens deixados no interior do veículo. No entanto, a informação ostentada por esses cartazes não corresponde à verdade. Nos termos do art. 14 do CDC, o fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos. A norma estabelece, portanto, a responsabilidade objetiva do fornecedor, independente de culpa. Ao deixar o veículo no estacionamento, o consumidor deve receber um comprovante de entrega com a data e hora de recebimento, marca, modelo e placa do veículo; o prazo de tolerância; e os dados da empresa. Esse documento materializa a relação contratual de consumo e fundamenta reclamações do consumidor, com base na disciplina do CDC. O Superior Tribunal de Justiça já sumulou o entendimento de que a empresa responde, perante o cliente, pela reparação de dano ou furto de veículo ocorridos em seu estacionamento. A regra também vale para os casos em que o estacionamento é ofertado, gratuitamente, pelo estabelecimento comercial. Assim, os estacionamentos gratuitos também estão sujeitos ao regramento do CDC; o estabelecimento comercial que oferece estacionamento a seus clientes, ainda que não cobre pelo serviço e não entregue comprovante, assume a obrigação de guarda do veículo, podendo ser responsabilizado por furto ou danos. Cobranças indevidas: Quem sofreu qualquer cobrança indevida por parte de alguma empresa sabe o tamanho do aborrecimento provocado por essa prática. Nesse caso, o consumidor poderá exigir que o valor seja restituído em dobro e com correção monetária. O art. 42 do CDC, em seu parágrafo único, determina que o consumidor cobrado em quantia indevida tem direito à repetição do indébito, por valor igual ao dobro do que pagou em excesso, acrescido de correção monetária e juros legais, salvo hipótese de engano justificável. Direito à informação: O CDC, em seu art. 6º, III estabelece que produtos e serviços devem oferecer informação adequada, com especificação correta de quantidade, características, composição, qualidade, tributos incidentes e preço, bem como sobre os riscos que apresentem. Ou seja, o direito à informação é um dos direitos básicos do consumidor, de modo que o cliente não pode ter dúvidas acerca de detalhes importantes relativos ao item que está sendo comprado. Suspensão temporária de serviço: Em caso de viagens, o consumidor que está em dia com seus pagamentos pode solicitar a suspensão temporária dos serviços regulamentados pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). Essa suspensão é possível uma vez a cada doze meses, por um período de trinta a cento e vinte dias (de um a quatro meses). São exemplos de serviços abrangidos por essa regra: a telefonia fixa e de celular, a TV por assinatura e a Internet. Sobre o tema, ver as Resoluções 426, 477, 488, 614 e 632, todas da Agência Nacional de Telecomunicações (ANATEL). Falta de troco: É o estabelecimento comercial que deve providenciar, em seu caixa, valores para oferecer o troco nas transações ali realizadas. O art. 39, incisos I e II do CDC, estabelecem como práticas abusivas condicionar o fornecimento de produto ou de serviço ao fornecimento de outro produto ou serviço, bem como, sem justa causa, a limites quantitativos e recusar atendimento às demandas dos consumidores, na exata medida de suas disponibilidades de estoque, e, ainda, de conformidade com os usos e costumes. Recaem nessas previsões a imposição da substituição do troco por mercadorias equivalentes (a famosa “balinha”), o arredondamento do valor para cima ou a negação em fornecer o serviço por não haver troco disponível. Preços diferentes: Caso haja dois preços registrados para umamesma mercadoria, o consumidor pagará o menor deles. Conforme os art. 5º e 5º-A da Lei nº 10.962/2004, no caso de divergência de preços para o mesmo produto entre os sistemas de informação de preços utilizados pelo estabelecimento, o consumidor pagará o menor dentre eles. O fornecedor é obrigado ainda a informar, em local e formato visíveis ao consumidor, eventuais descontos oferecidos em função do prazo ou do instrumento de pagamento utilizado. Bibliografia Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990. Dispõe sobre a proteção do consumidor e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8078compilado.htm. Lei nº 10.962, de 11 de outubro de 2004. Dispõe sobre a oferta e as formas de afixação de preços de produtos e serviços para o consumidor. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004- 2006/2004/lei/l10.962.htm. Resolução 477, de agosto de 2007, da Agência Nacional de Telecomunicações – ANATEL. Disponível em: https://informacoes.anatel.gov.br/legislacao/resolucoes/2007/9- resolucao-477. E-commerce conquista os brasileiros - Diário do Comércio Em: https://diariodocomercio.com.br/negocios/e-commerce-conquista-os- brasileiros. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8078compilado.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2004/lei/l10.962.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2004/lei/l10.962.htm https://informacoes.anatel.gov.br/legislacao/resolucoes/2007/9-resolucao-477 https://informacoes.anatel.gov.br/legislacao/resolucoes/2007/9-resolucao-477 https://diariodocomercio.com.br/negocios/e-commerce-conquista-os-brasileiros https://diariodocomercio.com.br/negocios/e-commerce-conquista-os-brasileiros Aplicação do Direito do Consumidor Introdução; Aplicação do Direito do Consumidor 1. Introdução O conhecimento das regras jurídicas que regem um determinado tópico faz com que as condutas a ele relativas sejam realizadas dentro da legalidade, além de possibilitar eventuais direitos e prerrogativas garantidas no âmbito do ordenamento jurídico. Conhecer quais são os direitos legalmente atribuídos faz com que os membros da sociedade possam exercer sua cidadania, não apenas em desfrutá-los, mas também para cobrar do ente estatal as ferramentas e meios para concretizá-los no plano concreto. O conteúdo trabalhado pelo Direito do Consumidor não é exceção. Ao tratar das relações de consumo, as normas consumeristas, como o CDC, estabelecem regras tanto para fornecedores quanto para os consumidores, sempre com o objetivo de equilibrar a ligação entre ambos e proteger a parte mais vulnerável. Conhecer quais são os direitos e obrigações também pauta comportamentos, criando uma cultura de observância das normas e a percepção de sua adequação à realidade. A consolidação da disciplina do CDC, especialmente em relação aos deveres dos fornecedores, criou consumidores mais informados e esclarecidos, exigentes em relação à atuação dos fornecedores. O reconhecimento de tais direitos por parte dos cidadãos, e suas cobranças, também obrigam o mercado a adequar-se às demandas de seu público, que ecoam o regramento normativo. Assim, vamos analisar brevemente algumas manifestações do Direito do Consumidor no plano concreto. 2. Aplicação do Direito do Consumidor A seguir, vamos fazer algumas considerações acerca da aplicabilidade do Direito do Consumidor. O exercício profissional e os comandos normativos relativos ao consumidor: A observância do regramento legal, de maneira ampla, garante a convivência em sociedade e a pacificação social, pela diminuição do surgimento de conflitos, bem como sua resolução e a imposição de sanções àqueles que não respeitam as normas estabelecidas. Em nossa sociedade, como estudamos anteriormente, em decorrência do desenvolvimento do modo de produção capitalista e do surgimento da sociedade de consumo, restou evidente que as leis civis não eram suficientes para atender, de maneira satisfatória, as demandas dos consumidores. Daí nasceu a percepção da necessidade de legislação específica acerca do tópico das relações de consumo, pensadas de forma a proteger o consumidor perante o fornecedor. O CDC traz normas principiológicas (que possuem como objetivo maior conferir direitos aos consumidores, que são os vulneráveis da relação, e impor deveres aos fornecedores) e de ordem pública e interesse social, que repercutem além da esfera privada das pessoas envolvidas (ALMEIDA, 2020, 8ª edição, págs. 62 e ss.), procurando atingir a concretização da igualdade material entre o fornecedor e o consumidor vulnerável. O conhecimento dessas regras faz com que os fornecedores encontrem diversos limites em sua atuação. Pela norma, são vedadas as práticas abusivas e enganosas, e atribuídas responsabilidades e obrigações aos fornecedores, que não podem agir de maneira irresponsável para incrementar seu lucro e suas vendas. A estruturação da norma impede também que os consumidores renunciem a seus direitos em razão de pressões do fornecedor. Vale também lembrar que a atuação dentro da legalidade representa, para os fornecedores, o incremento da segurança de suas relações jurídicas, o estabelecimento de uma relação de confiança com os consumidores e evita processos e punições de natureza judicial. Sob a ótica do fornecedor, o conhecimento do regramento relativo ao Direito do Consumidor traz ainda benefícios específicos, de modo a garantir que sua empresa funcione de acordo com os ditames do CDC (ou seja, dentro da legalidade), estabeleça relações positivas com os consumidores e atue como elemento ampliador e propagador do conhecimento, ao fazer com que sua conduta conforme o CDC funcione como instrumento de informação e de esclarecimento para seus clientes. A prova e o momento processual: No âmbito do Direito do Consumidor, as questões da prova e do momento de sua apresentação têm importância dentro do desenvolvimento do processo consumerista. A atenção em relação às provas, e o modo como estas são reunidas, organizadas e apresentadas, fazem diferença no momento de elaborar uma boa defesa – seja esta do fornecedor ou do consumidor. O art. 6º, VIII, do CDC, determina que haverá a inversão do ônus da prova ao consumidor, quando, no processo civil, for verossímil a alegação ou quando for o consumidor hipossuficiente na relação de consumo. A inversão do ônus da prova é uma importante manifestação do intuito protetivo da norma e visa a facilitação da defesa do consumidor em juízo, também prevista pelo CDC (art. 6º, VIII). O cumprimento de prazos no âmbito do CDC: Em toda atividade humana, a adequada observância dos prazos e o cumprimento de tarefas e a realização de condutas em tempo hábil são essenciais à sua adequada realização. O CDC estabelece prazos de prescrição e decadência para o exercício de direitos. Por exemplo, temos que o direito de reclamar pelos vícios aparentes ou de fácil constatação caduca em trinta dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de produtos não duráveis e em noventa dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de produtos duráveis (art. 26). Também podemos citar as previsões do CDC em relação ao prazo de validade dos orçamentos (que será de dez dias, contado de seu recebimento pelo consumidor, nos termos do art. 40, §1º, CDC), e a determinação de que são impróprios ao uso e consumo os produtos cujos prazos de validade estejam vencidos (art. 18, §6º, I, CDC). Em relação aos prazos processuais previstos pelo CDC, podemos mencionar, como exemplo, o prazo prescricional de cinco anos, relativo à pretensão de reparação pelos danos causados por fato do produto ou do serviço, iniciando-se a contagem do prazo a partir do conhecimento do dano e de sua autoria (art. 27, CDC). A educação dos consumidores e fornecedores: um dos princípiosda Política Nacional das Relações de Consumo, previsto pelo art. 4º, IV, do CDC, é a educação e informação de fornecedores e consumidores, quanto aos seus direitos e deveres, com vistas à melhoria do mercado de consumo. Na lição de GARCIA (2016, 13ª edição, pág. 68), por força deste princípio, é dever de todos (o Estado, entidades privadas de defesa do consumidor, empresas etc.), informar e educar o consumidor a respeito de seus direitos e deveres, de modo que este possa atuar de maneira mais consciente no mercado de consumo – o que resulta, consequentemente, em uma sociedade mais justa e equilibrada. O autor destaca ainda (pág. 68) a relação de complementaridade entre a educação de fornecedores e consumidores, colocando-os lado a lado no comando normativo, de tal maneira que quanto maior for o grau de informação existente, menor será o índice de conflitos nas relações de consumo – justificando, assim, a preocupação com a conscientização de ambos os polos da relação de consumo. Outro dos princípios da Política Nacional das Relações de Consumo é o fomento de ações direcionadas à educação financeira e ambiental dos consumidores. A educação e divulgação sobre o consumo adequado dos produtos e serviços, asseguradas a liberdade de escolha e a igualdade nas contratações é um dos direitos básicos do consumidor. Publicidade e práticas abusivas: Em razão da importância da publicidade no âmbito do mercado de consumo, nada mais natural que o CDC tenha disciplinado o tema. ALMEIDA (pág. 748) conceitua a publicidade como a informação veiculada ao público consumidor, com o objetivo de promover comercialmente e, ainda que de maneira indireta, produto ou serviço disponibilizado ao mercado de consumo. Pelo seu poder e presença, a publicidade é um campo amplo para o cometimento de práticas abusivas e enganosas. O CDC veda toda publicidade enganosa – modalidade de informação ou comunicação de caráter publicitário, inteira ou parcialmente falsa, ou, por qualquer outro modo, mesmo por omissão, capaz de induzir em erro o consumidor – ou abusiva – que traz informações que ferem valores da coletividade, como a publicidade discriminatória de qualquer natureza, a que incite à violência, explore o medo ou a superstição, por exemplo (ALMEIDA, pág. 773). Assim, é seguro afirmar que compreender quais são as práticas publicitárias vedadas pelo CDC tem como consequência o respeito ao regramento legal acerca do tema, ao mesmo tempo em que são evitados prejuízos à imagem da empresa, ao relacionamento desta com os consumidores e despesas de natureza financeira, uma vez que todas essas práticas são penalizadas com multa, com a obrigação de indenizar etc. Encerramos aqui essa breve análise das hipóteses de aplicabilidade do CDC aos casos concretos de nosso cotidiano. Bibliografia Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990. Dispõe sobre a proteção do consumidor e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8078compilado.htm. ALMEIDA, Fabricio Bolzan de. Direito do consumidor esquematizado. – Coleção esquematizado® / coordenador Pedro Lenza – 8. ed. – São Paulo: Saraiva Educação, 2020. GARCIA, Leonardo de Medeiros. Código de Defesa do Consumidor Comentado: artigo por artigo. - 13. ed. rev. ampl. e atual.- Salvador: Juspodivm, 2016. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8078compilado.htm UNI EDUCAR CURSOS ONLINE COM CERTIF ICAÇÃO ALAVANQUE SUA CARREIRA LICENÇA CAPACITAÇÃO CRÉDITOS UNIVERSITÁRIOS.ORG.BR
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