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Automatização em Hematologia Introdução • A avaliação do hemograma, utilizando os contadores globulares automáticos, é feita com um pequeno volume de sangue total colhido para um tubo com anticoagulante, preferencialmente o EDTA (ácido etilenodiamino tetra acético). • A amostra deve estar perfeitamente homogeneizada e sem coágulos e deve ser processada até 2- 4 horas após a colheita. As amostras “envelhecidas” podem apresentar alterações nas contagens celulares e seus índices. Introdução • A maioria dos aparelhos contém um sistema de identificação de amostras por leitura ótica de código de barras, um sistema de controle do estado de processamento das amostras, e uma ligação ao sistema informático do laboratório para envio, análise e validação de resultados. • Os aparelhos possuem sistemas gráficos de distribuição de resultados, alertas de processamento relativos ao aparelho e às amostras (por exemplo, alertas para a falha de reagente, entupimento de agulha, etc). • Permitem, ainda, o processamento de amostras quer em modo automático, quer em modo manual (mais usado para análise de amostras isoladamente) e apresentam, ainda, a possibilidade de utilização do modo capilar (em caso de baixo volume de amostra). Fonte: Daniela Almeida Braga – FFUP – 2014 Introdução • Os contadores apresentam um sistema de alertas (Flag) para alterações morfológicas, alterações quantitativas e para a presença de células precursoras. • É também importante saber interpretar os alertas produzidos, que auxiliam na identificação de erros ou alertam para alterações nas células sanguíneas, que é necessário confirmar por visualização microscópica do respetivo esfregaço de sangue periférico. • Este aspeto é muito importante para a validação e quantificação de alterações morfológicas e para identificação de células precursoras Vantagens da Automação • Os contadores automáticos apresentam diversas vantagens, relativamente ao método manual, tais como: • Maior segurança, com a análise das amostras em tubo fechado • Maior reprodutibilidade, sem variabilidade inter-observador • Maior precisão, resultante do elevado número de células contadas • Possibilidade de avaliação de parâmetros não incluídos no hemograma, mas muito úteis na avaliação hematológica, com o mesmo volume de sangue • Mais eficiente permitindo a realização de mais de 100 análises por hora Sempre que a contagem globular automática forneça resultados ou indique alarmes que o justifiquem, deve ser realizada uma visualização microscópica do esfregaço de sangue e, se necessário, uma contagem manual das células. Fonte: Daniela Almeida Braga – FFUP – 2014 Método Óptico Introdução • Os aparelhos que fazem a contagem celular pelo método ótico utilizam uma luz laser para análise e contagem das células por citometria de fluxo. • Nestes contadores, o sangue é aspirado e introduzido num fluxo contínuo, que faz com que as células se alinhem (uma a uma) no centro do fluxo, prevenindo desta forma a geração de pulsos anormais. • Um laser semicondutor é emitido para o fluxo de células atravessando-o na perpendicular (90º), estando alinhado com um detetor. https://www.youtube.com/watch?v=Mitt61jn1TE https://www.youtube.com/watch?v=Mitt61jn1TE Fonte: Daniela Almeida Braga – FFUP – 2014 Sistema de impedância Introdução • O sistema de impedância elétrica aplicado à contagem celular, é também designado por corrente direta e tem como base o princípio de “Coulter”. • Esta metodologia tem como base a medição de alterações numa corrente elétrica durante a passagem de partículas, neste caso células sanguíneas (suspensas numa solução salina, isotônica, boa condutora), através de um pequeno orifício situado entre dois elétrodos. • Como as células não são condutoras de corrente elétrica, a passagem de cada célula através da abertura causa uma diferença de potencial entre os dois elétrodos. Desta alteração da corrente gera-se um pulso elétrico proporcional ao volume da célula que lhe deu origem. Fonte: Daniela Almeida Braga – FFUP – 2014 Principais aparelhos O Sysmex XE-5000 utiliza a tecnologia de citometria de fluxo (por fluorescência) para a contagem de Leucócitos, Plaquetas e Eritroblastos, e o método de impedância para a contagem de Eritrócitos e Plaquetas. Empresa: Sysmex Sede: Japão Tabela I - Parâmetros avaliados pelo contador hematológico Sysmex Xe-5000. Fonte: Daniela Almeida Braga – FFUP – 2014 Fonte: Daniela Almeida Braga – FFUP – 2014 https://www.youtube.com/watch?v=5uTH09jiUcA https://www.youtube.com/watch?v=5uTH09jiUcA https://www.youtube.com/watch?v=HPrjEmr-KBw https://www.youtube.com/watch?v=HPrjEmr-KBw Os resultados apresentados têm valores dentro dos limites de referência de Hb, VCM, CHCM, não existindo variações significativas, nem alertas a considerar. Fonte: Daniela Almeida Braga – FFUP – 2014 Está apenas representado o resultado para a contagem de Leucócitos (WBC) e respetivos parâmetros. Verifica-se no exemplo que a contagem de Leucócito está aumentada (leucocitose) devido a neutrofilia (aumento dos NEUT) e monocitose (aumento dos MONO). Estão presentes alguns granulócitos imaturos (IG), o que poderá estar relacionado com um ligeiro aumento da atividade da medula óssea, em resposta a uma possível infeção vírica. Fonte: Daniela Almeida Braga – FFUP – 2014 O autoanalisador Advia 120, utiliza o método ótico para todas as determinações. O aparelho funciona com uma tecnologia designada de UFC (“Unified Fluids Circuit”), que é um circuito fechado com válvulas e bomba de fluídos, em que a junção de várias placas acrílicas origina diferentes câmaras/canais onde ocorrem as reações para análise das amostras Empresa: Siemens Healthineers Sede: Alemanha No canal RBC/PLT, um reagente (SDS – “sodium dodecyl sulfate” com glutaraldeído) torna os eritrócitos e plaquetas esféricos. Ao tornar todas as células esféricas, a forma deixa de ser uma variável a ter em conta e apenas é importante a medição do volume para distinguir estas duas populações celulares (eritrócitos e plaquetas). Os reticulócitos são contados no canal RET, onde um reagente torna os RBC esféricos e cora (corante catiónico de oxazina) as células de acordo com o seu conteúdo em RNA. Fonte: Daniela Almeida Braga – FFUP – 2014 Tabela II - Parâmetros avaliados pelo contador hematológico Advia 120. Fonte: Daniela Almeida Braga – FFUP – 2014 Tabela II - Parâmetros avaliados pelo contador hematológico Advia 120. Fonte: Daniela Almeida Braga – FFUP – 2014 https://www.youtube.com/watch?v=xAxY39NMpFo https://www.youtube.com/watch?v=xAxY39NMpFo Podemos verificar que o valor de Hb é inferior ao valor de referência, assim como alguns índices eritrocitários (VCM e HCM). Fonte: Daniela Almeida Braga – FFUP – 2014 Verifica-se a presença de células microciticas e hipocrómicas, resultado concordante com os valores de VCM e HCM apresentados acima. Estes resultados sugerem a presença de uma anemia microcitica hipocrómica. Fonte: Daniela Almeida Braga – FFUP – 2014 O Coulter LH 750 utiliza a impedância para a contagem celular (eritrócitos, leucócitos e plaquetas) e uma tecnologia designada por VCS (“volume, high frequency conductivity, scatter”) que permite a diferenciação dos leucócitos e a contagem de reticulócitos. Esta tecnologia permite diferenciar linfócitos, monócitos, eosinófilos, neutrófilos, basófilos e reticulócitos com base no volume da célula, na sua condutividade, estrutura e forma (VCS). Empresa: Beckman Coulter Sede: Estados Unidos Determinação do volume Condutividade Dispersão da radiação VCS (combinação de todos) No Coulter LH 750 os parâmetros (Eritrócitos, Leucócito e Plaquetas) são determinados usando a tecnologia “AccuCount” que combina a impedância (principio de Coulter) com algoritmos matemáticos. Esta tecnologia permite que as contagens sejam automaticamente corrigidas, como é o caso da contagem de Eritrócitosna presença de Eritroblastos, no caso da presença de Plaquetas gigantes, agregados plaquetários, Eritrócitos não lisados ou fragmentos de Eritrócitos. Fonte: Daniela Almeida Braga – FFUP – 2014 Tabela III - Parâmetros avaliados pelo contador hematológico Coulter LH 750. Fonte: Daniela Almeida Braga – FFUP – 2014 Tabela III - Parâmetros avaliados pelo contador hematológico Coulter LH 750. Fonte: Daniela Almeida Braga – FFUP – 2014 https://www.youtube.com/watch?v=lQmUN7dk4zQ https://www.youtube.com/watch?v=lQmUN7dk4zQ É possível observar alterações ao nível das três linhagens celulares. A contagem de Leucócitos (WBC) está aumentada (leucocitose com neutrofilia e monocitose), o valor de Hb está diminuído (anemia) e o valor de Plaquetas está muito baixo (trombocitopenia). Os alertas do equipamento sugerem como principal achado a presença de agregados plaquetários (“PLT clumps”). Fonte: Daniela Almeida Braga – FFUP – 2014 Cada equipamento apresenta as suas especificações e alertas, que podem incluir: • Alertas gerados pelo Sysmex XE-5000: “PLT clumps”; “PLT ABN distribution”; “WBC ABN scattergram”; “Blasts”; “left shift”; “atypical lymphocytes”; “abnormal lymphocytes/blasts”; “RBC ABN distribution”; “RBC lyse resistence”; “RBC agglutinins”; “turbidity”. • Alertas gerados pelo Advia 120: “left shift”; “atyp”; “blasts”; “immature grans”; “myeloperoxidase deficiency”; “aniso”; “micro”; “macro”; “Hb variation”; “hypo”; “hyper”; “NRBC”; “RBC fragments”; “RBC ghost”; “large PLT”; “PLT clumps”. • Alertas gerados pelo Coulter LH750: “user-definable age”; “gender”; “location-based reference intervals”; “action and critical limits”; “user – definable RBC morphology”; “gradient messages (+,++,+++)”; “user – selectable sensivity for differential abnormal population suspected messages” Histogramas (Scattergram) Introdução • Com a computadorização e novas tecnologias para avaliar conteúdos e formas foi possível mapear as células e construir um gráfico com suas populações. • A distribuição em gráficos facilita o estudo das patologias porque as diferenças do normal mostradas no gráfico são muito evidentes. O gráfico é composto por diferentes setores como: ROXO: LINFÓCITOS Quando se observa uma elevação dessa nuvem, dependendo de outros parâmetros do hemograma, pode ser observada uma elevação na quantidade de linfócitos circulantes ou até mesmo um aumento de material citoplasmático, revelando a presença de possíveis linfócitos reativos e consequentemente um processo de ação imunológica contra agentes biológicos, como em um processo infeccioso viral. Quando existe uma disfunção proliferativa de medula óssea ocorrendo, o gráfico pode apresentar deformidades e sobreposição de nuvens, levando o profissional hematologista a concluir seu diagnóstico com base da observação de lâminas de esfregaço sanguíneo corado. VERDE: MONÓCITOS São células grandes e de complexidade média em relação ao seu citoplasma, por isso são localizados mais centralmente ao gráfico. Quando processos infecciosos estão ocorrendo no organismo, os monócitos são sinalizados logo após a chegada dos neutrófilos para que possam realizar a fagocitose e a eliminação de agentes patológicos, como bactérias. Quando se observa um aumento da nuvem de células pode-se inferir em uma monocitose, porém algumas distorções da nuvem podem ser presuntivas de vacuolização citoplasmática ou de especialização de monócitos. AZUL: NEUTRÓFILOS Correspondente à linhagem de neutrófilos corresponde àquela de tamanho celular pequeno a médio e de complexidade moderada a alta. Sabe-se que neutrófilos são os primeiros agentes celulares da imunidade inata à chegarem no local da infecção e são responsáveis pelo primeiro combate à agentes infecciosos e pela sinalização química que permite a convocação de outras células para o local de ação. São células granulares que podem ou não apresentar grumos grosseiros, conhecidos como granulações tóxicas e que provocam uma distorção da nuvem para o lado direito do gráfico. Processos infecciosos podem aumentar o número de neutrófilos circulantes no sangue e podem aumentar o tamanho da nuvem. VERMELHO: EOSINÓFILOS Possui um volume menor já que a quantidade de eosinófilos circulantes no sangue tende a ser menor que outras linhagens celulares, como monócitos e linfócitos. São células grandes e complexas, por isso ocupam uma posição mais a direita do gráfico, já que seus grânulos são bem destacados e seu citoplasma possui uma pigmentação eosinofílica marcante. Em processos infecciosos desencadeados pela entrada e proliferação de parasitas e fungos há um aumento considerável na quantidade de eosinófilos circulantes no sangue periférico, além de uma migração dos mesmos para o sítio de ação do parasita. Para aprofundamento... Referências • Daniela Almeida Braga – FFUP – 2014. Contagem globular automática: parâmetros avaliados, significado clínico e causas de erro. Disponível em: https://sigarra.up.pt/ffup/pt/pub_geral.show_file?pi_doc_id=27068. Último acesso em 08 de setembro de 2022. • Entendendo gráficos de Hematologia. Instituto GPI. Disponível em: https://www.institutogpi.com/post/entendendo-graficos-de-hematologia. Último acesso em 08 de setembro de 2022.