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República Federativa do Brasil Luiz Inácio Lula da Silva Presidente Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento Roberto Rodrigues Ministro Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Conselho de Administração José Amauri Dimárzio Presidente Clayton Campanhola Vice-Presidente Alexandre Kalil Pires Dietrich Gerhard Quast Sérgio Fausto Urbano Campos Ribeiral Membros Diretoria-Executiva Clayton Campanhola Diretor-Presidente Gustavo Kauark Chianca Herbert Cavalcante de Lima Mariza Marilena T. Luz Barbosa Diretores-Executivos Embrapa Agroindústria Tropical Francisco Férrer Bezarra Chefe-Geral Embrapa Informação Tecnológica Fernando do Amaral Pereira Gerente-Geral Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas – SEBRAE Armando de Queiroz Monteiro Neto Presidente do Conselho Deliberativo Nacional Silvano Gianni Diretor-Presidente Luiz Carlos Barboza Diretor-Técnico Paulo Tarciso Okamotto Diretor de Administração e Finanças Vinícius Nobre Lages Gerente da Unidade de Desenvolvimento Setorial Léa Maria Lagares Coordenadora do Projeto de Desenvolvimento Agroindustrial Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Embrapa Agroindústria Tropical Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas Iniciando um Pequeno Grande Negócio Agroindustrial Castanha de caju Série Agronegócios Embrapa Informação Tecnológica Brasília, DF 2003 Iniciando um pequeno grande negócio agroindustrial: castanha de caju / Embrapa Agroindústria Tropical, Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas. – Brasília: Embrapa Informação Tecnológica, 2003. 131p. : il. – (Série agronegócios) ISBN 85-7383-180-4 (Embrapa). – ISBN 85-7333-360-X (SEBRAE) 1. Castanha de caju. 2. Castanha de caju – produção. I. Embrapa Agroindústria Tropical. II. Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas. III. Série. CDD 338.7664726 (21 ed.) Copyright 2003. Embrapa/SEBRAE Exemplares desta publicação podem ser adquiridos na: Embrapa Informação Tecnológica Parque Estação Biológica – PqEB Av. W3 Norte (final) Caixa Postal 040315 70770-901 Brasília, DF Fone: (61) 448-4236 Fax: (61) 340-2753 vendas@sct.embrapa.br Embrapa Agroindústria Tropical Rua Dra. Sara Mesquita, 2.270 – Pici 60511-110 – Fortaleza, CE Fone: (85) 299 1800 Fax: (85) 299 1803 www.cnpat.embrapa.br sac@cnpat.embrapa.br Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas – SEBRAE Unidade de Desenvolvimento Setorial e Unidade de Educação e Desenvolvimento da Cultura Empreendedora SEPN – Quadra 515, BL C, Loja 32 70770-900 Brasília, DF Fone: (61) 348-7299 e 348-7206 Fax: (61) 347-4120 www.sebrae.com.br Coordenação do Projeto de Desenvolvimento Agroindustrial Léa Maria Lagares – SEBRAE Lucilene Maria de Andrade – Embrapa Informação Tecnológica Walmir Luiz Rodrigues Gomes – Embrapa Informação Tecnológica Fernando do Amaral Pereira – Embrapa Informação Tecnológica Coordenação Editorial Walmir Luiz Rodrigues Gomes – Embrapa Informação Tecnológica Lucilene Maria de Andrade – Embrapa Informação Tecnológica Projeto Gráfico, Revisão de Texto, Normalização Bibliográfica, Editoração Eletrônica e Tratamento de Fotos Via Brasil Consultoria & Marketing Ltda. Fotos Arquivo Via Brasil Consultoria & Marketing Ltda. Ilustrações Felipe Venâncio Alves 1ª Edição 1ª impressão (2003) 2.000 exemplares Todos oos ddireitos rreservados. A reprodução não autorizada desta publicação, no todo ou em parte, constitui violação dos direitos autorais (Lei 9.610). Dados iinternacionais dde ccatalogação-nna-ppublicação –– CCIP Embrapa IInformação TTecnológica Apresentação A agroindústria é um segmento de elevada importância econômica, por sua participação na cadeia produtiva e pelas ligações que man- tém com os demais setores da economia. Para enfrentar a competitividade nos negócios relacionados ao processamento de produtos ou matérias-primas de origem agrícola, pecuária ou florestal, é preciso encontrar soluções no âmbito da gestão e da inovação tecnológica. A Embrapa está engajada nessa meta e, em parceria com o SEBRAE, lança o Projeto de Desenvolvimento Agroindustrial, expresso na Série Agronegócios. O Projeto é voltado para empreendedores e empresários inseridos no segmento agroindustrial de pequeno porte, e tem como objeti- vo promover sua capacitação e seu desenvolvimento, a partir de uma metodologia que atenda a todos os segmentos da cadeia pro- dutiva, ou seja, conhecimento das potencialidades do mercado, da oferta de matéria-prima, da demanda do produto final, passando pela gestão, processamento, distribuição e comercialização de pro- dutos agroindustriais. O tema deste volume Iniciando um Pequeno Grande Negócio Agroindustrial de Castanha de Caju é abordado em três partes. A primeira parte – Processo de Produção – contém as várias etapas do processamento da castanha de caju, da colheita ao resultado final, bem como o controle de qualidade, a fim de oferecer um pro- duto competitivo de alta qualidade. Na segunda, Análise de Mercado, o empreendedor irá conhecer as estratégias de marketing – da pesquisa de mercado ao lançamento dos produtos – para ingressar nesse mercado promissor. A terceira parte trata da Análise Financeira, que contém um roteiro completo de um plano de negócio, iniciando com a definição do volume de produção, passando pela estimativa dos investimentos físicos, do cálculo dos custos e das despesas, e finalizando com o investimento necessário para implantar uma agroindústria de cas- tanha de caju. O usuário deste material poderá contar com assessoria preparada para esclarecer dúvidas e responder questionamentos. Espera-se, com isso, habilitá-lo a desenvolver o planejamento inicial de sua agroindústria, utilizando da melhor forma possível, os recursos de A pr es en ta çã o que dispõe e preparando-o para tomar as providências necessárias à con- cretização dessa iniciativa desafiadora e gratificante, que é ser responsá- vel pelo próprio negócio. Clayton Campanhola Silvano Gianni Diretor-Presidente da Embrapa Diretor-Presidente do SEBRAE Sumário Parte 1 – Processo de Produção 9 Capítulo 1 – O Caju 11 Patrimônio genético nacional 12 Elos partidos 14 Capítulo 2 – Castanha e Pedúnculo 17 Alimentos, bebidas e doces 18 Nos limites nacionais 20 Capítulo 3 – Minifábricas de Castanha 23 Do modelo familiar à central de produção 24 O que precisa para se montar uma minifábrica 25 Capítulo 4 – Processo de Produção 29 Etapas de produção 30 Processamento 31 Parâmetros técnicos 36 Etapas do processamento 36 Capítulo 5 – Instalações e Operações Básicas 39 Um espaço adequado 40 Localização criteriosa 40 Projete sua empresa 41 A importância de outros materiais 43 Referências 45 Parte 2 – Análise de Mercado 47 Capítulo 1 – Mercado Promissor 49 Um universo chamado mercado 50 No Brasil e além-fronteiras 51 Capítulo 2 – Pesquisa de Mercado 55 Um instrumento de decisão 56 A pesquisa sem mistérios 56 Capítulo 3 – Mercado Consumidor 59 Identificando o consumidor 60 Su m ár io Pesquisa de mercado, uma radiografia 61 Para que serve 62 Quando deve ser feita 62 Quais os métodos utilizados 62 Capítulo 4 – A Pesquisa Passo a Passo 65 Mercado amplo 66 Modelo de questionário 73 Capítulo 5 – Mercado Concorrente 81 Concorrência, conhecer para enfrentar 82 Capítulo 6 – Mercado Fornecedor 87 Fornecedores e parceiros 88 Capítulo 7 – Plano de Marketing 91 O caminho para o mercado 92 Parte 3 – Análise Financeira 95 Capítulo 1 – Planejamento Financeiro 97 O planejamento aproxima o seu sonho da realidade 98 Capítulo 2 – Volume de Produção e Investimento Físico 101 Determine quem você vai ser no mercado 102 Prepare-se na medida para o seu negócio 103 Capítulo 3 – Materiais Diretos e Mão-de-obra Direta 109 A qualidade de seu produto começa no cajueiro 110 Quanto custa manter sua equipe 112 Capítulo 4 – Custos Fixos 115 O dia-a-dia da sua indústria 116 Capítulo 5 – Custos de Produção 119 Custo das amêndoas limpas e torradas 120 Capítulo6 – Faturamento Anual 121 Vender também tem seu custo 122 O preço tem que ter medida certa 123 Veja quanto a sua agroindústria pode lhe render 125 Capítulo 7 – Resultados e Investimentos 127 Analise a empresa que você vai montar 128 Quanto vai lhe custar seu negócio? 130 Título do Capítulo Su m ár io Capítulo 1 Título do Capítulo Pa rt e 1 – Pr oc es so d e Pr od uç ão O Caju "O selvagem levanta o braço, abre a mão e tira um caju ..." Os versos do poeta e compositor Caetano Veloso desenharam, no século 20, a cena que os pintores que acompanhavam as expedições portuguesas registraram em bicos-de-pena e aquarelas nos séculos 16 e 17: indígenas deliciando-se com a fruta doce e nutritiva ou com o mucororó (bebida de alto teor alcoólico, preparada com caju mascado e fermentado e utilizada por várias tribos em festas, rituais e tratamentos de saúde), apreciando seu travo tão próprio e alimentando-se da amêndoa torrada na fogueira. 12 Patrimônio genético nacional Dos alimentos que povoam nossas mesas e alimentam nossa economia, poucos são assim, tão brasileiros. O cajueiro, ou Anarcadium occidentale, como é classificado cientificamente, é uma planta nativa dos campos e das dunas do Nordeste brasileiro. De fácil adaptação em qualquer tipo de solo, mesmo os desprovidos de nutrientes, chega a medir entre 8 e 15 m de altura. (A Embrapa desenvolveu o cajueiro-anão-precoce com altura de até 6 m – Figura 1), se espalhou pelo País onde as chuvas dessem a trégua necessária à sua floração. E não tardou a cruzar oceano nas galeras portuguesas para povoar fazendas nas colônias da África e da Ásia. Hoje, especialistas estimam que a cultura do caju ocupe, no mí- nimo, 1,5 milhão de hectares de terras em todo o mundo. Além do Brasil, são significativas as plantações da Índia, de Moçambique, do Quênia, da Tailândia e, mais recentemente, de Benin, da Guiné-Bissau e da Indonésia. O que se chama de caju é o pedúnculo hipertrofiado, o suporte da ver- dadeira fruta, que é a castanha. Esse pseudofruto, carnoso e suculento, apresenta uma grande variação de tamanho (de 3 até 20 cm de compri- mento e de 3 até 12 cm), peso (entre 15 e 200 g), formato (pode ser peri- forme, cilíndrico, fusiforme, alongado ou ficóide) e cor (os tons variam do amarelo-canário até o vermelho-vinho). Em todos os casos é um alimen- to de grande valor nutritivo, rico em vitaminas (os níveis de vitamina C são, em média, cinco vezes maiores do que os encontrados na laranja) e sais minerais (especialmente ferro, cálcio e fósforo). Veja, na Tabela 1, as prin- cipais características da castanha do caju. Fig. 1. Caju-anão-precoce produzido pela Embrapa Agroindústria Tropical. Castanha de Caju 1 SÉRIE AGRONEGÓCIOS Parte - 1 Processo de Produção 13 Pa rt e 1 – Pr oc es so d e Pr od uç ão É importante acrescentar que, a relação amêndoa/castanha de 29,8% apresentada na Tabela 1, corresponde ao limite máximo. Na prática, essa relação não passa de 24%. A amêndoa da castanha do caju (Figura 2), a verdadeira fruta do cajueiro, não fica atrás em termos nutricionais. É um alimento alta- mente protéico, (em média 25%) e, apesar de muito gorduroso, saudável, já que suas gorduras são compostas de ácidos graxos predominantemente monoinsaturados, como o ácido olei-co, que contribui na redução do teor de colesterol. Na sua composição também encontram-se 9 dos 10 aminoácidos essenciais. Tabela 1. Características físicas da castanha do caju do Ceará. Determinação Peso Castanha Casca Amêndoa (ACC) Relação casca/castanha Relação amêndoa/castanha Tamanho Castanha grande Castanha média Castanha pequena Castanha miúda Cajuí Média 8,19 g 5,71 g 2,44 g 69,72% 29,80% 14,80 g 9,79 g 7,40 g 4,50 g 2,30 g Variação 3,42 a 13,61 g 2,71 a 10,69 g 0,69 a 3,21 g - < 90 frutos/kg 91 a 140 frutos/kg 141 a 220 frutos/kg 221 a 300 frutos/kg > 300 frutos/kg Fig. 2. Amêndoa da castanha de caju torrada e pronta para o consumo. 14 Elos partidos Apesar de ser detentor desse patrimônio genético representado pelo caju, não foi o Brasil quem primeiro difundiu seu consumo, mas a Índia, quan- do ainda estava sob domínio inglês, que a fruta, mais especialmente a amêndoa, conquistou o paladar dos consumidores de regiôes de clima frio e se firmou como um dos produtos agrícolas de origem tropical mais bem aceitos pelos americanos, canadenses e europeus, de um modo geral. É em torno deles que gira, hoje, a agroindústria mundial da castanha de caju. Como acontece em nível mundial, também no Brasil a atividade agrícola ligada à cultura do caju apresenta uma forte concentração espacial. Mesmo no Nordeste, habitat natural dos cajueiros e região onde se pro- duz 99% da castanha de caju do País, apenas três estados mantêm uma cultura significativa: o Ceará, o Piauí e o Rio Grande do Norte, que respon- dem por cerca de 86% do produto em nível nacional. E, claro, são esses estados que se beneficiam dos resultados sócio-econômicos desse agronegócio: 35.700 empregos nos cerca de 700 mil hectares cultivados e 20 mil empregos nas indústrias de beneficiamento da castanha. Não é atoa que a castanha de caju é o segundo produto da região mais procu- rado pelo mercado internacional. Com toda a dimensão e importância que assume nas áreas em que está instalada, a agroindústria brasileira de castanha de caju ainda está muito aquém da sua potencialidade. Possui um parque processador pouco com- petitivo face aos avanços da agroindústria de alimentos, apesar de nos últimos anos ter ocorrido melhorias significativas no processamento mecanizado da castanha de caju. Isso, de acordo com análises de técni- cos e especialistas, é resultado da falta de sintonia entre as várias etapas da cadeia produtiva, o que acaba por comprometer a competitividade do produto brasileiro, seja pela perda de qualidade, seja por preços acima do mercado internacional, ou seja ainda, pela baixa lucratividade, que acaba inviabilizando o negócio. Trocando em miúdos, ao contrário do que vem sendo tradicionalmente praticado no Brasil, hoje, os agronegócios não devem estar centrados exclusivamente na atividade agropecuária. Tão importantes são os elos da cadeia produtiva anteriores à atividade agropecuária – os bens e serviços dirigidos ao mercado rural, que acontecem antes da porteira da fazenda – e os que vêm depois – o processamento e a comercialização do produ- to, seja para o mercado interno ou externo. No caso da castanha de caju, por exemplo, a qualidade e o preço com que o produto chega ao con- sumidor final começa a se definir nas pesquisas voltadas para a melhoria do fruto e o aumento de produtividade da planta e nas linhas de financiamento, passam pela implantação e manejo agrícola, seguem Castanha de Caju 1 SÉRIE AGRONEGÓCIOS Parte - 1 Processo de Produção 15 Título do Capítulo I Pa rt e 1 – Pr oc es so d e Pr od uç ão pelas condições de beneficiamento e finalmente atravessam o processo de comercialização. As perdas e os ganhos registrados em qualquer uma dessas etapas vão se refletir no produto final e em todos os elos da cadeia. Essa visão moderna da agroindústria é uma das promissoras conseqüências da abertura das economias e da globalização dos mercados. As mudanças desencadeadas nas últi- mas décadas colocaram o foco do mercado como a base e o princí- pio de uma gestão estratégica, visto que é o consumidor final quem aprova ou desaprova, no ato da compra, todo o esforço desenvolvi- do nas atividades da cadeia produtiva como um todo, desde a pré- produção até a venda do produto final. É necessário, portanto, que você, no momento em que começa a planejar sua agroindústria de castanha de caju, perceba a cadeia pro- dutiva como um todo e busque trabalhar em harmonia com os demais elos – como o agricultor e o exportador – já que tem com eles uma meta comum: garantir seus lucros de forma sustentável, o que só acon- tecerá se todos, a seu tempo, garantirem a satisfação contínua do mer- cado consumidor final.Como as demais peças da cadeia produtiva do caju, a agroindústria – e esse é o objetivo desta publicação – deve produzir bem e ser bem administrada, de forma a colocar o produto no mercado com quali- dade e a preços competitivos e ao mesmo tempo lhe auferir bons resul- tados econômico-financeiros. Mas voltamos a afirmar que você não é uma unidade isolada. Precisa trabalhar em sintonia, de um lado, com o produtor, e do outro com o vendedor ou exportador. Não adianta – como não raro acontece nas safras mais abundantes, quando as indús- trias ganham poder de barganha – aviltar o preço da matéria-prima e impor prejuízos ao produtor. Ele também precisa lucrar para reinvestir e melhorar a produtividade e a qualidade da sua lavoura e lhe fornecer frutos mais homogêneos e de melhor rendimento industrial. Da mesma forma, é preciso que você esteja atento à voz do consumidor, traduzida na fase de comercialização, sem, no entanto, perder força de negociação. Técnicos, economistas e estudiosos do assunto identificam dois tipos de gargalo essenciais na cadeia produtiva do caju, no Brasil. O primeiro é tecnológico. No processo de beneficiamento, ocorre, em média, uma quebra de 45% da produção. Para se ter um parâmetro de compara- ção, na Índia, principal concorrente do Brasil no mercado internacional de castanhas, esse índice é de 15%. O segundo é a utilização exagera- da dos intermediários, tanto quando a castanha sai do produtor para a indústria como quando sai da indústria para o mercado. Esses "atra- vessadores" são responsáveis pela comercialização de 83% da casta- nha de caju no País, o que lhes dá enorme poder de manipular preços. Faça o possível para evitá-los. Capítulo 2 Castanha e Pedúnculo A industrialização do caju – considerando-se a fruta como um todo, o pendúculo e a castanha – pode ser dividida em, pelo menos, dois grandes ramos: a indústria de beneficiamento da castanha e a indústria de transformação do pedúnculo. A indústria de transformação dessa parte carnuda possui segmentos na indústria de bebidas, doces, condimentos, farinhas e ração, entre outros produtos para alimentação humana e animal. Contudo, é cena comum, nos plantios do Nordeste, a enorme área de plantio de caju forrada da polpa do caju apodrecida e pisoteada. É que pouco aproveitamento se dá aos pedúnculos, que na maioria das vezes são abandonados sob os cajueiros, depois de retirada a amêndoa que será encaminhada para a agroindústria. 17 Título do Capítulo Pa rt e 1 – Pr oc es so d e Pr od uç ão Alimentos, bebidas e doces No beneficiamento da castanha de caju, o aproveitamento industrial ainda é muito limitado à produção da amêndoa inteira e salgada, para ser consumida como aperitivo, normalmente acompanhando bebidas alcoólicas, ou a amêndoa partida, utilizada como insumo nos segmentos de confeitaria e panificação. Mas seus subprodutos também podem agregar valores significativos à indústria, especialmente o líquido da casca da castanha de caju (LCC), a casca e a película (Figuras 3 e 4). Dentre esses subprodutos, o LCC é o que mais se destaca pelos diversos usos que pode proporcionar. Rico em fenol (10% cardol e 90% ácido anacárdico), a substância serve como base para o fabrico de pós de fricção e resinas. Só a título de curiosidade, a castanha do caju foi um dos pro- dutos altamente estudados durante a II Guerra Mundial como fonte alter- nativa de matéria-prima industrial. Só naquele período, registrou mais de 300 patentes de seus derivados, a maior parte pertencente aos Estados Unidos e à Inglaterra. A película – a parte que separa a amêndoa da casca – é rica em tanino, substância adstringente utilizada, dentre outras coisas, no curtimento de couros. A casca, com grande potencial de combustão, pode ser utilizada como combustível das caldeiras das próprias indústrias de beneficiamen- to da castanha, que, no entanto, devem utilizar filtros para conter a libe- ração de gases tóxicos e poluentes. 18 Fig. 3. Subprodutos deriva- dos da castanha de caju, desenvolvidos pela Metalúrgica Cobica Ltda. – Mecol. Castanha de Caju 1 SÉRIE AGRONEGÓCIOS Parte - 1 Processo de Produção Fig. 4. Produtos derivados do processamento industrial do caju. 19 Título do Capítulo Pa rt e 1 – Pr oc es so d e Pr od uç ão Nos limites nacionais Apesar de ser o berço do caju, e a despeito das inúmeras possibilidades que a espécie oferece, a agroindústria nacional ainda está centrada quase que exclusivamente no beneficiamento da castanha voltada para o mer- cado externo. São poucas empresas que beneficiam o pedúnculo, ou seja, o pseudo-fruto, para sucos, doces, polpas e outros subprodutos. A castanha, como vimos anteriormente, não é totalmente aproveitada. Dela é utilizada basicamente a amêndoa, para ser consumida como ape- ritivo. O Pólo Industrial de Beneficiamento da Castanha de Caju é formado por 11 fábricas de processamento mecanizado, geralmente de médio e grande porte, localizadas no Ceará, no Rio Grande do Norte e no Piauí, com capacidade anual de beneficiar 300 mil toneladas de cas- tanha e 130 minifábricas com processo manual de corte, com capaci- dade anual de beneficiar 20 mil toneladas de castanha (Figura 5). 20 Não é por acaso que o setor se organiza dessa forma. Em todo o mundo, o agronegócio do caju concentra-se em torno da amêndoa, que gera cerca de 2 bilhões de dólares anuais em nível de varejo, ocu- pando o terceiro lugar entre as nozes mais comercializadas no merca- do internacional. A demanda mundial apresenta um quadro em que os Estados Unidos absorvem em torno de 80% do total consumido. Vamos tratar desse assunto com mais detalhe na Parte 2 – Análise de Mercado, mas vale a pena, desde já, você conhecer qual o terreno onde você vai atuar. Veja, na Tabela 2, onde estão seus futuros con- sumidores, no mercado externo. Fig. 5. Indústria de beneficiamento da castanha de caju de grande porte, em Fortaleza, CE. Castanha de Caju 1 SÉRIE AGRONEGÓCIOS Parte - 1 Processo de Produção O processo mecanizado de beneficiamento da castanha de caju ca- racteriza-se pela operação de descasque ou pelo corte automático da castanha. É uma operação delicada e dificultada pela estrutura da casca, que por ser elástica e dura, favorece a ocorrência de danos e a contaminação da amêndoa. Além disso, as grandes fábricas tra- balham com capacidade ociosa de até 50%, especialmente em função das entressafras, das quebras de safra, de pragas ou de intempéries climáticas, ou mesmo de cortes de investimentos dos produtores. Como vimos anteriormente, as grandes fábricas estão concentradas no Ceará e no Rio Grande do Norte, o que onera os custos de trans- porte, devido às grandes distâncias nos deslocamentos da matéria- prima das áreas de produção. Pense nisso, quando for escolher o local para instalar sua agroindústria: as pequenas fábricas, especial- mente as que operam com corte manual e cozimento da castanha com vapor saturado, podem ser implantadas em todos os estados produtores de castanha do Nordeste. Existem cerca de 130 unidades desse tipo, com capacidade anual de processar 20 mil toneladas de castanha. Mas, se o produto for de qualidade, ainda há muita demanda. E havendo demanda, pode haver produção. 21 Título do Capítulo Pa rt e 1 – Pr oc es so d e Pr od uç ão Tabela 2. Castanha de caju - Exportações Brasileiras* - ranking por país destino – 2001**. Países M US$ Tonelada Estados unidos 52.736 13.206 Canadá 4.797 1.232 Itália 1.266 482 Líbano 1.804 365 Portugal 694 191 Países Baixos 290 131 França 662 251 Alemanha 1.366 345 México 1.235 272 África do Sul 904 222 Argentina 246 81 Reino Unido 621 172 Outros 1.435 383 Total 68.056 17.333 Fonte: Secex/Decex *Castanha de Caju fresca ou seca. (NCM: 0801.32.00) **de Janeiro a julho de 2001 M US$ == UUS$ 11000 FFOB Capítulo 3 Minifábricas de Castanha Atualmente, existe grande preocupação com o desenvolvimento de novas tecnologias que, além de incorporarem a otimização do processamento da castanha, já queseu custo representa 60% do custo de produção, ajuda, também, a manter o homem no campo. Uma alternativa é fazer o beneficiamento em pequena escala, proporcionando aumento da renda do produtor de caju e oferta de emprego para os trabalhadores rurais. Veja, neste capítulo, como funcionam as minifábricas de processamento da castanha de caju. 23 Título do Capítulo Pa rt e 1 – Pr oc es so d e Pr od uç ão Do modelo familiar à central de produção As pequenas fábricas de castanha de caju, denominadas minifábricas, incorporam novos avanços em equipamentos e processos, permitindo a obtenção de amêndoas inteiras e brancas em maior proporção e com me- lhor qualidade e possibilitando a inserção de pequenos e médios produ- tores no agronegócio castanha de caju, com níveis de processamento adaptados às condições de pequena e média escala de industrialização. A implantação do sistema de minifábrica incentiva pequenos e médios produtores de castanha, por meio de associações, cooperativas e suas re- presentações, gerando empregos para as comunidades nas etapas de plantio, tratos culturais, colheita, processamento da castanha e na co- mercialização dos produtos obtidos no seu processamento. Os módulos fabris, cujas especificações encontram-se na Tabela 3, constam, basicamente, de uma estrutura que pode ser adaptada ao tamanho e à capacidade de cada unidade. Assim, a partir desse quadro, selecionamos três opções de agroindústrias – familiar, pequeno e médio – baseadas no volume de produção, que você vai encontrar na Parte 3 – Análise Financeira, deste volume. . 24 Tabela 3. Módulos de fábrica de castanha de caju. Tipo de Módulo Familiar Pequeno Médio Grande Central * Uma caixa equivale a 5 libras ou 22,68 kg. Consumo de Castanha (kg/dia) 110 220 550 1.650 5.500 Produção de Amêndoa (caixas/dia) 22,68 (1 caixa) 45,36 (2 caixas) 113,40 (5 caixas) 340,20 (15 caixas) 1.134,00 (50 caixas) A unidade familiar é indicada para o processamento da castanha na residência do proprietário, com pequenas adaptações na infra-estrutura física do imóvel. As pequenas e médias unidades são recomendadas para associações e cooperativas rurais e visam o aproveitamento industrial da castanha pro- duzida pelos associados. A unidade de grande porte visa atender as necessidades de empresas e coope- rativas com melhor estrutura, organização e poder de negociação (Figura 6). Castanha de Caju 1 SÉRIE AGRONEGÓCIOS Parte - 1 Processo de Produção A unidade central reúne um conglomerado de minifábricas para a realização das operações de acabamento da amêndoa. O que precisa para se montar uma minifábrica O módulo para a implantação de uma minifábrica de processamen- to de castanha de caju é constituído por seis equipamentos básicos de pequeno porte, como classificador, cozedor, estufa, umidificador, máquina de corte, despeliculador e fritadeira, ajustáveis às necessi- dades de cada unidade industrial, com capacidade de processar diariamente desde 110 kg de castanha numa unidade familiar, até 5.500 kg de castanha para um módulo agroindustrial múltiplo. A seguir, apresentamos as principais características desses equipa- mentos: 1. Classificador de castanha in natura – Recomendado para separar até quatro tipos de castanha. É composto de quatro rotores com chapas perfuradas de 18 mm, 21 mm, 24 mm, 27 mm e suporte em perfil metálico em chapas de aço-carbono, com capaci- dade para 300 kg/h, com porta-rotor de madeira (Figura 7A). 2. Vaso cozedor para castanha in natura – Construído em aço carbono, em formato cilíndrico, encamisado para produção de vapor saturado, com os seguintes componentes auxiliares de operação: manômetro, visor de nível, válvula de segurança, montado em base de ferro com queimador a gás de cozinha, com capacidade para 50 kg de castanha por hora (Figura 7B). 25 Título do Capítulo Pa rt e 1 – Pr oc es so d e Pr od uç ão Fig. 6. Produção de castanha de caju na Fábrica-Escola da Embrapa Agroindústria Tropical. 3. Autoclave para cozimentos das castanhas – Confeccionada em chapa preta, com capacidade individual para 40 kg em 25 minutos por ope-ração, com gerador a vapor, confeccionado em chapa de ferro, aquecido a GLP, e resistência elétrica possuindo na parte lateral, um nível d'água e uma válvula para limpeza. Este equipamento substitui o vaso cozedor do item anterior. 4. Máquina de corte manual de castanha – Construída em ferro fundido, composta de mesa bancada dupla metálica, com capacidade para duas máquinas manuais, esquadro e alavancas de comando, pedal de acionamento com sistema de navalhas em aço, para corte da castan- ha, e capacidade de cortar 100 kg de castanhas por dia por operário, com navalhas para tipo 18 mm, 21 mm, 24 mm ou 27 mm (Figura 8). 5. Bancada de mesas para despeliculagem manual – Seleção e classificação da amêndoa de castanha de caju, confeccionada em chapa metálica ou madeira de lei, apoiada em quatro pernas, revestida em fór- mica de coloração clara-opaca, apresentando as seguintes dimensões: altura 60 cm, largura 90 cm e comprimento de 3 m. 26 Castanha de Caju 1 SÉRIE AGRONEGÓCIOS Parte - 1 Processo de Produção Fig. 7. (A) Peneira selecionadora de castanhas in natura. (B) Gerador a Vapor e Vaso Cozedor de castanhas in natura. Fonte: Metalúrgica Cobica Ltda. A B Fig. 8. Máquina manual de corte de castanha. Fonte: Metalúrgica Cobica Ltda. 27 Título do Capítulo Pa rt e 1 – Pr oc es so d e Pr od uç ão Fig. 9. (A) Estufa para secagem de amêndoas. (B) Suporte para bandejas. Fonte: Metalúrgica Cobica Ltda. Fig. 10. Gerador a vapor, com câmara de umidificação. Fonte: Metalúrgica Cobica Ltda. A B 6. Estufa para secagem das amêndoas, aquecida a GLP – Construída em chapa metálica com porta, prateleira de perfil metáli- co para 12 bandejas em telas galvanizadas malha 4 x 20 mm, com capacidade individual para 3,35 kg de amêndoas, dotada de ter- mômetro, válvula termostática, queimadores a gás, com capacidade para 42 kg em 6 horas e com temperatura média de 65ºC, com suporte para bandeja e divisórias com prateleiras, para colocação das bandejas com amêndoas para repouso (Figuras 9A e 9B). 7. Umidificador de amêndoas – Construído em chapa metáli- ca com porta e prateleira em perfil metálico para 4 a 10 bandejas, munido de tubulação acoplada ao vaso cozedor com canalização para injeção de vapor saturado, com chave de controle de entrada de vapor e capacidade para umidificar 300 kg de amêndoas por dia. 8. Umidificador – Confeccionado em chapa zincada Compor- tando quatro bandejas, com capacidade operacional de 14 kg de amêndoas a cada 5 minutos. Este equipamento substitui o umidifi- cador do item anterior (Figura 10). 28 Castanha de Caju 1 SÉRIE AGRONEGÓCIOS Parte - 1 Processo de Produção 9. Despeliculador manual – Constituído de bandeja retangular dota- da de tela metálica, para a separação da película, e escovas de cerdas, montado em suporte de madeira de lei e tremonha em chapa metáIica, com capacidade diária de despelicular 300 kg de amêndoas. 10. Despeliculador rotativo contínuo manual – Com capacidade operacional de 50 kg/hora (Figura 11A). Esse equipamento substitui o despeliculador do item anterior. 11. Conjunto de fritadeira e centrífuga para fritura da amêndoa semiprocessada e extração do excesso do óleo de fritura – Confeccionada em ferro fundido e aço-carbono, revestimento em aço inoxidável, com dois cestos compatíveis para ajuste no conjunto, com funcionamento a GLP para a fritadeira, e energia elétrica para a cen- trífuga (Figura 11B). Fig. 11. (A) Despeliculador rotativo contínuo manual. (B) Conjunto fritadeira e centrífuga para secagem das amêndoas. Fonte: Metalúrgica Cobica Ltda. A B 12. Máquina seladora de sacos de plástico ou aluminizados – Composta por caixa termostática, lâmpada-piloto, chave deslizante para funcionamento automático, barramento de solda composta de resistên- cia e barra de alumínio, protegida por pedal, com regulagem de calor e de tempo de soldagem,sem sistema de vácuo. 13. Máquina de enchimento para latas sanitárias – Com capaci- dade de 25 libras (11,34 kg), dotada de recravadeira, sistema de vácuo e injeção de CO2 (Carbono). 14. Enchedeira para latas de 25 libras – Dotada de sistema vibratório. Capítulo 4 Processo de Produção A definição do processo de produção está diretamente ligada ao tipo de produto que se pretende fabricar. E de acordo com essa definição, varia sensivelmente o volume de investimento em maquinário. 29 Título do Capítulo Pa rt e 1 – Pr oc es so d e Pr od uç ão Etapas de produção As etapas para beneficiamento da castanha de caju, em escala de minifábricas (Figura 12), compreedem as seguintes operações: 30 Fonte: Copan (J. Macedo) Fig. 12. Etapas do processamento da castanha de caju. Castanha de Caju 1 SÉRIE AGRONEGÓCIOS Parte - 1 Processo de Produção A tecnologia de equipamentos foi sendo desenvolvida à medida em que crescia a demanda, com o aparecimento de novas unidades industriais, a maioria de pequeno porte. E essa tecnologia foi sendo desenvolvida, em grande parte, pelas próprias indústrias metalúrgi- cas, em parceria com a Embrapa Agroindústria Tropical, que pas- saram a adaptar suas máquinas e equipamentos às necessidades e aos reclamos da agroindústria, que por sua vez traduziam a deman- da dos consumidores. A Embrapa Agroindústria Tropical, ao longo de todo esse período, realizou pesquisas tecnológicas, visando obter bons resultados no beneficiamento da castanha até o ponto de sugerir um processo de produção nos mesmos moldes do utilizado pelas grandes empresas de corte manual. No final do processo, as amêndoas têm qualidade semelhantes às do tipo exportação. Processamento Secagem da castanha A safra da castanha de caju compreende os meses de agosto a dezembro. Por isso, os beneficiadores precisam formar estoques para que as fábricas trabalhem o ano inteiro. Durante o período de estocagem, para que não haja problemas de deterioração, princi- palmente por fungos, as castanhas devem secar até obter umidade de 7% a 9%. Esse processo é feito em quadras de cimento ou terrei- ro, por um período de até 5 dias, dependendo da região (Figura 13). As castanhas devem ser amontoadas, em camadas de até 30 cm do solo, revolvidas pelo menos duas vezes por dia. À noite, as casta- nhas devem ser cobertas com lonas ou plástico, para evitar a ação de agentes externos, como chuvas. 31 Título do Capítulo Pa rt e 1 – Pr oc es so d e Pr od uç ão Fig. 13. Processo de secagem em quadra de cimento. Limpeza No momento da armazenagem, as castanhas devem estar limpas, livres de folhas, pedras, areia, pedaços de pedúnculo e outras impurezas, para evitar a contaminação e a deterioração. A limpeza pode ser efetuada em peneiras manuais ou em chapas perfuradas utilizadas para a calibragem. Classificação Consiste em selecionar as castanhas por tamanhos (pequenas, médias, grandes e cajuís), por meio de uma peneira rotativa, em chapas per- furadas de calibres diversos cujos furos são de acordo com os tamanhos especificados. Esse processo pemite realizar satisfatoriamente as seguintes operações: • Cozimento das castanhas, para permitir a penetração uniforme do calor. • Corte em maquinas, de acordo com o tamanho da castanha. • Fritura das castanhas, para não queimar ou escurecer as de menor tamanho. A classificação pode ser feita em cilindro rotativo, ou em peneiras ma- nuais de malhas de arame, ou ainda em chapas perfuradas. Para o proces- so manual, utilizam-se peneiras de calibres diferentes: • Castanha grande, peneira com diametro de 27 mm. • Castanha média, peneira com diametro de 24 mm. • Castanha pequena, peneira com diametro de 18 mm. • Cajuí, peneira com diametro menor que 18 mm. Armazenagem Após os processos de secagem, limpeza e classificação, as castanhas estão aptas para o armazenamento por um período superior a 1 ano. Para o armazenamento, é recomendável o uso de sacos empilhados sobre estra- dos de madeira, em local arejado, limpo e seco, sem contato com água. As pilhas de sacos devem ficar afastadas uma das outras, para permitir a circulação do ar. Pesagem Para que se tenha uma idéia exata do volume a ser processado e da quan- tidade da matéria-prima a ser colocada na autoclave, torna-se necessária a pesagem. A pesagem também permite o controle do estoque e da qua- lidade da castanha armazenada, uma vez que isso pode indicar a neces- sidade de reumidificação. 32 Castanha de Caju 1 SÉRIE AGRONEGÓCIOS Parte - 1 Processo de Produção Cozimento Como preparação para o corte, as castanhas são submetidas a uma etapa de cozimento, que pode ser feita em autoclave a 110°C/10 minutos, ou em caldeirão comum, por aproximadamente 30 minu- tos. Esse último sistema consiste de um caldeirão simples, aberto (sem pressão), colocado sobre uma fogueira no qual se dispõe uma camada de água. As castanhas são acondicionadas em saco, para facilitar a carga/descarga. As mesmas ficam isoladas da água, por meio de uma chapa perfurada, apoiada sobre armação de metal, pedaços de tijolo, etc., de modo que somente o vapor da água entre em conta- to com as castanhas. Para melhor distribuição do vapor no interior das castanhas, a chapa perfurada deve ter um tubo central, também perfurado. O caldeirão poderá ter um visor para monitorar o nível da água e uma ligação com uma caixa d’água, para suprir o caldeirão. Atualmente, estão disponíveis no mercado, equipamentos para co- zimento da castanha, denominado vaso cozedor, para atender as unidades de minifábrica, construídos em aço carbono, com capaci- dade de cozinhar até 600 kg de castanha/dia, com produção de vapor saturado, fonte combústivel a GLP, lenha ou casca de castanha. Resfriamento e secagem Após cozidas, as castanhas são colocadas em local arejado, para res- friamento e para que sequem, facilitando a quebra durante o corte. Essa operação pode ser realizada de duas formas: para o cozimento feito em sistemas caseiros, ou seja, sem pressa, as casta-nhas são colocadas para resfriamento e secagem em lugar arejado, podendo essa operação ser completada em até 6 horas, para o cozimento feito em vaso cozedor, as castanhas poderão permanecer por 20 minutos após a operação de cozimento, dentro do equipamento, sendo em seguida colocadas para resfriamento por cerca de 2 horas. Decorticação Depois de resfriadas, as castanhas são levadas à operação de corte. Essa operação realiza-se em máquinas de corte, ajustadas aos tipos classificados anteriormente e montadas em mesas apropriadas. Nas máquinas, trabalham duas operárias: uma corta, e outra, munida de estilete, retira as amêndoas que ficam aderidas à casca. Aconselha- se que essas operárias trabalhem com as mãos protegidas com óleo vegetal, para evitar a ação cáustica do LCC. 33 Título do Capítulo Pa rt e 1 – Pr oc es so d e Pr od uç ão 34 Estufagem das amêndoas A secagem visa reduzir a umidade da amêndoa, de 2,5% a 3%, para que a película, até então firmemente aderida à amendoa, torne-se quebradiça, facilitando sua soltura. A secagem realiza-se em estufas com circulação de ar quente (60°C a 70°C), por um período de 6 a 8 horas. As castanhas são colocadas em bandejas teladas e devem ser aquecidas de modo que a película se solte por igual. Em muitos casos, a amêndoa é submetida a um processo de umidificação por vapor saturado (1 a 2 minutos), para facili- tar a separaçao da película da amêndoa. Resfriamento O resfriamento da amêndoa pode ser feito sobre mesas ou nas próprias bandejas, em suportes aproriados, por cerca de 2 horas à temperatura ambiente, com objetivo de preparar o produo para a retirada da película. Despeliculagem Os operários, com simples torção de dedos, conseguem separar a película da amêndoa. Em alguns casos, lança-se mão de estiletes de metal, para a retirada de partes de película mais aderentes. Muitas vezes essa “amêndoa difícil” tem que voltar à estufa para nova secagem, o que desvaloriza o pro- duto. Pode-se utilizar um cilindro despeliculadorde escovas, para aumen- tar a produtividade da operação, porém corre-se o risco de aumentar con- sideravelmente a porcentagem de quebra das amêndoas. Seleção e classificação As amêndoas devem ser classificadas basicamente pelo tamanho, integri- dade e cor, podendo também, serem divididas por bandas, batoques, pedaços, grânulos, xerém e farinha (Figura 14). A operação é realizada em mesas com bancadas revestidas de fórmica ou de tecido grosso, de cor clara. Desta maneira, as amêndoas são manuseadas em superfície macia que atua como filtro, retendo a poeira existente nelas. Castanha de Caju 1 SÉRIE AGRONEGÓCIOS Parte - 1 Processo de Produção Fig. 14. Classificação comercial das amêndoas de caju. Extra Comum Comercial Popular Mista 35 Título do Capítulo Pa rt e 1 – Pr oc es so d e Pr od uç ão Fritura Para comercializar as amêndoas fritas, deve-se proceder à fritura com as amêndoas já separadas por tamanho. Isso permite uni- formização da fritura. O equipamento á gás com controle de tem- peratura pode ser o mesmo utilizado para batata frita. O óleo deve ser de boa qualidade, com recomendação de uso de gordura hidro- genada, para não conferir sabor estranho à amêndoa, sendo os óleos mais utilizados o de milho ou de soja. O procedimento recomendado para a operação de fritura e salga é feito da seguinte maneira: • As amêndoas do mesmo tamanho e cor são colocadas em cestas apropriadas e imersas em óleo bem quente, no ponto de fritura. A quantidade de óleo deve ser sificiente para cobrir todas as amên- doas. • O tempo de fritura varia de 3 a 6 minutos, dependendo do volu- me de amêndoa contida nas cestas. Recomenda-se não mecher as amêndoas, para que não ocorra quebra e desuniformidade da fritura. • Após a fritura, remove-se o excesso de óleo do produto, derra- mando o conteúdo da cesta sobre superfície plana recoberta por papel absorvente ou saco de estopa limpo. Melhor resultado obtém- se com o uso de uma centrífuga. • A salga é feita com as amêndoas ainda quentes, utilizando-se sal refinado de boa qualidade, seco e sem impurezas, na quantidade de 1% a 2% em relação ao peso da amêndoa. Embalagem As embalagens utilizadas no acondicionamento das amêndoas de castanha de caju devem ser novas, limpas, secas, impermeáveis, isentas de chumbo, fechadas hermeticamente e sem qualquer reves- timento de papel. As embalagens devem ainda ser suficientemente resistentes, de modo a garantir a integridade do produto durante os embarques normais e nos armazenamentos. Produto beneficiado As amêndoas devem ser acondicionadas em sacos aluminizados, com capacidade de 22,68 kg, em peso líquido do produto, equiva- lente a 50 libras/peso ou em dois sacos aluminizados com capacidade para 11,34 kg, em peso líquido do produto, equivalente a 25 libras/peso. Recomenda-se também o uso de latas de flandes com capacidade para 11,43 kg em peso líquido ou 25 libras/peso. Em ambos os casos o produto deve ser colocado em caixas de papelão novas e devidamente fechadas. 36 Produto processado Após a fritura e a salga, as amêndoas podem ser embaladas em latas de flandes, alumínio ou fibrolatas, com peso variando de 100 a 400 g. Outro tipo muito utilizado para acondicionamento é a embalagem em saco de plástico, ou ainda em embalagens cartonadas e metalizadas. Veja na Figura 15, a seguir, as etapas necessárias para a fritura e a salga da amêndoa de caju. Castanha de Caju 1 SÉRIE AGRONEGÓCIOS Parte - 1 Processo de Produção Fig. 15. Etapas de fritura da amêndoa do caju. Parâmetros técnicos De acordo com a Embrapa Agroindústria Tropical, para a implantação de uma minifábrica com capacidade diária de processar 550 kg de castanha, são considerados os coeficientes técnicos mostrados na Tabela 4. Etapas do processamento Nas etapas do processamento da castanha, mostradas na Tabela 5, são consideradas para efeito de determinação do tempo necessário para as etapas do beneficiamento, a quantidade de matéria-prima utilizada no processo, as especificações técnicas e a funcionalidade do equipamento. Os resultados obtidos nas Tabelas 5, 6 e 7, referem-se a uma planta indus- trial, com equipamentos e processos desenvolvidos pela Embrapa Agroindústria Tropical, em parceria com a iniciativa privada. 37 Título do Capítulo Pa rt e 1 – Pr oc es so d e Pr od uç ão Tabela 5. Tempo necessário para as etapas do beneficiamento. Etapas Cozimento Secagem da castanha Repouso da castanha Corte da castanha Estufagem da amêndoa Umidificação Repouso da amêndoa Despeliculagem mecânica Despeliculagem manual Quantidade (kg) 50 50 50 100 30 30 30 32 13 Tempo A cada 20 minutos A cada 20 minutos 2 horas 5 horas 6 horas 5 minutos 1 hora 1 hora 8 horas Tabela 6. Máquinas e equipamentos para cinco caixas de amêndoa por dia. Especificação Classificador manual com rotores Vaso cozedor para castanha Máquina de corte manual Estufa a gás com bandejas Umidificador para amêndoa Despeliculador manual com tela e escova Mesa para seleção e classificação Fritadeira a gás com cestos em aço inox Centrífuga para extração de óleo Suporte para bandejas em madeira Recravadeira com sistema de injeção a gás Quantidade 1 1 7 3 1 1 5 1 1 3 1 kg/dia 550 550 550 114 114 114 114 114 114 114 - Produto Castanha Castanha Castanha Amêndoa Amêndoa Amêndoa Amêndoa Amêndoa Amêndoa Amêndoa Amêndoa Mão-de-obra (homem/dia) 0,8 0,5 10 0,2 0,3 0,6 4,0 0,2 0,2 0,2 0,3 Tabela 4. Parâmetros técnicos utilizados no beneficiamento da castanha. Parâmetro Técnico Capacidade de processamento do módulo Rendimento do processo Amêndoas inteiras obtidas no processo Rendimento do operário no corte da castanha Rendimento do operário na classificação da amêndoa Rendimento do operário na despeliculagem manual Unidade Kg/castanha/dia Percentual Percentual Kg/castanha/dia Kg/amêndoa/dia Kg/amêndoa/dia Valor 550 21 80 a 85 34 37 13 38 Tabela 7. Insumos para produção de cinco caixas de amêndoas. Discriminação Castanha de caju Sacos diversos Óleo vegetal Gás para diversas operações Gás (CO2 ou N2) para conservação da amêndoa/ano Energia elétrica Unidade Quilo Saco Litro Quilo Tubo Kwh Quantidade 550 6 3 26 1 16,15 Castanha de Caju 1 SÉRIE AGRONEGÓCIOS Parte - 1 Processo de Produção Capìtulos 5 Instalações e Operações Básicas Para um bom aproveitamento do espaço físico de uma minifábrica de castanha, é preciso reservar locais específicos para o armazenamento das castanhas e para as amêndoas embaladas. As instalações físicas e operações básicas necessárias para o beneficiamento da castanha serão os assuntos tratados neste capítulo. 39 Título do Capítulo Pa rt e 1 – Pr oc es so d e Pr od uç ão Um espaço adequado As operações básicas de beneficiamento da castanha podem ser desen- volvidas em quatro etapas distintas: 1. A limpeza, a classificação por tamanho e o cozimento da castanha real- izam-se em área externa, coberta por um toldo. As operações de limpeza e de classificação podem, também, ser efetuadas no galpão de armazenagem. A secagem das castanhas para o corte é feita sob o sol, em terreiro cimentado. 2. No descasque ou corte, deve-se reservar um espaço para a estocagem das cascas, que serão utilizadas para a extração do líquido ou para ali- mentar o forno e a fornalha. 3. Para a despeliculagem e seleção, exige-se um local higiênico, pois a amêndoa, semiprocessada já se encontra exposta ao ambiente. Essa área deve ser isenta de roedores e insetos, visto que o material não embalado pode ter que ficar estocado de um dia para o outro. As operações requerem, também, um ambiente bem iluminado, para facilitar o traba- lho. 4. Fritura e embalagem – No caso de amêndoas cruas, a embalagem poderá ser feita na mesma área da seleção. Já no caso de amêndoas tor- radas, a operação de fritura deve ser efetuada em ambiente separado. Nessa área, as mesmas condições de luminosidade e de higiene devemser observadas. Localização criteriosa O local onde deve ser montada a agroindústria de processamento de cas- tanha de caju deve ser escolhido criteriosamente. Depois de dimensionar o espaço necessário, é hora de sair a campo e procurar um lugar para a futura empresa. O imóvel pode ser alugado ou construído, dependendo dos recursos disponíveis pelo empresário. De qualquer maneira, na hora de avaliar o imóvel, é preciso analisar todos os fatores que possam ser decisivos nos seus custos. Assim, é importante observar os seguintes aspectos: 1. Vias de acesso – O ideal é que exista uma boa rede viária para o escoamento da produção. Do contrário, os custos do transporte vão pesar no preço final do produto. 2. Localização – A proximidade dos consumidores e dos fornecedores de matéria-prima também reduz os custos de transporte. 40 Castanha de Caju 1 SÉRIE AGRONEGÓCIOS Parte - 1 Processo de Produção 3. Condições da região – Verificar se existe disponibilidade de mão-de-obra na região, bem como seu nível de formação (rede escolar e principalmente, escolas técnicas) e organização (sindi- catos). É importante pesquisar o salário médio pago aos trabal- hadores e o custo de vida. 4. Imóvel – Avaliar a conveniência de comprar ou alugar o imóvel. Normalmente o aluguel é mais vantajoso para empresas que estão começando, desde que o contrato preveja cláusulas seguras de re- novação. É importante também verificar se existe possibilidade de expansão. 5. Energia – Este é um dos principais critérios para determinar a localização de uma agroindústria de processamento de castanha de caju. É necessário verificar a capacidade da rede elétrica existente e se ela suporta as instalações de transformadores e extensões. 6. Água – Conferir a fonte de abastecimento de água (fonte natu- ral, poço artesiano ou rede hidráulica) e verificar se ela atende suas necessidades. 7. Integração – Qualquer empresa moderna deve considerar os aspectos sociais de sua instalação. Ela deve estar integrada com a comunidade na qual está situada, e estabelecer com ela uma relação de troca, oferecendo benefícios e recebendo apoio e colaboração. Projete sua empresa Depois de observados todos esses aspectos e escolhidos o local, é hora de projetar sua indústria no papel. Você verá que no projeto do galpão (Figura 16), numa área de 102 m², foram reservados um espaço para armazenamento da castanha in natura, para o escritório, para o beneficiamento e área de corte e repouso das cas- tanhas autoclavadas. A área administrativa - escritório - possui uma recepção, um escritó- rio e uma sala destinada ao atendimento da clientela. A área de produção é dividida em três setores básicos: seleção, bene- ficiamento e corte/repouso. Seguindo uma seqüência de produção, na área de seleção, fica a peneira selecionadora; na área de benefi- ciamento, ficam a câmara de umidificação, suporte de bandejas, es- tufa a gás, despeliculador rotativo, mesa de seleção, seladora para sacos, conjunto para fritura e secagem, e mesa de beneficiamento; e na área de corte/repouso, as bancadas de corte e o gerador. 41 Título do Capítulo Pa rt e 1 – Pr oc es so d e Pr od uç ão Layout 2,50 m 2,00 m 2,00 m 7,50 m 2,50 m 2,50 m6,00 m 2,00 m 2,00 m Fig. 16. Planta baixa de uma pequena agroindústria de processamento de castanha de caju. 42 Fonte: Mecol – Metalúrgica Cobica Ltda. Castanha de Caju 1 SÉRIE AGRONEGÓCIOS Parte - 1 Processo de Produção Os revestimentos de todo os ambientes devem ser de fácil limpeza. O piso da área de produção deve ser de boa resistência a impactos e a cargas pesadas. A área de produção deve ter uma única entrada e saída para possibilitar um maior controle, sendo esse setor volta- do para local de fácil acesso a carros e caminhões. O projeto arquitetônico optou pela não divisão da área de beneficiamento em pequenos ambientes, como depósitos ou separação das máquinas ou setores, o que facilita a organização e a disposição de toda a pro- dução, alêm de deixar a área mais flexível e de fácil localização dos equipamentos. A importância de outros materiais Além dos equipamentos descritos neste estudo, outros materiais diversos são necessários para o adequado processamento. A seguir, relacionamos esses materiais, divididos em grupos: recebimento da castanha; cozimento; corte; seleção e classificação; fritura, centrifu- gação e embalagem; e apoio administrativo. Como você pode verificar neste estudo, o processo de beneficiamen- to da castanha é bastante simples, se comparado com outros tipos de agroindústria. Ele também guarda uma característica bastante interessante que é a de se adaptar aos mais diferentes volumes de produção. O processamento das amêndoas dispensa o trato cuida- doso de mãos humanas, guardando, mesmo nas maiores empresas, um certo espírito artesanal. O que é sinônimo de emprego e de importância social em regiões normalmente carente de oportu- nidades. 43 Pa rt e 1 – Pr oc es so d e Pr od uç ão Referências PAIVA, F. F do A.; SILVA NETO, R. M. da, PAULA PESSOA, P. F. A. de. Minifábrica de processamento de castanha de caju. Fortaleza: Embrapa Agroindústria Tropical, 2000. 22p. (Embrapa Agroindústria Tropical. Circular Técnica, 7). PAIVA, F. F. DO A; GARRUTI, D. dos S; SILVA NETO, R. M. da. Aproveitamento industrial do caju. Fortaleza: Embrapa – CNPAT/EMPAT/SEBRAE, 2000. 88p. (Embrapa – CNPAT. Documentos, 38). Agrianual 2002: anuário da agricultura brasileira. São Paulo: FNP, 2002. 45 Título do Capítulo Pa rt e 1 – Po ce ss o de P ro du çã o Capítulo 1 Mercado Promissor A produção e a comercialização de amêndoas de caju pode ser um negócio de lucro razoável, desde que bem administrado. O mercado para esse produto, tanto no Brasil como no exterior, é muito promissor. Nos últimos anos, o consumo per capita tem aumentado cada vez mais, e ainda há muito espaço para novos empreendimentos no setor. Contudo, para conquistar este mercado é importante, além de tudo o que já falamos até agora, que o empreendedor conheça bem o terreno onde vai pisar. É exatamente esse o objetivo deste capítulo, apresentar informações importantes desse universo complexo e diversificado chamado mercado. 49 Pa rt e 2 – A ná lis e de M er ca do 50 Um universo chamado mercado O mercado, no linguajar empresarial, significa um conjunto de pessoas e empresas que compõe o universo de um determinado segmento da economia. Você já deve saber, mas nunca é demais repetir, que o merca- do pode ser dividido em três grandes grupos. Mercado Consumidor – Universo de pessoas físicas ou jurídicas com potencial para comprar um determinado produto. Mercado Fornecedor – Formado pelo conjunto de pessoas ou empre- sas – fábricas, atacadistas, produtores – que fornecem produtos, mer- cadorias, matérias-primas, equipamentos, serviços ou insumos utilizados por uma outra empresa. Mercado Concorrente – Constituído de empresas que atuam no mesmo ramo de atividade, na mesma região geográfica voltadas para o mesmo tipo de clientela. Essas definições são fundamentais para desenvolvermos o estudo que estamos iniciando agora. O estudo da viabilidade mercadológica de uma indústria de processamento de castanha de caju, assim como em qual- quer ramo de atividade, é um dos pilares para o bom desempenho da empresa. Só através dele o empresário saberá onde está pisando e terá condições de tomar decisões acertadas. Veja como as coisas se desenvolvem como num círculo: sem saber quem serão os compradores, o empresário não poderá sequer definir as carac- terísticas do seu produto. Um produto só é comprado se agradar o con- sumidor. E como vamos agradar alguém que não se sabe quem é? Se precisar saber quem vai comprar o seu produto, o produtor de cas- tanha de caju também não pode deixar de conhecer quem serão os seus parceiros, quem entrará na sua empreitada. Sim, porque os fornecedores, tanto de equipamentos como, principalmente, de matéria-prima, devem estar no mesmo barco do industrialque processa a castanha. Do bom fornecedor – e isso, no caso da matéria-prima, é sinônimo de qualidade e regularidade na entrega do produto – depende a qualidade do produto final da agroindústria e sua rotina de produção. Finalmente, se o empresário desconhecer ou desprezar o mercado con- corrente pode, como diz o ditado popular, "dar com os burros n'água". Corre riscos de entrar num mercado já saturado ou não conseguir com- petitividade em preço e qualidade por pura ignorância sobre o que os ou- tros empresários que atuam no ramo estão fazendo. Castanha de Caju 2 SÉRIE AGRONEGÓCIOS Parte - 2 Análise de Mercado 51 Título do Capítulo Pa rt e 2 – A ná lis e de M er ca do O conhecimento de cada uma das parcelas do universo que chamamos de mercado é etapa essencial no planejamento de uma empresa. E não se trata de o empresário assumir uma atitude, vamos dizer, passiva, diante das informações que recolher. O empresário deve ser sempre um agente com capacidade de intervir no universo em que atua, de oferecer alguma coisa que o consu- midor almeja ou possa vir a desejar e que ainda não tem, de induzir a melhoria de produtividade do seu fornecedor, cobrando mais qua- lidade e menor preço do produto, e até forçando o aperfeiçoamen- to dos concorrentes, elevando o nível de competitividade do setor. No Brasil e além-fronteiras Uma rápida análise sobre o consumo da amêndoa de caju já é capaz de demonstrar que se trata de um mercado com grande potencial de crescimento dentro e fora do Brasil. Hoje, a produção de amên- doas está quase que diretamente associada à exportação, uma vez que cerca de 90% dos produtos beneficiados no Brasil destinam-se ao mercado externo. Os países europeus e os Estados Unidos são os maiores consumi- dores da amêndoa de caju brasileira, mas cada lugar com seu tipo de preferência. Segundo o pesquisador Lucas Antonio de Souza Leite, o consumo mundial de nozes, inclusive da amêndoa de caju, apresenta uma configuração geográfica que tem muito a ver com requisitos econômicos, ou seja, de poder aquisitivo dos consumidores. Ele ressalta ainda que não podem ser desprezados elementos culturais. Veja como é o padrão de comportamento de consumo do produto no mundo: A amêndoa de caju é utilizada basicamente como tira-gosto, nor- malmente para acompanhar bebidas alcoólicas, ou como insumo para padarias e confeitarias. Nos Estados Unidos, cerca de 75% do consumo está no primeiro caso (as amêndoas torradas e salgadas como tira-gosto). Os europeus preferem acompanhar a cerveja e o vinho com amendoins, avelãs e amêndoas. A maior parte da amên- doa de caju importada por aqueles países acaba misturada a pães, biscoitos e bolos. Assim, ainda segundo Souza Leite, "pode-se dividir o mercado de amêndoas de castanha de caju em dois segmentos: o que exige amêndoas inteiras, brancas e totalmente isentas de manchas ou de marcas provocadas por insetos; e outro menos exigente com relação à qualidade, calcado nos tipos quebrados, tostados ou mesmo manchados. No primeiro, há uma definição clara no tocante à qualidade do produto e o seu consumo está associado à preferência pelo sabor específico desse tipo de noz, o que, sob esse ponto de vista, a torna uma especiaria. No segundo caso, é mais evidente a concorrência via preços, ou seja, a uti- lização da amêndoa de caju como insumo nos produtos de confeitaria e padaria deve-se ao preço relativo de outras nozes. Isso condiciona esse segmento à sistemática de um mercado de commodity, onde os custos de produção/processamento são essenciais para participar do mercado. Uma análise dos destinos e valores das exportações brasileiras de amên- doas de castanha de caju, apresentados na Tabela 1, a seguir, confirma o raciocínio do pesquisador. Tabela 1. Exportações brasileiras de amêndoa de castanha de caju. Blocos Nº Países Peso (kg) Preço (US$) Valor (US$-FOB) América do Norte 3 34.002.853 3,89 132.374.554 (89,3%) (101,3%) (90,4%) Europa 10 2.757.015 3,10 8.537.768 (7,2%) (81,6%) (5,9%) Outros 12 1.336.735 4,14 5.528.825 (3,5%) (107,8%) (3,7%) Total 25 38.096.603 x = 3,71 146.441.147 Fonte: Banco do Brasil, Decex/Ctic 52 Informações mais recentes dão conta de que as exportações brasileiras de castanha de caju fresca ou seca no primeiro semestre de 2001, foram de 17.333 toneladas, perfazendo um total de US$ 68.056 milhões. Os Estados Unidos foram o país que mais importou o produto, como pode ser observado na Tabela 2. No mercado interno, o maior consumo das amêndoas inteiras e salgadas está nas regiões Sul e Sudeste, enquanto o Nordeste é o grande consu- midor do produto como insumo de confeitaria e padaria, além do uso do produto na culinária. A produção brasileira de amêndoa de caju, em 2001, foi de 186.437 t, toda ela oriunda da Região Nordeste, sendo que o Ceará concentra mais de 50% da produção, como pode ser observado na Tabela 3. Castanha de Caju 2 SÉRIE AGRONEGÓCIOS Parte - 2 Análise de Mercado 53 Título do Capítulo Pa rt e 2 – A ná lis e de M er ca do Título do Capítulo Tabela 3. Produção brasileira de amêndoa de castanha de caju – 2001. Estado Produção em toneladas Maranhão 4.864 Piauí 41.827 Ceará 101.037 Rio Grande do Norte 38.709 Brasil 186.437 Fonte: IBGE Apesar de ser o berço da espécie, a castanha de caju brasileira enfrenta hoje, uma forte concorrência de produtores especialmente da Índia e alguns países asiáticos. Conta-se nas lendas e histórias que cercam o caju que os índios, na época da colonização, já tinham consciência do patrimônio que a fruta suculenta, saborosa e nutritiva representava e fizeram tudo para evitar que ela fosse levada para fora de seus territórios. Como em praticamente todo o resto da sua história a resistência indígena foi em vão. As mudas levadas pelos portugueses, inicialmente para as regiões indianas de Goa e da costa de Malabar, no estado de Kerela proliferaram-se e o Brasil perdeu para a Índia a primazia da produção – hoje aquele país tem quase 60% do mercado mundial de castanha, contra pouco mais de 33% do Brasil – e está em pelo menos no terceiro lugar em produtividade. Os pomares Tabela 2. Castanha de caju - Exportações Brasileiras* – ranking por país destino – 2001**. Países M US$ Tonelada Estados unidos 52.736 13.206 Canadá 4.797 1.232 Itália 1.266 482 Líbano 1.804 365 Portugal 694 191 Países Baixos 290 131 França 662 251 Alemanha 1.366 345 México 1.235 272 África do Sul 904 222 Argentina 246 81 Reino Unido 621 172 Outros 1.435 383 Total 68.056 17.333 Fonte: Secex/Decex *Castanha de Caju fresca ou seca. (NCM: 0801.32.00) **de Janeiro a julho de 2001 MUS$ == UUS$ 11000 FFOB mais produtivos estão no Vietnã, onde colhem-se 750 kg de castanhas por hectare plantado. Na Índia, a média é de 550 kg por hectare e no Brasil é de 250 kg por hectare. As estatísticas sobre a produção mundial de amêndoa de caju são ainda bastante limitadas. A produção mundial é estimada pelo Fundo das Nações Unidas para a Agricultura – FAO, em 362 mil toneladas. Desse total, a Índia e o Brasil participam, respectivamente, com 32% e 24%. Em seguida, aparece a Tanzânia com 9%, e Moçambique, com 2,5%. A par- ticipação dos países emergentes tem crescido significativamente nos últi- mos anos, com destaque para o Vietnã. O Brasil pode promover a diversificação do mercado externo, atualmente concentrado nos Estados Unidos. Nesse aspecto, é importante levar em consideração as preferências e hábitos alimentares. Nos Estados Unidos, a preferência é por amêndoas torradas e salgadas, servidas geralmente acompanhando bebidas alcoólicas. Na Europa, o consumo de amêndoas de castanha de caju está mais associado ao recheio de bolos, chocolates e na culinária. Por sua vez, o mercado interno é ainda muito pouco explorado, ensejan- do um elevado potencial a ser conquistado. A ampliação desses mercados depende fundamentalmente do padrão de qualidade do produto associ- ado a campanhas de marketing que divulguem as vantagens terapêuticas e nutricionais da amêndoa da castanhade caju. Além do concorrente externo, o empresário brasileiro que pretende entrar no ramo de beneficiamento de castanha de caju terá que dividir mercado com empresas brasileiras de pequeno, médio e grande portes que, juntas, produzem 161 mil toneladas de castanha por ano, são responsáveis pela geração de US$ 142 milhões em divisas e por 36 mil empregos diretos no campo. Somente, o segmento industrial processador de amêndoa de caju emprega cerca de 15 mil pessoas. No processo de comercialização da amêndoa de caju, ainda predomina a venda mediante atravessadores. De acordo com o IBGE, 80% da comer- cialização da amêndoa de caju ocorre via intermediação. Estes são apenas alguns dados genéricos e preliminares sobre o mercado brasileiro e mundial da amêndoa de caju, que lhe permitirão começar a pensar sobre o assunto. Mas isso é pouco, muito pouco. Para trilhar sua rota empresarial com segurança, você precisará conhecer o seu próprio caminho. A cada passo, observe e pesquise. Essas serão suas principais ferramentas. Saiba como utilizá-las. 54 Castanha de Caju 2 SÉRIE AGRONEGÓCIOS Parte - 2 Análise de Mercado Capítulo 2 Pesquisa de Mercado Anualmente, muitos empresários brasileiros não conseguem manter seus empreendimentos funcionando e encerram suas atividades. Outros apenas mantêm seus negócios sobrevivendo. Estima-se que no Brasil, aproximadamente 80% de todos os empreendimentos fecham suas portas nos primeiros 2 anos e muitos não chegam nem mesmo a completar 1 ano de atividade. O que leva tantas empresas à extinção? O que faz com que outras tantas organizações apenas continuem sobrevivendo, sem cumprir os objetivos fixados? São vários os motivos que levam a esses desfechos. Um dos mais sérios é o desconhecimento, por parte dos empresários, do mercado em que ele atua. Para que sua indústria de processamento da castanha de caju não venha passar por esses problemas, apresentamos neste capítulo, um roteiro simples, prático e eficaz de pesquisa, que você pode e deve utilizar para conhecer os mercados consumidor, fornecedor e concorrente do seu futuro empreendimento. 55 Título do Capítulo Pa rt e 2 – A ná lis e de M er ca do Um instrumento de decisão De uma forma simplificada, podemos dizer que mercado é a relação entre a oferta – pessoas ou empresas que desejam vender bens e serviços – e a procura – pessoas ou empresas que querem comprar bens ou serviços. Assim, toda situação em que estão presentes a compra e venda, real ou potencial de alguma coisa, é uma situação de mercado. Neste sentido, fala-se, por exemplo, em mercado de cereais, mercado imobiliário, mercado de serviços de saúde, mercado de trabalho, merca- do financeiro e outros. Como vimos no início deste volume, o universo pelo qual o empresário transita, pode ser dividido em três segmentos: o consumidor, o fornece- dor e o concorrente. E numa agroindústria de amêndoas de caju não é diferente. Tudo que o empresário fizer no dia-a-dia da sua indústria, será, direta ou indiretamente, em função de um deles. Ou seja, o empreende- dor e o empreendimento existem e atuam em função do mercado. Só isso já dá medida da sua importância e denuncia a necessidade de conhecê- lo, sob pena de caminhar no escuro e correr riscos muitas vezes desneces- sários. Para quem produzir e vender amêndoas de castanha de caju? Para o Mercado Consumidor. Quem já produz e vende amêndoas da castanha de caju que você pre- tende produzir e vender também? O Mercado Concorrente. Quem produz e oferece classificadores de castanha, vasos cozedores, autoclaves, umidificadores, despeliculadores, estufas e outros equipa- mentos, além da castanha in natura e outros materiais? O Mercado Fornecedor. Entenda cada uma das questões acima como equações matemáticas, em que as respostas – mercado consumidor, mercado concorrente e merca- do fornecedor – são "o x do problema". E é a pesquisa de mercado quem vai lhe responder o que significa "x". A pesquisa sem mistérios Hà pouco, quando falamos em milhares de empresas, poderíamos ter sido bem mais precisos e citar as 7.507.947 empresas constituídas entre 1985 a 2000 e as 871.902 empresas que fecharam as portas no mesmo período. E para completar a informação, somente em 2000, foram cons- tituídas 460.934 empresas, das quais 48,8% foram registradas como firma individual e 50,2% como sociedades limitadas. 56 Castanha de Caju 2 SÉRIE AGRONEGÓCIOS Parte - 2 Análise de Mercado E mais, naquele mesmo ano, exatas 100.017 empresas foram extin- tas, a maioria (53,16%) no Sudeste do Brasil. É possível que a precisão destes dados cause surpresa para muitos. Serão verdadeiros ou não passam de especulação? Afinal, como eles foram obtidos? Não, não se trata de adivinhação ou do famoso "chute". Para se saber quantas pessoas existem numa cidade deter- minada ou num bairro, ou até quantas empresas de um determina- do ramo existem no Brasil, basta recorrer à pesquisa. Todas essas informações e centenas de outras estão disponíveis em órgãos ou instituições públicas ou privadas, em sindicatos, bibliotecas, associ- ações de classe, etc. E as informações que ainda não existem podem ser conseguidas por meio de pesquisa. Talvez a palavra pesquisa assuste um pouco. Não é raro ela ser asso- ciada a complicação e grandes despesas. Mas nem sempre uma pesquisa bem feita custa muito ou é complexa. Antes de se estabelecer e, depois, periodicamente, uma agroindús- tria de processamento de castanha de caju, como qualquer indús- tria ou comércio, deve conhecer, por meio da pesquisa, os mercados onde irá atuar. Mas o que se costuma, usualmente, chamar de pesquisa de mercado, é o instrumento capaz de influenciar na co- mercialização de seu produto, direcionando-o às necessidades e anseios dos consumidores. 57 Título do Capítulo Pa rt e 2 – A ná lis e de M er ca do 59 Título do Capítulo Pa rt e 2 – A ná lis e de M er ca do Capítulo 3 Mercado Consumidor O consumidor – nunca é demais relembrar – é o principal dos três segmentos do mercado. É em função dele que são montados todos os negócios. É a ele que as empresas têm que agradar e servir. E como pode-se agradar a alguém que não se conhece, ignorando do que precisa e não sabendo do que gosta? No caso das agroindústrias de amêndoas de caju, sabe-se, com base em experiências de empresários que atuam no setor, que a maior parte dos clientes se concentra em cidades de médio e grande portes e está situada nas classes econômicas de médio e alto poder aquisitivo. Contudo, isso ainda é muito pouco. Para que o empreendedor possa definir com menor margem de erro sua linha de produção de amêndoas de caju e se lançar no mercado, precisa saber muito mais sobre o seu consumidor. E é isso o que pretendemos mostrar neste capítulo. 60 Identificando o consumidor O mercado consumidor da amêndoa de caju pode ser entendido como um conjunto de pessoas ou empresas situadas numa determinada região, capaz de consumir determinada quantidade do nosso produto em deter- minado espaço de tempo. Vale ressaltar que o mercado consumidor não é uma coisa fixa, estática. Ao contrário, ele muda bastante em função da área geográfica, do tempo ou da capacidade econômica de consumo. Para a amêndoa de caju, o mercado consumidor também muda, por exemplo, quando a economia do País entra em recessão, a tendência é de queda de consumo para esse tipo de produto, pois ele pode ser considerado supérfluo para o nosso público-alvo. Assim, se você está querendo lançar esse produto no mer- cado, é preciso saber para quem vender, quanto compram, quais suas preferências, ou seja, quem é o comprador do produto e o que ele quer. Para tanto, em primeiro lugar é preciso considerar que o mercado não é um todo compacto. Ele é formado por um conjunto de partes menores, diferentes uma das outras, como se fossem fatias que compõe um todo. Cada uma das partes ou fatias que compõem o mercado consumidor é chamado de segmento. Segmento de mercado é uma parcela do mercadocomposta de pessoas ou empresas que têm características comuns: consomem ou tendem a adquirir os mesmos produtos ou serviços semelhantes. Diante disso, se quisermos colocar no mercado nossa amêndoa de caju, devemos desco- brir qual o segmento de mercado que está interessado em nosso produ- to. A partir desse conhecimento, ele vai concentrar esforços de vendas exatamente nesse segmento. Para segmentar o mercado, é importante conhecer alguns aspectos que, além de possibilitar a divisão do mercado em partes menores, facilitarão a identificação do segmento em que o produto terá maior aceitação. As principais formas para segmentar o mercado consumidor são: • Área geográfica – País, região, estado, cidade ou bairro que se pretende atingir. • Classe econômica – Alta, média ou baixa – que o produto pre- tende atingir. • Faixa etária – A idade do consumidor – bebê, criança, jovem, adul- to ou velho – a quem o produto interessa. • Sexo – Masculino, feminino ou ambos – que produto concentra maior poder de atração. Castanha de Caju 2 SÉRIE AGRONEGÓCIOS Parte - 2 Análise de Mercado 61 Título do Capítulo Pa rt e 2 – A ná lis e de M er ca do • Aspectos culturais – Usos, costumes, nível de instrução, hábitos alimentares, etc. • Profissões do consumidor – Empresário, médico, profes- sor, estudante, que profissional ou profissionais tendem a adquirir mais o nosso produto. • Características físicas – Altura, cor, peso, tamanho do pé, etc. que determinam a linha dos produtos que a empresa vai oferecer. Assim, descobrir o segmento de mercado e suas necessidades para poder projetar para ele nossos produtos, equivale a dizer que vamos criar uma empresa voltada para o segmento de mercado adequado. O instrumento ideal para segmentar o mercado e determinar com precisão a fatia que o seu produto deverá atingir é a pesquisa de mercado. Mas nem sempre os pequenos empresários, mesmo conscientes da importância de fazer esse tipo de investimento, não dispõem de recursos necessários para financiar uma pesquisa ampla e eficaz. O que não deve impedir um estudo sério e analítico sobre o segmento de mercado que lhe interessa. Pesquisa de mercado, uma radiografia Já sabemos que nossos consumidores são pessoas de classes econômicas média e alta e concentram-se em cidades de portes maiores. Por sua vez, sabemos também que uma agroindústria de processa- mento de amêndoa de caju pode comercializar seus produtos dire- tamente para o consumidor ou atingir seu público por meio do comércio varejista. Assim, como nosso negócio não dispõe de recursos suficientes para fazermos uma pesquisa ampla, ou seja, diretamente com o con- sumidor final, vamos buscar conhecer nosso futuro cliente, por meio das empresas que comercializam ou venham a comercializar nossa amêndoa de caju. Não é difícil saber que empresas são essas: os supermercados, as mercearias e as delicatessen. Veja bem, se através de uma análise simples, já identificamos, em princípio, a área geográfica e a classe social dos nossos futuros clientes, por meio de uma pesquisa de mercado vamos ficar saben- do, em detalhes, quem são nossos clientes potenciais, quais os seus desejos e necessidades, o que pensam dos produtos oferecidos por ou- tras empresas, se gostariam de que eles sofressem alguma modificação. Enfim, recolhe todas as informações de que necessita, para atender bem nossa clientela e para poder oferecer o que ela espera. Uma pesquisa de mercado pode atingir nossos objetivos sem ser, obriga- toriamente, muito dispendiosa. Os pequenos empresários podem realizar pesquisas, como vimos acima, de qualidade e baixo custo. Basta que este- jam interessados em aperfeiçoar o processo de vendas. Agora, vamos definir melhor para que vamos realizar uma pesquisa, quando e como esse instrumento deve ser utilizado. Para que serve A pesquisa de mercado é a melhor forma de conhecer, com segurança e detalhes, o universo onde o empresário pretende atuar. Por meio dela é possível saber quem é o nosso consumidor potencial e o que ele espera do produto. Mas não é só isso. Na área de vendas, a pesquisa serve: • Para conhecer as tendências do mercado. • Conhecer a opinião dos consumidores sobre os mais diversos aspectos. • Diminuir os riscos da decisão sobre os planos de vendas. • Decidir a melhor maneira de motivar o consumidor para a compra. Quando deve ser feita A pesquisa deve ser feita em qualquer época. Entretanto, há alguns mo- mentos oportunos para sua realização: • Quando é preciso identificar problemas ou tirar dúvidas. • Antes do lançamento de um produto no mercado. • No momento da implantação ou de expansão de um negócio. • Quando é necessário certificar-se da receptividade dos serviços ou produtos. Quais os métodos utilizados Existem basicamente quatro métodos mais utilizados na pesquisa: Entrevista Consiste na abordagem, por entrevistador, da pessoa a ser pesquisada. Seguindo um roteiro especialmente elaborado para este fim, o pesquisador 62 Castanha de Caju 2 SÉRIE AGRONEGÓCIOS Parte - 2 Análise de Mercado conduz a entrevista com o propósito de obter, do entrevistado, informações detalhadas sobre o assunto que está sendo pesquisado. Inquérito Caracterizado por perguntas orais simples e objetivas ao pesquisa- do, de modo a obter respostas orais também simples e objetivas. Observação Neste método, um pesquisador observa e anota o comportamento das pessoas pesquisadas em determinado local. Com isso, a pessoa que está sendo observada não percebe que está sendo pesquisada. Simples e barata, a pesquisa pela observação é um método eficaz para se obter informações sobre um problema ou resposta a uma dúvida que a empresa tenha. Questionário Método que consiste em pesquisar a opinião de pessoas por meio de questionário escrito, a ser respondido também por escrito, pela própria pessoa pesquisada. Também não é um método caro, espe- cialmente porque pode dispensar a figura do entrevistador, já que os questionários podem ser entregues no próprio estabelecimento ou enviados pelo correio. Já sabemos para que serve a pesquisa, quando e onde ela deve ser realizada e quais os métodos utilizados. Agora, vamos analisar esses aspectos, especificamente, para nossa agroindústria de amêndoa de caju: Nossa pesquisa pretende: • Conhecer a opinião dos consumidores sobre o produto a ser lançado no mercado. • Ser feita no momento da implantação do negócio e antes do seu lançamento no mercado. • Ser feita junto as empresas que comercializam o mesmo tipo de produto que iremos fabricar. • Utilizar o método da entrevista, a partir de um roteiro especial- mente elaborado para esse fim. 63 Título do Capítulo Pa rt e 2 – A ná lis e de M er ca do Capítulo 4 A Pesquisa Passo a Passo Como um pequeno empresário pode fazer a pesquisa do seu mercado consumidor sem gastar muito? Isso não é tão difícil como parece à primeira vista. Confira, nas páginas a seguir, o roteiro da pesquisa do mercado consumidor – simples e de baixo custo – que desenvolvemos para nossa agroindústria de castanha de caju. 65 Título do Capítulo Pa rt e 2 – A ná lis e de M er ca do Mercado amplo Já conhecemos todo o processo de produção necessário para a fabricação da amêndoa de caju e constatamos sua viabilidade tecnológica (Processo de Produção), no qual levantamos informações sobre as máquinas e equipamentos utilizados no processo de fabricação e estimamos o volume de produção. Agora, precisamos saber se o negócio tem viabilidade mercadológica, ou seja, se existe consumidores para o nosso produto. A questão ”Existe mercado para nossa amêndoa de caju?” aliada à neces- sidade de identificar problemas e tirar dúvidas se existe público suficiente para consumir o produto, justifica a pesquisa. Em princípio, de acordo com informações coletadas em diversos órgãos do governo e em grandes empresas de processamento de amêndoa de caju e de fabricação de equipamentos, sabemos que o mercado é bas- tante amplo. Na verdade, os dados revelam
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