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socioeconômico Aula 1

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DESENVOLVIMENTO
SOCIOECONÔMICO
AULA 1
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Profª Rossandra Oliveira Maciel de Bitencourt
CONVERSA INICIAL
Você já ouviu falar em desenvolvimento socioeconômico? Saberia pontuar as principais
diferenças entre crescimento e desenvolvimento econômico?
Embora muitas reportagens, dia após dia, abordem essas temáticas de tamanha relevância para
todos nós, na prática, esses conceitos se confundem. O objetivo inicial desta aula é trazer alguns
elementos a fim de fomentar o debate sobre eles.
Outro desafio importante é conhecer os condicionantes do desenvolvimento. Será mesmo que o
aumento do Produto Interno Bruto (PIB) em dada economia tem alcance automático na população
como um todo, gerando benefícios concretos para o desenvolvimento? Entenderemos por que não
necessariamente ocorre dessa forma.
Na sequência, veremos que a ciência econômica, em sua amplitude, foi objeto de estudo em
diferentes escolas de pensamento. Por consequência, a noção de desenvolvimento acaba tendo um
significado diferente com base em diversas interpretações que emergiram ao longo de uma trajetória
histórica. Ainda, ao final desta aula, você verá como as escolas clássica e neoclássica tecem seus
argumentos acerca da presente temática.
CONTEXTUALIZANDO
O Brasil está entre os dez países mais desiguais do mundo – afirma o sociólogo Luis Henrique
Paiva, coordenador de estudos em seguridade social do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
(Ipea).
De fato. A publicação Síntese de indicadores sociais, divulgada pelo IBGE em 2020, trouxe
estimativas do Banco Mundial com base no índice de Gini, instrumento criado pelo matemático
italiano Conrado Gini para medir o grau de concentração de renda no grupo a ser avaliado. A
variação numérica é de zero a um, sendo zero quando todos têm a mesma renda e um
representando o extremo oposto.
Nesse ranking da desigualdade, o Brasil apresenta 0,539 pelo índice de Gini, com base em dados
de 2018. Está enquadrado entre os dez países mais desiguais do mundo, sendo o único latino-
americano na lista onde figuram os africanos.
Visto do topo da pirâmide social, o Brasil é um dos recordistas em concentração de renda no
mundo. Relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) divulgado no final de 2019, portanto
antes da pandemia do coronavírus, mostrou que o 1% da população mais rica detinha 28,3% da
renda do país, quase um terço do total. (Sasse, 2021)
Saiba mais
Continue lendo o texto em:
SASSE, C. Recordista em desigualdade, país estuda alternativas para ajudar os mais pobres.
Agência Senado, 12 mar. 2021. Disponível em:
<https://www12.senado.leg.br/noticias/infomaterias/2021/03/recordista-em-desigualdade-pais-
estuda-alternativas-para-ajudar-os-mais-pobres>. Acesso em: 7 dez. 2021.
TEMA 1 – CRESCIMENTO ECONÔMICO: NO QUE CONSISTE
Certamente, com frequência, você ouve os noticiários afirmarem que a economia está em
crescimento, ou em alguns momentos em desaceleração. Mas você sabe o que isso significa?
Na prática, o crescimento econômico diz respeito à ampliação quantitativa da produção, ou seja,
de bens que atendam às necessidades humanas (Gremaud; Vasconcelos; Toneto Júnior, 2008). Esse
conceito é importante, pois a capacidade de um país em fornecer melhores padrões de vida para sua
população está relacionada à sua taxa de crescimento econômico no longo prazo.
https://www12.senado.leg.br/noticias/infomaterias/2021/03/recordista-em-desigualdade-pais-estuda-alternativas-para-ajudar-os-mais-pobres
Como medimos o crescimento econômico de uma região ou de uma nação? Existem diferentes
formas de mensuração, mas a medida mais ampla da atividade econômica agregada, cujo uso se dá
com maior frequência, é o Produto Interno Bruto (PIB), que é o total dos bens e serviços produzidos
pelas unidades produtoras residentes destinados ao consumo final, sendo, portanto, equivalente à
soma dos valores adicionados pelas diversas atividades econômicas acrescida dos impostos,
líquidos de subsídios, sobre produtos. O PIB também é equivalente à soma dos consumos finais de
bens e serviços valorados a preço de mercado sendo, também, equivalente à soma das rendas
primárias (Abel; Bernanke; Croushore, 2008).
Logo, o PIB de um país, de um estado ou mesmo de um município pode ser calculado pela
abordagem do produto, da despesa ou da renda. Cada forma tem um método específico de cálculo,
porém, todas precisam chegar ao mesmo resultado para determinado período.
Saiba mais
“O Sistema de Contas Nacionais Trimestrais proposto pelo Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE) apresenta os valores correntes e os índices de volume (1995=100)
trimestralmente para o Produto Interno Bruto a preços de mercado, impostos sobre produtos,
valor adicionado a preços básicos, consumo pessoal, consumo do governo, formação bruta de
capital fixo, variação de estoques, exportações e importações de bens e serviços” (IBGE, [S.d.]).
Leia mais acessando o link a seguir:
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. SCNT – Sistema de Contas Nacionais
Trimestrais. IBGE, S.d. Disponível em:
<https://www.ibge.gov.br/estatisticas/economicas/industria/9300-contas-nacionais-trimestrais.
html?=&t=o-que-e>. Acesso em: 7 dez. 2021.
Durante a pandemia causada pelo Covid-19, economias do mundo inteiro passaram por
dificuldade, especialmente em 2020, com consequente redução do crescimento ou mesmo entrando
em recessão. Em 2021, com a expansão da aplicação de vacinas, as expectativas sobre a retomada
do crescimento econômico ganharam força. Segundo relatório do FMI, a economia brasileira
apresentou sinais de recuperação com previsão de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de
https://www.ibge.gov.br/estatisticas/economicas/industria/9300-contas-nacionais-trimestrais.html?=&t=o-que-e
5,3% para o referido ano. Em 2021, as exportações cresceram 36% respondendo positivamente ao
cenário de retomada da economia mundial (Qual a situação..., 2021).
Saiba mais
“Os dados do PIB em 2020 foram divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística) e o que era esperado pelo mercado foi confirmado: houve uma queda de 4,1% do PIB
(Produto Interno Bruto) brasileiro. Mas o que isso significa? Como impacta nossas vidas? O PIB
mede o crescimento econômico. Quando falamos em crescimento, é importante ter em mente
que estamos nos referindo à soma do que é produzido internamente em nosso país em termos
monetários. Desse modo, esse indicador reflete o tamanho da nossa economia” (Gondin, 2021).
Para continuar a ler, acesse o link a seguir:
GONDIN, P. R. PIB 2020: o que esperar da economia em 2021? Hoje em Dia, 6 mar. 2021.
Disponível em:
<https://www.hojeemdia.com.br/opini%C3%A3o/blogs/opini%C3%A3o-1.363900/pib-2020-o-que
-esperar-da-economia-em-2021-1.827386>. Acesso em: 7 dez. 2021.
Essa afirmação se confirma ao observarmos o gráfico apresentado a seguir, que ilustra a
variação real trimestral do PIB a preços de mercado sobre o mesmo trimestre do ano anterior.
Figura 1 – PIB a preços de mercado (variação real trimestral)
Observando o gráfico, é possível evidenciar períodos de crescimento acentuado do PIB, como
em 2009-2010, seguido por períodos de desaceleração, com ênfase no ano de 2020, quando o PIB
https://www.hojeemdia.com.br/opini%C3%A3o/blogs/opini%C3%A3o-1.363900/pib-2020-o-que-esperar-da-economia-em-2021-1.827386
alcançou o pior índice devido à crise ocasionada pela pandemia. Todavia, já no terceiro trimestre do
mesmo ano, verifica-se uma retomada do crescimento, seguido por uma ascensão expressiva no
ano de 2021.
Mas será que podemos afirmar que essa ascensão teve alcance em toda população ou, dito de
outro modo, que representou de fato uma retomada do desenvolvimento econômico? A resposta a
essa problemática encontraremos no tema a seguir.
TEMA 2 – CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO
Vimos até aqui que o crescimento econômico é condição fundamental para que um país tenha
capacidade de fornecer melhores condiçõesde vida para sua população no longo prazo. Mas será
que o crescimento produtivo por si só garante um alcance na população como um todo?
Esse alcance vai depender de outros elementos que formam o conceito de desenvolvimento
econômico, que, por sua vez, é mais amplo que o conceito de crescimento econômico, pois, quando
pensamos em desenvolvimento, “o importante não é apenas a magnitude da expansão da produção
representada pela evolução do PIB, mas também a natureza e a qualidade desse crescimento”
(Gremaud; Vasconcelos; Toneto Júnior, 2008, p. 58).
Em linhas gerais, quando se faz menção a um país ou uma região desenvolvida, leva-se em
conta as condições de vida da população, ou seja, a qualidade de vida dos residentes que habitam
naquele território. Nesse sentido, o desenvolvimento econômico envolve indicadores como
educação, saúde, renda, pobreza, entre outros:
Diferentemente da perspectiva do crescimento econômico, que vê o bem-estar de uma sociedade
apenas pelos recursos ou pela renda que ela pode gerar, a abordagem de desenvolvimento humano
procura olhar diretamente para as pessoas, suas oportunidades e capacidades. A renda é
importante, mas como um dos meios do desenvolvimento e não como seu fim. É uma mudança de
perspectiva: com o desenvolvimento humano, o foco é transferido do crescimento econômico, ou
da renda, para o ser humano (PNUD Brasil, 2021).
Atualmente, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é o mais explorado para realizar
comparações de desenvolvimento de diferentes economias e períodos. O IDH é uma medida
resumida do progresso a longo prazo em três dimensões básicas do desenvolvimento humano:
renda, educação e saúde.
O objetivo da criação do IDH foi o de oferecer um contraponto ao Produto Interno Bruto (PIB) per
capita, que considera apenas a dimensão econômica do desenvolvimento. Criado por Mahbub ul
Haq com a colaboração do economista indiano Amartya Sen, ganhador do Prêmio Nobel de
Economia de 1998, o IDH pretende ser uma medida geral e sintética que, apesar de ampliar a
perspectiva sobre o desenvolvimento humano, não abrange nem esgota todos os aspectos de
desenvolvimento (PNUD Brasil, 2021).
Saiba mais
É possível encontrar o IDH dos diferentes estados e municípios brasileiros no Atlas do
Desenvolvimento Humano no Brasil, no qual se retrata o desenvolvimento humano sustentável e
as desigualdades no Brasil, combinando dados de qualidade com formas amigáveis de
visualização. O Atlas Brasil é um site de consulta ao IDHM e a mais de 200 indicadores de
desenvolvimento humano dos municípios e estados brasileiros. Os indicadores são de
população, educação, habitação, saúde, trabalho, renda e vulnerabilidade, com dados extraídos
dos censos demográficos de 1991, 2000 e 2010.
Para conhecer a plataforma, basta acessar o link a seguir:
ATLAS BRASIL – Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil. Disponível em:
<http://www.atlasbrasil.org.br/>. Acesso em: 7 dez. 2021.
A tabela a seguir mostra o ranking para os diferentes estados brasileiros considerando o IDHM
(Índice de Desenvolvimento Humano dos Municípios) para o ano de 2017.
Tabela 1 – Ranking do IDHM dos estados brasileiros
Territorialidade Posição IDHM IDHM
Distrito Federal 1 0,85
São Paulo 2 0,826
Santa Catarina 3 0,808
Rio de Janeiro 4 0,796
Paraná 5 0,792
http://www.atlasbrasil.org.br/
Minas Gerais 6 0,787
Rio Grande do Sul 6 0,787
Mato Grosso 7 0,774
Espírito Santo 8 0,772
Goiás 9 0,769
Mato Grosso do Sul 10 0,766
Roraima 11 0,752
Tocantins 12 0,743
Amapá 13 0,74
Ceará 14 0,735
Amazonas 15 0,733
Rio Grande do Norte 16 0,731
Pernambuco 17 0,727
Rondônia 18 0,725
Paraíba 19 0,722
Acre 20 0,719
Bahia 21 0,714
Sergipe 22 0,702
Pará 23 0,698
Piauí 24 0,697
Maranhão 25 0,687
Alagoas 26 0,683
Fonte: Atlas Brasil, [S.d.].
Conforme demonstra a tabela, quanto mais próximo de 1 for o IDH, melhor tende a ser o
desenvolvimento socioeconômico do município, estado ou país. No Brasil, os estados que estão no
topo, apresentando os melhores indicadores, são: Distrito Federal, São Paulo, Santa Catarina, Rio de
Janeiro e Paraná. Na sequência, ainda ganham destaque Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Mato
Grosso, Espírito Santo e Goiás. Já os estados que apresentam um IDH menos expressivo se
encontram ao Norte e Nordeste do país: Alagoas, Maranhão, Piauí, Pará e Sergipe.
É importante salientar que, embora o IDH forneça um mapeamento acerca dos indicadores de
desenvolvimento e, portanto, nos leve a identificar cenários de maior desigualdade, não podemos
nos limitar a ele quando buscamos uma visão mais aprofundada acerca do desenvolvimento
socioeconômico.
Por ser um conceito amplo, o desenvolvimento socioeconômico em si possui várias
condicionantes que, ao longo da história, abriu um leque de interpretações. Por isso, na literatura
existem diferentes correntes teóricas acerca da noção de desenvolvimento, conforme veremos ao
longo desta aula e das demais aulas na presente disciplina.
TEMA 3 – CONDICIONANTES DO DESENVOLVIMENTO
SOCIOECONÔMICO
Quando falamos, debatemos ou planejamos estratégias em prol do desenvolvimento
socioeconômico, precisamos estar atentos a um conjunto de elementos que atuam como
condicionantes ou, dito de outro modo, que são pré-requisitos para que o crescimento econômico se
materialize de fato em desenvolvimento socioeconômico com melhoria das condições de vida da
população, abrangendo as diferentes áreas da sociedade, conforme ilustra a figura a seguir.
Figura 2 – Desenvolvimento humano
Fonte: Atlas Brasil, [S.d.].
Obviamente, seria uma incoerência desconsiderar a importância do crescimento econômico
quando o assunto é desenvolvimento. Em linhas gerais, podemos assumir que nem todo o
crescimento econômico se traduz em desenvolvimento. Contudo, um processo de desenvolvimento
socioeconômico precisa vir atrelado às políticas de crescimento.
Tal como demonstra a figura acima, educação, saúde, renda, emprego, habitação, seguridade,
cultura, meio ambiente, dentre outros elementos, constituem condicionantes centrais do
desenvolvimento segundo a Organização das Nações Unidas (ONU). Como desenvolver uma nação
sem investimento em educação, ciência e pesquisa? De tamanha importância também é a saúde
enquanto direito de acesso a recursos promovendo maior longevidade com qualidade de vida. No
âmbito da habitação, garantir à sociedade moradia digna, água e saneamento básico também são
vias essenciais.
Baseando-se no fundamental, a ONU elenca ainda a renda, a redução da desigualdade social,
acesso ao emprego atrelado ao crescimento econômico. E claro, o meio ambiente como pano de
fundo onde se vive e cujas condições devem propiciar qualidade de vida para todos.
Talvez você esteja se perguntando: é possível todas as nações serem desenvolvidas em sua
plenitude? Cada sociedade é capaz de traçar suas trajetórias segundo seus próprios valores? Ou os
países em desenvolvimento tendem a incorporar uma agenda de desenvolvimento seguida pelos
países já desenvolvidos?
Esses são questionamentos que abrem um leque de respostas. Todavia, uma consideração
simples que perpassa todas elas é: uma sociedade em desenvolvimento não pode negligenciar sua
história. Ou seja, é fundamental olhar para as bases materiais de cada país, que por sua vez têm
diferentes implicações nos seus diversos territórios (Wolfe, 1976).
Embora a ONU, desde os anos 1970, venha elencando condicionantes para o desenvolvimento,
como um guia a ser seguido mundialmente, na prática, sabemos que são grandes os desafios.
Infelizmente, muitos países não conseguiram incorporar esse conjunto de estratégias, voltando-se
apenas para o crescimento econômico. Isso porque os valores aqui apresentados, vinculados aos
direitos humanos, derivam de sociedades que já os tem.
Logo, a importância de reconhecermos isso é compreender que os países subdesenvolvidos, ou
em desenvolvimento, não tiveram as mesmas bases nos seus processos de industrialização, o que
torna desafiador a universalizaçãode todos os valores trazidos pela ONU.
É claro que termos um guia sobre aonde queremos chegar é condição fundamental para se
avançar. Por isso, foram apresentados aqui alguns condicionantes centrais, embora cada corrente de
pensamento traga diferentes argumentos acerca da noção de desenvolvimento, conforme veremos a
seguir.
TEMA 4 – DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO NA PERSPECTIVA
CLÁSSICA
Com uma análise crítica sobre o mercantilismo, no início do capitalismo industrial Adam Smith
(1723-1790) é considerado o pai da economia clássica, tendo como marco a obra A riqueza das
nações. Seus escritos guiaram estudos subsequentes como os de David Ricardo (1772-1823), Jean-
Baptiste Say (1767-1832), Thomas Malthus (1766-1834) e John Stuart Mill (1806-1873).
Mas o que esses pensadores tinham em comum? Por que a escola clássica foi tão influente e
até hoje é citada quando falamos sobre economia?
Na prática, podemos dizer que a obra A riquezas das nações de Smith inspirou os demais
autores. Em linhas gerais, a obra ressalta que todo indivíduo busca maximizar seu interesse próprio,
e que, diante disso, o mercado precisa ser livre, visto que a competição estimula o progresso técnico
e amplia a economia.
Essa defesa do livre comércio não surgiu aleatoriamente, mas veio em meio ao Iluminismo
(século XVII e XVIII), movimento filosófico que apresentou as bases de uma nova sociedade e que
defendia que burguesia deveria se liberar de ideias absolutistas propagadas pelo mercantilismo.
Associados ao mercantilismo estavam os altos impostos, a intervenção do clero e do Estado nas
relações de mercado.
Um importante acontecimento histórico que vale ser lembrado é a Revolução Francesa (1789),
com o ideário “liberdade, igualdade e fraternidade”, que marcou o fim do absolutismo no país e teve
influência mundial.
Figura 3 – Ideário da Revolução Francesa
Créditos: Anderphoto/Shutterstock.
É em meio a esse contexto político e ideológico que a escola clássica se desenvolve, pautada
no princípio do laissez faire, expressão francesa que se compõe de laisser (“deixar”) e faire (“fazer”).
Nessa perspectiva, não se vê contradição entre a acumulação ilimitada de riqueza e a coesão social,
pois presume-se que:
Os indivíduos são impulsionados pelo desejo de melhorar sua condição e o aumento de seus
bens;
Cada indivíduo agindo em seu próprio interesse (econômico) maximiza o bem-estar coletivo;
Ao Estado cabe o papel de fornecer a base legal para o livre mercado a fim de maximizar os
benefícios aos homens.
Em suma, a escola clássica defende que a não intervenção do Estado na economia é condição
básica para o desenvolvimento econômico. Com o passar dos anos, essa tese perde força, mas
posteriormente é retomada na perspectiva neoclássica, conforme veremos a seguir. 
TEMA 5 – DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO NA PERSPECTIVA
NEOCLÁSSICA
Quando analisamos a história do pensamento econômico em uma trajetória histórica, fica mais
fácil compreender as diferentes concepções de desenvolvimento que emergem ao longo de cada
escola. A fim de ampliar essa compreensão, o esquema seguir ilustra as principais linhas de
pensamento entre os séculos XVIII e XX.
Figura 4 – História do pensamento econômico
Fonte: Bitencourt, 2021.
Na prática, o que esse esquema nos revela? Que cada corrente de pensamento emerge como
um contraponto à teoria que predominara anteriormente. O pensamento de Karl Marx, por exemplo,
que ganhou força no século XX, diferente do liberalismo clássico, demonstrou que a acumulação
ilimitada de riqueza não iria convergir para a coesão social. A abordagem marxista pressupõe que,
com o passar do tempo, as forças produtivas tendem a entrar em conflito com as relações de
produção, ocasionando uma luta de classes. Ou seja, não existe desenvolvimento associado à
acumulação ilimitada de riqueza.
Divergindo da vertente marxista, os pressupostos da escola clássica são resgatados nos
séculos XIX e XX na tentativa de reformular o liberalismo sob a nomenclatura de escola neoclássica.
No final do século XIX, a revolução marginalista levou à ascensão da escola neoclássica como a
nova corrente dominante. Houve ruptura com a economia política clássica do ponto de vista da
teoria dos preços relativos e da distribuição de renda. A visão neoclássica sobre o funcionamento
do mecanismo de mercado é caracterizada pela noção de escassez e pelo princípio da
substituição. Esta visão encontra sua expressão analítica no modelo neoclássico de equilíbrio
geral competitivo. (Freitas, 2015, p. 12)
Também denominada teoria marginalista, essa escola se baseia numa perspectiva individualista,
pautada na racionalidade e no equilíbrio de mercado. O precursor dessa corrente de pensamento foi
Alfred Marshall (1842-1924), por meio da publicação Princípios de economia. Nessa teoria, o
mercado deve ser livre a fim de que oferta e demanda encontrem o preço de equilíbrio que satisfaça
a todos, maximizando, assim, o interesse de cada agente econômico, conforme demonstra o gráfico
seguir.
Figura 5 – Equilíbrio de mercado
Crédito: Bitencourt, 2021.
O equilíbrio de mercado ocorre quando a quantidade do bem ou serviço que os consumidores
desejam e podem adquirir é exatamente igual à quantidade que os vendedores desejam e podem
vender. Assim, observando o gráfico, é possível interpretar que o equilíbrio de mercado ocorre
quando o preço do bem ou serviço se iguala a R$ 30,00 dado uma quantidade de 150 unidades. Em
suma, esse é o preço que iguala oferta e demanda, maximizando a satisfação de cada indivíduo.
A escola neoclássica resgata ainda a Lei de Say, corroborando a perspectiva clássica de que a
oferta cria sua própria demanda. Com base nesse postulado, as forças de mercado, atuando
livremente, promovem o pleno emprego no ponto em que se igualam a oferta e a procura de mão de
obra.
Nessa perspectiva, uma política pública de fixação de um salário-mínimo, por exemplo, não seria
coerente, visto que o livre mercado pressupõe flexibilidade salarial. Logo, a escola neoclássica
pressupõe a existência de um equilíbrio geral na economia que flui quando o Estado não intervém
nas relações de mercado.
Vale ressaltar que a teoria neoclássica é muito utilizada nos estudos de microeconomia, a fim
de compreender as relações individuais presentes na teoria do consumidor, teoria da firma,
estruturas de mercado, formação de preços, dentre outros. No entanto, uma limitação dessa teoria é
não avançar no debate sobre o conceito de desenvolvimento econômico, pois a noção de equilíbrio
pressupõe um crescimento, mas não vai além a fim de apresentar os condicionantes do
desenvolvimento.
TROCANDO IDEIAS
Estamos finalizando nossa aula e um assunto de extrema relevância que devemos aprofundar é
o conceito de desenvolvimento socioeconômico. Conforme vimos, a ONU pressupõe alguns
condicionantes básicos do desenvolvimento.
Convidamos você a acessar o site do Atlas Brasil para compreender melhor os elementos que
perpassam o desenvolvimento humano como parte do processo de desenvolvimento
socioeconômico:
Você sabe o que é? AtlasBR, [S.d.]. Disponível em: <http://www.atlasbrasil.org.br/acervo/atlas>.
Acesso em: 7 dez. 2021.
http://www.atlasbrasil.org.br/acervo/atlas
De acordo com essa pesquisa, responda: você acredita que o Brasil tem um bom desempenho
com base nos critérios que compõem o Índice de Desenvolvimento Humano?
NA PRÁTICA
Dentre os conteúdos que vimos nesta aula, vamos focar agora nas diferenças pontuais entre as
concepções de crescimento e desenvolvimento econômico. Assim, convidamos você a responder às
perguntas a seguir. O gabarito pode ser encontrado ao final deste material, após as referências.
1. O Produto Interno Bruto (PIB) é um indicador adequado para mensurarmos o desenvolvimento
econômico de um município, estado ou país?
2. Descreva cinco condicionantes do desenvolvimento socioeconômico.
FINALIZANDO
Ao longo desta aula, certamente você pôde aprofundar sua compreensão sobre a diferença
crucial queexiste entre crescimento e desenvolvimento econômico, entendendo agora que ambos
se distinguem em vários aspectos, os quais, como vimos, se traduzem inclusive nos condicionantes
do desenvolvimento socioeconômico.
Na prática, você pôde perceber que crescimento econômico não necessariamente se
materializa em desenvolvimento, embora o crescimento seja uma condição fundamental para a
ampliação quantitativa da produção, ou seja, de bens que atendam às necessidades humanas. Mais
que um indicador quantitativo, o desenvolvimento pressupõe o bem-estar em diversas instâncias, o
que requer políticas públicas que de fato promovam o crescimento em desenvolvimento
socioeconômico.
Dando sequência às interpretações sobre a esfera econômica, abordamos os princípios das
escolas clássica e neoclássica, compreendendo seus posicionamentos teóricos científicos em meio
à trajetória histórica na qual se desenvolveram essas teorias
REFERÊNCIAS
ABEL, A. B.; BERNAKE, B. S.; CROUSHORE, D. Macroeconomia. 6. ed. São Paulo: Pearson, 2008.
ATLAS BR. Você sabe o que é? Atlas BR, S.d. Disponível em:
<http://www.atlasbrasil.org.br/acervo/atlas>. Acesso em: 7 dez. 2021.
FREITAS, F. N. P. Macroeconomia neoclássica. In: CRE – Conselho Regional de Economia.
Escolas da Macroeconomia. Conselho Regional de Economia, Rio de Janeiro: Albatroz, 2015.
Disponível em: <http://www.corecon-rj.org.br/anexos/BF8BCE7477FD53C5B1120EA976F87D2B.pdf>
Acesso em: 7 dez. 2021.
GONDIN, P. R. PIB 2020: o que esperar da economia em 2021? Hoje em Dia, 6 mar. 2021.
Disponível em: <https://www.hojeemdia.com.br/opini%C3%A3o/blogs/opini%C3%A3o-1.363900/pib-
2020-o-que-esperar-da-economia-em-2021-1.827386>. Acesso em: 7 dez. 2021.
GREMAUD, A.P.; VASCONCELLOS, M.A.S.; TONETO JÚNIOR, R. Economia Brasileira
Contemporânea. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2011.
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. SCNT – Sistema de Contas Nacionais
Trimestrais. IBGE, S.d. Disponível em:
<https://www.ibge.gov.br/estatisticas/economicas/industria/9300-contas-nacionais-
trimestrais.html?=&t=o-que-e>. Acesso em: 7 dez. 2021.
IPEA. Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Disponível em: <www.ipeadata.gov.br>. Acesso
em 7 dez. 2021.
PNUD – PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO. Atlas do
Desenvolvimento Humano no Brasil, 2021. Disponível em: http://www.atlasbrasil.org.br/. Acesso em:
20 out. 2020
QUAL A SITUAÇÃO atual da economia brasileira? Portal da Indústria, S.d. Disponível em:
<http://www.portaldaindustria.com.br/industria-de-a-z/economia/>. Acesso em: 7 dez. 2021.
SASSE, C. Recordista em desigualdade, país estuda alternativas para ajudar os mais pobres.
Agência Senado, 12 mar. 2021. Disponível em:
<https://www12.senado.leg.br/noticias/infomaterias/2021/03/recordista-em-desigualdade-pais-
estuda-alternativas-para-ajudar-os-mais-pobres>. Acesso em: 7 dez. 2021.
WOLFE, M. Abordagens do desenvolvimento: de quem e para quê?. In: BIELSCHOWSKY, R.
Cinquenta anos de CEPAL. Rio de Janeiro: Cofecon/Cepal, 1976. v. 2.
GABARITO
1. Não, o PIB é considerado um indicador quantitativo para mensurar o crescimento econômico,
no entanto, não fornece uma base sólida para mensurarmos o desenvolvimento, pois essa
interpretação abrange outras variáveis. Nesse caso, o mais adequado é Índice de
Desenvolvimento Humano (IDH) associado a outros indicadores socioeconômicos.
2. Para além do crescimento econômico, são considerados condicionantes do desenvolvimento
um bom desempenho em: educação, saúde, renda, emprego, habitação, meio ambiente, dentre
outros elementos.

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