Buscar

Controle Social e Igreja Católica no Brasil Colonial

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 306 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 306 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 306 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

UUNNIIVVEERRSSIIDDAADDEE EESSTTAADDUUAALL PPAAUULLIISSTTAA 
““JJÚÚLLIIOO DDEE MMEESSQQUUIITTAA FFIILLHHOO”” 
FACULDADE DE HISTÓRIA, DIREITO E SERVIÇO SOCIAL 
 
 
 
 
 
 
JOSÉ LUIZ DE CASTRO 
 
 
 
 
 
 
TTRRAANNSSGGRREESSSSÃÃOO,, CCOONNTTRROOLLEE SSOOCCIIAALL EE IIGGRREEJJAA CCAATTÓÓLLIICCAA NNOO 
BBRRAASSIILL CCOOLLOONNIIAALL:: GOIÁS, SÉCULO XVIII 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FRANCA 
2009 
JOSÉ LUIZ DE CASTRO 
 
 
 
 
 
 
 
 
TTRRAANNSSGGRREESSSSÃÃOO,, CCOONNTTRROOLLEE SSOOCCIIAALL EE IIGGRREEJJAA CCAATTÓÓLLIICCAA NNOO 
BBRRAASSIILL CCOOLLOONNIIAALL:: GOIÁS, SÉCULO XVIII 
 
 
 
Tese apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em História, da Faculdade de 
História, Direito e Serviço Social, da 
Universidade Estadual Paulista “Júlio de 
Mesquita Filho”, como requisito para a 
obtenção do Título de Doutor em História. 
Área de Concentração: História e Cultura. 
Linha de Pesquisa: História e Cultura 
Social. 
 
ORIENTADORA: 
Profª. Drª. Dora Isabel Paiva da Costa 
 
 
 
 
 
 
 
 
FRANCA 
2009 
 
 
 
 
 
 
Castro, José Luiz de 
 Transgressão, controle social e Igreja Católica no Brasil 
colonial: Goiás, século XVIII / José Luiz de Castro. – Franca: 
UNESP, 2009 
 
 Tese – Doutorado – História – Faculdade de História, 
Direito e Serviço Social – UNESP 
 
 1. Igreja Católica – História social – Brasil colonial. 
2. Família – Sexualidade – História – Brasil. 3. Goiás – Migra-
ção – História, séc. 18. 
 
CDD – 981.73 
JOSÉ LUIZ DE CASTRO 
 
 
 
 
 
TTRRAANNSSGGRREESSSSÃÃOO,, CCOONNTTRROOLLEE SSOOCCIIAALL EE IIGGRREEJJAA CCAATTÓÓLLIICCAA NNOO 
BBRRAASSIILL CCOOLLOONNIIAALL:: GOIÁS, SÉCULO XVIII 
 
 
 
Tese apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em História, da Faculdade de 
História, Direito e Serviço Social, da 
Universidade Estadual Paulista “Júlio de 
Mesquita Filho”, como requisito para a 
obtenção do Título de Doutor em História. 
 
BANCA EXAMINADORA: 
 
Presidente: ________________________________ 
Profa. Dra. DORA ISABEL PAIVA DA COSTA 
1°Examinador: _____________________________ 
Profa. Dra. ARILDA INÊS MIRANDA RIBEIRO 
2°Examinador: _____________________________ 
Prof. Dr. PAULO EDUARDO TEIXEIRA 
3°Examinador: _____________________________ 
Prof. Dr. LÉLIO LUIZ DE OLIVEIRA 
4°Examinador: _____________________________ 
Prof. Dr. IVAN APARECIDO MANOEL 
 
FRANCA, 02 DE SETEMBRO DE 2009 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
À minha família, meu pai João Nepomuceno de 
Castro, minha mãe Maria Josselina e meus irmãos. 
AAGGRRAADDEECCIIMMEENNTTOOSS 
 
 
Nossos agradecimentos se dirigem, em primeiro lugar, à professora Dra. Dora Isabel 
Paiva da Costa, a quem devo a amizade, o incentivo e a orientação deste trabalho; às 
professoras Dras. Ida LewKowicz e Denise Aparecida Soares de Moura,que, por 
ocasião do Exame de qualificação, muito contribuíram para o enriquecimento desta 
pesquisa. 
Agradecemos ao CNPq, que durante os anos de 2005 a 2008 nos forneceu uma bolsa, 
possibilitando o custeio de viagem, alimentação, hospedagem e aquisição de 
equipamentos e materiais para a pesquisa. 
Somos especialmente gratos a Dom Eugênio Rixen, bispo da diocese de Santa Ana de 
Goiás, que permitiu a consulta dos registros de batismo de escravos e livres, 
existentes no arquivo geral da cúria diocesana. Esta consulta foi de vital importância 
para o estudo das crianças ilegítimas da paróquia de Vila Boa. Agradecemos 
também a atenção que sempre nos dispensaram todos os funcionários daquele 
arquivo, em especial Odicéia e Lurdinha. 
Nossa gratidão se estende a Antônio César Caldas Pinheiro, diretor do Instituto de 
Pesquisas e Estudos Históricos do Brasil Central (IPEHBC), pelas ricas orientações 
para o manuseio das técnicas em paleografia, bem como por sua gentileza em dispor 
e sugerir os manuscritos do século XVIII. Também agradecemos aos funcionários do 
IPEHBC, Janira Sodré Miranda, Fabiana de Moraes Bueno e Euzébio Fernandes de 
Carvalho, que sempre nos acolheram com muita alegria e estima ao longo destes 
anos. Agradecemos ainda à Profa. Lourdes, diretora do arquivo histórico de Goiás. 
Somos gratos também aos amigos portugueses que não mediram esforços para nos 
acolher nas cidades de Lisboa e Porto, onde pudemos desfrutar dos preciosos 
documentos do arquivo da Torre do Tombo, da Biblioteca Nacional e do arquivo 
Ultramarino. Queremos mencionar aqui Antônio de Deus Reis e família; Pedrosa, 
Célia, Vital, Liliane e Valdemar. 
Não poderíamos deixar de agradecer ao bispo de Itumbiara, Dom Antonio Lino da 
Silva Dinis, que nos incentivou a pesquisar no arquivo da Torre de Tombo em Lisboa 
e nos permitiu ausentar dos ofícios eclesiásticos para prosseguirmos os estudos. 
Agradecemos também a atenção, a paciência e a compreensão que sempre nos 
dispensaram os fiéis da paróquia Cristo Rei (Itumbiara-GO). Somos gratos as 
funcionárias: Delma Aparecida de Campos Damaso, Maria Aparecida Vitaliano de 
Oliveira e Francisca Rodrigues da Costa. Queremos também manifestar a nossa 
gratidão ao casal José Carlos de Almeida e Vanda Maria pela gentileza com que 
colocaram a casa de Caldas Novas à nossa disposição. 
Agrademos ainda à professora Dra. Maria da Conceição Silva (UFG) e ao Prof. padre 
Luiz Lobo (UCG), com os quais sempre compartilhei as vitórias e os desafios que 
surgiram na difícil arte de pesquisar. O mesmo vale para Francisco Pascoal Neto que 
não mediu esforços para colocar seus conhecimentos de Informática a serviço desta 
pesquisa. Também ao professor Geraldo Faria Campos (UFG) nosso agradecimento 
pela revisão ortográfica desta tese. 
Foram muitas pessoas que, de forma direta ou indireta, contribuíram para que esta 
tese chegasse ao fim: à coordenação de pós-gradução de História da UNESP, na 
pessoa da professora Dra. Marisa Saenz Leme pelo dinamismo com que vem 
prestando seus serviços à comunidade. Na seção de pós-graduação e na biblioteca, 
agradecemos a Maisa Helena, Luzinete Suavino, Laura e Frederico. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Recato, humildade e continência eram exigidos da mulher com 
mais rigor na sociedade patriarcalista, mas essas virtudes 
cobrava-as de todos a igreja. Tais normas de conduta eram 
infrigidas pelos homens, contra os códigos da igreja e do 
estado, pelas mulheres, não só contra estes mas ainda contra o 
código de honra masculino, férreo embora não escrito. A 
infração, no seu caso, chocava mais. Ao fim e ao cabo todo 
mundo transgredia, pecava, desobedecia, violava grande 
número de normas. E muito mais. 
 
Emaneuel Araújo (1997) 
RREESSUUMMOO 
 
 
Transgressão, Controle Social e Igreja Católica no Brasil Colonial: Goiás século 
XVIII. A pesquisa aborda alguns aspectos da vida familiar, utilizando a metodologia 
da demografia histórica na análise dos registros de batismos e casamentos das 
principais paróquias da Capitania. Além destas fontes há uma variada 
documentação de processos de inquisição do Arquivo da torre do Tombo e do 
Arquivo Ultramarino de Lisboa: processos de bigamia, solicitação em confissão, 
ofícios e pedidos de legitimação de filhos naturais. Estas fontes refletem o cotidiano 
de uma população que chegou aos sertões de Goiás motivada pelas descobertas do 
ouro e de outras riquezas minerais nos primórdios do século XVIII. Neste contexto, 
chegaram também os agentes da Igreja Católica, sob o comando do bispado do Rio 
de Janeiro, para disseminar, em Goiás, as resoluções do Concílio de Trento. Apesar 
da aliança da Igreja e da Coroa, por meio do padroado, houve várias infrações 
contra a instituição familiar, cometidas, inclusive, por alguns elementos do clero que 
deviam prover os seus fregueses com o “pasto espiritual”. Neste sentido, as 
visitações diocesanas e os agentes do Santo Ofício investigaram os recantos de 
Goiás para “desterrar os vícios e combater as heresias”. Nas devassas eclesiásticas 
o concubinato foi o pecado que teve maior destaqueentre os principais delitos 
cometidos pela população. No entanto, o livro das “denúncias e o rol dos culpados” 
aponta várias transgressões cometidas por brasileiros e estrangeiros nas freguesias 
de Goiás: morte e violência, incesto, usura, bigamia, solicitação de penitentes no 
confessionário, aborto, sacrilégio etc. Por outro lado, as atas de batismo e 
casamento indicam importantes vestígios dos relacionamentos ilícitos que foram 
praticados até mesmo nos recintos das igrejas. Os filhos naturais e as crianças 
abandonadas nos becos e ruas da paróquia de Santa Ana (Vila Boa) refletem as 
contradições de uma sociedade, baseada na escravidão africana. Neste sentido, as 
fontes batismais, cujo objetivo era conduzir o fiel a uma nova vida foram muitas 
vezes utilizadas para encobrir os pecados cometidos pelos compadres e suas 
comadres. 
 
 
Palavra chave: Igreja católica no Brasil; vida familiar no século XVIII; transgressão e 
sexualidade; inquisição; relações de compadrio. 
AABBSSTTRRAACCTT 
 
Transgression, Social Control and the Catholic Church in Colonial Brazil: Goiás 
century. The research addresses some aspects of family life, using the methodology 
of historical demography in the analysis of records of baptisms and marriages of the 
major parishes of the captaincy. In addition to these sources there is a varied 
documentation of processes of inquiry of the Archives of Torre do Tombo and File 
Overseas Lisbon: cases of bigamy, solicitation in confession, letters and forms of 
legitimation of illegitimate children. These sources reflect the daily life of a population 
that reached the hinterlands of Goiás motivated by the discoveries of gold and other 
mineral wealth in the early eighteenth century. In this context, the agents also came 
from the Catholic Church, under the command of the bishop of Rio de Janeiro, to 
spread in Rio de Janeiro, the resolutions of the Council of Trent. Despite the alliance 
of Church and Crown, through patronage, there were several offenses against the 
family institution, committed, even by some members of the clergy who should 
provide their customers with the "spiritual pastures. In this sense, the diocesan 
visitations and agents of the Holy Office investigated the corners of Goias to "banish 
the vices and combat heresies. In ecclesiastical inquiries, concubinage was the sin 
that was more prominent among the major crimes committed by the population. 
However, the book of "complaints and the role of the guilty" points out several 
transgressions committed by Brazilians and foreigners in towns in the United States: 
death and violence, incest, usury, bigamy, solicitation of penitents in the 
confessional, abortion, etc. sacrilege. Moreover, the minutes of baptism and marriage 
indicate significant traces of illicit relationships that have been practiced even in the 
precincts of the church. The natural children and abandoned children in alleys and 
streets of the parish of Santa Ana (Vila Boa) reflect the contradictions of a society 
based on African slavery. In this sense, the baptismal fonts, whose goal was to lead 
the faithful to a new life were often used to cover up the sins committed by their 
cronies and gossips. 
 
 
Keyword: Catholic Church in Brazil; family life in the eighteenth century; 
transgression and sexuality; inquisition; relations cronyism. 
RRÉÉSSUUMMÉÉ 
 
Transgression, contrôle social et de l'Église catholique dans Colonial Brazil: Goiás 
siècle. Les recherches porteront sur certains aspects de la vie familiale, en utilisant la 
méthodologie de la démographie historique dans l'analyse des registres de 
baptêmes et mariages des grandes paroisses de la capitainerie. En plus de ces 
sources, il existe une documentation variée des processus de l'enquête des Archives 
publiques de Torre do Tombo et les cas de dossier d'outre-mer de Lisbonne: la 
bigamie, la sollicitation en confession, des lettres et des formes de légitimation des 
enfants illégitimes. Ces sources reflètent la vie quotidienne d'une population qui 
atteint l'arrière-pays de Goiás motivés par les découvertes d'or et autres richesses 
minérales dans le début du XVIIIe siècle. Dans ce contexte, ont aussi atteint les 
agents de l'Église catholique, sous le commandement de l'évêque de Rio de Janeiro, 
pour diffuser, à Goiás, les résolutions du Conseil de Trente. En dépit de l'alliance de 
l'Église et la Couronne, par favoritisme, il y avait plusieurs infractions contre 
l'institution familiale, commis, même par certains membres du clergé qu'ils doivent 
fournir à leurs clients avec les «pâturages spirituelle. En ce sens, les visites 
diocésaines et agents du Saint-Office enquêté sur les coins de Goiás pour "bannir 
les vices et les hérésies de combat. Dans les enquêtes ecclésiastiques, le 
concubinage était le péché qui était plus importante parmi les crimes les plus graves 
commis par la population. Cependant, le livre des «plaintes et le rôle du« coupable 
souligne plusieurs transgressions commises par des Brésiliens et des étrangers dans 
les villes aux États-Unis: la mort et la violence, l'inceste, l'usure, la bigamie, la 
sollicitation de pénitents dans le confessionnal, l'avortement, etc sacrilège. En outre, 
le procès-verbal du baptême et de mariage indiquent d'importantes traces de 
relations illicites qui ont été pratiquées dans l'enceinte même de l'église. Les enfants 
naturels et les enfants abandonnés dans les ruelles et les rues de la paroisse de 
Santa Ana (Vila Boa) reflètent les contradictions d'une société fondée sur l'esclavage 
africain. En ce sens, les fonts baptismaux, dont l'objectif était de conduire les fidèles 
à une nouvelle vie ont souvent été utilisés pour couvrir les fautes commises par leurs 
compères et commères. 
 
Mot-clé: Eglise catholique au Brésil, la vie familiale, au XVIIIe siècle, la transgression 
et la sexualité, l'inquisition, les relations de copinage 
 
LLIISSTTAA DDEE TTAABBEELLAASS EE QQUUAADDRROOSS 
 
 
Tabela 1 - Origem geográfica das testemunhas ............................................................... 23 
Tabela 2: Origem das testemunhas .................................................................................... 28 
Tabela 3 - Descrição dos réus ............................................................................................. 29 
Tabela 4 - Procedência de escravos adultos .................................................................... 48 
Tabela 5 - Tabela dos Delatores ....................................................................................... 114 
Tabela 6 - Casamentos de Teodósio Pereira de Negreiros .......................................... 139 
Tabela 7 - Local dos casamentos ...................................................................................... 160 
Tabela 8 - População de Meia Ponte ................................................................................ 167 
Tabela 9 - Freqüência de casamentos ............................................................................. 169 
Tabela 10 - Condição dos noivos ...................................................................................... 173 
Tabela 11 - Condição dos inocentes batizados .............................................................. 188 
Tabela 12 - Batismo de inocentes por condição e ano .................................................. 193 
Tabela 13 - Batismo por idade e sexo .............................................................................. 194 
Tabela 14 - Procedência das mães escravas ................................................................. 240 
Tabela 15 - Local dos batizados ........................................................................................ 242 
Tabela 16 - Batizados de inocentes por condição e sexo ............................................. 246 
Tabela 17 - Perfil social dos padrinhos de escravos (inocentes) ................................. 250 
Tabela 18 - Alforrias na pia batismal ................................................................................256 
Tabela 19 - População adulta de Vila Boa de Goiás ...................................................... 258 
Tabela 20 - Perfil social dos padrinhos ............................................................................ 267 
 
Quadro 1: Quadro tipológico de amancebados ......................................................234 
 
 
LLIISSTTAA DDEE AABBRREEVVIIAATTUURRAASS 
 
 
AGDG - Arquivo Geral da Diocese de Santa Ana de Goiás 
AFSD - Arquivo Frei Simão Dorvi 
AHEG - Arquivo Histórico Estadual de Goiás 
AHU - Arquivo Histórico Ultramarino 
IAN/TT – Instituto dos Arquivos Nacionais da Torre do Tombo 
BNL - Biblioteca Nacional de Lisboa 
IPEHBC – Instituto de Pesquisas e Estudos Históricos do Brasil Central 
 
 
SUMÁRIO 
 
IINNTTRROODDUUÇÇÃÃOO ........................................................................................................... 12 
CCAAPPÍÍTTUULLOO 11:: MMIIGGRRAAÇÇÃÃOO EE FFAAMMÍÍLLIIAA ........................................................................... 19 
1.1. A MIGRAÇÃO NOS SERTÕES DE GOIÁS ........................................................................ 19 
1.1.1. ASPECTOS GERAIS DA POPULAÇÃO .......................................................................... 19 
1.1.2. A MIGRAÇÃO DOS PAULISTAS ..................................................................................... 32 
1.1.3. A EMIGRAÇÃO PORTUGUESA ...................................................................................... 37 
1.1.4. A MIGRAÇÃO DOS AFRICANOS .................................................................................. 44 
1.2. PRESENÇA DA IGREJA CATÓLICA EM GOIÁS ................................................................. 49 
1.2.1. O DISCURSO MORAL DO BISPADO DO RIO DE JANEIRO EM GOIÁS ............................ 53 
1.2.2. VISITADORES DIOCESANOS: “DESTERRAR OS VÍCIOS E CORRIGIR OS ABUSOS” ....... 64 
1.2.3. VIGÁRIO DA VARA E A JUSTIÇA ECLESIÁSTICA ........................................................... 74 
CCAAPPÍÍTTUULLOO 22:: OO CCOOMMPPOORRTTAAMMEENNTTOO MMOORRAALL DDAA PPOOPPUULLAAÇÇÃÃOO ........................................ 84 
2.1. MORTES E VIOLÊNCIA ................................................................................................... 84 
2.2. UM CASO DE USURA ...................................................................................................... 88 
2.3. A PROSTITUIÇÃO ........................................................................................................... 92 
2.4. OS PECADOS DO CLERO ............................................................................................... 99 
CCAAPPÍÍTTUULLOO 33:: SSEEXXUUAALLIIDDAADDEE EE TTRRAANNSSGGRREESSSSÃÃOO ......................................................... 110 
3.1. SOLICITAÇÃO NA FREGUESIA DE SANTA CRUZ ........................................................... 110 
3.2. BIGAMIA NAS MINAS NOVAS DOS GOYAZES: UM ESTUDO SOBRE THEODÓSIO PEREIRA 
DE NEGREIROS .................................................................................................................... 131 
CCAAPPÍÍTTUULLOO 44:: AA PPOOLLÍÍTTIICCAA PPOORRTTUUGGUUEESSAA EE AASS CCOONNDDIIÇÇÕÕEESS DDOO PPOOVVOOAAMMEENNTTOO .............. 143 
4.1. AS MULHERES DA TERRA: ESCRAVIDÃO E MANCEBIA .................................................. 143 
4.1.2. A MULHER DA TERRA NA VISÃO DOS VIAJANTES ..................................................... 147 
4.2. O CASAMENTO DE ESCRAVOS E LIVRES ...................................................................... 156 
4.2.1 LOCAIS E HORAS DAS CELEBRAÇÕES MATRIMONIAIS ............................................... 158 
4.2.2. A ORIGEM GEOGRÁFICA DOS NUBENTES ................................................................. 165 
4.2.3. O CALENDÁRIO ANUAL DAS CELEBRAÇÕES.............................................................. 170 
4.2.4. OS CASAMENTOS DE ESCRAVOS E CASAMENTOS MISTOS....................................... 173 
 
CCAAPPÍÍTTUULLOO 55:: OO CCOONNCCUUBBIINNAATTOO ............................................................................... 180 
5.1. OS SIGNIFICADOS DA PALAVRA CONCUBINATO ........................................................... 180 
5.2. ILEGÍTIMOS E EXPOSTOS: O RASTRO DO CONCUBINATO ............................................ 183 
5.2.1. A ILEGITIMIDADE NA POPULAÇÃO LIVRE ................................................................... 187 
5.2.2. A ILEGITIMIDADE NA POPULAÇÃO ESCRAVA ............................................................. 192 
5.3. ESTAR E ANDAR AMANCEBADO .................................................................................. 199 
5.3.1. O CONCUBINATO ADULTERINO ................................................................................. 210 
5.3.2. ALCOVITEIRISMO E CONCUBINATO INCESTUOSO ..................................................... 214 
5.4. VIVENDO COMO CASADOS ........................................................................................... 220 
CCAAPPÍÍTTUULLOO 66:: BBAATTIISSMMOO EE CCOOMMPPAADDRRIIOO ...................................................................... 236 
6.1. O SACRAMENTO DO BATISMO ..................................................................................... 236 
6.2. COMPADRIO NA POPULAÇÃO ESCRAVA ....................................................................... 247 
6.2.1. AS ALFORRIAS NA PIA BATISMAL............................................................................. 256 
6.2.2. OS ESCRAVOS ADULTOS ......................................................................................... 265 
CCOONNSSIIDDEERRAAÇÇÕÕEESS FFIINNAAIISS ........................................................................................ 270 
REFERÊNCIAS......................................................................................................... 279 
IINNTTRROODDUUÇÇÃÃOO 
 
 
Esta tese é resultado de uma pesquisa que se iniciou em 1998, quando 
se concluía esta dissertação de mestrado na Universidade Federal de Goiânia. Na 
análise de alguns registros eclesiásticos do século XVIII, arquivados no Instituto de 
Pesquisas e Estudos Históricos do Brasil Central (IPEHBC), três tipos de 
documentos despertaram atenção: os editais das visitações diocesanas, o livro de 
registro das denúncias e o rol dos culpados. Percebeu-se que eles continham 
informações valiosas sobre os vários tipos de família, que se configuraram na 
Capitania de Goiás com a “descoberta” da mineração. Esta documentação 
apresentava os traços nítidos dos crimes que ocorreram contra a instituição da 
família: concubinato, bigamia, incesto, aborto, solicitação em confissão, prostituição, 
casais que viviam apartados sem justa causa, usura e alcoviteirice. E, além disso, 
poucos pesquisadores se aventuraram a investigá-los. 
A coleta da documentação demandou algum tempo de trabalho que 
requereu meses no arquivo do IPEHBC e outros locais, que guardam preciosas 
fontes sobre a história de Goiás. Entre estes, mencionam-se o Arquivo Histórico 
Estadual de Goiás (AHEG), o Arquivo Geral da Diocese de Santa Ana de Goiás 
(AGDG), o Instituto dos Arquivos Nacionais da Torre do Tombo (IAN/TT), em Lisboa, 
o Arquivo Histórico Ultramarino (AHU) e a Biblioteca Nacional de Lisboa (BNL). Na 
sede da antiga freguesia de Santa Ana (Vila Boa), fixou-se residência por alguns 
meses para fazer a compilação das atas de batismo de escravos e livres. Além 
desta documentação, trabalhou-se com os assentos de casamento da paróquia 
Nossa Senhora do Rosário de Pirenópolis, cartas pastorais dos bispos do Rio de 
Janeiro, editais dos vigários das varas eclesiásticas, ofícios e requerimentos dos 
governadores da capitania às autoridades portuguesas, livros de devassas, pedidos 
de legitimação de filhos naturais e outros. A pesquisa com este escopo documental 
fez-se de suma importância paraa proposta inicial, cuja temática versava sobre o 
Concubinato na Capitania de Goiás (1726 a 1824). Apesar do esforço da Igreja em 
colocar em prática as resoluções do Concílio de Trento, principalmente, no que 
INTRODUÇÃO 13
tange ao casamento monogâmico, o concubinato caminhava do lado oposto às 
aspirações eclesiásticas. 
Mas o desenvolver da pesquisa e o contato com outras fontes permitiram 
visualizar melhor o comportamento da população goiana e a atuação da Igreja 
Católica durante os setecentos. Percebeu-se que, apesar dos esforços da Igreja na 
tentativa de implantar seus ideais morais nos vilarejos, houve muitas transgressões 
de conduta por parte da população e do clero. Neste contexto, a proposta inicial em 
pesquisar o concubinato restringia muito o leque das investigações. Ao encaminhar 
alguns fragmentos da tese para ser analisada pela nossa orientadora, a doutora 
Dora Paiva da Costa, esta sugeriu uma nova temática que abarcasse melhor as 
principais questões até então investigadas. Assim nasceu a temática sobre 
Transgressão, Controle Social e Igreja Católica no Brasil Colonial: Goiás, século 
XVIII. 
O objetivo da pesquisa é estudar as práticas familiares1 e o 
comportamento de uma população marcada por uma forte corrente migratória, que 
chegou aos sertões de Goiás com o povoamento e a corrida febril do ouro. Neste 
contexto, chegou também a Igreja Católica, aliada à Coroa portuguesa com o 
objetivo de espalhar nas freguesias que iam surgindo, as resoluções do Concílio de 
Trento. As Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia de 1707 foram o 
referencial teórico e doutrinal para a Igreja no Brasil colocar em prática as 
resoluções tridentinas. É dentro deste prisma que se deve compreender a presença 
dos visitadores diocesanos que percorriam as minas de Goiás com o objetivo de 
“desterrar os vícios e os pecados da população”. Assim o concubinato surgia nas 
devassas eclesiásticas como o principal pecado, que deveria ser combatido pelos 
párocos e chefes de família. Embora este pecado tenha se destacado nas devassas 
eclesiásticas, os bispos tiveram preocupações minuciosas com o rebanho das minas 
de Goiás. As cartas pastorais, as visitações diocesanas e os editais dos vigários das 
varas eclesiásticas deixam transparecer um verdadeiro controle social que a Igreja 
 
1 Quanto às práticas familiares, quero chamar atenção para o artigo “Família, Patriarcalismo e Mudanças Sociais 
no Brasil” de Eni de Mesquita Samara e Dora da Costa (Cedhal). O referido estudo faz uma abordagem da 
historiografia sobre a família no Brasil. Conforme Samara e Costa, a revisão dos grandes mitos da sociedade 
patriarcal brasileira ocorrida na década de 70, deu base para que os estudos realizados na década de 80 se 
caracterizassem por uma maior pluralidade. Esses estudos vão tratar do papel do sexo, do casamento, do 
concubinato, da sexualidade e do processo de transmissão de fortunas. Foi a partir da década de 1980 que as 
preocupações destes e outros estudiosos se dirigiram diretamente para a contestação da idéia de família patriarcal 
de Gilberto Freyre. 
INTRODUÇÃO 14
Católica no Brasil procurou exercer sobre os seus fiéis. Dentro desta perspectiva fica 
evidente uma afirmação de Riolando Azzi: 
 
[...] o pensamento católico hegemônico, nos três primeiros séculos, 
estava vinculado intimamente ao projeto colonizador lusitano, 
servindo com freqüência como suporte ético-religioso para a 
dominação lusitana não apenas sobre os indígenas e os negros, mas 
também sobre os próprios colonos que buscassem maior liberdade 
de pensamento e de ação em sua atividade no Brasil. Sob este 
aspecto, o pensamento católico se manifesta explicitamente como 
uma ideologia de cunho marcadamente autoritário e conservador. 
(1987, p. 13) 
 
 
Esta pesquisa se inicia em 1734 com a presença do primeiro visitador 
diocesano em solo goiano, o padre Dr. Alexandre Marques do Vale, vigário da 
paróquia de Santa Ana de Vila Boa (atual Cidade de Goiás). Veja-se o que ele diz 
referente ao concubinato: 
 
Ainda que a concubina seja útil para a sua casa e governo dela, e 
não seja fácil achar outra mulher com igual préstimo, é obrigado o 
concubinário primeiro lançá-la fora de casa para ser absoluto, porque 
da expulsão não perde a fama, nem causa escândalo, antes o causa 
grande em estar de portas adentro por manceba, nem o préstimo 
temporal, e que vale o Espiritual que perdem.2 
 
Embora o foco principal da pesquisa seja o século XVIII, optou-se por um 
recorte cronológico até 1808. Neste período, a Igreja em Goiás passou por uma 
transição de comando que afetou as suas atividades pastorais: o corte umbilical com 
o bispado do Rio de Janeiro a partir da tomada de posse do terceiro prelado, D. 
Vicente Alexandre de Tovar, em 1805, por meio de seu procurador o padre Vicente 
Ferreira Brandão. A jurisdição episcopal do Rio de Janeiro assistiu o território goiano 
na parte do sul, desde o seu povoamento até a posse do referido prelado. Durante 
quase um século, realizaram-se em Goiás dezesseis visitas diocesanas e as 
 
2 COPIA dos capítulos da primeira e ultima vezita, q fez o Doutor Alexandre Maquez do Valle, 
vezitador q foi destas minas de Goyaz. Vila Boa de Goyaz, 1734. Fotocópia. Acervo documental. 
Instituto de Pesquisas e Estudos Históricos do Brasil Central, Universidade Católica de Goiás, 
Goiânia. 
INTRODUÇÃO 15
principais atividades pastorais eram comandadas pelos vigários das varas 
eclesiásticas. Conforme o historiador Cônego J. Trindade da Fonseca e Silva, o 
último visitador provisionado pelo bispo do Rio de Janeiro foi o “Cônego Roque da 
Silva Moreira por provisão de Dom José Joaquim Justiniano Castelo Branco em 
1803” (SILVA, J., 2006, p. 91).3 
Ainda referente às fontes, menciona-se O Rol dos Culpados4. Foi um 
documento de suma importância para anotar os crimes que ocorriam no âmbito da 
justiça eclesiástica. Entretanto, encontraram-se poucos assentos, mas o suficiente 
para retratar as infrações de ordem moral e os sacrilégios que ocorriam nas 
pequenas vilas goianas no final dos setecentos. Assim o vigário da vara de Santa 
Cruz foi acusado pelos seus fregueses de concubinato, de cujo “punível coito” 
nasceu uma filha. Por outro lado, “Izabel de nação Angola” foi presa na Aldeia de 
São José por ter expelido uma “hóstia que havia comungado”. Já, “Luiza Preta Mina” 
foi condenada por permitir concubinato, incesto e abortos dos seus filhos Carlos 
Pinto e Margarida “Crioula”. O mesmo ocorreu com Luiz Henrique da Silva e sua 
esposa Antonia Lopes que celebrou casamento clandestino.5 
Toda esta documentação, apesar das lacunas, traz à baila as intimidades 
vividas no interior das famílias, os conflitos das concubinas com seus amásios nos 
becos e ruas, e certa oposição do catolicismo popular com a hierarquia eclesiástica.6 
 
3 De acordo com os historiadores goianos, Dom Vicente partiu para sua prelazia em 1808, mas com a notícia da 
vinda da Família Real ao Brasil retorna ao Rio. Porém acaba morrendo em Paracatu em oito de outubro deste 
mesmo ano. Era natural da Bahia, foi sagrado bispo em 28 de agosto de 1803 na igreja de Loreto em Lisboa, 
através do Núncio Apostólico Monsenhor Lourenço Callepi, Arcebispo de Nesili. Foram assistentes nesta 
cerimônia o arcebispo de Adrianópolis Dom Manoel Joaquim da Silva e Dom Joaquim Maria Mascarenhas, 
bispo de Angola. Sendo cônego reitor da Sé de Faro passou em Goiás e foi vigário da vara eclesiástica e da 
paróquia de Pilar durante o período de 1791 a 1800. Com a morte de Dom Vicente, o padre Vicente Ferreira 
Brandão continuou vigário capitular assistido pela prelazia de Cuiabá até 1810 com a nomeação de Dom 
Antonio Rodrigues de Aguiar (SILVA, J., 2006, p. 91-92). 
4 Refere-se ao livro utilizado pelos bispos diocesanos para registraros culpados das devassas eclesiásticas. Mas a 
Inquisição utilizava também esta mesma expressão. Há uma obra da historiadora Anita Novinsky (1992), 
intitulada Rol dos Culpados, que aborda os Cristão Novos condenados pelo Santo Oficio. 
5 BISPADO DO RIO DE JANEIRO. Rol dos culpados. Livro utilizado pelos bispos diocesanos para 
registrar os culpados das devassas eclesiásticas. Livro n. 10, 1783-1805. Manuscrito. Acervo 
documental. Instituto de Pesquisas e Estudos Históricos do Brasil Central, Universidade Católica de 
Goiás, Goiânia. 
6 De acordo com Eduardo Hoornaert (1991, p. 16), a inquisição ajudou a formar (ou deformar) a consciência 
católica no Brasil, criando a impressão de que todos são católicos da mesma forma, obedecendo às mesmas 
normas e lutando contra os inimigos. Diante do clima de medo criado pelas denunciações, visitações, 
deportações, repressões e confiscos, os brasileiros reagiram de maneira inteligente: criaram um catolicismo 
ostensivo, patente aos olhos de todos, praticado, sobretudo nos lugares públicos, bem pronunciado e cheio de 
invocações ortodoxas a Deus, Nossa Senhora, os santos. Todos tinham que ser “muito católico” para garantir a 
sua posição na sociedade, e não cair na suspeita de “heresia”. 
INTRODUÇÃO 16
As famílias geradas pelo concubinato surgiam na sombra do casamento 
como resultado de adultérios ou se organizaram paralelamente ao matrimônio, a 
partir de arranjos, consentimentos ou mesmo como resultado de violências. 
Entretanto, a palavra concubinato fazia referência a um pecado e a um crime 
quando utilizado pela hierarquia eclesiástica para caracterizar certo tipo de relações 
não gerado pelo casamento. Como afirma Torres-Londoño (1999, p. 15), “este era 
fruto de um longo percurso da cristandade que fez do matrimônio monogâmico, 
indissolúvel e destinado à procriação o único espaço da sexualidade”. 
Referente aos registros de batismo e casamento procurou-se seguir as 
orientações da demografia histórica para formar quadros explicativos mais gerais. 
Observando as orientações metodológicas de Maria Luiza Marcílio, criou-se um 
banco de dados no programa Excel para explorar melhor os assentos paroquiais. 
Por meio de variantes como nome, estado civil, condição, origem geográfica, 
legitimidade, ilegitimidade, exposto, etc.,.. Procurou-se trilhar nos caminhos destas 
famílias que povoaram as freguesias de Nossa Senhora do Rosário (Perinópolis) e 
Santa Anna de Vila Boa. 
Feitas as considerações iniciais sobre Transgressão, Controle Social e 
Igreja Católica no Brasil Colonial: Goiás, século XVIII, destaca-se a seguir uma 
pequena síntese dos seis capítulos desta pesquisa para que o leitor tenha uma 
compreensão global da investigação. O primeiro capítulo, que trata da migração e 
família, situar-se-á melhor sobre a chegada de imigrantes de algumas regiões do 
Brasil, da Europa e da África aos sertões de Goiás com a descoberta da mineração. 
Os mineiros eram, em sua grande maioria, emigrantes solteiros, quando casados, 
viajavam sozinhos para as minas, para tentar a aventura, com a esperança de 
poder, mais tarde, uma vez bem sucedidos, chamar suas famílias; ou às vezes 
vinham para Goiás fugindo da perseguição do Santo Ofício. Juntamente, com os 
emigrantes chegou também a Igreja Católica em Goiás para difundir nas nascentes 
freguesias as resoluções do Concílio de Trento. Neste contexto, destacaram-se as 
cartas pastorais dos bispos do Rio de Janeiro, as visitações diocesanas e os vigários 
das varas eclesiásticas. No segundo capitulo, analisa-se o comportamento moral da 
população da capitania marcado de infratores e infrações de aspectos individuais e 
de grupo: violência, morte, corrupção, prostituição e vários pecados cometidos por 
alguns elementos do próprio clero que deviam zelar pela moralidade pública. As 
INTRODUÇÃO 17
cartas dos governadores de Goiás para a Coroa portuguesa não deixaram de 
ressaltar o comportamento violento desta população, marcado por crimes e vários 
tipos de “desordem de ordem” moral na visão dos lusitanos. 
No terceiro capítulo, trata-se das temáticas da sexualidade e 
transgressão. Com base em dois processos de Inquisição, analisam-se os “crimes” 
contra a instituição familiar: a solicitação na confissão pelo pároco da freguesia de 
Nossa Senhora da Conceição (Santa Cruz) e um estudo da bigamia cometida por 
Theodósio Pereira de Negreiros. Solicitação e bigamia procuram ressaltar ainda 
mais a aliança do Estado Português e da Igreja Católica, por meio do padroado, no 
combate aos crimes e pecados, que ferissem os sete sacramentos ordenados pelo 
Concílio Tridentino. O grande destaque deste capítulo são os delatores de duas 
devassas ocorridas em Santa Cruz de Goiás, comandada pelo visitador diocesano, o 
padre Felipe da Silveira, em 1757. Os depoimentos contra o padre Jose de Paiva 
Vieira, acusado em solicitação e quebra de sigilo em confissão, trazem à baila a 
intimidade da vida sexual das mulheres que moravam numa região bastante 
despovoada na segunda metade do século XVIII. 
No quarto capítulo, abordam-se a política portuguesa e as condições de 
povoamento em solos goianos. Preencher o vazio do imenso território brasileiro 
sempre foi um desafio para a colonização portuguesa. Em Goiás, encontram-se 
diversas correspondências da Coroa para governadores da Capitania, ressaltando a 
necessidade de povoar os sertões com os “naturais da terra”. Entretanto, as 
rivalidades e as guerras de extermínio contra os indígenas, no início da ocupação, 
parecem ter dificultado os enlaces matrimoniais. Os assentos de casamentos da 
freguesia de Nossa senhora do Rosário (Meia Ponte) apontam pouquíssimos casos 
de enlaces matrimoniais envolvendo indígenas. Por outro lado, encontram-se 
importantes correspondências dos bispos do Rio de Janeiro aos vigários das varas 
eclesiásticas, orientando aos párocos para facilitar o casamento dos seus fregueses 
“pobres e miseráveis”. No entanto, os viajantes estrangeiros, que percorreram a 
região no início do século XIX, ficaram chocados com as mancebias. Na visão de 
Saint-Hilaire, o “mau exemplo do concubinato” partia das autoridades locais e se 
estendia para a população, pois nenhum governador veio para Goiás casado, 
preferiam viver rodeados com suas concubinas nos próprios palácios. 
INTRODUÇÃO 18
O quinto capítulo vai tratar o concubinato, seguindo o rastro dos 
nascimentos ilegítimos, apontados nas atas de batismo de escravos e livres. Os 
assentos de batismo de Vila Boa apresentam uma ilegitimidade alta, 73,1%. Mesmo 
que não se possa provar com exatidão a maioria dos casos das relações de 
concubinato, ele aparece de uma forma indireta nos livros paroquiais. Houve sempre 
suspeitas nas histórias de crianças expostas em casa de “fulano de tal”, e nos 
nascimentos que só apareciam os nomes da mãe e a denominação de “pai 
incógnito”. No entanto, o concubinato aparece mesmo de uma forma clara no “livro 
de denúncias” e no “rol dos culpados.” As testemunhas que comparecem ao tribunal 
eclesiástico narram em detalhes os relacionamentos consensuais e as brigas, que 
aconteciam nos becos e ruas, motivadas por ciúmes dos amásios com as suas 
concubinas Além disso, o diálogo com esta documentação permite conhecer alguns 
aspectos do cotidiano desta outra família que se constituiu ao lado do matrimônio 
monogâmico. Famílias que freqüentavam as cerimônias religiosas criavam seus 
filhos e viviam por vários anos de “portas adentro” ao lado de parentes e vizinhos. 
No sexto capítulo, analisam-se o batismo e as relações sociais do 
compadrio. Num contexto em que o catolicismo era a religião oficial do Império 
português, o batismo foi o sacramento que mais obteve sucesso na capitania de 
Goiás, revelando uma aproximação e afinidade entre a Igreja e a comunidade. Na 
realidade havia uma grande preocupação dos agentes eclesiásticos para que 
ninguém morresse sem ele. O batizado conforme as Constituiçõesda Bahia era 
“porta de entrada” do fiel na Igreja. Por isso as cartas pastorais do Rio de Janeiro 
procuravam incentivar aos párocos para instruir os seus fregueses, principalmente, 
as parteiras na forma de batizar. Mas a pia batismal foi usada também pelas mães 
escravas como instrumento de alforrias de seus rebentos. Por outro lado, o 
sacramento do batismo serviu, muitas vezes, para encobrir as relações de 
concubinato dos compadres e as suas comadres. 
CCAAPPÍÍTTUULLOO 11 
 
 
MMIIGGRRAAÇÇÃÃOO EE FFAAMMÍÍLLIIAA 
 
 
1.1. A MIGRAÇÃO NOS SERTÕES DE GOIÁS 
 
 
1.1.1. ASPECTOS GERAIS DA POPULAÇÃO 
 
 
É importante situar a história da família na Capitania de Goiás num 
processo de corrida pela conquista do ouro. Mas desde o final do século XVII Goiás 
já era suficientemente conhecido dos paulistas, devido aos relatos e roteiros 
elaborados pelas primeiras entradas e bandeiras. A referência do “descobrimento” 
da região no século XVIII é anacrônica. Contudo, convencionou-se atribuir o 
“descobrimento” de Goiás à bandeira chefiada por Bartolomeu Bueno da Silva, o 
Anhanguera (1722-1725), pois, a partir dela, se encontraram as primeiras minas de 
ouro e se iniciou o processo de povoamento no território goiano. 
Para Nasr Fayad Chaul (1997), a estrutura familiar na política admintrativa 
em Goiás, teve suas origens com o Bueno, que era superintendente; seu genro 
Ortiz, guarda-mor; e Antonio Ferraz, seu sobrinho. A partir deste contexto, a política 
das famílias tradicionais foi uma grande característica que marcou por longos anos a 
vida de Goiás. E foi o ouro o principal responsável pelo surto populacional dos 
sertões de Goiás. Parece que se repetiu neste território o mesmo que ocorreu nas 
Minas Gerais. Sérgio Buarque de Holanda denominou “sociedade sui generis”. Na 
visão deste autor, o que marcou a sociedade mineira foi um povoamento com 
CAPÍTULO I – MIGRAÇÃO E FAMÍLIA 20
elementos de “várias procedências e de todos os estratos” (HOLANDA, 1993, 
p.282). 
Na realidade, a mineração trouxe uma nova forma de povoamento “tipo 
urbano” ao Brasil colonial. Durante os séculos XVI e XVII, o povoamento das 
Capitanias da costa brasileira dera-se em função da empresa agrícola. Com a 
mineração, a situação inverteu-se: os núcleos urbanos, surgidos da concentração 
mineira, congregaram a maioria da população, marcando o ritmo da vida social e 
das mentalidades. 
Para Palacin (1995), o descobrimento do ouro em Goiás foi o principal 
responsável pelo surto populacional: migração para o interior, populações 
majoritariamente masculinas, surtos de violência, urbanização acelerada e severo 
controle fiscal por parte do Estado. Já o cronista Antonil, em sua obra Cultura e 
Opulência do Brasil por suas Drogas e Minas, fixou a corrida do ouro às Minas 
Gerais, nos anos iniciais do século XVIII. 
 
Cada ano vem nas frotas quantidade portugueses e estrangeiros, 
para passarem às minas. Das cidades, vilas, recôncavos e sertões 
do Brasil vão brancos, pardos, pretos e muitos índios, de que os 
paulistas se servem. A mistura é de toda condição de pessoas; 
homens e mulheres; moços e velhos; pobres e ricos; nobres e 
plebeus, seculares e clérigos, e religiosos de diversos institutos, 
muitos dos quais não têm no Brasil convento nem casa. (ANTONIL, 
1982, p. 264) 
 
 
 Cunha Mattos (1975, p. 141) chegou contar “dezessete mil escravos e mil 
e quatrocentos homens brancos europeus, paulistas e mineiros, todos celibatários” 
num descoberto aurífero em Cocal no ano de 1751. Luís Antônio da Silva e Souza 
(1978, p. 78-79) buscou na tradição oral a memória desse povoamento colonial, 
caracterizado pelo excesso de grandeza e riqueza dos primeiros tempos. Num curto 
período entre 1726 e 1740, estabeleceu-se o mapa básico da mineração em Goiás, 
constituído por três grandes áreas: a região de Vila Boa (Barra, Ferreiro, Ouro Fino, 
etc.), contendo Meia Ponte e Santa Cruz ao sul; a região do rio Maranhão (Traíras, 
São José, Cachoeira, etc.), contendo Crixás a oeste; e a região do norte (Natividade, 
Ponta, Conceição, etc.). 
CAPÍTULO I – MIGRAÇÃO E FAMÍLIA 21
Na realidade, as descobertas do ouro iniciam o processo de povoamento 
da Capitania de Goiás. A mineração foi o principal alvo dos emigrantes que 
chegavam de todas as regiões do Brasil e do Reino em busca da riqueza. O mapa a 
seguir retrata os principais arraiais que se formaram nas terras do ouro. 
 
Mapa 1 – Goiás: Vilas e Arraiais do Ouro, séculos XVIII e XIX 
 
Fonte: NOTÍCIA Geral da Capitania de Goyaz. In: SALLES, Gilka Vasconcelos Ferreira de. Economia 
e Escravidão na Capitania de Goiás. Goiânia: CEGRAF; Ed. da UFG, 1992. p. 94. 
CAPÍTULO I – MIGRAÇÃO E FAMÍLIA 22
Não houve aqui, certamente, nenhuma novidade extraordinária, para a 
generalidade dos países de condição ou formação colonial. A título de comparação, 
a ocupação dos territórios goianos teve características semelhantes das apontadas 
por Sérgio Buarque de Holanda (1993), nas Minas Gerais. Um “povoamento com 
predominação do elemento masculino e mulheres de baixas condições morais”. Para 
o autor, em outras partes do Brasil, para onde os colonos vieram em menor número, 
a carência de mulheres européias se supriu pelas índias (HOLANDA, 1993, p. 300). 
Mas em Goiás muitas nações indígenas haviam sido dizimadas devido às 
constantes guerras exterminatórias com o homem branco. 
Por outro lado, a chegada destes imigrantes das diversas regiões do 
Brasil, da Europa e da África vai interferir profundamente no processo de reprodução 
biológica, social e étnica da sociedade de Goiás. As atas de batismos, casamentos e 
as devassas civis e eclesiásticas corroboram com a nossa afirmação. 
A primeira fase da historia de Goiás, até a sua elevação à Capitania, 
independente de São Paulo, em 1749, é toda marcada por crimes e violências, em 
que estavam envolvidos inclusive elementos eclesiásticos. A criação de uma 
administração própria, com D. Marcos de Noronha, pouco melhoraria a situação. 
Segundo o testemunho do próprio governante, grande parte dos habitantes era 
foragida da justiça (apud SANTOS, 1984, p. 148). 
A tabela das testemunhas que depõem nas devassas eclesiásticas em 
Vila Boa (cf. Tabela 1) aponta uma grande porcentagem de portugueses, que 
residiam na Capitania em 1753 em plena fase do ouro com abundância. 
CAPÍTULO I – MIGRAÇÃO E FAMÍLIA 23
Tabela 1 - Origem geográfica das testemunhas 
País Cidade Bispado Qtd
Brasil 10
Bahia Bahia 2
Rio de Janeiro Rio de Janeiro 6
São Paulo São Paulo 1
Villa de Itu São Paulo 1
Portugal 43
[Corrocedo?] Braga 1
[Corrose] Braga 1
[Reburdoam] Miranda 1
[Villa de Freira] Porto 1
Coimbra - 2
Évora Portugal 1
Freguesia de [Frotas] Porto 1
Ilha de São Miguel Portugal 4
Ilha Terceira Bispado de Angra 2
Ilhas das Caldas Portugal 1
Lisboa Lisboa 5
Ponte do Porto Braga 1
Santa Maria do Outeyro Braga 1
São João de Água Longa Porto 1
São Salvador da Roca Braga 1
Valença do Minho Braga 1
Vila de (Abreu) Patriarcado Lisboa 1
Vila de S. João Del Rei Mariana 1
Vila Rica Mariana 1
Villa da Feira Porto 1
Villa da Marante Braga 1
Villa das Caldas da Rainha Patriarcado de Lisboa 1
Villa de [Marealva] - 1
Villa de [Rocha] Braga 1
Villa de Alcobaça Portugal 1
Villa do Conde Braga 1
Villa do Ovar Porto 1
Villa dos Guimarães Braga 6
Villa Real Braga 1
Total 53 
Fonte: BISPADO DO RIO DE JANEIRO. Registro das denúncias. Livro utilizado pelos bispos para 
registrar as denúncias de devassas eclesiásticas. Livro n. 2. 1753-1794. Manuscrito. Acervo 
documental. Instituto de Pesquisas e Estudos Históricos do Brasil Central, Universidade Católica de 
Goiás, Goiânia. 
 
Pelo que se observa na tabela, das 53 testemunhas que depõem no 
tribunal eclesiástico de Vila Boa sobre os casos de concubinato, 45 são naturais dos 
principais bispados de Portugal: Lisboa, Porto, Braga, etc.7 Pena que o livro de 
 
7 Em relação aos crimesapontados no livro de Registro das Denúncias, a grande maioria dos casos 
são registros de concubinato. Mas encontramos também crimes de usura, prostituição, alcoviteirismo, 
incesto e sacrilégio. Em relação à origem geográfica dos réus, a documentação não deixa muitas 
CAPÍTULO I – MIGRAÇÃO E FAMÍLIA 24
Registro de Denúncias não deixa claro o estado civil desta gente, e muitos menos 
como chegaram aqui. E a documentação ressalta as idades e os ofícios que 
praticavam em Vila Boa. Quanto à idade, o português mais velho é Caetano Tavares 
da “Villa de Alcobaça”, 60 anos, que “vive do officio de Pedreiro”; o mais novo é José 
Tavares da “Ilha de São Miguel”, 24 anos, que “vive do officio de sapateiro”. Em 
relação aos nascidos nas terras do Brasil são poucas as testemunhas que 
comparecem no Auto de Denúncia. O mais velho era comerciante, carioca com 77 
anos; Já Bento Ferreira de Mello (crioulo forro), natural da Bahia tinha 22 anos e era 
morador do Arraial do Ferreiro. É importante lembrar que estes depoimentos foram 
tomados no ano de 1753, em plena fase da abundância do ouro. Na parte religiosa, 
Goiás era comandado pela Mitra do Rio de Janeiro, cujo bispo era o beneditino D. 
Antônio do Desterro Malheiros, que proibiu a cobrança de taxas de casamentos e 
sepultamentos de pobres, escravos e imigrantes; e ao mesmo tempo, renovou a 
obrigação dos párocos aos assentos paroquiais. Acredita-se que esta última medida 
foi uma das respostas para o maior número de casos de concubinato registrado na 
Capitania no ano de 1753; além disto, sendo da ordem de São Bento, a tendência 
era uma orientação pastoral mais rigorosa. 
Estes emigrantes, de certa forma, contribuíram com os ideais do Concilio 
de Trento na difusão do catolicismo no interior do Brasil, uma vez que chegavam às 
minas e logo edificavam uma capela ou mesmo um oratório para difundir a devoção 
que praticavam em suas regiões de origem. As diversas confrarias e irmandades 
praticadas pelos diversos seguimentos da sociedade colonial confirmam a nossa 
afirmação. Ao observar os templos edificados no Brasil colônia, percebe-se 
nitidamente a marca de uma sociedade baseada na escravidão do negro e no 
conflito dos grupos sociais. Daí a edificação da igreja de Nossa senhora do Rosário 
dos Pretos, São Benedito dos Crioulos, Irmandade da Boa Morte, etc.(CASTRO, 
2006). 
Mas o foco do momento é sobre as testemunhas que compareciam aos 
Autos de Denúncia no período de 1753 a 1794. Para Laura de Mello e Souza (2006, 
p. 20-21), as devassas eclesiásticas são documentos de capital importância para 
estudar a família e os aspectos da vida moral da sociedade colonial. Neste contexto, 
 
pistas. Mas há alguns casos que os nomes e sobrenomes dos acusados nos faz suspeitar que se 
tratasse de estrangeiros. O exemplo de “Pantaliam Rodrigues” que praticava usura em Vila Boa é um 
destes. 
CAPÍTULO I – MIGRAÇÃO E FAMÍLIA 25
“as testemunhas que comparecem à Mesa de denúncia falavam muito mais da vida 
amorosa, da sexualidade, dos costumes de seus semelhantes, do que da sua 
regularidade no comparecimento às missas e na prática dos jejuns”. Quais os 
critérios que a igreja utilizava na escolha dos testemunhos? Por que tantas 
testemunhas do Reino numa Vila Boa coberta de pessoas das várias regiões do 
Brasil? Parece que o tribunal eclesiástico selecionava as pessoas que tivessem uma 
vivência exemplar na prática da doutrina e observância dos sacramentos na 
freguesia que residia. No caso em análise, o único “crioulo forro” que apareceu no 
Auto de Denuncia como testemunha foi Bento Ferreira do Arraial do Ferreiro por ter 
salvado o vigário de uma facada. 
Quanto às outras testemunhas havia muitos comerciantes, taberneiros, 
alfaiates e sacerdotes seculares. Na realidade estes ofícios tinham muito contato 
com aquilo que a população comentava a respeito da vida alheia. Ser testemunha 
no auto do tribunal eclesiástico não dava garantias a ninguém de ser poupado, 
mediante a acusação de um vizinho ou até mesmo de uma pessoa inimiga. Parece 
que não era somente o ouro que atraía essa gente, mas também outras atividades 
que a prática da mineração demandava. Ao se apresentarem no auto da devassa, 
uma das primeiras questões que respondiam eram nomes, idades, naturalidade, 
oficio e costumes que praticavam. Os vários ofícios praticados por estes 
portugueses eram sapateiro, taberneiro, ferreiro, escrevente, sacerdote secular, 
alfaiate, mercador, roça, negócio, agencia, pedreiro, sapateiro, minerar, alferes, 
soldado, requerente, mestre de meninos. 
Para Laura de Mello e Souza (2004), a prática do concubinato não 
causava preocupações para grande parte da população das Minas Gerais no 
período da mineração. Geralmente, o que mais incomodava as pessoas eram as 
brigas nas ruas e no interior das casas, motivadas pelos ciúmes dos parceiros. 
Assim, o meirinho do juiz eclesiástico, José da Silva Barros, denunciou “Antonio 
Velho Preto, por andar amancebado há muitos anos com Antonica (sic) Preta Forra 
e por esta causar brigas na rua em que morava”; o mesmo Meirinho denuncia no juiz 
eclesiástico, Manuel Fellipe Santiago por “andar concubinado” e ter um filho com sua 
escrava Rita; José da Rosa que “vive de minerar” em Vila Boa testemunha que nas 
ocasiões das visitas do Santíssimo Sacramento aos enfermos, o Mulatinho, filho do 
CAPÍTULO I – MIGRAÇÃO E FAMÍLIA 26
concubinário Manuel Felipe e sua escrava Rita, “vai muitas vezes junto delle”8. No 
dizer de Laura de Mello, “ato sexual” que homens da centúria praticavam com as 
várias mulheres eram descritos nas “devassas eclesiásticas como ato pecaminoso” 
(SOUZA, 2004, p. 227). 
 Outra questão, que merece destaque neste item, diz respeito à 
mobilidade geográfica da população masculina. A população de Goiás no período 
colonial apresentava características típicas das regiões mineradoras, ou seja, era 
predominantemente masculina e solteira. Diferentes fontes, datadas de 1745, 
atestam para a intensa mobilidade das populações goiana e mato-grossense. “Os 
habitantes deslocavam-se constantemente à procura de novas jazidas de ouro, 
fazendo com que arraiais inteiros se despovoassem e a vida se constituísse em 
constante improvisação” (PALACIN; GARCIA; AMADO, 1995, p. 61). 
Para Novais (1995) a mobilidade geográfica estava ligada a uma 
economia colonial “predatória”, que visava o desenvolvimento da Metrópole. Neste 
contexto era difícil para a população “sedimentar laço de família”. O referido autor 
concorda com as teses de Gilberto Freyre que a “miscigenação” foi um dos 
principais encontros do colonizador branco com as escravas e indígenas, e ao 
mesmo tempo uma forma de dominação do europeu sobre as populações que 
habitavam o Brasil (NOVAIS, 1997,14-39). 
Para a historiadora Maria Beatriz Nizza da Silva (1993), as atividades 
militares, municipais e econômicas, no fim do período colonial, forçavam os homens 
a passar longos períodos distantes de suas famílias. A atividade econômica forçava 
uma boa parcela da população para à mobilidade geográfica. Neste sentido, 
“tropeiros e mascates, sempre em constantes viagens, pouco permaneciam nas 
suas casas”. Manoel Machado Rocha que depõe na devassa de Pilões e Rio Claro, 
em 1794, foi uma destas figuras típicas que levava uma vida na itinerância para 
vender as suas cargas. Quando o juiz de Vila Boa perguntou ao réu o que ele fazia 
no Rio Claro com instrumentos e ferramentas de minerar, respondeu: 
 
 
8 BISPADO DO RIO DE JANEIRO. Registro das denúncias. Livro utilizado pelos bispos para registrar 
as denúncias de devassas eclesiásticas. Livro n. 2. 1753-1794. Manuscrito. Acervo documental. 
Instituto de Pesquisas e Estudos Históricos do Brasil Central, UniversidadeCatólica de Goiás, 
Goiânia. fl. 2-5. 
CAPÍTULO I – MIGRAÇÃO E FAMÍLIA 27
[...] que sahindo (sic) de sua casa de Viamão com cento e vinte 
animais, para negociar em São Paulo, chegara ao Registro de 
Curitiba com quarenta e passou na cidade de São Paulo e comprou 
algumas cargas, que conduzira a esta Capitania, e sendo infeliz na 
venda dellas pela tardança das cobranças, ser pusera a hir ao Rio 
Cayapo procurar ouro, [...] e para isso convidara a Manoel de 
Oliveira, Francisco Soares, Jose Luis, João Pereira, Ignácio de 
Souza, João Portes, Manoel Antonio e Pedro de Siqueira e com 
cinco escravos seus por nomes Luis Crioulo, Jose Mina, Teodoro 
Crioulo, Zeferino e Barnabé Crioulos foram ao Rio Vermelho e ahi 
fizeram huma canoa para o atravessar, e depois seguiram ate o Rio 
Claro.9 
 
O texto acima faz parte de um depoimento de devassa em Vila Boa de 
Goiás em 1794. Após uma acusação verbal foram encontrados nove homens livres e 
cinco escravos com instrumentos e ferramentas minerais e uma pequenina pedra de 
ouro. Os mesmos estavam acampados ao “pé do Rio Claro” com vários animais e 
cinco escravos. Presos pela milícia que comandava a região foram conduzidos para 
cadeia de Vila Boa. Julgados pelo juiz ordinário daquela comarca foram absolvidos. 
Na realidade em toda região aurífera dos rios Claros e Pilões, freqüentemente, eram 
encontrados diamantes, daí o interesse e controle da região pela Coroa portuguesa. 
Neste processo, várias pessoas foram interrogadas, os militares, os camaradas que 
acompanhavam Manoel Machado da Rocha e várias pessoas dos arraiais vizinhos, 
com exceção dos escravos e indígenas. Uma das principais questões feitas pelo 
Juiz da devassa se referia ao “serviço de minerar no continente10 proibido”. Percebe-
se com isso que a instituição ameaçada em seu domínio faz prevalecer as suas 
normas e leis que dão legitimidade a este poder. De acordo com Kenneth R. 
Maxwell (2005), a política de Pombal foi muito centralizadora no tocante aos 
diamantes, colocando esta administração sob o controle direto da Real fazenda. Em 
Minas Gerais houve uma série de regulamentos que visavam abastecer o mercado 
europeu. Para o autor, as instruções políticas de Pombal baseavam-se em três 
prioridades: “garantir a fronteira, povoar de modo que a população pudesse se 
 
9 AUTO de devassa e juntada. Pilões e Rio Claro. Livro n. 30, 1794. Manuscrito. Arquivo Histórico do 
Estado de Goiás, Goiânia. fl. 19v. 
10Havia uma Carta Régia do ano de 1738 que a Coroa Portuguesa proíbe a extração nos rios Claros 
e Pilões. A intendência de Pilões foi criada em 1748 para resolver o contrabando de Diamantes. O 
policiamento local era difícil porque os próprios funcionários do governo contribuíam para a violação 
das ordens legais. Com objetivo de solucionar estas questões, a Coroa fez um contrato com os 
irmãos Caldeira Brant (1749-1751), mas o empreendimento fracassou. “ As minas foram guardadas 
com destacamento militar até o ano de 1803, e a região mantida sob a administração de Intendência 
de Vila Boa” (SALLES, 1992, p. 93-98). 
CAPÍTULO I – MIGRAÇÃO E FAMÍLIA 28
defender, e fazer uso proveitoso das minas descobertas” (MAXWELL, 2005, p. 64-
65). 
Mas o que chama atenção nesta devassa de Pilões são os aspectos 
relacionados à vida familiar dos indivíduos. Se se observar o estado civil de algum 
deles, constata-se a presença de homens casados ausentes de suas mulheres e 
filhos (cf. Tabela 2). 
 
Tabela 2: Origem das testemunhas 
Nome Idade Naturalidade Profissão Estado Civil
Anacleto Ferreira 37 Vila Boa Meirinho dos Dízimos Solteiro
Anselmo Miguel Ribeiro 20 Aldeia do Rio das Pedras Soldado Solteiro
Antonio de Siqueira 19 Araial de Crixás Soldado Solteiro
Antonio Luis de Oliveira 23 Aldeia do Duro Soldado Solteiro
Domingos Jose Valente - - - -
Faustino Afonso 37 São João da Ribeira - SP Soldado Casado
Francisco de Souza 25 Vila Boa Soldado Casado
Ignacio Joaquim 24 Vila Boa Soldado Solteiro
Ignacio Lima da Silva 45 Via de Cuiabá Cabo de Esquadra Solteiro
Joaquim Nunes de Campos 30 Aldeia do Rio das Pedras Soldado Casado
Jose Fernandes do Vale 50 Paranhas/Porto Piloto das [Cismarias] Solteiro
José Luiz Moreira 40 F. Soneta Conga/Braga Lavouras Casado
José Luiz Pereira 46 Aldeia S. Jose e Maria Sargento Solteiro
Jose Rodrigues Souto 30 Pilar Forriel/Minerar. Solteiro
Leandro da Siqueira Brito 54 Cidade da Bahia Carcereiro Viúvo
Leonardo Pires 30 Aldeia do rio das Velhas Soldado Solteiro
Lourenço da Silva Martins 60 V. Bemposta /Aveyro Negócio Solteiro
Luis Lorenço Gondres 77 Vila de Caminha/Braga Lavouras Casado
Manoel da Rocha Magalhães 40 Braga - Casado
Manoel de Faria Agrão 64 F. S. Maria de Agrão/Coimbra Alfaiate Solteiro
Manoel Jose de Moraes 30 Meia Ponte Matar capados Casado
Manoel Rodrigues Lamego 58 Lamego/ [ Coimbra ?] Agência Solteiro
Manoel Rodrigues Lopes 56 F. Noronho/ Coimbra Cacheiro Solteiro
Manuel Camelo Pinto 40 Porto Comércio Casado
Manuel de Sá Pereira 37 Vila Boa Seleiro Solteiro
Manuel Martins dos Santos 36 Vila Boa Soldado Casado
Miguel Álvares de Oliveira 50 Paracatu/Pernambuco/ Pedreiro Casado
Pedro Paes 25 Crixás Soldado Solteiro
Placido José Dias 45 Aldeia de Maria - SP Forriel Casado
Raimundo Lopes de Morais 33 Meia Ponte Seleiro Casado
Salvador Bueno de Morais 33 Vila Boa. Lavouras Solteiro
Serafim de Barros 23 Arraial de Trairas Soldado Solteiro 
Fonte: AUTO de devassa e juntada. Devassa de Pilões e Rio Claro. Livro n. 30, 1794. Manuscrito. 
Arquivo Histórico do Estado de Goiás, Goiânia. 
 
CAPÍTULO I – MIGRAÇÃO E FAMÍLIA 29
O quadro apresentado por meio da tabela 2 demonstra duas questões 
capitais: as migrações e os ofícios praticados pela população. Na questão das 
migrações, a tabela 2 aponta alguns estrangeiros que acusam brasileiros de cometer 
crimes contra os interesses do Reino. Mas o quadro acima retrata também a 
diversificação das atividades econômicas praticadas no final do século XVIII. Entre 
as várias testemunhas que prestaram seus depoimentos na devassa, apenas o 
“forriel José Rodrigues Souto” do arraial do Pilar praticava o “ofício de minerar”. Os 
ofícios apresentados na tabela 2 sugerem algumas características dos aspectos 
econômicas de Vila Boa com a freguesia Vila Rica na segunda metade dos 
setecentos. Conforme Marco Antonio Silveira, os trabalhos comerciais e de ofícios 
encontravam-se em primeiro e segundo lugares, respectivamente, na ocupação 
daquela população. O referido pesquisador constatou nos aglomerados urbanos de 
Vila Rica um intenso mercado interno, em que a maioria das pessoas 
desempenhava funções relacionadas com os ofícios e o comércio: “viver de loja, 
venda, fazer cobranças etc.” (SILVEIRA, 1997, p. 89). Por outro lado, as pessoas 
que foram presas e acusadas de cometer crime no “continente proibido” são 
homens, de certa forma, jovens que vivem na itinerância. A tabela 3 ressalta 
também o aspecto civil destes indivíduos que viviam isolados e distantes de suas 
famílias. Na realidade, a mobilidade geográfica da população facilitava os 
relacionamentos consensuais e os adultérios. Vejamos a tabela 3 abaixo: 
 
Tabela 3 - Descrição dos réus 
Nome Idade Naturalidade Ofício E. Civil
Manoel Machado Rocha 51 Viamão (RS) Negociante Casado
Manoel de Oliveira Sarmento - Vila Rica Negociante Solteiro
Francisco Soares 40 São Paulo - Solteiro
Jose Luiz 20 Vila de Sorocaba Camarada Solteiro
João Pereira 25 São Paulo Camarada Casado
Ignacio de Souza de Oliveira 52 São Paulo
João Portes 40 Mogimirim Camarada Casado
Manoel Antonio 43 Mogi das Cruzes Camarada Casado
Pedro Antonio 30 Vila de Mogimirim Camarada Casado
 
Fonte: AUTO de devassa e juntada. Devassa de Pilões e Rio Claro. Livro n. 30, 1794. Manuscrito. 
Arquivo Histórico do Estado de Goiás, Goiânia. 
 
CAPÍTULO I – MIGRAÇÃO E FAMÍLIA 30
Geralmente o interrogatório começava da maneira seguinte: 
 
E logo pelo dito JuizOrdinário foi perguntado ao Reo preso [...], 
como se chamava, donde era natural, que idade tinha se era casado 
ou solteiro, se sabia a causa de sua prisão, donde, e por quem se 
tinha alguns privilégios.11 
 
Manoel Machado testemunhou que era casado com Bernarda Ribeira 
Lima na freguesia de Viamão do Rio Grande de São Pedro, Bispado do Rio de 
Janeiro, tinha 51 anos de idade e que não sabia a causa da sua prisão; Manoel de 
Oliveira Sarmento, solteiro, natural de Vila Rica, bispado de Mariana, disse que 
sendo do sertão vinha ao Arraial de Meia Ponte negociar algumas cabeças de gado; 
Francisco Soares, natural e morador em São Paulo, solteiro, 40 anos, era camarada 
de Manoel Machado com quem viera da cidade de São Paulo; Ignácio de Souza de 
Oliveira, natural de São Paulo e morador no Arraial de Santa Rita , distrito de Vila 
Boa,52 anos; Jose Luiz, Vila de Sorocaba, bispado de São Paulo, solteiro, 20 anos, 
camarada de seu patrão; Manoel Antonio, natural e casado em Mogi Mirim, homem 
pardo, 43 anos, camarada que seguia seu Patrão de São Paulo; João Portes, natural 
de Mogi Mirim, 40 anos, casado,camarada.12 
Se se observar a vida destes indivíduos, percebe-se que não tinham 
residência fixa. Viviam do negócio de gado, porcos e cargas, que traziam de São 
Paulo e outras regiões. Como ficaria a vida familiar destes homens em constante 
mobilidade geográfica? Manoel Machado, por exemplo, fez questão de dizer perante 
o juiz da devassa que era casado com Bernarda Ribeira na “freguesia de Viamão do 
Rio Grande”. Haveria espaço para fidelidade no matrimônio tão desejado pela Igreja 
com um esposo que aparecia em casa uma vez ou outra? Talvez a reposta esteja na 
grande porcentagem de filhos naturais de Vila Boa que vamos analisar em outro 
capitulo. O livro de batismo de escravos (1764-1808) aponta um alto índice de 
crianças ilegítimas, 73,1%.13 As devassas apontam também para uma grande 
porcentagem de solteiros na comarca de Vila Boa. 
 
11 AUTO de devassa e juntada. Devassa de Pilões e Rio Claro. Livro n. 30, 1794. Manuscrito. Arquivo 
Histórico do Estado de Goiás, Goiânia. 
12 AUTO de devassa e juntada. Devassa de Pilões e Rio Claro. Livro n. 30, 1794. Manuscrito. Arquivo 
Histórico do Estado de Goiás, Goiânia. 
13 Atas de batismo de escravos, 1764 a 1808, da Cidade de Goiás, antiga Vila Boa, apresentam um 
total 2216 inocentes que foram levados a Igreja Matriz e Capelas filiais da paróquia de Santana para 
o sacramento do batismo. Desse total 73,1% foram classificados como ilegítimos; 25,9% legítimos e 
CAPÍTULO I – MIGRAÇÃO E FAMÍLIA 31
Estas andanças masculinas tinham como conseqüência mais visível uma 
vida sexual fora do matrimônio e a procriação de filhos ilegítimos. Além disso, 
numerosos estudos confirmam que, no fim do período colonial, faltava para muitos 
indivíduos o apoio da família extensa, incluindo vários graus de parentes. Ao lado 
das famílias estruturadas segundo a tradição portuguesa, havia numerosos brancos 
classificados nas listas de população como “vadios ou mendigos”, incapazes de 
levar uma vida sedentária nas povoações e de aí constituírem família. Em Goiás 
uma grande parcela da população era formada por pessoas “sem profissão e sem 
emprego que vegetavam nos arrabaldes das cidades ou, sem rumo, nos caminhos, 
vivendo de esmolas ou de pequenos furtos, mas nunca de um trabalho fixo 
(PALACIN, 1994, p. 72)”. De acordo com este autor, o desemprego, a vadiagem e a 
pobreza durante o século XVIII alcançaram grandes proporções na Europa, Ásia e 
na América portuguesa. 
Para Laura de Mello e Souza (2004, p. 163), o grande fantasma que 
perseguiu as autoridades metropolitanas foi à falta de laços familiares da população 
no Brasil colonial. No contexto da mineração, os elementos que se dirigiram para 
Goiás eram solteiros e desenraizados, e muitos se ressentiram da falta de mulheres 
brancas. Aos poucos foram formando famílias ilegais, à margem do vínculo do 
matrimônio. Contra a difusão do concubinato, a igreja combateu por meio de uma 
diversificada documentação, procurando colocar em prática as resoluções do 
Concilio de Trento. No entanto, entre prática e discurso parece que os ideais 
andaram distantes, Mattos (1975) e Saint-Hilaire (1975) apontam o desinteresse dos 
mineradores portugueses na formação de famílias com índias e negras. Veja-se o 
depoimento de Saint-Hilaire: 
 
Os primeiros aventureiros que se embrenharam nesses sertões 
traziam consigo unicamente mulheres negras, às quais o seu orgulho 
não permitia que se unissem pelo casamento. A mesma razão 
impediu-os de desposarem as índias. Em conseqüência, tinham 
apenas amantes. (1975, p. 53) 
 
 
apenas 1,0% de crianças expostas, ou seja, filhos de país incógnitos. Em alguns anos os números 
dos bastardos atingiram uma porcentagem muito alta na referida paróquia: em 1768 dos 90 inocentes 
batizados 80% eram ilegítimos, em 1773 foram batizadas 58 crianças, dessas 87,9% eram ilegítimas. 
CAPÍTULO I – MIGRAÇÃO E FAMÍLIA 32
Mas o desinteresse pela constituição de família, baseada no matrimonio 
não era somente questão de aventureiros e da população pobre. Conforme, 
historiografia goiana o mau exemplo partia dos governadores e dos capitães 
generais que chegavam a Vila Boa sem suas esposas. No entanto, havia interesses 
ligados à questão econômica por parte da Coroa portuguesa em relação ao 
casamento da população. Em Minas Gerais no final do período minerador, chegou 
haver sugestões para premiar os casados e punir os opositores do matrimônio. 
Acreditavam que o desinteresse pelo casamento prejudicava a repartição das 
heranças, pois os bens não se transmitiam de pai para filho. Uma segunda questão 
ligada ao casamento e de grande preocupação das autoridades coloniais era o 
povoamento do Brasil. Neste sentido os homens e mulheres casados poderiam dar 
uma grande contribuição à medida que gerassem filhos e fortalecessem os laços de 
família (SOUZA, 2004, p. 165). 
Houve por parte da Coroa várias tentativas para fortalecer os enlaces 
matrimonias cujo objetivo era o povoamento do Brasil e o abastecimento do reino 
com as riquezas minerais. Neste contexto surgiram leis que proibiam a volta de 
mulheres para o reino, ingresso na vida religiosa e incentivo dos casamentos com os 
indígenas. Contudo, havia uma proibição para não colocar nos filhos os nomes 
indígenas. 
 
 
1.1.2. A MIGRAÇÃO DOS PAULISTAS 
 
 
No fim do século XVII, o território de Goiás era suficientemente 
conhecido, tanto em São Paulo como em Belém. Os caminhos de penetração se 
achavam descritos nos roteiros que corriam de mão em mão, e os rumores sobre 
suas riquezas auríferas avolumavam-se, apesar do limitado êxitos das bandeiras 
neste aspecto. Mas foi a bandeira que deu impulso à migração de paulistas, 
mineiros e portugueses nos primórdios do século XVIII. Conforme Maria Luiza 
Marcílio (1973), por volta da segunda metade deste mesmo século, os paulistas que 
haviam se deslocado para a região de Minas Gerais, Mato Grosso e Goiás, 
CAPÍTULO I – MIGRAÇÃO E FAMÍLIA 33
começaram a retomar para a Capitania e para a cidade de São Paulo. De acordo 
com Afonso Taunay (1850), marcaram muito a vida desta tripulação nos sertões as 
constantes guerras de genocídio contra o indígena. Entre os vários fatos o referido 
autor cita um episódio em 1740: 
 
Acabavam os moradores do Bonfim de ter em sua vizinhança, a 
quatro léguas de Vila Boa, uma algazarra terrível de índios que não 
se sabia se seriam caiapós ou bororós. Dizia o conde d’Alva que 
haviam vindo “insultar aos roceiros daquelas paragens em suas 
próprias casas, matando-lhes suas mulheres, filhos, e escravos, e 
também cavalos, porcos e mais criações, além de lhes queimarem as 
casas e tulhas.(TAUNAY, 1850, p. 210). 
 
Além dos conflitos e guerras com os indígenas, os portugueses e 
paulistas encontravam no sertão os ataques fulminantes dos quilombos. Para Glória 
Kok (2004, p. 47), a bandeira do Mestre de Campo, Inácio Correia Pamplona, que 
perambulou pelo sertão de Goiás em 1769 era formada por escravos, um cirurgião e 
um grupo de oito músicos com violas, rebecas, trompas e flautas travessas. 
Conflitos entre aventureiros, indígenas e negros quilombolas foram 
permanentes durante todo o período de ocupação do território goiano. Quando os 
grupos não estavam em guerra havia entre eles atritos, medo e desconfiança. Neste 
contexto de guerra entre o homem branco e as populações nativas, a família coesa 
era de suma importância para vencer os desafios do cotidiano. Neste sentido, 
expressava Alcântara Machado: 
 
Que vale sozinho, o individuo, num ambiente em que a força 
desabusada constitui a lei suprema? Agredido, perseguido, oprimido, 
como há ele de contar, no deserto que o insula, com a proteção do 
poder público, proteção que, mesmo nos vilarejos policiados da 
colônia, é duvidosa? E como esperar auxílio de estranhos, se deles 
está separado materialmente por léguas e léguas de sertão ou 
moralmente distanciados por dissídios e rivalidades? Para não 
sucumbir, tem de congregar-se aos que lhe são vizinhos pelo 
interesse e pelo sangue. É o instinto de conservação que solidariza a 
parentela. (1972, p. 151) 
 
Os arranjos de família foram fundamentais na luta pela sobrevivência nos 
territórios distantes dos grandes centros em que a urbanização já havia vencido as 
CAPÍTULO I – MIGRAÇÃO E FAMÍLIA 34
adversidades e as incertezas da vida no sertão. Seja qual for a organização da vida 
em família, ela foi de capital importância no processo de povoamento na América 
Portuguesa. De meados do século XVII, tem-se o exemplo do paulista Pedro Vaz de 
Barros, o Guaçu de alcunha, que nunca foi casado, mas teve filhos bastardos de 
nove mulheres índias (KOK, 2004, p. 65). No caso especifico de São Paulo, a 
composição da população mestiça, até meados dos séculos XVIII, era basicamente 
de descendente de índios e brancos em virtude da presença tardia dos escravos 
africanos na região. É claro que esta situação contrariava as orientações da igreja 
que sempre combateu o concubinato e a prole de crianças ilegítimas. Até mesmo, a 
Coroa portuguesa chegou estimular o casamento interétnico e combater a poligamia 
vigente na Colônia. 
Na Capitania de Goiás encontra-se, a partir da primeira metade do século 
XVIII, a presença de vários ramos paulistas em busca do ouro e da fortuna, 
conforme nos informa a Nobiliarquia Paulistana. Vários paulistas partiram com a 
família para as novas minas, como Pedro Taques de Almeida Paes Leme (1980, p. 
19) o fizera, mas a maioria dos mineiros brancos, compostos de celibatários, 
mantinha relações irregulares com negras, e índias, uniões que o espírito da casta 
não lhes permitia legalizarem. Entretanto, “os registros de batizados de Meia Ponte 
apontam numerosos casais legalmente constituídos em 1732 (PALACIN, 1994, p. 
79)”. 
É desnecessário ressaltar o papel desempenhado por João Leite Ortiz e 
Bartolomeu Paes de Abreu no processo de descoberta e povoamento de Goiás. A 
partir deles ocorreu a grande onda migratória de famílias paulistas para a Capitania. 
A vinda de Leonor Corea de Abreu, Irmã de Bartolomeu, com vários filhos e netos 
confirma a nossa afirmação. Casada com José Dias da Silva, este último era 
sobrinho do povoador de Santa Catarina, Francisco Dias Velho, e procedia das mais 
velhas linhagens de S. Paulo. Dos filhos deste casal que passaram às minas de 
Goiás, o primogênito Estevão Raposo da Silva nelas faleceu, com isso sua viúva 
Joana da Silva voltou para a terra natal, a Vila de Pindamonhangaba (TAUNAY, 
1850, p. 270). 
Outros membros da mesma família, descendente de Teresa Corrêa da 
Silva Leite, irmãos de Inácio Dias Paes, também se estabeleceram em Vila Boa. 
Ainda outra filha de Leonor de Abreu e João Dias da Silva, Maria Leite da Silva, 
CAPÍTULO I – MIGRAÇÃO E FAMÍLIA 35
passou-se a Goiás com o marido José Álvares fidalgo, português, antigo republicano 
de São Paulo. Deste casal, númerosos filhos se radicaram em Goiás, como Quitéria 
Felizarda Leite, casada com o Dr. Francisco Ângelo Xavier de Aguirre, paulistano, 
que, depois de receber o grau de mestre em artes, teve por letras apostólicas o de 
doutor em Teologia e Direito canônico e civil. Era homem de relevo intelectual que 
depois de enviuvar, recebeu ordens sacras e acabou vigário de Paraty e 
Guaratinguetá, onde morreu em 1784, deixando vários filhos em Goiás (TAUNAY, 
1850, p. 272). 
Vários emigrados de destaque saíram de São Paulo para as terras 
goianas. Pedro Taques de Almeida Paes Leme (1980) chama atenção para a família 
de Domingos da Silva Bueno e seu irmão Manuel de Carvalho da Silva Bueno. Eram 
ambos os filhos do primeiro Domingos da Silva Bueno, mestre de Campo, cujo nome 
figura com grande brilho nos primeiros anos da história de Minas Gerais. Passou o 
segundo Domingos, que era homem de fortuna, a lavrar em Crixás. Dos seus 
parentes mais ou menos próximos, Taques Pompeu cita o linhagista Paulo Carlos da 
França, casado com sua prima Escolástica do Amaral, que se fixou nas Minas do 
Maranhão; Maria Leite de Proença, casada com Brás Lopes de Miranda, 
mineradores em Meia Ponte; João Pires de Almeida, filho de Francisco de Almeida 
Lara, um dos mais importantes mineiros de Paracatu e homem muito áspero com os 
filhos e escravos (LEME, 1980a, p. 202). 
Outra família que se destacou em Goiás foi os Campos. Felipe Cordeiro 
de Campos, paraibano que figurou entre os primeiros povoadores, vindo ficar muito 
abastado com as minas do Ferreiro. Contudo acabou pobre, viúvo e sem filhos. 
Procurou com resignação servir a Nossa Senhora da Luz tomando o hábito de 
ermitão. Assim voltou a São Paulo e procurou dedicar sua vida, no mosteiro da luz. 
Entrou em obras, cercando de muros o sitio, fazendo casa para romeiros e hortaliças 
(LEME, 1980a, p. 243). 
Entre os Lemes emigrados às lavras goianas, Pedro Taques de Almeida 
Paes Leme (1980a) cita Francisca de Godói, neta de Francisca da Silva, cujo marido 
era o paulistano Francisco Rodrigues Pimentel. Domingos Jorge da Silva, familiar do 
Santo Ofício, filho do sertanista Salvador Jorge Velho, opulento vassalo que em 
1711 guarnecera Santos, ameaçado pelos Franceses veio a falecer no sertão do Rio 
Pardo na estrada de Goiás. Ainda entre os Lemes, cita-se um nome de maior 
CAPÍTULO I – MIGRAÇÃO E FAMÍLIA 36
destaque: o de Antonio Ferraz de Araújo, sobrinho de Fernão Dias Paes e marido de 
Maria Pires Bueno, irmã do Anhanguera. De seus noves filhos, todos naturais de 
Parnaíba nenhum se fixou em Goiás. 
Fato interessante ocorreu com o sertanista Francisco Tavares Cabral, da 
família dos Lemes, homem prestigioso e de muita fortuna. Era muito gastador, mas 
ao mesmo tempo protetor da capela de Santana. Fazia com que a padroeira fosse 
aplaudida com grandeza, não só no recinto da igreja, mas também nos festejos de 
comédia e banquetes que executavam com toda abundância de iguaria. Para estas 
festividades convidava “os de primeira nobreza das vilas de Santos e São Vicente”. 
Uma de suas filhas, Francisca Xavier Tavares, casou-se com Francisco Xavier 
Pizarro, da família do conquistador do Peru. Partiu para as minas de Goiás no 
principio de sua grandeza, estabelecendo-se no Ferreiro com numerosa escravatura. 
Com a queda da produção de ouro deste arraial passou para as Minas do Pilar. 
Vendo o pai em má situação financeira e com idade avançada o induziu a sair de 
Santos para Goiás com todos os treze filhos. O pai morreu no caminho, mas toda 
família transmigrou com as noticias do eldorado goiano. Bento Tavares Cabral, 
estudante de gramática latina com destino ao estudo sacerdotal, abandonou tudo 
para acompanhar a família.

Mais conteúdos dessa disciplina