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Literatura Brasileira (2)

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Prévia do material em texto

Literatura BrasileiraLiteratura Brasileira
AUTORIA
Bruno Alexandre Matsushita
Bem vindo(a)!
Seja bem-vindo(a), caro(a) aluno(a)!
Convido você a entrar comigo neste universo da Literatura Brasileira e aprender
mais sobre a literatura, o que é arte, seus aspectos culturais, características do texto
literário e não literário, as manifestações literárias e os principais expoentes de nossa
literatura.
Na Unidade I, discorrerei sobre o papel do texto, o que é literatura, o que con�gura
um texto literário, os recursos necessários para identi�car e catalogar um texto
como literário, as formas literárias, e como eles in�uenciaram a construção de nossa
cultura folclórica e apresentarei um roteiro bem detalhado de como realizar uma
análise de textos literários.
Na Unidade II, apresentarei a você as diferentes formas de representações literárias,
falaremos sobre falaremos sobre as principais manifestações na Literatura Brasileira
e seus principais autores, falaremos também sobre literatura escrita por mulheres,
literatura escrita por minorias e classes mais vulneráveis como forma de libertação e
expressão dessa cultura.
Já na Unidade III, abordaremos as modalidades clássicas de textos literários e
discorreremos sobre as particularidades da Literatura Brasileira, falaremos também
sobre o cânone literário e como se dá o processo de escolha de livros e materiais
para o ensino de literatura, por meio das teorias sobre letramento literário.
Por �m, na Unidade IV, abordaremos as práticas literárias, como orientar e planejar
o�cinas pedagógicas sobre contação de histórias, o papel do professor como
mediador da leitura literária e os processos de formação do leitor de textos literários
e outros, como vídeos, HQs, cinema, televisão, pinturas e fotogra�as.
Espero que você aproveite este curso e que ele possa expandir seus conhecimentos
sobre o universo da Literatura Brasileira. É um prazer poder contribuir em sua
jornada rumo ao conhecimento! Um abraço e bom estudo!
Bruno Alexandre Matsushita
Unidade 1
O papel do texto
AUTORIA
Bruno Alexandre Matsushita
Introdução
Prezado(a) aluno(a), vamos iniciar nosso curso de Literatura Brasileira discorrendo
sobre o que é literatura e sua difícil de�nição, pois veremos que é um conceito
construído culturalmente por um processo histórico. Aprenderemos também sobre
os elementos que tornam um texto literário ou não, como a forma, as �guras de
linguagens podem tornar o texto literário e também discorreremos sobre os
operadores de leitura dos textos literários, principalmente dos gêneros narrativo e
lírico. Embora este seja um capítulo bastante teórico e com muitas conceituações,
vamos exempli�car sempre que possível para que você se sinta mais confortável e
consiga compreender todos esses conceitos!
Boa leitura!
O que é literatura
AUTORIA
Bruno Alexandre Matsushita
Quando pensamos em literatura, logo nos vem à mente textos rebuscados, por
vezes de difícil compreensão e alguns títulos como Dom Casmurro, Grande Sertão:
Veredas e Marília de Dirceu, mas, a�nal, o que é Literatura? Antes de respondermos
essa pergunta, precisamos atentar para o processo de construção do que
entendemos hoje como literário.
De acordo com Zappone e Wielewicki (2009, p. 19),
esse processo mental de associação entre a palavra literatura e esse rol
especí�co de textos parece-nos muito natural e imediato, de forma que
o próprio conceito de literatura  , mistura-se com a descrição desse
determinado conjunto de textos. E, assim, �camos com a impressão de
falar de um objeto, a literatura, como um fato concreto, imediato,
pronto e acabado, como se sempre tivesse sido assim. [...] Como
comenta Williams (1979), ao falar desse processo de associação entre
conceito e descrição da literatura, “esse é um sistema de abstração
poderoso, e por vezes proibitivo, no qual o conceito de ‘literatura’ é
ativamente ideológico” (WILLIAMS, 1979, p. 51). E o aspecto ideológico
dessa associação reside no fato de ele apagar ou encobrir para todos
nós a ideia de que o conceito de literatura construiu-se e constrói-se
através de um processo que é social e histórico ao mesmo tempo.
  Ou seja, o que entendemos hoje como literatura é construção de um processo
histórico, social e cultural. O que conhecemos hoje como literatura, uma arte
diferente da música, pintura e cinema, por exemplo, é fruto de um processo que
começou a desenvolver-se após metade do século XVIII e concretizou-se no século
XIX. O termo “literatura”, no passado, era utilizado para referir-se a qualquer estudo
de área especí�ca, era mais uma característica de alguém que sabia ler e escrever,
em tempos em que pouquíssimas pessoas eram dotadas de tais habilidades, do que
do objeto por si mesmo. Vemos resquícios disso quando nos deparamos com
expressões como “literatura médica”. Ainda de acordo com Zappone e Wielewicki
(2009, p.20), “mesmo no sentido inicial de seu emprego, a saber, como uma
condição cultural (muito próxima ao conceito atual de letramento), a literatura
especi�cava uma distinção social particular, ligando-a, portanto, às classes
privilegiadas”.
Após a segunda metade do século XVIII é que a palavra literatura passou a abarcar
outras signi�cações, além de “conhecimento” e “erudição”, como um fenômeno
estético e artístico relacionado à uma ideia de “gosto” e “sensibilidade”. É importante
ressaltar que a literatura era privilégio de uma classe abastada, logo, 
as ideias de gosto, de beleza e de sensibilidade, através das quais se
defendeu o argumento estético da literatura, foram, sem dúvida, o
resultado da atividade de setores dominantes que exerceram a própria
atividade do gosto como forma de disseminar seus valores. Esse gosto,
exercido como algo objetivo, desempenhou, em termos de valores de
classe, um papel su�cientemente hegemônico para que fosse aceito,
tanto pelos “amadores cultos” que o exerciam, quanto pelo público
leitor que paulatinamente se ampliava. Williams (1979), chama atenção
para o fato de esse “gosto”, que passou a aquilatar como literário certos
textos, possuir uma base caracteristicamente burguesa e subjetiva
(ZAPPONE; WIELEWICKI, 2009, p. 21).
Como podemos observar, com o passar do tempo, foram sendo atribuídos diversas
características ao termo literatura. Foi apenas no �nal do século XIX e início do
século XX que os teóricos e �lósofos passaram a de�nir a literatura como um fato
concreto e observável, antes pautado nas impressões subjetivas e sensíveis, agora
mais voltadas a um método mais objetivo. Ou seja, os textos deveriam possuir
características muito especí�cas que comprovariam sua literariedade e, por
consequência, os diferenciariam de outros textos, tidos como não-literários. Essa
corrente foi extremamente popular na época e algumas escolas reproduzem seu
discurso, como a do Formalismo Russo e a do New Criticism.
Essas escolas textualistas acreditam que o texto literário possui características que o
tornam literário. 
Já na década de 60, no século XX, alguns teóricos passam a atentar ao fato que as
“características literárias” podem ser encontradas também em textos referenciais,
tidos como não-literários. Vejamos o exemplo abaixo: 
SAIBA MAIS
Basicamente e de forma sumária, podem ser consideradas como
marcas textuais de literariedade: 1) a oposição da linguagem literária à
linguagem comum, sendo a literatura uma forma textual que coloca
em primeiro plano a própria linguagem, ou seja, há ênfase na função
poética dessa linguagem; 2) a integração da linguagem como
organização especial de palavras e estruturas que estabelecem relações
especí�cas entre si, potencializando o sentido dos textos; 3) a distinção
entre o caráter referencial dos textos não-literários e o caráter �ccional
dos textos literários, ou seja, a literatura abarcaria textos que criam uma
relação especial com o mundo: uma relação �ccional onde o mundo, os
eventos e os seres evocados não precisam, necessariamente, ser reais,
mas criados ou imaginados; 4) os textos literários teriam um �m em si
mesmos, pois, ao colocar a própria linguagemem primeiro plano,
estariam operando seu caráter estético, que ocasionaria, por sua vez, o
prazer nos receptores desse texto. (ZAPPONE; WIELEWICKI, 2009, p. 22 -
23).
Assassinato na Rua da Constituição Tragédia Brasileira(Manuel Bandeira)
O funcionário do Ministério da Fazenda, Misael,
63, matou a tiros a ex-prostituta Maria Elvira,
com quem vivia há três anos. O crime ocorreu
na rua da Constituição, Rio de Janeiro,
motivado, ao que parece, por uma série de
traições da mulher. Ao que tudo indica, os
amantes mudavam-se de bairro toda vez que
Misael, avesso a escândalos, descobria uma
traição de Maria Elvira. A polícia encontrou a
vítima em decúbito dorsal, com marcas de seis
tiros no corpo. 
(ARNALDO JUNIOR, 2009, p. 35)
Misael, funcionário da
Fazenda, com 63 anos
de idade. 
Conheceu Maria Elvira
na Lapa - prostituída,
com sí�lis, dermite nos
dedos, uma aliança
empenhada e os dentes
em petição de miséria.
Misael tirou Maria Elvira
da vida, instalou-a num
sobrado no Estácio,
pagou médico, dentista,
manicura... 
Dava tudo quanto ela
queria. 
Quando Maria Elvira se
apanhou de boca
bonita, arranjou logo
um namorado. 
Misael não queria
escândalo. Podia dar
uma surra, um tiro, uma
facada. Não fez nada
disso: mudou de casa. 
Viveram três anos assim. 
Toda vez que Maria
Elvira arranjava um
namorado, Misael
mudava de casa. 
Os amantes moraram
no Estácio, Rocha,
Catete, Rua General
Pedra, Olaria, Ramos,
Bom Sucesso, Vila
Isabel, Rua Marquês do
Sapucaí, Niterói,
Encantado, Rua Clapp,
outra vez no Estácio,
Todos os Santos,
Catumbi, Lavradio, Boca
do Mato, Inválidos... 
Por �m, na Rua da
Constituição, onde
Misael, privado de
sentidos e de
Observe que os dois textos abarcam a mesma temática, uma mulher assassinada a
tiros por um homem que fora traído, mas, individualmente, cada texto suscita
emoções diferentes no leitor. O primeiro, Assassinato na Rua da Constituição, tem
caráter descritivo, objetivo, aparentemente descompromissado com a construção da
estética e recepção do texto, tendo como único objetivo informar o ocorrido e
podendo ser veiculado, muito provavelmente, em um jornal. O segundo, por sua vez,
Tragédia Brasileira, cria uma atmosfera que ambienta o leitor sobre a história
narrada, há uma preocupação estética por parte do narrador em como o texto vai
ser recebido pelo seu leitor. Ante o exposto, �ca evidente que, diferentemente do
primeiro texto, o segundo tem características literárias. 
Se o texto literário nem sempre tem marcas em si mesmo de sua literariedade, é a
partir da década de 60 que os teóricos passam a considerar o leitor no processo de
de�nição do que é literatura. “Assim, o ponto de discussão sobre o que é literatura
desloca-se da esfera do texto e de suas ‘propriedades peculiares’ e passa para a
esfera do leitor, uma vez que o texto só existiria a partir do ato de leitura dos leitores
e o seu signi�cado só emergiria através de um ato interpretativo” (ZAPPONE;
WIELEWICKI, 2009, p. 23).
Todos os escritores, no momento em que escrevem, têm presente um
público para além deles próprios. Uma coisa não está inteiramente dita
até que é dita a alguém: isto é, como vimos, o sentido do acto da
publicação. Mas podemos igualmente a�rmar que uma coisa apenas
pode ser dita a alguém (isto é, publicada) se for dita por alguém. Os
dois “alguém” não têm forçosamente que coincidir. É mesmo raro que
tal aconteça. Por outras palavras, existe um público-interlocutor na
própria origem da criação literária (ESCARPIT, 1969, p. 165).
Nessa nova fase de de�nição da literatura, com uma abordagem mais sociológica, o
caráter literário do texto é de�nido por sua recepção, das relações entre texto/autor e
o público leitor. Essa visão com abordagem sociológica in�uenciou Cândido (1981)
em sua elaboração de um sistema literário.
inteligência, matou-a
com seis tiros, e a polícia
foi encontrá-la caída em
decúbito dorsal, vestida
de organdi azul. 
(BANDEIRA, 1973, p. 146 -
7)
[...] convém principiar distinguindo manifestações literárias, de
literatura propriamente dita, considerada aqui um sistema de obras
ligadas por denominadores comuns, que permitem reconhecer as
notas dominantes de uma fase. Estes denominadores são, além das
características internas (língua, temas, imagens), certos elementos de
natureza social e psíquica, embora literariamente organizados, que se
manifestam historicamente e fazem da literatura aspecto orgânico da
civilização. Entre eles se distinguem: a existência de um conjunto de
produtores literários, mais ou menos conscientes do seu papel; um
conjunto de receptores, formando os diferentes tipos de público, sem
os quais a obra não vive; um mecanismo transmissor (de modo geral,
uma linguagem traduzida em estilos), que liga uns a outros (CANDIDO,
1981, p. 23).
Esse sistema literário apresentado por Antonio Candido em 1959, no livro A
Formação da Literatura Brasileira, rea�rma a tríade autor-obra-público, como
caráter fundamental para que a literatura possa existir. Para Cândido, quando os
elementos supracitados no excerto não estão articulados, não se pode a�rmar que
há literatura, e sim manifestações literárias.
De acordo com Zappone e Wielewicki (2009, p. 25),
se literatura é comunicação e se erige pelos espaços que unem autor-
obra-público, o conceito de sistema literário de Candido pode ser
produtivo como explicação teórica do funcionamento e construção da
literatura. O conhecimento de como esses elementos se relacionam
dinamicamente no tempo pode ajudar a compreender os caminhos
através dos quais a literatura vai se construindo e se constituindo,
enquanto expressão de uma sociedade.
De acordo com Fish (1980, p.10 - 11),
literatura, é meu argumento, é uma categoria convencional. Aquilo que
será, a qualquer tempo, reconhecido como literatura é função de uma
decisão comum sobre aquilo que contará como literatura. Todos os
textos têm potencial para isso, naquilo que é possível considerar
qualquer trecho de linguagem de tal forma que ele revelará aquelas
propriedades presentemente entendidas como literárias. [...] A
conclusão é que enquanto literatura é ainda uma categoria, é uma
categoria aberta, não de�nida por �ccionalidade, ou por descaso com
uma verdade proposicional, ou por uma predominância de tropos ou
�guras, mas simplesmente por aquilo que decidimos colocar ali. E a
conclusão dessa conclusão é que o leitor é quem “faz” a literatura. [...]
Assim, o ato de reconhecer literatura não é compelido por algo no
texto, nem emerge de uma vontade independente e arbitrária; em
lugar disso, procede de uma visão coletiva acerca do que contará como
literatura, uma decisão que estará em vigor somente enquanto uma
comunidade de leitores ou crentes continuar a sustentá-la.
A visão de Fish (1980) acerca do que é literatura também está centrada no receptor
da obra, o leitor, há uma instituição que valida o que é aceito como literário ou não.
Podemos citar ainda Cereja e Magalhães (1997, p. 4): “A literatura, como os demais
campos da cultura e da arte, não é um fenômeno isolado. Ela in�uencia e é
in�uenciada por escritores do passado e do presente, por outras artes, por fatores
políticos e sociais, por modismos, movimentos culturais, etc”. 
Se o texto literário nem sempre tem marcas em si mesmo de sua literariedade, é a
partir da década de 60 que os teóricos passam a considerar o leitor no processo de
REFLITA
“A arte, e portanto a literatura, é uma transposição do real para o ilusório
por meio de uma estilização formal, que propõe um tipo arbitrário de
ordem para as coisas, os seres, os sentimentos. Nela se combinaram um
elemento de vinculação à realidade natural ou social, é um elemento de
manipulação técnica, indispensável à sua con�guração, e implicando
uma atitude de gratuidade. Gratuidade tanto do criador, no momento
de conceber e executar, quanto do receptor, no momento de sentir e
apreciar.”
(CANDIDO, Antonio. Estímulos da criação literária. In: Literatura e
Sociedade. 3a. Ed. Rev. São Paulo: Nacional, 1973, p. 53).
de�nição do que é literatura. “Assim, o ponto de discussãosobre o que é literatura
desloca-se da esfera do texto e de suas ‘propriedades peculiares’ e passa para a
esfera do leitor, uma vez que o texto só existiria a partir do ato de leitura dos leitores
e o seu signi�cado só emergiria através de um ato interpretativo” (ZAPPONE;
WIELEWICKI, 2009, p. 23).
Todos os escritores, no momento em que escrevem, têm presente um
público para além deles próprios. Uma coisa não está inteiramente dita
até que é dita a alguém: isto é, como vimos, o sentido do acto da
publicação. Mas podemos igualmente a�rmar que uma coisa apenas
pode ser dita a alguém (isto é, publicada) se for dita por alguém. Os
dois “alguém” não têm forçosamente que coincidir. É mesmo raro que
tal aconteça. Por outras palavras, existe um público-interlocutor na
própria origem da criação literária (ESCARPIT, 1969, p. 165).
Nessa nova fase de de�nição da literatura, com uma abordagem mais sociológica, o
caráter literário do texto é de�nido por sua recepção, das relações entre texto/autor e
o público leitor. Essa visão com abordagem sociológica in�uenciou Cândido (1981)
em sua elaboração de um sistema literário.
[...] convém principiar distinguindo manifestações literárias, de
literatura propriamente dita, considerada aqui um sistema de obras
ligadas por denominadores comuns, que permitem reconhecer as
notas dominantes de uma fase. Estes denominadores são, além das
características internas (língua, temas, imagens), certos elementos de
natureza social e psíquica, embora literariamente organizados, que se
manifestam historicamente e fazem da literatura aspecto orgânico da
civilização. Entre eles se distinguem: a existência de um conjunto de
produtores literários, mais ou menos conscientes do seu papel; um
conjunto de receptores, formando os diferentes tipos de público, sem
os quais a obra não vive; um mecanismo transmissor (de modo geral,
uma linguagem traduzida em estilos), que liga uns a outros (CANDIDO,
1981, p. 23).
Esse sistema literário apresentado por Antonio Candido em 1959, no livro A
Formação da Literatura Brasileira, rea�rma a tríade autor-obra-público, como
caráter fundamental para que a literatura possa existir. Para Cândido, quando os
elementos supracitados no excerto não estão articulados, não se pode a�rmar que
há literatura, e sim manifestações literárias.
De acordo com Zappone e Wielewicki (2009, p. 25),
se literatura é comunicação e se erige pelos espaços que unem autor-
obra-público, o conceito de sistema literário de Candido pode ser
produtivo como explicação teórica do funcionamento e construção da
literatura. O conhecimento de como esses elementos se relacionam
dinamicamente no tempo pode ajudar a compreender os caminhos
através dos quais a literatura vai se construindo e se constituindo,
enquanto expressão de uma sociedade.
De acordo com Fish (1980, p.10 - 11),
literatura, é meu argumento, é uma categoria convencional. Aquilo que
será, a qualquer tempo, reconhecido como literatura é função de uma
decisão comum sobre aquilo que contará como literatura. Todos os
textos têm potencial para isso, naquilo que é possível considerar
qualquer trecho de linguagem de tal forma que ele revelará aquelas
propriedades presentemente entendidas como literárias. [...] A
conclusão é que enquanto literatura é ainda uma categoria, é uma
categoria aberta, não de�nida por �ccionalidade, ou por descaso com
uma verdade proposicional, ou por uma predominância de tropos ou
�guras, mas simplesmente por aquilo que decidimos colocar ali. E a
conclusão dessa conclusão é que o leitor é quem “faz” a literatura. [...]
Assim, o ato de reconhecer literatura não é compelido por algo no
texto, nem emerge de uma vontade independente e arbitrária; em
lugar disso, procede de uma visão coletiva acerca do que contará como
literatura, uma decisão que estará em vigor somente enquanto uma
comunidade de leitores ou crentes continuar a sustentá-la.
Observamos até aqui, caro(a) aluno(a), que os conceitos de literatura foram sendo
atualizados com o passar do tempo: desde o século XVIII, quando abrangia textos
valorizados pela sociedade abastada da época (�loso�a, medicina, história, dentre
outros), até às impressões sensíveis de seus leitores. Portanto, as relações de poder e
o contexto histórico é que determinam o que vem sendo expressão de literatura ou
não, em cada época, sendo parciais todas as de�nições apresentadas até aqui, uma
vez que o termo ainda está em devir, em construção. 
Tipos de texto: literário ou
não-literário?
AUTORIA
Bruno Alexandre Matsushita
Como mensurado anteriormente, algumas correntes textualistas, como o
Formalismo Russo e o New Criticism, buscam no próprio texto marcas de sua
literariedade, desconsiderando nesse processo de reconhecimento o leitor e suas
impressões. É preciso entender que o que consideramos hoje como texto literário
nem sempre o foi, por exemplo, Os Sermões, do Padre Antônio Vieira, tinha um
caráter extremamente doutrinário, com �ns religiosos; Os Sertões, de Euclides da
Cunha, embora seja um texto literário, tem um forte apelo cientí�co e histórico que
muitas vezes não é percebido pelo leitor comum.
É importante ressaltar que o texto literário é mimético e �ccional. Mímesis vem do
grego μίμησις e signi�ca imitação, o espaço descrito em uma obra pode
corresponder a espaços físicos reais, mas não o são de fato, ele é uma imitação, uma
representação, desses espaços reais; logo, é �ccional.
Então, podemos dizer que para um texto ser considerado literário ou não, além das
marcas textuais que apresentaremos a seguir, nos próximos tópicos deste capítulo, e
também marca de �ccionalidade, ele precisa ser avalizado por uma instituição,
geralmente acadêmica, ou legitimada por um público leitor que o considera como
tal.
Gêneros e formas literárias:
prosa e poesia
AUTORIA
Bruno Alexandre Matsushita
O �lósofo grego Aristóteles classi�cou os textos literários/�ccionais em três grandes
categorias: épico, lírico e dramático. Por meio das transformações culturais e de
gosto da sociedade em que estamos inseridos, atualmente, teóricos preferem
classi�car os textos literários em: narrativo, lírico e dramático. Focaremos, neste
momento, apenas nos gêneros narrativo (prosa) e lírico (poesia).
Gênero narrativo
O gênero narrativo é o gênero que mais estamos familiarizados no ocidente, pois é
um texto contínuo, corrente, que conta sobre determinados fatos. Em Língua
Portuguesa, convencionou-se escrever este gênero da esquerda para a direita, de
cima para baixo. O gênero narrativo se concretiza em diversos subgêneros, como:
romance, conto, crônica e até mesmo gêneros híbridos, como o romance lírico.
Gênero lírico
O gênero lírico é o gênero que prioriza a subjetividade e se realiza, principalmente,
por meio da poesia. A poesia se concretiza em um poema, um texto escrito em
versos e que tem ritmo, cadência. Há, basicamente, duas formas de se construir o
ritmo em um poema: por meio da rima e por meio da métrica.
Precisamos atentar ao fato de que o elemento distintivo entre um gênero e outro é a
forma, e não o seu conteúdo, uma vez que há também textos narrativos, em prosa,
que têm alto grau de subjetividade, assim como há poemas que não possuem
marca alguma de subjetividade. O discurso da poesia é o verso, enquanto o da prosa
CONECTE-SE
Para saber mais sobre a classi�cação da poética de Aristóteles, a
classi�cação dos gêneros e como elas foram se modi�cando com o
tempo, recomendamos a leitura do ensaio A Teoria dos Gêneros de
Aristóteles, Boileau e Victor Hugo, de Nicole Ayres, cuja leitura pode ser
feita através do linque:
ACESSAR
é o da ausência do verso; o discurso da poesia está subordinado às questões
rítmicas, o discurso da prosa, embora também possa apresentar marcas de ritmo,
não. Por exemplo:
Percebemos que se trata de um poema, por conta de sua forma, estruturado em
versos, mas é um poema de caráter denotativo, referencial, provavelmente um
decalque de algum jornal.
Por hora, é importante que você saiba distinguir um texto narrativo, como um conto,
de um texto lírico/poético,um poema, por exemplo. Adiante, vamos explorar mais
essas características e aprenderemos a fazer uma leitura literária de ambos gêneros.
Poema tirado de uma notícia de jornal
(Manuel Bandeira)
João Gostoso era carregador de feira livre e morava no morro da
Babilônia num barracão sem número.
Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro
Bebeu
Cantou
Dançou
Depois se atirou na lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado.
(BANDEIRA, 1973)
Recursos estilísticos do
texto literário
AUTORIA
Bruno Alexandre Matsushita
Já vimos anteriormente que o texto literário é mimético e �ccional e tem um forte
apelo estético que se dá principalmente por meio da linguagem. Vimos também
que a linguagem literária é mais evidente no gênero lírico, uma vez que a poesia é
subjetiva, com linguagem carregada ao máximo de signi�cação. Assim, o que
diferencia um poema de um simples desabafo é sua articulação verbal, já que
ambas possuem subjetividade. Por isso, nenhum outro gênero depende tanto da
linguagem quanto do lírico.
Por sua concentração semântica, por seu ritmo e musicalidade, pela
procura dos efeitos sugestivos e simbólicos das palavras, pela fuga de
tudo aquilo que representa lugar-comum ou obviedade linguística,
pela tentativa de criação de uma unidade de efeito, em que deve
prevalecer a impressão de beleza e harmonia, a lírica obrigatoriamente
transforma a linguagem na sua própria essência. Daí que a linguagem
de um poema seja sempre palpável, opaca e insubstituível  
Dessa forma, é muito difícil encontrar bons poemas traduzidos, já que cada língua
possui suas peculiaridades, como o ritmo, a sonoridade, as possibilidades linguísticas
e a precisão vocabular; veremos adiante que uma das formas de se fazer análise de
um poema é por meio da escansão, a contagem de sílabas métricas, e na
transposição de uma língua para outra, o texto pode ser danado. A tradução é mais
comum e possível em outros gêneros, como o narrativo e o dramático.
Para Ezra Pound, além da sonoridade, do ritmo e da intensidade semântica, o
gênero lírico se caracteriza também pelo valor visual e emotivo das imagens.
Quando lemos um poema, logo nos vem à mente alguma imagem que nos incitam
a sentir o que é proposto pelo poema, como, por exemplo, neste poema de Olavo
Bilac:
Com a primavera, o sol dourando a areia, o verão, as roseiras etc., vemos que as
próprias imagens utilizadas pelo autor evocam uma atmosfera de realização
amorosa. A produção dessas imagens está relacionada aos recursos linguísticos,
especialmente a metáfora; esses recursos linguísticos também são conhecidos
como �guras de linguagem e ajudam os escritores a expressarem suas ideias com
energia, beleza, vivacidade e colorido; dentre as principais, listamos:
ÚLTIMA PÁGINA
Primavera. Um sorriso aberto em tudo. Os ramos
Numa palpitação de �ores e de ninhos.
Doirava o sol de outubro a areia dos caminhos
(Lembras-te, Rosa?) e ao sol de outubro nos amamos.
 
Verão. (Lembras-te, Dulce?) À beira-mar, sozinhos
Tentou-nos o pecado: olhaste-me... e pecamos;
E o outono desfolhava os roseirais vizinhos,
Ó Laura, a vez primeira em que nos abraçamos...
 
Veio o inverno. Porém, sentada em meus joelhos,
Nua, presos aos meus os teus lábios vermelhos,
(Lembras-te, Branca?) ardia a tua carne em �or...
 
Carne, que queres mais? Coração, que mais querer?
Passam as estações e passam as mulheres...
E eu tenho amado tanto! E não conheço o Amor!
Metáfora: é o emprego de um termo num sentido diferente do habitual, é uma
comparação implícita sem o uso de partículas conectivas (sendo a mais comum a
partícula como). Podemos citar como exemplo a música Gita, de Paulo Coelho e
Raul Seixas: “Eu sou a luz das estrelas / Eu sou a cor do luar / Eu sou as coisas da vida
/ Eu sou o medo de amar...”. Notamos que o eu-lírico faz muitas a�rmações
comparativas sobre o que ele é, mas sem utilizar-se da partícula como, assim,
poderíamos dizer que o eu-lírico é como a luz das estrelas, é como a cor do luar, é
como as coisas da vida e é como o medo de amar.
Símile: é o emprego de um termo no sentido diferente do habitual, como a
metáfora, mas com o uso de partículas conectivas (exemplos: como, do qual, assim
como). Por exemplo: Ele é tão esperto como uma raposa.
Metonímia: é a ampliação de âmbito de signi�cação de uma palavra ou expressão,
partindo de uma relação objetiva entre a signi�cação própria e a �gura. Há vários
tipos de metonímia, alguns exemplos:
O autor pela obra: Eu leio Guimarães Rosa.
O efeito pela causa: As cãs merecem respeito.
O continente pelo conteúdo: Bebi um copo de água.
A parte pelo todo: Moro no Brasil.
O material pelo objeto: O bronze repicava alegremente.
A marca pelo produto: Cortei-me com a Gilette.
Anáfora: é a repetição da mesma palavra ou expressão no início das frases, períodos
ou versos, como no trecho de A Canção de Romeu, de Olavo Bilac: Tudo é silêncio,
tudo calma, tudo mudez.
Pleonasmo: é o uso de palavras redundantes que avivam a elocução dando ênfase
ao que o autor quer ressaltar. Citamos como exemplo um trecho do poema de
Fernando Pessoa, Mar Português: “Ó mar salgado, quanto do teu sal / São lágrimas
CONCEITUANDO
Cãs: Substantivo feminino plural que se refere às mulheres de cabelos
brancos, geralmente anciãs.
Bronze: Na frase, o bronze faz referência ao sino que é feito do mesmo
material.
de Portugal”. Pode-se notar nesse trecho quantas palavras o eu-lírico utilizou para
ressaltar a salinidade do mar português: o adjetivo salgado e os substantivos sal e
lágrimas.
Polissíndeto: é a repetição dos conectivos, em especial da conjunção aditiva e,
dando maior dinamismo ao texto. Isso pode ser percebido no trecho do poema A
um Poeta, de Olavo Bilac: “Trabalha, e teima, e lima, e sofre, e sua!”
Assíndeto: é a omissão das conjunções, principalmente a aditiva e, conferindo uma
ideia de monotonia ao texto. O trecho de Joaquim Nabuco ilustra essa situação: “Eu
tinha a fama, a palavra, a carreira política....”
Elipse: é a omissão de palavras ou expressões facilmente subentendidas pelo
contexto e pode ocorrer na supressão de pronomes, conjunções, preposições ou
verbos. No trecho de Rubem Braga: “Veio sem pinturas, em vestido leve, sandálias
coloridas”, notamos que há a supressão do pronome ela (ela veio) e também da
preposição de (de sandálias coloridas).
Zeugma: é a omissão de palavras expressas anteriormente, �cando subentendida
sua repetição, como no trecho de Camilo Castelo Branco: “Foi saqueada a vila, e
assassinados os partidários dos Filipes”, em que há zeugma de verbo, sem esse
zeugma, a frase �caria: Foi saqueada a vila, e foram assassinados os partidários dos
Filipes.
Hipérbato: ocorre quando há uma inversão na ordem natural dos termos da oração
(sujeito + verbo + complemento), como no trecho de Carlos Drummond de Andrade:
“Passeiam, à tarde, as belas na Avenida”, sem a utilização de hipérbato, a frase
�caria: As belas passeiam na Avenida à tarde.
Aliteração: é a incidência de fonemas consonantais idênticos, como no famoso
Violões que Choram, de Cruz e Sousa: “Vozes veladas, veludosas vozes, / Volúpias de
violões, vozes veladas, / Vagam nos velhos vórtices velozes / Dos ventos, vivas, vãs,
vulcanizadas”. Notamos a incidência de palavras com sons de v, atribuindo ao
poema uma atmosfera de silêncio e sussurro.
Assonância: ocorre quando há repetição da mesma vogal ao longo de um verso ou
poema, como na música Ana de Amsterdam, de Chico Buarque e Ruy Guerra: “Sou
Ana, da cama / da cana, fulana, bacana / Sou Ana de Amsterdam” em que a
repetição da vogal a causa assonância no trecho supracitado.
Onomatopéia: ocorre quando uma palavra ou conjunto de palavras imitam um som
ou ruído, como uau para designar alegria, ufa para esforço físico, miau para o som
emitido pelo gato, dentre outros.
Sinestesia: é a fusão de diversas sensações sensoriais no texto. É o entrecruzamento
de dois ou mais órgãos dos sentidos dando uma sensação secundária (sensação
primária + sensação primária = sensação secundária). Assim, temos como exemplo
um trechodo poema Violões que Choram, de Cruz e Sousa: “Vozes veladas,
veludosas vozes”. Em vozes veludosas temos duas sensações primárias, a audição
(vozes) e o tato (veludosas), que geram uma sensação secundária (vozes doces,
calmas, serenas).
Antítese: ocorre quando se emprega juntas palavras ou expressões de sentidos
opostos, contrários, como em O Voo do Gênio, de Castro Alves: “Abaixo via a terra
abismo em treva! / Acima o �rmamento abismo em luz!”, em que as palavras abaixo
e acima são antônimas.
Hipérbole: é a �gura que engrandece ou diminui exageradamente a verdade a �m
de causar no leitor uma imagem emocionante ou impacto, como no trecho de
Emiliano Perneta: “São horas de sofrer. Que a dor me despedace”.
Prosopopeia: é a atribuição de ações ou qualidades humanas a seres inanimados,
irracionais ou abstratos, como no poema Noturno, de Raul de Leoni: “Os pinheiros
pensavam coisas longas, / Nas alturas dormentes e desertas... / O aroma nupcial dos
jasmins delirantes, / Diluindo um cheiro acre de resinas, / Espiritualizava e adormecia
/ O ar meigo e silencioso”.
Antes de encerrarmos este tópico, devemos ressaltar que muitos poetas
contemporâneos não se utilizam do recurso imagético e também de metáforas em
suas obras, utilizando uma linguagem mais rígida e quase sem musicalidade.
Mesmo assim, é inegável a beleza e qualidade de suas obras líricas, demonstrando,
dessa forma, que não há fórmulas ou cânone universal para produções artísticas.
Leitura e interpretação de
textos literários
AUTORIA
Bruno Alexandre Matsushita
Vimos até aqui que o conceito de literatura é construído de acordo com o tempo e a
sociedade, assim como o que é tido como literário ou não e também as formas
adequadas de ler esses textos. Quando nos propomos a analisar um objeto literário,
é preciso seguir algumas convenções de análise dessa esfera. É esperado que, de
um texto literário, seja feita uma leitura literária. De acordo com Hansen,
para que uma leitura se especi�que como leitura literária, é consensual
que o leitor deva ser capaz de ocupar a posição semiótica do
destinatário do texto, refazendo os processos autorais de invenção que
produzem o efeito de �ngimento. Idealmente, o leitor deve coincidir
com o destinatário para receber a informação de modo adequado. Essa
coincidência é prescrita pelos modelos dos gêneros e pelos estilos, que
funcionam como reguladores sociais da recepção compondo
destinatários especí�cos dotados de competências diversi�cadas
(HANSEN, 2005, p. 20).
Como se nota na fala de Hansen (2005), para que o leitor interaja de forma
adequada com o texto literário, faz-se necessário que ele conheça as convenções
que regem a escrita literária em seus diferentes gêneros (lírico, dramático, narrativo
e épico) e também dos estilos de época que regulavam essa escrita. Assim, entende-
se que a leitura literária supõe um leitor que tenha uma formação muito especí�ca,
que lhe permita depreender tais convenções de escrita �ccional e tal formação,
quase sempre, se concretiza na escola, lugar privilegiado para o ensino. Uma das
�nalidades do ensino da linguagem, inclusive, que compõem os Parâmetros
Curriculares Nacionais para o Ensino Médio é: “Analisar, interpretar e aplicar os
recursos expressivos das linguagens, relacionando textos com seus contextos,
mediante a natureza, função, organização das manifestações, de acordo com as
condições de produção e recepção” (BRASIL, 2002, p. 127).
Ainda retomando os conceitos de Hansen (2005), essa leitura literária implica em
refazer o processo de �ngimento idealizado pelo autor de determinada obra. Nesse
processo, deve ser analisado o narrador, o tempo, espaço, personagens e a diegese,
levando em conta também o contexto sociocultural do momento em que a obra foi
escrita. E para que essa leitura literária aconteça fazem-se necessários alguns
protocolos de leitura a serem seguidos, o que Aguiar (2000, p.21) chama de
“operações fundamentais”, para que ocorra uma “aproximação crítica de uma obra
literária”. Tais operações estão relacionadas à: paráfrase; análise; interpretação e
comentário. Das citadas, nos ateremos à análise, entendida pelo autor como “a
caracterização da forma particular de uma obra, através da consideração de seus
elementos internos e das relações que mantêm entre si” (AGUIAR, 2000, p. 22), e
nesse sentido, tem-se como exemplo o romance, que apresenta: tempo, espaço,
personagens, foco narrativo, ponto de vista, natureza da ação, quando há ação, “pois
há �cções, e não só contemporâneas, que se caracterizam pela sua falta ou
impossibilidade” (ibidem).
Apresentamos a seguir os operadores da leitura de textos narrativos e líricos.
Operadores da leitura de textos narrativos
Ao ler um texto narrativo, devemos atentar para as seguintes marcas:
Narrador – É quem conta a história narrada, com focalização interna (mostra o
ponto de vista de uma personagem) ou externa (tem acesso apenas ao mundo
exterior). Ele pode ser:
Onisciente: tem focalização externa, a narrativa é em terceira pessoa e o
narrador tem conhecimento de todos os fatos, inclusive acesso ao mundo
interior das personagens.
Participante: a narrativa é em primeira pessoa e o narrador participa da
história, interpretando os fatos à sua maneira e vivência.
Observador: o narrador tem uma participação leve da narrativa, ele pode
proferir seu testemunho sobre os fatos da narrativa, mas não chega a ter
Personagens – As personagens são de�nidas por meio do papel que
desempenham dentro da narrativa, a saber:
Protagonista: personagem central/principal da narrativa, não necessariamente
ética.
Antagonista: personagem que se opõe a personagem protagonista, criando a
tensão da narrativa, não necessariamente antiética.
Secundárias: personagens de menor importância dentro da narrativa.
Vale ressaltar que uma personagem pode assumir várias funções na narrativa e
algumas dessas funções podem ser assumidas por entidades inanimadas, como em
Vidas Secas, de Graciliano Ramos, em que a aridez do sertão é uma personagem
antagonista. As personagens também podem ser classi�cadas como:
Planas: elas são de�nidas, �xas, não mudam no decorrer da narrativa.
Esféricas: elas não são de�nidas, vão sendo caracterizadas no decorrer da
narrativa, causando, muitas vezes, surpresa ao leitor com sua evolução.
Tempo – Há basicamente três classi�cações nessa categoria:
Histórico: a época aproximada em que os fatos da narrativa aconteceram (por
exemplo, “a narrativa se passa no século XXI” ou “nos anos 2000” etc.).
Cronológico: é o tempo exato, que se conta no relógio, o tempo de duração da
narração (por exemplo, “a história narrada dura cerca de um dia” ou “cerca de
12 horas” etc.).
Psicológico: é o tempo que decorre numa ordem determinada pelo desejo ou
imaginação da personagem ou do narrador, é um tempo que altera a ordem
natural dos acontecimentos, sendo marcado pela percepção individual, logo
não pode ser precisado.
Espaço – é o local onde as ações acontecem, é fundamental para o gênero narrativo,
pois, muitas vezes, é no espaço que se dá a evolução da própria narrativa, por
exemplo, quando uma personagem se desloca de um espaço aberto para um
fechado, isso pode criar a tensão da obra. Os espaços podem ser: urbano, rural,
interior, exterior, imaginário, aberto, fechado, dentre outros.
Para ver na prática como funciona uma análise literária, solicitamos que você faça a
leitura do conto Uma Vela para Dario, de Dalton Trevisan:
 
Uma Vela para Dario  
(Dalton Trevisan)
Dario vem apressado, guarda-chuva no braço esquerdo. Assim que
dobra a esquina, diminui o passo até parar, encosta-se a uma parede.
Por ela escorrega, senta-se na calçada, ainda úmida de chuva. Descansa
na pedra o cachimbo. 
Dois ou três passantes à sua volta indagam se não está bem. Dario abre
a boca, move os lábios, não se ouve resposta. O senhor gordo, de
branco, diz que deve sofrer de ataque. 
Ele reclina-se mais um pouco, estendido na calçada, e o cachimbo
apagou. O rapaz de bigode pede aos outros se afastem e o deixem
respirar. Abre-lheo paletó, o colarinho, a gravata e a cinta. Quando lhe
tiram os sapatos, Dario rouqueja feio, bolhas de espuma surgem no
canto da boca. 
Cada pessoa que chega ergue-se na ponta dos pés, não o pode ver. Os
moradores da rua conversam de uma porta a outra, as crianças de
pijama acodem à janela. O senhor gordo repete que Dario sentou-se na
calçada, soprando a fumaça do cachimbo, encostava o guarda-chuva
na parede. Mas não se vê guarda-chuva ou cachimbo a seu lado. 
A velhinha de cabeça grisalha grita que ele está morrendo. Um grupo o
arrasta para o táxi da esquina. Já no carro a metade do corpo, protesta o
motorista: quem pagará a corrida? Concordam em chamar a
ambulância. Dario é conduzido de volta e recostado à parede - não tem
os sapatos nem o al�nete de pérola na gravata.
Alguém informa da farmácia na outra rua. Não carregam Dario além da
esquina; a farmácia no �m do quarteirão e, além do mais, muito peso. É
largado na porta de uma peixaria. Enxame de moscas lhe cobrem o
rosto, sem que façam um gesto para espantá-las.
Ocupado o café próximo pelas pessoas que apreciam o incidente e,
agora, comendo e bebendo, gozam as delícias da noite. Dario em
sossego e torto no degrau da peixaria, sem o relógio de pulso. 
Um terceiro sugere lhe examinem os papéis, retirados - com vários
objetos - de seus bolsos e alinhados sobre a camisa branca. Ficam
sabendo do nome, idade, sinal de nascença. O endereço na carteira é
de outra cidade. 
Análise:  Dalton Trevisan é um escritor contemporâneo curitibano que escreve
contos curtos, com linguagem concisa e expressiva. No conto Uma Vela para Dario,
o narrador conta a história de uma pessoa provavelmente epilética que morre como
indigente em uma grande metrópole. O narrador é onisciente, pois não analisa os
fatos, apenas apresenta-os ao leitor. Das personagens, a personagem protagonista é
Dario; a personagem antagonista é a chuva que atrapalhava o processo de
salvamento de Dario e a polícia que espantou a multidão, afastando Dario ainda
Registra-se correria de uns duzentos curiosos que, a essa hora, ocupam
toda a rua e as calçadas: é a polícia. O carro negro investe a multidão.
Várias pessoas tropeçam no corpo de Dario, pisoteado dezessete vezes. 
O guarda aproxima-se do cadáver, não pode identi�cá-lo - os bolsos
vazios. Resta na mão esquerda a aliança de ouro, que ele próprio -
quando vivo - só destacava molhando no sabonete. A polícia decide
chamar o rabecão. 
A última boca repete - Ele morreu, ele morreu. A gente começa a se
dispersar. Dario levou duas horas para morrer, ninguém acreditava
estivesse no �m. Agora, aos que alcançam vê-lo, todo o ar de um
defunto. 
Um senhor piedoso dobra o paletó de Dario para lhe apoiar a cabeça.
Cruza as mãos no peito. Não consegue fechar olho nem boca, onde a
espuma sumiu. Apenas um homem morto e a multidão se espalha, as
mesas do café �cam vazias. Na janela alguns moradores com
almofadas para descansar os cotovelos. 
Um menino de cor e descalço vem com uma vela, que acende ao lado
do cadáver. Parece morto há muitos anos, quase o retrato de um morto
desbotado pela chuva. 
Fecham-se uma a uma as janelas. Três horas depois, lá está Dario à
espera do rabecão. A cabeça agora na pedra, sem o paletó. E o dedo
sem a aliança. O toco de vela apaga-se às primeiras gotas da chuva, que
volta a cair.
  Professor, por gentileza, dê uma veri�cada se a gra�a do conto está
correta. Obrigado.
 Sim, está correta. Em literatura, muitas vezes os autores se utilizam de
licença poética para alterar a ordem das palavras na oração. Não sei
porquê algumas palavras aparecem sublinadas, mas estão corretas... rs
mais de seu desejo, sobreviver; e as personagens secundárias são o rapaz de bigode,
a velhinha e o menino de cor. O espaço é aberto, urbano, a rua de uma grande
cidade. Do tempo, temos o tempo histórico, provavelmente, século XX e também o
tempo cronológico, toda a história deve ter durado cerca de 5 horas para acontecer.
Operadores da leitura de poesia
Vimos que a poesia preza pelo ritmo e musicalidade, obtidos por meio da métrica e
das rimas. A poesia, por ser linguagem carregada ao máximo de signi�cado,
também evoca muitas imagens e signos complexos, por isso, é muito importante
fazer diversas leituras do poema, para que consigamos abstrair ao máximo a
essência do poema.
Ao ler uma poesia, devemos atentar para:
Versos – Os poemas possuem versos e a junção dos versos são chamadas de
estrofes.
REFLITA
Toda a obra de um homem, seja em literatura, música, pintura,
arquitetura ou em qualquer outra coisa, é sempre um autorretrato; e
quanto mais ele se tentar esconder, mais o seu caráter se revelará,
contra a sua vontade. (Samuel Butler)
Dito de maneira bastante simplória, o verso é uma linha de poema.
Difere da linha prosaica porque se sujeita, na poesia tradicional, a certa
regularidade métrica e rítmica. Seu variado modo de ser impõe uma
vasta terminologia. Verso branco é aquele destituído de segmento
rimante, verso agudo é aquele terminado em forma oxítona; verso
decassílabo é aquele constituído de dez sílabas. A poesia moderna,
desprezando a regularidade da métrica, devotou especial apreço ao
verso livre, aquele descompromissado com a medida dos outros versos
do poema, normalmente também livres. [...] O verso se mede pelo
número de sílabas que abriga. Pode ser, na ordem: monossílabo,
dissílabo, trissílabo, tetrassílabo, pentassílabo, heptassílabo, octossílabo,
eneassílabo, decassílabo, endecassílabo, dodecassílabo (ou
alexandrino). Alguns versos recebem nomes especiais: o de cinco
sílabas é chamado de redondilha menor e o de sete, de redondilha
maior. (CORTEZ; RODRIGUES, 2009, p. 63 - 4).
Para analisarmos um poema, precisamos analisar os versos, atentar para as sílabas
que compõem esse verso, esse processo é chamado de metri�cação ou escansão.
Neste momento, é preciso entender a diferença entre sílabas gramaticais e sílabas
métricas/poéticas. Veja o exemplo “Dado o avanço da hora”:
Tabela 1 -  Metri�cação
Fonte: adaptada de LETRANDO, on-line, 2020
No exemplo acima, na contagem das sílabas gramaticais, temos dez sílabas,
enquanto na contagem das sílabas métricas/poéticas, temos sete sílabas,
con�gurando o verso como redondilha maior ou heptassílabo (veremos essa
classi�cação logo adiante). De acordo com Zambrini (2020, on-line),
as sílabas poéticas são mais relacionadas com os sons (já que os
poemas têm uma preocupação grande com o ritmo, pois, quando esse
gênero foi inventado, ele era lido em voz alta ou cantado), e por isso, a
última sílaba tônica do verso sempre vai indicar o �m da escansão. E
em alguns casos pode haver união fonética, pois os sons são lidos como
juntos quando lemos em voz alta.
Dicas para fazer a escansão:
Não se contam as sílabas poéticas que estejam após a última sílaba tônica do
verso, ou seja, a escansão termina quando temos uma última sílaba tônica.
Ditongos têm valor de uma só sílaba poética.
Duas ou mais vogais, átonas ou tônicas, podem fundir-se entre uma palavra e
outra, formando uma só sílaba poética, pois se as lêssemos em voz alta os sons
delas sairiam grudadinhos.
Vamos ver alguns exemplos mais simples para vermos como isso funciona:
Mi / nha / ter / ra / tem / pal / mei / ras – 7 sílabas poéticas
Nesse caso, vamos contar apenas até “mei”, que é a última sílaba tônica, já que a
seguinte (“ras”) é muito mais fraca, e deve ser excluída da contagem.
Es / as / que-es / tou / a / man / do – 6 sílabas poéticas
Nesse caso, vamos contar apenas até “man”, pois é a última sílaba tônica do verso.
Além disso, é importante notarmos que, na terceira sílaba poética, o “que” e o “es” se
juntaram numa sílaba só, porque temos duas vogais juntas.
Rimas – As rimas são responsáveis por conferir ritmo e musicalidade ao poema.
Vimos que há �guras de linguagem, como a aliteração (repetição de fonemas
consonantais idênticos) e assonância (repetição de fones vocálicos idênticos), que
auxiliam na execução de rimas.
Entre as principais formas de rima, temos:
Alternadas: esquematizadas em ABAB
Cruzadas:esquematizadas em ABBA
Emparelhadas: esquematizadas em AABB
Como exemplo, apresentamos o poema A Doce Canção, de Cecília Meireles:
Neste exemplo, observamos que o esquema de rimas é: ABABA / ABABA.
Forma – Após a análise das rimas e métrica do poema, é preciso atentar à sua forma.
Há formas �xas dentro do gênero lírico, as principais são:
Soneto: É uma das estruturas mais conhecidas do gênero lírico. É formado por
dois quartetos de quatro versos cada um e dois tercetos de três versos cada
um, totalizando quatorze versos, rimados.
Haicai: É um poema que possui três versos, sendo o primeiro e terceiro
redondilhas menores (versos de cinco sílabas) e o segundo verso em
redondilha maior (verso de sete sílabas).
Limerique: É um poema curto, com quatro ou cinco versos e ritmo regular de
rimas AABBA.
Elegia: É um poema classi�cado por sua temática, sendo triste, melancólico e,
geralmente, composto como um lamento de morte, fúnebre.
Verso livre: São compostos por versos que não seguem nenhum padrão
métrico pré-estabelecido, tornando-se irregulares.
Pus-me a cantar minha pena
com uma palavra tão doce,
de maneira tão serena,
que até Deus pensou que fosse
felicidade – e não pena.
 
Por assim tão docemente
meu mal transformar em versos
oxalá Deus não o aumente
para trazer o Universo
de pólo a pólo contente.
Temática – Ao escrever um poema, o autor, por meio do eu-lírico, tenta eternizar um
momento, presenti�cando-o por meio da linguagem. Atente para a temática do
poema e o uso dos substantivos e adjetivos empregados pelo autor para sua
construção, as vogais que mais aparecem... Por exemplo, poemas com uma
temática triste e melancólica tendem a ter muitas palavras com as letras O e U, que
passam uma ideia de enclausuramento, angústia e tristeza.
Uma particularidade do gênero lírico é que, diferentemente do narrativo, em que a
história é contada por um narrador, no gênero lírico quem “conta a história” em um
determinado poema é denominado eu-lírico. A terminologia eu-poemático é
utilizada para se referir às características gerais de um determinado autor, por
exemplo, “o eu-poemático de Cruz e Sousa é marcado por um pessimismo e
também misticismo”, pois estamos falando das características gerais do autor, que
aparecem em seu conjunto de obras, e não especi�camente de um único poema.
Como modelo de análise de um poema, sugerimos a leitura de Mar Português, de
Fernando Pessoa:
Análise: Fernando Pessoa é um dos escritores portugueses mais conhecidos e
importantes da literatura moderna. O eu-lírico no poema Mar Português versa sobre
o mar de Portugal, que conferiu glórias, mas também desgraças, ao povo português.
Quanto à estrutura compositiva, o poema apresenta duas estrofes com seis versos
cada uma; dos versos, quanto às sílabas métricas, apresentam o seguinte esquema:
Mar Português
(Fernando Pessoa)
Ó mar salgado, quanto do teu sal 
São lágrimas de Portugal! 
Por te cruzarmos, quantas mães choraram, 
Quantos �lhos em vão rezaram! 
Quantas noivas �caram por casar 
Para que fosses nosso, ó mar! 
Valeu a pena? Tudo vale a pena 
Se a alma não é pequena. 
Quem quere passar além do Bojador 
Tem que passar além da dor. 
Deus ao mar o perigo e o abismo deu, 
Mas nele é que espelhou o céu.
os versos ímpares são decassílabos e os versos pares, octossílabos; quanto à
disposição das rimas no poema, elas são emparelhadas nas duas estrofes, seguindo
o esquema: AABBCC / DDEEFF.
Atenção, querido(a) aluno(a)! Independentemente de estar fazendo a leitura de um
texto narrativo ou de um poema, é preciso relacioná-lo ao momento em que ele foi
escrito, às características principais da escola literária a qual o texto pertence e/ou às
características individuais do autor, ressaltando-as em sua análise. Aprenderemos
sobre as principais características de cada período literário em nosso próximo
capítulo.
Chegamos ao �nal de nosso primeiro capítulo e espero que você esteja gostando
dessa nossa conversa sobre o que é literatura. Vimos até aqui que o conceito de
literatura é instável, �uido, pois depende do momento histórico e cultural em que
estão inseridos os indivíduos que desejam classi�cá-la. Apesar de difícil classi�cação,
há alguns gêneros literários estáveis, aprendemos neste capítulo sobre os dois
principais: o gênero narrativo e o gênero lírico; vimos suas principais características e
como fazer uma leitura adequada desses gêneros utilizando os operadores literários
corretos. No próximo capítulo, discorreremos sobre as principais escolas literárias e
escritos literários associados aos estudos culturais. Aguardo você!
Livro
Conclusão - Unidade 1
Vídeo
Unidade 2
Representações 
literárias
AUTORIA
Bruno Alexandre Matsushita
Introdução
Prezado(a) aluno(a), estamos de volta para mais uma aula sobre Literatura Brasileira!
Neste capítulo, discorreremos sobre as escolas literárias e seus principais expoentes,
explanando sobre as características principais de cada um dos movimentos literários
e de seus principais autores. Daremos atenção especial ao movimento Modernismo
e como ele in�uenciou o nosso gosto contemporâneo para o que é tido como
literário, seja na produção ou na recepção desses textos pelo público. Conversaremos
também sobre a relação entre literatura e os estudos culturais, sobre como a
literatura pode ser voz de classes marginalizadas pela sociedade fálica e patriarcal,
sendo instrumento de denúncia e crítica social. Falaremos sobre literatura produzida
por mulheres, negros e LGBTQI+. Espero que  possamos construir juntos novos
conhecimentos sobre a literatura e seus representantes!
Boa leitura!
Escolas literárias
AUTORIA
Bruno Alexandre Matsushita
Como vimos no primeiro capítulo deste curso, o conceito de literatura e textos
considerados literários foram sendo construídos e ressigni�cados com o passar do
tempo e cultura e, por conta disso, convencionou-se dividi-los em períodos com
características especí�cas, períodos estes tidos como escolas literárias. 
Por conta de os textos literários prezarem pelo escrito, a primeira escola literária no
Brasil aconteceu apenas no século XVI, com a vinda dos portugueses para nosso
país. Essa primeira escola é conhecida como Quinhentismo e seus escritores eram
cronistas, narrando as adversidades e conquistas de suas viagens. No Brasil, que
inicialmente possuía uma cultura de exploração, e não de colonização, a cultura era
deixada de lado, por isso o desenvolvimento literário em terras tupiniquins foi muito
lento.
Basicamente, podemos dividir as escolas literárias em dois grandes grupos: da era
colonial (quando ainda éramos colônia de Portugal e, consequentemente, com
gosto muito in�uenciado por nosso colonizador) e da era nacional (quando se deu a
emancipação política do Brasil). É apenas na era nacional que a literatura se �rma
como verdadeiramente nacional, brasileira, pois ganha uma autonomia quanto às
expressões culturais, sociais e linguísticas.
Abaixo, falaremos sobre as características de cada uma das escolas literárias e seus
principais expoentes.
Quinhentismo
O Quinhentismo é um movimento literário que se inicia em 1500, com a chegada
das naus de Pedro Álvares Cabral na Ilha de Vera Cruz, em 22 de abril de 1500. Foram
produzidos nesse período cartas, crônicas e sermões, o que gera bastante crítica dos
especialistas, por conta de os materiais escritos não terem como objetivo o
entretenimento, serem miméticos e �ccionais, características necessárias para o
texto literário, mas sim relatar as di�culdades e conquistas durante as expedições e a
cultura dos nativos. Os textos possuem muitos adjetivos, já que tinham como
objetivo, informar Portugal sobre a fauna, �ora e o povo que aqui habitava.
Este movimento divide-se em: literatura de informação e literatura de
formação/catequese. 
Enquanto literatura de informação, temos os primeiros relatos da terra recém-
descoberta pelos portugueses, os textos têm caráter descritivo e são repletos de
fantasia, uma vez que são moldados pela visão medieval de seu escritor (como, porexemplo, a questão do canibalismo por parte do indígena nativo, fato amplamente
divulgado nas cartas escritas nessa época, mas que até hoje não há evidências
antropológicas e históricas que comprovam tal informação), mas não possuíam
intenção literária. O tema recorrente era o elemento civilizador com seus problemas
e dramas na nova terra. Esses textos foram importantes para escritores de outros
movimentos literários, como o Romantismo e o Modernismo, que recorreram aos
escritos para buscar informações sobre o primeiro povo que aqui habitava, seus
hábitos e costumes, buscando uma identidade verdadeiramente nacional.
Já na literatura de formação/catequese, temos também a descrição e conhecimento
dos hábitos dos nativos da nova terra, mas, por serem escritos pelos jesuítas, o
objetivo principal era prestar assistência moral e religiosa e catequizar o indígena
nativo, sendo os textos com cunho pedagógico e moral.
Os principais textos desse período são:
Carta, de Pero Vaz de Caminha, 1500
Diálogo sobre a Conversão do Gentio, de Manoel da Nóbrega, 1557
Duas Viagens ao Brasil, de Hans Stadens, 1557
Tratado da Província do Brasil e Tratado da Terra do Brasil, de Pero Magalhães
Gândavo, 1576
Viagem à Terra do Brasil, de Jean de Léry, de 1578
Tratado da Terra e Gente do Brasil, de Fernão Cardin, 1583
Tratado Descritivo do Brasil, de Gabriel Soares de Souza, 1587
Diálogo das Grandezas do Brasil, de Ambrósio F. Brandão, 1618
  A Carta, de Pero Vaz de Caminha, é o principal texto desse período, é um texto
corrido que ocupa originalmente 27 laudas com começo, meio e �m e �cou inédita
até 1817. Pero Vaz de Caminha era o escrivão-mor da esquadra de Pedro Álvares
Cabral. A carta não tinha objetivo literário, e sim noticiar os costumes e
Figura 1 - A Primeira Missa no Brasil
Fonte: Victor Meirelles, 1861
características da nova terra, sendo, praticamente, um diário. Por meio da descrição
dos fatos, é possível notar um entusiasmo por meio do autor em relação à terra e ao
povo que aqui habitava, quase que um deslumbramento edênico; por conta das
riquezas naturais e os nativos andarem nus “sem nenhuma vergonha” e os narizes
“bem feitos”, acreditavam que o Brasil era o paraíso terrestre (as únicas coisas que
destoavam disso, para a época, eram os costumes poligâmicos e antropofágicos dos
nativos). Os textos misturam o registro o�cial com a agitação íntima do escritor,
comprometendo em alguns momentos a credibilidade dos escritos, se as
informações ali descritas aconteceram realmente ou foram in�adas pela euforia do
autor, quase que como uma literatura fantástica.
Vale lembrar que os escritos tinham como função informar sobre a terra e o povo
que aqui vivia, então os autores desse período não demonstram nenhuma
condescendência com o indígena e desprezam a cultura e religião do nativo, não se
atinavam com a riqueza cultural desses povos.
Barroco
De acordo com Coutinho (2001), o Barroco compreende as produções literárias entre
os séculos XVII e XVIII. O Barroco é um movimento artístico que in�uenciou a
literatura, pintura, arquitetura e música. O Barroco surge num período em que a arte
passa a ser valorizada pelas classes dominantes e uma de suas características
principais é o dualismo, principalmente no que diz respeito à razão e à fé, gerando
muitas antíteses e contradições, assim como extravagâncias e riqueza de detalhes
em seus textos. Surgido no �nal do Renascimento, neste período, também
circulavam textos de movimentos �losó�cos que suscitavam re�exões sobre a
existência do ser e isso gerou alguns con�itos existenciais que culminaram em
escritos sobre essas indagações. Esta escola literária surge com a necessidade de
revisitar a fé do ser humano e questioná-la.
De acordo com o site especializado em literatura Só Literatura (2020, on-line),
CONECTE-SE
A Carta, de Pero Vaz de Caminha, pode ser lida integralmente em:
ACESSAR
todo o rebuscamento presente na arte e literatura barroca é re�exo dos
con�itos dualistas entre o terreno e o celestial, o homem
(antropocentrismo) e Deus (teocentrismo), o pecado e o perdão, a
religiosidade medieval e o paganismo presente no período
renascentista. [...] O estilo barroco apresenta forma conturbada,
decorrente da tensão causada pela oposição entre os princípios
renascentistas e a ética cristã. Daí a frequente utilização de antíteses,
paradoxos e inversões, estabelecendo uma forma contraditória,
dilemática. Além disso, a utilização de interrogações revela as
incertezas do homem barroco frente ao seu período e a inversão de
frases a sua tentativa na conciliação dos elementos opostos.
O cultismo e o conceptismo são duas características do Barroco. O cultismo é o culto
da forma do texto e busca enfatizar a expressividade por meio do uso de �guras de
linguagem. Ou seja, o cultismo valoriza a forma e a imagem construída no texto
através do jogo de palavras. Já o conceptismo busca o racionalismo e a retórica por
meio de imposição de conceitos de�nidos por raciocínio lógico. Enquanto o
cultismo pode ser entendido como um “jogo de palavras”, o conceptismo pode ser
entendido como um “jogo de ideias”. A característica principal do Barroco é um jogo
entre palavras e ideias, por meio de �guras de linguagem como metáforas,
hipérboles e antíteses.
Os principais expoentes literários desse período são:
Figura 2 - A Ceia de Emaús
Fonte: A Ceia de Emaús (1601), de Caravaggio, é uma pintura barroca, com temática
religiosa, retrata o contraste entre luz e sombra
Padre Antônio Vieira (1608-1697)
Gregório de Matos (1623-1696)
Gregório de Matos é um dos principais expoentes do movimento barroco. Bosi
(2006, p. 42) a�rma que a produção de Gregório de Matos “interessa não só como
documento da vida social brasileira dos seiscentos, mas também pelo nível artístico
que atingiu”. Os poemas compilados no livro Antologia comprovam a importância
deste autor para a literatura. Conhecido como “Boca do Inferno”, por conta de seus
poemas satíricos que criticavam o clero e a sociedade baiana da época, Gregório de
Matos escreveu poemas amorosos, religiosos, eróticos e outros até pornográ�cos.
Os poemas de Gregório de Matos podem ser classi�cados em: poesia lírico-amorosa,
poesia lírico-religiosa ou sacra, poesia satírica e poesia burlesca.
A poesia lírico-amorosa de Gregório de Matos versa sobre questões amorosas e tem
características essencialmente barrocas, como a atração e aversão pelo objeto de
desejo, a mulher amada. “A noção de pecado é muito forte, a mulher é, por um lado,
um anjo e por outro, demoníaca” (SOUZZA, 2020, on-line). Assim, o autor insiste na
imagem proposta pela ideologia católica da época, retratando o amor como fonte
de prazer e, ao mesmo tempo, de sofrimento, pois a mulher é quem desperta o
desejo carnal e, por conseguinte, o pecado.O cultismo e o conceptismo são duas
características do Barroco. O cultismo é o culto da forma do texto e busca enfatizar a
expressividade por meio do uso de �guras de linguagem. Ou seja, o cultismo
valoriza a forma e a imagem construída no texto através do jogo de palavras. Já o
conceptismo busca o racionalismo e a retórica por meio de imposição de conceitos
de�nidos por raciocínio lógico. Enquanto o cultismo pode ser entendido como um
“jogo de palavras”, o conceptismo pode ser entendido como um “jogo de ideias”. A
característica principal do Barroco é um jogo entre palavras e ideias, por meio de
�guras de linguagem como metáforas, hipérboles e antíteses.
A poesia lírico-religiosa se divide entre pecado e sentimentos de culpa e virtude,
pela busca da salvação. O autor vê o pecado como um sentimento humano, por
outro lado, como a única maneira de Deus exercitar o ato do perdão. De acordo com
Souzza (2020, on-line), utilizando trechos da Bíblia, “o eu-lírico, muitas vezes, se
comporta como advogado que faz a própria defesa diante de Deus".
A poesia satírica de Gregório de Matos foi bastante profícua. Toda a sociedade da
época foi vítima da poesia do “Boca do Inferno”: ricos, pobres, negros, brancos,
mulatos, padres, freiras, autoridadescivis e religiosas, amigos e inimigos... Todos
eram objeto de sua lira maldizente. Para Souzza (2020, on-line), “o melhor de sua
sátira não é esse tipo de zombaria, engraçada e maldosa, mas a crítica de cunho
geral aos vícios da sociedade”, entre eles a exploração de sua terra, a Bahia, pelos
negociantes estrangeiros.
A poesia burlesca de Gregório de Matos retrata pequenos acontecimentos da vida
cotidiana da cidade e dos engenhos. É a poesia mais circunstancial de Gregório,
sendo escrita, em sua maior parte, em um período de decadência de sua vida
pessoal e pro�ssional, nos últimos anos de vida do escritor.
Arcadismo
O Arcadismo é a escola literária que pregava a simplicidade por meio da exaltação
do natural, bucolismo e da vida no campo, afastada dos grandes centros urbanos.
Esta escola literária refutava todos os conceitos da escola anterior, o Barroco, e suas
características principais: complexidade, exageros e excessos.
No Brasil, o Arcadismo chega num período em que os ecos de liberdade vindos da
Europa e dos Estados Unidos provocam um verdadeiro furor entre os intelectuais. A
independência das treze colônias estadunidenses desencadeia a Incon�dência
Mineira, em 1789, e é neste contexto que surge o Arcadismo (muitos dos poetas
árcades foram incon�dentes mineiros, alguns foram presos, desterrados,
processados e até mesmo exilados). O marco inicial dessa escola literária é a
publicação de Obras Poéticas, de Cláudio Manuel da Costa, em 1768. As produções
desse período apresentam poemas líricos, épicos e satíricos e seus escritores muitas
vezes utilizavam pseudônimos para escrever, assumindo uma identidade outra nos
escritos. O Arcadismo visa o resgate da cultura clássica e buscava reconectar o ser à
natureza por meio da arte. A poesia árcade não é carregada de �guras de
linguagem, visto que busca a simplicidade da forma. As �guras mais comuns são
alusões às musas e deuses da mitologia.
Os principais expoentes desse período são:
Tomás Antônio Gonzaga
Cláudio Manoel da Costa
CONECTE-SE
A Antologia de Gregório de Matos pode ser lida em:
ACESSAR
Tomás Antônio Gonzaga é considerado o poeta mais árcade deste período, nasceu
em 1744, na cidade do Porto, em Portugal, �lho de pai brasileiro e mãe portuguesa.
Passou a maior parte de sua infância no Brasil e retornou à Portugal, na
adolescência, para terminar seus estudos, retornando ao Brasil em 1781, quando
ocupou o cargo de Ouvidor Geral na comarca de Vila Rica (atual Ouro Preto, Minas
Gerais). Nesta época, Tomás Antônio Gonzaga, aos 40 anos, dedica poesias à Maria
Dorotéia Joaquina de Seixas, que tinha apenas 17 anos, e que posteriormente seria
inspiração para o livro Marília de Dirceu. Em 1789, Tomás Antônio Gonzaga foi
acusado de participar da Incon�dência Mineira, foi detido e enviado à Ilha das
Cobras, no Rio de Janeiro, e depois para Moçambique, onde se casou com a �lha de
um próspero comerciante de escravos. Faleceu no exílio em dia desconhecido, no
mês de fevereiro de 1810.
Tomás Antônio Gonzaga, cujo nome arcádico é Dirceu, escreveu poesias líricas com
temas pastoris e de galanteio, dirigidas à sua amada, Marília. As liras do livro Marília
de Dirceu re�etem a trajetória do poeta: antes da prisão, apresentam a ventura do
amor e a satisfação com o momento presente, depois da prisão apresentam o
infortúnio, a força da justiça e do destino. Coutinho (1980) considera Marília de
Dirceu a expressão máxima do Arcadismo.
Marília de Dirceu foi publicado em 1792 e é dividido em liras. Nesta obra há uma
re�nada simplicidade neoclássica: as liras estão repletas de imagens graciosas e
alegorias mitológicas, possuem ritmo agradável, com versos curtos, alternando
decassílabos e hexassílabos, além do uso de refrão e versos brancos. De acordo com
Figura 3 - Ninfa adormecida guardada por um pastor
Fonte: Ninfa adormecida guardada por um pastor, de Angelika Kauffmann, 1780,
retrata o bucolismo árcade
Teotônio Filho (2020), a obra do poeta se divide em duas partes: na primeira, há os
poemas escritos na época anterior à prisão de Tomás Antônio Gonzaga e há
predomínio das composições convencionais, o pastor Dirceu celebra a beleza de
Marília, em algumas liras é possível perceber que as convenções mal disfarçam a
con�ssão amorosa (a ansiedade de um quarentão apaixonado por uma
adolescente), a necessidade de mostrar que ele não é qualquer um e que merece
sua amada por poder proporcionar uma vida futura estável, sossegada e rodeado de
�lhos. Na segunda parte, escrita na prisão da Ilha das Cobras, durante o exílio de
Tomás Antônio Gonzaga, os poemas exprimem a solidão de Dirceu, saudoso de
Marília. Nesta segunda parte, encontramos sua melhor poesia. As convenções,
embora ainda presentes, não sustentam o equilíbrio neoclássico. O tom confessional
e o pessimismo prenunciam o apelo à emoção do Romantismo.
Romantismo
De acordo com Marinho (2020, on-line), o “Romantismo foi um movimento estético
e cultural que revolucionou a sociedade nos séculos XVIII e XIX, deixando para trás
valores clássicos e inaugurando a modernidade nas artes”, de forma que as obras
românticas agora “baseavam-se em valores da burguesia, classe social que
substituía a elite absolutista em diversos países” (idem).
O Romantismo é a escola literária em que os escritores passam a ter maior
autonomia em relação a sua escrita, não dependendo mais dos “modelos” vindos da
Europa. O Romantismo preza a valorização dos sentimentos, principalmente a
idealização do amor e da mulher, sendo muito comum a dualidade amor versus
sofrimento, há um sentimento de nacionalismo (uma busca por uma identidade
nacional, patriótica, com exaltação dos heróis nacionais), marcas de medievalismo,
individualismo (egocentrismo) e pessimismo.
CONECTE-SE
A obra Marília de Dirceu pode ser lida integralmente em:
ACESSAR
Os críticos literários separam o Romantismo em três grandes períodos: os autores do
primeiro período (literatura indianista) conservavam um apego à forma clássica de
produção, atentando aos escritos literários já consolidados; os autores do segundo
período (literatura ultrarromântica) tem com marca a subjetividade e as emoções
individuais, como o ócio, sonhos e desejo de morte; os autores do terceiro período
(literatura condoreira) já deixam de lado a subjetividade e as emoções individuais,
características do segundo período, para escrever sobre questões sociais e políticas
da época, antecipando o Realismo, a próxima escola literária, na ordem sucessiva
que estamos apresentando a você.
Principais expoentes desse movimento literário:
Gonçalves Dias (primeira geração)
José de Alencar (primeira geração)
Álvares de Azevedo (segunda geração)
Castro Alves (terceira geração)
Gonçalves Dias nasceu em Caxias, Maranhão, em 1823, da união entre um
comerciante português e uma cafuza brasileira, e morreu afogado no litoral do
Maranhão, em 1864, dentro do navio Ville de Boulogne. Sua poesia, surgida num
contexto em que os escritores ansiavam por uma literatura genuinamente nacional
(principalmente porque o Brasil já se encontrava independente politicamente de
Portugal), volta-se ao passado da nação e o índio, entendido como símbolo nacional
pelo fato de ser natural das terras brasileiras, torna-se o herói máximo da pátria. A
respeito de Gonçalves Dias, Cândido (1999, p.41) a�rma categoricamente que se trata
do “único indianista de interesse da nossa poesia”. Os dias atuais, tanto quanto os
anos de vida do escritor não desmentem tal a�rmativa, pois Gonçalves Dias é de fato
um dos poetas de todo o Romantismo mais conhecidos e admirados pelo público
em geral.
José Martiniano de Alencar nasceu em Messejana, no Ceará, em 1829. Antes de
iniciar sua carreira literária, atuou como advogado, jornalista e político. Ainda
acadêmico, começou sua atividade literária publicando, aos 26 anos, sua primeira
obra, Cinco Minutos. Coutinho (1980) a�rma que Alencar se sobressai no movimento
romântico e na literatura brasileira como um todo, sendo um dos maiores
representantes do movimento romântico indianista. José de Alencarmorreu aos 48
anos de idade. A sua visão de mundo é baseada na emoção e no mundo urbano
com seus problemas políticos e econômicos. Suas obras procuram retratar um Brasil
e personagens mais ideais que reais, mais como ele gostaria que fossem
(românticos e moralistas) que objetivamente eram.
Realismo
O Realismo é a primeira escola que aponta que o ser é fruto do meio em que está
inserido, fazendo críticas ao social, ao cultural e ao capital. É um período em que os
autores buscavam descrever a realidade e o ser como são, com suas qualidades e
defeitos. Portanto, trata-se de uma espécie de negação do idealismo presente na
escola literária anterior, o Romantismo. Assim, o escritor realista se aproxima do
cientista, pelo fato de que o artista passa a observar e a veri�car a experiência em
sua escrita, usando, para isso, princípios como o materialismo e a objetividade.
O Realismo apresenta reminiscências dos ideais da Revolução Francesa, e do
enciclopedismo, almejando o progresso por meio da razão, expressa no
experimentalismo, na observação e na apreciação do fato. Em vista disso, o
movimento rompia com os dogmas e o pensamento estritamente teológico. O
período realista-naturalista (explicaremos no SAIBA MAIS a relação entre o Realismo
e o Naturalismo) foi impregnado de racionalidade e pregava uma arte engajada,
responsável. Esse período é consequência do fortalecimento do poder da burguesia
na política. Assim, buscava a aproximação da realidade artística e a realidade social,
submetendo a arte, o texto artístico, à realidade, à observação e à experiência
empírica, pois estas eram tidas como a única forma do conhecimento. O que há no
Realismo são autores que buscam a representação artística do mundo objetivo,
tendo por foco o cotidiano. Com a �nalidade de representar a realidade, os escritores
do período recorrem ao típico, ou seja, a personagens ou situações que fossem
capazes de serem representativas de todo um contexto histórico. 
No Brasil, o Realismo tem início em 1881, com a publicação de O Mulato, de Aluísio
de Azevedo, considerado o primeiro romance naturalista do Brasil, e Memórias
Póstumas de Brás Cubas, primeiro romance realista, escrito por Machado de Assis.
CONECTE-SE
A obra de José de Alencar pode ser acessada como veio à público pela
primeira vez pelo site da Brasiliana, da USP, através do linque:
ACESSAR
Os principais expoentes desse movimento são:
Machado de Assis
Raul Pompéia
Aluísio de Azevedo
Júlia Lopes de Almeida
No Brasil, o romance realista foi propagado especialmente por Machado de Assis.
Joaquim Maria Machado de Assis foi jornalista e escritor, nasceu no Rio de Janeiro
em 21 de junho de 1839 e morreu aos 29 de setembro de 1908. A crítica à sociedade é
direcionada a partir do comportamento das personagens e de sua análise
psicológica. A preocupação com o indivíduo é notável nos títulos de suas obras, em
que há a citação de Brás Cubas, Quincas Borbas, D. Casmurro, Esaú e Jacó, Aires, por
exemplo. Contudo, a crítica desfeita à sociedade é proveniente de uma perspectiva
na qual se questionam os valores liberais. Machado de Assis preferiu caracterizar
suas personagens mediante seu caráter interno a, como de costume no movimento
realista, somente caracterizá-las de acordo com fatores condicionantes externos.
ATENÇÃO
Nesse momento, convém ressaltar que o Realismo é a expressão
genérica para três formas textuais: o romance realista, o romance
naturalista e a poesia parnasiana. Assim, a denominação “Realismo”, no
Brasil, se estende também para a produção naturalista (embora o
Naturalismo seja considerado mais cienti�cista que o Realismo) e
parnasiana. De acordo com  
o Realismo se tingirá de naturalismo, no romance e no
conto, sempre que as personagens e enredos
submeterem-se ao destino cego das “leis naturais” que a
ciência da época julgava ter codi�cado; ou se dirá
parnasianismo, na poesia, à medida que se esgotar no
lavor dos versos feitos tecnicamente.
De acordo com Coutinho, o Realismo e o Naturalismo se diferenciam
devido ao caráter cienti�cista do Naturalismo, privilegiando a Biologia, o
determinismo atribuído ao ambiente e à herança. Em suma, pode-se
dizer que os três movimentos literários coexistiram na mesma época e
expressam uma oposição ao Romantismo.
Naturalismo
O Naturalismo surge no mesmo período que o Realismo, ambos movimentos
compartilham das mesmas ideias, sendo a principal que o ser é fruto do meio em
que está inserido, sendo in�uenciado pelos estímulos que recebe durante sua
vivência. O que diferencia o Realismo do Naturalismo é que no primeiro, as classes
mais abastadas é que são representadas com seus problemas e perspectivas,
enquanto no segundo, as classes menos favorecidas é que são representadas; o
romance O Cortiço, de Aluísio de Azevedo, demonstra bem as características desse
movimento. 
Os princípios naturalistas pressupõem que o ser está submetido aos determinismos
biológicos, hereditários, psicossomáticos, de modo que a literatura é inspirada por
uma interpretação �siológica, circunstancial, social e do próprio ser. O romance
naturalista vê a sociedade por um viés patológico, não se recusando em mostrar o
repugnante, obsceno ou asqueroso. Para o naturalista, a sociedade sofre com
enfermidades e anomalias de problemas orgânicos. O Naturalismo tem como base o
determinismo, ou seja, a concepção de que o ser é produto de leis físicas e sociais ao
extremo.
No Naturalismo, os romances experimentais são muito comuns, graças à in�uência
da teoria evolucionista de Darwin. Desse modo, o ser é visto como essencialmente
um ser biológico, em suas manifestações instintivas, como o sexo. Em alguns casos,
os romances chegam a apresentar temas relegados, como a homossexualidade,
presente em O Ateneu e em O Cortiço.
No Brasil, é muito difícil traçar a fronteira entre o Naturalismo e o Realismo,
entretanto, algumas obras essencialmente naturalistas são: A Carne, de Júlio Ribeiro;
O Missionário, de Inglês de Souza e o Bom-crioulo, de Adolfo Caminha.
Parnasianismo
SAIBA MAIS
O �lme Dom Casmurro, de 1968, dirigido por Paulo César Saraceni,
lançado pela LC Barreto Filmes, retrata com bastante �delidade a obra
prima de Machado de Assis. Composto de um excelente elenco, é
sucesso de crítica e bilheteria.
O Parnasianismo, como já vimos acima, foi o movimento correspondente, em
poesia, ao Realismo e ao Naturalismo. O Parnasianismo é uma escola com forte
apelo estético, em que a arte estética passa a valer mais que o conteúdo.
Contradizendo a escola Romantismo, o Parnasianismo não busca a idealização do
ser narrado dentro da obra, mas retrata os fatos como realmente são, de forma
imparcial.
Das características parnasianas, podemos elencar: opção pela poesia descritiva que
aborda de forma imparcial os fatos históricos e fenômenos naturais; preocupação
com a técnica no momento de composição do poema, os elementos como metro,
ritmo e rima devem ser harmonizados em busca da perfeição; tentativa de manter
uma postura impassível diante do poema, contrariando o excesso sentimentalismo
romântico e evitando a utilização de imagens e metáforas; preferência por motivos
clássicos, acentuando a postura antirromântica do movimento; a composição da
poesia pensando num �m em si mesma, ou seja, o espírito de “arte pela arte”.
Os principais expoentes do movimento são:
Olavo Bilac
Raimundo Correia
Alberto de Oliveira
Vicente de Carvalho
Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac nasceu no Rio de Janeiro, em 16 de
dezembro de 1865. Após estudar Medicina por cinco anos no Rio de Janeiro,
abandona o curso e muda-se para São Paulo para estudar Direito, porém não passou
do primeiro ano do curso. De volta ao Rio de Janeiro, o poeta dedicou-se ao
jornalismo e à literatura. Trabalhou como inspetor escolar, secretário da Terceira
Conferência Pan-Americana, secretário do prefeito do Distrito Federal e um dos
fundadores da Academia Brasileira de Letras. Faleceu em 28 de dezembro de 1918.
Seus poemas são essencialmente parnasianos, em que se nota um rigor formal,
descritivismo

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