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Aula 05

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DIREITO CIVIL: AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL 
PROFESSOR LAURO ESCOBAR 
Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 11 
AULA 05 
 
FATOS JURÍDICOS 
(Segunda Parte) 
���Itens específicos previstos nos últimos editais e que serão abordados 
nesta aula: Fatos jurídicos (2ª Parte): Negócio Jurídico: conceito, classificação, 
elementos essenciais gerais e particulares, elementos acidentais, defeitos, nulidade 
absoluta e relativa, invalidade. 
Subitens: Fatos e Atos Jurídicos (2a Parte): Negócio Jurídico. Conceito. 
Classificação. Elementos Constitutivos: Essenciais (gerais e especiais ou 
particulares) e Acidentais. Validade e Defeitos do Negócio Jurídico. Invalidade: 
Nulidade Absoluta e Relativa. Confirmação. Conversão do Negócio Nulo. 
Interpretação, Forma e Prova dos Negócios. 
Meus Amigos e Alunos. 
Antes de começar, um aviso... Esta aula acabou ficando grande... Não 
tanto pela aula em si. Mas principalmente pela quantidade de exercícios. 
Coloquei uma grande quantidade de exercícios e tentei separá-los por 
temas... Além disso, seguindo orientação da Coordenação do curso, após 
colocar os testes com o gabarito comentado logo a seguir, ao final há uma 
cópia de todos estes testes, sem gabarito comentado, mas com o chamado 
“gabarito seco”. Bem... vamos começar... 
Como vimos na aula anterior, fato jurídico é aquele que a lei atribui 
alguns efeitos. Ele pode ser dividido em fato natural e fato humano. Já 
analisamos o fato jurídico natural (também chamado de fato jurídico em 
sentido estrito), sua classificação, a prescrição e a decadência, etc. 
Na aula de hoje vamos nos ater ao Fato Jurídico Humano, que é o 
acontecimento que depende da vontade humana (há quem diga que o termo 
“vontade humana” seria uma redundância, pois somente o homem teria 
vontade; no entanto o termo tem sido aceito), abrangendo tanto os atos lícitos 
como os ilícitos. 
Apesar de maior, a aula de hoje é bem mais “light” do que a anterior, 
pois é menos teórica. Ela é mais dinâmica e estaremos diante de muitos casos 
que vivenciamos em nosso dia a dia. Portanto, antes de começar a aula 
propriamente dita, eu sempre relembro meus alunos que este é um curso 
preparatório para concursos. Assim, não devemos nos perder em detalhes, em 
episódios que podem ocorrer em nossas vidas e em casos particulares, mas 
que não trazem nenhuma repercussão para a nossa prova. O importante agora 
é conhecer cada um dos institutos e suas peculiaridades. 
Vamos então que interessa. 
DIREITO CIVIL: AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL 
PROFESSOR LAURO ESCOBAR 
Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 22 
Como vimos, o fato jurídico humano (que depende da vontade) pode 
ser subdividido em ato jurídico (em sentido amplo) e ato ilícito. A consequência 
da prática de um ato lícito é a obtenção de um direito. Já a prática do ato ilícito 
gera o dever de reparar os danos. Vamos analisar as particularidades de cada 
item desta subdivisão: 
1. ATO LÍCITO (também chamado de ato jurídico em sentido amplo ou 
ato jurídico voluntário). Subdivide-se em: 
a) Ato Jurídico em Sentido Estrito (ou meramente lícito): há a 
participação humana, mas os efeitos são os impostos pela lei e não pelas 
partes interessadas. Tem por objetivo a mera realização da vontade do 
agente. Esta é importante para a realização do ato, mas não quanto à 
produção dos efeitos desde ato, pois eles decorrem da lei. Não há 
regulamentação da autonomia privada. Ex.: o reconhecimento de um filho, 
a fixação de domicílio, o perdão, a confissão, etc. 
b) Negócio Jurídico: há a participação humana e os efeitos desta 
participação são ditados pela própria manifestação de vontade; os efeitos 
são os desejados pelas partes (ex.: contrato, testamento, etc.). Há, 
portanto, autonomia privada; autorregulação de interesses particulares, 
harmonizando vontades que aparentam ser antagônicas e que se 
subordinam às disposições comuns. Ex.: um contrato (de locação, de 
compra e venda, etc.), um testamento, a adoção, etc. 
2. ATO ILÍCITO (também chamado de fato jurídico involuntário). 
Quando a conduta (consciente e voluntária) do ser humano transgride um 
dever jurídico, acarretando consequências jurídicas alheias à vontade do 
agente, como a reparação do dano (que veremos na próxima aula, 
oportunidade em que também analisaremos a responsabilidade civil). O ato 
ilícito, embora seja um fato jurídico (pois causa repercussão no direito) não é 
ato jurídico, pois a característica essencial do ato jurídico é que este tem de 
ser lícito. O ato ilícito, ao invés de direitos, cria deveres (indenização, 
reparação do dano). 
Vamos, então, analisar o ato jurídico em sentido estrito e o negócio 
jurídico, que são espécies do gênero ato jurídico lícito (ou ato jurídico em 
sentido amplo). 
ATO JURÍDICO EM SENTIDO ESTRITO 
Como vimos acima, no ato jurídico em sentido estrito há uma 
realização de vontade do agente, mas as suas consequências são as previstas 
em lei e não as que porventura queiram as partes. Por isso ele é pobre em 
conteúdo. Quem pratica um ato jurídico em sentido estrito obtém apenas o 
efeito já preestabelecido na lei e não os desejados pelas partes 
interessadas. 
O exemplo clássico é o reconhecimento de um filho. Digamos que 
uma pessoa (“A”) teve um relacionamento amoroso fora do casamento. Desse 
relacionamento nasceu um filho (“B”). “A” quer apenas reconhecer “B” como 
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seu filho. Mas ao fazê-lo, independentemente da sua vontade (e também da 
vontade do filho), surgem diversos efeitos legais, obrigatórios, como o direito 
ao nome, poder familiar, obrigação de prestar alimentos, direitos sucessórios, 
etc. Assim, reconhecido um filho, os efeitos decorrentes do ato não dependem 
da vontade da pessoa que fez o reconhecimento, mas sim da lei. Por tal 
motivo, não se pode reconhecer um filho sob condições, a termo ou com 
encargos. 
Vamos supor que no exemplo dado, o pai reconhece o filho, mas faz 
algumas ressalvas: eu quero reconhecê-lo como meu filho, mas... eu sou 
casado... tenho outros filhos com minha esposa... não gostaria que esta 
pessoa reconhecida fosse meu herdeiro... (Pergunto: isso pode?) Mais... 
também não gostaria que esta pessoa tivesse o meu nome... afinal de contas é 
um filho havido fora do casamento.... (Pergunto: isso pode?) E mais... além 
disso... não gostaria de ter que pagar a pensão alimentícia... Mas o resto eu 
aceito... (Pergunto novamente: isso pode? Aliás... o que seria este “resto”?). 
Resposta a todas as indagações: NÃO!!!. Lógico que o pai não pode fazer isso. 
Uma vez reconhecido um filho, o pai não pode dizer que não deseja que ele 
seja seu herdeiro, ou que não tenha o seu nome, ou se escuse de pagar a 
pensão alimentícia. Como vimos, a situação “reconhecer um filho”, traz como 
consequências legais e obrigatórias todos aqueles efeitos acima citados. O 
pai pode desejar ou não aqueles efeitos. Tanto faz... Os efeitos ocorrerão, 
independentemente da vontade do agente, pois eles são impostos pela lei. 
Outro exemplo: quando uma pessoa notifica outra, obtém o efeito 
previsto na lei de constituir o devedor em mora. Querendo ou não este efeito. 
Isto é, mesmo que o notificante não queira este efeito, ele ocorre 
independentemente de sua vontade. 
 Resumindo Ato jurídico em sentido estrito é o que gera consequências 
jurídicas previstas em lei, independentemente da vontade das partes 
interessadas, não havendo regulamentação da autonomia privada. A 
doutrina acrescenta que estes atos são unilaterais, ou seja, basta uma única 
manifestação de vontade para que se tornem perfeitos. 
 É interessante acrescentar que a doutrina ainda dá uma “complicada” na 
classificação, subdividindo o ato jurídico em sentido estrito em duas 
espécies: 
a) Atos materiais ou reais: atuação da vontade que lhe dá existência 
imediata; não se destinam ao conhecimentode determinada pessoa, não há 
um destinatário. Ex.: fixação e transferência de domicílio, ocupação, 
abandono de coisas, descoberta de tesouro, acessão, etc. 
b) Participações: o agente pratica o ato para dar conhecimento a outrem 
de que tem certo propósito ou que ocorreu determinado fato. Ex.: 
notificações, intimações, interpelações, oposições, etc. 
NEGÓCIO JURÍDICO 
Negócio jurídico é uma espécie do gênero ato jurídico em sentido 
amplo. É o ato destinado à produção de efeitos jurídicos, desejados pelo 
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agente e tutelados pela lei. É toda ação humana, de autonomia privada, 
com o qual o particular regula por si os próprios interesses, havendo uma 
composição de interesses. 
O exemplo clássico de negócio jurídico é o contrato. Vamos tomar 
como exemplo o contrato de locação. Nele, uma das partes se compromete a 
fornecer a outra, durante certo lapso de tempo, o uso e gozo de uma coisa 
infungível. Por outro lado a outra parte se obriga a remunerar este uso. Trata-
se do aluguel. Os efeitos deste negócio devem ser totalmente previstos e 
desejados pelas partes. Qual o valor da locação? Qual o prazo da locação? 
Qual o dia que deve ser efetuado o pagamento? Qual o local em que o 
pagamento vai ser efetuado? O locatário deve pagar o IPTU? E o condomínio 
do prédio? Quais as obrigações de cada parte durante o contrato? Todos estes 
itens (entre outros) são os efeitos do contrato. Todos eles podem ser 
“negociados” entre os contratantes (ao menos em tese). E, como regra, eles 
devem estar previstos e desejados pelas partes interessadas. A mesma 
situação pode ocorrer em todas as espécies de contratos. Por isso que o 
negócio jurídico é o principal instrumento que as pessoas têm para realizar 
seus interesses. 
 Lembrando O contrato é apenas uma das várias espécies de negócio 
jurídico. Aliás, o contrato é exemplo típico de um negócio jurídico bilateral. 
No entanto, o negócio jurídico também pode ser unilateral. Neste caso o 
exemplo clássico é o testamento. Quais os efeitos de um testamento? – 
Resposta: Tudo aquilo que o testador desejar (desde que não contrarie a lei, a 
moral e os bons costumes)! Embora no testamento se produza os mais 
diversos e variados efeitos, temos apenas a vontade do testador, daí ele ser 
unilateral (diferentemente de um contrato, em que se leva em consideração a 
vontade de ambos os contratantes). 
��� DISTINÇÃO ��� Negócio Jurídico X Ato Jurídico em Sentido Estrito 
Vamos reforçar a idéia: não devemos confundir negócio jurídico com o 
ato jurídico em sentido estrito. Ambos decorrem de uma manifestação de 
vontade. No entanto no ato jurídico em sentido estrito o efeito da manifestação 
da vontade está previsto na lei e não pode ser alterado. Este não é exercício 
de autonomia privada. Logo, o interesse objetivado não pode ser regulado pelo 
particular e a sua satisfação se concretiza no modo determinado pela lei. Já no 
negócio jurídico, o efeito da manifestação da vontade é o desejado pelas 
partes; o fim procurado pelas partes baseia-se na autonomia da vontade 
privada. O negócio leva em consideração o fim procurado pela parte (ou 
partes) e a esse fim a ordem jurídica adapta os efeitos. Resumindo: no ato 
jurídico em sentido estrito a pessoa pratica uma conduta e os efeitos desta 
conduta são automáticos, independente da vontade de quem o pratica; já no 
negócio jurídico a pessoa pratica uma conduta e os efeitos da conduta são os 
desejados pelas partes. 
CLASSIFICAÇÃO DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS 
 A classificação dos negócios jurídicos é muito grande. Levando-se em 
consideração o que tem caído nos concursos públicos e segundo a melhor 
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doutrina sobre o tema (embora não haja uma uniformidade), classificamos os 
negócios jurídicos em: 
A) Quanto ao número de manifestações de vontade 
1. Unilaterais: quando a declaração de vontade emana de uma ou mais 
pessoas, mas sempre na mesma direção visando um único objetivo. Ou seja, o 
ato se aperfeiçoa com uma única manifestação de vontade; havendo apenas 
um polo na relação jurídica. Ex.: testamento, renúncia, desistência, promessa 
de recompensa, confissão de dívida, instituição de uma fundação, etc. Eles 
podem ser subdivididos em: 
a) Receptícios: quando a declaração tem de se tornar conhecida do 
destinatário para produzir os efeitos. Ex.: a revogação de mandato (ou 
seja, de uma procuração). Se eu revogo uma procuração, devo comunicar 
isso à pessoa a quem eu outorguei os poderes. Percebam que o ato é 
unilateral (pois a revogação só depende da minha vontade), mas eu devo 
comunicar a minha decisão à outra parte para gerar efeitos jurídicos (por 
isso o ato é chamado de receptício). Outro exemplo: a escolha nas 
obrigações alternativas. Alguns contratos possuem um duplo objeto 
alternativo: eu posso escolher uma coisa ou outra. Feita a escolha devo 
comunicar à outra parte para surtir efeitos. 
b) Não-receptícios: quando o conhecimento do fato por parte da outra 
pessoa é irrelevante. Ex.: testamento. Quando eu faço o meu testamento, 
nada mais precisa ser feito; não preciso comunicar ninguém desse fato, 
nem mesmo os beneficiados. Outro exemplo: renúncia de herança. Basta 
que eu renuncie à herança de forma expressa; não é necessário que os 
demais interessados na herança sejam comunicados deste fato para que o 
ato seja válido e operante. 
2. Bilaterais: quando a declaração de vontade emana de duas 
manifestações de vontade, em sentido oposto, mas coincidentes sobre o objeto 
(consentimento mútuo ou acordo de vontades). Neste caso há dois polos na 
relação jurídica. Ex.: perdão (“A” pode perdoar “B”; mas este perdão somente 
surtirá efeitos se “B” aceitar o perdão); contratos como a compra e venda 
(comprador e vendedor), ou a locação (locador e locatário), etc. Podem ser 
subdivididos em: 
a) simples: quando somente uma das partes aufere vantagens, enquanto 
a outra arca com os ônus (ex.: doação). 
b) sinalagmáticos: quando há uma reciprocidade de direitos e obrigações 
para as partes (gera obrigações para ambas), estando elas em situação de 
igualdade (ex.: compra e venda, locação, etc.). 
3. Plurilaterais: contratos que envolvem mais de duas partes. Ex.: 
contrato de sociedade com mais de dois sócios, consórcios de bens móveis e 
imóveis, etc. 
B) Quanto às vantagens: 
1. Gratuito: só uma das partes aufere vantagem. A pessoa assume 
determinada obrigação sem aguardar qualquer espécie de contraprestação. 
São atos de liberalidade. Ex.: doação simples. 
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2. Oneroso: ambos os contratantes possuem ônus e vantagens 
recíprocas. A pessoa somente assume a obrigação por esperar em 
contrapartida a outra obrigação. Ex.: locação (paga-se o aluguel e usa-se a 
coisa alheia), compra e venda (paga-se o preço para se obter a coisa), etc. Os 
contratos onerosos se dividem em: 
a) comutativos: as prestações de cada um dependem de um 
acontecimento certo e determinado (ex.: locação). 
b) aleatórios: há uma incerteza em relação às vantagens e sacrifícios das 
prestações; depende de um acontecimento incerto, havendo, portanto, 
uma álea ou risco. Ex.: o contrato de seguro, para a seguradora é 
aleatório, pois o pagamento ou não da indenização depende de um fato 
específico previsto no contrato: o sinistro. 
 Observações 
01) Alguns autores referem-se aos negócios bifrontes: são os que podem 
ser gratuitos ou onerosos de acordo com a vontade das partes. O contrato de 
depósito pode ser gratuito ou oneroso, dependendo do que for estipulado. 
02) Todo negócio oneroso é bilateral, pois a prestação de uma das partes 
envolve uma contraprestação. Mas nem todo ato bilateral é oneroso.Ex.: 
doação pura e simples é negócio bilateral (possui duas vontades: doador e 
donatário), porém gratuito. 
C) Quanto ao tempo em que devam produzir efeitos: 
1. Inter vivos: destinados a produzir efeitos durante a vida dos 
interessados. Ex.: locação, compra e venda, mandato, casamento, etc. 
2. Causa mortis: somente produz efeitos (criando o direito) após a 
morte do declarante. Ex.: testamento, codicilo (que é uma disposição de 
última vontade de pequenas coisas, como um anel, roupas, livros), etc. 
 Obs.: o contrato de seguro de vida (ao contrário do que parece) é negócio 
jurídico inter vivos, sendo que o evento morte funciona apenas como um 
termo. 
D) Quanto a seus efeitos: 
1. Constitutivos: sua eficácia opera-se ex nunc (ou seja, o negócio se 
torna eficaz a partir de sua conclusão). Ex.: contrato de compra e venda. 
2. Declarativos (ou declaratórios): sua eficácia é ex tunc (ou seja, se 
efetiva a partir do momento em que se operou o fato a que se vincula a 
declaração de vontade, retroagindo no tempo). Ex.: divisão de condomínio, 
partilha, reconhecimento de filho, etc. 
 Obs.: ainda na aula de hoje falarei mais sobre os efeitos ex tunc e ex nunc. 
Estas expressões em latim merecem uma atenção toda especial da nossa parte 
(não só no Direito Civil, mas no Direito como um todo). 
E) Quanto à subordinação: 
1. Principais: são aqueles que têm existência própria e não dependem de 
qualquer outro. Ex.: compra e venda, locação, doação, etc. 
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2. Acessórios: são aqueles que têm a sua existência subordinada à de 
um contrato principal. Exemplo clássico: fiança. A fiança só existe por causa de 
um contrato principal; ela não tem existência jurídica autônoma (lembrem-se 
da regra: “o acessório segue o principal”). Se eu sou o locador de um imóvel, 
quero que o locatário (inquilino) apresente um fiador, que ficará responsável 
pelo pagamento da dívida, caso o locatário não cumpra com a obrigação. Logo 
o contrato de locação é o principal e a fiança é o contrato acessório, que 
somente existe por causa do principal. Outro exemplo: cláusula penal (que é a 
multa que pode ser pactuado no contrato, caso este não seja cumprido). 
F) Quanto às formalidades: 
1. Solenes (formais): obedecem a uma solenidade especial, a uma 
forma prescrita em lei para se aperfeiçoarem. Ex.: casamento, testamento, 
etc. Em alguns casos a formalidade é a própria essência do ato, como a 
escritura pública de compra e venda de imóvel acima de 30 vezes o maior 
salário mínimo vigente (art. 108, CC). 
2. Não solenes (forma livre): a lei não exige formalidades para seu 
aperfeiçoamento, podendo ser celebrado por qualquer forma, inclusive verbal. 
Ex.: locação, compra e venda de bens móveis, etc. Em regra os contratos têm 
forma livre, salvo exceções expressas na lei. 
G) Quanto às pessoas: 
1. Impessoais: independe de quem sejam as partes e de eventual 
qualidade especial destas para a prática do ato. Ex.: contrato uma pessoa para 
pintar um muro (qualquer pessoa pode pintar um muro; não há uma 
habilidade especial para isso). 
2) Intuitu personae: o ato se realiza em função das qualidades 
especiais de uma pessoa. Ex.: desejo ser operado por cirurgião de minha 
confiança; desejo ser defendido no Tribunal do Júri pelo advogado “X”; quero 
que o famoso pintor “Z” pinte um quadro para mim, etc. 
H) Quanto à causa: 
1. Causais: estão vinculados a uma causa. Ex.: o registro da escritura de 
um imóvel está sempre ligado à existência da escritura de compra e venda 
deste imóvel; se a compra e venda for defeituosa, o registro também o será. 
2. Abstratos: estão desvinculados de qualquer outro negócio. Ex.: 
compro uma casa pagando com um cheque; a emissão deste é desvinculada; 
se a compra e venda for considerada nula, o cheque continuará valendo, 
principalmente se estiver nas mãos de terceiros. 
 Obs.: Como dá para perceber, a mesma espécie de negócio jurídico pode 
se enquadrar em mais de uma categoria de classificação, sem que haja 
incompatibilidade nisso. 
ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DO NEGÓCIO JURÍDICO 
Alguns elementos do negócio jurídico são chamados de essenciais 
porque constituem elementos de existência e validade. Se o negócio possui 
tais elementos ele será válido e produzirá efeitos. Se faltar alguns desses 
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elementos o negócio será inválido e não produzirá efeitos. Já outros elementos 
são chamados de acidentais, pois são requisitos de eficácia do negócio. 
Inicialmente vamos apresentar apenas um gráfico geral dos elementos 
constitutivos. Depois vamos analisar cada um destes elementos detidamente. 
ELEMENTOS CONSTITUTIVOS 
 I. Elementos Essenciais: são os dizem respeito à existência e 
validade do negócio jurídico, dando-lhe a estrutura e a substância. 
A) Gerais – são comuns a todos os negócios: 
1. Capacidade das partes. 
2. Objeto lícito, possível, determinado ou determinável. 
3. Consentimento (vontade). 
B) Especiais – dizem respeito à forma prescrita ou não defesa em lei. 
São aplicáveis apenas a alguns negócios. 
II. Elementos Naturais: são os efeitos ou as consequências 
decorrentes do próprio negócio jurídico. 
 III. Elementos Acidentais: são elementos facultativos; podem ou não 
ser estipulados e dizem respeito, não à existência ou validade propriamente 
dita do negócio jurídico, mas sim a sua eficácia. 
 1. Condição. 
 2. Termo. 
 3. Modo ou Encargo. 
I. ELEMENTOS ESSENCIAIS GERAIS 
Segundo a doutrina, antes da análise dos elementos de validade (art. 
104, CC) é necessária a presença dos pressupostos de existência do 
negócio jurídico. Estes não estão previstos na lei, sendo uma construção 
doutrinária: 
a) Objeto Idôneo: o objeto deve ser apto a celebrar o negócio jurídico 
desejado; se ele for fisicamente impossível (ex.: vender um terreno na Lua), 
conduzirá à inexistência do negócio. 
b) Vontade Humana: para que haja o negócio jurídico é imprescindível 
a declaração de vontade humana. Como veremos adiante, se houver uma 
coação física irresistível, a vítima não está realizando a sua vontade, mas a 
vontade do coator. 
Já os elementos de validade do negócio jurídico estão previstos na lei 
(art. 104, CC). São eles: agente capaz (elemento subjetivo), objeto lícito, 
possível, determinado ou determinável (elemento objetivo) e forma 
prescrita ou não defesa em lei. A doutrina ainda acrescenta o 
consentimento (vontade). A capacidade, o objeto e a vontade são chamados 
de elementos gerais, porque são elementos comuns a todos os negócios 
jurídicos. Já a forma é elemento especial, pois diz respeito apenas alguns 
negócios. Nem todos os negócios jurídicos exigem uma forma especial. 
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A) CAPACIDADE DO AGENTE 
Se todo negócio jurídico pressupõe uma declaração de vontade, a 
capacidade do agente é indispensável, pois é a aptidão para intervir nos 
negócios jurídicos. Trata-se da capacidade de fato ou de exercício (pessoa 
dotada de consciência e vontade reconhecida pela lei como apta a exercer 
todos os atos da vida civil), já analisada anteriormente. Os arts. 3° e 4° do 
Código Civil apresentam o rol dos incapazes (absoluta ou relativamente). Já 
analisamos quem são essas pessoas. Se alguém ficou com dúvida, retorne a 
aula sobre pessoas naturais. É imprescindível o conhecimento dessa matéria 
para a compreensão do que falaremos a seguir. 
No caso de eventual incapacidade, esta deverá ser suprida pelos meios 
legais. Enquanto os absolutamente incapazes são representados em seus 
interesses por seus pais, tutores e curadores, os relativamente incapazes 
(embora já possam participar pessoalmente dos negócios jurídicos) devem ser 
assistidos pelaspessoas a quem a lei determinar. O ato praticado pelo 
absolutamente incapaz sem representação é nulo. Já o ato realizado pelo 
relativamente incapaz sem assistência é anulável. Ainda hoje veremos a 
distinção entre o ato nulo e o anulável. Lembrando que o vício da incapacidade 
é um instrumento que age a favor do incapaz, para protegê-lo. 
��� Incapacidade ��� 
• Absolutamente incapazes (art. 3°, CC) devem ser representados →→→ 
falta de representação →→→ Negócio Jurídico Nulo (art. 166, I, CC). 
• Relativamente incapazes (art. 4°, CC) devem ser assistidos →→→ falta de 
assistência →→→ Negócio Jurídico Anulável (art. 171, I, CC). 
É interessante acrescentar que o art. 105, CC determina que a 
incapacidade relativa de uma das partes não pode ser invocada pela outra em 
benefício próprio, nem aproveita aos outros interessados. Isto porque a 
intenção da lei é proteger o incapaz contra a maior experiência e má-fé de 
terceiros que desejam tirar proveito desta situação. Assim não pode uma 
pessoa capaz realizar um negócio com um incapaz e ele próprio (o capaz) 
requerer a invalidade do negócio com fundamento de que a outra parte é 
incapaz. A incapacidade é uma exceção (forma de defesa) pessoal. Por isso 
somente pode ser alegada pelo próprio incapaz ou seu representante legal. 
Mas, como quase tudo, aqui também há uma exceção. Se a obrigação for 
indivisível (ex.: entregar um cavalo), mesmo que as demais partes forem 
capazes, não será possível separar o interesse dos contratantes. Neste caso, a 
incapacidade de um deles poderá tornar anulável o ato praticado, mesmo que 
o vício tenha sido alegado por uma pessoa capaz. Portanto, nesta hipótese, o 
vício se estenderá para toda a obrigação, sendo o negócio anulado. 
Há outro ponto interessante que iremos aprofundar mais a frente. Se o 
menor entre 16 e 18 anos praticar um ato sem assistêcia, escondendo 
dolosamente a sua condição de relativamente incapaz, não poderá alegar este 
vício para anular o negócio e escapar da obrigação contraída (art. 180, CC). 
DIREITO CIVIL: AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL 
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 Recordando A pessoa jurídica deve ser representada por uma 
pessoa física (ou natural) ativa e/ou passivamente, exteriorizando sua 
vontade, nos atos judiciais ou extrajudiciais. Ou seja, é necessário que haja 
uma pessoa natural para assumir os compromissos e assinar os contratos da 
pessoa jurídica, exprimindo sua vontade e executando os seus objetivos. Em 
regra essa pessoa é a indicada no estatuto ou no contrato social da pessoa 
jurídica. Na sua omissão, a representação será exercida por seus diretores. 
Trata-se, assim, de uma representação imprópria. 
Representação 
Os artigos de 115 a 120 CC tratam da representação. Esta é uma 
relação jurídica pela qual certa pessoa se obriga diretamente perante terceiro, 
através de ato praticado em seu nome por um representante. O art. 115, CC 
delimita as situações possíveis para a sua realização: conferido por lei ou pelo 
próprio interessado (mandato). Assim, são espécies de representantes: 
a) Legais: a própria norma jurídica confere poderes para uma pessoa 
administrar bens alheios; servem aos interesses do incapaz. Ex.: pais, tutores 
e curadores, em relação aos bens dos filhos, tutelados e curatelados. 
b) Judiciais: são as pessoas nomeadas pelo Juiz para exercer certo 
cargo em um determinado processo. Ex.: administrador judicial de uma 
falência, inventariante, etc. 
c) Convencionais: são aqueles que têm um mandato, expresso ou 
tácito, verbal ou escrito do representado. Ex.: procuração outorgada 
(fornecida) a um advogado para patrocinar um processo judicial. Somente 
nesta espécie de representação é possível o substabelecimento. 
Substabelecer significa transferir a outra pessoa os poderes que o 
mandatário recebeu do mandante. Ex.: “A” (representado ou mandante) 
outorgou poderes para “B” (representante ou mandatário) defender seus 
interesses em um processo trabalhista conta a empresa “X”. Como no dia 
designado para a audiência “B” não irá comparecer, pode substabelecer 
(transferir) os poderes que recebeu para “D”, que é outro Advogado. 
O representante deve provar às pessoas com quem tratar (em nome do 
representado) a sua qualidade e a extensão de seus poderes, sob pena de não 
o fazendo, responder pelos atos que excederem à representação. Prevê o art. 
116, CC que a manifestação de vontade pelo representante, ao efetivar um 
negócio em nome do representado, nos limites dos poderes que lhe foram 
conferidos, produz efeitos jurídicos em relação ao representado. Ou seja, o 
representante pratica o ato; mas é o representado que irá adquirir os direitos 
ou assumir as obrigações decorrentes da representação. 
O art. 117, CC autoriza o chamado “contrato consigo mesmo” (ou 
autocontrato), isto é, uma só pessoa está revestida das duas qualidades 
jurídicas diferentes, de forma simultânea: ora por si, ora representando um 
terceiro. Mas isso somente é possível se houver permissão da lei ou do 
representado, sob pena de anulação. O exemplo clássico ocorre no 
cumprimento do chamado mandato em causa própria, onde o mandatário é 
também o beneficiário. Ex.: A confere mandato para B para vender seu 
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apartamento, com autorização para que B venda o imóvel para ele mesmo = 
B. Neste caso, quando for feita a escritura, B intervirá, ora representando A 
(como mandatário), ora em seu próprio nome (comprando o imóvel). Notem, 
que mesmo nesta hipótese, B manifesta sua vontade sob dois ângulos 
diferentes (como vendedor, representando A e como comprador, em nome 
próprio). Observem que são duas vontades jurídicas diferentes. 
Já o art. 119, CC prevê que se o representante concluir um negócio e 
houver um conflito de interesses com o representado, sendo que tal fato era 
ou devia ser do conhecimento de quem com aquele tratou, o negócio também 
será anulável. 
B) OBJETO LÍCITO, POSSÍVEL, DETERMINADO OU DETERMINÁVEL 
O direito somente atribui efeitos à vontade humana quando se procura 
alcançar objetivos lícitos. Assim, além da capacidade das partes, para que 
um negócio jurídico se repute válido e perfeito, deverá versar sobre um objeto 
lícito, conforme a lei, não sendo contrário aos bons costumes, à ordem pública 
e à moral. Ex.: na locação de um imóvel para fins residenciais, este é o objeto 
do contrato. Assim, eu não posso desvirtuar o que foi pactuado e explorar 
naquele imóvel (que era para fins residenciais) uma atividade ilícita, como por 
exemplo, a exploração da prostituição. Desta forma, se o objeto do contrato foi 
ilícito, nulo será o negócio jurídico. Outro exemplo: compra e venda de objeto 
roubado. Também neste caso haverá a nulidade absoluta do ato. 
Além disso, o objeto deve ser possível, realizável. Se o negócio implicar 
prestações impossíveis, também será considerado nulo. Esta impossibilidade 
pode ser jurídica (ex.: venda de herança de pessoa viva – art. 426, CC) ou 
física (ir à lua e voltar em duas horas, etc.). Segundo a doutrina para tornar 
nulo o negócio a impossibilidade deve ser absoluta, ou seja, impraticável por 
quem quer que seja. Se a impossibilidade for apenas relativa, isto é, puder ser 
realizada por alguém (mesmo que não seja o devedor), não haverá obstáculo 
para o negócio. 
Finalmente deve ser o mesmo determinado ou, ao menos, 
determinável, ou seja, possível de determinação no futuro. Em outras 
palavras: o objeto deve ser previamente conhecido e individualizado ou devem 
existir critérios que permitam sua futura individualização. Assim, admite-se a 
venda de coisa incerta (mas não indeterminada). No entanto ela deve ser 
indicada ao menos pelo gênero e pela quantidade, ainda que não seja 
mencionada a qualidade, pois esta pode ser determinada posteriormente pela 
escolha. 
���ATENÇÃO ��� Objeto ilícito,impossível, ou indeterminado →→→ Negócio 
Jurídico Nulo (art. 166, II CC). 
C) CONSENTIMENTO (Vontade). Da Interpretação do Negócio Jurídico. 
A manifestação de vontade exerce papel importante no negócio jurídico, 
sendo um elemento básico. Portanto, é necessário que esta vontade seja 
espontânea, livre de qualquer vício. Mas nem sempre um contrato traduz a 
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exata vontade das partes. Por isso, algumas vezes ele deve ser interpretado, 
para se chegar a real intenção das partes. Interpretar o negócio jurídico é 
delimitar o alcance da declaração de vontade. No entanto as cláusulas 
contratuais não devem ser interpretadas de forma isolada, mas sim no 
contexto do contrato, em conjunto com as demais cláusulas. 
O consentimento pode ser expresso ou tácito. Será expresso quando for 
declarado por escrito ou verbalmente, mas de maneira explícita. Será 
considerado tácito se resultar de um comportamento do agente que 
demonstre, implicitamente, sua anuência, sua concordância com a situação, 
desde que o negócio, por sua natureza ou por disposição legal, não exija forma 
expressa. 
O silêncio pode importar em anuência, se as circunstâncias e os usos o 
autorizarem e não for necessária a declaração de vontade expressa (art. 111, 
CC). Ou seja, o silêncio somente terá valor jurídico, como um fato gerador de 
um negócio, se a lei assim o permitir. Caso contrário o silêncio não tem força 
de declaração de vontade. Portanto, no Direito, não é totalmente aceito o 
brocardo: “quem cala consente”. Em alguns casos (raros) ele se aplica, como 
na hipótese da doação pura, onde o silêncio do beneficiário é considerado 
como aceitação, concluindo o contrato. Na prática é o Juiz, diante de um caso 
concreto, que deverá verificar se o silêncio representou ou não a vontade. 
Outro princípio básico relativo às declarações de vontade é de que se 
atenderá mais à intenção nelas consubstanciada do que ao sentido literal da 
linguagem (art. 112, CC). Ou seja, os negócios, de uma forma geral, podem 
conter alguma cláusula duvidosa ou algum ponto controvertido, sendo 
necessária uma interpretação. Pelo Código esta interpretação deve procurar se 
situar mais na vontade real dos contratantes, procurando as consequências e 
os efeitos desejados por eles, indagando sua real intenção, do que no sentido 
literal do negócio (que seria o exame gramatical de forma “fria” de um texto 
do contrato). 
Além disso, os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a 
boa-fé e os usos do lugar de sua celebração (art. 113, CC). Trata-se de 
referência à boa-fé objetiva que representa um dever de conduta das partes, 
de acordo com a lealdade, honestidade, confiança, etc. (a expressão “boa-fé” 
deriva do latim bona fide, que significa boa confiança, ou seja, é a convicção 
de alguém que acredita estar agindo de acordo com a lei, na prática ou na 
omissão de determinado ato). 
O art. 114, CC estabelece uma ressalva. Os negócios jurídicos benéficos 
(também chamados de gratuitos, pois envolvem uma liberalidade, como na 
doação pura e simples) e a renúncia interpretam-se estritamente. Ou seja, 
segundo a lei tais atos se limitam apenas ao que foi estabelecido pelas partes, 
sem incluir outras questões. Isto é, nem o Juiz poderá dar a estes negócios 
uma interpretação mais ampla, devendo ficar restrito ao que foi estipulado 
pelas partes. Um exemplo clássico disso é a fiança nos contratos de locação: 
sua natureza é gratuita, portanto é considerado um negócio jurídico benéfico; 
por tal motivo, se houver alguma dúvida quanto a sua abrangência, esta deve 
ser resolvida fazendo-se uma interpretação restritiva, ou seja, em favor 
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daquele que prestou a fiança (no caso o fiador), não se ampliando as 
obrigações do mesmo (confiram o art. 819, CC). 
Finalmente, acrescente-se, que há outros dispositivos estabelecendo 
regras sobre a interpretação da vontade. O art. 423, CC, por exemplo, prevê 
que quando houver no contrato de adesão cláusulas ambíguas ou 
contraditórias, acolhe-se a interpretação mais favorável ao aderente. Merece 
destaque especial também o art. 47 do Código de Defesa do Consumidor 
(CDC) que dispõe que “as cláusulas contratuais serão interpretadas de maneira 
mais favorável ao consumidor”. 
DEFEITOS 
Defeito é todo vício que macula o negócio jurídico, tornando-o passível 
de anulação. Pode ser grave (quando vicia o ato de forma definitiva) ou leve 
(quando o ato pode ser remediado pelo interessado). 
Podemos dizer que um ato é válido (quanto ao consentimento) “quando 
eu faço exatamente aquilo que eu queria fazer, desejando seus efeitos, sem 
que esta conduta prejudique terceiros”. Ou seja, às vezes eu posso ter feito 
algo que não era o que eu queria fazer (e quantas vezes isso ocorre 
conosco...); quero comprar algo e me engano... ou sou enganado. Outras 
vezes quero fazer algo e faço aquilo que eu queria fazer. Mas o que eu fiz afeta 
direitos de terceiros, prejudicando essas pessoas, que não foram partes do 
negócio principal, mas que foram lesados com a minha conduta. É importante 
notar que em qualquer uma destas duas situações (fiz algo que não queria ou 
fiz algo que eu queria, mas prejudiquei interesses de terceiros) surgem os 
chamados defeitos relativos à vontade. 
Assim, se existe uma vontade, porém sem a correspondência com aquela 
que o agente quer exteriorizar, o negócio jurídico será viciado ou deturpado, 
tornando-se anulável (art. 171, II, CC), se no prazo decadencial de 04 
anos for movida ação de anulação (art. 178, II, CC). São os chamados vícios 
de consentimento (erro, dolo, coação, estado de perigo e lesão). Nestes 
casos há uma desavença entre a vontade real e a vontade declarada. 
Existem outras hipóteses em que se tem uma vontade funcionando 
normalmente, havendo até correspondência entre a vontade interna e a 
manifestação, mas, no entanto, ela se desvia da lei ou da boa-fé. O que foi 
colocado no contrato infringe a lei e prejudica terceiros. Também são passíveis 
de anulabilidade no prazo decadencial de 04 (quatro) anos. São os 
chamados vícios sociais (fraude contra credores). A simulação também é 
considerada por parte da doutrina como um vício social, uma vez que objetiva 
iludir terceiros. Porém o atual Código resolveu discipliná-la em outro capítulo, 
referente à invalidade do negócio jurídico (e não no capítulo referente aos 
defeitos do negócio). 
Vamos, mais uma vez, apresentar um gráfico para melhor 
classificar os defeitos relativos à vontade. Depois vamos analisá-los um a um. 
E vamos ver qual a consequência deste ato viciado. Dependendo do vício o ato 
pode ser nulo, anulável ou até mesmo válido. Mais adiante, ainda na aula de 
hoje, veremos as diferenças entre o ato nulo e o anulável, as hipóteses que 
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caracterizam uma e outra situação, bem como os efeitos decorrentes destas 
situações. Esses tópicos têm vital importância para efeito de concursos. 
DEFEITOS 
1) Ausência de Vontade →→→ Negócio Nulo. 
2) Vícios de Consentimento →→→ A vontade não é expressada de 
maneira absolutamente livre →→→ Erro ou Ignorância, Dolo, Coação, 
Lesão e Estado de Perigo. 
3) Vícios Sociais →→→ A vontade manifestada não tem a intenção pura 
e de boa-fé que enuncia →→→ Fraude contra Credores. Quanto à 
Simulação, devemos tomar cuidado. Embora muitos doutrinadores 
ainda afirmem ser um vício social, o atual Código Civil a coloca em 
outro capítulo (da invalidade do negócio jurídico – art. 167, CC), 
conforme veremos adiante. 
 Observação: em regra, o defeito deve ser alegado no prazo decadencial 
de quatro anos; se o prazo não for respeitado, o defeitonão poderá ser mais 
alegado, sendo o ato convalidado por decurso de prazo. 
ERRO OU IGNORÂNCIA (arts. 138 a 144, CC) 
Este é o primeiro defeito relativo ao consentimento. O aluno que 
conseguir entender o seu alcance não sentirá dificuldade de entender os 
demais defeitos. Por isso muita atenção. 
Primeiramente: erro e ignorância são sinônimos? Não!! O Código Civil 
equipara o erro à ignorância quanto aos efeitos; ou seja, o Código não 
distingue um instituto do outro, mas afirma que as suas consequências são 
idênticas no campo do Direito. Assim, embora o Código não faça, a doutrina 
estabelece distinções entre eles (esta diferença já caiu em concursos). 
Erro é a falsa noção que se tem sobre um elemento que influencia a 
formação de vontade do declarante. Pode recair sobre as qualidades de uma 
coisa ou sobre uma pessoa. Ocorre quando o agente pratica o ato baseando-se 
em falso juízo ou engano. Pensei que era uma coisa... mas na realidade é 
outra. Já ignorância é o completo desconhecimento do declarante acerca 
do objeto ou da pessoa. Assim, às vezes usamos a expressão “erro”, mas 
queremos nos referir não só ao erro propriamente dito, como também à 
ignorância. 
Na verdade o erro é um registro falso da realidade. Observem que no 
erro a pessoa se engana sozinha. Ninguém a induz a erro. Mas não é qualquer 
erro (ou ignorância) que torna o negócio anulável. Ele há de ser a causa 
determinante ou principal. Vejamos inicialmente um resumo sobre o tema. A 
seguir aprofundaremos o assunto. O erro (ou a ignorância) pode ser: 
 Essencial ou Substancial → Razão determinante para a realização do 
negócio → Se a verdade fosse conhecida o negócio não seria realizado → 
Ato Anulável. 
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 Acidental ou Secundário → Se a verdade fosse conhecida o negócio 
seria realizado, porém de forma menos onerosa → Ato válido. 
A) ERRO ESSENCIAL OU SUBSTANCIAL. Quando se refere à natureza do 
próprio ato; recai sobre circunstâncias e aspectos principais, relevantes do 
negócio de forma que se eu soubesse do defeito jamais teria praticado o ato. A 
doutrina afirma que neste caso o erro deve ser escusável e real. Escusável 
porque ele é aceitável, desculpável; tem por fundamento uma razão plausível, 
ou seja, qualquer pessoa com atenção ou diligência normal seria capaz de 
cometê-lo em face das circunstâncias. Ex.: é aceitável uma pessoa leiga 
confundir o diamante com zircônio. Mas não se admite este confusão para um 
joalheiro, que tem conhecimento técnico para fazer a distinção (para ele seria 
um erro inescusável e, portanto, sem possibilidade de anular o ato). Real 
porque deve acarretar um prejuízo efetivo para o interessado. O Código Civil 
especificou as modalidades de erro substancial (portanto, hipótese de 
anulação do negócio jurídico) no art. 139, CC. Vejamos: 
1. Erro sobre a natureza do negócio jurídico (error in ipso negotio) 
→→→ o erro recai sobre a modalidade de contrato que foi celebrado. Pensei 
fazer um determinado contrato... mas fiz outro. Ex.: empresto um 
determinado bem para uma pessoa, mas ela entende que houve uma doação. 
Observem que não houve um acordo de vontades: uma das partes pensa que 
está realizando um contrato (empréstimo) e o consentimento do outro se 
dirige a outro contrato (doação). Outros exemplos: quero vender uma coisa, 
mas acabo doando; quero alugar um apartamento (o aluguel é oneroso), mas 
acabo fazendo um comodato (que é um empréstimo gratuito), etc. Esta 
situação é muito difícil de ocorrer na prática. No entanto pode muito bem cair 
em concursos... como já caiu. 
2. Erro sobre o objeto principal da declaração (error in ipso 
corpore) →→→ a manifestação de vontade recai sobre objeto diferente do que se 
tinha em mente. Ex.: comprei um lote em um condomínio que pensava ser 
muito valorizado, no entanto trata-se de outro condomínio, que tem o mesmo 
nome, mas está situado em local diverso, muito distante de onde eu queria. 
Notem, mais uma vez, que ninguém me enganou. Eu errei sozinho (quando 
alguém me engana trata-se de outro defeito, o dolo, que veremos adiante). O 
erro, neste caso, atingiu a substância do ato; portanto o ato é anulável. No 
entanto, o art. 144, CC dispõe que o erro não prejudica a validade do negócio 
jurídico quando a pessoa, a quem a manifestação de vontade se dirige, se 
oferecer para executá-la na conformidade da vontade real do manifestante. 
Aproveitando o exemplo acima: comprei o lote no condomínio errado (erro 
substancial); no entanto o vendedor, entendendo a situação, acaba entregando 
o lote no condomínio onde eu queria inicialmente. Ora, o negócio acabou sendo 
executado conforme minha vontade inicial. Assim, não havendo qualquer 
prejuízo, não se anula o negócio. 
3. Erro sobre as qualidades essenciais do objeto principal (error 
in substantia ou in qualitate) →→→ a pessoa adquire o objeto que imaginava; 
porém engana-se quanto as suas qualidades; o motivo determinante do 
contrato é a qualidade essencial de um objeto que depois se constata que 
não existe. Ex.: compro um relógio pensando que ele é de ouro, mas o mesmo 
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é apenas “folheado”; compro uma blusa pensando que e de lã animal, mas na 
verdade é sintética (e a pessoa é alérgica e este tipo de tecido); compro um 
cavalo de carga pensando ele era um legítimo “puro-sangue” de corridas, etc. 
Observem que nestes exemplos eu também errei sozinho. 
4. Erro quanto à identidade ou à qualidade da pessoa a quem se 
refere a declaração de vontade (error in persona) →→→ incide sobre a 
identidade (física ou moral) ou características da pessoa. Geralmente recaem 
nos contratos personalíssimos (intuitu personae). O negócio pode ser anulado, 
desde que a consideração pessoal seja condição essencial para a 
realização do negócio. Exemplo clássico: estou sendo processado por homicídio 
e contratei um Advogado certo de que ele é um famoso criminalista, excelente 
orador e especializado em fazer júri. No entanto constato que ele é um 
Advogado trabalhista. Notem que no caso de um contrato em que a prestação 
pode ser cumprida por qualquer pessoa (ex.: pintar um muro), mesmo que o 
contratante tenha se enganado na designação da pessoa, tal fato não será 
suficiente para a anulação do negócio. O erro quanto à pessoa também pode 
ser relativo ao: 
a) Casamento (pode ser anulado por “vício essencial sobre pessoa”): 
• erro quanto identidade do outro cônjuge, sobre a sua honra, boa fama, 
etc. (ex.: casar-se com pessoa e descobrir depois se tratar de criminoso 
procurado, viciado em tóxicos, etc.). 
• ignorância de defeito físico irremediável ou moléstia grave, 
transmissível. 
b) Testamento 
• deixo uma joia para X, que salvou minha vida. Descubro, 
posteriormente, que foi Z e não X quem salvou minha vida. Se eu 
soubesse que foi Z quem me salvou, eu não teria doado aquela joia a X. 
Eu queria doar a joia a quem realmente salvou minha vida, ou seja, Z. 
Neste exemplo o defeito é chamado de “erro quanto ao fim colimado ou 
por falsa causa”. O art. 140, CC determina que o falso motivo (ou 
falsa causa) somente vicia a declaração de vontade, quando for 
expressamente declarado como razão determinante da realização do 
negócio. Ou seja, o motivo somente tem relevância jurídica se for 
instituído expressamente no contrato, como razão para celebração 
deste. Outro exemplo: um homem já idoso recebe a notícia de que teve 
um filho quando era mais moço, mas na ocasião a mãe não lhe 
informou do fato. O idoso, tentando ajudar esta pessoa lhe doa uma 
casa, mas estabelece o motivo: somente assim está procedendo porque 
esta pessoa seria seu filho. Desta forma, caso comprovado 
posteriormente que a pessoa não era seu filho, a doação pode ser 
anulada, pois havia um falso motivo que foi expresso como razãodeterminante do negócio, viciando, assim, a vontade. 
 Lembrando “Ninguém pode se escusar de cumprir a lei alegando que 
não a conhece”. Trata-se do Princípio da Obrigatoriedade (art. 3°, LINDB), 
que visa garantir a estabilidade e a eficácia do sistema jurídico, que ficaria 
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comprometido se fosse admitida em toda e qualquer hipótese a alegação de 
ignorância de lei em vigor. 
Reforçando: somente o erro substancial, essencial, escusável, real, 
anula o negócio jurídico. O erro deve ser de tal forma que, caso a verdade 
fosse conhecida, o ato não seria realizado, importando efetivo prejuízo ao 
interessado. Mas o contratante que se achou em erro e promove a invalidade 
do contrato pode ser condenado a ressarcir eventuais prejuízos que causar à 
outra parte por não ter procedido com a diligência necessária ao prestar o seu 
consentimento. Somente a parte interessada (a que errou) pode arguir a 
anulação do ato. 
B) ERRO ACIDENTAL  é aquele concernente às qualidades secundárias 
ou acessórias da pessoa ou do objeto. Ocorrendo esta espécie de erro, o 
negócio jurídico não será anulado. O ato continua válido, produzindo 
efeitos, porque o defeito não incide sobre a declaração de vontade. Ele decorre 
do não-emprego da diligência ordinária que deve ter um “homem médio”. 
Mesmo sabendo do defeito, a pessoa teria realizado aquele negócio. Ex.: 
comprar um carro de ano de fabricação muito diferente é um erro essencial; 
porém comprar um carro de número de série diferente é apenas um erro 
acidental. Da mesma forma, comprar um carro usado com uma cor um pouco 
diferente (preto ou azul escuro) também é acidental, não anulando o negócio. 
Outros exemplos: compro uma casa pensando que tem quatro janelas, mas só 
tem três; doei um relógio a uma pessoa pensando que ela é solteira, mas é 
casada, etc. 
O chamado erro de cálculo (que é a inexatidão material) também não é 
causa de anulação do negócio, mas de simples retificação da declaração de 
vontade, nos termos do art. 143, CC. Pode incidir sobre o peso, a medida, a 
quantidade, o valor do bem, etc. É uma espécie de erro acidental, não 
incidindo sobre a declaração de vontade e não viciando o consentimento. Ex.: 
comprei 12 camisas, sendo que o valor de cada uma delas é de R$ 45,00; logo 
deveria pagar R$ 540,00, mas acabei pagando somente R$ 450,00. É evidente 
que houve um erro na elaboração aritmética dos dados do negócio, pois as 
partes sabiam do valor do negócio, errando apenas no momento da realização 
do cálculo final. 
 Erro de Fato X Erro de Direito 
O erro de fato é aquele que recai sobre uma circunstância de fato. Pode 
ser essencial ou acidental. Crê-se numa realidade que não é verdadeira. Tudo 
o que falamos acima se refere a ele. Já o erro de direito diz respeito à 
existência de norma jurídica. Consiste na ignorância da lei, no falso 
conhecimento e também na sua interpretação errônea. Como regra ele não 
admite escusa; não admite desculpas. Não pode ser alegado. No entanto 
admite-se, excepcionalmente o erro de direito (e, por consequência, o 
negócio jurídico pode ser anulado), se o ato não implicar em recusa à aplicação 
da lei e for o motivo único ou principal do negócio jurídico (art. 139, III, CC). 
Isto é, não pode o ato recair sobre a norma cogente (ou seja, impositiva, de 
ordem pública), mas tão-somente sobre normas dispositivas (ou seja, 
sujeitas ao livre acordo das partes). Além disso, deve ser grave a ponto de 
afetar e viciar a manifestação de vontade do agente. Geralmente o erro recai 
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sobre uma situação de fato (como vimos, um contrato propriamente dito, ou o 
objeto deste contrato, ou uma pessoa, etc.). Este é o erro de fato sobre uma 
situação concreta. Já o erro de direito é aquele que diz respeito à existência 
(ou não) de uma norma jurídica. A pessoa supõe que uma lei não existe ou 
que ela não esteja mais em vigor. Ex.: firmar um contrato de locação com 
base em uma lei, pensando que ela ainda está vigorando, no entanto já foi 
revogada; pessoa contrata a importação de determinada mercadoria ignorando 
que existe uma lei proibindo tal importação. Como a ignorância foi a causa 
determinante do ato, pode ser alegada para anular o contrato, sem com isso 
se pretender que a lei seja descumprida. Há outro exemplo muito citado pela 
doutrina e que gera polêmica, inclusive no Direito Penal: um argentino vem 
para o Brasil trazendo frascos de lança-perfume para revender; na Argentina 
este produto não é proibido e a pessoa não sabia que era proibido no Brasil; se 
soubesse, não teria trazido. 
 Erro X Vício Redibitório 
Essa é uma distinção muito importante, pois já vi cair em diversos 
concursos. E pode confundir o candidato. O vício redibitório é o defeito oculto 
na coisa, que a torne imprópria para o uso a que se destina ou lhe diminua o 
valor. No vício redibitório não há qualquer erro no momento da celebração do 
negócio; o que há é um defeito no objeto (e não na vontade do adquirente), 
que não foi notado, já que era oculto. Já no erro há um engano por parte do 
adquirente; é um vício de ordem subjetiva, pois foi a vontade que foi viciada 
pela falsa percepção da realidade, não havendo vício no objeto. 
O Código Civil prevê outras duas espécies de erro acidental. Vejamos. 
– Erro acidental in qualitate (art. 142, CC): “O erro de indicação da 
pessoa ou da coisa, a que se referir a declaração de vontade, não viciará o 
negócio quando, por seu contexto e pelas circunstâncias, se puder identificar a 
coisa ou pessoa cogitada”. Como diz respeito às qualidades secundárias ou 
acessórias da pessoa (ex: se é casada ou solteira) ou do objeto (ex: comprei o 
lote 321, mas recebi o 213 por erro de digitação), não induz a anulação do 
negócio. 
– Erro na transmissão de vontade por meios interpostos (art. 141, 
CC): é o erro por defeito de intermediação mecânica ou pessoal, que altera a 
vontade declarada na efetivação do negócio. Ex.: uma pessoa utiliza o rádio, a 
televisão, etc. para transmitir uma declaração de vontade, mas o veículo 
utilizado, devido a interrupção ou deturpação sonora, fez a divulgação com 
incorreções acarretando desconformidade entre a vontade declarada e a 
interna. Esse erro só anula o negócio se a alteração prejudicar o real sentido 
da declaração expedida; caso contrário, será insignificante e o negócio 
prevalecerá. 
DOLO (arts. 145 a 150, CC) 
Dolo é o emprego de um artifício astucioso por uma pessoa para 
enganar a outra. No dolo, o agente emprega artifícios, manobras ardilosas 
ou maliciosas, para levar alguém à prática de um ato que o prejudica, 
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beneficiando o autor do dolo ou terceiros. Para a sua caracterização exige-se a 
vontade de enganar alguém (a doutrina chama isso de animus decipiendi). 
O dolo inicialmente pode ser classificado em: 
• Dolus Bonus (dolo bom): é um comportamento tolerado nos negócios 
em geral. Consiste em reticências, exageros nas boas qualidades da 
mercadoria ou dissimulações de defeitos. É o artifício que não tem a finalidade 
de prejudicar ninguém... as pessoas não se sentem enganadas. Por tal motivo 
ele não é anulável, desde que não venha a enganar o consumidor, mediante 
propaganda abusiva. Aliás, o Código de Defesa do Consumidor proíbe a 
propaganda enganosa, apta a induzir o consumidor em erro. 
• Dolus Malus (dolo mau): consiste em manobras astuciosas (atos, 
palavras ou até o próprio silêncio) para enganar alguém e lhe causar prejuízo. 
Vicia o consentimento e por isso é anulável (na hipótese de ser essencial) ou 
obriga a satisfação de perdas e danos (na hipótese de ser acidental, como 
veremos adiante).O dolo mau pressupõe: a) prejuízo para o autor do ato; b) 
benefício para o autor do dolo ou terceiro. 
 Observação. Não há critérios absolutos para se distinguir na prática o 
dolus bonus do dolus malus. É o Juiz quem vai decidir, analisando as 
peculiaridades de cada caso concreto. 
O dolus malus se divide em: 
• Dolo Principal, essencial ou substancial (dolus causam): art. 145, 
CC  é aquele que dá causa ao negócio jurídico, sem o qual ele não se teria 
concluído, acarretando, então, a anulabilidade do negócio jurídico. Se não 
houvesse o induzimento, a pessoa não faria o negócio. Para que seja possível a 
anulação é necessário que: a) haja a intenção de induzir a outra parte a 
praticar um negócio lesivo; b) os artifícios maliciosos sejam graves, por indicar 
fatos falsos, suprimir ou alterar os verdadeiros ou por silenciar algum fato que 
se devesse relatar ao outro contratante; c) seja a causa determinante na 
declaração de vontade; d) haja uma relação de causa e efeito entre a indução 
do erro e a prática do negócio; e) se o dolo foi proveniente de terceiro, que 
seja do conhecimento do outro contratante. 
• Dolo Acidental (dolus incidens) art. 146, CC  leva a vítima a realizar 
o negócio jurídico, porém em condições mais onerosas (ou menos vantajosas), 
não afetando sua declaração de vontade (embora venha a provocar desvios). 
Não se constitui vício de consentimento porque não influi diretamente na 
realização do negócio. O negócio teria sido praticado de qualquer forma, 
independentemente das manobras astuciosas, embora de outra maneira, em 
condições menos onerosas à vítima. O dolo acidental leva à distorções 
comportamentais que podem alterar o resultado final do negócio, no entanto 
não anula o negócio, apenas obriga a satisfação de perdas e danos ou a 
uma redução da prestação pactuada. 
 Dolo Essencial → dá causa ao negócio jurídico, sem o qual ele não teria 
sido concluído → Ato Anulável. 
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 Dolo Acidental → realiza o negócio jurídico em condições mais onerosas 
→ não afeta a declaração de vontade → Ato válido, mas enseja 
indenização por perdas e danos. 
O dolo ainda pode ser classificado em: 
• Positivo (ou comissivo): resulta de uma ação dolosa; são os artifícios 
positivos. Ex.: falsas afirmações sobre as qualidades de uma coisa: pode 
comprar este “cachorrinho” que eu garanto... ele vai ficar bem pequeno... ele 
é da espécie “toy”... passados alguns meses aquele “cachorrinho” se tornou 
um “cachorrão”. 
• Negativo (ou omissivo): é a manobra astuciosa que constitui uma 
omissão intencional, induzindo o outro contratante a realizar o negócio. Trata-
se da ocultação de uma circunstância relevante e que a parte contratante 
deveria saber. E, sabedora, não teria efetivado o negócio. Ex.: seguro de vida 
em que se omite uma doença grave e o segurado vem a falecer dias depois – 
neste caso houve uma evidente intenção de lesar a seguradora, beneficiando 
os sucessores; venda de um cavalo de raça já doente e que vem a morrer logo 
depois da realização do negócio, etc. Nestas hipóteses o silêncio funciona como 
um mecanismo de atuação dolosa. Acarretará a anulação do negócio se o 
dolo for principal (motivo determinante), pois é necessária a relação de 
causalidade entre a omissão intencional e a declaração de vontade. Se for 
acidental enseja apenas perdas e danos. 
��� Observações Importantes ��� 
01) Dolo de Terceiro (art. 148, CC). Em algumas situações o dolo pode 
ser proveniente de uma terceira pessoa, estranha ao negócio. Em geral não 
afeta o contrato, uma vez que o terceiro não é parte do negócio. Somente 
enseja a sua anulação se a parte a quem aproveite dele tivesse ou devesse ter 
conhecimento. Ex.: “C” instiga “A” a comprar o relógio de “B” assegurando que 
ele é de ouro; porém o relógio é apenas dourado e “C” sabe disso, estando em 
conluio com “B”. Neste caso o terceiro (“C”) e o contratante (“B”) são tidos 
como autores do dolo. O negócio é anulável. No entanto se “B” (contratante 
favorecido) não tinha conhecimento da conduta dolosa por parte do terceiro, 
não se anula o negócio, mas “A” pode reclamar as perdas e danos de “C” (o 
terceiro causador da situação). 
02) Dolo dos Representantes (art. 149, CC). Aqui a lei prevê duas 
situações com soluções diferentes. No caso da representação obrigatória ou 
legal (pais, tutores ou curadores), o representado fica obrigado a responder 
civilmente somente até a importância do proveito que teve. Isto porque o seu 
representante foi “imposto” pela lei (ou de forma judicial), sem que ele 
pudesse se rebelar contra isso. Seria injusto responsabilizar o representado 
por tudo. Por ser incapaz, ele não pode escolher o seu representante e nem 
vigiar os seus atos, não tendo ciência se ele está agindo de forma maliciosa. 
No entanto, no caso de representação convencional ou voluntária (que é 
o caso do mandato) o representado responderá solidariamente com o 
representante por tudo, inclusive perdas e danos. Isto porque aquele que 
escolhe um representante e lhe confere uma procuração, cria um risco para o 
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mundo exterior; o procurador irá agir usando o nome do representado. Por tal 
motivo deve, inicialmente, escolher bem a pessoa que irá representá-lo. Além 
disso, deve vigiar os atos da pessoa que escolheu para ser seu representante. 
Escolhendo mal (culpa in eligendo) ou não fiscalizando (culpa in vigilando) o 
seu representante, o representado responde solidariamente pela reparação 
total do dano (e não apenas limitado à responsabilidade do proveito que teve, 
como no caso da representação legal). Resumindo: 
 Dolo do representante legal (pais, tutores e curadores) →→→ 
responsabilidade do representado limitada até a importância do proveito 
que teve com o dolo. 
 Dolo do representante convencional (mandatário) →→→ responsabilidade 
solidária entre o representante e o representado, inclusive nas perdas e 
danos. 
03) Dolo recíproco (ou bilateral). Ocorre quando ambas as partes agem 
com dolo (comissivo ou omissivo), desejando obter vantagem em prejuízo da 
outra. Configura-se a chamada torpeza bilateral. Nesta hipótese ocorre a 
neutralização do delito, pois há uma compensação entre os dois ilícitos. Isto é, 
não haverá a anulação do ato, pois ninguém pode se valer da própria torpeza. 
O ato é considerado válido para ambos (art. 150, CC). 
 Dolo x Erro. O erro deriva de um equívoco da própria vítima, sem que a 
outra parte tenha concorrido para isso. Já o dolo é intencionalmente 
provocado na vítima pelo autor do dolo. Em outras palavras: no erro eu errei 
sozinho; no dolo alguém me enganou, isto é, eu errei, mas fui induzido a 
cometer este erro pela conduta (má-fé) da outra parte. 
O dolo do direito civil (artifício para enganar alguém) não deve ser 
confundido com o dolo do direito penal. Este é a intenção de praticar um ato 
que se sabe contrário a lei. O sujeito quis ou assumiu o risco de produzir o 
resultado. Está previsto no art. 18 do Código Penal. Também não se confunde 
com o dolo do direito processual. Este decorre de conduta processual contrária 
a boa-fé, sendo reprovável; trata-se da chamada litigância de má-fé 
(prevista nos arts. de 16 a 18 do Código de Processo Civil). 
Não se admite invocação do dolo para se anular um casamento. Isto 
porque em relação ao Direito de Família as regras são um pouco diferentes. O 
art. 1.550, inciso III, CC prevê que um casamento somente pode ser anulado 
por vício de vontade nos termos dos artigos 1.556 a 1.558. Os dois primeiros 
artigos se referem ao erro essencial sobre a pessoa do outro cônjuge. E o 
último se refere a coação. Portanto, por exclusão, não se pode alegar dolo 
para se anular um casamento. No entanto, observem que não há uma 
proibição expressa de sereconhecer o dolo no casamento. Isto se extrai por 
dedução lógica. Por tal motivo, é possível na prática que o Juiz reconheça o 
dolo de um dos cônjuges para a realização do casamento. Imaginem a situação 
em que um homem se casa com sua namorada, pois ela diz que está grávida. 
Depois do casamento, ele descobre que a namorada mentiu. Diante dessa 
situação entendo que ele até poderia alegar o dolo para anular seu casamento. 
COAÇÃO (arts. 151 a 155, CC) 
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Coação é toda pressão física ou moral exercida sobre alguém (vida, 
integridade física), seus bens ou honra, para forçá-lo, contra a sua vontade, a 
praticar um ato ou realizar um negócio jurídico. O que caracteriza a coação é o 
emprego da violência (física ou psicológica) para viciar a vontade, por isso é 
bem mais grave que o dolo. Na coação há uma intimidação. Oferece-se à 
vítima (também chamada de paciente ou coacto) duas alternativas: emitir 
declaração de vontade que não pretendia originalmente ou resistir e sofrer as 
consequências decorrentes da concretização da ameaça ou de uma chantagem. 
Espécies: 
a) Coação Física (vis absoluta): é o constrangimento corporal que 
retira toda capacidade de querer de uma das partes, implicando ausência 
total de consentimento ou manifestação de vontade (ex.: amarrar a vítima, 
segurar sua mão e fazê-la assinar contrato, etc.). A vítima não chega a 
manifestar uma vontade, agindo de forma mecânica. Segundo a doutrina, a 
manifestação de vontade é um requisito para a existência do negócio jurídico. 
Assim, não havendo a vontade, o negócio não existiria, sendo considerado 
inexistente. Doutrinariamente a coação física não é um vício de 
consentimento, pois sequer houve a vontade. No entanto a questão é 
polêmica: há autores que sustentam a nulidade absoluta do negócio (e não a 
sua inexistência). 
b) Coação Moral (vis compulsiva): atua sobre a vontade da vítima, sem 
aniquilar-lhe o consentimento, pois ela conserva uma relativa liberdade, 
podendo optar entre a realização do negócio que lhe é exigido e o dano com 
que é ameaçada (ex.: se não assinar o contrato, vou incendiar sua casa; vou 
estuprar sua mulher, vou mostrar uma foto sua em uma situação 
constrangedora, etc.). Trata-se de modalidade de vício de consentimento 
expresso na lei, posto que há manifestação de vontade, embora sob pressão. 
O art. 152, CC prevê que o Juiz, ao apreciar a coação, deve ter em 
conta aspectos subjetivos, como o sexo, a idade, a saúde, a condição e o 
temperamento do paciente, bem como as demais circunstâncias que possam 
influir na gravidade da coação. 
Efeitos 
 Coação Física: não há consentimento algum → ausência de vontade → 
ato inexistente (não há previsão expressa na lei, mas é mencionada pela 
doutrina). Para alguns autores é hipótese de nulidade absoluta. 
 Coação Moral: há consentimento, mas ele é viciado → ato anulável 
(expressamente prevista no Código Civil). 
É importante deixar claro que nem toda ameaça se configura em um vício 
de consentimento. Assim, são necessários os seguintes requisitos para a 
caracterização da coação moral e a consequente anulação do negócio 
jurídico (art. 151, CC): 
• seja a causa determinante do negócio jurídico: ou seja, nexo causal 
entre o meio intimidativo e o ato realizado pela vítima; se não houvesse 
a coação, não haveria o negócio. 
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• temor justificado: deve causar um medo ou um fundado receio na 
vítima. Os melhores exemplos a respeito são: ameaça de morte, 
chantagens, cárcere privado, desonra, mutilação, escândalos públicos, 
etc. Ex.: se você não me der tanto eu colocarei “aquelas” fotos suas na 
internet... Já o grau de ameaça para o reconhecimento (ou não) do 
defeito e a consequente anulação do ato deve ser apreciado pelo Juiz, 
caso a caso. 
• dano iminente: suscetível de atingir a pessoa da vítima, sua família, 
seus bens, etc. O termo família abrange não só a que resulta de 
casamento, como também decorrente de união estável. O dano pode 
atingir pessoa não pertencente à família da vítima, hipótese em que o 
Juiz decidirá se houve ou não a coação, analisando cada caso concreto. 
• dano considerável e sério: a ameaça deve ser grave (vida, liberdade, 
honra, patrimônio) e séria, capaz de assustar a vítima (ou paciente), 
nela incutindo um fundado temor. O dano pode ser patrimonial ou moral. 
Se a ameaça for indeterminada ou impossível não é capaz de anular o 
ato 
Coação exercida por terceiro 
A coação exercida por terceiro vicia o negócio jurídico se dela tivesse ou 
devesse ter conhecimento a parte a que aproveite (art. 154, CC). Assim, 
havendo uma cumplicidade entre o coator e o beneficiário, além da anulação 
do negócio, ambos ainda responderão de forma solidária pelos prejuízos 
sofridos. Porém prevalece o princípio da boa-fé, não se anulando o ato de que 
a parte não sabia ou que não podia saber sobre eventual coação por parte de 
terceiro (art. 155, CC). No entanto, mesmo nesta hipótese, o autor da coação 
responderá pelas perdas e danos sofridos pela vítima. 
Excluem a Coação, ou seja, não se configura coação (art. 153, CC): 
• Ameaça do exercício normal de um direito (exercício regular de 
direito). Ex.: se você não pagar a dívida, vou protestar o título e 
ingressar com uma ação de execução ou requerer a sua falência. Ora, 
assim agindo (protestando o título e ingressando com uma ação) eu 
apenas estarei exercendo um direito que me é assegurado pela lei. 
Portanto não há coação. 
• Temor reverencial: o simples receio de desgostar ou magoar os pais, 
ou pessoas a quem se deve respeito e obediência também é incapaz de 
viciar o negócio. 
ESTADO DE PERIGO (art. 156, CC) 
É uma inovação do atual Código. Configura-se o estado de perigo quando 
alguém, premido da necessidade de salvar-se, ou a pessoa de sua 
família, de grave dano conhecido pela outra parte, assume obrigação 
excessivamente onerosa (art. 156, CC). A vítima não errou, não foi induzida 
a erro ou coagida, mas pelas circunstâncias de um caso concreto, foi 
compelida a celebrar um negócio que lhe era extremamente desfavorável. 
Trata-se de uma hipótese de inexigibilidade de conduta diversa, ante a 
iminência do perigo por que passa o agente, não lhe restando outra alternativa 
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senão praticar o ato. Tratando-se de pessoa não pertencente à família do 
contratante o Juiz decidirá de acordo com as circunstâncias de um caso 
concreto. 
Uma pessoa, temerosa de grave dano moral ou material (situação 
equiparada ao estado de necessidade, mas que com ele não se confunde), 
acaba assinando contrato, mediante uma prestação exorbitante. Ex.: um pai 
teve filho sequestrado, sendo o que bandido lhe pediu 100 mil reais para o 
resgate. Um “amigo” sabendo do problema, se oferece para comprar suas 
joias; elas valem 500 mil, mas ele oferece apenas 100 mil reais, que é o valor 
do resgate. O que faria um pai nesta hora?? Acaba vendendo as joias para o 
“amigo” (na verdade é um ‘amigo da onça’, como costumamos dizer). Isto 
porque o valor oferecido é muito inferior ao de mercado. Posteriormente o pai 
pode anular o negócio com base no estado de perigo. Outros exemplos: 
vítima de acidente automobilístico que assume obrigação exagerada para ser 
salva de imediato; venda de imóvel por valor ínfimo para poder pagar cirurgia 
de filho, que corre risco de morte, etc. É necessário, em todos os exemplos 
fornecidos, que a outra parte tenha conhecimento da situação de desespero do 
primeiro e se aproveite dessa situação. Em algumas situações é a própria 
pessoa em perigo quem promete uma extraordinária recompensa para ser 
salva, como no exemplo de um náufrago.A doutrina também sempre lembra o 
famoso exemplo histórico do rei inglês Ricardo III quando lutava em uma 
batalha (Bosworth Field) e seu cavalo foi morto. Caído, o rei gritava: “Um 
cavalo, um cavalo, meu reino por um cavalo!” (A horse, a horse, my kingdom 
for a horse!) O rei prometeu seu reino por um cavalo, pois estava premido por 
uma necessidade de salvar a si do perigo de estar em uma batalha sem ter um 
cavalo e assim ofereceu todo seu reino em troca do animal. Portanto acabou 
assumindo uma obrigação excessivamente onerosa, pois é evidente que seu 
reino valia mais do que um cavalo. Só para completar a história: Ricardo III 
acabou perdendo a batalha, o reino e também a própria vida. Mas eu 
pergunto: se ele tivesse ganho a batalha será que cumpriria a obrigação?? 
Há alguns exemplos em que o perigo não foi provocado e nem houve 
má-fé das partes. Ex.: pai que oferece uma quantia exorbitante para o 
tratamento de seu filho, que sofre de uma grave doença; náufrago que oferece 
ao seu salvador uma recompensa exagerada pelo seu salvamento. Nestes 
casos não seria correto que o salvador ficasse sem uma remuneração e nem 
que o obrigado empobrecesse. O contrato apenas foi celebrado de forma 
desvantajosa. Portanto a doutrina (não há previsão legal) costuma afirmar que 
quando o prestador de serviços está de boa-fé, não pretendendo tirar proveito 
do perigo de dano, o negócio deve ser conservado, mas com a redução de 
eventual excesso contido na obrigação assumida, equilibrando-se as 
prestações das partes. 
Requisitos para a configuração do estado de perigo: 
• situação de necessidade de salvar a si ou a pessoa de sua família. 
• iminência de dano atual e grave, capaz de transmitir o receio de que, se 
não for afastado, as consequências temidas ocorrerão. 
• nexo de causalidade entre a declaração e o perigo de grave dano. 
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• conhecimento do perigo pela outra parte, que se aproveita para tirar 
alguma vantagem. 
• obrigação assumida excessivamente onerosa, ou seja, desproporcional, 
causando grande desequilíbrio contratual. Lembrando que se a 
onerosidade é razoável, o negócio pode ser considerado como válido. 
Realizado um contrato sob estado de perigo, a sanção é a anulação 
deste contrato – arts. 171, II e 178, II, ambos do CC. O prazo é 
decadencial (pois atinge o direito propriamente dito) de 04 anos. A anulação 
se justifica pela ofensa ao senso de justiça que deve estar presente nos 
contratos em razão da sua função social; a parte agiu contra o princípio da 
boa-fé objetiva, pois se aproveitou da situação de necessidade para tirar 
vantagem do negócio. 
LESÃO (art. 157, CC) 
 Trata-se de outra inovação do atual Código. Lesão é o prejuízo que um 
contratante experimenta quando, em um contrato comutativo (onde as partes 
conhecem as prestações de cada um e há equivalência entre elas), deixa de 
receber valor correspondente ao da prestação que forneceu. Este instituto visa 
proteger o contratante em posição de inferioridade ante o prejuízo por ele 
sofrido na conclusão do contrato, devido também à desproporção existente 
entre as prestações. Decorre do abuso praticado em situação de desigualdade, 
punindo a chamada “cláusula leonina” (alguns autores também a chamam de 
“cláusula draconiana” – que é uma referência ao famoso e rigoroso legislador 
ateniense Dracon) e o aproveitamento indevido na realização do contrato. 
 Como se percebe, há uma deformação da declaração de vontade por 
fatores pessoais do contratante, diante da inexperiência ou necessidade, 
exploradas indevidamente pela outra parte. Ex.: pessoa está em vias de ser 
despejado e, premido pela necessidade de abrigar sua família e não ver seus 
bens deixados ao relento, acaba realizando outro contrato por valor muito 
acima do mercado, negócio esse que, se tivesse condição de melhor refletir 
sobre os seus efeitos, jamais faria. O objetivo é reprimir o enorme 
desequilíbrio nas relações contratuais. 
 O art. 157, CC prescreve que ocorre a lesão quando uma pessoa, sob 
premente necessidade, ou por inexperiência, se obriga a prestação 
manifestamente desproporcional ao valor da prestação oposta. Aprecia-
se, assim, a desproporção das prestações segundo os valores vigentes ao 
tempo em que o contrato foi celebrado, pois o contrato é prejudicial desde o 
seu nascedouro. Cabe ao Juiz (somente o Juiz pode rescindir ou modificar o 
contrato), diante de um caso concreto, avaliar eventual desproporção entre as 
prestações. Segundo a doutrina, para a caracterização da lesão dispensa-se a 
verificação de dolo ou de má-fé da parte que se aproveitou, sendo que 
também não é relevante se a desproporção foi superveniente à formação do 
negócio. 
Requisitos para a configuração da lesão: 
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• Objetivo (material): manifesta desproporção entre as prestações 
recíprocas (lucro exorbitante), gerando enriquecimento para uma das 
partes e consequentemente o empobrecimento para outra. 
• Subjetivo: premente necessidade ou inexperiência da pessoa lesada. 
Saliente-se que a necessidade do contratante não está relacionada com 
sua condição econômica, sendo que o lesado pode ser mais rico que o 
beneficiário; trata-se da necessidade contratual. No mesmo sentido, a 
inexperiência também deve ser relacionada ao próprio contrato. 
Inexperiência não significa falta de cultura, pois a pessoa pode até ser 
culta e inteligente; o que ocorre é a falta de conhecimentos técnicos ou 
habilidades relacionadas ao contrato. 
Ocorrendo a lesão, a sanção é a anulação do ato – arts. 171, II e 178, 
II, CC. O prazo é decadencial (atinge o direito em si) de 04 (quatro) anos. 
��� É importante acrescentar que não se decretará a anulação do negócio se 
for oferecido suplemento suficiente, ou se a parte favorecida concordar com a 
redução do proveito (lesão especial ou qualificada – art. 157, §2°, CC). Ex.: 
a pessoa favorecida reconhece que exorbitou e concorda com a redução da 
prestação que lhe era extremamente favorável. Evita-se, assim, a anulação do 
ato. No entanto, cabe ao Juiz averiguar se o suplemento foi suficiente. Desta 
forma prestigia-se o princípio da conservação dos contratos. 
��� Observação Importante ��� Nos contratos aleatórios a lesão somente 
pode ser alegada de forma excepcional, quando a vantagem que uma das 
partes obteve é exagerada em relação ao risco normal de um contrato. 
Lembrando que contrato aleatório é aquele em que a prestação de uma das 
partes não é conhecida com exatidão no momento da celebração do contrato. 
Depende de uma álea (alea – do latim = sorte, azar, incerteza, perigo, etc.), 
que é um fator desconhecido; depende de um risco futuro e incerto. 
 Estado de Perigo x Lesão. Diferença básica 
 No estado de perigo há um perigo de morte (salvar a si ou pessoa de 
sua família) e o contratante, entre as consequências do dano e o pagamento 
de uma quantia exorbitante, opta pelo último (com a intenção de minimizar ou 
sanar o mal). Já na lesão o contratante, devido a uma necessidade 
econômica, realiza negócio desproporcional; há uma situação de 
hipossuficiência de uma das partes e o aproveitamento desta circunstância 
pela outra. 
FRAUDE CONTRA CREDORES (arts. 158 a 165, CC) 
Constitui fraude contra credores a prática maliciosa, pelo devedor, de 
atos que desfalcam seu patrimônio, com o fim de colocá-lo a salvo de uma 
execução por dívidas em detrimento dos direitos creditórios alheios. 
Ressalvadas as hipóteses de credores com garantia real (ex.: penhor, 
hipoteca e anticrese) os demais credores estão em idênticas condições no 
recebimento de seus créditos. Se o patrimônio do devedor não for suficiente 
para o pagamento de todos os credores haverá um rateio (chamado pela 
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