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CADERNO - IED PRIVADO II

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CADERNO – 3º semestre - IED PRIVADO II – MAURÍCIO REQUIÃO 
AULA 01 – OBSERVAÇÕES GERAIS DA DISCIPLINA 
Observações gerais – conteúdo: 
Suporte fático concreto (ação concreta – mundo dos fatos – que se adequa ao previsto na norma) x suporte fático abstrato (previsão da conduta - mundo do dever-ser). Por exemplo, no Código Penal, o homicídio é tipificado no Art. 121, caput – matar alguém – e, quando uma pessoa mata outra (a partir de um disparo de arma de fogo, por exemplo) há a materialização da conduta tipificada. A incidência, portanto, origina um fato jurídico e este passa a existir para o Direito. 
Esse mundo jurídico é dividido em três planos: existência (existe no mundo jurídico), validade (um fato pode ser nulo ou anulável) e eficácia (o fato produz os seus efeitos). Aqui se encerram os conteúdos da primeira avaliação (14/04). 
Em seguida, serão trabalhados os tipos de fatos jurídicos e os atos ilícitos. 
Na segunda unidade, ocorrerá uma abordagem mais detalhada acerca dos planos do mundo jurídico: fato nulo x anulável, defeitos do negócio jurídico e eficácia jurídica. Por último, após a 2ª avaliação (31/05), será discutido, em duas aulas, prescrição e decadência. 
OBS: As aulas tendem a não ser muito expositivas, sendo importante estudar de antemão o assunto a ser dado na aula. 
Referências: 
· MELLO, Marcos Bernardes de. Teoria do fato jurídico: plano da existência. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2007. 
OBS: Para a próxima aula, ler os dois primeiros capítulos do referido livro. 
OBS: As avaliações serão realizadas presencialmente e de forma individual. 
OBS: É importante resolver as provas anteriores do professor. 
OBS: Quinzenalmente, às terças (a partir da próxima – 22/02), o professor estará, no período vespertino, disponível para tirar dúvidas no Ágata ao vivo. 
Atividade: Liste fatos jurídicos que você tenha praticado nas últimas 24 horas. 
1. Assinei o termo de consentimento para a Faculdade Baiana de Direito contabilizar presença a partir da biometria (contrato);
2. Adquiri um curso de Direito Penal – pagando-o via boleto (compra e venda);
3. Realizei uma compra no supermercado – (compra e venda);
4. Usei máscara para ir à faculdade. (imposição/obrigatoriedade do uso da máscara em ambientes fechados);
5. Adquiri os livros de Direito Administrativo I e Direito Civil II (compra e venda); 
6. Iniciei um requerimento no Sagres;
AULA 02 – O FATO JURÍDICO 
1. O Direito:
O Direito trata-se de uma fronteira de controle social e capaz de regular o comportamento dos indivíduos em sociedade, entretanto, não consiste na única maneira – vide as normas de etiqueta/cortesia (cumprimentar as pessoas, por exemplo) e as normas morais (determinadas religiões impõem condutas específicas, por exemplo, como o Cristianismo que condena o consumo de carne na sexta-feira santa). O Direito, todavia, sendo a última fronteira de controle social, apresenta um caráter coercitivo, ou seja, a capacidade de impor sanções jurídicas previamente estabelecidas àqueles que, porventura, venham a contrariar as normas jurídicas. Destarte, o que o Direito considera adequado está situado nas normas (proposições jurídicas) – dispondo acerca dos fatos mais relevantes para a vida em sociedade (visa a garantir o mínimo ético-social). 
2. O fato jurídico – introdução:
Para existir um fato jurídico, portanto, deve existir, antes de tudo, uma norma que trate da conduta em análise (como o Art. 121 do Código Penal que discorre sobre o ato de homicídio – matar alguém: reclusão, de 6 a 20 anos).
Além de existir a norma, é de suma importância a materialização da norma. Por exemplo, os alunos tiveram que assinar (concretização da ação) o termo de consentimento (norma) para a Faculdade Baiana de Direito contabilizar presença através do registro da biometria a partir do dia 28/02. 
3. Dimensões do Direito:
Primeiramente pode-se citar a discussão de dimensão política da norma, isto é, do caráter axiológico/valorativo da norma. Desse modo, pode-se considerar uma norma justa ou injusta – vinculando-se ao atributo das normas jurídicas denominado de legitimidade. A título exemplificativo, o professor Maurício Requião considera maléfica a reforma trabalhista pelo fato desta prejudicar os interesses dos trabalhadores.
Há, também, a dimensão sociológica da norma, ou seja, a verificação dos impactos da norma na sociedade. Assim, através de um vínculo com o atributo das normas jurídicas denominado de eficácia social/eficiência, busca-se compreender se aquela norma é cumprida, de fato, pela sociedade. Por exemplo, é notória a ineficiência da norma que criminaliza jogos de azar – como o jogo do bicho.
Apesar das análises política e sociológica, a ênfase da disciplina IED Privado II – que segue a linha da Teoria Geral do Direito - será dada na dimensão normativa, ou seja, dogmática e menos atrativa. Nesse sentido, busca-se entender o que a estrutura normativa propicia. 
OBS: É nítido que não se consegue jamais um isolamento completo nessas atitudes monistas (de enxergar o Direito somente como valor, ou somente como fato, ou somente como norma) – tendo credibilidade a teoria da tridimensionalidade proposta pelos pós-positivistas e por nomes como Miguel Reale – entretanto, para fins epistemológicos é possível essa fragmentação. A Teoria Geral do Direito se dispõe da dimensão normativa para análise. 
4. A dimensão normativo-dogmática do Direito:
A mudança da maioridade civil dos 21 para os 18 anos com o advento do novo Código Civil de 2002 não provocou mudanças substanciais no ser humano. O Direito, portanto, não apresenta a capacidade de influenciar em questões biológicas/naturais. 
A ideia da obrigatoriedade da norma não decorre do fato de estar vinculada a alguma sanção jurídica (como defendia Hans Kelsen), mas decorre do fato dela ser incondicional, ou seja, toda vez que acontecer no mundo dos fatos o que se encontra previsto na hipótese, obrigatoriamente a norma incidirá. 
5. O suporte fático:
O texto que faz parte da norma – e que descreve um possível evento a acontecer – é o denominado suporte fático hipotético ou abstrato. A segunda conotação quando se fala em suporte fático trata-se daquela que nomeia o próprio fato quando materializado no mundo- suporte fático concreto. A seguir, tem-se uma norma que ilustra melhor essa noção de suporte fático.
Art. 481, Código Civil: Pelo contrato de compra e venda, um dos contratantes se obriga a transferir o domínio de certa coisa, e o outro, a pagar-lhe certo preço em dinheiro. 
Observa-se, portanto, que uma compra e venda se difere de uma mera troca (entre objetos) ou doação (uma parte cede algo de forma gratuita). Nesse sentido, para haver uma compra e venda deve-se cumprir a integralidade do disposto no suporte fático. 
OBS: Um fato natural pode ser considerado um fato jurídico, desde que interfira nas relações humanas. Uma pessoa que, por exemplo, deveria realizar uma entrega em Petrópolis, porém não conseguiu realizar no dia das fortes enchentes, não será responsabilizada pela inadimplência em virtude de uma causa de força maior. 
6. Elementos do suporte fático:
As condutas humanas podem ser volitivas ou não – ou seja, existem fatos jurídicos que a vontade humana compõe o suporte fático (como no caso da compra e venda – fato jurídico) e outros em que a vontade humana não compõe o suporte fático. 
Outro dado contido no suporte fático trata-se do psíquico, ou seja, a compreensão acerca da intenção do agente (boa-fé ou não). É aqui que será tratado o dolo (que é mais comum ao suporte fático de normas de Direito Penal, mas também é encontrado no Direito Privado). 
Encontra-se compondo, também, o suporte fático, estimações valorativas. Por exemplo, o Código Penal, até pouco tempo, continha a expressão “mulher honesta”. Ora, se existe uma “mulher honesta”, existe uma “mulher desonesta”, ocorrendo, assim, um juízo de valor. Ademais, o Código Civil, mais precisamente no Art. 122, trata da imoralidade do objeto de atos jurídicos e aqueles comportamentos atentatórios aos “bons costumes” (CódigoCivil, art. 122 c/c o art. 123,II). 
No Código Penal comum de 1940, o elemento normativo “mulher honesta” era previsto em três tipos penais, a saber, o de posse sexual mediante fraude (art. 215 do CP), de atentado ao pudor mediante fraude (art. 216 do CP) e de rapto violento ou mediante fraude (art. 219 do CP). 
Compõe, também, o suporte fático, a probabilidade. Por exemplo, no direito de sucessões, é comum testamentos deixando bens para pessoas que ainda não existem – tais como netos que podem nascer ou não (“deixo esses bens para os meus netos, caso meus filhos tenham filhos”). 
Antes da compra e venda, deve existir a oferta (fato jurídico), a aceitação (fato jurídico) para somente depois ser estabelecido um contrato (fato jurídico). Em síntese, um fato jurídico pode ser antecedido de outros fatos jurídicos. Nesse sentido, um fato jurídico pode ser, também, um elemento do suporte fático. 
Conforme já mencionado anteriormente, uma causalidade física pode constituir elemento de suporte fático desde que os seus efeitos se ligue a uma norma jurídica (vide o caso das enchentes em Petrópolis também já referido). 
A passagem do tempo também é elemento do suporte fático (evidente, por exemplo, na própria maioridade civil – 18 anos absolutamente capaz e 16 anos relativamente incapaz). A passagem do tempo, nesse cenário citado, modifica a maneira pela qual o Direito se relaciona para com os indivíduos. Em resumo, a duração dos efeitos jurídicos, a perda e a aquisição dos direitos dependem, muitas vezes, do transcurso do tempo.
Para a próxima aula: ler a parte de suporte fático, preceito e incidência da Teoria do fato jurídico – plano da existência/Marcos Bernardes. 
AULA 03 – ELEMENTOS DO SUPORTE FÁTICO E PRECEITO 
1. Elementos do suporte fático: 
O suporte fático pode ser hipotético (a descrição de algo que pode acontecer no mundo dos fatos pela norma) ou concreto (materialização do fato descrito pela norma, ou seja, há a incidência da norma). 
O suporte fático apresenta elementos:
· Nucleares: o suporte fático não existe sem esses elementos, ou seja, esses elementos se encontram associados à existência do suporte fático;
· Complementares: qualificadores de elementos nucleares (sobre o sujeito, sobre o objeto, sobre a forma...) associados à validade e à eficácia do suporte fático. A falta desses elementos complementares implica, geralmente, na invalidade, mas também pode implicar na ineficácia;
· Integrativos: ampliadores da eficácia (como, por exemplo, o registro de contratos – mas que, em determinadas ocasiões, pode ser um elemento complementar); 
OBS: Suporte fático concreto x fato jurídico: O suporte fático é mais pontual e proporciona a criação de um fato jurídico que perdura. Dessa forma, em regra, o suporte fático que importa é o do momento em que o negócio jurídico foi celebrado – nesse sentido, não importa se os indivíduos que celebraram um contrato completaram dezoito anos na semana seguinte e, desse modo, esse contrato segue anulável, uma vez que no momento da sua celebração, os sujeitos envolvidos na relação eram relativamente incapazes. 
2. Preceito:
A norma é composta por duas partes – o suporte fático, que descreve uma situação que pode acontecer; e o preceito, que dispõe acerca da consequência daquele fato. O suporte fático e o preceito não necessariamente precisam estar na mesma norma. 
Art. 186 CC. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. 
O suporte fático anterior não apresenta preceito em si, mas pode se agregar a preceitos contidos em outros artigos – como o art. 927. 
Art. 927 CC. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo. 
Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem. 
OBS: Um mesmo preceito pode completar o suporte fático de diferentes normas. Destarte, o art. 927 do Código Civil, por exemplo, pode, além de se vincular ao art. 186 do Código Civil, ser associado ao crime de homicídio (art. 121 do Código Penal) – uma vez que o infrator apresenta a obrigação de arcar com os custos do funeral (reparação do dano a outrem); 
AULA 04 – INCIDÊNCIA
EXERCÍCIO INTRODUTÓRIO: 
Dois sujeitos realizaram um determinado ato jurídico ao qual nomearam como sendo o ato que tem por suporte fático hipotético os elementos A, B e C, que chamaremos aqui de ATO 01. Entretanto, em concreto, o que ocorreu foi a realização dos elementos A, B, C e D, que correspondem a outro ato, aqui denominado ATO 02. Levando em conta o acima exposto, qual foi o ato praticado pelos sujeitos? Justifique e exemplifique. 
R: Com base na situação anteriormente apresentada, conclui-se que a norma incidente e vinculada ao ato praticado pelos sujeitos foi a que discorre sobre o ATO 02 e cujo suporte fático engloba os elementos A, B, C e D. Nesse cenário, a aplicação da norma cujo suporte fático engloba os elementos A, B e C, tratando sobre o ATO 01, consistiu na aplicação de uma norma que não incidiu e, portanto, contra legem, estando sujeita à revisão. Ademais, vale ressaltar que a incidência é incondicional, uma vez que a norma incide sempre que o suporte fático se concretize, independentemente da vontade das partes. 
1. Conceito: 
De acordo com Marco Bernardes de Mello, a incidência é “o efeito da norma jurídica de transformar em fato jurídico a parte do seu suporte fáctico considerado relevante para ingressar no mundo jurídico”. Essa perspectiva parece ser pouco plausível, tendo em vista que restringe o conceito de incidência a uma única consequência: juridicização. 
Assim, pode-se dizer que incidência corresponde ao efeito de uma norma jurídica eficaz tendo-se concretizado o suporte fático, gerando consequências jurídicas relevantes. 
2. Características da incidência:
· Incondicionalidade: Há incidência sempre que o suporte fático se concretize, independentemente da vontade das partes. Isso vale, inclusive, para as normas não cogentes, devido à existência de duas incidências: a vinculada à regra geral e a vinculada à vontade das partes (caso a vontade das partes não se manifeste, incidirá a regra geral);
· Inesgotabilidade: A ocorrência da incidência não altera a capacidade da norma de incidir. Destarte, o evento pode se repetir diversas vezes que não se altera a capacidade da norma de incidir (ex: nascimento – como acontecem diversos nascimentos diários, a norma incide várias vezes). Entretanto, existem exceções, pois algumas normas apresentam suporte fático que somente incide uma única vez. 
3. Pressupostos para a ocorrência da incidência:
· A norma jurídica deve ser vigente, pois enquanto a norma jurídica não estiver apta a produzir os seus efeitos, não haverá incidência. Desse modo, durante o período de Vacatio legis (tempo entre a data de publicação e início da vigência da norma jurídica), a norma não incide e, portanto, não produz os seus efeitos, mesmo que o suporte fático seja preenchido em concreto;
· Ademais, necessita-se da concreção do suporte fático suficiente. Para uma norma jurídica incidir, o suporte fático deve ser preenchido em concreto na sua totalidade – salvo os casos de presunção, tais como o disposto no Art. 322 do Código Civil.
Art. 322 – CC: Quando o pagamento for em quotas periódicas, a quitação da última estabelece, até prova em contrário, a presunção de estarem solvidas as anteriores. 
4. Consequências da incidência:
· Juridicização: A norma incide com o intuito de tornar algo jurídico. Por exemplo, quando se estabelece um contrato (negócio jurídico) de compra e venda, o qual impõe, no mundo dos fatos, direitos e deveres para os sujeitos envolvidos em tal relação; 
· Pré-exclusão de juridicidade: Denominamos pré-excludentes de juridicidade as normas jurídicas cuja incidência cria fato jurídico que tem a finalidadede impedir: que suporte fáctico que seria, normalmente, juridicizado em certo sentido, assim o seja; ou que certo fato venha a se tornar jurídico. O art. 188 do Código Civil traz as chamadas excludentes de ilicitude, tais como a legítima defesa. Se normalmente uma pessoa atira a outra e mata-a, o que iria incidir no Direito Civil corresponde ao art. 186 do Código Civil. Todavia, se a pessoa agiu em legítima defesa (a outra pessoa queria matá-la), o art. 188 do Código Civil incide e o ato não será considerado ilícito, ocorrendo, assim, uma pré-exclusão de juridicidade; 
Art. 186 – CC Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.
Art. 188 – CC: Não constituem atos ilícitos:
I - os praticados em legítima defesa ou no exercício regular de um direito reconhecido
· Invalidação: Capacidade da norma que incide de invalidar um ato jurídico (o ato jurídico é o fato jurídico que contém a vontade das partes em seu suporte fático), tornando deficiente o seu suporte fático. Para algo ser nulo ou anulável, esse algo tem que estar no mundo jurídico. O erro, o dolo, a coação, a fraude contra credores, o estado de perigo e a lesão constituem causas de anulação de atos jurídicos;
· Desjuridicização: Capacidade da norma incidente em retirar um fato jurídico do ordenamento jurídico, trazendo-o de volta ao mundo fático. Por exemplo: dois indivíduos resolvem desfazer um contrato e, nesse cenário, incide uma norma que vem a retirar esse contrato (algo que estava no mundo jurídico) do mundo jurídico;
· Deseficacização: Capacidade da norma incidente em retirar a eficácia já produzida por outro fato jurídico. É o que acontece com o fenômeno da caducidade. 
AULAS 05 E 06 – CLASSIFICAÇÃO DOS FATOS JURÍDICOS
EXERCÍCIO: Classifique os fatos jurídicos presentes no fragmento a seguir. 
O pai de Daniel morreu afogado enquanto nadava num rio com muita correnteza. Quando da morte, ele usava uma corrente que estava na família há algumas gerações, e que não foi recuperada juntamente com o corpo. Pretendendo reaver o bem, Daniel anunciou, colando cartazes na região, que pagaria recompensa no valor de mil reais para quem encontrasse e lhe devolvesse a citada corrente. 
Certo dia um sujeito, que sequer sabia da recompensa, enquanto relaxava nas margens do rio, acabou encontrando a corrente. Amigos o informaram sobre o fato e ele procurou Daniel, devolvendo a corrente, recebendo a recompensa e assinando uma quitação que comprovava o recebimento do valor prometido.
1) A morte do pai de Daniel (art.6 – CC): Fato jurídico stricto sensu, uma vez que a conduta humana não compõe o suporte fático;
2) A abertura da sucessão (art. 1784 – CC): Ato-fato jurídico, sendo efeito automático de um fato jurídico anterior (a morte do pai de Daniel) – assim como há outros efeitos como a perda da personalidade jurídica, por exemplo. A abertura da sucessão, porém, é produtora de outros efeitos;
3) A perda da posse (art. 1223 – CC): Ato-fato jurídico, pois o possuidor perde domínio sobre a coisa, mesmo que contra a sua vontade;
4) Promessa de recompensa (art. 854 CC): Negócio jurídico, pois a vontade humana compõe o núcleo do suporte fático e, além disso, o indivíduo (Daniel) apresenta a capacidade de moldar alguns efeitos jurídicos (como o anúncio será feito, por quanto tempo será feito, onde será feito...);
5) O sujeito encontrou a corrente (arts. 1233 e 1234 CC): Ato-fato jurídico, pois a conduta humana compõe o suporte fático, porém não a vontade (avolitivo). Se o sujeito quisesse encontrar a corrente e encontrá-la (ao invés de achar por acaso), a classificação do fato jurídico segue como um ato-fato jurídico, uma vez que essa vontade é irrelevante;
6) Devolução da corrente (pagamento – arts. 304, 308, 313, 314, 315 - CC): Ato-fato jurídico – o indivíduo que achou tinha o dever, independentemente de sua vontade, de devolver a corrente;
7) Daniel paga o indivíduo que devolveu a corrente (pagamento - arts. 304, 308, 313, 314, 315 – CC): Ato-fato jurídico (pensamento doutrinário majoritário) – Daniel cumpre a obrigação de pagar R$ 1000,00 àquele que encontrou a corrente. Se um sujeito deve a X e a Y e, querendo pagar a X, acaba pagando a Y – se considerarmos um ato-fato jurídico, Y não deve devolver a quantia; se considerarmos um ato jurídico, Y deve devolver a quantia. Em outra situação hipotética, se X ameaça Y a te pagar apontando uma arma para a sua cabeça, Y pode pedir um valor indenizatório em virtude de ter sido vítima de um ato ilícito, entretanto, a quantia não será devolvida pelo fato de um pagamento ser um ato-fato jurídico (independente da vontade); 
8) Assinatura de uma quitação que comprovava o recebimento do valor prometido (art. 320 CC): Ato jurídico stricto sensu, uma vez que a quitação é um documento emitido com base nos requisitos previstos em lei para comprovar o recebimento do valor (e essa assinatura é um direito do devedor para comprovar que quitou a sua dívida). Não seria um negócio jurídico pelo fato dos efeitos desse fato jurídico serem pré-estabelecidos em dispositivos normativos e não podem ser moldados pelas vontades das partes (Credor não pode dizer: “ah, vou assinar a quitação só se você pagar em até dez dias”);
Art. 320 – CC: A quitação, que sempre poderá ser dada por instrumento particular, designará o valor e a espécie da dívida quitada, o nome do devedor, ou quem por este pagou, o tempo e o lugar do pagamento, com a assinatura do credor, ou do seu representante.
CLASSIFICAÇÃO DOS FATOS JURÍDICOS:
1. Fato jurídico stricto sensu (no sentido estrito): 
· Todo fato jurídico em que, na composição do seu suporte fático, entram apenas fatos da natureza, independentes de ato humano como dado essencial. 
· O elemento humano (conduta) não é necessário para a composição do suporte fático suficiente.
· Exemplos: o nascimento, a morte, o implemento de idade, a confusão, a produção de frutos, a aluvião, a avulsão, etc. 
· Apesar de se tratarem de eventos naturais, interessam para o Direito em virtude dos impactos na sociedade humana. Uma mudança no curso de um rio pode afetar direitos de propriedade – os proprietários dos terrenos invadidos pelas águas podem ser indenizados por parte dos proprietários dos terrenos acrescidos.
· Se houver ato humano na origem de um fato jurídico stricto sensu, não há alteração do caráter do evento que constitui seu suporte fático. Por exemplo, uma morte ocasionada por homicídio (ato humano) não deixa de ser um evento da natureza. 
2. O ato-fato jurídico:
· Todo fato jurídico que se materializa através de uma conduta humana, entretanto, sem apresentar a vontade como elemento do seu suporte fático.
· A análise da relevância ou não da vontade humana é feita no suporte fático hipotético e não a luz do caso concreto.
· Exemplos: a caça, a pesca, a especificação, a comistão, a descoberta do tesouro, a semeadura, a ocupação, o abandono de bem móvel, a tomada de posse, a tradição da posse, o abandono da posse, etc. 
· Vamos supor que um sujeito ache acidentalmente uma corrente. Tem-se aqui um ato-fato jurídico. Se o sujeito quisesse encontrar a corrente e encontrá-la (ao invés de achar por acaso), a classificação do fato jurídico segue como um ato-fato jurídico, uma vez que essa vontade é irrelevante e não compõe o suporte fático dos art. 1233 e 1234 do Código Civil (que tratam da descoberta). 
2.1 – Atos reais: 
· Consistem em atos humanos que geram circunstâncias fáticas geralmente irremovíveis. 
· Exemplos: O louco que pinta um quadro detém o direito de propriedade sobre tal obra assim como uma criança (incapaz) que descobre um tesouro no fundo do quintal de sua casa.
· Neste último exemplo, a criança é dita incapaz no que tange à capacidade de fato ou de exercício e não de gozo, uma vez que titula direitos desde a concepção do seu nascimento. 
2.2 – Atos-fatos jurídicos indenizativos:
· Configuram-se naquelas situações em que de uma conduta humana lícita causadorade dano a terceiro, decorre para seu autor ou a ele imputável dever de indenizar.
· A regra geral é de que aquele que pratica ato ilícito tem o dever de indenizar (arts. 186, 187, 927 – CC), mas esse dever de indenizar também pode aparecer em condutas lícitas – como no exercício regular de um direito ou em estado de necessidade.
· Por exemplo, em uma cidade que está sendo bombardeada, um indivíduo, para se proteger, arromba a porta de uma casa e entra (invade). Este indivíduo tem o dever de indenizar o proprietário do imóvel mesmo tendo cometido uma conduta lícita (estado de necessidade – art. 188, II – CC). 
· O mesmo vale para uma indústria que assume o risco de sua atividade. Mesmo que se trate de um acidente, tem, ela, o dever de indenizar os prejudicados pelo vazamento de toxinas, por exemplo. 
· A vontade na prática do ato danoso, por se tratar de um ato-fato (classificação mais abrangente), é irrelevante. 
Art. 188 – CC: Não constituem atos ilícitos:
I - os praticados em legítima defesa ou no exercício regular de um direito reconhecido;
II - a deterioração ou destruição da coisa alheia, ou a lesão a pessoa, a fim de remover perigo iminente.
Parágrafo único. No caso do inciso II, o ato será legítimo somente quando as circunstâncias o tornarem absolutamente necessário, não excedendo os limites do indispensável para a remoção do perigo.
Art. 929 – CC: Se a pessoa lesada, ou o dono da coisa, no caso do inciso II do art. 188, não forem culpados do perigo, assistir-lhes-á direito à indenização do prejuízo que sofreram.
Observa-se que, conforme o parágrafo único do Art. 188, no caso de uma conduta excedente (passe dos limites do indispensável), isto é, em desconformidade com o ordenamento jurídico, comete um ato ilícito. Por exemplo, se aquele indivíduo que invadiu a casa de outro para se proteger das bombas, saiu, também, quebrando tudo o que via pela frente, comete, este, ato ilícito. 
2.3 – Atos-fatos jurídicos caducificantes: 
· Concretizam-se naquelas situações que constituem fatos jurídicos cujo efeito consiste na extinção (perda) de determinado direito e, por consequência, de pretensão, da ação e da exceção dele decorrentes. 
· Conduta lícita cujo efeito desta é perder direito. 
· Exemplos: prescrição, decadência e preclusão (passagem do tempo + inação). 
3. Ato jurídico lato sensu: 
· Denomina-se ato jurídico o fato jurídico cujo suporte fático prevê como seu cerne uma exteriorização consciente da vontade. 
· São essenciais, portanto: um ato humano volitivo, a consciência dessa exteriorização de vontade (intuito de realizar aquela conduta) e a obtenção de um resultado lícito e possível.
· Conforme já visto em IED, uma das características do Direito é a exterioridade e, portanto, não age sobre pensamentos (dimensão interna dos indivíduos). É necessária a declaração da vontade. 
· Quando exigida pela norma jurídica, a falta de declaração faz com que não exista ato jurídico (como no caso de um testamento feito sem seguir as regras do Código Civil – na verdade, não há testamento). 
· Inconsciência (inexistência do ato) x Erro na manifestação da vontade (ato existe, mas é passível de anulação). 
· A exteriorização da vontade não implica na ciência de estar realizando um ato jurídico. Por exemplo, quando tomamos um ônibus, não pensamos em fazer um contrato de transporte, mas apenas nos deslocando de um local para outro. 
3.1 – Ato jurídico stricto sensu:
· A vontade manifestada pelas pessoas se limita, apenas, à função de compor o suporte fático de certa categoria jurídica. 
· O ato jurídico stricto sensu tem efeitos previamente estabelecidos pelas normas jurídicas. 
· Efeitos “necessários” (determinação dos efeitos já é prevista em lei e, por conseguinte, esses efeitos independem da vontade das partes). 
· Ex: Quitação (art. 320 – CC). 
3.2 – Negócio jurídico: 
· Também conhecido como ato negocial. 
· As partes apresentam o poder de regular a amplitude, o surgimento, a permanência, e a intensidade dos efeitos que constituam o conteúdo eficacial das relações jurídicas. 
· Os efeitos jurídicos podem ser moldados pela vontade das partes. 
· Efeitos são “queridos”. 
· Não é um “mangue” visto que há limites à manifestação da vontade das partes impostos pela lei as partes podem negociar determinados efeitos, dentro das fronteiras impostas pelo Direito.
· Ex: Contrato de compra e venda – vai ter que envolver um acordo de uma pessoa pagar um preço e a outra transferir uma coisa (previsto em lei), mas vários dos efeitos podem ser alterados pelas partes (quando será entregue o produto, a forma da efetuação do pagamento, etc...). 
3.3 – Ato jurídico misto:
· É possível haver atos jurídicos em que estejam combinados ato jurídico stricto sensu e negócio jurídico. 
· Exemplo: um credor que tem o direito de escolha de uma dentre as prestações A, B ou C, comunica ao devedor que escolheu a prestação B (ato jurídico stricto sensu), mas lhe concede oportunidade de, dentro de certo prazo, fazer outra prestação à sua escolha (negócio jurídico). 
Referências:
Teoria do Fato Jurídico – Plano da existência/ Marco Bernardes de Mello 
AULA 07 – O ATO JURÍDICO STRICTO SENSU 
1. O ato jurídico lato sensu: 
Em um ato jurídico lato sensu, o seu suporte fático contém uma conduta humana e um elemento volitivo (a vontade enquanto elemento criador de um fato jurídico – que pode ser uma ação ou uma omissão). O ato jurídico lato sensu se subdivide em ato jurídico stricto sensu e negócio jurídico. 
2. Ato jurídico stricto sensu x Negócio jurídico: 
Relembrando... O negócio jurídico, diferentemente do ato jurídico stricto sensu, permite que as partes modulem determinados aspectos da sua eficácia (como, por exemplo, a data do vencimento do boleto para pagamento após ser celebrado um contrato de compra e venda). Observa-se, entretanto, que essa liberdade para modular efeitos não é plena, ou seja, respeita os limites impostos pelo Direito. No contrato de compra e venda mencionado, obrigatoriamente, deve ocorrer o fornecimento de um bem (de A para B) e de uma quantia financeira (de B para A). 
3. O ato jurídico stricto sensu:
Art. 185 – CC: Aos atos jurídicos lícitos, que não sejam negócios jurídicos, aplicam-se, no que couber, as disposições do Título anterior. 
Conforme mencionado no art. 185 do Código Civil, a regra geral é de que, no que couber, as normas que regem os negócios jurídicos também se aplicam aos atos jurídicos stricto sensu.
4. Observações importantes sobre o ato jurídico stricto sensu:
4.1 – Para que essa vontade componha o suporte fático, é necessário que ela seja exteriorizada, uma vez que uma das características do Direito é a exterioridade (não é possível regular as circunstâncias inerentes à esfera psíquica do indivíduo). 
A reserva mental, em regra, não é relevante. 
Art. 110 – CC: A manifestação de vontade subsiste ainda que o seu autor haja feito a reserva mental de não querer o que manifestou, salvo se dela o destinatário tinha conhecimento.
Art. 112 – CC: Nas declarações de vontade se atenderá mais à intenção nelas consubstanciada do que ao sentido literal da linguagem. 
Os arts. 110 e 112 do Código Civil, apesar de aparentemente contraditórios, não são, uma vez que o art. 112 prioriza a declaração da vontade, só que já dispondo sobre o mundo dos fatos. Por exemplo, se um indivíduo quer vender um bem que vale aproximadamente R$ 5.000,00 e no anúncio escreve “Valor a vista: R$ 5.000,00 ou parcelado em 5x R$100,00”. Percebe-se que, apesar de ter colocado 5x100 ao invés de 5x1000, o negócio jurídico não é invalidado pois há a prioridade da manifestação da vontade (entende-se que o sujeito quis vender o bem por R$ 5.000,00 ou 5x R$1.000,00 prioriza-se a vontade em relação ao sentido literal). 
Em regra, manifestação e declaração são considerados sinônimos, entretanto, em alguns casos, o Código exige uma das duas – a declaração, por essa ser mais complexa. Declaração de vontade – A pergunta a B: “Quer comprar o meu notebook por R$ 2.000,00?” (linguagem no sentido mais estrito dacomunicação) x Manifestação da vontade – A abandona um copo no lixo (não é necessário dizer “Estou a abandonar este copo no lixo”). 
Art. 107 – CC: A validade da declaração de vontade não dependerá de forma especial, senão quando a lei expressamente a exigir. 
No caso do casamento, é necessário que ambos envolvidos nessa relação jurídica digam “sim” (declaração da vontade) e não somente manifestem um sim com a cabeça. O fato jurídico solene (aquele que exige protocolos pré-estabelecidos para ser válido) vai exigir a declaração da vontade; o não solene, pode exigir ou não. 
4.2 – A vontade é elemento completante e, portanto, nuclear, do suporte fático.
Se Requião doou um livro para um aluno e nesse tinha uma nota de cem reais. O aluno deve devolver a nota para Requião pelo fato do professor ainda ser o proprietário. A manifestação da vontade de Requião consistiu na doação do livro e não da nota de cem reais. 
4.3 – A exteriorização da vontade deve ser consciente. A consciência aqui é no sentido de querer realizar o ato (se referir a um objeto), não sendo necessário imaginar estar realizando um fato jurídico. Por exemplo, A quis pegar um ônibus para se deslocar de X a Y. A não está pensando “quero celebrar um contrato de transporte”, mas somente “quero me deslocar de X a Y”. 
Por exemplo, durante um leilão, um indivíduo levanta a mão para cumprimentar um conhecido. Esse indivíduo não tinha consciência de que esse ato (levantar a mão) representa um lance. Logo, o ato praticado, por ter sido inconsciente, não deve ser considerado como um fato jurídico. 
4.4 – O objeto do ato jurídico stricto sensu deve ser lícito, possível, determinado ou determinável. 
Como as normas, no geral, que tratam do negócio jurídico também regem os atos jurídicos stricto sensu, podemos analisar o art. 104, II, o qual aponta a necessidade do objeto ser lícito, possível, determinado ou determinável.
Art. 104 – CC: A validade do negócio jurídico requer: 
II – objeto lícito, possível, determinado ou determinável 
OBS: Os artigos 121 a 137 (Capítulo III: da condição, do termo e do encargo) somente se referem ao negócio jurídico. 
O reconhecimento da paternidade é um ato jurídico stricto sensu, manifestada assim a vontade do pai, permite que todos os efeitos previstos em lei sejam aplicados (ele não pode dizer, por exemplo: “reconheço a paternidade, desde que não precise pagar pensão”). 
Se uma das partes, durante a celebração de um contrato de compra e venda, só tem a opção de aceitar ou não, não classificamos esse fato jurídico como um ato jurídico stricto sensu pelo fato da outra parte ter a capacidade de moldar determinados aspectos da eficácia – mantendo-se, portanto, a classificação de um negócio jurídico.
5. A classificação dos atos jurídicos stricto sensu:
· Reclamativos: Consubstanciados em reclamações ou provocações. Ex: Interpelação para o credor exercer seu direito de escolha nas obrigações alternativas;
· Comunicativos: Constituídos por comunicação de vontade que têm a finalidade de dar ciência a alguém. Ex: A comunicação da escolha da prestação;
· Enunciativos: Exteriorizações de conhecimento ou de sentimento. Ex: reconhecimento de paternidade e de maternidade fora do casamento;
· Mandamentais: Imposição ou proibição de determinado procedimento por parte de outra pessoa. Ex: A manifestação do proprietário para exigir que o dono do prédio vizinho proceda à sua demolição ou reparação, quando ameaça ruína; 
· Compósitos: Manifestações de vontade seguidas de circunstâncias para se completarem. Ex: A constituição de domicílio (estabelecimento de residência + ânimo definitivo – não basta só o interesse em ficar no local, mas deve permanecer de forma definitiva).
6. O ato jurídico misto: 
Pode ocorrer que, em uma mesma situação, tenha-se um ato jurídico stricto sensu e um negócio jurídico. Assim, temos os chamados atos jurídicos mistos. 
Exemplo: Um credor que tem o direito de escolha de uma dentre as prestações A, B ou C, comunica ao devedor que escolheu a prestação B (ato jurídico stricto sensu), mas lhe concede oportunidade de, dentro de certo prazo, fazer outra prestação à sua escolha (negócio jurídico). 
 
7. Os atos jurídicos no Direito Público: 
Também é possível, obviamente, a presença de atos jurídicos stricto sensu e de negócios jurídicos no âmbito do Direito Público. 
· Um contrato administrativo resultante de uma licitação consiste em negócio jurídico. 
· Uma sentença do Poder Judiciário é um negócio jurídico. 
· O despacho, por outro lado, é um ato jurídico stricto sensu. 
De acordo com a doutrina de Marco Bernardes de Mello, os atos de direito público se subdividem em atos complexos e atos compostos. O ato complexo é aquele conjunto de atos e deliberações que são praticados por órgãos integrantes de um mesmo poder de Estado (um servidor público em caráter efetivo precisa ser aprovado em concurso público da própria entidade interessada). Por outro lado, o ato composto é aquele conjunto de atos e deliberações que são praticados por órgãos de poderes ou entidades diversos (o Presidente da República – Poder Executivo – indica um nome para ocupar o cargo de ministro do STF, mas este somente pode assumir o cargo após aprovado em uma sabatina realizada pelo Senado Federal – Poder Legislativo). 
Muitas vezes, pode ocorrer, também no âmbito do Direito Público, uma mescla entre atos jurídicos stricto sensu e negócios jurídicos. Por exemplo, a elaboração de um edital de um concurso é um negócio jurídico pelo fato do elaborador poder decidir aspectos como o que será cobrado (conteúdo da prova), quantas questões serão realizadas, o modelo das questões (dissertativas ou objetivas), quando será feita a prova, etc. Após um candidato ser aprovado e for tomar a posse, tem-se um ato jurídico stricto sensu em virtude dos efeitos já serem previamente estabelecidos (caso aprovado, será empossado). 
OBS: O silêncio somente terá valor jurídico quando o código dispuser sobre (logo, exceções). Quando, por exemplo, um credor fica em silêncio após a imposição de um prazo (após passado os 30 dias fixados, por exemplo) – esse silêncio é relevante para o ordenamento jurídico. 
Referências:
Teoria do Fato Jurídico – Plano da existência/ Marco Bernardes de Mello 
AULAS 08 E 09 – CLASSIFICAÇÃO DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS
ATIVIDADE: 
Analise os negócios jurídicos abaixo descritos e aponte, de modo fundamentado, todas as suas classificações.
 
	
	Contrato de compra e venda
	Contrato de comodato
	Contrato de doação
	Contrato de fiança
	Testamento
	Promessa de recompensa
	UNILATERAL
	
	
	
	
	X
	X
	BILATERAL
	X
	X
	X
	X
	
	
	PLURILATERAL
	
	
	
	
	
	
	FIDUCIÁRIO
	
	
	
	
	
	
	NÃO FIDUCIÁRIO
	X
	X
	X
	X
	X
	X
	CAUSAL 
	X
	X
	X
	X
	X
	X
	ABSTRATO
	
	
	
	
	
	
	INTERVIVOS
	X
	X
	X
	X
	
	X
	MORTIS CAUSA
	
	
	
	
	X
	
	CONSENSUAL
	X
	
	X
	X
	X
	X
	REAL
	
	X
	
	
	
	
	PATRIMONIAL
	X
	X
	X
	X
	X
	X
	EXTRAPATRIMONIAL
	
	
	
	
	
	
	SOLENE
	
	
	X
	X
	X
	
	NÃO SOLENE
	X
	X
	
	
	
	X
	PRINCIPAL
	X
	X
	X
	
	X
	X
	ACESSÓRIO
	
	
	
	X
	
	
	TÍPICO/NOMINADO
	X
	X
	X
	X
	X
	X
	ATÍPICO/ORDINÁRIO
	
	
	
	
	
	
	ONEROSO
	X
	
	
	
	
	
	GRATUITO
	
	X
	X
	X
	X
	X
OBS: Contrato de comodato – contrato de empréstimo de um bem infungível (que não pode ser trocado). Ex: O empréstimo de um livro da biblioteca
A CLASSIFICAÇÃO DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS: 
1. Unilateral x bilateral x plurilateral: Classificação que leva em consideração os polos e o direcionamento das vontades. No negócio jurídico unilateral, há somente um único polo (não necessariamente significa que seja um negócio jurídico com uma única pessoa – Ex: aprovação por uma Assembleia Geral – vontade única que expressa a vontade dos sócios). No negócio jurídico bilateral, há dois polos e, por conseguinte, duas vontades distintas, recíprocas e concordantes (ex: Contrato de compra e venda). No negócio jurídico plurilateral, há no mínimo dois polos e as vontades convergem para uma mesma direção – Ex: contrato de constituição de sociedade. Todo contrato (100% das vezes) é bilateral – mesmoem um contrato de doação, uma vez que este precisa que uma parte aceite a doação. Essa classificação não se confunde com a classificação de oneroso/gratuito.
2. Fiduciário x não fiduciário: Fidúcia vem da ideia de “confiança” e, portanto, os negócios jurídicos fiduciários são aqueles por meio dois quais há transferência de titularidade sobre bem ou direito e cujo adquirente deve satisfazer às finalidades negociadas e, ao fim, restituir a titularidade ou transferi-la a terceiro designado. Os negócios jurídicos fiduciários são exceções – Ex: compra e venda de imóvel, com promessa de devolução. 
3. Causal x abstrato: Se o motivo entra e é verbalizado como parte da causa do negócio, ele importa (isso é raro: raramente, quando compramos algum produto, somos questionados o porquê estamos comprando). Os negócios jurídicos causais são aqueles que têm uma causa intrínseca, incluída no seu suporte fático – Ex: testamento (pode ser revogado caso o testamenteiro atente contra a vida do testador, inferindo-se, a gratidão como causa do testamento). Os negócios jurídicos abstratos são pensados como “algo que pode circular” (causa não foi incluída no suporte fático) – Ex: cessão de crédito, transmissão de propriedade de bens imóveis. 
4. Intervivos x mortis causa: Os negócios jurídicos mortis causa são aqueles cuja eficácia só se inicia a partir da morte de alguém – Ex: testamento. No geral, os negócios jurídicos são intervivos. 
5. Consensual x real: Os negócios jurídicos consensuais e reais partem de uma exteriorização de vontade. Os negócios jurídicos reais só existem se, além do acordo, for entregue determinado bem; já os negócios jurídicos consensuais já existem caso ocorra a exteriorização de vontade. Ex de negócio jurídico consensual: contrato de compra e venda (art. 481 – CC: “(...) se obriga a transferir o domínio de certa coisa, e o outro, a pagar-lhe certo preço em dinheiro”); Ex de negócio jurídico real: contrato de comodato (art. 579 – CC: “(...) perfaz-se com a tradição do objeto”). A doação, em regra, é consensual, entretanto, existem exceções nas quais é obrigatória a entrega imediata do bem (o contrato de doação se torna um negócio jurídico real – art. 541, parágrafo único - CC, o qual discorre sobre a doação de bem móvel de pequeno valor). 
6. Patrimonial x extrapatrimonial: Essa classificação não se confunde com a classificação de oneroso/gratuito. Os negócios jurídicos patrimoniais são aqueles que importam uma prestação de natureza econômica. O contrato de doação, apesar de transmitir uma ideia de ser gratuito, envolve, sim, patrimônio – conforme a própria redação do art. 481 – CC. A adoção e o casamento são exemplos de negócios jurídicos extrapatrimoniais. 
7. Solene x não solene: Os negócios jurídicos solenes são aqueles os quais a lei exige forma específica para a sua validade (e, em alguns casos, existência – no caso do testamento) – Ex: casamento, contrato de doação, contrato de fiança (“dar-se-á por escrito” – art. 819 – CC), testamento, etc. Os demais negócios jurídicos são ditos não solenes. 
8. Principal x acessório: Se o negócio jurídico existe independentemente de qualquer outro, é principal; caso sua existência for dependente de outro negócio jurídico, este é dito acessório. A título exemplificativo, pode-se citar o contrato de fiança, o penhor e a hipoteca como negócios jurídicos acessórios. Qualquer problema de validade que afete o negócio jurídico principal, afeta, também, o negócio jurídico acessório pelo fato deste depender daquele. 
9. Típico x atípico: Em geral, os negócios jurídicos são típicos, ou seja, existem normas que os regulam. A lei permite que as pessoas realizem negócios jurídicos que não estejam presentes nas leis, desde que respeitem as disposições legais. Desse modo, o contrato de leasing é um exemplo de negócio jurídico atípico. 
Art. 425 – CC: É lícito às partes estipular contratos atípicos, observadas as normas gerais fixadas neste Código.
10. Oneroso x gratuito: A noção de negócio jurídico oneroso pressupõe a necessidade uma “contraproposta” – no caso de uma compra e venda (A cede o produto para B e B cede uma quantia financeira para A). Caso contrário, o negócio jurídico é dito gratuito – Ex: promessa de recompensa, testamento, contrato de doação, etc. 
Referências:
· Ilícito civil: esse desconhecido – Felipe Peixoto Braga Netto 
AULAS 10 E 11 – O ESTUDO DO ATO ILÍCITO 
Realize a leitura do texto “Ilícito civil, esse desconhecido...”, de Felipe Peixoto Braga Netto, tendo por guia o roteiro a seguir.
a. Relacione ilícito e juridicidade de acordo com as teorias apresentadas pelo autor.
De acordo com o Felipe Peixoto Braga Netto, existem três vertentes no que tange à relação entre ilícito e juridicidade. A corrente defendida por doutrinadores como Caio Mário da Silva Pereira e Vicente Ráo sustenta que o ilícito não pode ser considerado jurídico (o ilícito fora do/externo ao ordenamento jurídico). A corrente defendida por Kelsen sustenta justamente o oposto da anterior, uma vez que considera que para ser considerada jurídica, uma norma precisa, obrigatoriamente, estar vinculada a um ilícito e a uma sanção para o caso de descumprimento da norma. A terceira postura, adotada por Marco Bernardes de Mello e Pontes de Miranda, consiste em um equilíbrio entre as duas anteriores, uma vez que o ilícito é contemplado pelo ordenamento jurídico, mas o ilícito não é condição determinante para uma norma ser considerada jurídica. 
A análise de lícito/ilícito, na contemporaneidade, contém uma carga valorativa que é feita dentro do próprio ordenamento jurídico. Não significa, desse modo, que um ilícito seja menos jurídico ou mais jurídico que o lícito pois ambos estão no ordenamento, apresentando a mesma estrutura de incidência. A distinção, portanto, é valorativa e tal juízo de valor é fixado pelo ordenamento (ações que em dado momento são lícitas podem se tornar ilícitas e vice-versa). 
b. Analise a importância da culpa enquanto elemento do ilícito.
O ato ilícito apresenta relação com a culpa, entretanto, esta não é uma relação de necessidade, uma vez que a doutrina contemporânea, no seu caráter majoritário, sustenta a possibilidade da existência do ilícito sem culpa. 
Art. 186 – CC: Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. 
A ideia de ilicitude, fundada no art. 186, se encontra vinculada a culpa lato senso (tanto do dolo – intencional, quanto da culpa em sentido estrito – desprovida de intencionalidade). A culpa em sentido estrito se relaciona a uma negligência (não perceber a potencial ilicitude proveniente de uma ação) ou imprudência (assumir o risco – tal como na ocasião de dirigir em uma velocidade muito acima da permitida). 
Art. 187 – CC: Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes. 
O art. 187 do Código Civil discorre sobre o ilícito no que tange ao abuso de direito. Passa-se a pensar em uma noção de ilicitude não necessariamente vinculada à noção de culpabilidade e, por conseguinte, à noção de responsabilidade (há quem discorde e afirme que o abuso de direito envolva culpa). 
c. Analise a relação entre ilícito civil e responsabilidade civil.
De acordo com o art. 927 do Código Civil, que dialoga com os arts. 186 e 187 do referido código, o ilícito civil indenizante gera como consequência a responsabilidade civil do dever de indenizar, isto é, reparar o dano. Quando falamos de ato ilícito, uma das possíveis consequências (e talvez a mais comum) é o dever de indenizar, todavia, não é o única. Ademais, podem existir atos lícitos que gerem o dever de indenizar: os chamados atos-fatos indenizativos (vide um indivíduo que, para escapar de uma bomba, invade um domicílio – estado de necessidade).
Art. 927 – CC: Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.d. Discorra sobre as categorias eficaciais do ilícito.
De acordo com Braga Neto, são quatro as categorias eficaciais do ilícito: 
1. Ilícito indenizante: 
Todo ilícito cujo efeito é de indenizar, ou seja, de reparar o dano causado. Por exemplo, um indivíduo que comete homicídio deve arcar com as despesas financeiras do funeral da vítima (art. 927 CC).
2. Ilícito caducificante: 
Todo ilícito cujo efeito é a perda de um direito. Por exemplo, um pai que castiga demasiadamente o filho fisicamente pode perder o poder familiar sobre este (art. 1638 CC); 
3. Ilícito invalidante: 
Todo ilícito cujo efeito é a invalidade e todos os efeitos dele decorrente são invalidados. Por exemplo, um contrato assinado mediante coação deve ser invalidado (a coação é condição de invalidação pois a vontade não pode ser viciada – art. 151 CC) 
4. Ilícito autorizante: 
Todo ilícito cujo efeito é uma autorização. Por exemplo, um testador pode revogar o testamento caso o testamentário atente contra a sua vida (art. 557 CC). A retirada do sobrenome do cônjuge e a revogação de uma doação também são hipóteses de concessão de direito a outrem em virtude da ocorrência de um ato ilícito autorizante. 
Observa-se que, em um mesmo ato ilícito, podem existir diversas consequências. Um pai, por exemplo, que castiga demasiadamente o filho, além de perder o poder familiar sobre este, apresenta o dever de indenizar (arcar com os custos de um eventual tratamento médico). Destarte, tem-se um ato ilícito caducificante e indenizante simultaneamente. 
Em geral, para o Direito Civil, a responsabilização para o causador do dano independe do grau de culpa. Tanto faz, desse modo, colidir o veículo em outro veículo por espontânea vontade ou por distração. 
Art. 944 – CC: A indenização mede-se pela extensão do dano. 
O art. 927 do Código Civil discorre sobre a indenização, só que no Direito de Obrigações, tal indenização é a última solução. Mesmo diante de uma ilicitude de descumprimento, tenta-se, primeiramente, a tutela específica da obrigação (tentar que a finalidade pretendida seja cumprida). Quando compramos um produto, não estamos pensando em uma indenização no caso da não entrega desse produto mas tão somente em recebê-lo. 
A noção de ilicitude – conforme o art. 186 do Código Civil – pressupõe uma conduta que viola um direito e causa um dano a outrem (ainda que exclusivamente moral). Essa parte “exclusivamente moral”, atualmente, no caso de uma nova redação do Código Civil, talvez nem fosse incluída (tendo em vista que a própria constituição prevê a possibilidade de dano moral). Todavia, essa discussão é irrelevante. 
É importante ressaltar que um indivíduo pode causar um dano sem violar um direito, uma vez que o nosso Código Civil fez questão de separar “violar um direito” e “causar dano a outrem”. No caso de uma luta de mma, há o consentimento de ambas partes para o sofrimento de lesões corporais; ou no caso de um indivíduo que age em legítima defesa. 
É possível, também, alguém violar um direito sem causar um dano. Se Maurício adquirir um livro, sem urgência para leitura, que era para ser entregue daqui a dois dias, mas este é entregue daqui a quatro dias. Houve, nitidamente, uma violação de direito, entretanto, não se pode afirmar a existência de um dano. 
O art. 188 do referido código traz as chamadas “excludentes de ilicitude”. 
Art. 188 – CC: Não constituem atos ilícitos:
I - os praticados em legítima defesa ou no exercício regular de um direito reconhecido;
II - a deterioração ou destruição da coisa alheia, ou a lesão a pessoa, a fim de remover perigo iminente.
Parágrafo único. No caso do inciso II, o ato será legítimo somente quando as circunstâncias o tornarem absolutamente necessário, não excedendo os limites do indispensável para a remoção do perigo.
O efeito da incidência deste artigo trata-se de uma pré-exclusão de juridicidade, uma vez que impede a juridicização de condutas que seriam juridicizadas conforme os arts. 186 e 187. 
A legítima defesa pressupõe uma ação para evitar a lesão de um bem jurídico de si ou de outrem. A tenta matar B só que B mata A; ou A tenta matar C e B mata A, protegendo C. 
O estado de necessidade pode envolver um dano à pessoa ou ao patrimônio (no caso do arrombamento de uma porta para se proteger de uma pessoa que está pretendendo matar outrem). Incide, nesse caso, o art. 188 e não o art. 186. 
e. Indique como a superação do modelo oitocentista de legislação influencia no estudo e abordagem do ilícito civil. 
A superação do modelo oitocentista representou um grande avanço para o estudo do ilícito civil pela ciência jurídica. Em primeira análise, compreende-se que o ato ilícito indenizante é só uma das categorias de ilícito civil quando se considera a eficácia como parâmetro de classificação, existindo, destarte, os ilícitos caducificantes, invalidantes e autorizantes. Em segundo plano, é possível constatar uma flexibilização no que concerne à dicotomia entre público e privado (lógico que esses ramos têm suas próprias regras e estas são importantes, mas, atualmente, essa dicotomia não faz muito sentido) Ademais, passa-se a compreender, na visão pós-positivista contemporânea, os princípios, além das regras, como normas jurídicas. Dessa forma, se reconhece a violação de princípios - como o da imagem de uma pessoa - como um ato ilícito e que se encontra passível de uma sanção (como o dever de indenizar). Embora os princípios tenham aparecido de forma mais explícita, deve-se tomar cuidado com os excessos. Se já existe uma regra que resolve um problema, é preciso buscar a resolução nesta regra, evitando, assim, “decisões elásticas” dos juízes. O juiz deve realizar um procedimento hermenêutico para encaixar princípios no caso concreto, detendo, portanto, maior responsabilidade para se chegar a uma decisão. 
Para a próxima aula: responder a 2ª questão da atividade. 
AULA 12 – ABUSO DE DIREITO
Art. 187 – CC: Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes. 
Conforme a interpretação do referido artigo, infere-se a existência de um direito, entretanto, o exercício deste é feito de forma indevida e/ou exagerada. 
Não há menção à culpabilidade no art. 187, logo, uma pessoa pode não ser culpada pelo abuso de direito (embora, na maioria dos casos, ela tenda a ser). Observa-se que a inclusão de outro termo no suporte fático dificulta a comprovação do abuso de direito, visto que seria necessário provar a existência de mais um elemento. 
Na França, no século passado, houve um caso que envolveu a função social da propriedade. Próximo à propriedade de um indivíduo, existia um terreno de lançamento e aterrisagem de dirigíveis. O proprietário, não gostando do lançamento de dirigíveis, construiu estacas de madeira pontiagudas e, caso os dirigíveis atingissem essas estacas, podiam ser danificados. O proprietário foi obrigado a retirar as estacas em virtude do abuso de direito, uma vez que a única finalidade daquelas estacas era prejudicar a sociedade (não detendo, por conseguinte, nenhuma finalidade para o proprietário). 
Os empreendedores podem se reunir em associações, contudo, se almejarem prejudicar os consumidores através dessas associações, estar-se diante de um abuso de direito.
Os “bons costumes” representam o conjunto de práticas da sociedade moralmente adequadas. Os “bons costumes”, ou seja, as práticas sociais, variam no tempo e no espaço. 
A grande maioria das decisões envolvendo abuso de direito são vinculadas à boa-fé. A boa-fé, enquanto princípio (boa-fé objetiva), se relaciona a um padrão social de conduta, isto é, um agir ético. Essa boa fé, enquanto princípio, pressupõe um modo correto de agir, ou seja, existem condutas que são esperadas por parte dos indivíduos. Esse padrão deve ser cumprindo independentemente da vontade das partes. Se em um contrato, Maurício coloca uma taxa de juros muito alta (além daquilo que a lei permite), percebe-se uma violação à boa-fé objetiva.Não importa, para o Direito Civil, se um indivíduo agiu contra a boa-fé com consciência ou não do abuso de direito, mas somente a sua ação (não é analisada a intencionalidade). 
Se vinculam à boa-fé e, consequentemente, ao abuso de direito: 
· Venire contra factum proprium 
É a proibição de comportamentos contraditórios. Inicialmente, um indivíduo tem um comportamento que leva a uma determinada ação e, em um segundo momento, este age de forma que contraria a expectativa gerada. Nesse caso, há uma quebra da legítima expectativa. 
Ex 1: Se A se desentende com B e ambos resolvem se divorciar, entretanto, A demora de concretizar o divórcio. A não pode utilizar como próprio argumento a sua demora para buscar a separação de bens. 
Ex 2: A é sócio de uma empresa que gerava lucro significativo. Certo momento, a empresa foi descoberta em um escândalo de corrupção e A, durante as investigações, alega que não é sócio de tal empresa. Observa-se um nítido comportamento contraditório por parte de A. 
Ex 3: A ocupou, indevidamente, um bem público e, depois de um certo tempo, realizou uma benfeitoria do bem. Se esse indivíduo sabia previamente que não poderia ser indenizado no caso de benfeitorias e, posteriormente, exige indenização, tal indenização não deve acontecer. 
· Supresio e surrectio
Enquanto a supresio limita uma antiga posição jurídica em função da omissão do seu titular, a surrectio estabelece uma nova posição jurídica, quando se verifica a presença da boa-fé objetiva e do transcurso de um razoável lapso temporal. Tem-se, portanto, um ganho de direito por uma parte, ao mesmo tempo que a outra parte perde um direito. 
Ex 1: Uma empresa A, operadora de cartão de crédito, determina que, caso o cliente atrase uma parcela do pagamento, poderia ocorrer o cancelamento do contrato. Supondo que ocorra esse atraso reiteradamente e A não cancele o contrato, gera-se uma legítima expectativa no cliente de que o contrato não será cancelado. Certa ocasião, A resolve cancelar o contrato, o que não poderá realizar. O sujeito ganha o direito de manter o contrato e a empresa perde o direito de extingui-lo. Tem-se um caso de supresio e surrectio. 
Ex 2: Uma empresa de gás, impõe no contrato, que o fornecimento deve ser de, no mínimo, X litros. Um indivíduo compra uma quantidade inferior do gás (X-Y) e faz isso reiteradamente, sem que a empresa de gás fizesse qualquer ressalva. Gera-se uma expectativa no cliente de que ele não deveria comprar o mínimo contratual, apresentando liberdade para adquirir a quantia que quisesse. Certa vez, a empresa de gás resolve exigir o pagamento pelo não cumprimento do mínimo fornecimento contratual pelo cliente. A empresa perdeu o direito de tal cobrança e o cliente adquiriu o direito de comprar a quantidade de gás que bem pretendesse. 
· Tu quoque 
Um sujeito age de forma ilícita e reclama da ilicitude feita por outro, ou seja, há uma “falta de bom senso”. 
Ex 1: Um médico que, sendo um fumante inveterado, profere palestra educativa conscientizando os jovens a não fumarem, pelos diversos malefícios que esta prática traz à saúde. 
Ex 2: A, durante a elaboração de um contrato, tentou enganar B, mas B acaba enganando A.
Ex 3: A se encontra inadimplente em relação a uma dívida com B e cobra o inadimplemento que C apresenta consigo. 
Ex 4: A morreu, deixando alguns filhos e dois imóveis. Um dos filhos saiu comprando a prestação dos dois imóveis de todos os outros irmãos (13/14 dos dois imóveis), menos de uma irmã B (1/14 dos dois imóveis). B ocupa um dos imóveis, mais barato, sem pagar nada; enquanto que A ocupa o imóvel que pertence à irmã, mais caro. Certa ocasião, B processa A cobrando-lhe o pagamento pela ocupação do seu imóvel. É nítida a falta de bom senso, pois B, inadimplente (de um imóvel mais barato), não tem razão em cobrar a inadimplência de A.
· Inalegabilidade das nulidades formais 
Um sujeito comete um ato, tendo o conhecimento de que há algo de errado ali, ignorando, portanto, tal ilicitude. Posteriormente, tal sujeito quer alegar a coisa errada que ele já sabia desde o início, almejando a anulabilidade do ato. 
Ex 1: Se um menor, relativamente incapaz, oculta a sua idade (“já completei 18 anos”), para realizar um negócio. Posteriormente, ele não pode alegar a sua idade para anular o negócio (“ah, tenho 17 anos”). 
Ex 2: Existem diversos direitos provenientes da propriedade. Um sujeito celebra um contrato de locação com um indivíduo que é proprietário. O indivíduo começa a ocupar o imóvel e, posteriormente, o proprietário deseja efetuar uma cobrança. O proprietário não pode realizar tal cobrança, mas somente o usufrutuário. 
AULAS 13 E 14 – PRESSUPOSTOS DE VALIDADE
EXERCÍCIO
Considerando um contrato que foi celebrado por um menor com 14 anos de idade, e outro que foi celebrado por um menor com 16 anos de idade, analise as questões a seguir para cada uma das situações:
1. Qual o grau de invalidade de cada um desses contratos?
Conforme o art. 166, I do Código Civil brasileiro, o primeiro contrato, celebrado por um menor com 14 (quatorze) anos de idade, é nulo, em virtude de se tratar de uma celebração por pessoa absolutamente incapaz, isto é, menor de 16 (dezesseis) anos. Ademais, consoante o art. 171, I do referido diploma, o segundo contrato, celebrado por um menor com 16 (dezesseis) anos de idade, é anulável. 
2. Esses contratos são eficazes?
O ato nulo, em regra, não produz a sua plena eficácia, embora existam exceções, como no caso do casamento putativo, em que se demonstra a necessidade de se distinguir nulo e ineficaz (o casamento putativo é nulo e eficaz). Analisando-se o primeiro contrato, elaborado por um menor com 14 (quatorze) anos de idade, é perceptível a sua ineficácia. 
Os atos anuláveis entram, de logo, no plano da eficácia e irradiam seus efeitos, mas interimisticamente, pois poderão ser desconstituídos caso sobrevenha a decretação da sua anulabilidade. Destarte, o segundo contrato, embora anulável pelo fato de ter sido celebrado por um relativamente incapaz – adolescente com 16 (dezesseis) anos de idade -, produz os seus efeitos e, por conseguinte, é eficaz.
3. É possível extinguir a invalidade, tornando os contratos válidos?
A invalidade pode ser extinguida por (I) convalidação ou (II) sanação. Temos por convalidação a extinção do defeito invalidante dos atos jurídicos por consequência do ato-fato jurídico da prescrição e da decadência (efeito do tempo). Se o prazo decadencial transcorre sem que o indivíduo que poderia alegar, não alegue, este perde esse direito (vide o ato-fato caducificante). 
Art. 177 – CC: A anulabilidade não tem efeito antes de julgada por sentença, nem se pronuncia de ofício; só os interessados a podem alegar, e aproveita exclusivamente aos que a alegarem, salvo o caso de solidariedade ou indivisibilidade.
Em síntese, enquanto ninguém se manifestar o ato continua produzindo os seus efeitos. 
O menor que não fez o negócio assistido, caso posteriormente o assistente venha a confirmar (assertiva posterior), a causa de invalidade do negócio desaparece. O próprio indivíduo, ao se tornar maior ou ser emancipado, pode ratificar o negócio feito quando era menor (confirmação – arts. 172 a 175, CC) – desde que não tenha passado o tempo de decadência. A sanação, ao contrário da convalidação, ocorre como resultado de ato de vontade relevante (negócio jurídico) praticado com o fim de remover o defeito invalidante, o que depende, portanto, de que haja manifestação expressa ou tácita do elemento volitivo. Na sanação, há a consciência e a vontade de considerar o ato como válido, sabendo-se de sua invalidade. 
Em regra, o ato nulo pode ser desconstituído a qualquer momento, sendo raras as hipóteses em que o código estipula um prazo.
4. Quem pode alegar a invalidade? 
Art. 168 – CC: As nulidades dos artigos antecedentes podem ser alegadas por qualquer interessado, ou pelo Ministério Público, quando lhe couber intervir.
Parágrafo único. As nulidades devem ser pronunciadas pelo juiz, quando conhecer do negócio jurídico ou dosseus efeitos e as encontrar provadas, não lhe sendo permitido supri-las, ainda que a requerimento das partes.
Além dos interessados, pode alegar nulidade o Ministério Público no que lhe couber (nos negócios que envolvem menores, por exemplo). 
Essa nulidade pode ser reconhecida pelo próprio juiz, quando este se depara, por exemplo, com um contrato celebrado por um menino de quatorze anos. 
Art. 177 – CC: A anulabilidade não tem efeito antes de julgada por sentença, nem se pronuncia de ofício; só os interessados a podem alegar, e aproveita exclusivamente aos que a alegarem, salvo o caso de solidariedade ou indivisibilidade.
Os interessados no art. 177 apresentam um sentindo mais restrito, resumindo-se, basicamente, ao sujeito e ao seu responsável. 
Em regra, o efeito da anulabilidade só afeta quem reclamar. Se duas pessoas foram obrigadas a assinar um contrato, mas somente um alega a coação, o contrato será anulável apenas para este indivíduo. 
Pode alegar invalidade, no que tange aos atos anuláveis (art. 177 – CC): I) O figurante do ato vítima de erro, dolo ou coação; (II) o credor anterior ao de disposição, no caso de fraude contra credores; (III) o relativamente incapaz, ao cessar a incapacidade; (IV) aquele que deveria assentir, nos casos de necessidade de assentimento protetivo (pais, tutor e curador) ou resguardativo (do marido, em relação aos atos da mulher, e da mulher, em relação aos atos do marido); (V) aqueles a quem a lei atribui legitimação para a ação de anulação nas espécies em que anulabilidade é imposta pela própria lei.
5. É necessária a desconstituição dos contratos? 
A desconstituição sempre precisa ser feita. No anulável isso é ainda mais perceptível pois produz os seus efeitos jurídicos até que alguém peça a desconstituição. Já no que tange ao nulo, a desconstituição tem duas razões: (I) o nulo, até então, existe no ordenamento; (II) embora nulo e não tenha produzido efeitos jurídicos, possa ser que tenha gerado efeitos fáticos que precisam ser desconstituídos.
O art. 170 discorre sobre a conversão. Levando-se em conta o princípio da conservação dos negócios jurídicos, mesmo que para o ato nulo, pode ocorrer um aproveitamento. 
Art. 170 – CC: Se, porém, o negócio jurídico nulo contiver os requisitos de outro, subsistirá este quando o fim a que visavam as partes permitir supor que o teriam querido, se houvessem previsto a nulidade. 
Se houver outro negócio previsto no ordenamento que de, alguma forma, se atenda ao objetivo do primeiro negócio com menos exigências formais, o ordenamento permite a conversão do negócio A para o negócio B. Por exemplo, a conversão de uma promissória (nulo) para uma convicção de dívida (válido). 
CONTINUAÇÃO DO CONTEÚDO... 
1. Pressupostos de validade: 
Art. 104 – CC: A validade do negócio jurídico requer:
I - agente capaz;
II - objeto lícito, possível, determinado ou determinável;
III - forma prescrita ou não defesa em lei.
2. Agente capaz: 
A incapacidade do agente pode acabar conduzindo aos dois diferentes graus de invalidade. O único sujeito que, de acordo com o nosso ordenamento jurídico, é absolutamente incapaz trata-se do menor de 16 (dezesseis) anos. 
Art. 105 – CC: A incapacidade relativa de uma das partes não pode ser invocada pela outra em benefício próprio, nem aproveita aos co-interessados capazes, salvo se, neste caso, for indivisível o objeto do direito ou da obrigação comum. 
No que tange à nulidade, o ordenamento repudia com mais força, tanto que o rol de pessoas que pode alegar a nulidade é muito mais amplo. A anulabilidade é criada pensando em uma situação de dar uma opção ao sujeito pois, quando é anulável, essa anulação só trará o efeito invalidante se a pessoa interessada (protegida) a requerer. Daí a disposição que consta no art. 105 de que somente pode ser invocada a incapacidade pela pessoa interessada (protegida) – como um sujeito menor que celebra contrato com um maior de idade. 
Se o menor, dolosamente, omite a sua idade na elaboração de um negócio jurídico, este não pode querer anular tal negócio posteriormente pelo fato dele ter agido por má-fé e, por conseguinte, ter perdido a “proteção” positivada no art. 105 do CC. Tal disposição consta no art. 180 do referido diploma, o qual ressalta a necessidade de existir uma conduta ativa, ou seja, alguém perguntá-lo “qual a sua idade?”. 
Art. 180 – CC: O menor, entre dezesseis e dezoito anos, não pode, para eximir-se de uma obrigação, invocar a sua idade se dolosamente a ocultou quando inquirido pela outra parte, ou se, no ato de obrigar-se, declarou-se maior.
3. Objeto:
Fala-se do objeto do negócio, não eventualmente uma coisa que seja objeto do objeto (prestação).
Objeto determinado é aquele que já se conhece qual é.
Objeto determinável é aquele que, embora ainda não tenha se especificado qual será o objeto, há critérios para se determinar qual será esse objeto. 
O objeto não pode ser indeterminado/indeterminável, uma vez que isso desafia a própria lógica do negócio. 
O objeto tem que ser lícito. A ideia da licitude é muito mais uma ideia de que o ordenamento não vai permitir que o sujeito realize negócios cujo objeto é um ato ilícito. O ordenamento não regula uma relação, por exemplo, de um indivíduo que vende peças roubadas de um veículo para outrem e divide o lucro com seu amigo. 
O objeto tem que ser possível. A possibilidade jurídica quase se confunde com a noção de ilicitude, uma vez que o Código expressa quais objetos não podem ser objeto de contrato – como herança de pessoa viva. A possibilidade fática se vincula à possibilidade de se realizar – o indivíduo não pode vender o pedaço de terreno no céu (impossível faticamente e, portanto, tem-se um negócio jurídico nulo). 
Essa impossibilidade tem que ser absoluta, isto é, perdurar no tempo. Por exemplo, pode ocorrer a venda de um apartamento na planta, embora esse apartamento não exista faticamente. Vejamos o art. 106 do Código Civil. 
Art. 106 – CC: A impossibilidade inicial do objeto não invalida o negócio jurídico se for relativa, ou se cessar antes de realizada a condição a que ele estiver subordinado. 
A impossibilidade relativa significa que um sujeito assume a obrigação por um determinado objeto, mas não vai cumprir, entretanto outro indivíduo pode cumprir. 
Quando acontecer a construção do prédio mencionado no exemplo anterior, o apartamento deixa de ser impossível. 
4. Forma prescrita ou não defesa em lei:
Trabalhamos esse tópico quando tratamos de negócios jurídicos solenes e não solenes. 
Em regra, a lei não prescreve nenhuma forma específica; somente quando a lei prescrever e ocorrer o não cumprimento dessa forma, o negócio jurídico será invalidado. 
Art. 108 – CC: Não dispondo a lei em contrário, a escritura pública é essencial à validade dos negócios jurídicos que visem à constituição, transferência, modificação ou renúncia de direitos reais sobre imóveis de valor superior a trinta vezes o maior salário mínimo vigente no País.
Art. 109 – CC: No negócio jurídico celebrado com a cláusula de não valer sem instrumento público, este é da substância do ato
As partes, ao pactuá-lo, para esse caso específico, só vai ter validade se ele for registrado, feito por escritura pública. Esse requisito formal pode, sim, ser criado pelas partes, tendo em vista a modulação dos efeitos pelas partes no que concerne ao negócio jurídico. 
Referências:
· Teoria do Fato Jurídico: plano da existência (Marco Bernades de Mello) 
· Teoria do Fato Jurídico: plano da validade (Marco Bernades de Mello) 
AULAS 16 E 17 – A ANULABILIDADE + ATIVIDADE 
1. A anulabilidade: 
Um ato pode ser anulável quando um sujeito for relativamente incapaz e falta o assentimento de outro sujeito. Esse assentimento é exigido em outras situações, como, por exemplo, no caso de um indivíduo casado que para vender um imóvel precisa do assentimento do outro cônjuge. O assentimento não se resume, portanto, à hipótese do relativamente incapaz. 
Em muitas vezes, há uma imposição da anulabilidade pelo Código. São situações específicas que o Códigoconsidera como causas de anulabilidade. 
Art. 117 – CC: Salvo se o permitir a lei ou o representado, é anulável o negócio jurídico que o representante, no seu interesse ou por conta de outrem, celebrar consigo mesmo.
Parágrafo único. Para esse efeito, tem-se como celebrado pelo representante o negócio realizado por aquele em quem os poderes houverem sido subestabelecidos.
Por exemplo, Requião concede uma procuração para Nathália o representar. Nathália vende o carro de Requião para si mesma, podendo caracterizar um conflito de interesses. Logo, na dúvida, conforme o art. 117 do Código Civil, essa venda é anulável (há concessão de autonomia às partes para decidir). 
Art. 550 – CC: A doação do cônjuge adúltero ao seu cúmplice pode ser anulada pelo outro cônjuge, ou por seus herdeiros necessários, até dois anos depois de dissolvida a sociedade conjugal.
Se a pessoa é casada e, tendo uma amante, resolve fazer uma doação para essa amante. A cônjuge e os herdeiros decidirão pela anulabilidade. O ordenamento, assim como o art. 117 do Código Civil, concede autonomia às partes para decidir acerca da anulabilidade. 
2. Vícios de vontade: 
Vícios de vontade: São situações em que a vontade foi exteriorizada de uma maneira com um fator que não deveria existir, mas que acaba influenciando tal exteriorização. São elas: erro, dolo, coação, lesão e estado de perigo. Aqui a proteção é voltada para os negociantes. 
3. A fraude contra credores: 
A fraude contra credores, para a doutrina, é analisada de outra forma. O problema aqui é a consequência gerada para terceiros. Aqui a proteção é voltada para os terceiros (credores). 
CAPÍTULO IV
Dos Defeitos do Negócio Jurídico
Seção I
Do Erro ou Ignorância
Art. 138. São anuláveis os negócios jurídicos, quando as declarações de vontade emanarem de erro substancial que poderia ser percebido por pessoa de diligência normal, em face das circunstâncias do negócio.
Art. 139. O erro é substancial quando:
I - interessa à natureza do negócio, ao objeto principal da declaração, ou a alguma das qualidades a ele essenciais;
II - concerne à identidade ou à qualidade essencial da pessoa a quem se refira a declaração de vontade, desde que tenha influído nesta de modo relevante;
III - sendo de direito e não implicando recusa à aplicação da lei, for o motivo único ou principal do negócio jurídico.
Art. 140. O falso motivo só vicia a declaração de vontade quando expresso como razão determinante.
Art. 141. A transmissão errônea da vontade por meios interpostos é anulável nos mesmos casos em que o é a declaração direta.
Art. 142. O erro de indicação da pessoa ou da coisa, a que se referir a declaração de vontade, não viciará o negócio quando, por seu contexto e pelas circunstâncias, se puder identificar a coisa ou pessoa cogitada.
Art. 143. O erro de cálculo apenas autoriza a retificação da declaração de vontade.
Art. 144. O erro não prejudica a validade do negócio jurídico quando a pessoa, a quem a manifestação de vontade se dirige, se oferecer para executá-la na conformidade da vontade real do manifestante.
Seção II
 Do Dolo
Art. 145. São os negócios jurídicos anuláveis por dolo, quando este for a sua causa.
Art. 146. O dolo acidental só obriga à satisfação das perdas e danos, e é acidental quando, a seu despeito, o negócio seria realizado, embora por outro modo.
Art. 147. Nos negócios jurídicos bilaterais, o silêncio intencional de uma das partes a respeito de fato ou qualidade que a outra parte haja ignorado, constitui omissão dolosa, provando-se que sem ela o negócio não se teria celebrado.
Art. 148. Pode também ser anulado o negócio jurídico por dolo de terceiro, se a parte a quem aproveite dele tivesse ou devesse ter conhecimento; em caso contrário, ainda que subsista o negócio jurídico, o terceiro responderá por todas as perdas e danos da parte a quem ludibriou.
Art. 149. O dolo do representante legal de uma das partes só obriga o representado a responder civilmente até a importância do proveito que teve; se, porém, o dolo for do representante convencional, o representado responderá solidariamente com ele por perdas e danos.
Art. 150. Se ambas as partes procederem com dolo, nenhuma pode alegá-lo para anular o negócio, ou reclamar indenização.
Seção III
Da Coação
Art. 151. A coação, para viciar a declaração da vontade, há de ser tal que incuta ao paciente fundado temor de dano iminente e considerável à sua pessoa, à sua família, ou aos seus bens.
Parágrafo único. Se disser respeito a pessoa não pertencente à família do paciente, o juiz, com base nas circunstâncias, decidirá se houve coação.
Art. 152. No apreciar a coação, ter-se-ão em conta o sexo, a idade, a condição, a saúde, o temperamento do paciente e todas as demais circunstâncias que possam influir na gravidade dela.
Art. 153. Não se considera coação a ameaça do exercício normal de um direito, nem o simples temor reverencial.
Art. 154. Vicia o negócio jurídico a coação exercida por terceiro, se dela tivesse ou devesse ter conhecimento a parte a que aproveite, e esta responderá solidariamente com aquele por perdas e danos.
Art. 155. Subsistirá o negócio jurídico, se a coação decorrer de terceiro, sem que a parte a que aproveite dela tivesse ou devesse ter conhecimento; mas o autor da coação responderá por todas as perdas e danos que houver causado ao coacto.
Seção IV
Do Estado de Perigo
Art. 156. Configura-se o estado de perigo quando alguém, premido da necessidade de salvar-se, ou a pessoa de sua família, de grave dano conhecido pela outra parte, assume obrigação excessivamente onerosa.
Parágrafo único. Tratando-se de pessoa não pertencente à família do declarante, o juiz decidirá segundo as circunstâncias.
Seção V
Da Lesão
Art. 157. Ocorre a lesão quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou por inexperiência, se obriga a prestação manifestamente desproporcional ao valor da prestação oposta.
§ 1 o Aprecia-se a desproporção das prestações segundo os valores vigentes ao tempo em que foi celebrado o negócio jurídico.
§ 2 o Não se decretará a anulação do negócio, se for oferecido suplemento suficiente, ou se a parte favorecida concordar com a redução do proveito.
Seção VI
Da Fraude Contra Credores
Art. 158. Os negócios de transmissão gratuita de bens ou remissão de dívida, se os praticar o devedor já insolvente, ou por eles reduzido à insolvência, ainda quando o ignore, poderão ser anulados pelos credores quirografários, como lesivos dos seus direitos.
§ 1 o Igual direito assiste aos credores cuja garantia se tornar insuficiente.
§ 2 o Só os credores que já o eram ao tempo daqueles atos podem pleitear a anulação deles.
Art. 159. Serão igualmente anuláveis os contratos onerosos do devedor insolvente, quando a insolvência for notória, ou houver motivo para ser conhecida do outro contratante.
Art. 160. Se o adquirente dos bens do devedor insolvente ainda não tiver pago o preço e este for, aproximadamente, o corrente, desobrigar-se-á depositando-o em juízo, com a citação de todos os interessados.
Parágrafo único. Se inferior, o adquirente, para conservar os bens, poderá depositar o preço que lhes corresponda ao valor real.
Art. 161. A ação, nos casos dos arts. 158 e 159, poderá ser intentada contra o devedor insolvente, a pessoa que com ele celebrou a estipulação considerada fraudulenta, ou terceiros adquirentes que hajam procedido de má-fé.
Art. 162. O credor quirografário, que receber do devedor insolvente o pagamento da dívida ainda não vencida, ficará obrigado a repor, em proveito do acervo sobre que se tenha de efetuar o concurso de credores, aquilo que recebeu.
Art. 163. Presumem-se fraudatórias dos direitos dos outros credores as garantias de dívidas que o devedor insolvente tiver dado a algum credor.
Art. 164. Presumem-se, porém, de boa-fé e valem os negócios ordinários indispensáveis à manutenção de estabelecimento mercantil, rural, ou industrial, ou à subsistência do devedor e de sua família.
Art. 165. Anulados os negócios fraudulentos, a vantagem resultante reverterá em proveito do acervo sobre que se tenha de

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